Ano 28 • número 182 • Outubro de 2010 • Belo Horizonte/MG
Cidades
Segurança em cemitérios ameaçada Apesar de ser considerado uma prática superada, o roubo de túmulos, comum em diversas regiões do país, ainda preocupa cidadãos e causa polêmica entre administradores de cemitérios e famílias, que pagam para sepultar parentes. Página 6
isabella barroso
OS CAMINHOS DA INVESTIGAÇAO POLICIAL
˜
12 Crimes vituais 9
Entrevista com o jornalista Luiz Ribeiro
Cidades
Iniciativa popular dá vida à lei Ficha Limpa, que exige mais clareza sobre a vida dos políticos brasileiros. Outra opção é acompanhar sites que disponibilizam ao eleitor um retrospecto da vida pública dos candidatos. Página 4
Ficha Limpa 10 Lavagem de dinheiro
À espera de uma revitalização, a Praça Sete, considerada como um dos pontos de referência de Belo Horizonte, tornou-se um retrato do desinteresse dos governantes em prezar os espaços públicos de lazer e cultura da capital mineira. Página 5
Mariana Medrano “O projeto nasceu a partir da iniciativa popular. Logo, renascia o sentimento de que os brasileiros voltaram a lutar contra uma maré de corrupção e impunidade”. Página 2
Artigo
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Presidenciáveis
Séries investigativas
Shakes
William Alves
Página 7
“Para manter os aliados, o presidenciável paulista terá que, necessariamente, manter os agronegociadores felizes. O agronegócio é responsável pela maioria do desmatamento”. Página 3
Twitter Página 16
É preciso preservar
Intensas fiscalizações aos candidatos
Editorial
Descaso público afeta espaço cultural
Cinema
Reflexões sobre o segundo turno
DO!S
juliana valliM
Shows
Festival une diversos estilos
A proteção e recuperação de películas é uma parcela muito importante da conservação da memória audiovisual da nossa história, mas, de forma geral, está sendo negligenciada. Página 8
Diversidade, música independente e público variado. Estes são alguns ingredientes do projeto Flaming Nights, que inseriu Belo Horizonte no cenário underground brasileiro. Página 4
Artes Plásticas
Críticas
Bastidores de uma mostra Promover uma exposição internacional em Belo Horizonte demanda esforço, organização e muito trabalho. Conheça a logística e o processo de montagem de mostras na capital mineira. Página 2
Entre palavras e beijos
Detalhe da exposição Valores de Minas, no Palácio das Artes, em BH, que se encerrou este mês
Os espetáculos “Beijo Bandido”, de Ney Matogrosso, e “Maria Bethânia e as palavras” misturam música popular brasileira e teatro nos palcos do Palácio das Artes e Fashion Mall, no Rio. Página 12
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Primeiras palavras
Belo Horizonte, outubro de 2010
Impressão
Legitimidade sob risco Mariana Medrano 8° período
No dia 4 de junho de 2010, a vontade de milhões de brasileiros se consolidou. A Lei Ficha Limpa foi aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e já seria aplicada nas eleições deste ano. O projeto nasceu a partir da iniciativa popular. Logo, renascia o sentimento de que os brasileiros voltaram a lutar contra uma maré de corrupção e impunidade. Em suma, a nova lei consiste em barrar a candidatura de políticos condenados por um colegiado de juízes, devido à prática de atos que envolvam, por exemplo, abuso de poder econômico e político. Entretanto, quatro dias após ser decretada, começaram a surgir
dúvidas quanto à aplicação da Ficha Limpa, a primeira a respeito da punição dos candidatos. Seriam considerados os processos anteriores ao dia 4 de junho? Ora, se a Lei defende que o político deve ser “Ficha Limpa”, entendese que isso abrange todo o seu currículo na vida pública. Eis ai uma das várias contradições que tornaram as eleições deste ano profundamente confusas e duvidosas. Dias antes da ida dos eleitores às urnas o candidato ao governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz, entrou com recurso no Superior Tribunal Federal (STF) por ter a candidatura barrada. O caso levanta novamente a questão sobre a validade da Lei para candidatos processados antes ou depois de a decisão ter entrado Mariana medrano
Jornais dos meses de setembro e outubro discorrem sobre a lei
em vigor. O embate dos ministros dizia respeito à constitucionalidade da Lei. Roriz desistiu de concorrer e colocou em seu lugar a esposa, Weslian Roriz. O ato foi considerado por muitos como manobra, esperteza e até mesmo “malandragem” por parte do político. Nos debates, entrevistas e na própria campanha o despreparo de Weslian para assumir o cargo público ficou evidente. O processo de Roriz acabou sendo arquivado e nada se decidiu à respeito da validade constitucional da lei do Ficha Limpa. Para o Ministério Público, porém, a lei passou a valer já para essas eleições. A falta de coragem dos ministros fez com que no domingo, dia 3 de outubro, candidatos considerados “fichas-sujas” recebessem 8,7 milhões de votos em todo o Brasil. Entre eles, Jader Barbalho (PMDB-PA), que disputou a vaga de senador pelo estado do Pará, obtendo1,79 milhão de votos. O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) também consta entre os “fichas-sujas”, mas isso não impediu que 497 mil pessoas optassem por elegê-lo, colocando-o em terceiro lugar entre os mais votados do Estado de São Paulo. Por enquanto, os votos estão registrados como nulos, porém, os processos dos candidatos barrados estão sendo julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral. São 175 processos avaliados individual-
mente. Contudo, a decisão sobre a validade da Lei Ficha Limpa ainda está nas mãos do STF. A intenção do congresso ao aprovar esse tipo de lei, acima de outros quesitos, está ligada ao oportunismo de ganhar novamente a confiança do cidadão. Já que, depois de tantas denúncias e envolvimentos em escândalos, essa seria uma maneira de melhorar a imagem perante a população. O que se constata é que a lei foi aprovada de uma maneira pouco esclarecida, cheia de brechas e incongruências. A morosidade observada nesse e em muitos outros casos, que dependem da decisão das instituições jurídicas, é a justificativa da população para a falta de interesse nos assuntos de cunho político. Além disso, muitos citam os casos de corrupção como responsáveis por desacreditá-los de atos de honestidade na gestão pública. Todavia, é inaceitável o fato de que, enquanto muitos lutam a favor de uma política mais limpa, outros continuam a dar créditos àqueles que dissimulam seus feitos criminosos, tanto em campanhas – em meio a falsas promessas e compra de votos – quanto no poder, em esquemas cada vez mais qualificados de roubo e corrupção.
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LABoratório de jornalismo impresso EDITOR Prof. Fabrício Marques MG 04663 JP Laboratorista Profª. Fernanda Agostinho preceptora Ana Paula de Abreu (Programação Visual) Estagiários Diagramação Vanessa Guerra Texto Mariana Medrano Monitores Diagramação e Infografia Isabella Barroso Texto Luiz Eduardo Ladeira Marina Célia Messias Colaboração Fotografia Anderson Aurélio Juliana Vallim Paulo Melo Ilustrações Leonardo Lôbo Texto Ana Flávia Tornelli Marisol Bispo Anúncios lacp - Laboratório de Criação Publicitária lab. de convergência de mídias
Campos de Concentração na Alemanha: um registro de Fabíola Prado
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Linha do tempo Metallica busca redenção
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Visão crítica
Impressão
Belo Horizonte, outubro de 2010
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Ombudsman Estudantes do quinto período de jornalismo analisam edição 181 do Impressão O nome do jornal ficou meio opaco no que diz respeito à cor e ao posicionamento. A chamada para o tema relacionado à moda também auxiliou a perda de foco do nome do jornal. Niarta Oliveira Os textos são, de forma geral, tranqüilos de ler e as pautas interessantes. As matérias trazem preocupação ambiental, utilidade pública e de cunho social, que, na maioria das vezes, são esquecidas pela grande imprensa. Júnior Rezende A reportagem “É a hora da decisão” aborda de forma bem interessante a questão do jovem eleitor. Mas acho que a foto da matéria principal deveria ser do personagem, pois traria mais credibilidade do que a urna eletrônica, que já está repetitiva Carla Danielle da Silva Em algumas matérias as fotos e ilustrações deixam a desejar, – como no caso das matérias sobre “bocha” e sobre o “Minas Locomotiva” – em que as fotos não mostram muitos detalhes, além
de serem em preto e branco, o que dificulta ainda mais uma boa visualização. Rafael Araújo e Filipe Papini A capa do caderno Do!s foi bem elaborada e traz uma composição de fotos que agrada aos olhos do leitor. As informações culturais publicadas no interior do caderno foram bem trabalhadas e enriquecem o caderno. Érika Pereira e Wellington Martins O jornal poderia abrir espaço para opinião. É uma forma de convidar os leitores a participarem e contribuírem com informações, além de servir de ferramenta para medir a abrangência do exemplar. As crônicas são muito bem-vindas no jornal. Elas transcendem o cunho puramente informativo e leva o leitor a compartilhar um texto literário, descontraído. Priscila Mendes Mesmo se tratando de um jornal do Unibh, qualquer pessoa pode ler, pois não aborda assuntos voltados somente para a faculdade.
As editorias abordam assuntos de interesse público e do público, como é o caso do caderno Dois. As fotos estão bem contextualizadas, exceto na editoria “Um dia no...”, em que o repórter relata o sucesso do “Cirandas Bar”, no entanto a fotografia mostra o bar fechado e sem clientes. Paula Isis Diniz No caderno de cultura, logo na capa, deparamos com Heath Ledger, o Coringa de Batman: O Cavaleiro das Trevas. E a foto da atriz Janet Leigh na parte mais marcante do filme Psicose. Com a junção do atraente título, Mentes Obscuras, as imagens e com um bigode bem elaborado foi o convite perfeito para despertar curiosidade e expectativa na matéria. No entanto, ela desaponta um pouco, na forma confusa e repetitiva em que retrata os fatos. Ana Beatriz von Sucro A matéria central do caderno Do!s tem ilustrações bem feitas e distribuídas. Em meu entendimento, bem diagramadas. Há um equilíbrio entre título, bigode, fotos, textos e uma espécie de li-
nha cronológica em boxs bem alinhados que deram leveza à apresentação da matéria. Porém, as páginas do caderno de cultura não são divididas em temas, o que dificulta a localização dos assuntos. Yvan Muls
dente da Associação Mineira de Pisiquiatria Sandra Carvalhais, atribui mais veracidade ao assunto tratado. Ao falar de casos conhecidos, a fonte aproxima o leitor da realidade. Bruna Ávila,Dayane Lima e Hévila Oliveira
A diagramação é outra grande bola dentro do jornal. Não é preciso ser um respeitado designer gráfico para observar o alinhamento milimétrico dos textos, com todas as linhas na mesma altura da página. Os erros de hifenização comprometem, mas não tiram o brilho do diagramador. William Alves
As editorias são interessantes e novamente creio que pensadas cuidadosamente para atingir o público alvo. Em “Especial” o tema carona solidária é abordado de maneira interessante, com títulos e subtítulos descontraídos, a meu ver, a melhor matéria da publicação. Markilma Gonçalves
O texto do editorial é a repetição das manchetes de capa. O editorial deveria seguir o convencional e trazer a posição do jornal sobre algum tema de relevância atual, ou no mínimo, sobre algum assunto de destaque na edição. Sandra Leão e Pablo Nogueira Ao analisar a matéria “Mentes conturbadas”, as fontes utilizadas, como, por exemplo, a presi-
ARTIGO
O espólio da seringueira William Alves 5º Período
A ex-presidenciável Marina Silva se bandeou para o Partido Verde, em agosto de 2009, quando entrou em atrito com alguns setores da sua antiga agremiação, o Partido dos Trabalhadores. À época da saída, a acreana alegou como motivo “crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade”. Além de abandonar o partido, já havia abdicado, um ano antes, da pasta do Ministério do Meio Ambiente. Para grande parte da imprensa, no entanto, essas “resistências” não significavam nada muito além da então ministra da Casa Civil e atual favorita ao pleito presidencial, Dilma Rousseff, que discordava da ambientalista em questões ecológicas. Marina negou que fosse “vítima da ministra Dilma”, mas a desconfiança jornalística continuou. Findo o primeiro turno das eleições, Marina conseguiu cravar impressionantes 19,5 milhões de votos, o que a transforma em objeto de cobiça para os dois candidatos.
O candidato do PSDB, José Serra, somou mais votos (e com eles, garantiu presença no segundo turno) na chamada “região do agronegócio”: Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia. Para manter os aliados, o presidenciável paulista terá que, necessariamente, manter os agronegociadores felizes. O agronegócio é responsável pela maioria do desmatamento de biomas do país. A principal – e para os detratores, a única – bandeira da campanha de Marina era, justamente, o desmatamento zero. E agora, Marina? Desnecessário ressaltar que conceder apoio aos petistas que ela abandonou, por divergências com a gerência, também seria um tremendo retrocesso. Afinal, ela não deu o braço a torcer em agosto de 2009. Por que agora? Ou seja: não se surpreendam se a ex-militante de Rio Branco se mantiver caladinha sobre a demanda eleitoral que termina em 31 de outubro, convenientemente o feriado mundial do Dia das Bruxas, em que os mortos voltam aos seus lares e visitam seus descendentes. Que Deus te abençoe, Marina Silva.
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Belo Horizonte, outubro de 2010
Vida pública
Impressão
Espaço na internet para vigiar políticos Sites são criados para ajudar cidadão a acompanhar ações realizadas por parlamentares Marisol Bispo 5º Período
Edição: Mariana Medrano Passada as eleições, Minas Gerais, Estado que possui a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados - 53 cadeiras - foi a que mais reelegeu deputados federais. O índice de renovação foi de apenas 35,85%. Já nas eleições de 2006, marcada por escândalos sem precedentes, como o do mensalão e o da máfia das sanguessugas, o índice de renovação foi de 52,2%. A freqüência do envolvimento de políticos em atos delituosos requer uma reflexão da sociedade: até quando permitir que isso aconteça? A professora de jornalismo Adélia Fernandes alerta para o fato de que a fiscalização do trabalho dos parlamentares só é possível para instituições formais como Justiça, imprensa, ONGs. “Por isso é tão importante na democracia termos os Três Poderes independentes e livres, um vigiando o outro”, completa. Porém, cabe ao cidadão vigiar a atuação de deputados e senadores para evitar reeleger aqueles acusados de envolvimento nos escândalos. Sites criados por jornalistas e entidades não governamentais são importante aliados nesta tarefa ao fornecerem informações a respeito do desempenho dos parlamentares, o envolvimento em casos de corrupção, processos na justiça e evolução
juliana vallim
patrimonial. Um levantamento elaborado pela ONG Transparência Brasil afirma que de nada adianta uma sociedade organizada ajudar na canalização de esforços e recursos para projetos sociais, culturais ou de desenvolvimento de uma cidade, se as autoridades municipais, responsáveis por esses projetos, se dedicam ao desvio do dinheiro público. Corrupção Neste contexto, o site elaborado pela ONG, em abril de 2000, traz informações importantes, como estatísticas sobre o perfil dos parlamentares, artigos publicados em jornais de referência como O Globo e a Folha de São Paulo. Há também artigos acadêmicos, guias, manuais e cartilhas para o controle da corrupção. O jornalista Fernando Rodrigues realizou, de 1998 a 2000, uma pesquisa sobre a evolução patrimonial de 1.870 políticos do legislativo e executivo. O objetivo foi verificar o aumento do patrimônio de cada um deles durante o exercício da vida pública. A pesquisa se transformou no livro e no site homônimo, cujas informações são atualizadas com freqüência. Criado em fevereiro de 2004, o Congresso em Foco também é um site importante, pois se consolidou como referência para quem deseja informações confiáveis sobre as
Eleitores votam no primeiro turno das eleições, no Colégio São Francisco de Assis, no Pompeia atividades dos deputados, senadores e políticos em geral. Ele foi o primeiro veículo de comunicação brasileiro a publicar a lista dos parlamentares federais que respondem a processos judiciais. Isso ocorreu em março de 2004. Desde então, o site publica regularmente levantamentos de congressistas com pendências judiciais. Câmara e Senado Vale ressaltar ainda que tanto a Câmara como o Senado informam, nos respectivos sites, sobre os projetos apre-
sentados por cada parlamentar, a pauta de votação no plenário e o valor do salário recebido. Desde 2009, cada deputado é obrigado a discriminar os gastos feitos com a verba indenizatória de R$ 15 mil mensais. O valor não utilizado num mês pode ser gasto em outro. Por semestre, eles podem reembolsar o limite de R$ 90 mil. A verba indenizatória, criada em 2001, cobre despesas de aluguel, transporte, combustíveis, consultorias, divulgação da atividade parlamentar, serviços de escritório
Lei Ficha Limpa gera dúvidas Mariana Medrano 8° período
A Lei da Ficha Limpa tem como objetivo barrar a candidatura de políticos condenados pela justiça e torná-los inelegíveis por oito anos. O projeto que deu origem à lei surgiu a partir de uma campanha de iniciativa popular, com 1,3 milhões de assinatura, e foi aprovado em junho deste ano. A cientista política Odila Valle resalta, porém, que a mera aprovação da lei não significa que os problemas na tentativa de impedir a participação de corruptos nas eleições estejam totalmente resolvidos. “Em primeiro lugar, há
brechas na própria lei que facilitam a manutenção de nomes que já deveriam ter sido há muito banidos do espaço público brasileiro”, destaca. De acordo com a lei, o político precisa ter sido condenado por mais de um juiz, além de poder recorrer da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brecha aproveitada pelo ex-candidato ao governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PSC), que recorreu ao Supremo após ter a candidatura cassada pela lei Ficha Limpa por ter renunciado ao cargo de senador em 2007, a fim de escapar de um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética do Senado.
Foi essa a ação que desencadeou uma série de dúvidas e desentendimentos por parte do TSE, e também do Superior Tribunal Federal (STF), em relação a lei. A partir dai, os ministros do STF entraram em um impasse quanto ao período em que a lei se aplicaria. A questão era se os candidatos poderiam ser barrados por processos que ocorreram antes da aprovação da lei. Outra pendência era se a lei já seria aplicada nas eleições desse ano. Com a desistência do candidato do PSC ao governo do Distrito Federal, o recurso foi arquivado antes das eleições, entretanto o Supremo Tribunal Federal ainda espera a no-
meação de um novo presidente do órgão para decidir sobre a validade da lei e sobre os mais de mil recursos de candidatos, coligações e Ministério Público, que tramitam na Corte desde o dia três de outubro deste ano. Os candidatos barrados estão com os votos suspensos até que cada recurso seja julgado individualmente. Em Minas, 39 “fichas-sujas” receberam 353 mil votos. São 12 candidatos a deputado federal e 27 a deputado estadual que recorreram e poderão fazer parte das bancadas da Assembleia Legislativa de Minas e da Câmara Federal caso os recursos sejam aprovados, mudando o cenário atual do Legislativo.
e serviços de segurança particular, entre outros. O boletim eletrônico Acompanhe seu Deputado é um serviço oferecido pela Câmara a qualquer cidadão, basta se cadastrar para receber, quinzenalmente, informações por email sobre a atuação dos parlamentares Já no site do Senado não é preciso fazer cadastro, basta informar o nome do deputado, o ano de exercício e o mês de lançamento para verificar suas despesas.
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Leia a matéria na íntegra no site: www.jornalimpressao.com.br
Vale a pena conferir • http://www.contasabertas.uol.com.br criado pelo Contas Abertas, entidade sem fins lucrativos que fiscaliza os orçamentos e a destinação de recursos púbicos no país. • http:// www.transparencia.org.br traz informações sobre 2.368 políticos, e tem o objetivo de ajudar as organizações civis e os governos de todas as intâncias a desenvolver metodologias e atitudes voltadas ao combate à corrupção.
Tramas urbanas
Impressão
Belo Horizonte, outubro de 2010
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Patrimônio à deriva Fotos Lucas Oliveira
Descaso do poder público põe em risco a Praça Sete, considerada marco zero da capital mineira Lucas Oliveira 6º Período
Edição: Mariana Medrano O atual estado da Praça Sete de Setembro, localizada na região central de Belo Horizonte, ofusca o brilho de um dos cartões postais mais importantes e tradicionais da capital. Todos os dias circulam por ali milhares de pessoas apressadas que mal olham para os lados, ignorando uma realidade que demonstra a má conservação do lugar. Um programa de revitalização foi executado em 2003, mas não foi suficiente para preservar a boa imagem do patrimônio histórico e cultural da cidade. Palco perfeito para acompanhar manifestações políticas, jogar xadrez, comprar artefatos ou presenciar o encontro das diferentes tribos urbanas, a Praça Sete destacase por acolher os movimentos democráticos e a diversidade cultural. Porém, a maioria dos transeuntes, e até mesmo quem a frequenta, se esquece das noções de cidadania depredando e desvalorizando o bem comum. Além disso, muitos reclamam da falta de segurança do local e atribuem aos hippies e moradores de rua a responsabilidade pelo descuido da praça. A assessora de comunicação da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS), Mariana Costa, alega que a noção de cidadania assegura a esses indivíduos o direito de ocupar a cidade. “Impedir o livre acesso em
locais públicos, até mesmo de comerciantes informais, se configuraria como uma violação de direitos”, pontua. Segurança Segundo o aposentado Paulo Silvério, os tempos são outros e, hoje, ele diz guardar na memória a imagem de uma Praça Sete mais segura. “Antigamente você tinha aqui uma presença extraordinária da polícia”, relembra. Já o representante comercial Francisco Gomes acredita que uma vigilância permanente seria uma solução eficaz para o problema, tomando como exemplo as reformas que foram feitas na Praça da Estação e Raul Soares. No período em que acompanhou o movimento da praça, a reportagem presenciou moradores de rua colocando fogo em valas do chão – vazões protegidas por grades, facilmente removíveis, onde escorrem as águas da chuva – com o intuito de usá-las como se fossem churrasqueiras. Francisco também narra outra prática inapropriada já vista na praça: “Havia uma saída de água que era utilizada por eles para tomar banho e lavar roupas. Até sexo nós já presenciamos aqui”. A assessora da Regional Social Centro-Sul, Mara Damasceno, afirma que o trabalho de fiscalização é feito, mas também cabe à população dar queixa quando necessário. “As ações fiscais na Praça Sete são rotineiras e tem como o objetivo coibir o comércio ir-
Milhares de pessoas transitam pelo centro da capital sem se dar conta do descuido com o local
regular ou qualquer outra infração prevista no Código de Posturas do Município, mas cabe à população registrar as devidas reclamações junto à Polícia Militar”, esclarece. Assistência Questionada sobre a situação dos moradores de rua, a assessora da SMAAS, Mariana Costa, explica que há uma
ampla rede de serviços de assistência social.“Em Belo Horizonte a Secretaria oferta serviços – entre eles o Serviço de Abordagem Social nas Ruas que permitem a superação da situação de vida atual e/ou um apoio para uma vida mais digna, ainda que nas ruas. O objetivo é resgatar a autonomia dessas pessoas e, se possível, no contexto familiar”,
completa. De acordo com o técnico de referência do Serviço de Abordagem Social nas Ruas Leonardo Silva, a assistência a essa população é feita com a retirada de documentação, passe-livre e consultas de saúde clínica e mental.
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Acesse a galeria de fotos da Praça Sete: www.jornalimpressao.com.br
Palco underground Quem encara a praça como um ambiente típico das zonas urbanas são os frequentadores da Galeria do Rock. Com três andares, sendo dois destinados a movimentos culturais ligados à música, o local concentra nichos que ainda acreditam na Praça Sete como ponto de encontros de movimentos transgressores. Para o vendedor Daylon Marcos, mais conhecido como “Jerry”, é preciso cuidar da cultura e da história da cidade mantendo a tradição da Praça Sete. “Aqui é onde a galera se encontra. Precisamos manter esse ciclo cultural”. Jerry reconhece a convivência harmoniosa, “Todos aqui só
desejam usufruir do espaço público da praça, por isso um tem que respeitar o espaço do outro, assim sempre teremos esse ponto de encontro”. Um dos responsáveis pela manutenção da cultura da Praça Sete é João Batista, dono de uma das lojas da Galeria do Rock. O comerciante aponta um caminho para incentivar a valorização do lugar. “É preciso dar uma injetada no lado cultural. Os órgãos públicos podiam investir mais. Aqui tem espaço para colocar música ao vivo nos sábados, domingos, ao ar livre, não importa o estilo musical. Aqui é o coração dessa cidade”.
João Batista, antigo lojista da Galeria do Rock, acredita que a Praça merece ser revitalizada
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Tramas urbanas
Impressão
Ladrões não poupam nem os mortos Violações e roubos a túmulos ocorrem com frequência nos cemitérios de Belo Horizonte renato gonçalves
Guilherme Melo Luiz Eduardo Ladeira Thiago Madureira Luiz Martini Renato Gonçalves 6° período
Edição: Marina Messias O roubo de sepulturas, por mais incrível que possa parecer, ainda é um ato criminoso bastante comum. Os motivos que levam alguém a perturbar o descanso eterno de um morto podem ser dos mais variados. Desde a subtração de adornos feitos em materiais valiosos, como o bronze e o mármore, para obtenção de dinheiro, até casos peculiares, como aquele do estilista Ronaldo Ésper, que foi preso em flagrante por tentativa de roubo de um vaso decorativo, em janeiro de 2007. No Brasil, o valor para enterrar uma pessoa em um cemitério municipal pode ultrapassar R$ 15 mil. Existe ainda uma taxa de manutenção anual no valor de R$ 42,50 (dos cemitérios de Belo Horizonte), e os adicionais, caso as famílias optem pela lavagem dos túmulos em períodos regulares. O problema é que a segurança desses jazigos é falha. Ocorrências desses crimes aparecem frequentemente pelas delegacias de todo o país. Na região metropolitana da capital mineira os casos também têm aparecido. Em abril deste ano, um homem de 39 anos foi preso, pela segunda vez, ao furtar imagens de túmulos no Cemitério do Bonfim. O local é um dos mais visados de Belo Horizonte, devi-
No detalhe, a parte superior do jazigo foi roubada por criminosos no cemitério do Bonfim
do à qualidade dos ornamentos empregados nas sepulturas. Para um zelador do Cemitério do Bonfim, que pediu para não ser identificado, a ação dos marginais que roubam os túmulos, muitas vezes, acontece pela necessidade de comprar drogas, aproveitando a ausência de vigilância nos cemitérios para cometer os delitos. “O que mais impressiona é a ousadia dos bandidos, que cometem os furtos, na maior parte, durante o dia”, relata o funcionário. A incorporação da Guarda Municipal nos sepulcrários foi uma medida adotada pela prefeitura de Belo Horizonte para diminuir as ocorrências. Hoje, a cidade tem quatro cemitérios municipais: Bonfim, Consolação, Saudade e da Paz. O administrador dos cemitérios municipais de Belo
Horizonte, Francisnaldo Batista, afirma que a chegada da guarda inibiu a ação dos bandidos e que há dois anos os crimes não ocorrem. “Desde o convênio firmado com a polícia e as sedes dos cemitérios, não tivemos mais problemas com os furtos”.
“Será que nem depois de mortas as pessoas vão ter paz neste mundo” Frederico Macedo Contudo, algumas pessoas que prestam serviço nos fossários asseguram que ainda existem túmulos roubados, prin-
Mercado negro de ossos Pais-de-Santo podem ser considerados os principais “clientes” de cemitérios clandestinos e tradicionais no sumiço de algumas ossadas. Os rituais de magia negra costumam utilizar os restos mortais dos seres humanos para a realização de feitiços. O acesso a esses ossos é considerado crime de vilipêndio de cadáver, quando há qualquer espécie de contato com o morto. As cerimônias realizadas em cemitérios são ricas em detalhes. Cada uma tem o seu objetivo: Exu Sete Catacum-
bas é o ritual feito para matar; Exu Caveira para aleijar; Exu Canga para enlouquecer, dentre ouros. No caso do Exu Sete Catacumbas, os participantes entram no cemitério, dizem frases predeterminadas pelo pai-de-santo, procuram a sétima catacumba do lado esquerdo e fazem o ritual para conseguir o que desejam. Na saída, as palavras são repetidas. Quem faz o pedido deve sair do cemitério sem dar as costas para o exu. Os rituais para desmanchar trabalhos também são feitos dentro dos ce-
mitérios, nas salas dos mortos. O pai-de-santo Manuel Campo de Terra diz que já misturou sangue de animais com ossadas e que as magias deram certo. “Já misturei o sangue de bodes, galinhas e outros pequenos animais para dar mais sustância para os rituais. Sempre que a magia é feita com crença, dá certo”, afirma. Existe uma tabela clandestina, retirada de sites de magia negra, com valores médios dos ossos. Confira no quadro ao lado.
cipalmente os que têm peças de bronze. Um outro funcionário, que também pediu para não ser identificado, garantiu que ainda ocorrem furtos no cemitério do Bonfim, devido ao elevado valor artístico das obras. O vendedor Frederico Macedo foi lesado por este tipo de crime. O túmulo onde seu pai está enterrado foi danificado em fevereiro de 2010. “Será que nem depois de mortas as pessoas vão ter paz neste mundo?”, desabafa. Macedoconta que “a família pagou um absurdo entre taxas e serviços, mesmo assim, sofremos com o roubo no túmulo de meu pai. Além da perda, infelizmente, tivemos que lidar com esse tipo de situação”.
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Veja mapas dos cemitérios de Belo Horizonte no site: www.jornalimpressao.com.br
Valores médios de ossos Crânio
150,00
Fêmur
75,00
Esqueleto inteiro
1000,00
Tórax
500,00
Como agir As famílias lesadas por esses furtos devem registrar uma ocorrência policial e, dependendo da violação, é aberto um inquérito. O Código Penal brasileiro determina a violação de cadáver como crime, baseado nos artigos 210, 211 e 212. O advogado Diego Barcelos explica que “qualquer dano provocado pela administração pública precisa ser provado pela vítima, para posterior processo na justiça. A prova se faz mesmo com o processo em curso”. E ressalta também que “no primeiro momento, a parte deve mostrar o dano e a omissão do poder público. No caso, a prova contra a prefeitura pode ser baseada na facilidade em violar o cemitério”. Ainda segundo o advogado, em caso de roubo de túmulos, se houver omissão do cemitério quanto à segurança do local, a família pode requerer ressarcimento dos danos materiais. Em alguns casos, provado que houve contato com o morto, manchando a honra do mesmo, podem ser pedidos danos morais. A indenização gira em torno de R$10 mil. Em caso de condenação, a pena se dará na pessoa física do ofensor e não na administração. Isso porque a pessoa jurídica, a princípio, não sofre responsabilidade penal, mas civil. “A ação contra os roubos de túmulos é movida na Vara da Fazenda Pública Municipal”, informa Barcelos.
Tramas urbanas
Impressão
Belo Horizonte, outubro de 2010
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A polêmica dos shakes Preparados líquidos que substituem refeições ganham espaços, mas recebem críticas Érica Fernandes 6° período
Edição: Marisol Bispo Você trocaria o tradicional feijão com arroz, bife e batatafrita por três copos com líquidos? Se apenas pensar nessa ideia fez ficar com fome, você ficará surpreso em saber que centenas de pessoas estão aderindo a essa opção para substituir duas das três principais refeições do dia. Trata-se dos “espaços de shakes”, lugares especializados para pessoas que querem emagrecer ou engordar. Apesar de os funcionários desses espaços garantirem que a ingestão dos shakes proporciona uma vida saudável, controla o peso, melhora o humor e a saúde mental do consumidor, não há uma ampla divulgação deles. Não há registro de outdoors, propagandas televisivas, nem panfletagem nas ruas: as pessoas que vão a estes lugares, geralmente, são indicadas por outras que conheceram pelo mesmo método de indicação, e assim por diante. “Uma vez estava atrasada e quis sair com o terceiro copo de shake, mas eles me advertiram e só pude sair depois que tomei tudo e deixei a embalagem na lixeira do espaço”, diz a assessora Ana Martins, que freqüenta o local há um mês. Os interessados em consumir o produto vão a esses es-
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paços nos principais horários das refeições. No primeiro dia de uso, os funcionários orientam os iniciantes a preencherem um questionário cadastral, depois são submetidos à balança para verificar o peso, e em seguida são medidas as principais regiões do corpo, como nádegas, cintura e pernas. Quando um número considerável de pessoas chega ao local, elas são direcionadas a se sentar em círculo e trocam informações cotidianas, geralmente, relacionadas ao corpo.
“Mastigar é algo recomendado pelo Ministério da Saúde e é importante etapa da digestão” Raquel Dinis São servidos ao todo três copos de bebida. O primeiro copo é o chá verde que, segundo os orientadores, funciona como desintoxicante do corpo físico, acelera o metabolismo e elimina gordura. O segundo é o chá M.R.G, que garante energia mental, equilíbrio e oxigena o cérebro. E por fim o shake, responsável por alimen-
Da esquerda para direita: Natália Bento perdeu 4 kg e Cássia Silva, 20kg com o uso dos shakes
tar a pessoa nutritivamente. “Nos primeiros dias fiquei tonta e com dor de cabeça, mas depois fui me acostumando”, diz Ana. Todo o processo é realizado sem a presença de nutricionista ou médico. Ao questioná-los sobre a ausência destes profissionais, um dos funcionários garante que eles recebem curso para orientar da maneira mais saudável os clientes. Nutricionista há 19 anos e coordenadora de um curso de nutrição em BH, Raquel Dinis afirma que mastigar é algo recomendado pelo Ministério
Efeito sanfona e suas consequências Não é fácil viver em um mundo onde os parâmetros de beleza têm como referência modelos magérrimas, como Gisele Bündchen que, após a gravidez do filho, fez seu primeiro ensaio de fotos com biquíni, exibindo-se para todas as gordinhas que queriam ver um corpo impecavelmente esbelto. “A erotização excessiva da imagem feminina nos meios de comunicação, na publicidade e no marketing pode ter efeitos psicológicos e muitas vezes danosos para as mulheres, gerando graves conseqüências como bulimia e anorexia nervosa”, diz a psicóloga Fernanda Carvalho. Segundo a revista Exame, as mulheres brasileiras gastaram, em 2009, R$ 73,1 bilhões com setores relacionados à beleza feminina. A exaltação exacerbada da perfeita forma física tem provocado nas pessoas a necessidade de se sentirem aceitas pelo elevado padrão de beleza e
por isso buscam todas as formas possíveis de emagrecimento. “Já havia tentado de quase tudo, mas foi só nesse espaço que consegui emagrecer com qualidade”, diz a vendedora de roupas, Liliane da Silva, 24 anos, que perdeu 1kg e meio após duas semanas de uso contínuo dos shakes. Raquel esclarece que enquanto a pessoa está acompanhando a dieta, os produtos têm efeito, no entanto, quando ela retorna à dieta normal, o corpo volta ao velho peso. “São tratamentos de choques, com abordagens de curta duração”, observa. Público diverso Há centenas de espaços de shakes em Belo Horizonte. Na região do Barreiro, estes locais estão espalhados, em sua grande maioria, nas casas, mas existem estabelecimentos em galerias, universidades e estabelecimentos privados. Não
há um dado preciso do número de espaços, mas acredita-se que no Barreiro haja dezenas destes ambientes. Apenas na região central do Barreiro existem dois locais, com menos de 150m de distância em relação ao outro. Esses ambientes recebem pessoas de faixas etárias diferentes e apesar de atenderem tanto o sexo feminino quanto o masculino, a maioria dos visitantes é de mulheres. Nos locais visitados pela reportagem, os espaços ficavam em lugares menos expostos, como salas internas de prédio ou de galerias. Os produtos custam em torno de R$ 5,00 a R$ 6,00 e podem ser vendidos dentro de pacotes promocionais. Grande parte dos freqüentadores destes locais estão à procura do emagrecimento saudável. “Optei pelos espaços porque é um método que a gente perde peso com saúde”, explica a assessora Jucielly.
da Saúde e que é uma importante etapa do processo digestivo: “sem a mastigação, boa parte do processo de digestão fica para o intestino e inibe o envio de estímulos nervosos para o cérebro”, adverte. Os funcionários que servem as bebidas usam um crachá indicando a quantidade de quilos que perderam. “Perdi 21 quilos. Pergunte-me como”, era a frase que estava escrita na blusa de uma das mulheres que trabalha no local. As paredes exibem fotos que mostram o antes e o depois de clientes que consumi-
Etapas para tomar o shake Primeiro copo Chá verde: desintoxicante e elimina a gordura Segundo copo Chá M.R.G.: energia mental e equilíbrio Terceiro copo Shake: alimenta nutritivamente Valores aproximados dos produtos: R$ 5,00 a R$ 6,00 e podem ser vendidos em pacotes promocionais
ram o produto. Cada consumidor tem seu nome e data de aniversário pregado na parede. “O uso expressivo de imagens mostrando o antes e o depois pode afetar o lado psicológico refletindo na auto-estima dos usuários que estão acima do peso, fazendo com que alguns desejem se tornar mais magros. Contudo, muitas vezes esse efeito não fica apenas no desejo e nos métodos utilizados pelos shakes”, afirma a psicóloga Fernanda Carvalho.
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Veja vídeo com dicas de nutricionista no site: www.jornalimpressao.com.br
Marketing agressivo O ex-vendedor de produtos para emagrecimento, Maurício Magno, 46 anos, largou o antigo emprego para se dedicar à venda de shakes. “No começo a gente pensa que vai ficar rico. O marketing utilizado por essas empresas é tão agressivo que os vendedores começam a falar, a agir da maneira como eles querem. A gente nem percebe que não está ganhando dinheiro”, conta. Maurício conta que a maioria das pessoas que consumiram os produtos emagreceu, no entanto quando pararam de consumir voltaram aos antigos pesos, e em muitos casos até aumentaram. “Enquanto vendia fiquei tão fixo na ideia de emagrecer que quando via os resultados imediatos, não conseguia perceber as outras pessoas que engordaram depois de ter deixado o uso dos shakes”.
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Dossiê
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Caminhos da Investigação Nesta edição, nossa equipe preparou um dossiê especial de nove páginas sobre um assunto instigante e importante: o crime. Nas próximas páginas, você verá algumas características desse universo e até como é possível que a polícia impeça as ações criminosas.
Luiz Ladeira 6 PERIODO
O crime é inerente ao homem. Toda civilização humana através dos tempos conviveu com delitos, criminosos e as medidas tomadas para punir e prevenir atos errados, todas adequadas às características temporais e culturais específicas. Trabalhos como o dos delegados e investigadores de polícia é fundamental para evitar que pessoas ajam da maneira como quiserem e não tenham que pagar por
Entrevista com o jornalista Luiz Ribeiro Página 12
isso. A rotina e os desafios desses profissionais são pontos muito importantes dentro da estrutura de proteção da sociedade. Com o passar do tempo, as atividades criminosas se modernizaram e agregaram ferramentas atuais para facilitar as ações ilegais. A internet é uma arma poderosíssima para os dois lados: tanto para os criminosos, que tiveram seus golpes facilitados e ampliaram o número de crimes praticados, como para a polícia, que pôde combater com mais agilidade e facilidade
qualquer delito de que tenha conhecimento. Apesar de todas as suas características, o crime é algo fascinante. Só esse fascínio explica a quantidade de produções de entretenimento que tratam exatamente sobre o crime em algum nível. Os seriados de investigação, como CSI e Lei e Ordem, são sucessos no mundo inteiro, dissecando vários níveis da criminalidade. Além desse espaço diferenciado, a própria imprensa cobre diversos temas relativos ao crime, ajudando a esclarecer
Crimes virtuais página 9
Lavagem de dinheiro Página 10
Um dia com a delegada Olívia de Fátima, da Polícia Civil Página 13
alguns fatos e prestando um serviço importante à sociedade, quando atua de forma correta e íntegra. Mas os jornalistas podem, também, atrapalhar quando prezam pelo sensacionalismo ou por se mostrarem inertes frente a algum delito. O fascínio gerado pelo crime tem muita ligação com o resultado direto da maioria dos delitos: o dinheiro fácil. As organizações criminosas fazem verdadeiros malabarismos fiscais e organizam sistemas, muitas vezes internacionais, para conseguir legalizar
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Dossiê
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Mundo virtual, crimes reais
Internet trouxe muitos benefícios, mas também novas possibilidades de cometer delitos Paulo Melo
Internet: vilã ou mocinha?
A dificuldade de identificação de criminosos é um dos maiores obstáculos da polícia para resolução das fraudes cibernéticas
Assíria Mirra Marina Messias 6º Período
Edição: Marina Messias Estados Unidos, 1969. No Departamento de Defesa norte-americano nasce a Arpanet, circuito criado para proteger dados do governo e conectar bases militares a pesquisadores durante a Guerra Fria. Nos anos seguintes, a rede foi utilizada por universidades para facilitar a troca de informações entre os estudantes. Quem poderia imaginar que a Arpanet, hoje Internet, se tornaria um mundo sem fronteiras? Atualmente, a Internet abriga 67,9 milhões de usuários somente no Brasil, ou seja, 41,7% da população. Informação, entretenimento, facilidades de compra e venda de qualquer produto, estas são algumas das possibilidades da rede de computadores. Mas, juntamente com todos os benefícios, a Internet possibilitou uma nova modalidade de crime: o virtual. Fraudes em contas bancárias, ameaças e difamação por e-mails e redes sociais, pedofilia. A diversidade de delitos e formas de realizá-los dificulta as investigações policiais e a punição dos infratores. A atendente Débora
Oliveira é apenas uma dos milhares de vítimas desta nova modalidade criminal. Débora sofria ameaças por meio de mensagem eletrônicas e denunciou a polícia. Após monitoramento virtual, os policiais chegaram ao autor, um ex-namorado inconformado com o término do relacionamento.
“Os pedófilos preferem usar lan-houses para se esconder, mas os recursos técnicos que utilizamos, facilitam o trabalho na luta contra o crime” Mário Henrique Laje Pesquisa realizada pelo Ministério Público Federal (MPF) revela que entre 2007 e 2008 as denúncias cresceram 318%. Em Belo Horizonte, funciona a Delegacia Especializada em Crimes Contra o Patrimônio, à qual é ligado o Departamento Es-
pecializado em Crimes de Informática e Fraudes Eletrônicas (Dercife). O agente da Policia Civil Mario Henrique Laje e o investigador Theo Andrade combatem esse tipo de crime há oito anos. Os policiais afirmam que o caminho para a investigação é longo e complexo. Em um universo de seis denúncias por dia, 80% são solucionadas. Todas passam pelo mesmo processo. O primeiro e mais importante passo é a denuncia à policia, que é encaminhada ao juiz. Esse, por sua vez, autoriza a quebra de sigilo virtual do suspeito. Quando acontece a liberação dos dados do acusado, começa o monitoramento virtual. O agente da Polícia Civil Mario Henrique Laje afirma que boa parte dos crimes acontece principalmente em páginas de relacionamentos, salas de bate-papo e e-mails. Ele ressalta que “os pedófilos preferem usar lan-houses para se esconder, mas os recursos técnicos que utilizamos facilitam o trabalho na luta contra o crime”. Segundo Mário, apesar do incentivo policial à denúncia de crimes virtuais, as instituições bancárias preferem pagar o prejuízo quando um de seus clientes sofre esse tipo de fraude. “Mesmo sabendo que o sistema de segu-
rança cibernético que possui é frágil, o banco prefere não dar ênfase a esse problema por questão de credibilidade, e sem a denúncia não podemos agir”, afirma. Theo Andrade lembra ainda que, com o surgimento da internet, as pessoas querem fazer tudo via web por parecer mais cômodo. Porém, o investigador alerta para os perigos desta comodidade e afirma que o melhor é realizar transações bancárias ou compras pela Internet quando for impossível ir ao local. Theo ressalta também a importância do monitoramento dos pais quando os filhos utilizam a Internet, de forma a evitar crimes como pedofilia, por exemplo.
•Entre 2004 e 2009, os crimes virtuais cresceram 6.513% no Brasil. •Dos 10 maiores grupos de hackers do mundo, cinco são brasileiros.
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A internet chegou ao Brasil em 1980, e nas últimas décadas ocorreu um avanço tecnológico acelerado. Esse progresso trouxe uma gama de informações, que o Ministério de Ciência e Tecnologia, criado para coordenar os serviços disponibilizados via web no país, tem dificuldade de acompanhar. Comercialmente a internet ganhou força a partir de 1996 quando as pessoas passaram a ficar interligadas por sites de relacionamento, blogs e negócios financeiros. Em contrapartida, outras pessoas começaram a praticar crimes que antes eram cometidos apenas no mundo real, além de surgir práticas novas de crimes, como, por exemplo, o envio de vírus por email. De acordo com o Código Penal Brasileiro, são crimes cibernéticos todos os atos ilícitos praticados no meio virtual. Relatório divulgado pela Microsoft no fim de 2009 revela que atualmente, no território nacional, são registradas 250 mil denúncias sobre esse tipo de crime ao ano. Um dos delitos mais comuns é a clonagem de cartões bancários. Os hackers (pessoas com grande habilidade em computação) conseguem capturar senhas e dados bancários pelo meio virtual. O programa mais utilizado por eles é o “Key Loger”, popularmente chamado de “Chupa cabra”, cuja principal função é buscar dados bancários em caixas eletrônicos ou sites. A ferramenta envia essas informações para um banco de dados e os criminosos clonam os cartões e ficam livres para sacar dinheiro da conta da vítima. São indiscutíveis os ganhos proporcionados pela Internet, como o acesso a informações ilimitadas, facilidades de compra e venda de todo tipo de produto, além da possibilidade de conhecer pessoas em qualquer lugar do mundo. Porém, deve-se ter cuidado para navegar, pois o mundo digital pode causar danos reais.
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Dossiê
Impressão
Lavagem de dinheiro é desafio para a polícia Novo software chega ao Brasil para auxiliar autoridades a desvendar crimes de lavagem Stefânia Pires Whirllenyy Vieira 6º Período
Edição: Mariana Medrano Ocultar a verdadeira origem de bens financeiros ou patrimoniais é a finalidade do esquema conhecido como lavagem de dinheiro, uma prática complexa, amplamente executada por organizações fraudulentas de todo o mundo. Ligada a transferência de dinheiro entre diversos países, a atividade ilícita tem o intuito de encobrir a procedência ilegal de lucros obtidos por meio de ações criminosas, como roubo a bancos e tráfico de drogas. De acordo com o delegado da Polícia Civil, especializado no combate a lavagem de dinheiro pela Secretaria Nacional de Justiça/MG, Luiz Flávio Cortat, a prática teve início nos Estados Unidos, com o caso Al Capone na década de 1920, e se expandiu posteriormente para países europeus. O governo americano percebeu, então, a necessidade de disciplinar a situação financeira do país, sendo adotada a mesma medida na Europa. Com o passar do tempo e os avanços tecnológicos, como o nascimento da internet, o crime passou a ser
transnacional. Foi assim que surgiu o Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI), especializado em combater esse tipo de crime. Cortat explica que na lei 9613/98 – referente aos Crimes de “Lavagem” ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores – está previsto um rol de crimes que antecedem a lavagem de dinheiro, que vão de tráfico de drogas e de armas até o financiamento de atos terroristas. Com isso, as prisões relacionadas à lavagem são efetuadas de acordo com tais ações criminosas. O caso mais recente em Minas Gerais é o do traficante Luiz Cosme Barbosa, mais conhecido como “Barriga”. Após uma investigação, a polícia descobriu que o traficante contribuía para a entrada de drogas na capital mineira e possuía R$2,5 milhões em bens não declarados. Não há um levantamento oficial sobre o montante de dinheiro lavado em nível internacional, mas segundo Moisés Naím, ex-ministro da Indústria e do Comércio da Venezuela e autor do livro Ilícito - o Ataque da Pirataria, da Lavagem de Dinheiro e do Tráfico à Economia Global, estima-se que o valor total, desde 1990 até os dias atuais,
chega a aproximadamente R$1,5 trilhão de dólares/ano. Modus operandi Para o delegado do Departamento de Divisão de Operações Especiais de Minas Gerail (Deoesp), Raul Euclides, a lavagem geralmente é descoberta quando é feito o depósito de uma alta quantia em dinheiro nos bancos. O banco, onde o dinheiro foi depositado, informa ao Banco Central, que é responsável por avisar a Polícia Federal sobre o investimento.
“Na lei está previsto um rol de crimes que antecedem a prática da lavagem de dinheiro” Flávio Cortat A Polícia Civil faz, então, um levantamento dos impostos declarados pelo dono da conta – Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Prestação de Serviço (ICMS) e Im-
Admirável ídolo mafioso
Paulo Melo
Choperia Al Capone, no bairro da Savassi, faz homenagem ao famoso gângster norte-americano
posto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) – para estabelecer uma comparação. Se os bens que o indivíduo tiver forem maiores do que é declarado, a polícia considera como sonegação. Para movimentar o dinheiro, os criminosos e fraudadores criam empresas fantasmas e contratam profissionais liberais para realizar o trabalho, conhecidos como “laranjas”. Em Minas Gerais, as Delegacias Especializadas em Repressão a Organizações Criminosas (Deroc) são responsáveis por investigar o crime de lavagem. Desde 2008, a polícia está em contínuo treinamento para melhorar as investigações de crime financeiro, que demandam constante aperfeiçoamento do corpo técnico (polícia, Ministério Público e Judiciário) bem como ferramentas e softwares de última geração. Atualmente, existe um projeto de lei com o propósito de oferecer mais mecanismos à Polícia Civil e Federal (Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal) com o intuito de aprimorar o trabalho desses órgãos. Uma das ferramentas mais atuais utilizadas pela polícia brasileira para desmantelar quadrilhas de fraudadores de Em 1928, a expressão da língua inglesa money laundering (lavagem de dinheiro) ficou famosa nos EUA, quando a polícia começou a investigar o atos criminosos do lendário gângster Al Capone. O emigrante italiano chegou na américa com a família em 1894 e, desde a juventude, já se envolvia com quadrilhas de delinquentes em Nova Iorque. Nessa época, Al Capone recebeu uma navalhada no rosto, o que o deixou conhecido como Scarface (cicatriz no rosto). Nos anos 20, o gângster mudou-se para Chicago, onde começou a comandar uma rede de negócios ilícitos que envolvia jogos, prostituição, contrabando de álcool e extorsão. Para omitir a origem do dinheiro iegal, Al Capone comprou uma cadeia de lavanderias, que serviria como empresa de fachada para seus crimes. Os depósitos bancários do di-
licitações, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e corrupção é o Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), gerenciado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública e ligado ao Ministério da Justiça. O LAB-LD é um programa de informática utilizado para a análise e o monitoramento de dados de organizações criminosas, inclusive com o cruzamento de informações sobre quadrilhas que atuam simultaneamente em várias partes do país. Em outubro de 2009, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) firmou acordo com a Secretaria Nacional de Justiça (SNJ) para que o sistema fosse implantado no estado. Advertência Em 2008, o Brasil foi parabenizado pelo Grupo de Ação Financeira Internacional devido ao bom desempenho alcançado nas investigações sobre da lavagem de dinheiro no país. Mas, no ano seguinte, foi advertido pela mesma instituição pela descoberta de envolvimentos criminosos por órgãos responsáveis.
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Leia a reportagem na íntegra no site: www.jornalimpressao.com.br
nheiro sujo eram feitos em nome das lavanderias com notas de baixo valor nominal, para não levantar suspeitas. Durante a Lei Seca nos Estados Unidos, que vigorou entre 1920 a 1933, Scarface ganhou cerca de 100 milhões de dólares por ano. Mesmo sendo tão violento e temido, a polícia americana nunca conseguiu provar o envolvimento direto de Al Capone em assassinatos cometidos por seus capangas. Mas, em 1931, foi condenado a 11 anos de prisão por sonegação de impostos. Apesar de sua influência criminosa, aos 30 anos Al Capone foi nomeado como o homem mais importante do ano (1929), ao lado de Einstein e Gandhi. No cinema, o mafioso já teve sua vida contada cerca de sete vezes, virou música na voz de Raul Seixas e é nome de restaurante em Miami e de uma choperia em BH.
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BELO HOrIzOnTE, OuTuBrO DE 2010
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Como lavar dinheiro sujo
Conhecida também como “crime do colarinho branco”, a lavagem de dinheiro acontece em várias partes do mundo e desafia as autoridades. O esquema é complexo e envolve diferentes tipos de crime, afetando população, governos e instituições financeiras.
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Colocação
Em primeiro lugar, o criminoso deposita o dinheiro sujo em instituição financeira idônea, através de depósitos bancários em dinheiro por meio de laranjas, pessoas físicas que não possuem registro criminal. Essa é a etapa mais arriscada do processo, pois chama muito a atenção pela grande movimentação nas contas dos envolvidos ou pelas transações que envolvem grandes quantias de dinheiro.
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Ocultação
Essa é a etapa em que várias transações financeiras são feitas com o intuito de mudar o formato e dificultar o rastreamento do dinheiro sujo. É a fase mais complexa da lavagem. Transferências de um banco para outro e entre contas de pessoas diferentes em diversos países são os primeiros passos da ocultação. A mudança de moeda e a compra de objetos de alto valor como jóias, barcos, casas e carros é feita com o propósito de mudar a forma do dinheiro
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Reintegração
Nessa última fase, a intenção é fazer com que o dinheiro retorne ao sistema econômico de forma legítima. As formas de reintegrar o dinheiro pode ser por meio de investimentos em empresas locais em troca de participação em lucros; venda dos objetos de alto valor adquiridos na etapa de ocultação ou na emissão de notas frias provenientes de uma empresa de propriedade do criminoso. Aqui, é difícil flagar o criminoso , já que o dinheiro é proveniente de uma transação legal.
Realidade brasileira Três dos mais famosos acusados de fraude envolvidos em casos de lavagem de dinheiro no Brasil representam a população e administram dinheiro público, ocupando cargos no Legislativo e Judiciário.
A lista de crimes cometidos pelo político é extensa. Jader é acusado de desviar pelo menos 110 milhões de reais, além de crimes contra a administração pública, organização criminosa, falsidade ideológica, formação de quadrilha, estelionato etc. Todos eles ligados ao crime de lavagem de dinheiro, do qual o atual deputado federal também é acusado.
Nicolau dos Santos
Jader Barbalho
Paulo Maluf
Ex-prefeito de São Paulo, e atual deputado federal, foi barrado na Lei Ficha Limpa por improbidade administrativa. O político é acusado de desviar cerca de 500 milhões de reais durante obras em uma avenida na capital paulista. No início desse ano, ele e o filho, Flávio Maluf, constavam na lista de procurados da Interpol acusados pela Justiça de Nova Iorque por fraude e roubo.
O juiz desviou cerca de 223 milhões de reais durante a construção da sede do TRT de SP em 98. Condenado a mais de 40 anos de prisão, ele articulou o esquema usando uma conta fantasma, em nome de Pedro Romero – que na verdade não existia – a fim de desviar o dinheiro para o exterior. Ele aguarda decisão da Justiça em prisão domiciliar. Charges: reprodução
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Belo Horizonte, outubro de 2010
Dossiê
Impressão
“Jornalista não julga” Para Luiz Ribeiro, a função do jornalismo é apurar e publicar e não acusar ou prender FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Luiz Ribeiro buscando informações, em campo, para escrever mais uma de suas reportagens
Flávio Magelo 6º Período
Edição: Marina Messias O Jornalismo investigativo busca a transparência nas questões de interesse público e, além disso, oferece ao público a noticia exclusiva. O repórter investigativo Luiz Ribeiro, correspondente do Jornal Estado de Minas no norte do estado, tem 22 anos de carreira e foi premiado 24 vezes pelo seu trabalho. Ribeiro foi o primeiro jornalista a entrevistar a mãe do maníaco de Contagem, Marcos Trigueiro, preso em fevereiro, acusado de estuprar e estrangular cinco mulheres. Ele conta um pouco da experiência no trabalho investigativo. No caso do serial killer do bairro Industrial, a imprensa ajudou ou atrapalhou as investigações da polícia? Acho que a imprensa ajudou nas investigações. Nessa questão, é preciso enaltecer as ações da imprensa, como a revelação, feita com exclusividade pelo Estado de Minas, sobre a existência de um serial killer na Região Metropolitana, ao afirmar que ele havia assassinado pelo menos três mulheres em Contagem. A informação foi publicada em 2 de fevereiro. A partir daí, as investigações foram intensificadas e a prisão do maníaco ocorreu em 24 de fevereiro. Isso quer dizer que a imprensa, de alguma forma, contribuiu. A divulgação pela polícia da existência de um psicopata foi feita com o objetivo de informar e evitar novas vítimas ou uma tentativa de escon-
der os erros na investigação, como no caso da estudante de Direito Natália Cristina Paiva, vítima enterrada como indigente? É preciso lembrar que divulgação não foi feita, primeiramente, pela policia. Mas, pela imprensa. A polícia apenas confirmou a existência do serial killer quando as investigações já estavam adiantadas. Por isso, o chefe da Policia Civil, delegado Edson Moreira, afirmou que a prisão do maníaco era “questão de dias”. Acho que ele deu a declaração naquele momento para tranqüilizar a população e, claro, fortalecer a credibilidade da policia, que ficou abalada com os erros cometidos no caso da morte da estudante Natália Paiva. Um dos erros evidenciados foi a falha de comunicação entre o Instituto Médico Legal (IML) com a delegacia de homicídios de Ribeirão das Neves e com a Divisão de Pessoas Desaparecidas. Como você chegou até a mãe de Marcos Trigueiro em tão pouco tempo após a descoberta e prisão do assassino? Logo que o maníaco foi preso, notei que não se falou nada sobre a origem dele. Não se falou simplesmente porque era algo desconhecido. Então, um morador de Brasília de Minas (norte do estado) disse que a família de Marcos Trigueiro era daquela cidade. Isso ocorreu em 25 fevereiro, um dia após a prisão dele. Imediatamente, passei a me concentrar naquela informação. Consegui falar com o morador de Brasília de Minas, mas quando disse que era do jornal, ele tentou desconversar. Preocupado com a reper-
cussão do caso, ele me pediu para desistir da história. Mesmo assim, concedeu a informação de que o maníaco esteve preso, há alguns anos, em São João da Ponte, por ter cometido outro crime no norte de Minas. Era um fato novo importante: o mesmo homem tinha sido preso e liberado por algum motivo. No meu trabalho de apuração ficou mais uma vez demonstrado que as boas fontes do
“Para me preservar, tenho cuidado de guardar documentos e nunca publicar matérias com acusações duvidosas” Luiz Ribeiro
jornalismo investigativo nem sempre ocupam cargos públicos. No fórum de São João da Ponte, falei com um escrivão mesmo reticente, cedeu a informação sobre o período em que Marcos esteve na prisão da cidade. Ele ficou preso por seis meses devido a um furto cometido, em Lontra, município vizinho a Brasília de Minas e São João da Ponte. Além disso, era importante localizar a mãe do maníaco porque dois psicólogos explicaram que ele escolhia as vítimas com características físicas da sua genitora. Por meio de um comerciante de Lontra (vítima do furto cometido por Marcos), soube que a mãe do serial killer ainda residia em Brasília de Minas. Assim, cheguei até ela. Você foi agraciado, em 2008, com o Prêmio Esso de Jornalismo com a série de reportagens sobre o caos da saúde no Norte de Minas. Por tratar de um assunto que envolvia interesses políticos, o tema trouxe medo de sofrer represálias, já que você mora na região? De fato, para quem trabalha no interior é mais complicado lidar com jornalismo investigativo porque é fácil ser encontrado e aumentam a pressão e os riscos. Para me preservar, tenho o cuidado de guardar documentos e nunca publicar matérias com acusações duvidosas. Jornalista não acusa, prende ou julga. Apenas apura e publica. No caso das reportagens sobre o caos na saúde fui a um dos municípios envolvidos. O que havia sido investigado pela Controladoria Geral da União – CGU – era que o dinheiro era enviado para atender comunidades rurais e
eram encaminhados relatórios ao Ministério da Saúde como se tudo fosse perfeito: atendimento médico, remédios, postos e equipes de saúde. Mas, na prática, quase nada funcionava. Durante dois dias, percorri a zona rural do município e constatei a realidade: faltam médicos e equipamentos não funcionavam. Fui ao secretário de saúde e iniciei a conversa com a lista das comunidades rurais do município e, para cada localidade que eu falava, ele respondia que o atendimento estava muito bom. Somente depois que a reportagem foi publicada o secretário viu a realidade divulgada com a versão dele ao lado. Houve pressão de alguns políticos. Mas nada me incomodou porque estava tudo documentado.
Vida criminal de Marcos Trigueiro • O primeiro crime de Marcos Trigueiro, o roubo de uma bicicleta, aconteceu antes de completar 20 anos. • O serial killer foi preso no dia 24 de fevereiro de 2010 e confessou cinco homicídios. • A condenação pelos cinco crimes pode chegar a 200 anos. • Marcos ainda é acusado de assassinato de uma filha de três meses de idade, morte de um tio, e estupro de outras duas mulheres.
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Confira a entrevista na íntegra com o jornalista Luiz Ribeiro no site: www.jornalimpressao.com.br
Jornalista ao lado da fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, morta no terremoto do Haiti, no início deste ano
Dossiê
Impressão
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Delegada, com orgulho
Enfrentar o crime e o preconceito se tornou a missão diária na vida da policial mineira maria luiza mattar
Maria Luiza Mattar Thaís Paiva
que”, conta a delegada. A luta pela igualdade só foi conquistada recentemente, em 1970, quando elas puderam, pela primeira vez, participar de um concurso da Polícia Civil.
5º Período
Edição: Mariana Medrano Acompanhar o trabalho da perícia, ir ao local do crime, em alguns casos, enfrentar bandidos. Na maioria das vezes, esse é o papel daquele típico policial viril que você assiste em filmes e séries de TV. Porém, longe de histórias da ficção, esse é o ofício exercido diariamente pela delegada da Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente de Minas Gerais (Dopcad), Olívia de Fátima Braga Melo, que completa no fim deste ano 20anos de carreira. Formada em Direito, Olívia confessa que nunca se imaginou como policial e que apenas fez o concurso para a Polícia Civil com o intuito de testar conhecimentos. Passou na prova e hoje não tem dúvidas de que sua profissão a realiza plenamente. No início da carreira, ao assumir o primeiro emprego, em Formiga – interior de Minas – a família de Olívia demonstrou certo receio com relação à escolha da profissão. Enquanto o pai se orgulhava do cargo da filha, a mãe ficou muito temerosa. Primeiro, pelo fato da filha estar, pela primeira vez, longe de casa e, segundo, por ela carregar uma arma na cintura. Olívia, hoje esposa e mãe, diz que o marido e as duas filhas admiram seu ofício. Ela acrescenta que o entusiasmo não é à toa, pois tanto ela como suas colegas de
Membros da equipe da Polícia Civil/MG Total de Policiais
7.552 Mulheres Policiais
1539 Delegados na Polícia
1.097 Delegadas na Polícia
263 Fonte: Polícia Civil, dados de jun/08
Olívia encara uma rotina de trabalho árduo e quase sempre prolonga o serviço além do horário
profissão estão conquistando cada vez mais os seus postos com um trabalho exemplar. Emoção Diferentemente do que muitos ainda acreditam, a mulher não é mais vista como um ser indefeso. Olívia afirma que elas se emocionam com muitos casos, mas que isso é uma característica do próprio ser humano. Os momentos mais complicados da carreira foram atribuídos ao trabalho na apuração de violência sexual, em que as vítimas eram crianças. Ela desabafa dizendo que “a época foi muito angustiante, pois me deparava com situações de crianças com três, quatro anos, que, sem nenhuma de-
fesa e com a maior inocência, eram abusadas pelos próprios parentes”. Porém, a delegada acredita que, apesar de existir a emoção, ela não pode ser percebida em hipótese alguma, sendo necessário levantar uma barreira diante das pessoas que passam por situações criminosas. “Nós da polícia lidamos com um povo muito carente de ser ouvido, carente de recursos financeiros, de amor e apoio, portanto, não seria coerente mostrar fragilidade, uma vez que eles buscam força em nós profissionais”, acrescenta. Direitos iguais Apesar de tantas tarefas no trabalho, a delegada acre-
Jornada dupla Quando o assunto é conciliação entre trabalho e família, a delegada Olívia de Fátima reconhece que sua vida é atarefada como a de muitas mulheres e, por isso, conta com a ajuda de uma empregada em casa, que cuida da faxina e do almoço. Além disso, o marido divide as responsabilidades, levando e buscando as filhas na escola, no médico ou na natação. “Ajudo minha esposa no que posso para que ela consiga conciliar a vida profissional com a pessoal, pois entendo que sua carreira necessita de grande dedicação”, assegura. Segundo os Indicadores Sociais de 2009 do IBGE, quase 90% das mulheres que trabalham fora cuidam também dos afazeres domésticos,
contra 46,1% dos homens na mesma situação. Ao saber da pesquisa, o marido da delegada brinca e comenta, “no que depender de mim essa porcentagem vai crescer”. Em meio a tantos compromissos, que incluem por vezes até os finais de semana, Olívia consegue ter tempo livre para o lazer. Além disso, a mulher que é delegada, filha, mãe e esposa também é romântica e gosta de sair para jantar com o marido. Quando está sozinha, aproveita para ler um livro ou assistir um bom filme em casa, como os de suspense - para não perder o costume da investigação: “Adoro os filmes do diretor Alfred Hitchock e, inclusive, tenho um acervo das obras em casa”.
dita fielmente que as mulheres trouxeram para a profissão características relevantes. Para ela, as delegadas são, em relação aos homens, mais dedicadas, compromissadas e se apegam aos detalhes, além de serem mais prudentes e perfeccionistas. Contudo, mesmo com todo o reconhecimento, Olívia relembra um tema nada agradável quando o assunto diz respeito à mulher e ao trabalho nessa área: o preconceito. No começo de sua carreira a discriminação era frequente. “Um dia fui me apresentar para um chefe e ele me perguntou o que estava fazendo lá, pois, segundo ele, mulher nasceu para esquentar a barriga no fogão e esfriar no tan-
Rotina puxada Olívia de Fátima Melo é responsável por todas as três unidades subordinadas à Dopcad. Uma delas é onde trabalha, no bairro Barro Preto (região central). Lá são analisados os casos de menores infratores em situação de flagrante. As outras unidades são no bairro Sagrada Família, região Leste, em que o trabalho é feito com os menores infratores cuja situação não é de flagrante, e outra na Avenida Afonso Pena, região Sul, destinado apenas à proteção da criança e do adolescente. A delegada chega às 8h30 e sai às 18h30, aproximadamente. Sua primeira obrigação do dia é acompanhar as reuniões que acontecem todas as manhãs. Fazer a leitura do Boletim Interno (BI) da Polícia Civil é a sua segunda tarefa. Somente após receber todas as orientações do BI que a delegada dá início ao expediente que lhe compete e que, na maioria das vezes, não é suficiente para terminar com as obrigações diárias. “Eu não gosto de ir para casa sem acabar o serviço do dia, mas isso é quase impossível. Minha mesa está sempre cheia, então, dou prioridade para as emergências”.
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Entre outros afazeres, as reuniões e entrevistas são frequentes
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Dossiê
Belo Horizonte, outubro de 2010
Impressão
Crimes e astúcia na TV
Séries investigativas conquistam o público no mundo inteiro, principalmente no Brasil
Ariane Archanjo Marina Messias Rafael Sandim 6º Período
Edição: Marina Messias CSI, Medical Detectives, Psych, Monk, Law and Order, Cold Case. Comédia, aventura ou ação, todas estas séries têm algo em comum, um gênero que se destaca atualmente: investigação policial. Filmes, programas de TV e novelas investem nesse tipo de tema. Muitas pessoas não conseguem piscar os olhos quando veem uma cena de ação, se envolvem na trama e tentam desvendar o mistério apresentado. Com isso, muitos espectadores optam pelas séries investigativas, que possuem enigmas a serem desvendados no primeiro episódio ou durar uma temporada inteira. Atualmente, a maior parte dos seriados investigativos é produzida nos Estados Unidos. O país possui um grande acervo de séries do gênero que agradam qualquer tipo de público, desde aquele que prefere a realidade, com Medical Detectives (análise de casos reais e seus desdobramentos) até The Good Wife (a série tem sua trama centrada em uma esposa que precisa reconstruir a reputação depois de um escândalo que envolvia seu marido). Muitos não acreditam que o tema esteja em alta, como é o caso do publicitário Vitor Drumond. De acordo com Vitor, o tema nunca teve a atenção merecida. “Muitas pessoas perdem um bom seriado por preconceito bobo, alguns amigos me dizem que é tudo bes-
divulugação
teira norte-americana”, afirma Vitor. Mas o que comprova que os seriados mantêm a sua tendência é a renovação de tantas séries investigativas. Por exemplo, Cold Case, que já está em sua sétima temporada, e The Mentalist, que estreou em 2009 e se tornou sucesso imediato, o que garantiu a próxima temporada e a alegria dos fãs. Arquivo-X é uma das séries sobre investigação mais famosas. O seriado recebeu três Globos de Ouro nos anos 90, foi exibido durante nove anos e adquiriu uma legião de fãs. Protagonizado por David Duchovny e Gillian Anderson, como os agentes Fox Mulder e Dana Scully, a trama seguia dois investigadores que procuravam soluções para fenômenos paranormais. Embora tenha feito muito sucesso na TV, a transferência de Arquivo X para os cinemas não conquistou a simpatia dos fãs. A franquia conta com dois filmes, que chegaram aos cinemas em 1998 e 2008. O primeiro teve boa recepção e passou dos US$ 150 milhões de bilheteria mundial. Já o segundo não conquistou o público nem a crítica, e terminou sua passagem nos cinemas com US$ 68 milhões. No Brasil, as séries investigativas têm se mostrado cada vez mais presentes na predileção dos espectadores. A emoção, o suspense, o chocante tem sido o que as pessoas buscam nos seriados, mas mesmo assim, eles devem ser convincentes. Para o jornalista Luiz Augusto Almeida, a febre dos seriados emerge-se por dois motivos: o seriado é uma ficção próxima do real e as proMARINA MESSIAS
Francisco destaca falta de tecnologia em delegacias do interior
CSI é um dos seriados americanos de investigação policial de maior audiência em todo o mundo
duções estão cada vez melhores Luiz afirma que “o importante é que o cidadão tenha condição de diferenciar o que está vendo da verdade”.
“O importante é que o cidadão tenha condição de diferenciar o que está vendo da verdade” Luiz Augusto Almeida Fictícias ou reais, com humor ou suspense, as séries investigativas alcançaram destaque na TV, fizeram muitos fãs e prometem ficar no topo da
preferência do público por muito tempo. Ficção e realidade Grande parte das séries investigativas trata de casos fictícios, o que cria questionamentos acerca das técnicas usadas na solução dos crimes. É possível desvendar uma série de assassinatos apenas com uma impressão digital? Um fio de cabelo pode fazer diferença na investigação de um crime? Ao acompanhar séries como Medical Detectives, estas questões são respondidas O seriado apresenta casos reais e os métodos utilizados pela polícia norte-americana para solucioná-los. Episódios intrigantes e cheios de coincidências chamam a atenção do espectador. Exemplo disso é um episódio de Medical Detectives. Po-
liciais tentavam desvendar a morte de uma senhora de 70 anos que havia sido agredida com uma chave de fenda. A arma do crime possuía o DNA de seu filho e, obviamente, ele foi considerado o principal suspeito.A polícia concluiu que o filho era o assassino porque o rapaz estava endividado. Mas, após uma investigação aprofundada, chegou ao verdadeiro assassino: um mendigo invadiu a casa e, ao ver a mulher, assustou-se e a matou. As digitais do filho estavam na arma porque, no mesmo dia, o rapaz também havia sido agredido pelo homem. Apesar de casos assim não ocorrerem todos os dias, eles provam que fatos peculiares também são desvendados.
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Confira a linha do tempo com psicopatas e crimes famosos: www.jornalimpressao.com.br
E a tecnologia brasileira... Casos intrigantes e métodos curiosos na resolução de problemas são os atrativos das séries investigativas para a maior parte do público. Apesar de apreciar o gênero televisivo, o estudante de enfermagem Jean Marques acha que os artifícios usados na TV são muito avançados e não existem no Brasil. Ao contrário do que Jean acredita, o país possui tecnologia para investigação de crimes, como afirma o investigador da Polícia Civil Robson Nolasco Ferreira, da Delegacia de Investigação de Homicídios do Barreiro: “As grandes capitais brasileiras contam com praticamente todas as
técnicas que as séries de TV apresentam”, garante. A apuração, exame de resíduos, análise de DNA e impressões digitais são alguns dos métodos citados por Nolasco que são utilizados tanto nas séries quanto na vida real. “O público se interessa pelo diferente, gosta de poder comparar com a realidade”, diz Nolasco. Enquanto Robson Nolasco afirma que nas grandes capitais é presente a tecnologia para investigação, o detetive Francisco de Assis Pena ressalta a deficiência do setor nas Delegacias do interior de Minas Gerais: “os seriados usam meios que a polícia, normal-
mente, não tem”. Francisco ressalta ainda que a Polícia Civil das grandes capitais brasileiras conta com mais recursos para solução de crimes do que as delegacias de cidades menores. Outro fator apontado pelo detetive é a atenção da imprensa, que pode influenciar a resolução de fatos. Em casos de falta de equipamentos para investigação, o detetive garante que a habilidade individual é decisiva para a solução de qualquer caso, desde um homicídio a crimes relacionados ao tráfico. “Geralmente, um caso é desvendado por meio de denúncias e pela percepção do policial aos detalhes”, afirma.
Dossiê
ImPrESSãO
BELO HOrIzOnTE, OuTuBrO DE 2010
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isAbellA bArroso
Law & Order 1990 1991
1992
SPIN O
1993
S A V I T A G I T S E V N I S E I R É S E FFS D
Audiência determina o tempo de vida de um programa de televisão. Se o público aprecia, os produtores elaboram vários produtos equivalentes, caso contrário, o programa sai do ar rapidamente. Quando uma série de TV alcança grande sucesso, o resultado imediato é o lançamento de novas temporadas ou seriados similares.
1994
1995
O surgimento de séries a partir de outras tramas é chamado spin-off. As derivações mais conhecidas e de maior êxito atualmente são originadas de séries investigativas, como CSI, NCIS e Law and Order.
1996
1997
CSI
1998
1999
Law & Order: Special Victms Unit
NCIS
2000
2001
A série acompanha a rotina de detetives do departamento CSI de Las Vegas. Os cientistas forenses desvendam casos incomuns e misteriosos. Para solucionar crimes a partir de pequenas evidências, a divisão criminal conta com tecnologia avançada e métodos científicos. CSI: Crime Scene Investigation estreou no ano 2000 e, em 2010, alcança a 10ª temporada. O sucesso da série levou a criação de dois spin-offs: CSI Miami e CSI New York.
CSI
Law & Order: Criminal Intent CSI: Miami
NCIS
2002
2003 CSI: New York
2004 Law & Order: Trial by Juri
2005
Cancelado
O seriado investiga crimes que envolvem a Marinha dos Estados Unidos e os fuzileiros, sem levar em consideração os cargos ocupados pelos suspeitos. A série estreou em 2003 e atualmente, exibe a 7ª temporada. A equipe investiga qualquer tipo de crime relacionado à Marinha, desde homicídios a roubo de submarinos. Em 2004 e 2006, NCIS recebeu o prêmio de Melhor Série de TV do Ascap Awards (Prêmio oferecido pela Sociedade Americana de Autores, Compositores e Editores).
2006
Law & Order 2007
2008 NCIS: Los Angeles
2009
2010
Law & Order: Los Angeles
Transmitida durante 20 anos (estreou em 1990 e exibiu o último episódio em maio de 2010) a série se tornou a de maior duração até hoje nos Estados Unidos. Law and Order acompanha crimes ocorridos em Nova Iorque e os esforços de policiais e promotores para solucioná-los. Os episódios apresentam duas etapas: a primeira mostra a investigação policial e a última, o desenvolvimento do processo no tribunal. A série se tornou fenômeno e gerou quatro derivações.
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BELO HOrIzOnTE, OuTuBrO DE 2010
Conexões midiáticas
ImPrESSãO
Você está conectado?
Com a explosão das redes sociais, o público e as empresas se aproximam cada vez mais, #comolidar?
@isabelaaraujo @_ricardolima_ @robertoromerojr 6º PeríoDo
edição: @marimedrano O mundo está na internet. As empresas, as pessoas e até os bichos de estimação estão na rede. O universo online alcançou tamanha abrangência que transformou a maneira de interagir da sociedade e acabou por se tornar essencial em muitas ocasiões. Fato é que, a cada dia, mais e mais pessoas se conectam e a todo momento surgem novas opções para as relações virtuais. Um dos exemplos dessa nova forma de interação é o uso crescente dessas mídias como ferramenta de comunicação corporativa. Em dias em que ninguém mais tem tempo e paciência para as ligações intermináveis dos vendedores de telemarketing, as empresas encontraram uma solução mais prática, a de se deslocar para o ambiente onde o público se encontra na maior parte do tempo: na frente do computador. O relações públicas Marcelo Dias enumera os benefícios que o empreendedor terá optando pela conexão com o público-alvo pela internet: “É grátis tanto para a empresa quanto para os clientes. A corporação pode informar, propagandear, falar o quanto quiser para milhares ou até milhões de pessoas ao mesmo tempo e, o mais importante, também pode responder a essas pessoas com a mesma facilidade com que expõe suas idéias”. Parece a fórmula mágica para a comunicação empresarial. Basta criar um Facebook, um Orkut e uma conta no Twitter, e está pronto um meio de comunicação e publicidade rápido e eficaz. Entretanto, é necessário tomar certos cuidados já que a vida na web, como em qualquer outro
meio, precisa de regras para ser bem sucedida. A comunicação na internet é rápida. Uma vez conectado, com infinitas opções de informação e entretenimento, o que o usuário menos quer é perder tempo. “A regra principal na internet é ter agilidade. Pense rápido e haja antes que alguém dê o furo primeiro e consiga mais seguidores do que você”, explica Marcelo, que trabalha na assessoria de comunicação online de uma faculdade de Belo Horizonte. Com intuito de auxiliar aqueles que querem aperfeiçoar o jeito de se relacionar pela web, já foram desenvolvidos aplicativos de pesquisas e estatísticas para que as empresas descubram qual é o melhor meio de interagir com o público, como a ferramenta online chamada Scup. A publicitária e webwriter Érika Navarro, especialista em mídias sociais, afirma que esse é um passo essencial para o uso das redes. “Geralmente é feita uma análise em todos os aplicativos, definindo o público, seu perfil, a maneira com que eles interagem e o tipo de conteúdo gerado por eles. O número de citações relacionadas à empresa aponta qual a melhor abordagem a ser tomada”, explica. As rápidas mudanças e a fluidez das redes sociais forçam os profissionais de muitas áreas, principalmente do marketing e da publicidade, a estarem atentos. Na divulgação pela web o público deixa de ser apenas “alvo” e participa ativamente das campanhas, que dependem cada vez mais do usuário para serem difundidas. Marcelo Dias comprova o fato brincando que “na internet, não existe mais a caça e o caçador. Todos se tornam iguais na selva digital”.
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Confira uma lista de twitters de jornalistas no site: www.jornalimpressao.com.br
rt@Marcelo Dias Na internet, não existe mais a caça e o caçador. Todos são iguais na selva digital.
Tendências na rede Além de todos os detalhes, as mídias sociais ainda possuem outra peculiaridade: elas vão e vem como a moda. Com a quantidade de aplicativos que vem sendo criados para facilitar a vida dos usuários, basta esse ou aquele site apresentar uma novidade para conseguir desbancar o então líder em popularidade. O Facebook, por exemplo, maior rede social do planeta e, atualmente, o site mais acessado nos EUA, começa a ganhar os usuários brasileiros do Orkut, rede com mais de 23 milhões de usuários dos quais, até janeiro de 2008, 80% eram brasileiros. Hoje, depois da perda de mais de 34% dos cadastrados, a porcentagem de usuários no Brasil não chega nem aos 51%. O DJ Luís Carlos Fernandes faz parte do grupo de migrantes que deixaram o Orkut por preferir o Facebook. “É mais prático e mais rápido. As informações que eu preciso são de fácil acesso no site. Mas a rede que eu mais uso mesmo é o Twitter. Por ele eu me atualizo constantemente de acordo com os meus interesses. No Twitter eu controlo o que leio através de quem eu leio”. Questionado sobre as facilidades da rede relativamente nova, Luís, que usa o nickname @l0uis, afirma: “o Twitter é mais dinâmico e interessante. Além disso, Orkut, Twitter e Facebook são completamente diferentes. Enquanto o Orkut e Facebook pesam mais para o lado de interação social, ao Twitter é atribuído um caráter bastante informativo”.