Ano 29 • número 186 • Outubro de 2011 • Belo Horizonte/MG Credito dA Foto
Alta carga tributária no Brasil estimula mercado paralelo, oferece produtos com custo inferior ao original e conta com alto índice de aprovação da sociedade
pirataria invade comércio O “jeitinho brasileiro” fez fama no mundo e criou uma cultura negativa no País, onde para tudo se pode dar um jeito. O IMPRESSÃO foi às ruas para descobrir como isso acontece no mercado
informal ou, como é chamado, pirata. De CDs, passando por transporte e plantas, até chegar aos animais silvestres, a comercialização ilegal se multiplicou na sociedade e tem a aprovação de 70% dos
consumidores, segundo dados do Ibope. A população que, de modo geral, legitima essa prática não sabe, porém, que o comércio ilegal gera um prejuízo aos cofres públicos de
Cds importados a preço de ouro
DO!S
R$30 bilhões por ano. Apesar desse valor ser pequeno diante do total arrecadado pela Receita Federal, hoje em torno de R$700 bilhões, a sonegação fiscal é crime. Especial - PÁGINAS 04 a 10 diogo SilVA
No mercado brasileiro, produto pode custar o dobro do preço encontrado em lojas virtuais estrangeiras. PÁGINA 10
Conexão Galpão Teatro, oficinas e pesquisa reúnem mais de 2 mil alunos, em 13 anos de história. PÁGINA 4
dar ou não dar esmolas, eis a questão
olhar certeiro Sidney Lumet deixa, com 50 anos de carreira, obra influente na história do cinema. PÁGINAS 6 e 7
diVUlgAÇão/gUto MUNiZ
Estudiosos dizem que existem dois tipos de mendigo profissional: o que vive na rua e o que vive da rua. PÁGINA 12
sites oferecem peças de teatro online Depois de pesquisa sobre pouco acesso ao teatro, empresa disponibiliza peças na internet. PÁGINAS 14 e 15
pAtrImÔnIo A sAlVo: PBH lança programa “Adote um Bem Cultural”. PÁGINA 11
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BElo HorIzontE, oUtUBro dE 2011
primeiras palavras
ImprEssão
Mal contemporâneo 8º período
Comprar ou não comprar? Vivemos em um modelo de sociedade de consumo, no qual as pessoas são induzidas a consumir para inserirem-se no jogo. Com a alta demanda, o mercado lança mão de todas as possibilidades para ter a certeza de satisfazer o seu público. E o público despende. Segundo levantamento realizado pela Fecomércio-RJ/Ipsos, em 2011,mais da metade dos entrevistados assumiram o consumo de algum produto pirata e o mercado tem adeptos em todas as classes sociais. De acordo com a pesquisa, 57% dos respondentes das classes A e B admitiram comprar algum produto falsificado no último ano. Recentemente, a pirataria se espalhou por vários setores da economia: além da venda tradicional de objetos do vestuário, perfumes e equipamentos eletrônicos, o comércio ilegal de plantas e animais silvestres, de armas e de arquivos digitais entrou definitivamente no jogo. Dados divulgados em janeiro deste ano pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica revelam que 95% dos downloads de música são feitos de forma ilegal em todo o mundo. Conceito pejorativo e, indiscutivelmente, maléfico à economia, a pirataria esconde alguns pormenores. O brasileiro é considerado um dos maiores consumidores de produtos falsificados do planeta. Entretanto, se as mercadorias no Brasil não fossem tão carregadas de impostos, a realidade poderia ser um pouco diferente. É evidente que se o poder aquisitivo do cidadão fosse maior e se o preço final dos produtos não fosse extremamente afetado pela alta carga tributária, o consumo de falsificações seria menor. No entanto, a prática só existe
pela participação e conivência do consumidor no negócio. A única maneira de minimizar o problema é uma ação integrada nos âmbitos policial, político e cultural. São necessários o combate ao tráfico ilegal, a redução da carga tributária, campanhas contra o consumo de pirata-
ria e, o mais difícil, evitar massificar a relação marca-status - o que, obviamente, atiça o desejo nem sempre ao alcance de todas as classes, incentivando, assim, as réplicas e fraudes. Esta edição do Impress ã o traz um especial
REITOR Prof. Rivadávia C. D. de Alvarenga Neto
tos do mercado paralelo, incluindo a produção de bens falsificados, os serviços informais e o comércio ilegal. Também abordamos o outro lado da pirataria, ou seja, as pessoas que dela dependem para sobreviver, tirar o seu sustento e o de sua família. (COLABORAÇÃO: DAYARA DE OLIVEIRA E Tiago lima, 5˚ períoDo)
VICE- REITOR Prof. Johann Amaral Lunkes INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGN Prof. Rodrigo Neiva COORDENAÇÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Profa. Lorena Tárcia
LABORATÓRIO DE JORNALISMO IMPRESSO EDITOR Prof. Luciano Andrade Ribeiro SUB-EDITORES Profa. Fernanda Agostinho Prof. Leonardo Cunha
sobre o tema que perpassa por várias nuances e aspec-
PRECEPTORA Profa. Ana Paula Abreu (Programação Visual) ESTAGIÁRIOS Diego Costa Diogo Silva Rodrigo Espeschit MONITORA Sandra Leão COLABORADORA Marcela Armond (Revisão) LAB. DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS EDITORA Profa. Lorena Tárcia ESTAGIÁRIOS Christiane Lasmar Jonathan Maxuell MONITORA Bruna Cris Parceria LACP – Lab. de Criação Publicitária Ilustrações Phellippe Samarone (aluno de Publicidade e Propaganda) PHELLIPPE SAMARONE
rodrigo espeschit
EXpEdIEntE
IMPRESSÃO / TIRAGEM Sempre Editora 2000 exemplares
Eleito o melhor Jornal-laboratório do país na Expocom 2009 e o 2º melhor na Expocom 2003 O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pelos professores Luciano Andrade Ribeiro, Leonardo Cunha e Fernanda Agostinho com os alunos do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo - do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço. Participe do IMPRESSÃO e faça contato com a nossa equipe:
Futuro positivo
Bon Jovi
Empresários debateram sobre modelos de negócio e perspetivas para as empresas jornalísticas
Copa 2014 Conheça os Centros de Treinamento de Seleções
Aos 28 anos de carreira, a banda continua fazendo sucesso e arrecadando muito dinheiro pelo mundo
Maldita Gula Audioslideshow mostra um dia na luta contra a balança
Rua Diamantina 463 Lagoinha – BH/MG CEP: 31110-320 Telefone: (31) 3207-2811 Email: impresso@unibh.br
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Visão crítica
ImprEssão
BElo HorIzontE, oUtUBro dE 2011
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ARTIGOS
Obama, Osama e Hosana Marcela Armond 7º período
Na semana em que se completaram os dez anos do atentado terrorista em Nova Iorque, os olhos do mundo se voltaram para os Estados Unidos. A visão que se tem hoje é muito diferente da que se enxergava uma década atrás: a posição de líder da economia mundial agora se deixa substituir por um cenário de dívidas e dúvidas quanto ao futuro do Tio Sam. Em resposta ao ataque da AlQaeda, em 2001, o então presidente Bush declarou guerra ao terrorismo. Até agora, foram gastos US$2,4 trilhões com as frentes de batalha no Iraque e no Afeganistão, o que minou a economia americana e ameaça desencadear uma nova recessão de proporções globais. A popularidade do atual presidente Barack Obama já viu dias melhores: apenas 39% dos americanos acreditam que o país esteja sendo bem governado. Trata-se do menor índice de aprovação desde sua posse, em janeiro de 2009.
Há quem diga que as comemorações reservadas ao aniversário da tragédia do World Trade Center tenham vindo em boa hora. Nada melhor que a sincronizada captura e morte de Osama Bin Mohammed Bin Awad Bin Laden (Osama Bin Laden, para os íntimos) para acalmar as massas. A operação militar em Abbottabad, noroeste do Paquistão, foi bem cronometrada o suficiente para acontecer em exatos dez anos após o atentado, justo quando o clima nas redes de mídia e nos bastidores do Congresso americano já não era tão tranquilo. Nesse caso, de inimigo público número um do governo, Osama passou a servir-lhes de bode expiatório. E o que dizer do memorial em homenagem às quase três mil vítimas do atentado, escolhido em concurso, no ano de 2003? São dois espelhos d’água localizados onde as torres gêmeas ficavam. Tivera o concurso sido realizado em 2011, as más línguas poderiam concluir que o que é recordado ali não é a falta que as vítimas fazem aos seus familiares,
mas a falta que o dinheiro público faz aos cofres do governo. Os vãos no subterrâneo do Marco Zero poderiam fazer alusão ao buraco negro em que se encontra a economia americana. Já os filetes de água escorrendo por eles remeteriam aos trilhões de dólares investidos em uma guerra que não tem fim e nem finalidade. Os eleitores de Obama já o receberam com palmas nas mãos e gritos de “Hosana!”, esperançosos de que o primeiro presidente negro da nação pudesse ser, assim como o messias dos cristãos, o salvador da pátria. O quase messias Obama não chegou a tal façanha e também pode ser condenado por aqueles que um dia lhe deram as boas vindas com muito louvor. Talvez o único motivo de que se orgulhem os americanos atualmente seja que o bode que carregou o presidente em sua entrada triunfal pela Casa Branca está morto. Assim, podem exclamar: “Hosana! Obama matou Osama!” – ou não será essa a ordem correta dos fatores? Certamente, eles não alterariam em muito os resultados.
Futuro do livro Carolina Anglada 7º período
Escritores, editoras e especialistas têm incluído o tópico “futuro dos livros” em suas principais indagações. Eles começam a creditar na inovação tecnológica suas últimas apostas para a salvação da cultura letrada. A APP (Associação Americana de Publicadores) anunciou que de fevereiro de 2010 a fevereiro de 2011 as vendas de e-books triplicaram, atingindo R$90 milhões de exemplares. O e-book foi a primeira estratégia encontrada lá nos idos da década de 90. São livros virtuais, produtos da digitalização das páginas de papel. Para as editoras, esperança de não falir. Para os leitores, sinônimo de economia em tempo e dinheiro. Mais recentemente, as empresas perceberam a proliferação dos e-books e a aceitação do público e lançaram ebook readers, leitores digitais do tamanho médio de um livro, mas com capacidade de armazenar até 4 mil páginas. Como a era em que vivemos é a da velocida-
de, os novos modelos de e-reader, a citar o Kindle, guardam,em média, 3.500 livros inteiros. O momento parece ser divisor na história da edição de livros, mas não é. Definitivamente, os grandes pensadores e gestores do mercado editorial têm surpreendido devido à tecnologia. A próxima versão de e-reader, já lançada, é o app-book, um livro digital em formato de aplicativo para tablets em geral. Podendo usufruir de diversos recursos interativos, o livro é capaz de contar com áudio, vídeo, mapa e fotografia, como é o caso da lindíssima versão de Alice, de Lewis Carroll, pela Atomic Antelope. Estamos vivendo uma nova revolução gutenberguiana e, embora o Brasil ainda mostre pistas de atraso em relação ao mercado norte-americano, o brasileiro já parece se abrir e familiarizar com o livro em novos formatos. A idéia é que, da mesma forma que a indústria fonográfica ampliou sua base consumidora ao se adequar ao modelo digital, as editoras também consigam atingir mais gente num futuro próximo.
MÁ IMPRESSÃO “A repetição de exemplos nas matérias ‘As relíquias da paixão’ e ‘A magia que enfeitiça’ [comprometeu o conteúdo e não conectou a edição]”. Júlia pinheiro Maia
“Demora-se um tempo relativamente longo para ler o título ‘Economia Criativa’. Economizaram em clareza, sem, no entanto, recorrer à criatividade. As letras coloridas e em fontes variadas foram dispostas de maneira desordenada, aparentemente para tornar a leitura uma tarefa mais desafiadora”.
“O infográfico no pé da página 7 [da matéria ‘A união faz a diferença’] não cumpre a função de distinguir ‘economia criativa’ de ‘economia solidária’, deixando ambas as colunas sob o mesmo título. O erro não apenas compromete a construção do conceito pelo leitor como pode confundilo”. Carolina rezende
“A utilização do espaço do jornal na produção do layout foi pouco aproveitada. Os infográficos também apresentam falhas e repetição nas informações”. Alessandra Ferreira “A matéria ‘A união faz a diferença’ se propôs a listar as dez empresas privadas que mais investem em cultura no Brasil. Curiosamente, as estatais Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobrás foram incluídas no ranking”. “Três artigos que nada têm a ver com o tema central ‘Economia Criativa’ ocupam o topo da página. O traçado informacional que estava sendo construído sobre
o tema deságua em dispersão por parte do leitor”. “Em quase todos os textos, houve erros gramaticais. Engoliram vírgulas, que foram golfadas em lugares inapropriados, como entre o sujeito e o verbo de uma frase, por exemplo. Também houve o uso indevido da palavra ‘através’ e equívocos relacionados aos pronomes demonstrativos e às construções de frases, apenas para citar alguns exemplos mais freqüentes”. tiago de Alcântara “Costurar uma edição inteira de um jornal sob o viés de um conceito recente e ainda não palpável por grande parte da população é corajoso, mas arriscado. Talvez, tenha sido esse o motivo de tantas falhas no Impressão. Na capa do jornal, por mais que o leitor tenha o trabalho de procurar um direcionamento, ele ainda fica na dúvida”. “Devido ao fato do jornal ter uma temática central, seria inte-
ressante, principalmente para o leitor, que as reportagens tivessem maior conexão umas com as outras”. gabriela Machado “O Impressão é um jornal laboratório, que permite e incentiva a experimentação. Mas existe uma diferença entre o experimental e o descuido”.
A entrevista [presente na matéria ‘Economia Criativa’ da página 4] apresentou uma falha significativa: “além de estar incompleta, não cita o nome do entrevistado. Jornalisticamente falando, o nome da fonte é sinônimo de credibilidade que, nesse caso, ficou comprometida pelo erro”. “Apesar da criatividade na fonte e nas cores do título, a ausência de uma fotografia que expresse ‘Economia Criativa’ deixou a capa sem atrativo, com aparência de um caderno editorial e não de uma primeira página de um jornal”. léia Arruda
MArCUS poNteS
Toda produção laboratorial, seja em qualquer organização de ensino, prioriza o experimentalismo. É assim que, há praticamente 30 anos, o jornal IMPRESSÃO versa o seu trabalho. Porém, o experimental oferece o risco de falhas, comuns e importantes para o aprendizado, no caso, jornalístico. Assim, alunos com olhar crítico do atual 5º módulo noturno do curso de Jornalismo foram convidados para uma análise da edição 185 do jornal – nos moldes do ombudsman. Com o exame da edição dedicada ao tema Economia Criativa, oficializamos, aqui nesta seção, o “Má Impressão”.
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Especial
BElo HorIzontE, oUtUBro dE 2011
ImprEssão
Pirataria prejudica os cofres públicos O consumo de produtos falsificados custa R$ 30 bilhões por ano ao Governo Federal FlÁViA lAgeS
Shopping oiapoque: principal polo de comércio paralelo da capital mineira, onde encontram-se vários produtos a preços baixos
Ana paula dias Andressa resende Flávia lages 6º período
edição: Sandra leão A pirataria é um crime que contribui para o crescente comércio de produtos ilegais, uma vez que comprar qualquer produto pirata sai mais barato que o original. Segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), produtos falsificados causam aos cofres públicos um rombo de R$ 30 bilhões em impostos por ano. Em junho deste ano, a Receita Federal do Brasil realizou o VII Mutirão Nacional de Destruição de Mercadorias Apreendidas, megaoperação realizada em diversas unidades em todo o Brasil, simultaneamente. As mercadorias destruídas tiveram origem em
crimes de contrabando e de falsificação. De acordo com a Receita, o objetivo da apreensão foi evitar a circulação de produtos que geram sonegação de impostos e concorrência desleal à indústria e ao comércio regular. Em todo o País, a operação inutilizou CDs e DVDs piratas, cigarros, bebidas, cosméticos, preservativos, medicamentos, alimentos impróprios para consumo, entre outros produtos. Esta foi a
maior destruição realizada pela Receita Federal na história. Em agosto de 2007, o primeiro mutirão recolheu, em valores, R$ 43 milhões. Já em junho deste ano, o valor recolhido atingiu R$ 219 milhões, um aumento de 510%. A Inspetoria da Receita Federal em Minas Gerais (IRF/BHE) participou da ação federal e destruiu 167,29 toneladas de mercadorias apreendidas, no valor de R$ 5,7 milhões.
“São bilhões de reais que poderiam estar hoje dentro da economia” Silvânia Araújo
Mercado Paralelo Quem anda pelo centro da capital mineira procurando desde uma simples vara de pescar até o mais moderno aparelho eletrônico sabe que pode encontrar tudo em um único local. São os shoppings populares com o comércio informal. Lojas dos mais diversos segmentos com produtos a preços acessíveis são o atrativo desse comércio em BH.
O comércio popular não paga os impostos que o governo devolve à população por meio de investimentos em saúde, educação, habitação e bem estar social. De acordo com a coordenadora do departamento de economia da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Silvânia Araújo, a estimativa atual é que a pirataria representa de 20 a 30% do Produto Interno Bruto (PIB). “São bilhões de reais que poderiam estar hoje dentro da economia, dificultando que o governo cumpra o seu papel. Isso acaba penalizando os cofres públicos”, observa a economista. (Também parTicipou: leonarDo leal 6º períoDo)
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Ouça a entrevista, no site, com a economista Patrícia Alvarenga: www.jornalimpressao.com.br
média de preços de produtos falsificados e originais Playstation 3 Slim c/ HD 160GB R$ 880 (réplica) – R$ 1599 (original) Smartphone BlackBerry R$ 180 (réplica) – R$ 1200 (original) Óculos Rayban R$ 70 (réplica) – R$ 300 (original)
Bonecos Ben10 R$ 10 (réplica) – R$ 60 (original) Tênis Mizuno – R$ 25 (réplica) – R$ 150 (original)
Shoppings populares Em Belo Horizonte, os shoppings populares foram criados por meio do “Programa Centro Vivo” da Prefeitura Municipal. A criação dos abrigos para os camelôs tinha por objetivo proporcionar uma cidade mais limpa e organizada, colocando-os em espaços fechados. O cadastramento dos ambulantes começou no ano de 1998 e terminou em novembro de 2002. Pelo acordo realizado com a Prefeitura, eles foram alojados em shoppings e pagam o aluguel para o administrador do local, designado pelo poder municipal. Inaugurado em agosto de 2003, o shopping Oiapoque foi o primeiro a receber os trabalhadores informais e é também o maior do segmento ao abrigar, aproximadamente, 600 boxes alojados em cinco andares. Nos dias de maior movimento passam cerca de 30 mil pessoas no local. Além do shopping Oi, como é conhecido, na região central da capital existem, ainda, os shoppings Tupinambás, Xavantes, Caetés e Uai. O mecânico de aeronaves Lucas Mendes encontra tudo o que precisa no Oiapoque. “Vi um relógio de R$160 em uma loja Aqui, comprei um muito parecido por R$ 25”. Mesmo não recebendo nota fiscal do produto, Lucas acredita que a economia compensa. “Como não tenho muito cuidado, não adianta comprar o relógio caro que vai estragar do mesmo jeito”, relata. A economista Silvânia Araújo alerta que quem opta por comprar no mercado informal não é apenas prejudicado pela qualidade do produto. “A pessoa está inibindo a força de cooperação do mercado formalizado, um sistema construtivo para o país. É agir de forma individual”, observa. Para combater sistematicamente a pirataria, a economista acredita que é preciso maior controle do governo. “Além da fiscalização, o governo deveria diminuir a carga tributária”, analisa Silvânia.
Especial
ImprEssão
BElo HorIzontE, oUtUBro dE 2011
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As consequências da biopirataria no Brasil Comércio ilegal da fauna e flora prejudica a biodiversidade e o ecossistema do país diVUlgAÇão
Christianne lasmar Clélia Alves débora Arcuri 6º período
edição: rodrigo espeschit Cerca de 100 espécies de animais desaparecem todos os dias do planeta e o tráfico ilegal de animais silvestres é uma das principais causas dessa tragédia. De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), estima-se que o comércio ilegal, no Brasil, já foi responsável pela extinção de aproximadamente 12 milhões de espécies. Segundo levantamento da Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), o tráfico de animais silvestres é considerado o terceiro maior comércio ilegal do mundo, perdendo apenas para o tráfico de armas e de drogas. A diversificada flora do país também corre risco de desaparecer. Na Lista Oficial da Flora, divulgada este ano pelo Ibama, 107 espécies de plantas já estão ameaçadas de extinção. As principais são as ornamentais, com cores mais vivas e cheiros agradáveis, oriundas principalmente da região amazônica. A floresta possui um grande número de espécies de interesse comercial e científico, e sua imensidão territorial dificulta a fis-
calização na região. A biopirataria é a prática ilegal que envolve apropriação, exportação e o uso indevido da biodiversidade para comercialização. Tal prática agride a fauna e a flora e coloca em risco espécies nativas, podendo levá-las à extinção, prejudicando, assim, todo o ecossistema. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituo Elo, entre Outubro de 2010 e Maio de 2011, foram registrados cerca de 350 casos de crimes ambientais em Minas Gerais. Deste total, 78,5% são praticados por homens e 21,5% por mulheres, ambos com idade entre 40 e 60 anos e com baixa escolaridade. Rota Na maioria dos casos, os biopiratas se passam por turistas ou cientistas com docu-
“O tráfico de animais silvestres é considerado o terceiro maior comércio ilegal do mundo” renctas
Biopirataria em números *100 espécies desaparecem todos os dias do planeta * O tráfico de animais silvestres no País já é responsável pelo desaparecimento de 12 milhões de espécies. * 107 tipos de plantas já estão ameaçadas de extinção no País. * Em menos de 500 anos, o Brasil já perdeu cerca de 90% da Mata Atlântica. * Entre outubro de 2010 e maio de 2011, em Minas Gerais, registrou-se cerca de 350 casos de crimes ambientais. Fonte: Ibama e Instituto Elo
Tráfico de animais abastece um mercado milionário e o Brasil é um dos maiores fornecedores
mentação legalizada no país, o que facilita a exploração dos recursos naturais do Brasil. A rota ilegal de animais está direcionada da região Nordeste para o Sudeste. Atravessando fronteiras pouco vigiadas, parte dos animais e plantas é contrabandeada para países vizinhos e o restante é levado para Europa, América do Norte e Ásia. Enquanto a maioria dos animais não alcança US$200 no mercado interno, o preço no mercado internacional é muito maior. Estima-se que um Mico-leão seja vendido,
no Brasil, por US$180. Na Europa, o macaquinho é comercializado por cerca de US$15 mil. O pássaro Melro é encontrado por cerca de US$150 nas feiras livres do sul do país, estima-se que o preço da ave chegue a US$13 mil nos Estados Unidos. O transporte para outros países é realizado de forma precária, em caixas, malas falsas, tubo de pvc e, na maioria das vezes, os animais morrem antes de chegar ao destino: a cada dez animais capturados, apenas um resiste. Os animais traficados so-
frem com as técnicas utilizadas para o transporte. Para os pássaros não cantarem, por exemplo, costuma-se furar os seus olhos para que não enxerguem a luz do sol. Os animais sobreviventes são levados para abastecer a indústria da moda e coleções particulares ou até para compor ilegalmente o plantel de universidades, centro de pesquisas e zoológicos espalhados pelo mundo. (Também parTicipou: raYssa lobaTo, 6º períoDo)
Readaptação pode ser lenta Nos últimos seis anos, 80 mil animais silvestres foram apreendidos só na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo números da Polícia de Meio Ambiente. Esses animais, porém, não podem ser simplesmente soltos na natureza novamente. “É preciso fazer um trabalho de reabilitação para a reintrodução em ambiente natural, evitando danos para o meio ambiente, para outras espécies e, principalmente, para o próprio animal”, explica Manuel Loureiro Gontijo, auxiliar de Estudos Ambientais e graduando no Curso de Ciências Biológicas pela UFMG. O auxiliar ainda pon-
dera que a “adaptação pode levar muito tempo ou até mesmo nunca se concluir”. Desde 2006, o Projeto Psit, administrado pela Sociedade Brasileira de Defesa Ambiental (SBDA), desenvolve ações para que os animais apreendidos com traficantes ou criadores ilegais possam se recuperar e, quando possível, voltarem à natureza. O trabalho de recuperação dos animais varia de acordo com a espécie e o estado em que se encontra. O Projeto Psit também conta com serviço de veterinária, biologia e tratamento especial, além de realizar campanhas de conscientização ambiental para a população.
O coordenador do Projeto, Rodrigo Lessa, afirma que os educadores ambientais têm um papel importante ao levar informações à sociedade sobre a necessidade de respeitar o meio ambiente, mostrando a importância de se tornarem cidadãos conscientes do ponto de vista ambiental. Serviço ambiental Os infratores condenados pela justiça por tráfico de animais podem ser presos, pagar multa ou serem obrigados a cumprir penas alternativas. Entre elas, está a prestação de serviços ambientais, como grupos reflexivos e conscientização ambiental.
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BElo HorIzontE, oUtUBro dE 2011
Especial
ImprEssão
Outro lado da pirataria Mercado informal, muitas vezes, é a única fonte de renda de diversas famílias no Brasil tAíZA torreS
Felipe Botrel Felipe Ferreira Henrique Arruda 6º período
edição: diogo Silva Até o final de setembro, a receita federal arrecadou mais de R$700 bilhões em impostos. Os dados são do Impostômetro, medidor da Associação Comercial de São Paulo e do Instituto Brasileiro de PlanejamentoTributário (IBPT), que soma todos os impostos e contribuições pagas no País. O instituto divulgou, ainda, um estudo comprovando que o brasileiro trabalha, em média, cinco meses ao ano, apenas para poder pagar contribuições. O alto valor e a enorme quantidade de impostos cobrados pelo governo – atualmente são 61 tributos, no país, de acordo com o IBPT– são a justificativa de muitas pessoas para uma prática ilegal: a pirataria. De acordo com estudo divulgado, no início do ano, pelo Conselho de Pesquisas em Ciências Sociais dos Estados Unidos (Social Science Research Council – SSRC), o preço de um produto vendido legalmente nos Estados Unidos é praticamente o mesmo do que um pirata no Brasil. Para se ter idéia, atualmente, no site norte-americano de vendas Amazon.com, o preço do DVD do filme RIO, lançado em 2011, é de $14,99, o que equivale a aproximada-
Muitas famílias, que sobrevivem praticando pirataria, sabem que estão infringindo a lei
mente R$25,63. No site brasileiro Submarino, outro portal de vendas, o mesmo título sai a R$39,90. Já a versão pirata pode ser adquirida nas ruas por R$ 5, em média. Dona de um estande de vendas de DVDs piratas no shopping popular Oiapoque, região Central de Belo Horizonte, uma comerciante que pediu para não ser identificada sabe que está cometendo uma prática ilegal, mas alega que o faz por questão de sobrevivência. “Eu tenho total conhecimento que a venda de produtos piratas atrapalha a economia do nosso País, mas
entrei no mercado negro por necessidade”. Para ela, essa é a única saída que muitas famílias encontram. “Ninguém pratica a pirataria por vontade própria. Assim como eu entrei, muitos recorrem a esse mercado por questão de sobrevivência. Se eu tivesse condições, com certeza, teria uma empresa regulamentada”. A comerciante vende DVDs piratas há quase três anos e afirma que seu rendimento mensal não é muito bom. “O que eu ganho dá para manter as contas em dia e sustentar meu filho. Não é grande coisa, mas se eu estivesse em um empre-
go formal, não ganharia o mesmo tanto”. A estudante de Direito Suellen Caroline Santos Nogueira, 19 anos, é uma consumidora que garante o sustento dessas famílias. Foi ao shopping popular para comprar um CD para videogame e acabou levando um kit de ferramentas para presentear seu pai. “Meu namorado me deu um Nintendo Wii de aniversário. Comprei um leitor de CD que lê CDs piratas e vim aqui comprar alguns jogos. Quando passei pela loja, lembrei que o dia dos Pais está chegando e já comprei o
presente do meu”, justifica. Vídeogames Por falar em jogos eletrônicos, o relatório divulgado pela Associação de Software de Entretenimento (Entertainment Software Association), indica que o Brasil está entre os cinco países “campeões” em pirataria on line sobre videogames. Junto com China, França, Itália e Espanha, o País é responsável por 54% desse tipo de pirataria no mundo. Para o estudante Pedro Reinaldo Veloso, de 20 anos, que compra CDs e jogos falsificados, a pirataria não é de todo condenável. Ele acredita em uma forma de retaliação do mercado informal ao poder público e, consequentemente, às altas taxas tributárias cobradas. “Existem abusos por parte de quem vende a mercadoria original e também por parte do governo. São muitos impostos que encarecem a mercadoria que chega aqui e, além desse acréscimo no valor, as lojas que vendem mercadoria original superfaturam os preços. Eu aprovo a pirataria nesse sentido, já que ela é uma resposta a esse abuso nos preços de produtos originais”, analisa o universitário. (também participou: Jéssika Viveiros 6° período)
Combate à ilegalidade Durante todo o ano, operações de combate à pirataria são feitas em Belo Horizonte. Essas operações são uma parceria do Ministério Público de Minas Gerais, Receitas Federal e Estadual, Prefeitura, Polícias Militar e Civil. O Ministério Público é o responsável por fazer um levantamento da entrada de mercadorias ilegais na cidade. A partir daí, agentes de polícia são acionados para cumprir mandados de busca e apreensão. Segundo o capitão Agnaldo do 1º Batalhão da PM, produtos contrabandeados são apontados em levantamentos feitos pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que identifica a entrada das mercadorias na cidade sem o recolhimento de
impostos. “Esses produtos oferecem perigo para a população. É uma questão fiscal, mas também de saúde pública. Alguns produtos que vêm da China, não são regulados e podem causar danos para quem usa”, disse o militar. O comerciante Wanderlúcio Raposo, dono de um estande de vendas de mercadoria legalizada no shopping Tupinambás, alega que as operações de combate à pirataria prejudicam seu negócio. “Muitas pessoas aqui vendem produtos piratas. Mesmo que a operação seja com meu vizinho [de loja], as lojas fecham e muitos clientes não vêm por medo: eles chegam aqui e encontram um tanto de policiais e simplesmente não entram no shopping”, afirma.
Consumo pirata
O mercado de produtos piratas em Minas Gerais atrai ambos os sexos: 46,8% - homens 53,2% - mulheres Os jovens são os que mais utilizam os produtos falsificados : 44,7% - 25 a 34 anos 21,3% - 16 a 24 anos 6,4% - acima de 60 anos 12,8% - 45 a 59 anos 14,9% - 35 a 44 anos Fonte: Fecomércio-mG
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Alto custo alimenta mercado de réplicas Quando o preço impede a compra do produto, consumidores recorrem às falsificações Éber Vaz Júlia Costa rates Nara Fernandes 6º período
edição: diogo Silva O ato de consumir se transformou em um dos traços mais característicos da sociedade atual, que valoriza a aquisição e exibição de determinados bens. A socióloga e professora universitária Cristina Leite pondera que o sistema de consumo é também um sistema de classificação social e de comunicação. “As marcas comunicam algo sobre quem as consome e enquadram as pessoas em certos grupos ou categorias”. Entre as consequências dessa cultura do consumo para a economia, estão o aumento das importações e da produção de mercadorias piratas. Dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio), informam que a soma dos fluxos de comércio de Minas com outros países (importação + exportação) chegou a US$ 15,1 bilhões, apenas no primeiro quadrimestre deste ano, registrando um crescimento de 51,5%. Esse número equivale a 11% de todo o comércio exterior brasileiro. As importações do Estado se concentraram em países tradicionalmente parceiros, como os Estados Uni-
diogo SilVA
dos em 18,3%, Argentina com 15,8%, e na China 10,1%. Grandes marcas investem milhões em ações de marketing para garantir exclusividade dos seus produtos, justificando assim o alto valor e qualidade das mercadorias vindas desses países para o Brasil Entretanto, nem sempre a realidade financeira da população permite a aquisição do original, levando-a a buscar, nos shoppings populares ou nos ambulantes, réplicas de produtos para se sentirem inseridos na sociedade de consumo. Muitas vezes, saber a procedência do que se compra é o que menos importa. E é nesse momento que os produtos piratas ganham visibilidade no mercado.
Artigos de perfumaria e acessórios estão entre os produtos falsificados mais procurados
Mercadoria ilegal Pesquisa realizada no último ano pelo Ibope constatou que cerca de 70% dos compradores desses produtos sabem que estão adquirindo mercadorias ilegais. Essa pesquisa abrange os mercados de roupas, brinquedos, tênis, relógios, óculos, bolsas, canetas, perfumes, jogos eletrônicos e artigos de papelaria. O comerciante Elson Galante, que há seis anos tem estande no shopping popular Oiapoque, conta que “as pessoas perguntam se o produto é original, mesmo sabendo
que o local foi criado para venda de produtos piratas. Mesmo assim, eles compram com o mesmo apreço e satisfação que teriam ao adquirir um produto em uma loja de grife”. Em seu estabelecimento são vendidas cópias de roupas da marca da Lacoste, Polo Ralph Lauren, Armani e Tommy Hilfiger. Galante lembra, também, que o preço influencia na escolha do produto: “Enquanto no shopping uma blusa dessas marcas custa R$ 500 em média, aqui, uma réplica sai a R$ 100, no máximo.”
Carro chefe da pirataria no Brasil
• Entre os produtos piratas mais consumidos no País, estão os CDS e DVDs falsificados.
Cristina Leite explica que o que mais influencia a população a ser assim é a cultura do consumo e os valores próprios a ela. Miguel Maillo, de 23 anos, admite ser consumidor de produtos piratas. “Eu não tenho preferência de produtos ou marcas. Observo
“Mesmo sabendo que o produto não é original, as pessoas compram com o mesmo apreço e satisfação”
• Até o ano de 2010, mais de 38 milhões de
elson galante
• Para atingir esse número,
tudo aqui e, quando encontro algo que vale a pena e apresenta boa qualidade, compro mesmo, não vejo problema. O importante é que o produto me agrade e atenda às minhas necessidades.”
produtos desse tipo foram apreendidos no Brasil. quase 3 mil operações policiais foram registradas.
• A pirataria já se apro-
priou de 65% do mercado consumidor do setor fonográfico.
Fonte: Associação Antipirataria Cinema e música (ApCm)
(Também parTicipou: ANDREA BRANDÃO E NAYANE HILÁRIO, 6º períoDo)
Busca pelo original Apesar da crescente procura por opções alternativas, ainda há aquela parcela da população que não abre mão de comprar produtos originais. É o que afirma a gerente da importadora Chen, Jonalina Fonseca, que considera que os produtos piratas não são uma ameaça direta, porque o público que consome produtos originais é diferente do público consumidor de réplicas. “O que acontece algumas vezes é o cliente ser enganado, achando que está comprando o perfume original por um preço mais barato, o que na realidade é só uma cópia falsificada. Quando descobre, busca o produto original”, comenta a gerente, que também lembra que, hoje em dia, falsifica-se até o selo, com isso, a única diferença do pirata para o original é a nota fiscal. Por outro lado, um vendedor do shopping popular Oiapoque, que prefere não se identificar, alerta para outro fenômeno: “comercializar produtos piratas não rende tanto lucro como antes, as lojas estão dando muita oportunidade para os clientes comprarem a prazo, o que facilita a aquisição dos produtos originais”, pontua.
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BElo HorIzontE, oUtUBro dE 2011
Especial
ImprEssão
Reconhecimento é o que interessa pirataria se torna aliada de artistas ainda desconhecidos do grande público Bárbara diniz Camila Corrêa Marcelo Camelo 6º período
edição: Camila França O desejo de ver a música tocando nas rádios e televisão e o nome estampado nos jornais e revistas é alimentado por inúmeros artistas. No entanto, apenas uma parcela desse grupo consegue obter sucesso e chegar ao topo das paradas musicais. O restante, sem poder contar com o apoio de grandes gravadoras, acaba improvisando seus próprios trabalhos de gravação e divulgação. Para esses artistas, ainda desconhecidos do grande público, a pirataria tem sido uma alternativa para auxiliálos na empreitada de incluir a sua música na programação de rádios e TVs. A pirataria é uma prática ilegal. Entender como esse mercado se mantém é simples: um CD original custa, em média, R$ 20. A mesma obra pirateada chega ao consumidor por, aproximadamente, R$ 3. A psicóloga Tânia Mara, explica que é compreensivo o interesse pelos produtos pirateados. “É natural que as pessoas queiram obter vantagem quando sabem que isto é possível, mesmo que terceiros sejam prejudicados”, afirma.
Atualmente, muitos nomes consagrados no cenário musical contaram com uma pequena ajuda do chamado mercado paralelo. A banda Djavú, por exemplo, ficou conhecida nacionalmente graças a esse mercado. O tecnobrega, já tão executado no Pará, teve a chance de ficar conhecido pelo grande público por meio da divulgação dos CDs piratas. Algumas dessas bandas fizeram tanto sucesso que realizaram diversos shows fora do país. É o caso da banda Calypso, também do Pará, que fez turnê internacional antes mesmo de cair no gosto popular das outras regiões do Brasil. No outro extremo do País, na região Sul, a opção de gravar CDs por meio de um trabalho independendente, sem vínculo com as gravadoras, ajuda a divulgar os grupos de folclore e a cultura tradicionalista. É o caso da banda gaúcha Chiquito & Bordoneio. O último disco do grupo Pra Ouvir e Dançar, lançado em 2010, foi vendido nos bailes a R$2. “ É CD original mais barato que pirata. A única coisa que muda é a embalagem: o envelope de papel substitui o tradicional estojo de acrílico, o que barateia o custo final”, informa o site Roda de Chimarrão.
Gravadoras X Pirataria A principal justificativa de alguns artistas para utilizar meios ilegais na divulgação de seus trabalhos é a questão financeira. De acordo com a Gravadora Sheffield, de Belo Horizonte, uma matriz bem feita custa entre R$ 10 e 50 mil. O preço é alto demais para quem não tem patrocínio e precisa pagar do próprio bolso. A pirataria contribui para que a procura por gravadoras seja reduzida. Para a Sheffield, o comércio ilegal de CDs tem um lado positivo e um negativo. A renda do artista, hoje, vem basicamente das apresentações, o que o permite deixar, dessa forma, a gravação de discos em segundo plano. O DJ Richard, que ainda está no início da carreira, é um exemplo de artista que
“A divulgação, nesse momento, é mais importate que o lucro com minha obra” dJ richard
FotoS: diVUlgAÇão
Bandas experimentam o sucesso sem contar com gravadoras
aderiu à pirataria por questões financeiras. Como alternativa, o DJ gravou em casa dois CDs de divulgação, com mixagem de músicas de diversos artistas internacionais e nacionais. Já que ele não recebe direitos autorais quando suas mixagens são tocadas nas pistas, o DJ também não paga aos artistas que ‘emprestaram’ as músicas para a produção dos CDs. Para Richard essa ‘sonegação’ não é prejudicial, porque
seu trabalho ainda não é reconhecido pelo grande público. “A divulgação, nesse momento, é mais importante que o lucro com minha obra.” O DJ não está sozinho. No site Favela é isso aí, estão disponíveis vários depoimentos de alguns artistas que optaram pela produção caseira para fazer face ao alto custo das gravadoras. (Também parTicipou: paulo henriQue nascimenTo, 6º períoDo)
mitos e verdades sobre a pirataria na internet Ao fazer download ilegal de arquivos, as entidades que protegem os direitos autorais podem rastreá-lo e saber quem você é. Com isso, o pirata poderá ser alvo de ações judiciais por violação de direitos autorais. VErdAdEIro. Baixar filmes e músicas e apagá-los dentro de 24 horas isenta o usuário de responsabilidade. mIto. Baixar, transferir, copiar e distribuir músicas ou filmes sem autorização dos titulares constitui violação aos direitos autorais, nos termos da legislação em vigor. VErdAdEIro. Sites registrados em outros países não podem ser localizados e seus administradores estão isentos da jurisdição brasileira. mIto. A disponibilização de conteúdo protegido por direitos autorais depende de autorização dos titulares, ainda que se trate de pequeno trecho. VErdAdEIro Criatividade e ousadia empreendem sucessos instantâneos
Especial
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Belo Horizonte, OUTUBRO de 2011
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Transporte irregular cresce em Aeroporto Veículos clandestinos e, até mesmo, carros de luxo são usados ilegalmente por motoristas FOtos: Diego Costa
No detalhe, placa da Infraero orienta passageiros a não usarem transporte clandestino
Homem com camiseta amarela é perueiro à espera de passageiros durante o desembarque
Alexandre Santos Ana Carolina Caetano Camila Fonseca 6º período
Edição: Diego Costa O saguão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), virou uma espécie de feira livre para motoristas e perueiros. Os “piratas”, como são chamados os condutores, atuam de forma livre no terminal e oferecem transporte a preços inferiores aos praticados pelos taxistas e veículos legalizados. No local, existem algumas organizações ilegais formadas por esses motoristas. O esquema conta com a comunicação entre rádio e celulares, olhei-
ros e estrategistas. A operação realizada pelos “piratas” na RMBH pode ser comparada com a de contrabandistas de importados do Paraguai. Os dois segmentos agem fora da lei, com um sistema que dê cobertura e colocando a própria vida em risco para chegar ao objetivo final. Há seis meses trabalhando em Confins, o taxista Fernando Calcagno disse que presencia a atuação dos perueiros no aeroporto, sem qualquer intervenção da segurança. “Devem haver, aproximadamente, 300 motoristas fazendo esse tipo de transporte. É fácil identificar quem são e, mesmo assim, ninguém coíbe a ação deles”, ressaltou Fernando. Os perueiros ficam próxi-
mos ao portão de desembarque, com as mãos nos bolsos e utilizando rádios comunicadores ou celulares. A maioria dos carros está com o licenciamento vencido e várias multas. Muitos desses condutores cumprem jornada dobrada e costumam abusar da velocidade para fazerem mais corridas. Ao oferecerem o serviço aos passageiros, adotam abordagem discreta. A corrida até o centro de Belo Horizonte com um táxi legalizado custa, em média, R$85. Já um perueiro ofereceu-se para levar a reportagem do IMPRESSÃO por R$70. Essa diferença de preço atrai os passageiros. O auxiliar de manutenção mecânica Gustavo Andrade diz que não vê problema em usar o transpor-
te ilegal, apesar de ter rejeitado o serviço. “Eu só não aceitei porque estou esperando uma pessoa que virá me buscar. Se não fosse isso, eu pegaria o táxi pirata. Nessas horas, eu penso mais na questão financeira. Acaba saindo mais barato”, alegou. Há, também, os passageiros mais receosos. O engenheiro Civil Gustavo Person é um dos que não costumam aceitar a oferta dos perueiros. Ele disse que não usaria o transporte em nenhuma hipótese. “Se é clandestino, é porque não é legalizado e não tem segurança nenhuma. Prefiro não correr o risco. É melhor e mais seguro pegar um táxi”, ressaltou o passageiro. De acordo com informações do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER), em Confins, diariamente, encontram-se de dois a três fiscais do órgão, em cada turno. Mas, segundo o assessor da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), Lindberg Garcia, a identificação dos perueiros dos demais veículos que circulam no local não é evidente, o que dificulta a fiscalização. “São carros particulares que poderiam ser de pessoas comuns, famílias ou amigos que deixam gente no aeroporto”, explica Lindberg. Ele afirma que operações têm sido feitas e um núcleo de inteligência foi formado para coibir a atuação dos piratas no terminal. (Também participou: Diego Costa, 6º período Guilherme Rezende, 6º período Gustavo Guilherme, 6º período)
Ilegalidade lucrativa Os “Piolhos”, como são chamados, são outro grupo organizado de expressão no aeroporto. São carros particulares – e de marca luxuosa – repletos de multas e dirigidos por condutores sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Os motoristas também não possuem documentos de identificação ou acessórios obrigatórios e são flagrados dirigindo em excesso de velocidade e transportando passageiros sem a autorização do DER-MG para executar a função. Esses veículos ficam estacionados próximo ao guichê de pagamento do uso da vaga. Sempre que um carro sai com o passageiro, outro é avisado para ficar no lugar, mantendo, assim, um espaço privilegiado para as operações. Os “motoristas chegam a dar cartões com identificação e até nota fiscal ao passageiro, mas é tudo falso. Usam dados trocados e rodam em carros de marca para despistar a fiscalização”, afirmou o taxista Fernando Calcagno. Ele também disse que, mesmo com alguns ficam em regiões próximas ao terminal para fugirem da fiscalização. Como se não bastasse somente esse problema, os policias responsáveis pela segurança do aeroporto também identificaram outra prática comum de transporte ilegal. Motoristas de locadoras de veículos contratados para levar clientes a Confins têm aproveitado o deslocamento para transportar passageiros até a capital, situação não autorizada. Em vez de voltarem vazios, eles costumam levar outro passageiro que desembarca para faturar um pouco mais. Um deles abordou, até mesmo, a equipe de reportagem do IMPRESSÃO com a oferta ilegal : “trabalho numa locadora em BH. Trago clientes para cá e depois procuro alguém que precisa voltar e o levo. O preço é muito menor. Não há nem mesmo competição”, relatou o motorista, que não quis se identificar.
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Especial
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Reflexo da importação Quem compra CDs importados em lojas brasileiras pode pagar o dobro do valor original RODNEY COSTA
Consumidor aprende a pesquisar em sites e lojas especializadas em busca do melhor preço
Ana Flávia Tornelli Camila Falabela João Paulo Vale 6º período
Edição: Rodrigo Espeschit Quem nunca desistiu de comprar um álbum importado da banda favorita por causa do preço? A reportagem do Impressão pesquisou sites de compra e verificou que um CD fabricado no exterior pode custar 100% a mais na “Submarino” do que se adquirido na “Amazon”.
A estudante de jornalismo Priscila Mendes, colecionadora de CDs e DVDs internacionais, privilegia os produtos importados, cuja qualidade considera superior aos adquiridos no Brasil. “Certa vez, paguei muito caro na loja por um DVD original e, ao chegar em casa, percebi que ele não tinha o encarte. Devolvi o produto e comprei outro em um site americano. Poucos dias depois, o DVD chegou à minha casa, com encarte, fotos e letras das músicas, pela
metade do preço”. Depois do ocorrido, a estudante passou a adquirir todos os seus discos em sites estrangeiros. Em situação semelhante, o estudante de engenharia Márcio Campos tem a mesma opinião. “A qualidade é mais importante que o preço, mas se eu puder juntar os dois, melhor, claro!”. Para o produtor Fernando Maia, o que as pessoas não sabem é que produzir um disco custa muito caro. “São várias as fases de produção: grava-
ção, masterização, arranjos, registros e legalização, enfim, o processo é demorado, exige muita dedicação e sai caríssimo, o que justifica os altos preços”, explica o produtor. Alternativas Em alguns casos, encontrar uma importadora no Brasil ajuda os consumidores a pagar um valor mais baixo. É o que garante a gerente fiscal Regiane Donadi. “Eu encontrei uma importadora muito boa e mais barata em relação às outras lojas. O preço do CD fica muito próximo do valor encontrado lá fora”. Ela salienta que, sem intermediação de uma importadora, alguns produtos de valor superior a US$50 são barrados na Receita Federal . “Se você quiser retirar o produto, terá que
“Mercadorias de até US$50 estão isentas de impostos. Acima desse valor, a tributação é de 60%” Receita Federal
O pesadelo das gravadoras A internet traz a facilidade da busca por uma música desejada a qualquer hora, seja o sucesso do momento ou uma relíquia dos anos 20. Com relação aos custos, a internet os reduziu a zero. Não é necessário pagar pela música baixada – paga-se somente pelo provedor, que oferece outras tantas facilidades. Entretanto, para comprar o CD, é preciso sair de casa, dirigir-se a um centro comercial mais próximo, ir à loja de discos, escolher um título, enfrentar a fila, pagar pelo produto e fazer todo o caminho de volta para casa. Além do custo financeiro, que na maioria das vezes é alto, perde-se um tempo gigantesco com esse processo. Em um mundo agitado e apressado como o que vivemos hoje, a opção de baixar músicas pela internet tornouse mania e, cada vez mais, pessoas vêm aderindo à ideia.
Outro grande pesadelo das produtoras e artistas do mercado musical é a tão conhecida e temida pirataria, atividade ilícita existente desde a época das grandes navegações. Atualmente, não é mais praticada a bordo de um navio e pode ser encontrada em vários setores do comércio, desde roupas até jóias. Alguns dos itens mais cobiçados pelos falsificadores são cigarros, CDs, roupas e perfumes. Com os preços de DVDs e CDs cada vez mais altos, a pirataria é uma solução encontrada por muitos. Para a dona de casa Sônia Miranda, consumir produtos piratas é a única alternativa para quem, assim como ela, não consegue pagar o preço estipulado pelas produtoras. “Eu não compro CDs piratas porque gosto, mas sim porque não vejo alternativa. Os discos estão cada
vez mais caros e menos acessíveis. Sei que é ilegal, mas enquanto o preço não diminuir, vou continuar apelando para as falsificações”, afirma a dona de casa. Esse também é o caso da engenheira de alimentos Débora Maciel. Há mais de cinco anos ela usa a Internet como forma de adquirir as músicas preferidas. Para Débora, baixar músicas “é uma alternativa mais prática, econômica, que permite comprar produtos em maior quantidade e também nos mais diferentes estilos musicais”. O publicitário Otávio Augusto já prefere comprar CDs, que, entretanto, estão além do que seu orçamento comporta. “Os CDs estão cada vez mais caros, e, ultimamente, não posso gastar com eles. Mas como sou grande admirador da música, nada se compara a um CD na minha pra-
teleira”, garante. Solução Uma solução tardia partiu da gravadora Arsenal Music, casa de bandas como NX Zero, Fresno e CPM 22. O “Music Pac” consiste no CD propriamente dito, mas com uma embalagem econômica, o que reduz em até 50% o valor final. O álbum “Redenção”, do Fresno, custa R$ 21,90 na versão comum. A versão “Music Pac” reduziu o preço praticamente à metade: R$ 12,90. “Demorou um pouco, mas acabou saindo”, comemora a farmacêutica Gabriela Izar, fã da banda Fresno. “Sempre gostei de comprar CDs, mas o preço é muito alto. Esse pacote se encaixa no meu orçamento, embora a qualidade da arte seja um pouco inferior que a de costume”, complementa Gabriela.
pagar mais imposto”, acrescenta Regiane. De acordo com a Receita Federal, mercadorias até US$50 estão isentas de impostos. Acima desse teto, a tributação é de 60% sobre o valor do produto, acrescido do custo de transporte e do seguro, caso não estejam inclusos no preço final . Há casos em que a situação se inverte, o que mostra certa incoerência do mercado. O estudante de jornalismo Rafael Soal pagou R$54,90 na versão importada do CD “Phrazes For The Young”, trabalho solo do vocalista Julian Casablancas, da banda americana The Strokes. Algum tempo depois, encontrou a versão nacional por R$19,90, com uma triste constatação: “os discos são idênticos! Mesmo encarte, fotos, rótulo. Hoje, eu só voltaria a comprar um importado se fosse algo raro ou se o transporte demorasse muito para chegar ao Brasil”. Outro fator que pode pesar no momento da compra é a demora no envio das mercadorias. O consumidor que não estiver disposto a esperar pelo transporte, pode buscar outras alternativas – como o download, nem sempre legal – para satisfazer seu desejo de apreciar logo a música do artista favorito.
Top 10 - ano 2010
1. Padre Fábio de Melo 2. Zezé di Carmargo & Luciano 3. Beyoncé 4. Roberto Carlos 5. Victor & Léo 6. Bruno & Marrone 7. Aline Barros 8. Simply Red 9. U2 10. Michael Jackson
Fonte: Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD)
Patrimônio
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Novo horizonte para a capital mineira Projeto “Adote um bem cultural” prioriza restauração do patrimônio edificado Bruno Menezes Gabriela Francisca 7º período
Edição: Diego Costa Em meio à verticalização, lá estão eles: barrocos, góticos e neoclássicos. E, neles, rachaduras, cupins e pichações. Grande parte do patrimônio histórico e cultural de Belo Horizonte implora por socorro. Dos 700 monumentos tombados pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município (CDPCMBH), 35 estão em péssimas condições e cerca de 140 em estado crítico. São casas, prédios, praças e museus, entre outros bens materiais e imateriais que dependem da iniciativa - pública ou privada - para permanecer íntegros na história do município. A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte lançou o programa “Adote um Bem Cultural” no início deste ano. O projeto prevê a contribuição de empreendedores para restauração e manutenção dos patrimônios culturais da cidade. O plano de ações a ser desenvolvido é uma sugestão do Ministério Público Estadual, por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais. As diretrizes de proteção e monitoria de bens culturais
Fotos: Diogo silva
são de responsabilidade da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC) junto ao CDPCM-BH. Os proprietários de um patrimônio tombado podem ser beneficiados pela legislação urbanística e cultural, com incentivos como isenção de IPTU e Transferência do Direito de Construir, além do apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. A empresa adotante custeia a restauração e manutenção do bem adotado por dois anos. A iniciativa garante ao empreendedor um selo de Amigo do Patrimônio Cultural, uma placa que identifica a participação do imóvel no programa, além da publicidade veiculada junto ao projeto durante a execução. O produtor cultural Léo Dovalho destaca a importân-
“O projeto é uma das grandes possibilidades de captar a verba sem ter de privatizar o bem” Léo Dovalho
Viaduto Santa Tereza, na região central de Belo Horizonte, é retrato do vandalismo na cidade
cia do projeto pelo fato de as empresas auxiliarem efetivamente com capital próprio e não com o dinheiro da sociedade, como é o caso das leis de incentivo. “O projeto é uma das grandes possibilidades de captar a verba sem ter de privatizar o bem. Em uma cidade cujas construções, hoje em dia, validam muito mais o terreno do que o bem patrimonial, essa passar a ser uma boa proposta para a arrecadação para a manutenção
do bem” disse o produtor. Vandalismo gratuito Frases de protestos, acusações religiosas e, até mesmo, um dialeto próprio. Tudo isso foi criado ao longo dos anos, dando início a uma das mais mais polêmicas – e, atualmente, ilegais – práticas nas cidades brasileiras: a pichação. O ato de pichar é considerado crime ambiental e vandalismo, previsto na lei nacional. A pena para a infra-
ção varia de três meses a um ano de detenção, além de multa. Existem grupos que se reúnem para depredar e destruir. Em Belo Horizonte, os alvos são comuns: viadutos, cartões postais da cidade, prédios, muros recém pintados e, até mesmo, lojas em qualquer local da cidade. Entre os principais grupos de pichadores de BH, estão os autodenominados “Os piores de Belô”.
Monumentos e história
O “pirulito” da Praça Sete sofre com a ação dos pichadores
A história dos patrimônios culturais de Belo Horizonte se mistura à da cidade. É o caso da Igreja Sagrado Coração de Jesus, construída em 1900, no centro da capital. A obra é fruto da mobilização popular de 1894, ano em que os fiéis promoveram festas, rifas e barraquinhas visando arrecadar dinheiro para a construção da matriz. O engenheiro Aarão Reis doou o terreno ao padre Francisco Martins Dias. O projeto é de autoria do arquiteto carioca Edgar Nascentes Coelho e as pinturas do monumento são do alemão Guilherme Schumacher. O obelisco, o famoso Pirulito da Praça Sete, originalmente construído em Capela
Nova de Betim - atual município de Betim - foi doado à capital e inaugurado oficialmente em 1924, nas comemorações da Independência na cidade. Na ocasião, a praça projetada por Aarão Reis mudou de nome: de 12 de outubro para Sete de setembro. Após ser transferido para outros locais – incluindo a Savassi – o Pirulito retornou à Praça Sete na década de 1980. Em 1929, o então prefeito Cristiano Machado decidiu centralizar as vendas dos produtos destinados ao abastecimento alimentício da capital. O prefeito reuniu os feirantes em um terreno com barracas de madeira enfileiradas. O espaço era descoberto e cercado
pelas carroças que transportavam a mercadoria. O local ganhou o nome de Mercado Central, inaugurado oficialmente no dia 07 de setembro do mesmo ano. Essas e outras tantas histórias podem ser associadas ao acervo da capital mineira. E foi visando à preservação dessa memória que o projeto “Adote um Bem Cultural” foi criado. Para participar da iniciativa, o empreendedor ou cidadão deve entrar em contato com o Conselho Deliberativo de Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH), por meio do site www.pbh.gov.br ou pelo telefone (31)3277-5136.
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Tramas urbanas
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Tio,me dá um trocado? Essa pergunta poderia ser diferente: Tio, me dá uma oportunidade na vida? BRUNA CRIS
sional: aquele que vive na rua e o que vive da rua. Os primeiros chegam à mendicância, na maioria das vezes, porque a exclusão social lhes tirou a família e as oportunidades. Desconhecem os direitos de serem assistidos pelo poder público e transformam a rua em seu local de trabalho. Muitos deles fazem parte de uma segunda ou terceira geração de mendigos. O mendigo que vive da rua é, normalmente, aquele que resiste à intervenção do aparato social. Ele insiste em permanecer nas ruas, já que sua atividade é mais rendosa do que os benefícios que o poder público pode lhe oferecer. Numa lógica até compreensível, entre viver da caridade da sociedade e do assistencialis-
“A gente vive, passa o dia, passa a noite, não é uma situação digna ” Seu Itamar
mo do Estado, opta pelo que lhe é mais conveniente ou lucrativo.
No Brasil, mais de 30 mil pessoas vivem ou tiram sustento das ruas; em BH são, pelo menos, mil
Júlia Arantes Thiago Costa 7º período
Edição: Sandra Leão “Uma esmola pelo amor de Deus, uma esmola ‘meu’, por caridade!”, implora o personagem da música ‘Esmola’, de 1994, do grupo mineiro de pop rock Skank. A letra da música relata, ainda, o outro lado da história, o de quem, supostamente, poderia dar esmolas. Assumindo a voz de outro personagem, o cantor Samuel Rosa reclama: “Eu tô cansado de dar esmola. Qualquer lugar que eu passo, é isso agora...” Deve-se dar esmola ou não? Existem os que são, terminantemente, contra, por-
que acham incorreto. Existem outros que não acham certo, mas, também, não veem mal algum em ajudar os necessitados. E há ainda quem defende a esmola. São diferentes opiniões. Já sabe a sua? Retrato da sociedade Ruas e esquinas cheias de gente pedindo um trocado, algo para comer ou beber. São, homens, mulheres, idosos, jovens, crianças malabaristas. Bêbados, de muletas ou em cadeiras de rodas, ficam espalhados pelos sinais de trânsito das cidades, nas escadarias, nas esquinas e calçadas, em frente à sua casa, prédio ou estabelecimento comercial. Levantamento do Ministé-
rio de Desenvolvimento Social mostra que, no Brasil, mais de 30 mil pessoas vivem ou tiram o sustento das ruas. Em Belo Horizonte, são pelo menos mil, a maioria, 42%, veio do interior do Estado à procura de emprego na capital. Este é o caso de “seu” Itamar que veio de Governador Valadares e foi parar nas ruas. “A gente vive, passa o dia, passa a noite, não é uma situação digna. Com relação ao almoço, sinto bastante fome, porque o albergue só dá a janta e o lugar onde dormir. Preciso pedir para ter mais o que comer”, diz. Antropólogos e sociólogos consideram a existência de dois tipos de mendigo profis-
Quer um livro? Segundo pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 74% dos pedintes sabem ler e escrever. Com base nesses dados, o jornalista Rodrigo Ratier encheu uma caixa com 45 livros e colocou no banco do carona de seu carro. Ficou rodando por diferentes bairros de São Paulo. A cada parada no semáforo, sempre que um pedinte ou um garoto-malabarista se aproximava, ele repetia: “Dinheiro, eu não tenho, mas eu estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?”. Para o deleite de Rodrigo, em 13 ofertas, nenhuma recusa. E houve gente que pediu mais. A empresária Fernanda Elian, 41 anos, diz que costuma ter salgadinhos e biscoitos no carro para dar às crianças nos sinais. “Essa situação é muito comum no meu dia a dia e no cotidiano de Belo Horizonte. O número de pedintes é grande pelas ruas onde passo todos os dias. Dou comida, mas não dou dinheiro”, diz.
Tratando o problema No cruzamento da necessidade com a vontade de ajudar, costuma surgir a caridade. A esmola, gesto carregado, muitas vezes, de boas intenções, recebe o sinal vermelho da maior parte das autoridades. Por trás de toda criança “trabalhando” nas ruas das capitais brasileiras, existe, sempre, um adulto comandando o trabalho infantil. A professora do UNIBH Adélia Prado, defende que dar esmolas é errado. “Sou completamente contra, principalmente para crianças e adolescentes”, disse. Ela acredita que a pessoa que dá esmola se coloca em posição superior à de quem recebe, e isso não é bom, pois a solidariedade parte do princípio de que todos os cidadãos são iguais. Adélia ainda acrescenta que dar esmolas mantém a pessoa que pede na mesma situação cômoda, desprivilegiada. Muitas vezes, o ato acaba impedindo esse indivíduo de se desenvolver e buscar outras formas de sobrevivência como, por exemplo, uma oportunidade de emprego ou voltar a estudar. “É um ciclo vicioso”, enfatiza a professora. Em Belo Horizonte, as autoridades orientam os moradores a não dar dinheiro aos pedintes. “Eles veem as ruas como um espaço de liberdade, onde poderão se socializar e se juntar a determinados grupos. Também enxergam a possibilidade de obter alguns ganhos, por exemplo, financeiros, por meio de vendas ou mesmo de doações que as pessoas costumam dar, reforçando, assim, a presença deles nas ruas como eternos pedintes”, enfatiza o Gerente de Inserção Especial da PBH, Mário Rocha. A grande ferramenta para retirar os menores das esquinas é oferecer bolsas-família ou incluir os jovens no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, do Governo Federal. Em Santa Catarina, a Fundação Maurício Sirotsky encabeçou uma campanha propondo a conscientização das pessoas de que dar esmolas não resolve o problema social desse ato. A solução reside em dar oportunidade aos sujeitos pedintes por meio da disseminação da educação.
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Ensaio
Belo Horizonte, OUTUBRO de 2011
Fotos: diogo silva e sandra leão
O Bicho Manuel Bandeira (*)
Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. (*) Dezembro de 1947
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Conexões midiáticas
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Direto dos palcos para Agora, não há mais desculpas. Se você não pode ir ao teatro, o teatro vai até você; DIVULGAÇÃO
“Oui, oui... a França é aqui - a revista do ano”, dirigida por João Fonseca, é um dos espetáculos disponíveis para exibição online, no site da Cennarium
Priscila Mendes Gustavo Pedersoli 6º período
Edição: Diogo Silva Presente em vários campos da arte, a tecnologia vem trazendo inovação e criando uma nova linguagem na música, no cinema, na escrita. O que muitas pessoas ainda não imaginavam é que a era digital estivesse marcando presença também no teatro, uma das últimas áreas da cultura que permanecia imune a esse avanço. Híbrido do cinema, TV e tecnologias interativas, uma nova vertente das encenações surge, há pouco mais de um ano, como uma proposta, no mínimo, instigante, que busca aproximar uma das mais antigas formas de arte à internet: o teatro online. Se antes, para assistir aos espetáculos era preciso sair de casa, hoje, é possível ver as apresentações em qualquer lugar, desde que se tenha um computador e acesso à internet. Esse é o desafio do Cennarium, portal pioneiro, especializado na transmissão de espetáculos e peças teatrais
via web. De acordo com seus idealizadores, o projeto teve um investimento de, aproximadamente, 10 milhões de reais, custeados pela empresa de mídias digitais Nortik, com objetivo de promover a popularização do teatro e dealcançar um maior público. A ideia surgiu depois que pesquisas de campo apontaram que 95% da população brasileira não tinham acesso ao teatro. Diferentes ângulos O presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc – MG), Rômulo Duque, mostra-se favorável à inserção do teatro no mundo virtual, mas faz algumas ressalvas. “A internet veio para abraçar todas as possibilidades. Assistir a uma peça de teatro pela internet, pela televisão ou, até mesmo, em um cinema, não se aproxima nem um pouco do ato de assisti-la em um teatro. O teatro é emoção da presença da plateia e um diálogo direto com o ator. Mas, se alguém quer ver a obra, simplesmente é um caminho. E as páginas deste formato ampliam a in-
formação com entrevista aos atores, mostrando os bastidores. Coisas que interessam ao público”, compara Duque. Quando questionado sobre a possibilidade de nas bilheterias dos teatros convencionais haver uma demanda
“Disponibilizar a peça na íntegra quebra a magia existente no teatro” Kinkas Costa menor de público devido à comodidade oferecida pela internet, Duque se mostra cético em relação ao assunto. “A minha opinião sobre isso é a mesma quanto à televisão, vídeo 3D em casa etc. Nada vai substituir o desejo da pessoa de sair de casa. Nem que seja
uma vez por ano. O ato de se isolar em casa não é parte do ser humano”, destaca. Mesmo com pontos de vista favoráveis ao teatro virtual, há quem não considere bem vinda a ideia. Um exemplo disso é o ator, escritor e diretor teatral Kinkas Costa, produtor de várias peças, como O Espiritólogo e De tarado e louco, todo mundo tem um pouco. De acordo com ele, é muito importante o contato físico entre o público e o ator. “O teatro online tira muito a verdadeira essência dessa arte que é produzida em cima dos palcos. Colocar somente flashes da obra é bastante positivo, pois ajuda na divulgação. Mas disponibilizar a peça na íntegra quebra a magia existente no teatro, além de contribuir para um maior comodismo e vício das pessoas frente ao computador”, esclarece. A estudante de Artes Cênicas Raquel Menezes dos Santos, de 24 anos, compartilha da opinião de Costa. Segundo ela, a presença do público é muito importante. “A expressão no rosto das pessoas é o termômetro para o ator.
Quando estamos no palco, ao mesmo tempo, ficamos atentos aos olhares, às feições das pessoas que nos assistem. É possível notar se o público está satisfeito ou não com a peça somente pela sua reação ao longo da apresentação. Já pela internet, essa possibilidade é muito restrita. Talvez essa satisfação seja manifestada por meio de uma enquete no site, por exemplo, mas, mesmo assim, muito superficialmente”, conclui a estudante. O professor de Artes Cênicas do UNIBH, Juarez Guimarães, admite que, com o surgimento de novas tecnologias, o teatro tem sofrido grandes mudanças. “Com as novas mídias, internet e redes sociais, o teatro deve refletir sobre qual o lugar ocupa numa sociedade hiperinformada, com um aumento significativo de relacionamentos virtuais”, conclui. A idéia do site surgiu em uma conversa entre o diretor do Cennarium, Harry Fernandes, e o pai dele, Ary Araujo. Ao se questionarem sobre o acesso à cultura , viram na web uma ferramenta democrática para a arte.
ImprEssão
Conexões midiáticas
BElo HorIzontE, oUtUBro dE 2011
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a tela do computador diretores, atores e espectadores discutem os prós e os contras do acesso online às peças reprodUÇÂo
“Internet facilita a inclusão”, diz diretor Entenda um pouco mais sobre essa nova manifestação cultural. O jornal Impressão fez uma entrevista com o diretor de Operações e Novos Negócios do portal Cennarium, Antônio Carlos Gimenes. Impressão - A partir desse novo formato do teatro, você concorda que novos hábitos culturais são desenvolvidos na sociedade? Será que podemos considerar que está surgindo uma segmentação no teatro? Gimenes - Uma das principais bases do projeto Cennarium é a inclusão sociocultural, levando o teatro para pessoas que não têm acesso tão fácil como as que estão nos grandes centros. Ainda é muito cedo para falarmos de uma nova segmentação, mas podemos entender que novos hábitos culturais estão se manifestando,
ainda que timidamente. Existem pessoas que procuram por uma peça no Cennarium, mesmo já a tendo assistido ao vivo. A ideia é ter uma releitura da experiência ao vivo por outros ângulos e com detalhes que não foram percebidos na primeira vez. Por outro lado, existem também aquelas que ficam motivadas a assistir à peça ao vivo ou até começar a frequentar o teatro depois da experiência online. O importante é atuar como agente facilitador no acesso à cultura.
Site da Cennarium oferece ao internauta a opção entre diversos gêneros teatrais
Impressão - A convergência dos espetáculos para a internet já pode ser considerada um gênero cinematográfico e uma nova maneira de fomentar o teatro brasileiro? Gimenes A convergência dos espetáculos para a internet ainda vai ser uma realidade. Nos dias de hoje,
Nos palcos, há quase 3 mil anos O teatro se originou nas primeiras sociedades primitivas que acreditavam que essa forma de expressão trazia poderes sobrenaturais e controlava os fatores necessários à sobrevivência, tais como fertilidade da terra e sucesso nas batalhas. Durante um bom tempo, esse foi o papel do teatro: transcender o aspecto físico do ser humano. No entanto, com o passar do tempo, essa forma de expressão artística deixou suas características ritualísticas, dando lugar às ações educativas. De acordo com o professor Juarez Guimarães, “o teatro tinha uma função social relevante de moralizar e de manter a ordem social, e até pedagógico, no sentido de ensinar ao público quais as re-
gras da sociedade e suas punições.” O teatro, tal como é conhecido atualmente, surgiu na Grécia Antiga, por volta do século VII a.C. Era apresentado em arenas dotadas de excelente acústica e abordava temas profundos, tratados na forma de tragédias ou comédias. “O teatro grego originase em sua mitologia. Portanto, carrega um compromisso com a representação dos deuses e heróis, com o intuito de mostrar aos espectadores as conseqüências graves de quem desobedece às leis divinas ou sociais”, afirma Juarez. As primeiras peças de teatro grego eram apresentadas nas festas religiosas, em homenagem ao deus Dionísio, que era conhecido como o deus do vinho, da loucura e
dos prazeres. O teatro era ao ar livre e os atores usavam máscaras. Somente os homens tinham permissão para participar das representações, nas quais eram discutidos os problemas que atormentavam os seres humanos, como o destino, as paixões e a justiça. No Brasil, a implantação do arte teatral foi realizada pelos jesuítas, que o fizeram com o intuito de catequizar os índios para o catolicismo e coibir os hábitos “incorretos” dos colonizadores portugueses. O padre José de Anchieta (1534-1597) foi um dos principais articuladores desse movimento de cunho mais religioso do que artístico, inspirando-se nas obras do dramaturgo português Gil Vicente, autor da alegoria Auto da Barca do Inferno.
em território nacional, ainda existe resistência de algumas companhias de teatro, que temem perder espectadores. Considerá-la um gênero cinematográfico ainda é muito precoce. As peças que o Cennarium exibe são captadas num dia normal de apresentação. Como no cinema e na novela, o público está presente ali no teatro e isso torna todo o processo mais real. Sem dúvida, trata-se de uma maneira de fomentar o teatro no Brasil. Impressão - Esse tipo de apresentação dos espetáculos teatrais pode influenciar, ne-
gativamente, nas bilheterias dos teatros físicos? Gimenes - Tratamos este questionamento com muita tranquilidade. A peça de teatro, normalmente, é disponibilizada no Cennarium depois que já saiu de cartaz. A não ser em casos que a companhia de teatro solicite que a peça captada entre online, simultaneamente com as apresentações. O objetivo do Cennarium é aumentar o alcance e o tempo de exibição das peças. Nunca prejudicar os profissionais do teatro, que são a principal matéria-prima de todo o projeto.
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Fonte: Cennarium (www.cennarium.com)