Edição 187 - Caderno 1

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Ano 29 • número 187 • Maio de 2012 • Belo Horizonte/MG

As mais novas do passado PÁGINA 4

A quem servem os nobres vereadores PÁGINA 8

Os monarquistas estão chegando... PÁGINA 10

Caderno do!s - música, cinema, artes plásticas, quadrinhos, resenhas e zumbis


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Belo HorIzonte, maIo de 2012

primeiras palavras

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“Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”

eXpedIente

REITOR Prof. Rivadávia C. D. de Alvarenga Neto

dany Starling 6º peRíodo

edição: Gustavo pedersoli Dentre tantos ensinamentos, este talvez seja o mais importante deixado por Millôr Fernandes aos jornalistas brasileiros. Esta e outras tantas lições são a herança que o velho mestre nos legou e que servem para abrandar a tristeza e o vazio que sentimos com sua ausência. Se já não está mais entre nós, contudo, os exemplos e a obra de Millôr servem como baluarte para a prática jornalística no Brasil. Esta nova edição do IMPRESSÃO nasce sob os auspícios dos ensinamentos de Millôr. Oposição acima de tudo, princi-

palmente aos paradigmas do jornalismo que abunda nos jornais contemporâneos. O que se pretende, nas páginas a seguir, é um contraponto à pasteurização, à mesmice, aos modelos prontos e ao engessamento dos manuais. Sob a tutela dos professores Maurício Guilherme e Leo Cunha, o IMPRESSÃO tem como bandeira o signo da experimentação e da procura premente por novidades. Não apenas na narrativa, mas nas imagens, no conceito e na maior interação entre os alunos do UniBH e seu jornal. Como um autêntico laboratório, o jornal busca ser um celeiro de ideias e de novos parâmetros de jornalismo. Sem a preocupação em se

dividir por editorias estanques, as páginas a seguir abrigam matérias que caminham por vários segmentos e resgatam o jornalismo de reportagem, no qual a sensibilidade e o olhar crítico dos alunos ganha espaço diante do fato. É o que vocês vão ver na seção “Eu estava lá”, com a matéria do aluno Guilherme Rezende sobre o Rock in Rio. Outra seção que estreia no IMPRESSÃO é “Minha BH”, onde a aluna Andressa Resende comenta os efeitos da dança, na capital mineira, para a recuperação de deficientes físicos. Do mercado de livros históricos à ação dos vereadores em Belo Horizonte, passando pelos neo-monarquistas e pelo confronto entre dislexia e autoesti-

ma, o IMPRESSÃO também dá espaço à visão de mundo dos alunos, que surge em artigos, resenhas e crônicas. A cultura pede passagem e aparece nas matérias sobre artes plásticas, música e quadrinhos. Por fim, é preciso lembrar aos alunos do UniBH que o IMPRESSÃO está aberto a todos vocês. Não existe uma equipe fechada de produção. Pelo contrário! Venham nos fazer uma visita no quinto andar do CPM. Tragam sua pauta, sua sugestão, sua ideia, sua crítica. Ou passem aqui, apenas, para bater um papo. Sem vocês, estudantes de jornalismo, o IMPRESSÃO não é nada. Ou, como diria o mestre Millôr: “O importante não é o relógio. São as horas”.

INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGN Prof. Rodrigo Neiva COORDENAÇÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Profa. Fernanda de Oliveira Silva Bastos

LABORATÓRIO DE JORNALISMO IMPRESSO EDITORES Prof. Leo Cunha Prof. Maurício Guilherme PRECEPTORA Profa. Ana Paula Abreu (Programação Visual) ESTAGIÁRIOS Camila Freitas Guilherme Pacelli Jéssica Amaral MONITORES Dany Starling Gustavo Pedersoli Marina Fráguas LAB. DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS EDITORA Profa. Lorena Tárcia Parceria LACP – Lab. de Criação Publicitária Ilustrações Paulo Henrique Fernandes (aluno de Publicidade e Propaganda) IMPRESSÃO / TIRAGEM Sempre Editora 2000 exemplares

eleito o melhor Jornal-laboratório do país na expocom 2009 e o 2º melhor na expocom 2003 O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pelos professores Maurício Guilherme e Leo Cunha, com os alunos do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo - do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço. Participe do IMPRESSÃO e faça contato com a nossa equipe: Rua Diamantina 463 Lagoinha – BH/MG CEP: 31110-320 Telefone: (31) 3207-2811 Email: impresso@unibh.br

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Visão crítica

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ARTIGOS

Brasileiro não gosta de ler porque essa oportunidade nunca lhe foi dada Guilherme Rezende 7º período

Edição: Gustavo Pedersoli Sempre ouço de várias pessoas, de diferentes classes sociais, que o brasileiro não gosta de ler. Diante dessas afirmações, eu sempre me pergunto: o brasileiro tem acesso correto à leitura? Volto à minha infância. Sempre gostei de ler. Na minha casa, os livros tinham tanta importância quanto meus brinquedos. Na estante, figuravam carrinhos, caminhões, pipas e... livros. Meus pais e eu trocávamos informações sobre livros e autores. Comecei pela leitura mais saborosa que uma criança pode fazer: Maurício de Sousa e sua turminha. Passei por Monteiro Lobato. Pedrinho era tão íntimo quanto meu vizinho de porta no prédio onde morava. Com 16 anos, já lia Roberto Drummond, Jô Soares, Fernando Sabino e meu preferido: Luis Fernando Verissimo. Interessante observar que, quando faço uma viagem à minha infância e à literatura que a cercava, sempre me lembro da minha casa, nunca da escola. O

motivo é simples. Com oito anos, já era obrigado a ler Machado de Assis, Eça de Queiroz e tantos outros autores clássicos que – sem juízo de valor – não caem bem a uma criança. Linguagem pesada, temas densos, questões e anseios que passam longe do universo infantil. Hoje, com modesta bagagem literária, atrevo-me a ler os clássicos. Talvez para superar o trauma de saber qual era, realmente, o lance com Capitu. Questão que tive que resolver sem antes mesmo saber nada do mundo adulto e seus labirintos freudianos. A infância nos instiga a ter prazer nas ações. A escola nos tolhe. Os pais, há muito, deram de papel passado aos professores a responsabilidade da educação de seus filhos. E pensar que quem me ensinou a ler a primeira palavra foi meu pai... Quando li pela primeira vez a palavra “bola”, meus olhos se estatelaram. Por vezes, adiava a brincadeira no quintal para buscar palavras em jornais velhos que eu talvez pudesse conhecer. Tudo sem obrigação e com o deleite que uma criança merece. Se pudéssemos incentivar a

leitura com textos leves, gibis, crônicas, contos, em vez dos clássicos, daríamos de fato a oportunidade de o brasileiro dizer se gosta ou não de ler. Temos ainda um agravante. A língua portuguesa, ensinada e aprendida de modo arrastado por muitos, é impiedosamente maltratada, julgada e condenada nas redes sociais. O pouco que se sabe é desconstruído por abreviaturas. Com isso, até o próprio acesso à internet fica prejudicado. Alunos que fazem pesquisa na Web, frequentemente, mal leem o primeiro parágrafo de um texto e já o colocam no trabalho. O resultado é catastrófico. Talvez seja a hora de recorrermos ao simples. É preciso recorrer à Mônica e sua turminha, ou às aventuras do caçador Pedrinho, e promover profunda reforma nas bases da educação infantil brasileira, para que, no futuro, já adultas, nossas crianças possam, com tranquilidade e preparo, lidar com os grandes problemas da humanidade. Enquanto esse tempo não chega, o bom mesmo é ficar sentado, calado, com os olhos atentos, ouvindo as histórias de Dona Benta.

Em busca do “para sempre” Camila Corrêa 7º período

Edição: Gustavo Pedersoli Cientistas russos anunciaram que pretendem clonar um mamute pré-histórico. O animal que dará origem ao clone está congelado há mais de dez mil anos. O procedimento ficou mundialmente conhecido em 1996, quando Dolly, a ovelha, foi criada na Escócia. No Brasil, a primeira clonagem de um mamífero ocorreu em 2001. No mesmo ano, ia ao ar, pela Rede Globo de Televisão, a novela O Clone. Na trama, grande parte do enredo se baseava na questão ética da intervenção. Pergunto-me, porém, qual é a real utilidade desse procedimento. Os cientistas têm algum propósito com a clonagem ou esta é mais uma disputa de ego? Há anos assistimos, de braços cruzados, à guerra espacial entre a extinta União Soviética e os Estados Unidos. Enquanto uns mandavam cachorros à Lua, outros enviavam macacos.

Em 1969, “um pequeno passo para o homem e um salto gigantesco para a humanidade” foi dado por Neil Alden Armstrong. O astronauta norte-americano foi o primeiro de nossa espécie a pisar no satélite natural da Terra. Desde então, muitas viagens ao espaço foram realizadas. As excursões, porém, não trouxeram ganho efetivo aos norte-americanos, ou aos russos. Que dirá para toda a humanidade. O comediante George Carlin, mundialmente conhecido por suas críticas sociais e vencedor de cinco Grammys, apontou um dos grandes problemas da humanidade em uma de suas inúmeras performances: “Queremos salvar o planeta e esquecemos de que quem precisa de ajuda somos nós. A Terra já existia há quatro bilhões de anos e provavelmente vai existir sempre. Nós não”. A tentativa infindável do homem de se sentir responsável pela criação ou manutenção das espécies indica, além da crescente capacidade científica, nossa insegurança diante do universo e

da limitação: o medo do fim. Não aceitamos que as coisas, inevitavelmente, acabam. E o fim é parte do ciclo. As referências religiosas, a esperança da vida eterna e a fé no “para sempre”, que quase sempre não existe, juntam-se à ciência. Saímos em busca da ressurreição das espécies e, de maneira indireta, da manutenção eterna dos que ainda não se foram. Filmes de ficção tentaram explicar como seria essa reinvenção de espécies extintas. O mais popular, Jurassic Park, de Steven Spielberg, encantou milhões de espectadores em todo o mundo. É necessário lembrar, porém, que estamos falando de vida real, de espécies as quais não conhecemos o comportamento e de invenções que podem não terminar com finais felizes, como nos filmes. Descobrir cura para doenças, amenizar enfermidades ditas incuráveis, tudo isso faz da ciência algo indispensável para a humanidade. Alterar a lógica das espécies, porém, talvez seja exagero.

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Mídias e tecnologias

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O outro lado da história

fotos : divulgação

Livros históricos escritos por jornalistas aquecem mercado editorial e revelam interesse dos leitores brasileiros por fatos e personagens da nação

Cristiane Fonseca Diego Costa Samuel Santos 7º período

Edição: Gustavo Pedersoli

Laurentino Gomes vendeu mais de 1,2 mi de exemplares; Mary Del Priore também entrou na lista de best-sellers

História e jornalismo são áreas próximas. Um jornalista que se preze, afinal, deve conhecer muito bem os “movimentos” históricos. Nos últimos anos, essa natural proximidade tem levado jornalistas a se destacar pela publicação de livros sobre momentos e personagens marcantes na trajetória do Brasil. O que chama a atenção é o sucesso de tais produções: ao contrário da “fama” de mau leitor do brasileiro – para muitos, “um povo sem memória” –, os resultados mostram que a população tem grande interesse em conhecer melhor o passado da nação. Iniciativas como a dos jornalistas Eduardo Bueno que, em 2000, lançou o best-seller Brasil: uma História – Cinco séculos de um País em construção –, Laurentino Gomes, autor dos livros 1808 e 1822, Fernando Morais, celebrado por seus livros A Ilha, Olga e Chatô, e Lucas Figueiredo revelam o sucesso da “fórmula”. Em função da proposta de uma revista, o jornalista Laurentino Gomes dedicou-se ao relato dos eventos históricos que vão do Descobrimento à Independência do Brasil. De tal encomenda, foi publicada a chegada de Cabral às novas terras. O projeto, contudo, seria deixado de lado pela mesma publicação que propusera o trabalho ao autor, apesar de seus anos de dedicação e árdua pesquisa. Nas mãos, porém, Laurentino possuía rico material sobre a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, no começo do século XIX. A solução encontrada foi a publicação, em livro, de todo o conteúdo pesquisado: “Certa vez, um amigo me perguntou o que eu estava pensando ao pretender lançar um livro sobre a história do país. Isso não vende, me disse ele”. Pois o jornalista contrariou o amigo: em 2008, lançou 1808. O resto é história. O livro se tornou um best-seller brasileiro

e rendeu a Laurentino o prêmio Jabuti de melhor obra de reportagem e não-ficção. “Minha intenção foi aproximar a história de um público distante dela. Procurei dar dimensão humana aos personagens, diferentemente do que é feito nas versões oficiais”, afirma o autor. A aceitação foi tão grande que a continuação da obra – intitulada 1822 e lançada em 2010 – também já entrou para a lista de best-sellers e lhe garantiu mais um Jabuti. A história da Independência do Brasil é contada com o mesmo estilo do livro anterior. “Pretendo completar a trilogia, contando os momentos da história imperial brasileira. Vou lançar o terceiro livro, 1889, que vai narrar os acontecimentos da Proclamação da República”, revela. Ao todo, 1808 e 1822 somam mais de 1,2 milhão de exemplares vendidos. Também jornalista, Lucas Figueiredo apostou em assuntos relacionados à história e à política nacional. Depois de escrever Morcegos negros, Ministério do Silêncio, Olho por Olho e O Operador, o escritor lançou recentemente Boa Ventura! – A corrida do ouro no Brasil (1697-1810) – A cobiça que forjou um país, sustentou Portugal e inflamou o mundo é

“Procurei dar dimensão humana aos personagens, diferentemente do que é feito nas versões oficiais” Laurentino Gomes


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avaliado com destaque pela Revista de História da Biblioteca Nacional, referência na área. “O trabalho não é muito diferente do que se faz na redação. A dificuldade da historiografia está na grande quantidade de material disponível”, revela o autor. Ao alcance de todos? Autora de obras como Condessa de Barral, a paixão do Imperador, O príncipe maldito e História das mulheres no Brasil, a historiadora Mary del Priore encara a grande aceitação desses títulos pelo público como oportunidade de reflexão sobre o modo de tratamento de assuntos históricos no País. “O gargalo está na difusão da produção historiográfica fora do ambiente acadêmico. O conteúdo produzido nas academias está tão monotemático que se torna desinteressante ao grande público”, analisa Mary. Formada em jornalismo e história, Daniela Maciel afirma que “a linguagem é um dos principais fatores dessa tendência. Por força do próprio ofício, os jornalistas escrevem de maneira mais direta e coloquial. Os historiadores têm uma forma científica de escrita, o que, muitas vezes, dificulta o entendimento”, explica. Se, por um lado, a aceitação do público chama a atenção, por outro, os historiadores não veem com bons olhos a participação de jornalistas no “meio” historiográfico. Mary del Priore acredita que se trata de um dilema comum e defende os jornalistas. “História e jornalismo darão as mãos para caminhar e levar conhecimento e informação de melhor qualidade à sociedade brasileira”, constata a historiadora. Para Lucas Figueiredo, seus textos sobre a história do Brasil não têm pretensões acadêmicas: “Sou jornalista. Meu trabalho é reportagem histórica. Não há tese no meu livro. Só quero contar boas histórias para o público que não as conhece”, pondera. O aquecimento do mercado de livros históricos escritos por jornalistas desperta questionamentos quanto à forma como o

Mídias e tecnologias

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conteúdo histórico é desenvolvido nas escolas. Para Mary del Priore, a qualidade do aprendizado está associada à metodologia aplicada aos alunos. “História é uma disciplina que requer paixão. Se não há um bom professor, no começo da fase estudantil, não se espere que a pessoa tenha interesse posteriormente”, critica. Apesar disso, Daniela Maciel é contra a mudança dos métodos. “Podem haver formas complementares. A história é uma disciplina, uma ciência com metodologia e teorias próprias, que devem ser levadas em conta”, argumenta a jornalista.

Livros publicados pelo jornalista Lucas Figueiredo sobre momentos-chave da história brasileira

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Outros papos

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Os olhos da arte Há sete anos, a escritora Elizete Lisboa transmite às crianças – tanto as que podem ler, como aquelas com problemas de visão – o grande prazer da leitura FOTOS: Ana Paula dias

Para a escritora Elizete Lisboa, crianças cegas também merecem obras bonitas: “Quando pequena, meus livros não possuíam atrativo visual. Eram sempre feios”

Ana Paula Dias 6º período Edição: Dany Starling Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fruto do Censo realizado em 2010, o Brasil conta com mais de 35 milhões de deficientes visuais – o que equivale a 18,8% da população nacional. Os números incluem pessoas que não enxergam nada e aquelas que possuem “alguma” ou “grande” dificuldade para enxergar. Em Minas Gerais, o número é de, aproximadamente, 3,3 milhões de indivíduos com proble-

mas de visão – ou 17% dos moradores do Estado. Em comparação com as informações da pesquisa anterior, também divulgada pelo IBGE, havia, no ano 2000, cerca de 16,7 mi de deficientes visuais no País, e, em terras mineiras, 1,7 mi. Ao pensar nesses números, a escritora Elizete Lisboa, especializada em literatura infantil, decidiu transformar seu trabalho em serviço inclusivo, de modo a que crianças – entre as quais, aquelas com deficiência visual – se unissem em torno do prazer da leitura. Elizete é de Coluna (MG), pequeno município no Vale do Rio

Doce, localizado a 315 km de Belo Horizonte, para onde se mudou aos oito anos. Ela nasceu com retinose pigmentar, doença genética que pode se manifestar em qualquer idade e caracterizada pela perda da visão noturna, do campo visual e da visão central. No seu caso, a enfermidade manifestou-se logo no berço. Ela enxergava pouco, via as coisas sem definição clara e sem formato, salvo objetos maiores. Com o tempo, entretanto, acabou completamente cega. Primeiros passos no escuro Por dois anos, Elizete estudou em

escola pública não-inclusiva, mas só foi alfabetizada aos nove, numa instituição para cegos. Até o Ensino Fundamental, achava os professores de Português muito chatos. E acreditava que aquilo não era para ela. Foi no Ensino Médio que conheceu uma professora que a estimulou não apenas a estudar, mas também a ensinar. A escritora encantou-se pela disciplina e começou a lecionar aulas particulares de Português. Logo depois, entrou para a Faculdade de Letras. Começou a escrever em 1998. Foi nessa época, também, que teve a ideia de criar o projeto “Livro com duas es-

Florice é uma pata, preta e bonita, que mora numa fazenda; come milho na mão de menino; nada no lago, junto com o pato. Um dia, novidade: o primeiro ovo. Depois, uma dúzia de patinhos. Aquelas vidas pequeninas enfeitam e alegram a fazenda. Mas os patinhos logo percebem que o mundo não é só bonzinho não. Põe estrondo nas tempestades, prega enormes sustos na gente. Com suas duas escritas (visual e braile) e, ainda, pelo valor artístico de seu texto e ilustrações, Benquerer bem amar procura a abrir caminhos para o Brasil da inclusão, que deseja ver todas as crianças se tornando leitoras.


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Autora comemora sucesso de vendas e já pensa em lançar seus livros na Europa

critas”, cujo objetivo era publicar livros infantis que poderiam ser lidos por crianças cegas ou não. Em 2004, lançou seu primeiro livro, que não era em braille. O mesmo ocorreu com o segundo. Naquele período, ia às editoras apresentar seu projeto. “Eu propunha livros bonitos. Tinha que investir no visual, de uma forma como não se fazia no Brasil ou no mundo. O

investimento era muito caro e as editoras não queriam investir no projeto. Diziam que só cegos iam querer aquelas obras”, conta. A ideia de Elizete dizia respeito à produção de livros, com textos e ilustrações que pudessem ser lidos por qualquer criança. A autora desejava escrever, na mesma página, uma história para garotos e garotas capazes de ler com os olhos ou com as mãos, de forma que até os de-

Cuidado! Uma bruxa brincalhona, que já fez muitos e muitos aniversários e adora cantar no meio da noite, cismou que vai se casar no ano que vem, e está à procura de um marido que goste de cantar e que seja bem velho. E bem feio!

senhos pudessem ser identificados em braille. “Antes dos meus livros havia outros com duas escritas, mas eram edições só para cegos. Por isso, não tinham gravura, nem beleza visual”. Inclusão pela leitura A escritora persistiu com a ideia, até que, em 2005, conseguiu publicar seu primeiro livro em braille. A partir daí, não parou mais. Hoje,

A galinha e o macaco acordaram felizes da vida. Queriam exibir os presentes que ganharam, e saíram para passear. Encontraram a cabra com os três bebês cabritinhos e a garça. Hum, de repente, a garça perdeu a elegância, arregalou um olho feio e ficou olhando torto... Uma garça carrancuda, cara amarrada. O que estaria errado?

já publicou seis livros infantis com as chamadas “duas escritas”, e já está com outros dois “bonecos” (como são chamados os primeiros exemplares antes de ir para a editora) prontos. O próximo deve ser lançado em maio deste ano. Quase todos os seus livros já estão na 5ª edição. Elizete defende seu projeto de livros inclusivos e explica que crianças cegas tam-

bém merecem livros bonitos: “Quando eu era criança, meus livros não possuíam atrativo visual. Eram sempre feios”. Foi por isso que a autora resolveu criar obras bonitas, que também pudessem ser lidos pelas crianças com problemas de visão. “Ser cega me deu elementos para isso. Eu tinha dois filhos que enxergavam, e precisava ler para eles”, conta, ao falar dos livros bonitos que desejava que os filhos vissem. Sem nenhum auxílio, a autora usa o computador e escreve suas obras. Para usá-lo, faz uso de um programa chamado Jaws, software de voz sintetizado que faz leitura da tela do computador. Basicamente, o programa lê o que está na tela e o usuário pode regular a velocidade com que ouvirá a mensagem. Elizete já utiliza o equipamento há 14 anos. Ouve as mensagens em ritmo tão rápido que é quase inaudível para quem não está acostumado ao programa. Atualmente, Elizete apresenta seu projeto em oficinas e simpósios. Leva seus livros para escolas, junto aos personagens, que ela manda fazer de pano, iguais aos dos livros. Podem ser sanfonas, acordeons ou outros objetos atraentes. A ideia é brincar em torno do livro. “As crianças adoram”. A escritora também ministra palestras para adultos sobre a importância dos livros “com duas escritas”, destinados ao público infantil. “Isso é que é livro inclusivo”, defende. O sucesso é tanto que ela anda conversando com uma editora de Portugal – a mesma que publicou suas obras no Brasil – para tentar levá-los para lá.

A gente vê com os olhos, mas também se pode ver com as mãos. Pode-se ver, ouvindo, pensando. Agora, pense em uma bruxinha que adora água, espuma, canção; que não pára de lavar: lava tapete, prato, pato, lava boneco de pau e boneca de pano. Lava até segredos... Fonte: Editora Paulinas

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Tramas contemporâneas

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Cidade versus Vereadores devem trabalhar para a cidade ou para a comunidade que os elegeu? Jéssica amaral

10ª Reunião Ordinária da Comissão de Administração Pública: audiência para discutir situação de servidores da PBH que tem vínculo “celetista”

Dany Starling 6º período

Edição: Gustavo Pedersoli O vereador é o agente político mais próximo da sociedade. Muitas vezes, ele é um conhecido, alguém com quem se esbarra diariamente. Um líder comunitário, um colega de clube, um comerciante do bairro, aquele que frequenta o mesmo bar ou a mesma fila de supermercado. Alguém que vive na mesma comunidade que o eleitor, conhece bem as necessidades do lugar e que, eleito, poderá solucionar esses problemas. Mas qual a verdadeira função do vereador? Atender à comunidade que o elegeu e cuidar de problemas isolados, localizados somente em um bairro ou região, ou atuar em prol de toda a cidade? Legislar e fiscalizar os atos do Poder Executivo ou operar como um representante particular daquela parcela da população que, com seus votos, colocou-o na Câmara Municipal? Responder a essas questões não é tarefa fácil. Dos 41 vereadores atualmente na Câmara Municipal de Belo

Horizonte, 28 foram eleitos com grandes votações em regiões específicas da cidade. Em certos casos, os eleitos contaram com percentuais que ultrapassam os 60% de votos obtidos numa única região ou em localidades vizinhas. “Teoricamente, o vereador é as duas coisas. Quando se reúne na Câmara, é obrigado, por dever de ofício, a pensar na cidade, analisar o orçamento, o código de postura etc. Seu mandato é municipal. Mas, até como forma de sobrevivência, o político deve estar muito atento à sua base. Se você foi eleito por uma região, a expectativa é que a represente”, explica o coordenador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (CEL-UFMG), Carlos Ranulfo. Para o pesquisador, se o vereador preocupar-se em exercitar apenas as funções originais do cargo, corre sério risco de não conseguir novo mandato. “O vereador que não se preocupa em dar retorno à base eleitoral está sendo pouco representativo com seu eleitorado e pode ser que não se reeleja. Ele

precisa equilibrar as duas coisas”, analisa. “Por outro lado, vereadores mais conhecidos da população, com maior penetração na imprensa e votação pulverizada podem pensar, com mais tranquilidade, na cidade como um todo”, completa. Encruzilhada Com 88,84% de seus votos adquiridos na região do Barreiro, o vereador Antônio Torres Gonçalves, o Gunda (PSL), assume que priorizou sua comunidade durante o mandato. “Meu trabalho vol-

“O vereador deve sempre dilatar seus horizontes, sem priorizar regiões ou interesses de segmentos” Elias Murad

tou-se para o Barreiro”, diz o político, que justifica a predileção pelas carências locais. “O pessoal vinha de fora, pegava os votos e não fazia nada pela comunidade. Trabalhei muito junto ao Executivo para realizar obras necessárias”. Quem também teve uma votação significativa numa única região foi o vereador João Oscar (PRP), que conseguiu 80% de votos em Venda Nova. Segundo ele, o mandato destinou-se à comunidade que o elegeu, mas sem perder de vista o cenário geral de Belo Horizonte. “Dediquei a maior parte do meu trabalho a Venda Nova, mas abri outros espaços de discussão, principalmente como presidente da Comissão de Administração Pública”, destaca. Para os vereadores, todavia, a atuação parlamentar é vista de maneira distorcida pela população. “O povo não quer saber de lei, mas de melhoria para sua comunidade. Já apresentei diversos projetos na Câmara, mas ninguém nunca me pergunta sobre eles. Só pedem melhorias, obras. É isso que eles cobram”, diz Gunda. João Oscar concorda. “Agimos, mui-

tas vezes, como despachantes. Pegamos as demandas da região e levamos a discussão ao Executivo”. Recordista de votos nos dois últimos pleitos, Elias Murad (PSDB) sempre teve maioria de votos na região Centro-Sul da capital. Em 2008, essa concentração equivaleu a 48,5%. Apesar disso, ele entende que a função do cargo é muito mais ampla que atender a uma única parcela da população. “O vereador deve sempre dilatar seus horizontes, sem priorizar regiões ou interesses de segmentos”, adverte Murad, que irá se aposentar das atividades políticas em 2012. Mesmo tendo sido lembrada em todas as zonas eleitorais da capital, Maria Lúcia Scarpelli (PC do B) foi eleita graças à votação alcançada na região Centro-Sul, que equivaleu a quase 38% de seus votos. Para ela, isso se deu não por que tenha trabalhado em prol da localidade, mas em função do perfil dos eleitores. “O eleitorado do Centro-Sul de Belo Horizonte é muito diverso, mas com um alto percentual de pessoas conscientes. Sempre atuei


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tramas contemporâneas

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Comunidade Resposta é sinônimo de polêmica na Câmara de belo Horizonte na luta pelos direitos do consumidor, não por uma classe específica. Isso se reflete nos votos que tive”. Scarpelli critica os colegas que passam seus mandatos voltados somente a uma região. “É preciso trabalhar pela cidade, por ‘coisas’ maiores e não por causas personalistas. Muitos vereadores agem dessa forma e acabam se debruçando em uma única região. Não trabalham por Belo Horizonte, mas pelo lugar que os elegeu”, condena. Desejo da população Se, entre os vereadores, a forma de exercer o mandato ainda se mostra polêmica, em meio à população o sentimento é mais claro. Caso eleito por uma região específica, o político tem obrigação com o lugar, com a comunidade, e deve voltar seu trabalho para onde conseguiu votos, a despeito de o cargo pertencer ao município. “O vereador eleito com votos de Venda Nova deve trabalhar por Venda Nova, de modo a apoiar a comunidade e atuar junto da gente. Tem vereador que faz muita proposta, mas não vai ao bairro e se esquece que o poder está com as lideranças comunitárias. Queremos trabalho e serviço. Ele pode trabalhar para outros lugares, mas, primeiramente, tem que respeitar Venda Nova”, diz o presidente da Associação de Moradores de Jardim dos Comerciários C, Alípio Carlos de Paula. Italiano radicado na cidade de Belo Horizonte, o presidente da Associação de Moradores da Savassi, Alessandro Runcini, reclama da falta de contato com os vereadores da capital. “Seria muito bom se tivéssemos relações estreitas com os vereadores, até como forma de conseguir melhorias para o bairro”, diz Runcini, que deixou Roma e veio para o Brasil há 16 anos. “Os políticos deveriam ser mais engajados, atentos aos anseios dos moradores e sempre em contato com seus representados. Em nosso caso, não apenas com moradores, mas também com comerciantes. Eles precisam se inteirar sobre o que acontece na Savassi”, afirma.

Próxima campanha Se há divergência na hora de avaliar a forma mais correta de exercer a atividade parlamentar, os vereadores têm visões semelhantes no momento de traçar estratégias para as campanhas eleitorais. De olho na reeleição, os políticos entendem que devem continuar ativos nas regiões onde são bem votados, mas sem abrir mão de explorar novos horizontes. “Voltarei a dialogar com os locais onde fui mais votada, além de reforçar os pedidos e meus compromissos. Mas sinto que, se não expandir para outras áreas, correrei sério risco de ficar de fora”,

analisa Scarpelli. No caso da vereadora, a aposentadoria do colega Elias Murad, com quem disputou os votos da região Centro-Sul, pode ser benéfica. “A saída do professor Murad pode influenciar favoravelmente. Ainda que ele lance um sucessor, não acredito muito na transferência de votos”. Gunda, por sua vez, dividirá as atenções durante a próxima campanha. “Oitenta por cento do trabalho será feito aqui mesmo, no Barreiro, onde as pessoas já conhecem meu trabalho. Os outros 20% das ações dirão respeito a outras localidades”. João Oscar segue na mesma

toada. “Uma vez na Câmara, você amplia seus relacionamentos. Continuarei trabalhando em Venda Nova, que é onde vivo, mas quero estreitar laços com outros lugares da cidade”. A visão dos vereadores é compartilhada pelo professor Carlos Ranulfo. “O político deve combinar duas estratégias. Primeiro, é preciso manter o que tem. Ninguém joga fora o que já possui. Mas ele precisa expandir sua área de votação. A eleição, principalmente no Brasil, é muito competitiva. De uma hora para outra, alguém pode aparecer em seu reduto eleitoral e lhe tomar os votos”, alerta. inFoGRaFia : GuiLHeRMe paCeLLi


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tramas contemporâneas

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...estão chegando os monarquistas Grupos monárquicos organizam-se para difundir ideais do regime em território tupiniquim Carolina anglada 8º peRíodo

edição: dany Starling No imaginário popular, o “Brasil Monárquico” está frequentemente relacionado a episódios escritos nas entrelinhas da história: Dom João VI e a coxinha de frango no colete; Dona Carlota Joaquina e seus modos, no mínimo, extravagantes de ser; Dom Pedro II e os irrefreáveis cochilos durante as conferências reais. Críticas e deboches são costumeiramente dirigidos a chefes, estadistas e líderes que carregam significativos poderes e, ainda mais, no que se refere ao Brasil Impé-

rio, ficaram noções enraizadas em nossa própria maneira de pensar e falar. “Não sei quem é o rei da bala chita...” e “Fulano de Tal é educado como um príncipe!” são exemplos – neste caso, positivos – da imagem imperial que, até hoje, carregamos! Relacionar a figura de reis e príncipes à figura de quem admiramos revela muito mais intimidade com o passado do que se pensa. Devido, justamente, a este sentimento de identificação é que o médico Rodrigo Laender – de calça jeans e camisa listrada de bo-

tão – considera-se um monarquista: “Todos nós queremos um pai. O Brasil precisa de um pai. E um rei, criado dentro dos princípios de honra e dedicação, é o mais indicado para assumir essa função”. No Brasil, por incrível que pareça, Rodrigo não está nem um pouco sozinho. Atualmente, há dezenas de “Movimentos”, “Círculos” e “Diretórios Monárquicos”. São grupos de

pessoas que, sem necessariamente possuir títulos de nobreza ou parentesco com a Família Imperial, acreditam e defendem a Monarquia ou, ao menos, simpatizam-se com a causa. O objetivo é a reunião e a articulação dos interessados com grupos e entidades, a fim de divulgar a Monarquia Constitucional Parlamentarista, democrática e federativa, junto à população e poderes constituidos, na busca pelo restabelecimento do Império do Brasil. Planos, aliás, para curto prazo. Um por todos... Na capital mineira, há dois exemplos em

atividade: o Movimento Jovem da Monarquia e o Círculo Monárquico de Belo Horizonte, sendo o primeiro uma recente ala do segundo. O Círculo Monárquico de BH nasceu em decorrência das comemorações dos 200 anos da chegada da Família Real no Brasil, que ficaram restritas a São Paulo e Rio de Janeiro. Um grupo de amigos, sob os auspícios dos Institutos Geográficos e Históricos de Nova Lima e Sabará, foi o responsável por enxergar essa brecha monárquica em Minas e organizar o Círculo. Hoje, são 680 mil mineiro monarquistas de carteirinha. Na prática, essas associa-

ções promovem palestras, conferências, seminários, cursos e encontros para discutir e aprofundar o conhecimento sobre o regime monárquico. A estratégia básica segue três comandos: comunicação, educação e aglutinação. A primeira almeja a comunhão entre os grupos monárquicos; a segunda, a informação sobre os princípios e vantagens do regime Monárquico para a população, e a terceira, a união de esforços com vistas à restauração do regime de Monarquia Parlamentarista. O presidente do Círculo Monárquico de Belo Horizonte, Mário de Lima Guerra, relembra a importância da vinda da Família Real para o Estado de Minas Gerais. “O problema de Minas sempre foi o sistema fiscal, o famoso quinto do ouro. Com a chegada do príncipe Dom João, este modelo passou por reestruturação. Foi um dos períodos em que Minas mais se desenvolveu”. Não é à toa que informação e conhecimento histórico está entre um dos três pilares dos movimentos monárquicos para a restauração... Em breve. Empada de bacalhau Se nós, quando votamos, não fazemos ideia de quem está por trás da figura que aparece nas campanhas, o caso dos participantes do Círculo é bem diferente. Mário de Lima relembra o primeiro encontro com D. Betrand e diz do homem que seria nosso imperador como se falasse de um amigo íntimo. “Oito de agosto de 2008. A data é considerada, por nós, como o Primeiro Encontro Monárquico Mineiro, patrocinado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Sabará. Veio muita gente de outras cidades, que ficou sabendo da vinda do príncipe. Ele é um cara muito culto, bem informado, gosta de filosofia, é piloto de avião, enfim, ótimo papo! Nós nos tornamos amigos em 48 horas porque temos gostos em comum. A gente gosta de empada de bacalhau com guaraná, uma taça de vinho no almoço. Foi o primeiro contato de muitos!”. Sobre a desinformação histórica do brasileiro frente à Monarquia, Pedro Henrique Viana Espechit – cujo nome de batismo é uma homenagem realizada por seu pai, monarquista doente, a Dom Pedro Henrique de Orleans e

Bragança – relembra o episódio de repressão que sua família viveu no período de ditadura militar. “Durante a revolução, em 1964, lá em Curvelo, todo mundo que ‘era alguma coisa que terminava em ista’ acabava preso. Monarquista, para eles, era comunista. Brinco que só não prenderam o ascensorista porque, na verdade, a cidade ainda não tinha elevador”, conta, ao confessar que conhece de perto a Família Imperial: “Meu pai era muito amigo do Dom Henrique, com quem tenho várias fotos de criança. Eles se mandavam cartas!”. Plebiscito já! Quando questionados sobre a possibilidade de a Monarquia ser, de fato, restaurada, os monarquistas respondem com argumentos numéricos. E esperança. Mário Guerra lembra que, no plebiscito ocorrido em 1993, quase 7 milhões de pessoas votaram a favor da Monarquia. Segundo ele, trata-se de número significativo de favoráveis ao regime. “Nosso objetivo é, justamente, reunir aqueles que já são simpáticos à causa e informar a outros. Quando tivermos uma lista de Um milhão de monarquistas, organizados, engajados e dispostos, pretendemos enviar uma petição para Brasília e exigir novo plebiscito”. Referência em engajamento para uns, tentativa de restauração elitista para outros, os grupos instigam opiniões diversas de especialistas. Para o cientista social Henrique Rodrigues, a existência de movimentos monárquicos, hoje, mais de cem anos após a queda do regime, “representa um desejo de ordem, honra e tradicionalismo, refletidos no desejo de um sistema político diferenciado”. Entretanto, em sua opinião, a mudança seria em vão. “Eles se esquecem que mudar de regime político não acarreta em mudança certeira nos costumes do povo, sendo antes o contrário”, conclui. Para mais informações sobre a monarquia no Brasil, o Círculo reúne-se toda sexta-feira, às10h, no Café Polastri, situado à Av. Bernardo Monteiro, nº 1022. O papo é descontraído e está aberto a curiosos, interessados e monarquistas que, porventura, queiram abraçar a causa junto aos grupos e diretórios.


Minha BH

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Na dança dos sentidos Centro artístico transforma portadores de deficiência física em bailarinos profissionais fotos: divulgação

Andressa Resende 7º período Edição: Dany Starling Primeiro sinal e os bailarinos se preparam para mais um espetáculo. Segundo badalar, hora da oração. É só no terceiro e derradeiro aviso, porém, que a bailarina Ana Luiza de Castro Guimarães, 28, deseja que o abrir das cortinas não seja o último: “Quando estou pronta, digo: meu Deus, muito obrigada por mais um espetáculo. A minha maior e mais linda oração é dançar e dizer a mim mesma que consegui. Sinto-me privilegiada por ter a trajetória de uma dançarina com limitações e viver tudo isso”. Ana veio ao mundo em um parto pré-maturo. Ao nascer, o lado direito de seu corpo sofreu limitações devido à falta de oxigenação nas células cerebrais. As características anatômicas, contudo, nunca impediram a garota de buscar – e alcançar – seus sonhos. Já adolescente, surgiu o desejo de realizar movimentos cadenciados. Ela chegou a procurar academias, mas as aulas de dança não ofereciam exercícios específicos, que respeitassem suas limitações corporais. Leonor de Castro Guimarães, 57, mãe de Ana Luiza, acreditava que a vontade da filha em seguir carreira artística não se concretizaria.

“Ela decidiu que queria dançar e eu fiquei muito triste porque não imaginei como seria possível”, lembra a mãe. Foi na mesma adolescencia, entretanto, que a arte mudou a vida da jovem.“Uma vez artista, sempre artista. É viciante. Adrenalina de apresentação é algo que você só vivencia no palco e, quando experimenta uma vez, não quer largar nunca mais”, diz a hoje psicóloga e bailarina ligada ao corpo de baile da Companhia Crepúsculo há 13 anos. Direito à arte Assim como o clã das Castro Guimarães, outras famílias de Belo Horizonte fazem parte da Associação Crepúsculo. O centro artístico é uma organização não governamental (ONG), cujo projeto inclusivo iniciou-se em 1996 e, hoje, integra os poucos grupos brasileiros a trabalhar corpo, estética e dança como foco artístico, com consequências terapêuticas para deficientes. Luciane Kattaoui, 36, bailarina, terapeuta ocupacional e coordenadora artística da entidade, é a idealizadora da iniciativa. Ela afirma que tudo começou com a vontade de dançar com pessoas portadoras de dificuldades motoras: “Não é um ‘fazer bonitinho’. Afinal, a sociedade está pedindo e a legislação garante direitos aos portadores. É uma von-

Aluno dá os primeiros passos no caminho da arte

Apresentações teatrais da Crepúsculo emocionam plateia e atores

“Adrenalina de apresentação é algo que só se vivencia no palco. É viciante” Ana Luiza Guimarães

tade de estar junto, conviver com pessoas diferentes”. A Crepúsculo realiza trabalhos de supervalorização da arte inclusiva, aprimoramento artístico de jovens e conscientização com a família e a sociedade. Há uma equipe de professores formados e especializados, que lidam com as particularidades de cada portador de necessidade física. De acordo com Luciane, o trabalho paulatino transforma jovens com medos e inseguranças em bailarinos profissionais, respeitando, claro, o tempo de maturação artística de cada integrante da ONG. Para a coordenadora, o objetivo é ressignificar a comunicação e o diálogo artístico por meio da emoção e do aprimoramento da técnica, além de proporcionar experimentação das linguagens corporais, encontros de socialização, desinibição e autoconhecimento. Para Heraldo Dutra, gerente de projetos da Associação Pais e Amigos Excepcionais de Belo Horizonte (Apae-BH), as políticas públicas têm como objetivo a inclusão. Heraldo relata que, para a construção de sociedades mais justas e solidárias é preciso promover qualidade de vida às pessoas com deficiência. “Além disso, há que se articular políticas inclusivas junto aos poderes públicos e assegurar ao portador o direito a educação, saúde, assistência social, habitação, formação profis-

sional, inserção no mercado de trabalho, entre outros benefícios essenciais. Trata-se de um processo lento em todo o País, mas que tem avançado”. Estética múltipla Na capital mineira, a Crepúsculo se vale de leis municipais, estaduais e federais, e e se beneficia de incentivos e fundos fiscais, bem como de outros repasses advindos da iniciativa privada. As atividades gratuitas, oferecidas para jovens e adultos, são oficinas de teatro, música, artes plásticas, contação de histórias e circo. Já no atendimento clínico, destaque para terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, psicopedagogia e psicologia. Uma vez por semana, cada aluno dedica-se a determinada “linguagem”, durante uma hora e meia, podendo transitar por todos os núcleos artísticos. O espaço também possui companhias de dança e teatro que já fazem turnês em Belo Horizonte e alguns municípios do interior de Minas Gerais e da região sudeste do país. Luciane Kattaoui explica que as técnicas vivenciadas em grandes grupos também são aplicadas à Crepúsculo. “Às vezes, é um segmento do método, porque tenho uma pessoa que não estica o braço, outro que não anda, não fala. É uma técnica adaptada a cada corpo e a cada possibilidade”, conclui a coordenadora.


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Conhecimento

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provoca baixa autoestima infantil Conhecer características e tratamentos pode impedir rótulos e danos permanentes Léia arruda 6º peRíodo

edição: Marina Fráguas Aprender a escrever corretamente sempre foi tarefa complexa para o dramaturgo Renato Lopes de Oliveira Ferreira, hoje com 30 anos. Nos tempos de letramento, os professores achavam que ele não se esforçava o bastante e cobravam atitudes da mãe, que, por sua vez, pensava haver falta de vontade ou de capacitação do filho. “Eu era tachado de ‘burro’, pois trocava as letras, cometia erros ortográficos e tirava notas baixas”. O problema persisti u , até

que – aos 13 anos Renato é levado a uma fonoaudióloga, que o diagnosticou como “disléxico”. Justamente devido à falta de informação, os efeitos da dislexia são, por vezes, relacionados a desatenção, pouca inteligência ou baixa condição socioeconômica. Para além do senso comum, porém, a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) define o problema – que atinge cerca de 17% da população mundial – como “distúrbio de aprendizado na área da escrita, leitura e soletração”. Con-

gênita e hereditária, a dificuldade em ler e compreender a escrita – cuja maior incidência dá-se no período de alfabetização – proporciona uma série de alterações genéticas, o que resulta em mudanças neurológicas. Quando o tratamento não é correto, o distúrbio pode aumentar de nível, assim como causas emocionais acabam por ampliar a intensidade de seus sintomas. A dislexia desenvolve-se em três níveis: leve, moderado e intenso. Seu diagnóstico é individual e deve ser feito por equipe multidisciplinar, composta por neurologista, fo-

noaudiólogo, oftalmologista, otorrinolaringologista, psicopedagogo e psicólogo. Cada profissional avalia o paciente segundo sua área específica, na tentativa de levantar hipóteses que caracterizarão outros transtornos ou constatarão a dislexia. A necessidade de avaliação completa facilita a identificação dos “não-disléxicos”, conforme explica a fonoaudióloga Cristina Santana: “Há muito equívoco por parte das pessoas, que normalmente classificam tudo como distúrbio da escrita”. A anomalia afeta a codificação e decodificação das instruções. Com isso, o cérebro se torna “hipofuncional”. Em outros ter-

mos, pode-se dizer que certas áreas cerebrais “deixam a desejar”. Por isso, é possível que um disléxico desenvolva “comorbidade”, quando um distúrbio se associa a outros. Neste caso, o paciente apresenta, ainda, “disortografia”, que é a troca de fonemas na escrita; discalculia, conhecida como a dificuldade em assimilar e decorar símbolos e tabuada; disgrafia, alteração na escrita ou letra feia, e dispraxia, a síndrome do desajeitado. Em geral, o disléxico apresenta memória curta, dificuldades para seguir indicações de caminhos e executar sequências de tarefas complexas ou de organização. Além disso, pode ter baixa per-


Conhecimento

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Jéssica amaral

mento prévio do aluno sobre o assunto e expandir sua visão textual.” Depois de muitos treinos e exercícios, Rejane garante que tem tido bons resultados. “Para mim, a experiência é enriquecedora, embora, às vezes, seja frustrante perceber que ele poderia evoluir mais. Tenho desenvolvido, em mim, mais paciência, tolerância e a noção. Afinal, ele possui ritmo próprio e a minha função é ajudá-lo a melhorar. Fico feliz porque vejo sua capacidade de progredir”, destaca.

Falta de interesse dos alunos é uma característica da dislexia

cepção espacial – expressa, por exemplo, na confusão entre direita e esquerda – e problemas para interpretar textos e aprender uma segunda língua. Desafios Para o assistente de marketing Frederico Garcia, 27 anos, a comprovação da dislexia, por meio do trabalho de uma psicóloga, ocorreu na idade de alfabetização. “Durante toda a vida, tive problemas com acentos e construção de texto”, ressalta, ao lembrar, ainda, que sempre apresentou “escrita espelhada”, quando a criança escreve números e letras de trás para frente. Frederico, contudo, sempre foi um bom comunicador, a ponto de se formar na área: “Nunca tive facilidade em Português, mas precisava de me comunicar. Minha psicóloga dizia que pessoas com dislexia têm essa tendência. Acho que sou um bom orador”. Os disléxicos também têm muita facilidade com atividades relacionadas ao raciocínio lógico e às artes. “Lembro que meu QI sempre se apresentava acima da média. Eu tinha facilidade com matérias como Física”, completa. Mesmo com tais habilidades, por serem classificadas como “diferentes” ou “incompetentes”, muitas crianças com distúrbio do aprendizado deixam de frequentar a escola. E olha que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de dezembro de 1996, estabelece que “o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado pelo atendimento

educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”. Apesar do belo texto, para a pedagoga Maria Aparecida Alves Santos, de 48 anos, a inclusão na educação é um desafio “entre o real e o ideal”. Outra dificuldade destacada pela profissional diz respeito à aceitação familiar. Afinal, a chegada de uma criança na família é sempre repleta de expectativas, planos, idealizações, mas, diante do nascimento de um filho com problemas, tudo parece ir por água abaixo: “É assim que muitas famílias retratam o impacto da chegada de uma criança com necessidades especiais. Mostram, portanto, que têm problemas em se relacionar e aceitar as doenças. Apesar disso, terão que se readequar às novas condições

emocionais, socioeconômicas, etc.”, afirma Maria Aparecida Santos. Na verdade, a aceitação familiar é muito importante para que o tratamento produza resultados. Além disso, revela-se necessário que os pro-

“Lembro que meu QI sempre se apresentava acima da média. Eu tinha facilidade com matérias como Física”. Frederico Garcia

fissionais envolvidos tenham paciência e dedicação em cada caso. Há oito meses, a professora de inglês, Rejane Protzner, descobriu que um de seus alunos, com 12 anos de idade, sofre de dislexia. Segundo ela, o processo de aprendizado é lento, pois o garoto apresenta dificuldades em associar sons e letras, assim como para identificar as classes gramaticais das palavras, desenvolver estratégias de leitura, realizar referências segundo contextos e discernir ideias principais. Apesar disso, a professora garante que não precisou criar método específico de ensino. Bastou-lhe tomar atitudes que, em geral, pareceriam óbvias. “Procuro não dar respostas ou fazer afirmações ‘gratuitamente’, mas estimular nele percepção sobre o que estamos estudando. Tento, ainda, levantar o conheci-

Dificuldades na escrita, bem como o famoso “garrancho”, fazem parte de quem sofre com a doença

Esperança e melodia Durante o processo de tratamento da dislexia, o mais indicado pelos profissionais é o Multissensorial Fônico Articulatório, método que trabalha a leitura e a escrita por meio de estratégias de associação, capazes de ativar as áreas multifuncionais. Apesar disso, “tudo o que envolve os distúrbios do aprendizado ainda está em processo de pesquisa”, explica a psicopedagoga Eloise Torres, que também destaca a importância de o disléxico ter consciência de que seu problema não é totalmente curável. “Afinal, em comparação a outras pessoas, sempre haverá diferença em sua capacidade. Ao fazer o tratamento, contudo, ele poderá ter melhorias significativas”. O psicólogo Max Dolabella acrescenta que, além de esperança e força de vontade dos pacientes e de suas famílias, há tratamentos complementares, que também podem ajudar: “Começamos a desvendar o funcionamento do sistema nervoso central e novas abordagens pedagógicas estão sendo desenvolvidas. Entre essas abordagens, destaco a musicoterapia e a cantoterapia, atividades que, por envolver lógica matemática e apelo afetivo, têm o poder de ampliar as interações entre os dois hemisférios cerebrais”, conclui.


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Eu estava lá...

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Até breve, Rock in Rio Após sete dias de festival, fãs aprovam a organização e já pensam no próximo evento fOTOS: REPRODUÇÃO

Guilherme Rezende 7º período

Edição: Marina Fráguas Quando o grupo Gun’s and Roses, última banda a se apresentar na Cidade Maravilhosa, tocou o último acorde da música Paradise City, no palco Mundo, um show pirotécnico anunciava o fim do Rock In Rio 2011. Mesmo debaixo de um temporal, o público não arredou o pé e acompanhou tudo com entusiasmo. Eram exatamente cinco da manhã no instante em que o festival foi encerrado. Na saída, os comentários giravam em torno da expectativa da próxima edição, prometida para 2013. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), com 700 pessoas, mostrou que 92% das pessoas que foram ao evento declararam-se satisfeitas e disseram pretender retornar na próxima edição. Apesar disso, a pesquisa não revelou, com detalhes, as características do festival, seus pontos positivos e negativos e, principalmente, o que deve ser melhorado. Para tentar enumerar algumas dessas questões, nossa reportagem conversou com fãs, músicos e empresários, que avaliaram o festival sob diferentes pontos de vista. Para o empresário e produtor de eventos Gabriel Nunes, de um modo geral, a estrutura e organização atingiram o objetivo inicial. O espaço para mobilidade mostrou-se satisfatório e os sanitários eram espaçosos – ao contrário da última edição brasileira do evento, em 2001, quando dezenas de banheiros químicos mal cheirosos não suportaram o grande volume de pessoas. Segundo Nunes, “a tendência é que eventos de grande porte, no Brasil, adquiram estrutura organizada. Não há muito a comemorar, se considerarmos o preço do ingresso e a gama de patrocinadores envolvidos”. Na visão do músico e produtor musical Alan Araújo, de maneira geral, o evento foi bom, com exceção de pequenas falhas na escalação dos artistas e no cumprimento de horários. “É um absurdo deixar o Elton John espremido entre Katy Perry e Rihana”, comenta. A apresentação do Sir inglês foi fria e burocrática. Outro erro classificado como desrespeitoso por

Araújo diz respeito à falta de sintonia, entre os organizadores, durante o show de Erasmo Carlos e Arnaldo Antunes no palco Sunset. Já se passavam das sete da noite e o show da dupla não havia terminado. Para cumprir o horário estabelecido, Frejat subiu ao palco Mundo. Resultado? Debandada de público para o palco principal, deixando o Tremendão e o ex-Titãs com cara de paisagem. Acordes inesquecíveis Mas não só de desencontros viveu o Rock In Rio 2011. Shows memoráveis passaram pelos dois palcos – a tenda eletrônica e os shows da Rock Street não repercutiram da mesma forma. Na abertura, no dia 23 de setembro, Paralamas do Sucesso e Titãs mostraram por que ainda integram o hall das principais bandas de Rock brasileiras. A perfeita sintonia da apresentação, que contou com a participação da Orquestra Sinfônica Brasileira e da revelação carioca Maria Gadú, levantou o público. No sábado, 24, o show que mais agitou o público foi o do grupo brasiliense Capital Inicial. Os hits da banda, somados ao espólio do famoso Aborto Elétrico – grupo seminal, que se separou dando origem ao próprio Capital e à Legião Urbana. Snow Patrol e Red Hot Chili Peppers cumpriram bem o papel e não fizeram feio. Enquanto isso, Marcelo Yuka, ex-baterista de O Rappa, Nação Zumbi e Milton Nascimento ditaram o clima de Jam Session no palco Sunset, com shows empolgantes e nostálgicos. Por fim, no dia 25, o “domingo do Rock”, um dos grupos mais aclamados do festival: Slipknot. O estudante Adriano Valadares resumiu a maioria dos comentários sobre o show: “Fui sem conhecer muita coisa sobre a banda e saí como fã. Agora, pesquiso e ouço tudo sobre o grupo”, conta. De resto, Coldplay e Skank fizeram o que deles era esperado: sucessos e interação com o público compuseram a receita de êxito das bandas. Contra o relógio É impossível aproveitar todas as atrações da Cidade do Rock em apenas um dia. No evento, era obrigatório es-

colher o que fazer dia a dia. Tinha-se a sensação de que, para conseguir andar pela Rock Street, ir à roda gigante, saltar de tirolesa e assistir aos shows, nos dois palcos, seriam necessários, no mínimo, três dias. A jornalista Erika Damasceno ficou dois dias por lá. Mesmo assim, não conseguiu realizar tudo o que gostaria: “Você precisa chegar muito cedo e fazer escolhas. No sábado, 1º de outubro, assisti a todos os shows. No dia 2, fiquei horas nas filas para andar na roda gigante e descer de tirolesa. Só ouvia os shows de longe”, relembra. De fato, a Cidade do Rock apresentou programação variada, que buscava também atrair a presença de famílias. Os pais podiam passear pela Rock Street e aproveitar os pocket shows, que contaram, em certos dias, com apresentações de covers de Elvis Presley. Enquanto isso, um dos filhos assistia a algum o show, enquanto o outro aproveitava os brinquedos. Vale ressaltar que a mobilidade e a segurança não foram perfeitas, mas era fácil definir um ponto de encontro. Nos últimos instantes do evento, após sete dias de festival e dezenas de shows, as pessoas deixaram a Cidade do Rock dizendo “até breve”, com a esperança de que, em 2013, não haja problemas na escalação dos artistas.


Ensaio

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bruno garces

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Dia de greves em BH

bruno garces

Em todo caso, qualquer santo ajuda!

bruno garces

Vou-me embora pra Pasárgada!

álvaro de oliveira

Um vazio pode expressar milhares de vozes

thalvanes guimarães

Eu vigio, tu vigias, ele vigia...

Vamos dar uma “saidinha de banco”?



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