Edição 180 - Caderno 1

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˜ IMPRESSAO

Jornal laboratório do curso de comunicação social do Uni-BH

Ano 28 - número 180 - Junho de 2010 - Belo Horizonte/MG

Distribuição gratuita

A copa que ninguém vê A Copa do Mundo começa no dia 11 de junho na África do Sul, com 32 seleções. O país sede se preparou para receber o maior evento esportivo mundial e, a alguns dias do início do torneio, todos os holofotes da mídia e das pessoas estão voltados para as equipes participantes. Contudo, pouco destaque se dá para os contratempos políticos e econômicos que permearam todo o processo de adaptação. E já pensando na próxima Copa, desvendamos o que não estava nos planos da África e que pode se repetir em 2014. Páginas 7 a 9

Política

“Marqueteiros” e as eleições

roBErto roMEro

do!s

Literatura

toque de letras e de futebol

Essenciais para eleger um candidato, marqueteiros têm como desafio desenvolver um plano estratégico que esteja de acordo com os ideais que o público espera. Leia a opinião de especialistas como Gaudêncio Torquato. Páginas 3 e 4

O esporte sai das quatro linhas do campo e invade os livros, sob o olhar de escritores apaixonados pelo futebol. Páginas 2 e 3

Entrevista

Literatura

Animais do universo de rosa

diversas mídias, vários públicos “Acho que vai ter todo tipo de público para todo tipo de veículo de comunicação”, diz a editora de treinamento da Folha de S. Paulo, Ana Estela de Souza Pinto, a respeito do leitor do futuro. Página 5

Ensaio fotográfico destaca a religiosidade da Festa do Senhor do Bonfim, na Bahia

A paixão pelos bichos inspirou uma coletânea de frases de Guimarães Rosa reunidas no livro “Zoo”. Páginas 4 e 5


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Impressão

Belo Horizonte

Primeiras palavras

EditorA: BárBArA LourEiro 5º PERÍODO

Ao som das vuvuzelas Barbara Loureiro 5º PERÍODO

Mariana Medrano 7º PERÍODO

“Alegria do pecado às vezes toma conta de mim. E é tão bom não ser divina. Me cobrir de humanidade me fascina. E me aproxima do céu”, canta Zélia Ducan em uma de suas músicas mais recentes. Há centenas de anos os 7 Pecados Capitais fazem parte das nossas vidas. Enumerados e agrupados no século VI pelo papa São Gregório Magno (540-604), com referência nas cartas de São Paulo, eles também são chamados de mortais. “Os 7 Pecados Capitais”: classificação dos vícios que eram repudiados na época dos primeiros ensinamentos do cristianismo e que atualmente, devido

ao capitalismo exacerbado, estão cada vez mais presentes no cotidiano da humanidade. O Impressão traz um dossiê mostrando como esses pecados rondam e se manifestam na vida dos mineiros. Para cumprir o papel de cidadão, elegendo candidatos para assumir as funções de presidente, governador, deputados estadual e federal e senador os brasileiros vão às urnas no dia 3 de outubro. Leia uma matéria sobre a importância de um marqueteiro em uma campanha política de sucesso. Outro momento marcante de 2010 é a Copa do Mundo, que será a primeira a ser realizada no continente africano. Espera-se que este seja o maior evento esportivo no continente.

Nossos repórteres ouviram alguns dos principais jornalistas esportivos do Brasil responsáveis pela cobertura desse evento, que será comemorado ao som das vuvuzelas. As emoções do futebol continuam no caderno DO!S. Entretanto desta vez, ao invés do gramado, ele invade as páginas dos livros. E a literatura continua, embarcada nas grandiosas palavras de João Guimarães Rosa. A matéria nos conta as histórias contidas nos livros do escritor sobre o amor que o mestre dedicava aos animais. Da narrativa escrita para a cinematográfica encontramos Pinóquio. O boneco dos estúdios de

dEZcobertas 1

copa do Mundo

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A Copa do Mundo de 2010 na África do Sul terá todos os campeões mundiais, são eles: Brasil, Itália, Alemanha, Argentina, Uruguai, França e Inglaterra. A última vez que isto ocorreu foi na copa realizada no Japão / Coreia do Sul em 2002. Já na copa da Alemanha em 2006 a seleção do Uruguai, não se classificou.

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coreia do norte

vuvuzelas

Para os jogadores que gostam de uma torcida animada e que coloca o time para frente podem ficar tranqüilos! Os africanos vão fazer muito barulho com as vuvuzelas. Desde o ano passado elas foram alvo de reclamações de jogadores e técnicos que não conseguiam se comunicarem por causa do som das cornetas.

em clima de emoção. Dedicamos aos fãs do álbum The Wall, do Pink Floyd, uma volta ao passado com detalhes do inesquecível disco que virou filme. As despedidas, do astro do blues B.B King e da banda norueguesa A-ha, são relatadas nas palavras de nossos repórteres que estiveram nos últimos shows desses ídolos que marcaram época e serão pra sempre tomados como referência. Por último, mas não menos importante, estamos lançando nosso site. Depois de 27 anos e 180 números completados nesta edição, em uma iniciativa do Laboratório de Convergência de Mídias, o Impressão coloca suas matérias na na web.Entre e confira! www.jornalimpressao.com.br

saiba mais sobre a copa do Mundo da áfrica do sul Kátia Brito- 5º PERÍODO

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Pela primeira vez, em uma Copa do Mundo, duas seleções da Oceania disputam o mesmo Mundial. É o caso de Austrália que classificou no dia 6 de junho de 2009 nas eliminatórias da Ásia. A Nova Zelândia que classificou-se na repescagem das eliminatórias da copa entre a Ásia e a Oceania.

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Há 44 anos a Coreia do Norte não participava de uma copa, porém a alegria de rever a seleção norte coreana nos gramados vai ser privilégio de apenas 1% da população. Pois 99% dos coreanos do norte só têm acesso à programação da TV estatal. O canal tem autorização para transmitir apenas as possíveis vitórias do time..

oceania

Walt Disney comemora 70 anos de vida. Confira a história do personagem que encanta crianças, e também adultos, há tantas gerações. Dois momentos do Brasil são retratados nessa edição: a ditadura militar de 1964 – na entrevista feita com a jornalista Giselle Nogueira, autora do romance autobiográfico Casaco Marrom - amor nos tempos da guerrilha – e no ensaio fotográfico de Roberto Romero, que ilustra a beleza encontrada na festa do Senhor do Bonfim, na Bahia. A sonoridade dos gigantes da música internacional completam as últimas páginas do caderno

raymond domenech

O técnico da seleção francesa, Raymond Domenech, está desde 12 de julho de 2004 no comando do time. É o técnico que mais tempo passou treinando a seleção. Mas nestes seis anos nunca conquistou um título sequer. Que é Famoso pela sua arrogância dentro e fora dos gramados.

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Zakumi

Zakumi, este é nome do mascote da copa de 2010. Apesar de o animal ter uma pequena juba ele não é um leão, mas um leopardo. O nome significa “África do sul dez”. A primeira Copa do Mundo a ter mascote foi a de 1966, na Inglaterra. O leãozinho Willie foi o escolhido. Desde então, todo Mundial tem mascote.

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Arábia saudita

Esta Copa do Mundo deixou os Saudiarábicos tristes. Pela primeira vez desde a sua estreia em Copas do Mundo, a Arábia Saudita fica fora de um mundial. Em 2002 despediu com o pior desempenho na Copa de 1982. Eles deixaram o mundial sem “balaçar a rede”.

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A África do Sul é um país de contrastes no que diz respeito a cor, nível social e língua. Ao todo são falados onze idiomas no país. Imagina então como deve ser o hino, enorme não é mesmo? Não. Quando o hino da África do Sul foi criado foram escolhidos os idiomas mais falados entre os africanos.

torcida

A separação entre negros e brancos fica nítida na África do sul quando se observa as arquibancadas. Durante os jogos da copa olhe para a torcida africana,bochechas rosadas e cabelos loiros, pode ser que você veja um ou outro, mas a maioria será negra. Os brancos suis africanos gostam mesmo é de rugby.

áfrica do sul

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cape town

A cidade do Cabo (Cape Town) é um dos lugares mais belos da África do sul, mas é também berço da pobreza. Muitas comunidades locais como a de Masephumele, por exemplo, vivem em condições precárias de higiene, altos índices de violência e estupro, contaminação com o vírus HIV e desemprego.

PArA sEgUIr o JornAL

Site: REITORA Profª. Sueli Maria Baliza Dias VICE- REITOR -Prof. Ricardo Cançado PRÓ- REITOR DE GRADUAÇÃO Prof.Johann Amaral Lunkes PRÓ- REITORA DE PÓS - GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO Profª.Juliana Salvador CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Rua Diamantina, 567 - Lagoinha BH - MG - CEP: 31110-320 TELEFONE: (31) 3207-2811

LABORATORISTA Ana Paula de Abreu ( Programação Visual)

IMPRESSÃO/TIRAGEM Sempre Editora 2.000 exemplares

MONITORES ED. JORNALÍSTICA Bárbara Loureiro (Texto) Isabella Barroso (Infografia e diagramação) Marina Célia Messias (Texto) Rafael Igor (Texto)

EDITOR RESPONSÁVEL Prof. Fabrício Marques - MG 04663 JP

ESTAGIÁRIOS Fernanda Toussaint (Texto) Lorraine Kelly Coelho (Diagramação) Marcos Mendes (Texto) Mariana Medrano (Texto) Vanessa Guerra (Diagramação)

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COLABORAÇÃO Luciana Cafaggi (Ilustração) Leonardo Lobo (Ilustração)

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Jornal impressão

Má IMPrEssão Na matéria “gravidez antes da hora”, da edição 179, o nome correto da autora é Nicole Barcelos.


Belo Horizonte

Impressão

Vida pública

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EditorA: BárBArA LourEiro 5º PERÍODO

A força da imagem gaudêncio torquato alerta: “um bom marketing ajuda a eleger, mas é o candidato quem se elege”

Gaudêncio Torquato, profissional de marketing e professor titular da USP André Martins Érica fernandes Kátia Brito 5º PERÍODO

No conto de fadas “Branca de Neve e os sete anões” a madrasta é conhecida como a mais bela de todo o reino. Seu posto é ameaçado quando sua enteada cresce e se torna uma jovem linda. Para reafirmar sua beleza, a rainha consultava o espelho mágico a fim de saber se a sua beleza ainda era única. Porém, é surpreendida com a resposta: “Não, Branca de Neve é a mais bela”. Irada, a rainha tenta a todo custo eliminar a jovem para não perder a primazia da beleza. Na política a história se repete. O político que pensa ser destaque perante a população é surpreendido por uma nova face que surge com ideias inovadoras e

uma postura diferente. Para eliminar o concorrente não é possível recorrer a um espelho mágico que fala e mostra as estratégias utilizadas pelo opositor. No caso da política, quem ajuda e aconselha é o marqueteiro, juntamente com uma equipe gabaritada. O profissional de marketing e professor titular da Universidade de São Paulo (USP), Gaudêncio Torquato, afirma que hoje existe um desenvolvimento gradual da imagem dos políticos, que começam a enxergar no marketing um bom caminho para maximizar seus potenciais e atenuar suas carências. “Um bom marketing ajuda a eleger, mas é o candidato quem se elege. Marketing mal feito, ao contrário, ajuda um candidato a perder as eleições”, avalia o profissional. A assessora Ana

Paula Martins, que na última eleição ajudou a levar um vereador à Câmara Legislativa da capital mineira, confessa já ter mentido para manter a imagem do seu candidato: “não contamos apenas com uma grande equipe, mas fazemos quase tudo para torná-lo conhecido”, acrescenta. O exemplo da assessora é uma das mais diversas estratégias empregadas para que um candidato alcance seu objetivo: conquistar eleitores. Nas eleições de 2008 para a prefeitura de Belo Horizonte, Leonardo Quintão (PMDB) com seu bordão “Isso dá pra fazer”, lançou um vídeo que conta sua trajetória pessoal a fim de convencer os belohorizontinos a elegê-lo. Em 2004 o deputado estadual Pinduca Ferreira (PP) prometeu para a população mineira o aumento do número

de “ambulanças” e ganhou, mesmo matando a língua portuguesa. Outro exemplo muito conhecido dos brasileiros é o do atual presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, que durante sua trajetória política foi de sapo a príncipe. Muitos críticos atribuem as mudanças, principalmente na aparência do presidente, ao marqueteiro Duda Mendonça. O Brasil reelegeu Luís Inácio Lula da Silva no dia 30 de outubro com mais de cinqüenta milhões de votos, a maior votação já dada a um candidato na América. O documentário Entreatos, do cineasta João Moreira Salles, que acompanhou por um mês os passos da campanha de Lula, mostra uma cena interessante: durante a gravação de um programa eleitoral, Duda interrompe a gravação e ensina como o petista deve falar, chegando a reproduzir o tom de voz de Lula para o próprio presidente imitá-lo. Para fazer com que um político cresça na opinião da população é preciso construir discursos convincentes, propagandas que utilizem os melhores recursos tecnológicos e ter um conjunto de ações que atendam o povo, mas, além disso, um candidato que queira ser eleito deve contar com um número grande de profissionais capacitados. O número de profissionais para campanha

política muda de acordo com o cargo a ser alcançado. Para a posição de vereador, a assessora afirma que a equipe contou com mais de 20 profissionais, como advogado, secretária, gestor de marketing, lideranças comunitárias, motoristas, patrocinador e até pintor: “toda função é importante, mas é indispensável a qualquer campanha política a figura do marqueteiro. É ele quem define a “cara” do candidato.

“A sociedade como um todo passa por um processo de metamorfose. Acredito que as pessoas têm feito suas escolhas de maneira mais racional” Eraldo ferreira Afinal, convence? Gaudêncio Torquato afirma que o eleitor não se conforma com meros apelos emotivos e chavões-antigos, como os usados para embalar per-

fis saturados (candidatos beijando velhinhos, pegando crianças no colo, tomadas em câmara lenta mostrando o candidato no meio do povo, em escolas, universidade, hospitais). Quem concorda com a posição de Torquato é o aposentado Francisco das Graças Brito, 76 anos: “os meus votos vão para a plataforma política e não para a imagem, pois não dá para saber o que é verdade ou mentira. Eu não acredito em político”. O professor Eraldo Ferreira Greis, 52, também não se deixa levar pelo que é vendido na internet, no rádio ou na TV. Para ele, a estética atrai uma parcela das mulheres e jovens, mas não a ponto de fazer com que decidam seus votos. “A sociedade como um todo passa por um processo de metamorfose. Acredito que as pessoas têm feito suas escolhas de maneira mais racional”, afirma o professor Eraldo. As estratégias de marketing devem entender a campanha não apenas como um apelo publicitário ou uma proposta de propaganda televisiva. Devem ser colocados em questão a idade, sexo, e grupo social que os eleitores pertencem. “O profissional de marketing deve ser capaz de visualizar os novos nichos de interesse de uma sociedade exigente, crítica e sensível aos mandos e desmandos dos governantes”, afirma Torquato. dIvULgAção

ArqUvo PEssoAL

O espelho mágico existe na política e no conto de fadas da Branca de Neve


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Impressão

Belo Horizonte

Vida pública

EditorA: Bárbara Loureiro 5º PERÍODO

Estratégia de uso de imagem marca Brasil e EUA Marcus Pontes

Ele não permaneceu mais que dois anos na presidência do Brasil. Para conter a enxurrada de denúncias de corrupção, que surgiram a partir de 1991, não havia beleza que desse jeito na situação em que se encontrava Fernando Collor de Mello em setembro de 1992. Talvez seja o presidente brasileiro que mais soube usufruir das estratégias de imagem. Em 1989, aos 41 anos, Collor vendia a imagem que o Brasil inteiro queria comprar. Era jovem e sorridente – o que o contrapunha à sisudez de José Sarney –, praticava esportes, utilizava camisas com frases nacionalistas e a face era tão simétrica a ponto de levar as mulheres à loucura. Os meios de comunicação deram amplo destaque ao ex-governador do estado de Alagoas - fluente em inglês e francês e em linguagem televisiva - que se opunha ao governo Sarney e era implacável na luta contra a corrupção. Segundo a professora de Sociologia do UniBh, Maria Cristina Leite, a política também teria virado uma espécie de mercadoria e os políticos, produtos passíveis de serem vendidos. “Esses produtos são moldados com base em pesquisas. Os candidatos são construídos em função do desejo momentâneo expresso pelo eleitorado. Foi isso que aconteceu com o Collor”, aponta. No segundo turno, Collor mediu forças com um personagem que encarnava o esquerdismo político e a luta dos trabalhadores.

Luiz Inácio Lula da Silva, metalúrgico pernambucano que aos 10 anos migrou com a família para o interior de São Paulo, não tinha a boa aparência do oponente, muito pelo contrário, era chamado de “sapo barbudo”. Ao longo da campanha eleitoral, Lula levantava bandeiras vermelhas e embora não dominasse as regras da língua pátria com segurança, fazia discursos inflamados contra a elite política e econômica do país e se colocava à frente das manifestações trabalhistas. A prova de que a disputa pelo poder transcendia o campo político e entremeava na vida privada e na questão da imagem pessoal, foi o xeque-mate dado por Collor, em uma emissora de TV brasileira, no principal rival da direita. Lula foi acusado de abandonar uma filha, fruto do relacionamento com uma antiga namorada. Embora tenha sido encarada com desconfiança na época, a história causou estragos irreparáveis para a imagem de Lula, o que abriu espaço para a vitória de Fernando Collor. Para chegar ao poder, em 2002, Lula passou por transformações profundas. “De sindicalista combativo, Lula se transformou em ‘paz e amor’”, brinca Cristina. Segundo a professora, é preciso consciência crítica por parte do eleitorado. “O que importa é saber qual a contribuição desses procedimentos para a consolidação da democracia”, propõe Yes, we can! As campanhas das úl-

timas eleições estadunidenses ditaram uma tendência que deverá se estender à grande parte das nações democráticas. Orkut, facebook, twitter, Youtube, sites e blogs são algumas das ferramentas que ampliaram e modificaram a maneira de se fazer propaganda política. Além de mais atrativa e compatível com o mundo digital, a publicidade eleitoral na grande rede é infinitamente mais barata que a televisiva, radiofônica e impressa. Para Joe Rospars, diretor de estratégia digital da campanha do presidente americano Barack Obama, em entrevista concedida para a BBC, as formas de comunicação online representam novas oportunidades e desafios para os “marqueteiros” que devem encontrar maneiras inteligentes e inovadoras para seduzir o eleitor-internauta. Graças à utilização da internet, Obama não só ampliou sua influência em todo o território norte-americano, chegando ao posto mais alto do poder nos Estados Unidos, como se tornou um verdadeiro ícone pop. No Brasil, a legalização da propaganda política na web ainda gera discussões. A última delas ainda tramita na Justiça, anexada ao Plano Nacional de Direitos Humanos. Com a perda referencial de espaço na grande rede, a tendência é que a propaganda eleitoral seja plenamente estendida à dimensão virtual, o que pode ampliar a ideia de liberdade de expressão e, principalmente, de democracia. Érika Fernandes

A assessora Ana Paula Martins ajudou a levar um vereador à Câmara Legislativa

Hora de votar: as eleições de 2010 serão realizadas no dia três de outubro


Impressão

Belo Horizonte

Outros papos

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Editor: Rafael Igor Rocha 5º PERÍODO

Jornal em mutação Ana Estela, editora de treinamento da Folha de S. Paulo, discute mudanças que afetam o jornalismo Rodney Costa

tão eu recebo superbem os comentários do blog. Trato as pessoas como se fossem meus colegas mesmo.

Marcos Mendes 2º PERÍODO

É muito comum ver estudantes falando do sonho de ser jornalista, desde pequenos. Pois bem, não foi assim com a editora de treinamento da Folha de S. Paulo, Anna Estela de Souza Pinto. Antes de entrar na área tentou até ser babá, mas não deu certo. Ela esteve no Uni-BH, em abril, e conversou com os alunos do curso de jornalismo. Entre os assuntos, o lançamento do livro “Jornalismo Diário” (Publifolha), que apresenta, passo a passo, lições e dicas da área. Nesta entrevista ela fala sobre o programa de treinamento, o mesmo pelo qual ela entrou para a Folha. Quando e como surgiu a oportunidade e o interesse em trabalhar com o Jornalismo? Foi bem por acaso, porque eu tinha estudado agronomia, não sabia o que eu ia fazer da vida, estava totalmente perdida. Sabia que não queria trabalhar com agronomia porque, embora eu gostasse muito de ter estudado o assunto, eu achava o trabalho chato e as coisas demoravam muito para ter resultado. Me formei em 1986. No ano de 87 inteiro fiquei totalmente sem saber o que fazer, tentei fazer uma matéria de psicologia para ver se me aceitavam, também não gostei. Tentei trabalhar como babá, não deu certo, não me quise-

ram na verdade como babá (risos). Eu trabalhava de balconista numa livraria e vi no jornal Folha de S. Paulo uma matéria dizendo que eles iam abrir um curso para quem quisesse ser jornalista, que é esse programa de treinamento que eu coordeno hoje, mas aquela ia ser a primeira turma do programa e era aberto para pessoas de qualquer área. Eu me inscrevi e fui selecionada por sorte. Fiz o curso, que durava três semanas, e depois de duas semanas de seu término me chamaram para participar de uma seleção para ser repórter de Ciência. Do início da carreira aos dias de hoje o que mudou na profissão? Foram muitas. E de todos os tipos desde recursos e ferramentas que você tem para fazer jornalismo que a gente não tinha. Quando eu comecei trabalhar na área não existia internet nem celular. Imagina fazer jornalismo sem internet e celular? A gente não consegue imaginar como era a vida há 20 anos quando eu comecei a fazer jornalismo. Para fazer pesquisas, você ia para um banco de dados e abriam umas pastas enormes. Você ficava pesquisando, procurando informações a fim de se preparar melhor para uma reportagem. E o contexto político naquela época foi determinante para algumas mudanças?

Certamente. Porque quando eu comecei a trabalhar no jornal tinha acabado de acontecer todo o episódio das Diretas Já, com a volta das eleições diretas no país. Então tinha muito mais destaque para o noticiário de política. Era uma época em que a política estava muito efervescente e, de outro lado, a economia; você não tem noção do que era a inflação, que naquela época chegou a ser de 80% ao mês. Então o noticiário de economia era muito mais presente. Qual é a sua relação com as mídias digitais? Em que ajudou? O blog foi uma ferramenta sensacional para mim profissionalmente. Porque foi uma possibilidade de ampliar muito o acesso das pessoas, sabe? A gente faz esse programa de treinamento há 12 anos sempre para turmas muito pequenas e nesses 12 anos desenvolvemos muito material, muitas dicas, muitos depoimentos, exercícios, questionamentos e reflexões. Sempre pensava em como conseguir atingir mais gente, pois há muito mais gente interessada em treinamento em jornalismo, capaz e com potencial

E como acredita que deve ser o leitor do futuro? Eu vejo como exemplo a minha filha, que tem 12 anos. Potencialmente é uma leitora do futuro. É uma menina que não tem muito interesse por ler nada no suporte de papel. Ela gosta de ler, não só de ler, assistir à televisão, ouvir música, tudo no computador. Ela assiste na hora que ela quiser no computador. E tudo que ela lê basicamente é na tela, a não ser o que ela é obrigada a ler pela escola. Então, eu acho que ela é um possível público do futuro. Mas eu não sei se isso pode ser generalizado, porque eu conheço também garotos com a idade dela que gostam muito de ler, inclusive de ler jornal impresso.Então acho que vai ter todo tipo de público para todo tipo de veículo de comunicação. Éssa é a aminha impressão. Algumas práticas no jornalismo ainda são muito questionáveis, como o uso de câmeras escondidas, passar por outra pessoa para garantir uma reportagem ou um “furo”. Até onde é legítimo o jornalista ir para conquistar seu

objetivo? Acho que não tem uma resposta padrão para todas as situações. O jornalista nunca vai fazer isso isoladamente, vai ser uma decisão de equipe com a chefia dele, com a direção do jornal. Depois acho que ele tem que pesar três pontos: primeiro, se a informação que ele vai obter é muito importante, que vai ter um impacto direto na vida das pessoas ou das instituições; segundo, precisa pesar se realmente não haveria outro jeito de ele obter uma informação sem deixar de declarar que ele é o jornalista e, finalmente, refletir sobre que tipo de risco está envolvido nessa camuflagem, seja ela qual for. Você está lançando o livro “Jornalismo Diário”. O que a motivou a escrever esse livro e como se deu o processo de elaboração? Eu quis publicá-lo porque eu tinha muito material reunido, depois de vários anos trabalhando como editora de treinamento. E pelo mesmo motivo eu quis fazer o blog, porque eu achava que seria útil, não tem no Brasil nenhum livro desse tipo, bem prático. Queria ter um material de apoio que apresentasse o conhecimento de uma forma bem organizada, bem pragmática, bem dicas passo a passos. Foi pensado para ser um livro texto mesmo, que oriente um estudo mais técnico da profissão. Rodney Costa

Ana Estela, durante palestra para estudantes do curso de jornalismo do Uni-BH

No programa de treinamento, quais as qualidades mais valorizadas pela Folha? Não tem qualidades mais valorizadas. Um jornal é feito de pessoas muito diferentes com qualidades muito diferentes. Então, a gente procura basicamente gente com muita vontade de fazer jornalismo, com algum conhecimento do que é jornalismo, de história ou do noticiário, quer dizer, que tenha se debruçado um pouco sobre o assunto, sobre uma área específica ou sobre jornalismo. E no caso específico da Folha, que trabalha muito com texto, procuramos pessoas que sabem escrever minimamente bem. Mas pelo menos quatro características básicas a gente sempre olha: gostar de notícias, acompanhar bem o noticiário, ter muita vontade de trabalhar como jornalista e saber escrever. . Qual a principal causa de reprovação dos não-classificados? A primeira coisa importante é o seguinte: não ser classificado não é uma reprovação. A gente faz uma seleção muito “dura”, são 3 mil candidatos para 12 vagas. Com certeza, centenas de pessoas muito capacitadas e com muito potencial acabam ficando de fora,

porque naquela seleção específica outras pessoas se saíram melhor, mas não quer dizer que aquela pessoa não tenha condições, não possa um dia também passar na seleção. Uma das coisas que elimina o candidato é erro de português.

E como é a interação entre jornalistas e leitores através dos blogs? A minha impressão é que ela é bem próxima. Gosto de conversar com os outros, gosto de trocar ideias. En-

Ana Estela: “não é mais possível fazer o jornalismo sem internet e celular”


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Impressão

Belo Horizonte

Conexões midiáticas

Editor: Rafael Igor Rocha 5º PERÍODO

Como ombudsman, alunos criticam o jornal Com visão crítica, estudantes do quinto período analisam edição anterior do jornal-laboratório O título do Jornal nas cores vermelha e branca é compatível com o próprio site do UNI-BH e as cores que são representativas da instituição. Porém, acho que o título deveria ser mais trabalhado para não destoar muito das principais manchetes. Até pelo fato de o jornal ser de tiragem trimestral, a marca precisa ser tão atrativa quanto à qualidade das notícias. Luiz Alfredo Gaspar

tários que desejam participar da composição do mesmo. Mas o porquê de tantos elogios para uma edição diversificada? A sociedade tem a necessidade de se inteirar sobre o que acontece de principal ao seu redor, é uma necessidade e uma obrigação do ser humano saber o que lhe cerca e quais as conseqüências que sofrem por não saberem disso, eis um ato de curiosidade, também. Ariane Archanjo e Rafael Sandim

O expediente precisa ser refeito, pois ficou muito espaço em branco. Talvez aumentar a letra seja uma forma de melhorar ou, então, refazê-lo de forma que o espaço seja todo ocupado. Bárbara Loureiro A ausência de uma editoria fixa de Política é um ponto que pesa contra o “Impressão”. Um jornal com pouco mais de 25 anos de história tem de pensar em função de seu público e trazer a ele notícias de relevância, para que possa refletir e construir sua opinião acerca dos fatos expostos. Lucas Fernandes Alvarenga A maioria dos títulos capta a atenção do leitor para as matérias. Um título que não chamou nossa atenção foi “Corrupção: políticos não têm mais medo”, pois não achamos criativo, bem elaborado e sem nexo com o bigode. Os subtítulos foram muito bem escolhidos, todos, sem exceção. Completaram as matérias e despertaram ainda mais a curiosidade do leitor. Luiza Vianna e Michelle Lessa A diversificação dos temas faz com que o jornal ganhe tanto em credibilidade, quanto em seguidores e volun-

Os títulos do caderno “Impressão” se encaixaram perfeitamente com os textos elaborados, dando um direcionamento e resumo dos assuntos a serem tratados. As fotos também se encaixaram com as matérias, transparecendo com as imagens a mensagem que o repórter queria passar. Gabriela Araújo

A capa do caderno “DO!S” do jornal “Impressão” mostra duas garotas evidenciando um novo estilo de ser e de se vestir: as “it girls”. A capa chama a atenção por ser uma foto que ocupa toda a página mostrando duas meninas sérias, sendo uma está em pé e a outra agachada. A capa nos faz lembrar de estilos passados, no qual as personalidades e a forma de vestir são sempre as principais formas de chamar a atenção. Karine Figueiredo As 11 editorias e os temas diversificados garantem ao “Impressão” número 179, dinâmica e conteúdo atual. O uso de box e retrancas para separar e retomar os assuntos clareiam as informações que ficam bem distribuídas. Porém, erros de português, principalmente nas divisões das palavras, precisam de uma atenção especial, uma vez que provocam antipatia no leitor. Marina Vieira e Stephanie Zanandrais

Achei boa a escolha das editorias e dos temas. Em geral, os assuntos são atuais, diversificados e bem trabalhados. Gosto bastante das informações complementares, como as que são apresentadas no artigo sobre A nova lei do estágio, na forma de direitos e deveres, e nas sugestões para acabar com a corrupção. Leonardo de Oliveira

A minha critica é em relação à diagramação, que em algumas páginas do jornal deixou a desejar em relação a edições passadas do “Impressão”. Pequenos erros na diagramação do texto e pouco aproveitamento do espaço do jornal em alguns casos tiraram a estética do jornal. Kátia Brito

Os textos são bem escritos e com uma linguagem simples, clara e rápida, o que facilita a leitura e a deixa mais suave, seja qual for a temática. Os textos foram escritos de maneira organizada e inteligente. Isso porque o assunto era muito importante e urgente para ser divulgado ao leitor. É válido ressaltar que as reportagens são bem completas e estruturadas, e suas fontes adequadas.

Essa escolha de privilegiar uma editoria em detrimento das outras não faz sentido, na nossa opinião. Todos os temas, pelo menos teoricamente, merecem o mesmo espaço. É claro que isso dependeria de outros critérios de noticiabilidade específicos. Mas a princípio essa divisão não deveria ser tão desigual.

Maria Luiza Mattar e Thais Paiva

Thaís Casagrande e Luiz Eduardo

Impressão na rede Jornal-laboratório ganha versão online, conectada às redes sociais e com mais conteúdo Letícia Flávia da Silva

A equipe do Mídias Convergentes conta com repórter bagpack (de mochila)

Marina Messias 5° períodO O Jornal Impressão, um mês após completar 27 anos, vai ganhar versão online. O projeto é desenvolvido pelo novo laboratório do Uni-BH: Mídias Convergentes, que iniciou suas atividades este ano, sob a coordenação da professora Lorena Tárcia. O lançamento do Impressão Online tem data prevista para o início de junho. O projeto do portal estava pronto desde 2009, e agora se torna realidade. Inicialmente o site será alimentado pelo Jornal Impressão e a agência de notícias Janela de Ideias do laboratório de Comunicação Integrada. Porém, o objetivo é transformar o Impressão Online em um Portal de Convergência.

Nele estarão concentradas as produções da TV, rádio e jornal do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH). Fábio Bastos, estudante do 7° período de Jornalismo e estagiário do laboratório de Mídias Convergentes, é responsável pela técnica de criação do site, que inclui um gerenciador de conteúdo (ferramenta que facilita a inclusão de textos no portal). Fábio aproveita para colocar em prática o tema de sua monografia: Arquitetura da Informação. Além de Fábio, o laboratório conta com mais um estagiário e dois monitores, que já lidam com a realidade do repórter bagpack (de mochila). O profissional faz a cobertura equipado com notebook, gravador digital e câmera fotográfica,

pronto para produzir conteúdo para todas as mídias. Uma das preocupações da professora Lorena Tárcia é a formação de jornalistas convergentes. Segundo a coordenadora do laboratório de Mídias Convergentes, atualmente, não é possível “escolher” trabalhar para apenas uma mídia. O preconceito entre os veículos não deve existir, uma vez que a tendência é que uma pessoa produza conteúdo para diversos meios. Os textos da versão online serão adaptados para a nova linguagem da Internet. Como ainda não existe um manual sobre o tema, a professora Lorena afirma: “estamos inventando essa linguagem juntos”. O site estará ainda conectado com as redes sociais, entre elas Twitter, You Tube e Facebook.


Impressão

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Belo Horizonte

Especial

Editor: MArcoS MENdES 2º PERÍODO

quando a primeira vez é inesquecível dIvULgAçÅo

áfrica do Sul se prepara desde 2004 para ser a sede da primeira copa da história do continente carolina fonseca fernando Barcelos gabriela Araújo Leonardo ribeiro 5º PERÍODO

No dia 15 de maio de 2004, a África do Sul derrotou Marrocos por 14 a 10, em uma disputa fora de campo, e ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2010.Assim como aconteceu com o Brasil recentemente, a reação inicial dos sul-africanos foi de euforia irrestrita por ter obtido a honra de receber um dos principais eventos que o homem conhece. Passado o êxtase inicial, começaram os traba-

lhos. O projeto apresentado à Federação Internacional de Futebol (FIFA) na candidatura incluía os principais desafios do país na realização do mundial. No entanto, foi somente após a decisão final da entidade maior do futebol que a Copa do continente africano passou de sonho a realidade. A Copa da África do Sul será a primeira a ser realizada no continente africano. Para o presidente da FIFA, Joseph S. Blatter em entrevista ao site da federação, “a Copa do Mundo será um sucesso”. E sobre o legado para a África disse: “O nosso principal foco é o combate à

pobreza, violência, desigualdade social, ao analfabetismo e também à problemática da saúde”. Renee Pinheiro, especialista em marketing esportivo, caracteriza a realização do evento por África do Sul e Brasil como uma oportunidade de crescimento que vai além dos índices econômicos. “Os impactos são vários, principalmente nos estádios e nos setores de transporte e hotelaria. Mas, além disso, há um impacto que poucas pessoas medem que é a elevação da auto-estima do povo por promover um evento dessa magnitude”, comenta.

Soccer City Stadium, palco da abertura e do encerramento da Copa

Pensando no futuro: 2014 Em 30 de outubro de 2007, foi a vez de o Brasil conquistar o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014. No entanto, o gosto pelo futebol, uma das poucas unanimidades do país, fez toda a diferença na conquista. Para o governo brasileiro, essa é a oportunidade de dar um salto no processo de modernização e apresentar capacidade de organização, força econômica para captar investimentos e muitos atrativos, que podem transformar o país em um dos mais importantes destinos turísticos do mundo. Assim como a África do Sul na realização do evento, o Brasil pode tirar boas lições, a fim de evitar que os recursos gerados pela Copa do Mundo se percam em razão de um planejamento mal feito e mal executado. O comentarista esportivo Carlos Cruz destaca que o “jeitinho brasileiro” pode se tornar o maior problema na organização do evento. “Na África, nem tudo ocorre dentro do previsto. Nós precisamos vencer as barreiras culturais, parar de empurrar as coisas com a barriga e achar que, em cima da hora, tudo pode ser resolvido com paliativos”. Carlos cita ainda a questão do estádio Mineirão. “Apresentamos um projeto maravilhoso antes da escolha das sedes. Depois, o projeto foi

modificado e tudo indica que estará restrito apenas às exigências da FIFA”, comenta. A violência é uma das preocupações brasileira, visto que os números nacionais são assustadores. O Brasil ocupa a 83ª posição no Índice de Paz Global (Global Peace Index - GPI), estudo britânico que classifica 121 países de acordo com seu “grau de paz”. Um dos fatores que mais pesou negativamente sobre o Brasil foi o elevado grau de violência urbana. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) levou ao governo o projeto de um documento policial e de procedimentos operacionais para atuação de forças policiais em praças desportivas, a fim de preparar a polícia para o enfrentamento de situações críticas nos estádios brasileiros, já como aprendizado para a Copa. O secretário de Estado de Esportes e da Juventude de Minas Gerais, Alberto Rodrigues, em entrevista por e-mail, diz que a prova incontestável de que o Brasil realmente está pronto para tal desafio é o fato de ter suas pretensões aceitas pela Fifa, que teve o cuidado de analisar detalhadamente o Caderno de Encargos a ela apresentado. “Devemos levar em consideração ainda que técnicos da

Fifa percorreram exaustivamente todos os Estados candidatos a sediar o evento, analisando criteriosamente sua infra-estrutura viária, hoteleira, hospitalar, de alimentação e de segurança pública. Além disso, todos os estádios passaram por seguidas visitas de avaliação”, ressalta Alberto. Ainda segundo o secretário, Belo Horizonte tem totais condições de receber até mesmo a abertura do evento. “O governo do Estado criou o Núcleo e o Comitê de Gestão das Copas (do Mundo e das Confederações), que têm por atribuição monitorar e efetivar as ações decorrentes dos acordos firmados e articular com a Prefeitura de Belo Horizonte, União e sociedade civil a execução de ações conjuntas”, diz. Como a África do Sul e o Brasil têm muitos pontos em comum, é importante que os organizadores de 2014 tenham consciência de que está em jogo não apenas o título de campeão do mundo, mas a oportunidade de o país atrair importantes investimentos para seu desenvolvimento. Então, é preciso aproveitar o evento para construir um legado que ficará para as futuras gerações de brasileiros, que dependem dos sonhos alheios para uma vida melhor.


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Belo Horizonte

Especial

Desafios enfrentados Em seis anos, a África do Sul teve que modificar estruturas internas básicas para ter condições de abrigar o Mundial 2010, pela primeira vez no continente africano divulgação

A felcidade dos africanos no momento em que o país foi escolhido para sediar a Copa Guilherme Loureiro Luiz Martini Renato Gonçalves Thiago Madureira 5º Período

Com melhores condições de infraestrutura que outros países do continente africano, a África do Sul é sede da Copa do Mundo 2010. Mesmo assim, os problemas para organizar o maior torneio

de seleções do mundo afligiram os anfitriões durante todo esse tempo. O combate à corrupção é uma das preocupações para os organizadores do evento. Segundo a Comissão de Serviços Públicos da África do Sul, a construção civil é um dos departamentos que precisa de fiscalização intensa. O caso mais grave de corrupção aconteceu na cidade de Mthatha,

município que irá receber treinos de algumas seleções participantes. A companhia responsável pela construção, Rumdel Construction, afirma ter sido subornada. Segundo o jornal local Daily Dispatch, duas pessoas teriam abordado a companhia exigindo uma propina de 6 milhões de rands (aproximadamente R$ 1,5 milhão) para vencer a concorrência, avaliada no valor de 500 milhões de

África 2010 x Brasil 2014 Presente na Copa das Confederações (2009), espécie de laboratório para a Copa, o jornalista e colunista do jornal O Tempo, Chico Maia, compara a criminalidade nas próximas sedes da Copa. “A violência é maior que no Brasil, e isso gera um clima de insegurança em todas as cidades. O comércio fecha as portas às 18 horas, e a noite é como se houvesse um ‘toque de recolher’, já que predominam seguranças fortemente armados nas portas dos poucos restaurantes que abrem

e das casas em bairros melhores”, afirma. Em outro paralelo entre Brasil e África do Sul, os gastos do país africano chegam a quase 33 bilhões de rands, cerca de R$ 8 bilhões, valor informado pela porta-voz do Tesouro Nacional sul-africano, Thoraya Pandy à Folha Online. “Esse valor inclui infraestrutura, estádios, comunicação, segurança e desenvolvimento esportivo”, explica. Já no Brasil, segundo dados da CBF, os gastos devem ser de R$ 11 bilhões.

Em contrapartida, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão estima um total de R$ 17, 5 bilhões gastos com a organização da Copa no Brasil em 2014. Sobre o comparativo de gastos entre a Copa na África e o que se pretende gastar no Brasil, o temor de Chico é referente aos gastos excessivos do governo federal. “Gastar acima do normal é costume dos governantes brasileiros que aproveitam oportunidades como essa para ganhar dinheiro”, completa.

rands (R$ 125 milhões). Para o economista do Conselho Regional de Minas Gerais, Wilson Siqueira, há uma forma de combater os subornos, desvios de verba e o superfaturamento na realização de uma Copa. “Se quiser fazer uma Copa sem corrupção é possível, envolvendo o Ministério Público e sociedade civil como fiscalizadora da aplicação do dinheiro investido. Também é preciso a apresentação de um plano de custos com todos os valores envolvidos”, afirma. A construção civil sul-africana enfrenta problemas também no atraso das obras. “Podemos dizer que existe uma remota possibilidade da Copa começar e algumas arenas ainda não estarem concluídas. Existem problemas em dois estádios. No Soccer City, falta terminar as obras na parte externa. No de Nelspruit, o gramado está sendo refeito. Mas acredito que até o dia da abertura tudo estará pronto” relata o enviado especial à África do Sul do jornal Folha de S. Paulo, Fábio Zanini, por e-mail. Testemunha ocular de toda transformação vivida no país dos Bafana, Bafana, Fábio demonstra preocupação com uma questão primordial para a qualidade do evento: o transporte. “O trânsito é caótico, e agora é mais ainda por conta das inúmeras obras viárias. Acabo de chegar do aeroporto e, no caminho para o centro,

peguei quatro engarrafamentos, em pleno sábado de manhã!”. Além de serem caóticas, as vias sulafricanas são perigosas. Foi criada, no mês de março e se estenderá até o final da Copa, uma campanha para conscientizar os turistas e os próprios sul-africanos sobre os riscos das vias de trânsito. A proximidade com o início do mundial traz um velho problema à tona: o desemprego. Segundo uma das principais associações de trabalhadores da África do Sul, a União Nacional dos Mineradores existem mais de 60 mil operários envolvidos em projetos relacionados ao mundial. E desses, pelo menos 60% devem ficar desempregados ao final de seus contratos. A criminalidade é o item mais focado por parte da imprensa. Uma pesquisa realizada um ano após a escolha da África do Sul para sediar o mundial (2005), feita pela AS Tourism, órgão oficial do governo sul-africano, mostra que mais de 22 milhões de estrangeiros tinham medo de visitar o país devido ao alto índice de violência. A pesquisa foi mantida em segredo, mas recentemente a informação foi repassada aos meios de comunicação. O curioso é que, aproveitando dados tão alarmantes, uma empresa britânica lançou um colete à prova de facadas com a bandeira inglesa no centro para vendê-la aos torcedores mais temerosos.

A agência de notícias Lancepress publicou um artigo de uma revista islâmica com um suposto plano terrorista do grupo Al Qaeda. A ameaça visa alguns atentados durante a Copa, principalmente contra as seleções inglesa, norte-americana, italiana, alemã e francesa, países acusados de fazerem parte de uma “cruzada” contra o islamismo. “Seria incrível se, em um jogo entre Estados Unidos e Inglaterra, durante a transmissão ao vivo com o estádio cheio de torcedores, o som de uma explosão estourasse nas arquibancadas, com tudo virando de cabeça para baixo e o número de corpos chegando a dezenas, centenas, se Alá quiser”, é o que diz o pronunciamento da Al Qaeda publicado na edição da revista Mustaqun Lel Jannah (“Esperando Pelo Paraíso”). No entanto, de acordo com a Interpol, os turistas podem ficar aliviados com a segurança. Segundo a polícia internacional, o país está preparado para evitar qualquer problema com o terrorismo. O efetivo policial destinado à Copa é o maior da história Africana. Ao todo serão 41 mil policiais. A estimativa é que o mundial da África do Sul receba cerca de 430 mil visitantes estrangeiros. A receita esperada para o turismo é de U$ 1,5 bilhões durante o evento, incluindo gastos de estrangeiros, e patrocinadores. reprodução

O Brasil já se organiza para a Copa de 2014 de olho no evento da África do Sul


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Editor: MArcoS MENdES 2º PERÍODO

em uma Copa inédita InFogrAFIA:IsABELLA BArroso ILUstrAção: LEonArdo LÔBo


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Editor: MArcoS MENdES 2º PERÍODO

Ao persistirem os sintomas, reveja os seus conceitos Avareza: carência excessiva e insaciável acompanhada de uma vontade de querer sempre mais Marcos Mendes 2º PERÍODO

Para os religiosos, ela nos faz ultrapassar os limites das nossas verdadeiras necessidades, uma ganância sem fim. Do ponto de vista psicanalítico, a relação do sujeito e o dinheiro sempre foi associado à fase anal, que é a segunda fase pré-genital da sexualidade infantil (situada entre 2 e 4 anos, aproximadamente). É quando a criança aprende o controle de esfíncteres, ela experimenta esse jogo de controle: reter e expulsar. Psicanalistas atribuem a avareza, a exagerada preocupação com limpeza e a meticulosidade no adulto às frustrações ocorridas nessa fase. São personalidades com fixação na fase anal. Para entender melhor esse “pecado”, é preciso saber que ele não está apenas na ganância pelo dinheiro e

pelo poder. “Nossa avareza também está na comida, no sexo, nas drogas e no álcool”, escreveu a psicanalista norte americana, Sue Grand, em seu livro The reproduction of evil: A clinical and cultural perspective (A reprodução do mal: Uma perspectiva clínica e cultural) publicado em 2000 pela editora norte-americana RBP. A psicóloga clínica Adriana Castro afirma que o significado geral da avareza é a retenção. O desejo do avarento está em possuir e acumular. “A primeira imagem que me vem é de uma pessoa ranzinza, de mal com a vida. Isso por que, o avarento, não conhece a linguagem do desejo, ele é regido, pela necessidade. Ele não usa o dinheiro para viabilizar seus desejos, como deve ser. A possessividade é um traço forte, querer controlar tudo, persecutório, desconfia de

tudo, acha que todos querem roubar algo dele. Não é só o dinheiro que o avarento retém, é tudo, até sua afetividade.” A ambição é uma questão atemporal e inerente ao ser humano. O que vemos é um consumismo desenfreado, o imediatismo das pessoas, querer a satisfação a todo preço, não suportar a falta. “O dinheiro se tornou um tema mais central que o sexo”, diz Adriana, “ele é a causa de muitos transtornos emocionais. A forma como o sujeito relaciona com o dinheiro nunca é desvinculada da subjetividade, que é sempre inédita e particular. A avareza e o perdularismo têm sua origem nas primeiras vivências emocionais. Acho interessante pensar em como o psicanalista alemão Erich Fromm, define a avareza: “Buraco sem fundo, que exaure a pessoa num esforço

infinito, para satisfazer uma necessidade, sem nunca atingir o estado de satisfação”. crianças A infância humana é cheia de vontades e dependência, as necessidades são sempre urgentes e o mundo é visto como um lugar que vai gratificar ou privar de algo. Geralmente, as crianças que são privadas de limites sentem um intenso desejo por algo mais. Em vez de reconhecer isso como um problema, a família desvia a atenção para essas necessidades emocionais e acaba enfatizando a aquisição material, o poder, o status e o dinheiro como um substituto para esse sentimento de carência. Sobre as crianças, Adriana Castro atribui caráter egocêntrico. “Ela ainda não compreende que faz parte de uma sociedade. Imagina que o mundo gira em

Faces da avareza na literatura A avareza ultrapassou os limites da realidade e chegou até a ficção. Autores de obras clássicas deixaram marcados em personagens memoráveis tal característica. E possibilitou que o tema pautasse discussões e despertasse a necessidade de se pensar cada vez menos em nós mesmos e ainda mais em nossa contribuição para o quadro social. Lembrando algumas dessas obras, a primeira referência pode ser Um Conto de Natal, de Charles Dickens, que apresenta Ebenezer Scrooge, um homem rico e avarento que não gos-

ta de Natal. Na noite natalina, ele se depara com o fantasma de Jacob Marley, seu sócio, morto há sete anos. Essa visita e a dos fantasmas do passado, do presente e do futuro mudam o destino de Scrooge. A tragédia do dramaturgo inglês William Shakespeare, MacBeth, retrata o assassinato do monarca pela conquista do trono e a eliminação de todos que possam atrapalhar seu caminho. A ambição pelo poder transforma e consome sua vida de forma avassaladora. Dante Alighieri, em sua obra clássica Divina

Comédia, reserva o quarto circulo do inferno aos avarentos e aos pródigos. Como castigo, suas fortunas se transformaram em pesos nos quais pródigos e avarentos ficam de lados opostos empurrando um contra o outro por toda a eternidade. Na literatura brasileira, o paraibano Ariano Suassuna critica a avareza em O Santo e a Porca, na voz da personagem Euricão Árabe, devoto de Santo Antônio e que esconde em sua casa uma porca cheia de dinheiro. Durante o enredo de Suassuna, ele se questio-

na o tempo todo sobre o que seria mais importante para ele: o dinheiro ou santo. Euricão está sempre com medo de alguém roubar suas economias e desconfia de todos. O autor inaugural da estética naturalista, Aluísio Azevedo, em O Cortiço, narra, dentre outras, a história de João Romão, português, bronco e avarento que compra algumas braças de terra, com o dinheiro de Bertoleza, e alarga sua propriedade com o passar do tempo, construindo um vasto e movimentado cortiço.

torno de si, tomando o eu como referência para todas as relações e fatos. À medida que ela vai se desenvolvendo, começa a se relacionar com o mundo (família, escola, amigos), começa a ver o outro. Se ela manifesta atitudes de não dividir nada, por exemplo, é importante tentar perceber o que está por traz disso, o que está latente. Isso aponta para uma falta. Pode ser falta de afeto, atenção ou limite. O não é estruturante do sujeito. A criança precisa ouvir o não. Se ela cresce sem esse limite, essa atenção pode se tornar um adulto avarento.” A avareza acentua ainda mais o que chamamos de ambição desenfreada. E o efeito disso tem se alastrado em nosso meio social como uma cobiça generalizada sem a partilha da sobra do que é abundante. O consumista também não atinge o estado de

satisfação. Não para de comprar para ter cada vez mais. Para a psicóloga, o ter do avarento não é o ter do consumista. “O avarento não gasta, ele acumula. O consumista quer gastar, se esvaziar. Penso que o que está por traz disso seja uma grande dificuldade de lidar com a falta, com a frustração de não poder tudo”. E conclui: “o avarento tem sofrimento psíquico e precisa falar disso. Como cada subjetividade é única, só em um trabalho terapêutico analítico o sujeito vai poder construir respostas à isso. Para cada sujeito a avareza tem um significado, por estar vinculada a história de vida da cada um. O tratamento seria buscar o que está latente, investigar as razões conscientes e inconscientes desse comportamento. Refletir, questionar. Acredito no processo da psicanálise.” MArcos MEndEs

Para Adriana castro, “o não é estruturante do sujeito”


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Bruna Isabela, Lorena Lage, Marlon Neves, Patrícia Medeiros, Paula Loureiro, Priscila Alcântara, Thaís Rezende, Thiago Barros 6º período Mariana Medrano - 7 º Período

Bendita ou maldita gula? Comer em demasia, por prazer ou ansiedade, é uma das causas de transtornos alimentares Arquivo Pessoal

O chef Clayton Krichinak confessa que, às vezes, também peca pelo exagero Editora: Mariana Medrano 7º período Que atire a primeira pedra aquele que nunca sentiu uma vontade incontrolável de continuar a comer as mais diversas iguarias mesmo depois de

já ter saciado a fome. Seja por ansiedade, prazer ou até mesmo estresse o pecado da gula não é restrito somente àqueles que estão acima do peso: homens e mulheres de qualquer tipo físico estão sujeitos aos perigos do excesso. “Não é preciso ser gordinho

para ser guloso, mesmo as pessoas magras podem sofrer desse mal”, observa a nutricionista Isabela Vorcaro que atende todos os dias pessoas de diversos tipos físicos em uma academia de ginástica em Belo Horizonte. O chef Clayton Krichinak confessa INFOGRAFIA:ISABELLA BARROSO

Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)

Fig.1

Malefício da obesidade Além de uma vida mais sedentária, sobrecarregada por problemas ligados ao físico, o excesso de gordura corporal desencadeia diversas outras doenças, e entre tantas a mais comum é a diabetes. A dona-de-casa Maria Helena de Oliveira, 42 anos, confessa que ficou diabética por causa do excesso de peso. “Não sabia que a obesidade podia desencadear outras doenças e, por isso, não me tratei mais cedo”, diz. Considerada como

pandemia do século pela Federação Internacional de Diabetes, a doença representa um alto índice de mortes no mundo, além de ter alto custo social e financeiro. “Descobri que tinha diabetes aos 40 anos e a doença já estava em estágio avançado. Hoje, preciso injetar insulina todos os dias”, conta o aposentado Antônio Alcântara. Ele diz que tem casos da doença em toda sua família e perdeu um primo há quatro meses por causa do mal.

A diabetes tipo II, que é causada pricipalmente pela obesidade, chega a ser de oito a dez vezes mais comum que o tipo I, causado pela destruição, por engano, das células produtoras de insulina. Segundo dados do Ministério da Saúde, em todo o mundo são 246 milhões de pessoas com a doença, e a previsão é de que em 2025 sejam 380 milhões. No Brasil, os diabéticos chegam a 12 milhões, sendo a população acima dos 65 anos a mais afetada.

que também comete o pecado. “Isso acontece com todo mundo”, diz. Entretanto, ele conta que como método para controlar sua ansiedade pensa se realmente precisa comer naquele momento. “Eu coloco certos limites: doces e refrigerantes somente uma vez por semana e como uma fruta em vez de um sanduíche na hora do lanche”, completa. Clayton também faz uma relação de quais são as guloseimas mais comumente consumidas mesmo quando a pessoa já está satisfeita. “Podemos dividir esses alimentos em grupos: lanches rápidos como biscoitos, salgados fritos; os que nos chamam a atenção pela aparência, como aquela bela tortinha de morango na vitrine da padaria, e por último os clássicos da gula que comemos pelo prazer: chocolate, sorvete, milk shakes”. Mas existe uma justificativa para essa atitude de comer apenas “besteiras”, conta o nutricionista Guilherme Discaciati. “Pesquisas comprovam que cer-

tos alimentos liberam substâncias capazes de enganar nosso cérebro, que passa a achar que precisamos comer mais”, esclarece. Já Vorcaro explica que temos um mecanismo de saciedade, que ao ser rompido dá início ao transtorno do comer compulsivo. O risco do pecado Alimentos ingeridos de forma desregulada podem ocasionar o chamado transtorno alimentar que, segundo a psicóloga Bruna Soares, é identificado em pessoas que a todo momento sentem necessidade de comer. “A gula, quando ocorrida entre períodos com grande espaço de tempo não deve ser considerada uma manifestação de mal estar, pois não é um sintoma persistente. Já o transtorno alimentar é algo que acontece sempre e que pode acarretar graves comprometimentos, como a bulimia, a obesidade e a anorexia”. O tratamento para essas doenças é amplo, esclarece Isabela Vorcaro, iniciando-se com o acompanhamento nutricional que fará um trabalho

de reeducação alimentar. Já o tratamento psicanalítico consiste em consultas que têm como principal ferramenta a fala. “É a partir dela que vamos encontrar a causa dessa compulsão”, relata a psicóloga. A desregularidade na hora de se alimentar é o verdadeiro vilão da história. Krichinak esclarece que quase todo alimento pode ser considerado saudável, dependendo da maneira e da quantidade que é ingerido. Ele ressalta que “uma barrinha de chocolate, por exemplo, é uma ótima escolha para ser consumida antes de uma sessão de exercícios físicos. Além disso, o mercado atual está cheio de opções bastante palatáveis e que contém menos calorias e gorduras.” E ainda dá a dica: “procurando dá para encontrar várias opções de biscoitos ricos em fibra, bebidas à base de soja com adição de cálcio, sobremesas geladas feitas sem leite – o que elimina a lactose – e até sanduíches de redes de fastfood feitos com pão integral e frango grelhado”.

Reduzindo o descontrole A ingestão de guloseimas além da conta provoca algo que está longe de ser motivo de prazer: a obesidade. Vista como um grande problema da sociedade atual, a doença já é considerada epidemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com dados da Associação Brasileira de Estudos Sobre a Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), cerca de 20 milhões de brasileiros são obesos. Como medida para solucionar o problema, a ciência vem fazendo estudos e praticando diversos tipos de cirurgias, a maioria podem ser feitas sem cortes, com pequenos furos entre 5 e 10 milímetros que utilizam óptica, monitores e instrumentos semelhantes

a varetas finas. A vantagem desses métodos é evitar o trauma do acesso aos órgãos abdominais. (Fig.1) A nutricionista Isabela Vorcaro explica que a obesidade mórbida é uma doença grave por ter como origem vários desequilíbrios do organismo, e até mesmo a própria gula. Pela Lei Distrital 3453/2004 as pessoas com obesidade mórbida, que correm risco de morte, têm direito a cirurgia de redução de estômago gratuita, realizada pelo Sistema único de Saúde (SUS). Porém, a aposentada Maria da Luz Moreira, 57 anos, conta que não pode esperar mais pelo atendimento público: “Tive que juntar minha aposentadoria e meus filhos também me ajudaram a pagar”.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o pós-operatório é muito importante para o paciente, já que é nesse período que a dieta deve ser adotada e seguida rigorosamente. Mínimas quantidades de alimento, várias vezes ao dia, são suficientes para saciar o paciente, já que o estômago se torna bastante reduzido. Para quem ainda não teve a oportunidade de realizar a cirurgia, a nutricionista alerta para o perigo das dietas caseiras e da automedicação: “Obesos também ficam desnutridos, mesmo com a quantidade excessiva de gordura. A dieta deve ser balanceada e feita por um médico”. INFOGRAFIA:ISABELLA BARROSO


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edItora: MarIana Medrano 7º PERÍODO

não cobiçarás o que for do próximo

ArqUIvo PEssoAL

Presente no trabalho e nas relações pessoais, a inveja envolve disputa de poder e riqueza, e tem lugar de destaque em obras de ficção Kelly cristina de Aquino Mariana Medrano 7º PERÍODO

Ela é um dos temas mais abordados por autores e escritores, seja no cinema, na literatura ou nas telenovelas. O que é tratado nos dias atuais como comédia ou um simples drama ficcional é visto pela Igreja Católica como um grave pecado, em que a sentença é a condenação da alma ao purgatório após a morte. No entanto, com o passar do tempo a inveja tomou novas formas de interpretação. Hoje, ela é adaptada aos enredos como um modo de iniciativa ou ambição na vida amorosa ou profissional, entre outras situações. Na verdade, essas são maneiras mais leves de enxergar o que para a psicologia, em alguns casos, é tido como uma patologia. Para a psicóloga Sabrina Montarroios, a inveja é um sentimento negativo que tem como origem

a baixa auto-estima, e pode existir em diversos graus, tornando-se distúrbio quando é exagerada. Sabrina explica que “o invejoso não vive sem observar o comportamento do outro, procura falhas e não tem escrúpulos. Não consegue lidar com a felicidade alheia”. Segundo matéria publicada no site da revista Língua Portuguesa (www. revistalingua.uol.com.br) a origem etimológica da palavra inveja é o substantivo latino invídia, que significa “má vontade”, “ódio” e “antipatia”. A economista Marilia Leão acredita que já sofreu com o popular “mau olhado”. Ao ser aprovada em um concurso público, ela conta que algumas pessoas do seu círculo social desvalorizaram seu desempenho no teste. “Muita gente começou a argumentar que era um processo fácil e só por isso consegui conquistar a vaga”, critica. Para se prevenir, a estudante de

Recursos Humanos Kamila Gonzales Ferras diz ser cautelosa ao lidar com os invejosos. “Tudo que vem deles é perigoso, por isso mantenho distância.” O estudante de publicidade, Nelson Gonçalves Filho admite que já sentiu inveja de outras pessoas e acha que é normal que todos tenham um pouco desse sentimento “Quem disser que não, está sendo omisso. Há quem deixe tal sentimento bem explícito, chegando a ser vergonhoso”, pontua. Nesses casos, o estudante ressalta que a presença desse sentimento não faz bem para ele, já que “uma pessoa invejosa é aquela que não quer ver você bem e só enxerga as atitudes pelo lado negativo”. Sabrina Montarroios completa, esclarecendo que as pessoas invejosas são inseguras e se fazem de vítima, acreditando que não são capazes de se desenvolver pessoalmente e profissionalmente.

os olhares que desejam Buscar destaque é um exercício diário praticado por milhões de pessoas ao redor do mundo. O meio profissional é uma das áreas que mais concentra esforços de quem quer se manter em evidência. Para a doutora em Administração de Recursos Humanos, Patrícia Amélia Tomei, a inveja é um sentimento que pode influenciar radicalmente no desempenho e na efetividade de um grupo. A modelo Jordana Karen tem 17 anos e sabe bem o que é a concorrência profissional. Mesmo quando criança já planejava seguir a tão sonhada carreira de modelo. Porém, ela reconhece que por trás das passarelas existe uma vida que exige muito trabalho para se conservar entre as melhores. Jordana conta que “todas querem sempre estar no topo, e pelo fato de ser uma profissão muito concorrida há também muita inveja.

Mas isso vai de cada uma, afinal, temos que acreditar em nós mesmos”. Patrícia Amélia, ainda ressalta que a alta competitividade e o crescimento profissional são focos dos invejosos insatisfeitos com a própria colocação. “Essas pessoas ficam de olho no sucesso dos outros e na facilidade que elas têm de se comunicarem. Assim, o prejuízo recai sobre elas próprias que não conseguem se desenvolver em suas atividades”, explica. Atitudes como essa estiveram presentes na vida da modelo, e não somente vindas de rivais ou concorrentes. “Quando viajei para Milão a trabalho senti que muitas pessoas se comportaram de maneira invejosa, e um pouco disso surgiu até mesmo das mais próximas”, admite. Existe quem julgue normal a inveja que ronda a vida das modelos e celebridades em geral.

No senso comum, quem está sempre exposto deve se acostumar com esse sentimento vindo de milhares de pessoas. Entretanto, Jordana pensa diferente e assegura que não devemos comparar ninguém. “Cada um tem seu jeito, seu estilo, seu rosto. Se um trabalho tiver que ser seu, ele será. Não podemos ter inveja, tudo tem seu tempo”, conclui.

Para a modelo Jordana, no mundo da moda a inveja é fruto da concorrência

É a arte imitando a vida Muita gente já ouviu do vizinho alguma história que aconteceu com o melhor amigo do primo que namora a cunhada do irmão do tio dele. Geralmente, os relatos mais surpreendentes são os que envolvem os sete pecados capitais. Pesquisas revelam que a luxúria e a inveja são os pecados mais presentes nas telenovelas. E quem, geralmente, leva o título de invejoso é o vilão que sempre deseja tudo o que o (a) mocinho (a) possui. Exemplos não faltam. Recentemente, a indiana Surya, personagem de Cléo Pires na novela “Caminhos das Índias” da Rede Globo, era a megera da vez. Invejava a cunhada Maya (Juliana Paes) que deu à luz o tão sonhado filho homem, culturalmente o mais esperado pelas famílias na Índia.

A própria emissora já produziu uma enredo que tinha os pecados como objeto principal. Intitulada “Sete Pecados” a novela atribuía à vilã Ágatha (Claudia Raia) os mais vis sentimentos de inveja. Outra telenovela que trouxe à tona o pecado foi “A Favorita”, também da Rede Globo. Na trama a personagem Flora, interpretada por Patrícia Pilar, se empenha, durante todos os capítulos, em tirar tudo que pertence à sua rival Donatela (Cláudia Raia). O caso é bem parecido com o relatado pela secretária Beatriz Corleone, em que a inveja foi a protagonista, só que desta vez na vida real. “Uma conhecida minha, que é bem sucedida em todos os aspectos, resolveu dar uma ajuda a uma prima que morava no interior. Em apenas um ano essa prima roubou dela o marido, o emprego, a casa e tudo que ela tinha. A justificativa dela foi a de que desde a infância teve inveja da prima, pois ela sempre conseguia o que queria.” Em outras tramas Não são somente as telenovelas que gostam de explorar o tema. Literatura, cinema e teatro também se apropriam do sentimento e constroem roteiros que,

em muitas vezes, são eternizados. É o caso de um dos clássicos de William Shakespeare, Otello. Escrita por volta de 1603 a peça retrata a fraqueza humana representada pela inveja de Iago, uma das personagens. Não suportando ver a felicidade e o sucesso do amigo, Iago faz com que Otelo acredite não possuir qualidades para se manter ao lado de Desdêmona, uma mulher jovem e bonita. Otelo, por sua vez, é fraco e acaba por matar a dama injustamente. Ainda na infância, por meio das inesquecíveis histórias de Walt Disney, as crianças são apresentadas ao universo do desejo ao bem alheio. Branca de Neve é alvo do sentimento negativo da tão malvada e convencida rainha. Essa, que não admitia existir alguém mais bela no mundo, manda matar a enteada e arrancar-lhe o coração quando o seu espelho proclama a seguinte frase sobre a jovem: “Em todo o mundo, minha querida rainha, não existe beleza maior”. Outra personagem dos contos infantis também sofreu com o ciúme da madrasta e a inveja das irmãs adotivas. Cinderela, ou Gata Borralheira, era humilhada pelas parentes postiças, que sofriam por não terem a beleza e simpatia da menina.


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Editora: Mariana Medrano 7º PERÍODO

A “ira nossa” de cada dia ARQUIVO PESSOAL

O advogado Ricardo Inácio diz que já presenciou várias discussões no trânsito Fernando Paulino Júlia Graciele Mônica Santos 6º período

Mariana Medrano 7º período

Agressividade exa-

gerada; descontrole emocional; raiva que causa rancor e angústias. Esses sentimentos são reconhecidos pela religião como um dos sete pecados capitais: a Ira. Pode-se dizer que muitas pessoas, se não a maioria delas, já foram

acometidas em algum momento por esse sentimento que provoca emoções intensas, levando o ser humano a praticar ações irracionais. As consequências dessas manifestações, algumas vezes, podem ser trá-

Problemas pessoais, acrescidos de um estilo de vida conturbado, ajudam a provocar esse sentimento, frequente na sociedade moderna gicas. A reportagem esteve no presídio Antônio Dutra Ladeira e conversou com dois presidiários, sob escolta dos agentes penitenciarios e a presença de psicólogas. Os detentos, movidos pela raiva, agiram contra a lei, como é o caso do presidiário Vinius Julião de Souza, 56 anos. Ele conta que quando trabalhava em um frigorífico, envolveu-se em uma discussão com outro funcionário do estabelecimento. Após ser ameaçado de morte pegou uma arma e foi atrás do rapaz. “Encontrei-o a caminho do ponto de ônibus, então perguntei para ele se ia mesmo me matar. Ele se virou e levou a mão para pegar algo dentro da bolsa. Nesse momento não tive dúvidas, logo mirei e atirei”, relata Vinius. Motivações Seja algumas vezes repentina e outras meticulosamente planejada, a violência causada pela ira pode ser cometida por uma série de motivos, mas para a coorde-

nadora da Pastoral Carcerária do presídio do Palmital, Maria Constantina, uma das explicações é a falta de estrutura familiar e da religião. Segundo ela, “a pessoa tem

“A violência causada pela ira pode ser falta de estrutura familiar e religião” Maria Constantina

que ter fé em Deus, tem que se apegar em alguma coisa”. Acostumada a conviver com pessoas que chegaram ao extremo nas suas manifestações de raiva, uma funcionária da carceragem feminina da penitenciária Dutra Ladeira, que pediu para não ser identificada,

Será a ira uma doença? Com os avanços da vida moderna, chegam também os problemas relacionados a ela. Doenças cardíacas, obesidade, diabetes, tabagismo e etilismo: as chamadas doenças da modernidade têm afetado grande parte da população. Todas essas enfermidades estão ligadas a certos descontroles ocasionados, na maioria das vezes, por compulsão e ansiedade. O stress é identificado como um mal que desencadeia a maioria dessas doenças,

pois leva o indivíduo a viver de maneira mais sedentária e sob condições de alta irritabilidade. O trânsito é um dos locais em que mais ocorrem demonstrações do stress diário. Em maio de 2007, um motorista de caminhão foi morto após uma briga em Belo Horizonte. A vítima, de 47 anos, foi baleada na cabeça após discutir com outro caminhoneiro. Especialistas em trânsito dizem que a relação do brasileiro

com o carro tem a ver com status e poder. Dominar o veículo, as ruas, impedir ultrapassagens são formas de exibição. Da combinação de problemas em casa e no trabalho com um trânsito caótico pode nascer a violência. Nesses momentos, em que ocorrem situações de contrariedade ou provocação, é difícil achar alguém que não seja invadido por uma intensa sensação de fúria. No entanto, a psicóloga

acredita que a justificativa de a pessoa não estar em seu juízo perfeito ao cometer os crimes não faz parte da realidade da maioria dos presos. Para ela, somente uma pequena parte das pessoas que ali cumprem pena cometeu crimes por ataques de raiva. A funcionária informa que grande parte dos presos tinha consciência do que estava fazendo no momento do crime. “A maioria age friamente”, considera. O ciúme é outro elemento apontando como desencadeador da ira. O também presidiário Carlos Antônio de Souza justifica a violência cometida contra a esposa como uma atitude impensada. O homem, que já desconfiava estar sendo traído, conta que no momento em que ouviu da companheira a confirmação de sua suspeita, ainda recebeu um tapa no rosto. Assim, Carlos reagiu atacando a esposa com facadas. “Fiquei cego no momento, ela nunca tinha batido em mim”, alega. MARIANA MEDRANO

O tumultuado trânsito de BH no final do dia é causa frequente de stress Juliana Duci Barbosa esclarece: “quando estamos no auge da ira e temos vontade de matar alguém, e não o fazemos, estamos apenas externalizando a nossa raiva. Se pensamos em fazer e consumamos o ato, ele passa a ser patológico”. O advogado Ricardo Inácio de Oliveira, que também dirige no trânsito, por vezes caótico, da capital mineira, acredita que mesmo acometidas pelo stress, muitas brigas e discussões poderiam ser facilmente evitadas se as pessoas fossem mais educadas. “É muito comum ver carros parados em cima da faixa de pedes-

tre, motociclistas ‘cortando’ caminho por cima da calçada, taxistas que sempre estão com a mão na buzina antes do sinal abrir e os próprios pedestres, que não obedecem a sinalização para atravessar ruas e avenidas”, analisa Ricardo. Segundo a psicóloga, existe um problema cultural em nossa sociedade que estimula o sentimento da ira. “Mãe e pai ensinam o que é certo e o que é errado e, muitas vezes, tendem a validar a autodefesa como justificativa para a agressividade exagerada dos filhos”, explica. Ricardo ressalta

que a melhor maneira para evitar confusões, como a que ocasionou a morte do caminhoneiro, é respeitar o direito do outro. Para isso é necessário que haja conscientização através de “propagandas que dialoguem diretamente com o condutor imprudente mostrando que o que ele está fazendo representa um ato extremamente vergonhoso e o aperfeiçoamento do curso ministrado pelas autoescolas, não focando somente no veículo em si, mas também no lado humano”. O advogado ainda assegura que nunca se envolveu em brigas de trânsito, mas já trocou ofensas.


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EDITORA: FERNANDA TOUSSAINT 7º PERÍODO

O poder que a luxúria tem Para psicoterapeuta, excesso de desejo sexual é problema quando se torna compulsão Bruno Frade Gustavo Monteiro Kelly Batista Thaís Oliveira 6º período A luxúria é a incitação egoística do desejo através das práticas de prostituição, sodomia, pornografia, incesto, masturbação, pedofilia e zoofilia. Definida pelos livros como libertinagem, lascívia, sensualidade, desejo carnal ou compulsão por sexo, muitos compreendem a luxúria como uma espécie de embriaguez do corpo causada pelas sensações. Mas a pergunta é: quem nunca caiu em tentação? Uma das características desse pecado é a busca pelo prazer sexual. A vendedora Luana*, 22 anos , e o instrutor de academia, Pedro*, 25 anos, trabalham juntos como profissionais do sexo. Antes faziam programas separados e em segredo, mas, ao confidenciarem

esse prazer descobriram que unidos lucrariam mais. “Fazemos programas principalmente por dinheiro, mas é claro que também sentimos prazer. A cada programa feito é uma nova descoberta”, afirma Luana.

“Cerca de 30% do lucro da minha locadora provém do aluguel de filmes eróticos”. Valquíria Costa Para o eletricista I.N.O*, 30 anos, casado e freqüentador de prostíbulos desde os 18 anos, a relação com prostitutas é estritamente carnal. Ele afirma ser apaixonado por sexo e pratica o ato com prostitutas ao menos duas vezes por semana. Apesar da avidez sexual ele preserva também a relação com a esposa. “Vou à zona porque desejo coisas dife-

rentes, mas adoro sexo com minha mulher”, diz. De acordo com o psicoterapeuta sexual Oswaldo M. Rodrigues Júnior, o excesso do desejo sexual não é problema. Configurase uma patologia quando se torna compulsão. “A diferença maior é exatamente a falta de controle sobre o comportamento, o que produzirá problemas sociais, de trabalho e familiares”, explica. Segundo Rodrigues, as três formas mais comuns da expressão sexual compulsiva são a busca excessiva pelo coito, o vício pela masturbação e o uso da internet com finalidades sexuais. A psicanalista Ieda Goulart evidencia o individualismo da sociedade contemporânea e a busca incessante pelo prazer. “É urgente ter mais, amar mais, desejar mais, gozar mais. Pensar na luxúria enquanto excesso é localizá-la na cena do discurso contemporâneo que propõe um remédio para a falta”.

Bruna Cris

Dançarina demonstra pole dance, que em português significa dança no mastro

As crenças diante do sexo O lucro vindo do prazer nais, mas também para proporcionar intimidade física e de amor. “O ato sexual é algo muito significativo e, se mal administrado, seus efeitos podem ser devastadores, uma vez que as intenções e os desejos sexuais podem viciar”, alerta. O deus hinduísta Krishna disse aos fiéis: “A luxúria, nascida dentre a paixão, se transforma em

Fernanda Toussaint

Ao contrário do que muitos pensam, os cristãos não condenam o sexo. Creem que Deus os criou não apenas para a reprodução, mas para que representassem uma prazerosa e apaixonada manifestação de amor. O escritor Duncan Moore concorda. Para ele, Deus não criou o sexo apenas para os prazeres car-

ira quando insatisfeita. A luxúria é insaciável e é um grande demônio. Conheça-a como o inimigo.” Segundo a mitologia judaica, o demônio seria Asmodeus, regente do sexo e da Luxúria, considerado um dos cinco príncipes do inferno abaixo de Lúcifer. Na Bíblia este demônio aparece em Tobias, e seria o responsável por unir ou desunir casais. DIVULGAÇÅO

Nos últimos 5 anos, BH teve um aumento das vendas de produtos eróticos

Pin-ups: Mulheres das décadas de 40 e 50 que levavam os homens ao delírio

A luxúria também se estendeu ao varejo. O comércio de artigos pornográficos como vídeos, fantasias eróticas, pomadas, géis comestíveis e óleos para massagem podem ser uma boa alternativa para quem deseja apimentar a relação. De acordo com a vendedora de uma sex shop em Belo Horizonte, o público feminino representa 80% dos seus fregueses, sendo que os outros 20% são do público masculino e homossexual. Themistocles Duarte e Flávia Cortivo, casados a 1 ano

e meio, contam que fazem o uso de vários produtos vendidos nos sex shop. “Os artigos que mais consumimos são bolinhas aromatizadas, óleos para massagem, fantasias e preservativos texturizados.” Eles acrescentam que é uma ótima alternativa para os casais sairem da rotina. Segundo a proprietária de locadora de vídeos Valquíria Costa, cerca de 30% do lucro do estabelecimento provém de filmes eróticos. O custo das películas sai pela metade do preço em comparação aos títulos convencio-

nais, o que garante um ganho maior para a empresária. O perfil dos consumidores são geralmente homens casados acima dos 40 anos. Valquíria comenta que “os títulos são escolhidos pela capa, não importando se são lançamentos ou se já foram assistidos”. Wesley Ribeiro Herculano, também dono de uma sex shop, ressalta a importância da habilidade dos funcionários ao atender os clientes. Segundo ele, é necessário que os vendedores sejam discretos para não constranger as pessoas.


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gustavo caetano, gislene Machado, suelen alvarenga 6º período edItora: Fernanda toussaInt 7º PERÍODO

se deixar, ela toma conta Saiba que cuidados tomar quando a preguiça e suas diferentes formas invadem o dia a dia FErnAndA toUssAInt

sunto que figura até mesmo na Bíblia, no livro de Provérbios, “o desejo do preguiçoso o mata, porque as suas mãos recusam trabalhar” (21:25). O indivíduo preguiçoso fica impossibilitado de realizar-se e estabelecer-se em função da inércia exercida sobre ele. O físico Isaac Newton dizia que todo objeto em movimento tende a permanecer em movimento, e todo objeto parado tende a permanecer parado. Essa lei também pode ser aplicada às pessoas. De acordo com a psicóloga Cristina Marília da Silva, “a preguiça pode vir em decorrência de um momento atípico, o que é considerando normal. Entretanto, quando se torna constante pode ser resultado de problemas emocionais, como a depressão ou o stress”. A estudante Gláucia Soares, 17 anos, diz que frequentemente se sente cansada e que possui muita preguiça. Ela associa esse quadro com o modo como

Durante explicação em sala de aula, estudante é flagrado em sono profundo Ana carolina dias Emerson rodrigues 6º º PERÍODO

fernanda toussaint 7º PERÍODO

Vista pelo senso comum como falta de em-

penho para realizar atividades que exijam esforço físico ou mental, a preguiça é um estilo de vida para alguns, e uma tentação para outros. Basta ver a nossa volta como são criados utensílios como o controle remoto, com a justificativa de facilitar o dia

a dia das pessoas, mas que contribuem para torná-las mais preguiçosas. Às vezes é até prazeroso entregar-se à preguiça. O problema é quando isso vira um vício e impede a pessoa de realizar suas obrigações. Aliás, este é um as-

tempo não é mais desculpa FErnAndA toUssAInt

Em pleno sábado, pessoas malham a todo vapor para não perderem o ritmo Segundo o instrutor de uma academia Leonardo Guimarães, as atividades da vida moderna tomam muito tempo do indivíduo, e é um dos principais motivos que levam eles a parar de malhar. Porém, isso hoje já não é mais uma desculpa. Temos academias que funcionam de segunda a domingo e com horários flexíveis. O estudante André Nogueira, 24 anos, considera essencial se exercitar para ter qualidade de vida. No entanto, foi obrigado a parar de frequentar academia por não conseguir conciliar

seus horários. Já o estudante Eduardo Murat 19 anos, que trabalha das 08:00 as 18:00 e estuda a noite sempre arranja tempo para se exercitar. Três vezes na semana, antes de ir para o trabaho, o estudante acorda um pouco mais cedo, as 06:00 para malhar. “Acho importante fazer atividade fîsica. Além ser bom para a saúde e condicionamento, é uma maneira de manter o físio”. Leonardo procura incentivar seus alunos a sempre fazer atividade física. Para isso, tenta desenvolver um cronograma de ativida-

des que se adeque aos objetivos e ao perfil do aluno. De acordo com ele, o clima da academia ajuda a evitar o desânimo. “O local tem que ser animado e aconchegante para motivar as pessoas a querer continuar”, diz. André também considera o ambiente um fator motivacional, mas lembra que o próprio indivíduo tem que vencer a preguiça. “Os professores colocam músicas e tentam deixar o ambiente mais animado. Isso ajuda, mas não adianta nada se a pessoa não está focada no que realmente quer fazer”, afirma.

lida com as situações do cotidiano. “Sou muito ansiosa e preocupada, além de ter muita insônia. Isso acaba atrapalhando minha concentração ao longo do dia”, afirma. Jovens que trocam o dia pela noite também sentem os reflexos do cansaço. O estudante Luiz Gustavo de Oliveira Schenk, 23 anos, conta que fica acordado durante a madrugada para ficar no computador, assistir a filmes e fazer trabalhos, e que por esse motivo se sente mais cansado ao longo do dia. “Acho que o modo como vivo me deixa mais desanimado que o normal. Não me considero preguiçoso, apenas meu horário de dormir que é diferente”, explica. Segundo o neurologista Paulo Pereira Christo, dormir bem é essencial. “Uma noite mal dormida pode trazer conseqüências como o cansaço, a fadiga e distúrbios de humor”. De acordo com ele, a insônia pode ser causada por vários

motivos, como pelo uso de medicamentos, bebidas alcoólicas ou, até mesmo, se tratar de um distúrbio. o preguiçoso Esse tipo de pessoa tende a ser um desistente da vida, das soluções, das respostas, das pessoas e relacionamentos. Tudo para eles é pesado, doloroso e dá trabalho. Querem tudo na mãozinha. A preguiça pode se manifestar em todos os níveis: mente, coração e corpo. Em muitos casos a situação chega a ser tão séria que as pessoas têm preguiça de pensar e até de realizar tarefas básicas do cotidiano. Os pais devem tomar cuidado na educação dos filhos. A criança que recebe tudo na mão pode não adquirir independência e maturidade para enfrentar a vida. Se algo não sai como gosta, ao invés de buscar uma solução prefere o caminho mais fácil. Com isso, muitas vezes fica irritada e e se coloca como vítima.


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Belo Horizonte

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edItora: Fernanda toussaInt 7º PERÍODO

Soberba, a filha da inveja FErnAndA toUssAInt

Consumidora em shopping: excesso de consumo pode ser associado à soberba Adriana ferreira daniel ottoni Estefânia Mesquita Nathália faria 6º º PERÍODO

fernanda toussaint 7º PERÍODO

Tudo é vaidade, diz o provérbio de Salomão. Assim inicia-se um combate

religioso contra o culto do ego e da superioridade aparente. Conhecida também como altivez, arrogância, exibicionismo, ostentação, pedantismo, pernosticidade, presunção e vanglória, “a soberba pode ser vista no orgulho de uma pessoa que não aceita ser ajudada mesmo quando necessário”, afirma Padre Guido,

da Paróquia Santa Helena, no bairro Funcionários. Já para o professor de teologia Felipe Aquino, a soberba é o pior dos pecados. “O soberbo se esquece que é uma simples criatura de Deus”. A sociedade que condena o egocentrismo é a mesma que o sugere. Desde o início da cultura moderna há um incentivo à idolatria

Homens que consomem O consumismo é uma característica da sociedade moderna que surgiu com o advento do capitalismo. Desde seu início, as mulheres levam a fama de ser mais consumistas que os homens por estarem sempre comprando roupas, bolsas, sapatos, cosméticos, além de gastar com salão. Entretanto, uma pesquisa realizada pelos jornalistas Marília Cardoso e Luciano Gissi Fonseca, autores do livro Você sabe lidar com o seu dinheiro? Da infância à velhi-

ce, constataram que as mulheres compram mais que os homens, mas que eles, no entanto, gastam mais do que elas. Os estudos demonstram que isso ocorre porque eles adquirem bens mais caros como aparelhos tecnológicos, carros, relógios mais valorizados, entre outros. Porém, também acabam gastando dinheiro com produtos desnecessários. Essa atitude, em alguns casos, poderia até ser confundida com uma atitude de soberba.

A soberba não costuma ser assumida pelos consumistas, que assim preferem ser chamados. O executivo de vendas Matheus Trópia, 23 anos, assume que tem um consumo impulsivo em algumas ocasiões. “Nem sempre o que consumo é necessário. Muitas vezes compro coisas dispensáveis e de forma exagerada”, explica. Entretanto, o executivo não se acha uma pessoa fora dos “padrões” consumistas, e acrescenta que ainda consegue se controlar. FErnAndA toUssAInt

Localizado no bairro de Lourdes, o shopping é um dos mais charmosos de BH

com muitos nomes e vários rostos, a cultura que nos cerca favorece esse pecado desde quando nascemos até nosso último dia de vida das qualidades humanas, um mérito garantido àqueles que se destacam mais que a maioria. Segundo a psicóloga Cristina Vieira, a publicidade é um exemplo contemporâneo disso, uma vez que estamos cercados de propagandas apelativas. “Muitas pessoas perdem seu referencial, e acreditam que os encontrarão através dos bens materiais”, explica. O soberbo busca sempre estar no topo, e despertar a curiosidade de todos a sua volta. Ele não aceita ser superado, e quando isso acontece, acaba sendo dominado pelo sentimento da inveja. A jornalista Gabriela Pimenta, 23 anos, não se considera uma pessoa soberba por gostar de consumir acessórios de luxo. “Não vejo isso como algo negativo. Infelizmente nem todas as pessoas têm acesso aos bens de melhor qualidade, o que não quer dizer que não seja legítimo que eu os tenha. Não é pra ostentar que uso determinada bolsa ou sapato, é pelo

meu conforto, bem-estar”, afirma. A bailarina Juliana Bastos, 32 anos, argumenta que existe uma grande diferença entre usufruir o que se tem condição, e se colocar numa posição superior àqueles que não têm. “As coisas estão aí para serem usadas e proporcionar mais conforto. A soberba não está em comprar coisas de boa qualidade. O problema é quando isso passa a ser cartão de visita de alguém. Quando o que se tem passa a ser a imagem que queremos transmitir aos outros”, argumenta. Ela ainda adverte: às vezes é preciso traçar uma linha de onde termina a soberba e começa a inveja. Sengundo o dicionário Aurélio, a inveja é o desgosto ou o pesar pela felicidade de outra pessoa. A soberba não é uma caracteristica exclusiva dos ricos. Muitas vezes a pessoa se sente superior aos outros por acreditar que é a melhor no que decide, no que faz e na sua capacidade de resolver situações.

Abuso de poder Apesar de o termo “soberba” não se tratar de um tema específico dentro da psicologia, o pecado capital também é refletido pelos profissionais desta área. A psicóloga clínica Júlia Machado afirma que o ser humano naturalmente quer ser reconhecido, exaltado e adorado pelos demais. A vendedora Carolina Ramos, 28 anos, conheceu o significado do termo quando em 2008 foi chamada de “burra, incompetente, pobre e ignorante” pelo exchefe. Segundo ela, apesar da educação tradicional do patrão, ele não suportou quando ela pediu demissão. Esses casos causam problemas para ambos os lados envolvidos. O desafio para a psicologia não é acerca das atitudes soberbas, mas o que as motiva. Muitas vezes, a excessiva vontade de reconhecimento e ostentação de dinheiro e poder chega a atitudes extremas. Ao se sentir ameaçado, o soberbo humilha, violenta e acaba por afastar até as pessoas que gosta.


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