Edição 183 - Caderno 2

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Social do Uni-BH

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Teatro Francisco Nunes

Palácio das Artes CULTURA URBANA

atrações área verde fauna silvestre Lei de incentivo manifestações artísticas Skate

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2011 eventos Belo Horizonte Bangalô

Cultural viaduto Tretas PATROCÍNIO Manos Trutas apoio De Rua of Skate 32 música parceria PERCUSSÃO batuque Vendendo Peixe grafite cinema diversidade cultural FESTIVAIS Caderno criado a partir de conteúdo produzido pelos alunos do quinto período do segundo semestre de 2010, na disciplina TIG, orientados pela professora Ana Rosa Vidigal


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Especial

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BRUNO MENEZES

Apresentação no evento Aqui Jazz, realizado no ano passado, na Praça JK com entrada gratuita

Bruno Menezes Gabriela Francisca Gustavo Pedersoli Manoella Garzon Markilma Gonçalves Marcos Vinícius Pereira 6° PERÍODO

Edição: Luiz Ladeira Belo Horizonte é palco de muitos festivais artísticos gratuitos realizados em diferentes pontos da cidade, tanto em parques, como em outros espaços públicos ou mesmo no meio das ruas. A capital mineira, portanto, é uma cidade que tem vocação para uma programação cultural diversificada e muito rica. Os eventos culturais estão ocupando espaços novos e levando a cultura aos bairros mais distantes, onde ela normalmente não chega. Segundo a Belotur, em 2009, a Prefeitura de Belo Horizonte realizou 261 eventos gratuitos que correspondem, em média, a cinco por semana, de exposições a shows. Um deles foi o Aqui Jazz, realizado na Praça JK, zona sul da cidade. Começou no final da manhã de um sábado, e contou com uma boa organização, incluindo uma tenda montada na praça, com cadeiras para

o público e o palco para a banda. Até um autêntico Cadillac do ano de 1974, com sete metros de comprimento marcou presença. O dia ensolarado propiciava uma agradável manhã e atraía a presença de diversas pessoas. Para a organizadora do evento Christina Lima, foi uma oportunidade de mostrar ao público que a musica erudita é acessível a todas as classes. “O Jazz é uma música muito gostosa, boa de ouvir, e nestes eventos notamos cada vez mais um público heterogêneo, seja em idade ou classe social. Esta é a ideia do evento. Mesclar as pessoas com música de boa qualidade”, diz. Congado BH foi palco, também, da oitava edição do Festejo do Tambor Mineiro, que reuniu diversos grupos de congado de Minas. Dois quarteirões da Rua Ituiutaba, no Bairro Prado, foram fechados para abrigar a comemoração. A mistura de dança, shows, batuque e religiosidade deu o tom para mais de seis mil pessoas durante todo o dia. Pessoas de todas as idades apareceram para prestigiar o festival organizado pelo músico Maurício

Tizumba. Além dele, o bloco Tambolelê, Marina Machado e outros artistas consagrados participaram do Festejo. O estudante Lucas Augusto de Oliveira, 20, soube do evento através de um amigo e elogiou o espetáculo. “A festa foi tranquila, voltada para a família e trouxe uma riqueza cultural como poucos eventos”. Para entrar, bastava levar um quilo de alimento não perecível que será doado às festividades de congado realizadas pelo Estado. A desejar Alguns eventos não são favorecidos por uma boa organização ou visibilidade. É o caso da exposição fotográfica de Eliane Velozo, que aconteceu em setembro do ano passado, no Museu Nacional da Poesia, dentro do Parque Municipal, nomeada Gosódromo, prejudicada pela falta de divulgação. No evento, as pessoas apenas encontravam, em uma parede, três tiras de fotos, onde a expositora-portadora de degeneração muscular e retinose pigmentar – trabalha com suas

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Leia a reportagem na íntegra no site: www.jornalimpressao.com.br MANOELLA GARZON

Exposição de fotos de Eliane Velozo, no Museu Nacional da Poesia, dentro do Parque Municipal


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Manos, trutas e

ALGUMAS TRETAS

HĂĄ 3 anos, o tradicional duelo de MC’s no viaduto Sta Tereza abre espaço para o hip hop MARCOS VICENTE

Grupo de MC’s duelam verbalmente, sobre uma base musical, conduzida por um DJ; o público chega a 500 pessoas por noite

Marcos Souza Flavio Tavares Wellington Martins Willian Alves 6° PER�ODO

Edição: Ana Flåvia Tornelli Quando o arquiteto Emílio Baumgart ergueu, em 1929, o viaduto Santa Tereza, ele não imaginava o que abrigaria ali debaixo. Naquele tempo, a agitação cultural do sudeste do país era outra. Noel Rosa ainda estava vivo, e seu samba boêmio ditava moda e comportamento. Outra manifestação musical tão importante quanto o samba, o hiphop, só viria a surgir na dÊcada de 1970. No entanto, as ilustraçþes que recobrem os arredores do viaduto belo-horizontino 81 anos depois da sua inauguração não deixam dúvida: ao menos ali, Ê a cultura hip-hop que predomina. O gênero musical nasceu em Nova Iorque. Muito mais que apenas música (que tambÊm Ê conhecida como rap), a cultura tambÊm abarca o grafite (inscriçþes e desenhos fei-

tos em paredes) e um estilo prĂłprio de dança, conhecida como breakdance. Ă€s sextasfeiras, Ă s oito e meia da noite, o rap invade a capital mineira com o Duelo de MC’s. O evento mantĂŠm a tradição dos chamados Freestyle raps, em que um grupo de MC’s (mestres de cerimĂ´nia) duelam verbalmente, sobre uma base musical conduzida por um DJ. Pedro Valentim, o MC PDR, de 27 anos, ĂŠ um dos integrantes do coletivo “FamĂ­lia de Ruaâ€?, formado por um grupo de cinco jovens que lutam pela revitalização do viaduto e sĂŁo responsĂĄveis pela organização do evento. “O Duelo nasceu da vontade de alguns amigos de reunir MC’s de Belo Horizonte, na rua, para organizar as ‘batalhas’, isso foi em 2007â€? afirma ele. Sobre o envolvimento da prefeitura neste projeto, Pedro faz ressalvas: “AtravĂŠs do “famĂ­lia de ruaâ€? a gente jĂĄ conseguiu trazer mais lixeiras e iluminação, e nĂŁo pagamos alvarĂĄ pela utilização do espa-

ço. Mas ainda falta muita coisa. O lance do banheiro ĂŠ uma novela. É muito caro, e temos uma mĂŠdia de 500 pessoas por noiteâ€?. Ele lembra que a Belotur jĂĄ providenciou banheiros para os rappers, mas os mictĂłrios acabavam sendo pichados e, por isso, eram retirados pelo prĂłprio patrocinador. Mesmo sendo uma cultura iniciada fundamentalmente por afro-americanos, o evento, onde o respeito predomina, conta com ampla diversidade ĂŠtnica. “Sem a galera

“Muita gente acha que aqui sĂł tem favelado e usuĂĄrio de droga, mas nĂŁo ĂŠ bem assimâ€? Frederico Marques

aqui, nĂŁo tem o movimentoâ€? enfatiza Frederico Marques, 28 anos, freqĂźentador do evento desde as primeiras ediçþes. “Muita gente acha que aqui sĂł tem favelado e usuĂĄrio de droga, mas nĂŁo ĂŠ assimâ€?. Sobre a influĂŞncia do rap em sua vida, ele ĂŠ taxativo: “estilo de vida, velho. Estilo de vidaâ€?. Para o professor de EstĂŠtica e Cultura de Massa do UniBH, Luiz Henrique MagalhĂŁes, o movimento, alĂŠm de contribuir com a cultura urbana, proporciona a inclusĂŁo social dos jovens que participam dele. “Vivemos em uma sociedade com um sistema educacional muito limitado, principalmente para os mais carentes, e com um acesso restrito Ă culturaâ€?. O professor acrescenta que “prĂĄticas dessa natureza, assim como prĂĄticas esportivas, retiram jovens de ĂĄreas de risco alĂŠm de gerar um sentimento de pertencimento a algum grupo.â€?

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Skate sob o viaduto AlĂŠm do tradicional duelo de Mc’s, outro projeto cultural, criado pelos jovens mc’s, tem movimentado a regiĂŁo do viaduto santa Tereza aos domingos. Idealizado pela FamĂ­lia de Rua com o intuito de reunir skatistas e simpatizantes do skate de forma alegre e descontraĂ­da, o De Rua Game Of Skate 32 teve seu inĂ­cio no ano de 2008 e hoje conta com dezenas de participantes. Valorizando o real skate praticado na rua, mais precisamente debaixo do viaduto Santa Tereza, a brincadeira acontece nas tarde de domingo, com intervalo de dois meses entre uma edição e outra. LĂĄ, os skatistas se enfrentam atravĂŠs de manobras realizadas em chĂŁo liso. No final das contas, vence aquele que errar o menor nĂşmero de manobras. Como a disputa vale dinheiro, o vencedor leva pra casa, em mĂŠdia, R$ 320,00. Os 32 skatistas participantes sĂŁo definidos por meio de sorteio e, mesmo que haja 50 inscritos, participarĂŁo apenas os 32 primeiros sorteados. Mais do que uma competição, o game ĂŠ um ponto de encontro para as pessoas se divertirem, se encontrarem e ouvir um bom som.

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FOTOS: BRUNA ÁVILA

Bruna Ávila Dayane Lima Hevila Oliveira Priscila Mendes 6° PERÍODO

Edição:Ana Flávia Tornelli A utilização da cultura no resgate da cidadania vem se destacando como um dispositivo inovador e estratégico para inclusão social de pessoas com transtornos mentais. Um exemplo desse trabalho é o grupo musical Trem Tan Tan, composto por portadores de sofrimento mental que são pacientes do Centro de Convivência de Venda Nova, região metropolitana de Belo Horizonte. O grupo realiza shows em centros de incentivo à cultura gratuitamente. Quando é cobrado, o valor é simbólico, como por exemplo, um quilo de alimento não perecível. Dirigido pelo músico, educador social e produtor Babilak Bah, o grupo, formado por cinco integrantes, surgiu em uma oficina de percussão ministrada pelo artista, desde 2001. A ideia era unir ritmo, musicalidade, expressão e criatividade. O nome Trem Tan Tan foi escolhido em homenagem ao trem que transportava, no iní-

cio do século XX, pacientes de várias regiões para o hospício da cidade de Barbacena, a 168 quilômetros de BH. Dos mais de 30 participantes, oito descobriram aptidão para música e resolveram embarcar neste projeto. A psicóloga e gerente do Centro de Convivência, Ana Paula Novaes, considera fundamental o uso da cultura no processo de reintegração social. “Na vida deles, poder se expressar, cantar, subir no palco e ser reconhecidos é algo muito importante. Pessoas que antes estavam muito deprimidas e que passaram por internações de longo tempo, agora podem se apresentar à sociedade de uma outra maneira, com dignidade e reconhecimento. Isso gera uma mudança na auto estima dessas pessoas”, afirma.

“Aqui eu encontrei o entusiasmo para minha vida. Tudo mudou. Eu me sinto alguém e busco inspiração em Deus para compor as músicas” Gilberto da Rocha

Trem Tan Tan, dirigido pelo músico Babilak Bah (de camisa preta), realiza shows gratuitos

Um dos percussionistas do grupo, Gilberto da Rocha, se emociona ao falar de sua experiência no Centro. “Aqui eu encontrei o entusiasmo para minha vida. Tudo mudou. Eu me sinto alguém e busco inspiração em Deus para compor as músicas”. Já o integrante Carlos Ferreira, também da percussão, reflete que, por meio da cultura, ele pôde concretizar um sonho. “Através desse trabalho musical que a gente faz, eu me redescobri. O meu lado social estava morto. Hoje, eu consigo compor e me expressar por

meio de cada instrumento que eu manejo”, ressalta Carlos. “Às vezes, a pessoa se acha inútil, mas aqui eu descobri que posso e sou capaz. Me sinto realizado”, enfatiza. Prêmio No ano passado, o grupo desenvolveu o projeto “Loucos pela Diversidade” e foi premiado pelo Ministério da Cultura. Com o apoio da Prefeitura, em 2002, lançou o primeiro CD, “Trem Tan Tan”, com caráter mais percussivo. Em outubro do ano passa-

do, o grupo promoveu o lançamento do segundo álbum, “Sambabilolado”, que traz em seu repertório clássicos do samba, como “Tristeza”, de Haroldo Lobo e Niltinho, e a música de trabalho “Samba da Felicidade”, composta por Gilberto. Mais informações sobre o projeto e a agenda cultural do grupo estão disponíveis no site www.palcomp3.com.br/ tremtantan ou pelo telefone

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Dignidade e satisfação Há mais de 30 anos, questões sobre a saúde mental têm sido alvo de discussões entre representantes da área, com objetivo de elaborar propostas de melhoria das Políticas Públicas e dos direitos sociais dos pacientes. Em abril de 2001, foi aprovada a Lei Federal de Saúde Mental, número 10.216, que regulamenta o processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil. A legislação é resultado do Movimento da Luta Antimanicomial, que propõe a superação da ideia de internação como solução para todos os casos de doenças psiquícas e a busca por uma sociedade mais justa, pautada na dignidade do ser humano e na sua emancipação.

Peças e objetos produzidos no centro de convivência por portadores de transtornos mentais

Centro de convivência Dentro dessa perspectiva, surgiram os Centros de Convivência, que oferecem aos portadores de transtornos

mentais espaços adequados de sociabilidade e de produção cultural para que eles se reconheçam como cidadãos. A antropóloga Cristina Leite reitera que “a criação de um espaço onde eles podem se expressar livremente é interessante do ponto de vista terapêutico”, comenta. Cristina vai além: “A cultura tem a função de fazer com que as pessoas se sintam pertencentes a determinado grupo. Isso é importante na medida em que elas são valorizadas pelo que fazem”, conclui. Orgulho A professora de artes do Centro de Convivência, Luciana Rodrigues, destaca a satisfação dos pacientes. “Quando estou trabalhando com eles, eu consigo identificar a habilidade artística de cada um. É possível notar o orgulho que sentem de si mesmos”.


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Vendend TEXTO, FOTOS E EDIÇÃO: Juliana Vallim 6° PERÍODO As imagens colocam em evidência o evento Vendendo Peixe, realizado em 2010, que trazia como movimento central a liberdade de expressão e ideias compartilhadas. Naquele sábado, durante todo o dia, passaram pelo terceiro andar do Mercado Novo, na região do Barro Preto, cerca de 300 pessoas. Após a iniciativa vanguardista dos criadores do evento, surge um espaço definitivo sem vínculos com os idealizadores do Vendendo Peixe, cujo nome é Mercado das Borboletas


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MUITO ALÉM da fauna e da flora Com cerca de 180 mil m2 de extensa vegetação, o Parque Municipal de Belo Horizonte atrai pessoas que buscam ar puro, contato com plantas e animais, diversão e programas culturais Larissa Rodrigues Sandra Leão Tacila Souza Thayane Ribeiro 6° PERÍODO

Edição: Ana Flávia Tornelli É possível, em um mesmo local, encontrar figueiras e jaqueiras, cipreste calvo e flamboyant, eucalipto, sapucaia, pau mulato e pau rei e, ao mesmo tempo, sabiás e bemte-vis, garças e periquitos? Este espaço é real e existe em Belo Horizonte: o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, primeira área verde da capital. Ele abriga atualmente cerca de 280 espécies de árvores nativas, como as que foram enumeradas, e mais de 300 tipos de plantas ornamentais originárias de diversos lugares do Brasil e do mundo. Em um viveiro de 750 metros quadrados são cultivadas cerca de 120 espécies de plantas medicinais. Mais de 50 espécies de árvores centenárias e um orquidário contribuem para enfeitar o espaço. Ao todo são 182 mil metros quadrados de extensa vegetação, o que contribui para amenizar o clima na região central da cidade. Além da mata verde presente em abundância no local, os animais também chamam a atenção dos milhares de visitantes que ali passam diariamente. O parque serve como um refúgio para cerca de 60 espécies da fauna silvestre, como sabiás, bem-te-vis garças, periquitos, pica-paus, sanhaços, saíras e outros animais, como gambás e micos. Nas três belas lagoas, abastecidas por diversas nascentes, podem ser encontrados cerca de 11 tipos de peixes. Entre eles: carpas, tilápias e dourados. Toda essa área verde encontrada em plena região central de uma agitada capital contribui para atrair moradores que ali se refugiam com o intuito de respirar ar puro e realizar suas atividades físicas em meio à natureza. Quem visita o parque, além se maravilhar com o grande acervo de espécies nativas, também pode apreciar as diversas atrações culturais que o ambiente oferece. Para os frequentadores, as opções

são as mais diversas: mostras científicas para estudantes, peças teatrais, exposições de arte, shows musicais, concursos de poesia, oficinas e trilhas ecológicas. Além disso, o parque conta com uma iluminação cênica que destaca suas árvores centenárias, o Coreto, o Monumento, a Mãe Mineira e o Teatro Francisco Nunes, deixando o local ainda mais chamativo durante a noite. Como opções de lazer, o parque oferece, para uso gratuito, brinquedos, equipamentos de ginástica, pista de caminhada, quadra poliesportiva, pista para skate e quadra de tênis. Abriga, também, com tarifa de R$1,00,21 brin-

quedos eletrônicos, como carrossel, roda gigante, minhocão, rotor, safári e pulapula. Mas nem sempre o público que diariamente transita pelo parque tem co-

“Passei a freqüentar o parque depois que percebi que ele era um bom lugar para me exercitar. Sempre procuro saber o que o parque oferece de eventos culturais” Lucas Cunha

nhecimento de todas essas atividades. Esse fator se dá por dois motivos: ou o cidadão não tem acesso a este tipo de informação, que nem sempre é divulgada, ou realmente não tem interesse e, por isso, não procura saber. Para a arquiteta Paula Mara Oliveira Cruz, “o Parque Municipal é muito importante historicamente para Belo Horizonte. Além de ser o primeiro parque construído na capital, seguindo o plano do arquiteto e planejador da cidade, Aarão Reis, ele oferece cultura, lazer e conhecimento para a população belohorizontina”. Segundo a chefe da Divisão de Educação Ambiental e Eventos do Parque Municipal, Mônica An-

drade, ele recebe, diariamente, pessoas de vários segmentos. “O público é diverso, a faixa etária é variada e a condição social e intelectual é diversificada”. Ela destaca também que muitas pessoas que trabalham na região atravessam o parque e acabam se tornando freqüentadores. É o caso do publicitário Lucas Cunha que, a caminho do trabalho, descobriu a variedade de atividades que o espaço oferece. “Passei a freqüentar o parque depois que percebi que ele era um bom lugar para me exercitar. Hoje faço caminhadas e, aos fins de semana, sempre procuro saber o que o parque oferece de eventos culturais”, afirma o frequentador. Mônica destaca ainda a importância do parque para a cidade de Belo Horizonte. “Ele é um espaço de preservação e conservação ambiental que visa à melhoria da qualidade de vida da cidade. O visitante pode contemplar uma vasta gama de espécies da fauna e da flora nativa e exótica que foram trazidas para Minas na época da colonização. Além disso, o parque é também

um espaço de entretenimento e convívio social” explica. Além de contribuir para o meio ambiente, é também conhecido como espaço urbano capaz de promover a interação entre o meio ambiente e as pessoas, proporcionando o contato direto com a natureza e estimulando a criatividade em todas as idades. Interditado Após a queda da árvore que matou a aposentada Maria de Fátima Ferreira, 57, no dia 12 de janeiro deste ano, o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, decidiu interditar o parque municipal para que as outras 3.700 árvores fossem investigadas. Depois de vistoriado, foi comprovado que o Jatobá de 30m que caiu sobre a mulher que fazia caminhada no local, estava infestado de cupins, o que teria ocasionado a queda. Em proteção às mais de 16 mil pessoas que transitam pelo parque todos os dias, o local está interditado até que todas as árvores sejam verificadas. Ainda nao ha previsão de reabertura do parque.

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FOTOS: DIVULGAร ร O

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FOTOS: JULIANA VALLIM

Sem lei de incentivo, evento une o tradicional ao contemporâneo em relações criativas e atrai público Juliana Vallim Rômulo Fegalli Marisol Bispo 6° PERÍODO

Edição: Luiz Ladeira Todos podem ser artistas, todos podem vender seu peixe. Essa foi a proposta do “Vendendo Peixe”, evento que reuniu música, cinema, grafite, arte digital e desenho no terceiro andar do Mercado Novo, no Centro de Belo Horizonte, criando um espaço alternativo para manifestações artísticas. Realizado em setembro do ano passado e organizado pelo grupo Urubois e vários parceiros, a proposta era surpreender o público, num acontecimento aberto, comandado pelo imprevisível. A iniciativa inovadora deu tão certo que deve se repetir este ano. O “Vendendo Peixe” contou com a participação de aproximadamente 300 pessoas. Bandas de ritmos variados agitaram o ambiente, grafiteiros desenhavam pelas paredes do andar abandonado, além de uma sala de cinema improvisada, comida e bebida. Longe do amparo das leis de incentivo, o evento foi realizado graças ao responsável pelo Mercado Novo, João Gabriel,

ao apoio financeiro de pequenas galerias e espaços alternativos de Belo Horizonte e a vendadebebidas.Osequipamentos de som usados durante o evento também foram emprestados. A programação foi marcada pela diversidade musical, que variou do samba ao Grindcore, uma vertente do rock, até a moda de viola. Entre os músicos convidados havia desde bandas experientes até grupos amadores, que nunca se apresentaram para grandes públicos. Um dos organizadores do evento, o jornalista João Perdigão, destacou que o intuito não era a badalação com nomes conhecidos, mas dar oportunidades para todos que queriam se expressar. “A intenção é abrir espaço para artistas que estão começando, que ainda não têm reconhecimento. Sem discriminação, há artistas novos e outros já rodados”. Oportunidade Para a estudante de Letras Letícia Ferreira, 18, que participou do “Vendendo Peixe”, o evento é uma oportunidade que os artistas anônimos têm de mostrar seus trabalhos. “Qualquer um pode chegar e

Evento cultural, com várias bandas, reuniu centenas de pessoas no Mercado Novo, na rua Tupis

fazer sua arte de maneira livre. É muito bom o clima que o ‘Vendendo Peixe’ tem”, concluiu. Um fato inusitado no evento foi a presença maciça de crianças, que circulavam pelos corredores do terceiro andar do mercado livremente. A meninada pôde desenhar e

pintar as paredes junto com os grafiteiros, atitude defendida pelos organizadores. “O trabalho tem uma visão contestatória. Que cada um possa chegar e fazer sua arte”, frisou Perdigão. Segundo o professor universitário e filósofo Luis Henrique Magalhães, em geral, to-

dos têm alguma capacidade de criar e precisam de oportunidades para que essa qualidade se manifeste. “Existem aqueles que não dominam nenhuma técnica especifica, mas podem criar com qualidade”.

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Da esquerda para a direita: bandas tocaram desde samba ao grindcore; espaço para exibições de filmes e vídeo arte; imagem de divulgação do evento no local


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Arte espera por

PATROCĂ?NIO

Muitos projetos culturais da capital não saem do papel por falta de apoio e interesse Carla Danielle Gislainy Borges Ana Beatriz Von Sucro Julia Arantes Thiago Almeida 6° PER�ODO

Edição: Luiz ladeira As leis de incentivo Ă cultura estĂŁo longe de serem modelos que funcionam plenamente. Muitas vezes nĂŁo conseguem cobrir a demanda da sociedade e costumam concentrar os patrocĂ­nios na regiĂŁo sudeste. PorĂŠm, elas possibilitam a sobrevivĂŞncia de inĂşmeros projetos culturais. A cultura – que ĂŠ um direito previsto na Constituição Federal devido Ă sua importância como fator de singularização humana – ĂŠ um bem que deve estar acessĂ­vel a todo cidadĂŁo, independentemente de credo, raça ou classe social. O que ĂŠ O conceito de cultura ĂŠ muito amplo, ele nĂŁo se restringe somente a eventos eruditos, como explica o professor de Filosofia Luiz

MagalhĂŁes. Desde um show de mĂşsica popular atĂŠ o fĂ­gado com jilĂł ou acebolado do Mercado Central sĂŁo considerados produção da realidade. “Caracterizam um povo e uma ĂŠpoca, portando sĂŁo eventos culturaisâ€?, explica. Uma das formas de manter vivas as caracterĂ­sticas de uma sociedade ĂŠ por meio dessas e outras atividades que grupos e artistas realizam em cada comunidade. Mas, para sustentar essas manifestaçþes, esses artistas necessitam, muitas vezes, de patrocĂ­nio. Nesse ponto as esferas federal, estadual e municipal criaram leis de incentivo Ă cultura. Tais leis propĂľem que empresas invistam no setor e recebam abatimento nos impostos, como compensação. Para receberem recursos, os projetos devem se inscrever seguindo um edital. Depois de aprovados, devem cumprir regras e prazos de execução e prestar contas Ă prefeitura. Em Belo Horizonte, desde 1993, a lei de incentivo a cultura apĂłia de 100 a 130 proje-

tos culturais por ano. Realidade da Lei Segundo a Coordenadora da GestĂŁo de Projetos e Assessora dos Trabalhos das ComissĂľes da Secretaria Municipal de Cultura da capital, JanaĂ­na Mota, a maior dificuldade ĂŠ a insuficiĂŞncia de recursos para o grande nĂşmero de projetos que chegam Ă Prefeitura. A lei consegue atender apenas 10% da demanda do MunicĂ­pio. JanaĂ­na acrescenta que em Belo Horizonte a Prefeitura dĂĄ, ainda, a possibilidade de pequenos grupos terem acesso a apoios por meio do fundo de projetos culturais que contempla grupos iniciantes e que nĂŁo possui nenhum vĂ­nculo comercial. Para JanaĂ­na, ĂŠ inegĂĄvel a importância do incentivo Ă cultura. “As leis de incentivo podem ser um pequeno passo rumo a uma conscientização da cultura como bem desejĂĄvel da sociedadeâ€?, pontua. A lei pode ser cercada de burocracia, mas ĂŠ um grande instrumento de fomento culDIVULGAĂ‡ĂƒO

Projeto Bangalô Cultural agita as ruas e praças da cidade de Contagem desde 2008

Entenda mais Apoio: $PMBCPSBĂŽĂ?P QPS NFJP EF EPBĂŽĂ?P EF NBUĂ?SJBT TFSWJĂŽPT F JEFJB &YFNQMP 2VBOEP VN QPMĂ“UJDP BQĂ˜JB B DBNQBOIB EF PVUSP Parceria: ² VNB TPDJFEBEF OP RVBM FNQSFTBT Ă˜SHĂ?PT TF KVOUBN QBSB SFBMJ[BS VNB BUJWJEBEF &YFNQMP 0 QSPKFUP "NJHPT EB &TDPMB Ă? VNB QBSDFSJB 4&4* F (MPCP F P 5FMFUPO Ă? VNB QBSDF SJB 4#5 F ""$% PatrocĂ­nio: ² GPSOFDFS SFDVSTPT QBSB RVF VNB QFTTPB PSHBOJ[BĂŽĂ?P FRVJQF PV DMVCF FYFSĂŽB VNB BUJWJEBEF RVF OĂ?P Ă? B BUJWJEBEF QSJODJQBM EB FNQSFTB QBUSPDJOBEPSB DPN P PCKFUJWP EF PCUFS BMHVNB WBOUBHFN OP QSPDFTTP &YFN QMP &NQSFTB RVF BKVEB Ăś OBODFJSBNFOUF VN QSPKFUP BUJWJEBEF F FWFOUP tural. Ela deve ser discutida para ser aperfeiçoada, como assegura JanaĂ­na: “Serve de respiro para um universo cultural tĂŁo rico e ao mesmo tempo esquecido. SĂŁo porcentagens de dedução fiscal que

permitem a afirmação e continuidade de vĂĄrios artistas e grupos culturais pelo paĂ­sâ€?.

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BangalĂ´ Cultural Ă€ margem das leis de incentivo, muitos movimentos culturais sobrevivem por meio de adesĂŁo do setor privado e da comunidade. Um exemplo disso ĂŠ o projeto BangalĂ´ Cultural que acontece nas ruas e praças do municĂ­pio de Contagem. O BangalĂ´, que existe desde 2008, realiza diversas atividades em espaços pĂşblicos da cidade com o desafio de fazer da cultura o elemento mais eficaz de inclusĂŁo social. O objetivo ĂŠ levar intervençþes artĂ­sticas a diversos locais de grande concentração de pessoas, a fim de proporcionar momentos de integração, entretenimento e reflexĂŁo. O coordenador do BangalĂ´, Rafael Aquino, disse que uma das reivindicaçþes do projeto ĂŠ a aprovação de uma Lei Municipal de Incentivo Ă Cultura em Contagem. Segundo Aquino, hoje, para que ocorram atividades do BangalĂ´ ĂŠ preciso recorrer a parceiros fixos na iniciativa

privada, pois “em cada atividade que empreendemos ĂŠ necessĂĄrio iniciar um novo processo de captação de recursos,â€? ressalta. Aquino esclarece que o BangalĂ´ possui seguidores fixos que frequentam todos os eventos - independentemente da temĂĄtica abordada - e que o pĂşblico atingido pelo projeto ĂŠ formado, em sua maior parte, por jovens e adultos de classe mĂŠdia na faixa etĂĄria de 18 a 30 anos. A outra parte, segundo Aquino, ĂŠ formada de acordo com o tema do evento. A atriz Daniela Graciere Feitoza participa das atividades do BangalĂ´ hĂĄ um ano e conta que o que mais gosta no projeto ĂŠ a abertura que ele possibilita para a apresentação de diversos artistas e grupos de teatro, dança e mĂşsica, alĂŠm de ser uma importante ferramenta social. “O BangalĂ´ realiza uma democratização da cultura em Contagemâ€?, afirma.


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BELO HORIZONTE, DEZ/2010 A ABR/2011

Crônicas

Roí tudo até o sabugo Juliana Vallim 6º PERÍODO

Tou sentada aqui faz um tempão. Não espero nada, não espero ninguém. Praticamente não sinto nada; não ouso sentir. Parei de roer as unhas faz muito tempo e agora, o que faço com isso? Sei que não posso escrever a palavra sabugo aqui. Nem olho pros lados, simplesmente desliguei o telefone e mal preciso ensaiar a resposta quando meu nome for pronunciado: QUÊ? Sei que agora me deu uma puta vontade de ver o Augusto, aquele, que destruiu meu coração, ou foi ao contrário? Nem me lembro. Nessa bolha, tudo funciona assim, pura abstração. Cogito a hipótese de pegar o

telefone e ligar. Sonhar não tá com nada, mas não, não tenho o número dele, mas sim, posso brincar de combinações numéricas. Não, melhor não jogar com o destino. Nesses dias de vento parado é que penso e penso e penso. Penso em nada. Tento não me comunicar comigo mesma e me dá uma coceira cerebral. Nos primeiros dez minutos fico quietinha, por que sim, seria melhor se eu sentisse de cá, você daí e tudo bem, mas ai; sei lá, o que faço com isso? Sinto e venho com toda força fazer um comunicado geral: estou em chamas. Todo dia é um pouco assim, vou batendo nas portas, abrindo as janelas, perdendo completamente o rumo daquele caminho de quando

entrei e nem sei mais – mesmo – por que. Estiquei um pouco as pernas, mas nem me levantei, não penso nisso por enquanto. Queria ter algo concreto nas mãos e poder querer, só que não. Nem quero querer, se quisesse; tava em mãos. Acho que isso, um cigarro. Sou daquelas que coloca o rosto pra fora do vidro com um cigarro apagado na boca, e procura o isqueiro enquanto o carro não anda, e também, nem sei de quem é o carro, mas sei que vou indo. E na nossa despedida, nem adeus nem até logo, só aquele soul e essa coisa de ser.

Esse coração cheio de orifício Juliana Vallim 6º PERÍODO

Seus olhos ardiam. Meus olhos ardem. A fumaça corrói a vida dos bobos, vai girando em torno dos cabelos e pronto, gruda no teto. Abri a janela faz uns cinco minutos. Sou voyeur. Hoje, ontem e amanhã não direi nada. Desespero ameno, solidão dobrada na gaveta da Nan que virou Ian. Eram meus. São seus. O tempo engole, faz bem pra tudo. Faria bem pra tudo, se passasse. Às vezes se da um jeito rápido de estancar o fogo ligeiro que cruza todo corpo. O primeiro modo de se destruir a tristeza. Arrependimento e ataque. Bem não faz essa coisa de ficar enumerando jeitos, mas a construção começa assim. Direto da planta, antes dos calcanhares. Não rastejo. Sem rastros. Não tateio no espaço, vou direto, num voo rasante com essa boca

aberta esperando que o infinito chegue. Nunca. Depois se cansa. Eu me canso. Espero tanto que uma espécie de morte acalma aqui dentro dos músculos roídos. Caio sem saber que cai. Assim como Caio que sempre caia. Caímos de braços dados bem lá no fundo, nessa matéria que começa assim: árida. Ela nunca dizia por quê. Eu nunca disse por quê. Tanta certeza do próximo modo que colocou as mãos pra trás. Liguei o ventilador nesse frio, só queria espairecer. Esbarrei na pilha de jornais velhos e me caiu nos braços logo a tua notícia, dilacerada, quente, úmida e amarrotada sacudindo o meio de mim. Ainda era leve e pura. Socorria dentre todos meus desamparos. Socorria nossos desamparos, Ana, com meu rosário na mão, alvo e bento. Adormeci. Não sei.

MONTAGEM A PARTIR DAS OBRAS DE GUSTAV KLIMT – AUSGESTRECKTE FRAU (ESBOÇO, DELINEADA EM PRETO) E EGON SCHIELE - SUNFLOWERS

Dormitei em mim. Tudo isso que eu queria. Completamente mesmo que nula ser tua, enguicei na hora de dizer. Do outro lado da cidade, nem sei se chovia; aqueles dedos tortos, daquele corpo alto que estraçalhava a rodela do telefone pressentia e bem aqui ecoou por todo canto a primeira ligação sobre nossa altivez. Elegância. Forma de objeto encarnado em ser humano.

IMPRESSÃO


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