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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Uni-BH Ano 29 • número 187 • Maio de 2012 • Belo Horizonte/MG
na vazante da infomaré
JÉssICa aMaral
Músicos surfam nas mídias sociais para chegar a seu público PÁGINA 6
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Belo Horizonte, maio de 2012
Quadrinhos
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Ilustrações: reprodução
Traço valente Vitor Cafaggi, quadrinista belo-horizontino, conquista fãs em todo o país com seus personagens no blog Puny Parker e com tirinhas semanais no jornal O Globo Camila Corrêa Marcelo Camelo Paulo Nascimento 8º período Edição: Marina Fráguas Dois olhos azuis, pele clara e muito talento. Essa é uma das muitas definições de Vitor Cafaggi, desenhista belo-horizontino. O sorriso tímido, a voz suave e calma disfarçam a idade do artista, que parece ter pouco mais de vinte anos. Diferentemente do que os astrólogos apontam para os arianos, Vitor não é agitado e impaciente. Na verdade, o jovem é muito observador, qualidade que lhe rendeu bons frutos e personagens. O jeito para desenhar começou na década de 1980, quando o artista ainda era
criança: “Gostava de desenhar os personagens que lia nos quadrinhos. Também fazia versões infantis dos meus super-heróis favoritos e criava histórias com personagens que eu inventava”, conta Vitor. O dom foi sendo lapidado aos poucos e, à medida que amadurecia, a qualidade de seu trabalho também aumentava: “O talento anda lado a lado com o treinamento, e isso vem com o tempo”, afirma o desenhista. Mesmo sendo fã de super-heróis como Homem-Aranha, He-Man e Jaspion, os personagens que fizeram Vitor se apaixonar pelos quadrinhos foram os brasileiríssimos da Turma da Mônica. “Eu aprendi a ler acompanhando o trabalho do Maurício de Sousa. Foram meu
primeiro contato com a linguagem dos quadrinhos”, afirma o artista. Os desenhos, que até então eram os únicos atrativos para o menino, com o tempo foram se juntando às palavras e contando histórias, das quais Vitor nunca se afastou. “O desenho sempre foi muito importante na minha vida. Na infância, como eu era muito tímido e calado, eles ajudavam para que eu me expressasse. Na adolescência, desenhar já era um diferencial entre meus colegas de escola. Isso me ajudou a socializar com jovens da minha idade. Hoje, os desenhos são minha profissão e meu hobby ao mesmo tempo”, garante Vitor. O quadrinista conta que sempre recebeu apoio dos pais e irmãos. Filho do meio,
O personagem “Valente” foi criado em homenagem ao primeiro cão pastor alemão do artista
foi apresentado aos quadrinhos pelo irmão mais velho e, anos depois, incentivou a caçula a desenhar. “Algumas das memórias mais antigas que eu tenho são de estar desenhando junto a meu pai, minha mãe e minha avó”, diz Cafaggi. Suas grandes influências do mundo dos desenhos são Bill Watterson, criador das tirinhas do Calvin, “a melhor coisa já feita em quadrinhos”, segundo ele, e Charles Schulz, autor do Snoopy e Charlie Brown. Em 2008, Vitor criou o blog Puny Parker, onde publicava, semanalmente, tirinhas com histórias do Homem-Aranha quando criança – ainda “sem grandes poderes e grandes responsabilidades”, como diria Ben, tio do personagem da Marvel Comics, importante editora americana do ramo dos quadrinhos. A ideia de oferecer o conteúdo na internet não era ambiciosa. Segundo Vitor, na verdade, o blog era uma espécie de obrigação semanal para a produção das tirinhas (que, antes do blog, eram postadas no Orkut do desenhista). Originalmente feitas em inglês, as tirinhas foram se tornando cada dia mais populares na web, e foi por causa do personagem, feito com traços delicados e diferenciados, que Vitor ganhado reconhecimento. “Com o blog, mais gente conheceu meu trabalho e alguns meses depois eu já comecei a receber convites para outros projetos como
Pequenos Heróis, o MSP 50 e Valente”, diz Vitor. Participar do livro “Maurício de Sousa por 50 artistas” foi uma das grandes realizações profissionais – e pessoais – para Vitor. Ao completar 50 anos de carreira, uma História em Quadrinho (HQ) gigante foi montada, com desenhos de 50 desenhistas brasileiros. Entre Ziraldo, pai do Menino Maluquinho, Fábio Moon, cartunista do jornal Folha de S. Paulo e tantos outros artistas renomados, lá estava o mineiro, tímido e talentoso. Vitor conta que o convite foi uma grande e feliz surpresa e que, ao saber dos demais convidados para a obra, percebeu que aquele trabalho seria um dos mais importantes de sua vida. Na HQ, Vitor desenhou uma história com Chico Bento, personagem caipira de Maurício de Sousa, um dos preferidos do desenhista. “Não esperava que a aceitação do público fosse tão grande”, revela o artista. Atualmente, com 33 anos, Vitor publica tirinhas semanais no jornal O Globo. Elas contam a história de Valente, um cachorro apaixonado, que vive diversas situações comuns a um jovem humano. O nome Valente é homenagem ao primeiro pastor alemão que o artista teve, quando criança. A identidade dos personagens é baseada em pessoas com quem o desenhista convive. Segundo ele, o Valente é quase uma autobiografia.
Quadrinhos
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Vitor e Lu Cafaggi: talento em família Com o talento artístico de Vítor, uma pessoa muito próxima a ele acabou se revelando como outro prodígio de habilidade e destreza dentro da família Cafaggi. Trata-se da irmã Luciana – Lu Cafaggi – que, a partir da influência do irmão, iniciou-se no campo da ilustração e histórias em quadrinhos. Lu explica que o contato com os desenhos começou há muito tempo. “Vítor me apresentou às HQs na infância, me ajudou a desenvolver meu traço e é com ele eu aprendo a lidar com o processo de produção de quadrinhos de maneira geral”. A desenhista trabalha, atualmente, com o site ladyscomics.com, com artigos e ilustrações. Com a proposta de falar para o público feminino do universo dos quadrinhos, Lu escreve periodicamente sobre essa vertente e
acredita que as mulheres são beneficiadas na leitura dos HQs, porque se identificam emocionalmente com os personagens. “A sensação que temos no site, até agora, é de que sempre existiram mulheres lendo quadrinhos, mas que leem apenas para elas mesmas”. A irmã de Vítor tem também um blog pessoal, o lospantozelos.blogspot. com, no qual cria personagens e posta divertidas tiras com histórias para todos os gostos. Fora da internet, Lu confessa ser iniciante. Porém, destaca com orgulho o trabalho que realizou em “Mariana”, livro do célebre escritor de literatura infantojuvenil Pedro Bandeira. “Eu tive a honra de participar desta obra. Para os próximos anos, muitos outros ‘maiores trabalhos’ estão por vir”, afirma Lu, em um
tom misterioso e bem-humorado. Em novembro passado, Vitor e Lu participaram do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), em Belo Horizonte, em bate-papos com o público e em um stand sobre tirinhas. Para a artista, o FIQ tem grande importância porque oferece oportunidades para o quadrinista se fixar no meio. “Acho que, do FIQ pra cá, a gente vem se sentindo cada vez mais inserido nesse universo de produção de quadrinhos”, destaca. O principal homenageado do evento foi o criador da Turma da Mônica, Maurício de Sousa. “Um grande momento que vivemos no FIQ foi também o bate-papo com o Mauricio de Sousa, quando o editor-chefe dele anunciou o nome dos autores que fariam as Graphic Novels da Turma da
Mônica e falou sobre a admiração que tem pelo nosso trabalho. Esse momento foi incrível”, conta Lu, que ainda ressalta a atenção que Maurício sempre deu a todas as perguntas e entrevistas que participou. Compartilhar de um grande evento, com cinco dias de duração, traz outras experiências significantes. “O melhor foi reencontrar amigos, conhecer pessoas novas e sensacionais e encontrar outras que acompanham o nosso trabalho e dão a maior força, pessoas que a gente conhecia apenas por comentários deixados em nossos blogs e redes sociais”. Lu completa que, “no fim das contas, o melhor do evento é poder compartilhar esses grandes momentos com as pessoas que são importantes para a gente”. divulgação
Vitor e Lu Cafaggi compõem a nova geração da HQ nacional
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Artes Plásticas
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Todas as cores em um único endereço Antigo prédio na Rua da Bahia abriga cerca de 80 obras de Inimá de Paula, pintor mineiro que fez das cores a grande protagonista de sua obra dany Starling
de, é o suficiente para fazê-los entrar na casa que conta a vida e obra do “Mestre das Cores”. Inimá é considerado por muitos como o maior expoente brasileiro do movimento fauvista – estilo surgido na França no começo passado, que explorava o uso das cores puras. Além das telas, os seis pavimentos do prédio guardam objetos pessoais de Inimá de Paula, como livros de sua biblioteca particular, fotografias, documentos e até materiais que faziam parte do seu atelier, como pincéis, paletas e tubos de tinta. Todos os objetos pertencem à Fundação Inimá de Paula, criada com o artista ainda vivo, em 1998, um ano antes de sua morte. O próprio pintor foi o responsável pela análise e autenticação de mais de mil obras. De acordo com Romero Pimenta de Figueiredo, fundador e conselheiro fiscal da Fundação Inimá de Paula, a ideia de criar a Fundação partiu do próprio Inimá, que um dia confessou ter o sonho de preservar sua obra. “A partir daí, comecei a contatar outros admiradores do Inimá e iniciamos o processo de busca ao paradeiro das suas obras. Realizamos catalogações com forte apoio de galerias, museus e imprensa locais em várias cidades brasileiras. Esse foi o embrião do Museu.” Dez anos depois, em 2008, nascia o Museu, a partir de parceria entre a Fundação e o Governo de Minas Gerais. Até o início deste ano, ficaram expostas no local aproximadamente 80 obras de Inimá. Embora o número de telas pareça pequeno se comparado à produção total de Inimá de Paula (cerca de 3 mil obras, sendo que dois terços delas já foram encontradas e catalogadas), Romero Pimenta afirma que são suficientes para ilustrar de forma temática e cronológica a produção do artista. O acervo foi montado a partir de doações e empréstimos de coleções particulares, a maioria delas cedidas pelo marchand carioca Maurício Pontual. Depois de passar dois anos tentando vender a coleção, Pontual decidiu levá-la de volta ao Rio de Janeiro, trazendo um novo desafio para a administração do museu. Construído na década de 20, o prédio abriga obras de Inimá e, eventualmente, de artistas contemporâneos diversos.
Cássio Teles Thalissa Teodoro 7º período
Edição: Marina Fráguas
Quem passa pelo cruzamento entre as ruas da Bahia e Guajajaras, no centro de Belo Horizonte, depara-se com um prédio histórico, construído ainda na década de 1920. Durante o dia, pouca movimentação. À noite, uma iluminação especial dá destaque
à placa fixada em uma das paredes externas do prédio, na qual se lê: Museu Inimá de Paula. Para quem nunca ouviu falar do desenhista e pintor mineiro, a placa pouco diz. Já para os interessados em arte ou com um pouco de curiosida-
Além de Inimá Engana-se quem pensa que o Museu é exclusivo para a divulgação de obras e objetos de Inimá. Nos últimos anos, a sala “Plataforma de Exposições Temporárias”, localizada no último andar do prédio, recebeu obras de arte contemporânea, cinética, digital e vídeo instalações.
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De acordo com a coordenadora de arte do Museu, Gabriella Navarro, grande parte das exposições itinerantes são de pintura, mas não há critérios rígidos quanto ao estilo, técnica ou temas das obras expostas. “Existe um conselho curador, formado por críticos de arte renomados, museólogos e artistas plásticos que analisam as obras e projetos enviados. As obras podem ser de qualquer movimento artístico, não limitamos a apenas um.” Romero Pimenta enfatiza que o Museu está comprometido com a qualidade e divulgação das artes e, por isso, pode abrigar exposições e mostras de estilos totalmente diversos, desde que compatíveis com o espaço físico e aprovadas pelo Conselho Curador da Fundação. Além das exposições de outros artistas, o Museu abriga também festivais. No último andar do prédio, há um Cine Teatro, com capacidade para 150 pessoas, que recebe shows musicais, seminários, cursos, workshops, dentre outras atividades. Gabriela Navarro argumenta que todas essas atividades são importantes porque trazem para o Museu um público diferente do comum, pessoas que não conhecem o local e voltam posteriormente para visitar as obras de Inimá de Paula ou outros eventos. “Acreditamos que toda forma de expressão artística é válida e o espaço museal é formado por essas iniciativas, aberto ao público profissional tanto quanto aos iniciantes em arte”, afirma a coordenadora. A partir das exposições temporárias e das obras fixas de Inimá, o Museu também realiza visitas gratuitas e orientadas para estudantes de escolas públicas. De acordo com Romero Pimenta, essas ações são importantes para o desenvolvimento do cenário cultural de Belo Horizonte. “O ambiente mais dinâmico, mas totalmente comprometido com a divulgação das artes, vem fazendo do Museu uma forte referência cultural da cidade”. Justamente por receber obras tão distintas, não há como generalizar quem é o público do museu. De acordo com Gabriella Navarro, os visitantes são artistas, interessados em arte, estudantes de todas as faixas etárias e até mesmo pessoas que passam em frente ao prédio e entram por curiosidade. O professor de Medicina do UniBH Guilherme de Oliveira, 33 anos, é um desses frequentadores. Ele conta que ficou conhecendo o museu quando foi assistir à apresentação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Em sua segunda visita ao Museu, o professor relata que teve uma percepção diferente do quadro que mais havia chamado sua atenção. “Esse quadro está diferente, mais forte. Se eu fosse descrevê-lo para alguém, antes de vê-lo novamente, seria muito diferente”, comenta Guilherme, ao apreciar a tela pintada por Inimá, que mostra uma cidadezinha mineira com uma grande árvore no centro. Conheça o museu O prédio onde funciona o Museu Inimá de Paula é o mesmo que, no passado, sediou o Clube Belo Hori-
Artes Plásticas zonte e onde funcionou o extinto Cine Guarani, na década de 1940. Atualmente, pertence ao Governo do Estado, que cedeu à Fundação Inimá de Paula o direito de utilizá-lo por 20 anos. Custeadas pela iniciativa privada, as reformas e a restauração do edifício contaram com o trabalho de mais de 100 profissionais. Ao todo, o prédio conta com seis pavimentos. No primeiro piso, um cantinho especial reservado aos obje-
tos à biblioteca pessoal de Inimá de Paula. No segundo, uma sala circular escura, onde estão expostos autorretratos pintados pelo artista. Há ainda a Galeria Virtual, onde os admiradores do pintor podem contemplar as telas que não estão fisicamente presentes no Museu. No último andar, a sala “Plataforma de Exposições Temporárias”, o Cine Teatro e um cybercafé. Segundo Gabriella Navarro, o
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Museu é mais frequentado nos finais de semana e no período de férias. O horário de funcionamento varia de acordo com o dia da semana e o valor da entrada é R$5,00 (inteira), mas idosos e crianças menores de 10 anos não pagam. O museu está localizado à Rua da Bahia, nº 1.201, no centro de Belo Horizonte. Outras informações pelo telefone (31) 3222-9798 ou no site www.inima.org.br.
Um mestre autodidata Foi na pequena cidade de Itanhomi, localizada no Vale do Rio Doce, no dia 7 de dezembro de 1918, que nasceu Inimá de Paula. Assim como outros artistas modernos brasileiros, começou como autodidata, mas aperfeiçoou-se nas artes plásticas em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro. No Ceará, participou do Movimento Modernista de Fortaleza. Também frequentou o atelier de Cândido Portinari e estudou na Europa, com Gino Severi-
ni e André Lothe, entre outros. As pinturas de Inimá são marcadas por pinceladas fartas, traços e cores fortes. Por isso é considerado o “Mestre das Cores”. Através de sua arte, Inimá fazia importantes denúncias sociais. Ainda na década de 1950, pintou queimadas e crianças de rua. De acordo com Romero Pimenta de Figueiredo, amigo e fundador da Fundação Inimá de Paula, as obras estão de acordo com algo
sempre dito pelo pintor: “O papel do artista é registrar em sua obra aquilo que é capaz de observar do mundo, instigando o espectador a pensar”. Inimá de Paula faleceu em 1999, em Belo Horizonte. Em 2001, por meio de uma lei aprovada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, recebeu o título de patrono das Artes de Minas Gerais. É ainda hoje lembrado como um dos grandes modernistas brasileiros. Reprodução
Autorretrato do artista faz parte do acervo do museu
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Música
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http://www.
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veteranos.se.rendem.à.m
Artistas consagrados investem em ferramentas midiáticas para estreitar sua relação com o público Ana Luíza Gonçalves Matheus Baldi 7º período
Edição: Gustavo Pedersoli Ele já fez uma longa construção artística da face trágica do homem em proparoxítonas. Ela, certa vez, quis ir ao céu para derramar as lágrimas de São Pedro ou de um grande amor. Ele já contou a história de Lily, de Bárbara, Carolina, Angélica e de uma Morena dos olhos d’água. Ela andou na contramão do português com seu sublime e infantil pedido “beija eu”. Entre letras e acordes, Chico Buarque e Marisa Monte constroem novos sons e, pelos ouvidos, iniciam uma conquista que se dissolve pelos outros sentidos, transformando o universo da música numa comunhão que celebra o tempo dos que caminham sem pressa – já que ambos dão um longo espaço entre um trabalho e outro. Seja quando for, Chico e Marisa sempre inovam e ousam em seus trabalhos, sem perder a essência, e mostram também que acompanham as tendências do mundo. Em 2011, os dois surpreenderam quem esperava trabalhos lançados da forma tradicional – aquela em que quase não se tem notícias sobre o processo. Os novos trilham um caminho comum e de fácil acesso: a internet. Desde os anos 1990, a internet tem sido utilizada como plataforma de artistas de todas as áreas. Porém, estes movimentos não eram tão fáceis quanto atualmente, devido a dificuldades de largura da banda, publicação de áudio e vídeo etc. Com a chegada do século XXI e o surgimento das redes sociais, a exploração da internet para divulgação de trabalhos de artistas começou a se popularizar. Para Lorena Tárcia, coordenadora do Laboratório de Convergência de Mídias do UNI-BH, uma grande vantagem da internet é a possibilidade de artistas desconhecidos mostrarem seus trabalhos, algo antes restrito aos favores de rádios e gravadoras. “Milton Nascimento e Fernando Brant já diziam que ‘Todo artista tem de ir aonde o povo está’. Portanto, não dá para ignorar o público qualificado da web e as plataformas gratuitas disponíveis para a divulgação”, relata Lorena. Para o lançamento do recente CD “Chico”, Chico Buarque contou com a gravadora Biscoito Fino para utilizar as plataformas digitais e comunicar os acontecimentos dos bastidores da gravação, por meio do site chicobastidores.com.br, desenvolvido por Bruno Natal. Além de revelar o que acontecia dentro do estúdio, Chico agradou aos fãs apresentando-se ao vivo com João Bosco e oferecendo todas as músicas do CD, com letras e com os manuscritos das canções. O intuito dessa experimentação foi criar uma relação mais próxima com os fãs, que passaram a entender melhor o processo. A divulgação da produção dos CDs pela internet possibilita um novo olhar sobre as propostas dos trabalhos, porque a experimentação acontece por um canal direto, onde os artistas, praticamente, se
humanizam diante da idolatria de tantos fãs. A interatividade e o retorno são mais claros, também, porque é possível cruzar informações e gerar uma estrutura para o lançamento. Segundo Daniel Barbosa, jornalista especializado em música, a internet possibilita uma nova visão, à medida que chega a um público diferente, no caso de Chico e Marisa, que se constituíram por meio das mídias tradicionais. “A leitura de um senhor de 60 anos, que ficou fã de Chico assistindo aos festivais da Record, é uma e a do jovem que tomou conhecimento da existência de Chico pelos teasers de lançamento do novo álbum pela internet é outra”, garante o jornalista. Marisa na rede Em outubro de 2011, Marisa Monte lançou o CD “O que você quer saber de verdade”, música do amigo da tribo, Arnaldo Antunes. A cantora também se aventurou nas mídias digitais e explicou em seu site oficial (marisamonte.com.br) que a internet serviria para informar os movimentos do seu novo trabalho, conforme fossem acontecendo. Marisa usa a ferramenta como ponto de encontro entre ela e o público, que é peça fundamental do diálogo. Além disso, a cantora ofereceu diversas opções de redes sociais para manter esse contato com o fã, alegando que as redes sociais são um fenômeno contemporâneo onde impera a liberdade. Margareth Vasconcellos, coordenadora de Mídias Sociais da Grudaemmim, empresa responsável pelo desenvolvimento do site da cantora, teve uma grande preocupação em fazer algo que fosse a cara da artista e que ficasse dinâmico e facilitasse o acesso do fã. “Marisa fez questão de participar do processo de criação. Ela entende muito do mercado de distribuição e gosta dessa coisa de tecnologia”, confessa. Para Daniel, a vantagem da internet para Chico e Marisa é que a rede, pelo menos potencialmente, atinge um público de milhões de pessoas, maior que qualquer emissora de TV, rádio ou jornal impresso. “Ainda que eles estejam presentes nesses meios, o que é o caso da Marisa e do Chico, com a internet eles têm infinitas janelas para outros públicos, inclusive de outros países. Afora o fato de ser um canal em que você coloca sua música, seu videoclipe, seu depoimento audiovisual, seus textos, impressões, fotos”, conta o jornalista. Seja ou não uma estratégia de marketing para vender os álbuns, o fato é que Chico Buarque e Marisa Monte estão numa esfera de amplo reconhecimento público e, mais uma vez, mostraram inovação no lançamento dos trabalhos. Essa relação de reciprocidade entre artistas e fãs pode ser enriquecedora para os dois lados, mesmo em se tratando dos ilustres Chico e Marisa. Dois grandes artistas com histórico expressivo dentro e fora do Brasil se uniram ao comportamento de artistas populares, mostrando que é possível levar – e trazer – toques de sutileza, sofisticação e delicadeza, assim como é o andar de ambos.
2007 - Gilberto Gil lançou o CD “Banda Larga Cordel” abordando a
pela Internet ao vivo – em tempo real. A letra da canção dizia: “Criar
revolução digital. No projeto de Gil, foi criado um blog especialmente
meu web site, fazer minha homepage, com quantos gigabytes se
para a turnê, no qual foram postados shows, bastidores do palco
faz uma jangada ou barco que veleja...”
e das viagens e com versões de algumas músicas para diferentes meios de comunicação, telefonia móvel, internet, ringtones,
2007 - O Radiohead, liderado por Thom Yorke, foi a primeira grande
truetones, downloads etc. O maior exemplo do fascínio do cantor
banda no mundo a oferecer um disco inteiro para download
pelo assunto “tecnologia” foi em 1996, com a transmissão online de
em sua página na internet. Nela, os fãs poderiam pagar o valor que
“Pela Internet”, primeira música brasileira a ser oficialmente lançada
quisessem, a partir de nada.
Música
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modernidade
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.com.br
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Reprodução
O nascimento da vida digital de alguns artistas 2008 – Caetano Veloso criou o blog “Obra em progresso” , que traz em
com letras e com os manuscritos das canções, além do serviço de
seu conteúdo autocríticas sobre seu trabalho artístico, críticas de shows
pré-venda, acesso exclusivo e antecipado ao conteúdo do álbum. A
de artistas nacionais e internacionais, além de analisar livros de poesia
canção “Nina” remete a um passeio pelo Google Maps ou Google Earth.
atuais e antigos e comentar questões da língua portuguesa.
2011 – Marisa Monte lança um rico projeto digital que inclui 2011 – Chico Buarque lança o CD “Chico” e usa as plataformas
lançamento de músicas e clipes inéditos em que solta novidades
digitais para divulgá-lo, mostrando os bastidores da gravação,
aos poucos. O grande diferencial fica por conta do oferecimento
apresentando-se ao vivo, disponibilizando todas as músicas do CD,
de aplicativos para Android e iPhone.
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Cinema
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Clássicos em cartaz
Cine Humberto Mauro exibe obras marcantes do cinema mundial, em sessões comentadas divulgação
Rafaella Arruda 7º período Edição: Gustavo Pedersoli Já imaginou a oportunidade de rever grandes clássicos da sétima arte, dos mais variados gêneros, nacionalidades e épocas, em uma sala de cinema, com entrada franca? E ainda com a participação de especialistas ao final de cada sessão? É essa a proposta da Mostra de História Permanente do Cinema do Cine Humberto Mauro, localizado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Todas as quintas-feiras, a partir das 17h, obras decisivas do cinema são revisitadas e comentadas por pesquisadores, críticos e professores. A Mostra, exibida desde 2010 e programação rotineira de cinéfilos, foi inspirada em sessão de mesmo nome realizada pela Cinemateca Portuguesa. De acordo com o gerente de programação do Cine Humberto Mauro e também crítico e professor de cinema, Rafael Ciccarini, a participação de comentaristas, incluída a partir de agosto de 2011, tem o intuito de acrescentar valor ao projeto, adequando-se à política de formação do Cine Humberto Mauro. A ideia é que, uma vez terminado o filme, o público possa ouvir sobre ele e estender aquela experiência, com a possibilidade de relacionar informações ao que já foi dito em exibições anteriores. “O público que freqüenta a Mostra vai acumulando esse conhecimento e acaba, mesmo que lentamente, se formando na história do cinema”, destaca Rafael. Riqueza pela diversidade A Mostra não segue ordem cronológica, nem agrupa filmes de uma mesma tendência. São obras bastante variadas, realizadas até a década de 1980, de origem norteamericana, brasileira, europeia, dos gêneros drama, faroeste, terror e comédia, entre outros. Segundo Ciccarini, a proposta é exatamente demonstrar a riqueza e diversidade da história do cinema, destacando como ela é complexa e contraditória. Portanto, pouco afeita a qualquer linearização. O gerente de programação explica, ainda, que a exibição sequenciada poderia transmitir ao espectador a ideia de que, caso perdesse alguma sessão, não seria possível assistir a outra: “Não há isso. A pessoa pode ir a um filme, faltar e voltar no outro. Ao mesmo tempo, tenta-se achar elos, mesmo que esses se deem por contrariedades.” Produções como o clássico do terror O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski, de 1968, e a animação Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937, exibidas na Mostra, demonstram a diversidade do projeto e sua capacidade de atender diferentes espectadores. Além dos filmes individuais, a Mostra de História Permanente do Cinema exibe sessões especiais, que atraem grande atenção do público. Como exemplo, Rafael Ciccarini destaca a Trilogia do Silêncio, com produções do cineasta sueco Ingmar Bergman exibidas em uma única quinta-feira durante o mês de setembro. Na ocasião, os filmes Através de um Espelho, de 1961, Luz de Inverno e O Silêncio, ambos de 1963, foram comentados pelo escritor e ensaísta Mário Alves Coutinho. Outra sessão exibida em outubro, com comentários do próprio Rafael Ciccarini, foi o especial “O Jovem Kubrick”, com filmes dirigidos e escritos pelo cineasta norte americano Stanley Kubrick, na década de 1950: A Morte Passou Perto, O Grande Golpe e Glória Feita de Sangue. Sessões comentadas A dinâmica dos comentários após as sessões busca fugir do clichê, do lugar comum de análise dos filmes. Os comentaristas são escolhidos pelo interesse e conhecimento que possuem sobre a obra,
Rafael Ciccarini, gerente de programação do Humberto Mauro e mentor da Mostra Permanente
tema ou diretor, e devem transmitir um pensamento original sobre o assunto. A proposta é falar de cinema, sobre a forma como o diretor aborda tal temática e o que o filme possui de transgressor em termos de linguagem cinematográfica, por exemplo. Um dos especialistas convidados da Mostra foi o jornalista e crítico de cinema Marcelo Miranda. Após a exibição de O Franco Atirador, produção de 1978 diri- “O público vai gida por Michael Cimino, Miranda acumulando destacou aspectos conhecimento técnicos, tendências do diretor e e acaba se também estabeleceu paralelo com formando na outras produções. Em sua opinião, história do a Mostra de His- cinema” tória Permanente do Cinema é fundamental e muito Rafael Ciccarini coerente. “Ela viabiliza formadores de opinião, permite reflexão. O comentário após as sessões é essencial, porque compartilha experiência, o que torna a exibição ainda mais imperdível”, declara o crítico.
Para o jornalista e professor Nísio Teixeira, convidado para comentar Johnny Guitar, de 1954, de Nicholas Ray, a experiência foi muito válida. “A iniciativa ajuda a criar público e a envolver mais pessoas com o cinema”, argumenta. Entre a plateia, percebe-se a tendência de as pessoas saírem das sessões com novas percepções e questionamentos. “Quem gosta de cinema vai se fascinando, quer buscar mais. A pessoa sai de lá e vai assistir a obras citadas, atores e diretores, vai concordar, vai discordar. Isso é muito comum”, explica Rafael Ciccarini. Um destes espectadores sempre presente à Mostra é o porteiro Salvador Pires. Para Salvador, que confessa preferir os filmes antigos por terem mais qualidade e expressão no cinema, os comentários após as sessões são uma grande oportunidade de aprendizado: “Aprendemos e vemos o filme com mais qualidade”, admite. De acordo com o crítico de cinema Jefferson Assunção, também frequente às sessões e responsável pelos comentários sobre o faroeste norte-americano No Tempo das Diligências, de 1939, a iniciativa vale pela difusão dos filmes, além de fazer o público pensar e acrescentar conhecimento. A Mostra de História Permanente vai se firmando, assim, como uma chance de rever obras consagradas no ambiente mais propício a este tipo de arte: a sala de cinema. Para fascinar-se e refletir.
Cinema
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A vida de Brian, O franco atirador, O bebê de Rosemary, Glória feita de sangue e Johnny Guitar foram alguns dos filmes exibidos e comentados em sessões gratuitas no cine Humberto Mauro
Belo HorIzonte, maIo de 2012
Com a responsabilidade de produzir uma matéria para a disciplina de Jornalismo Cultural, meu primeiro desafio foi decidir o que focar no campo do cinema. Porque se havia dúvidas sobre esse corte temático, certa era a oportunidade de, mais uma vez, me dedicar a tratar de um de meus assuntos preferidos: a sétima arte. A escolha pela Mostra de História Permanente do Cinema surgiu após assistir a dois filmes no Cine Humberto Mauro. Ajuste Final, dos irmãos Coen, e Os Intocáveis, de Brian De Palma, não faziam parte da Mostra, mas me chamaram a atenção para as peculiaridades deste espaço cultural: localizado no Palácio das Artes, no centro de Belo Horizonte, com a exibição de grandes obras do cinema, e, ainda, com entrada franca. Optei, então, por focar a reportagem na Mostra de História Permanente, uma vez que, além dos elementos já citados, ela oferecia aos espectadores a oportunidade de, após as sessões, ouvir comentários de especialistas da área. Algo fascinante que merecia uma divulgação à altura. Pelo menos, de forma a alcançar todos os apaixonados por cinema de Belo Horizonte, sempre sedentos por produções culturais de qualidade, que nem sempre são exibidas no circuito comercial. Assim, tratar da Mostra atenderia não apenas à minha tarefa acadêmica, mas também aos meus anseios de cinéfila e jornalista em formação. Realizar a matéria me possibilitou ótimos momentos. Para entender o perfil da Mostra e recolher depoimentos do público, organizadores e comentaristas, estive no Cine Humberto Mauro por três vezes e assisti a clássicos como O Franco Atirador, de Michael Cimino, Glória Feita de Sangue, de Stanley Kubrick, e A Vida de Brian, da trupe britânica Monty Python. Em conversa com Rafael Ciccarini, mentor e coordenador da Mostra, soube das origens do projeto e expectativas futuras, além de compreender mais a fundo o perfil de cinema não comercial e formador de conhecimento proposto por aquele espaço cultural. Também, as entrevistas com os jornalistas e professores Marcelo Miranda e Nísio Teixeira foram essenciais para ampliar meu entendimento sobre o evento. Dessa forma, a matéria “Clássicos em Cartaz” me possibilitou contatos, aprendizado e uma experiência jornalística bastante satisfatória. E ainda a certeza de que, apesar de não ser sempre possível, para o repórter, falar do que gosta, ter essa oportunidade torna tudo muito melhor.
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Henrique Arruda Morais 7º período Publicado originalmente em 1915, A Metamorfose conta a história surpreendente de Gregor Samsa, um jovem caixeiro-viajante que sustentava sozinho a família, composta por seu pai, sua mãe e irmã. “Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, quando levantou um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido em segmentos arqueados, sobre o qual a coberta, prestes a deslizar de vez, apenas se mantinha com dificuldade. Suas muitas pernas, lamentavelmente finas em comparação com o volume do resto de seu corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos”. Assim começa a complexa e instigante narrativa de Kafka. O livro é dividido em quatro partes. Na primeira, ocorre a repentina e absurda transformação, que causa um choque em todos. Na segunda, conhecemos o convívio da família com Gregor e suas dificuldades por ter se tornado monstruoso. Na terceira parte, os familiares, após perceber que sem Gregor seria preciso encontrar outro sustento e passar a trabalhar, aluga um quarto para três inquilinos. Na parte final, surge uma esperança, mas que é tratada com ironia, presença constante durante o texto. Ao longo da obra, é possível perceber a originalidade na forma de narrar deste escritor nascido em Praga, em 1883. Diferentemente de outros autores, Kafka, em grande parte, não explica as causas dos eventos, por mais incompreensíveis e absurdos – o que gerou o adjetivo kafkiano – que possam ser. A ênfase não é dada à metamorfose por si só, mas aos problemas gerados depois do acontecimento. Os elementos da narrativa podem ser melhor compreendidos quando transportados para fora do livro. Como principal fonte de renda da família, Gregor arcava com todas as despesas e, antes de sua transformação, prometia à irmã levá-la para estudar violino no conservatório. Mas, quando isso não é mais possível, a família passa a se virar: o pai aposentado volta a trabalhar; a mãe, a costurar; a filha de dezessete anos também começa a ajudar a família e um dos quartos é alugado para três inquilinos. Com isso, o autor sugere que foi preciso uma tragédia na vida dos familiares para que eles saíssem da acomodação. O clímax da história ocorre quando a irmã de Gregor, que o ajudava no princípio de sua nova forma animal, decide com os pais que o
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melhor é se livrarem do inseto. Nesse momento, há uma expectativa grande para o que irá acontecer com o personagem principal. Talvez ele irá voltar à sua forma humana? Virá alguma explicação sobre o porquê da metamorfose? Porém, não é o que acontece. O escritor rompe com as narrativas tradicionais e não acrescenta nenhuma explicação ou final feliz para a situação do personagem. Gregor não só continua como um asqueroso inseto, como também morre com essa terrível aparência. Para os Samsa, a morte significa que finalmente estavam livres de um peso e, com todos trabalhando e ajudando na despesa, poderiam mudar de casa. Franz Kafka também deixa claras as questões patriarcais. O pai é sempre relacionado como um ser supremo, sua palavra é tida como lei. Ele não só reprime, por diversas vezes, o filho, como também frustra as esperanças que Gregor tinha com sua irmã, ao tentar levá-la para o conservatório. Com sua autoridade, o pai percebe o crescimento de sua filha, descrito como o desabrochar de uma flor em algo espetacular, e logo começa a imaginar planos para a moça se casar. Kafka termina afirmando que iniciava-se uma primavera, querendo dizer que era uma nova era para a família, já que estavam livres do filho. Assim como os pais depositavam esperança e boas intenções em Gregor, a partir de agora as atenções passam a ser voltadas para a filha.
Ficha Técnica
Titulo em português: A metamorfose Titulo original: Die Verwandlung Autor: Franz Kafka Tradutor: Marcelo Backes Editora: L&PM Pocket
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Belo Horizonte, MAIO DE 2012
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Back And Forth Documentário de 2011 revela o antes e o agora na carreira do Foo Fighters João Paulo do Vale 8º período Desde a coletânea Greatest Hits, que reuniu os maiores sucessos do Foo Fighters em um CD, com apenas uma faixa inédita (“Wheels”), boatos circularam sobre o possível fim do grupo, criado em Seattle, em 1991. Liderado por Dave Grohl (ex-baterista do Nirvana), o Foo Fighters já conquistou 6 Grammy Awards, tocou para mais de 60 mil pessoas, em Wembley, e já lançou 8 álbuns, contando com o mais recente, Wasting Light. A atual formação, além de Grohl, conta com o guitarrista Chris Shiflett (ex-No Use For a Name), o baixista Nate Mendel (ex-Sunny Day Real State), o baterista Taylor Hawkins (ex-Alanis Morissette), e o guitarrista Pat Smear (ex-Nirvana), que retornou a banda 13 anos após sua saída. Não haveria nome mais adequado para o documentário do que Back and Forth (“para trás e para frente”, em tradução livre). Em mais de duas horas de filme, o roteiro segue a ordem cronológica da história da banda nos 16 anos de carreira, e começa bem no passado, quando Grohl ainda era o baterista do Nirvana. As peças são muito bem encaixadas, mostrando como cada membro se juntou ao grupo, bem como o processo de criação de todos os álbuns, com ênfase maior nos 3 primeiros CDs (Foo Fighters, The Colour and The Shape e o There’s Nothing Left To Lose), até o processo de gravação de Wasting Light. Além disso, o filme mostra como os integrantes lidaram, no início da carreira, com as comparações com o Nirvana, tentando relacionar as músicas com Kurt Cobain. Tudo isso por meio de depoimentos dos próprios ex e atuais membros do Foo Fighters, com o auxílio de imagens e vídeos de arquivo da própria banda. Back and Forth também cita vários conflitos pessoais que quase terminaram com a banda e certamente são desconhecidos de muitos fãs. Desde Taylor sofrendo uma overdose, antes da gravação do álbum One By One, até o retorno do guitarrista Pat Smear, convidado de volta à banda sem que o atual guitarrista (Shiflett) soubesse. Tamanha transparência faz com que o documentário seja mais interessante ainda. Primeiro álbum com faixas inéditas do grupo desde o lançamento do Echoes, Silence, Patience And Grace, em 2007, Wasting Light garante um dos pontos mais interessantes do documentário. Ao contrário do que várias bandas andam fazendo, o Foo Fighters optou gravar as músicas no formato analógico, um processo artesanal, que usa fitas em vez de computadores. O contexto da criação do álbum é bem interessante, pois reúne, após 20 anos, o produtor Butch Vig, Dave Grohl, e o baixista Krist Novoselic, ex-baixista do Nirvana, que gravou o baixo na faixa “I Should Have Known”, dedicada a Kurt Cobain. Butch Vig foi o responsável pela produção de Nevermind, um dos álbuns mais importantes da história do rock, e o mais conhecido do Nirvana.
Quem assina a direção de Back and Forth é o norte-americano James Moll, ganhador de um Oscar em 1998 com o documentário The Last Days, que narra a história dos sobreviventes do Holocausto, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Vários sites especializados se referem ao filme como uma exceção entre as obras que discutem o tema, pois, embora contenha imagens impressionantes, seu foco é a forma como os judeus reconstruíram suas vidas após o Holocausto. Em 2011, Back and Forth foi exibido em 3D no Brasil, em várias salas de cinema espalhadas pelo país. A versão em DVD vem para fidelizar de vez os admiradores mais antigos da banda e atrair os que conhecem apenas os singles tocados nas rádios. Material indispensável para os fãs do Foo Fighters.
Ficha Técnica
Título: Foo Fighters - Back and Forth Gênero: Documentário / Musical Direção: James Moll Duração: 147 min Ano de Lançamento: 2011 País de Origem: EUA REPRODUÇÃO
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Belo HorIzonte, maIo de 2012
Crônicas
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Ataque Zumbi: você está preparado? roberta garcia Zocrato
Paulo HENrQuE FErNaNdEs
6º PEríodo
O zumbi é uma criatura fictícia que aparece nos livros e na cultura popular tipicamente como um morto reanimado ou um ser humano irracional. As histórias têm origem no sistema de crenças espirituais do vodu afro-caribenho, que contam sobre trabalhadores controlados por um poderoso feiticeiro. Em algumas hipóteses, vítimas de um ataque de zumbi também se transformariam nestas criaturas se sofressem uma mordida ou arranhão de um infectado. Em outras, o vírus pode ser transmissível através do ar. E do “Apocalipse zumbi”, já ouviu falar? É um cenário hipotético da literatura apocalíptica. Cultuado, e até mesmo aguardado por muitas pessoas, refere-se a uma infestação de zumbis em escala catastrófica, que rapidamente os transformaria na espécie dominante sobre a Terra. Nestes cenários, os zumbis caçam seres humanos, sua mordida causa uma infecção que faz com que um sobrevivente de ataque também se torne um zumbi posteriormente. Isto rapidamente se tornaria uma infestação absolutamente incontrolável, com o pânico causado pela “Praga Zumbi”. Em pouco tempo, a existência de vida humana no planeta seria reduzida a poucos grupos de sobreviventes. O conceito, nascido na década de 1960, ganhou grande popularidade ao longo dos anos, servindo de tema para incontáveis filmes, seriados,
livros, histórias em quadrinhos, videogames e outras obras de variadas mídias. Há até mesmo os que acreditam na concretização de tal cenário, se preparam para sua suposta chegada. Diante desta situação, um professor universitário americano criou um curso de defesa pessoal no caso de um ataque zumbi. Glen Stutzky lecionará o curso por sete semanas, com início em maio de 2012, simulando uma praga. Segundo o professor, o principal tema das aulas será “Sobrevivendo ao ataque vindouro de zumbis: catástrofes e erros humanos”. Stutzky chegou a divulgar um vídeo promocional em que afirma: “Em momentos de catástrofe, algumas pessoas encontram sua humanidade. Outros a perdem”. O verdadeiro objetivo de Glen é promover, através da metáfora dos zumbis, um trabalho social aos alunos demonstrando o comportamento das pessoas em momentos de crise. Mas o professor não é o único a se prevenir dos mortos-vivos. A empresa de armamentos Taurus já está produzindo uma pistola de defesa própria contra as criaturas. A “Zombie Defender” tem aparência de brinquedo, mas atira de verdade usando balas de calibre 454, 45 e 410. A agência de saúde dos EUA também já preparou uma cartilha com informações sobre medidas de emergência no caso da epidemia. A grande brincadeira surgiu de uma pesquisa conduzida pela internet, indicando que 95% dos internautas que leram histórias em quadrinhos sobre o assunto dizem estar preparados para enfrentar qualquer situação de emergência no país, inclusive preparar um kit de emergência. Segundo Maggie Silver, pesquisadora do CDC, Centers for Disease Control, a campanha mostrou que uma agência governamental pode ter senso de humor, mesmo ao abordar um assunto muito sério. Com os zumbis, foi possível levar para as pessoas a informação de que, “seja um apocalipse zumbi, um furacão ou um terremoto, o importante é estar preparado, pois isso pode ajudar na sobrevivência a emergências em geral”, declarou Silver. A campanha começou com um simples post no blog da agência americana. A referência divertida fez tanto sucesso que o site acabou criando uma página só para a questão dos mortos-vivos. E também publicou uma história em quadrinhos sobre o tema, o que inspirou o professor Stutzky a criar o seu curso de defesa pessoal contra zumbis.
Um tal de Paulo Marina Fráguas 6º PEríodo
Não sou de BH. Não nasci nessa cidade linda e conheci metrô só quando vim parar aqui. De onde eu venho, asfalto é pra fazer caminhada e andar de bicicleta de tardinha. Arranha-céu, viaduto... Quando era menino nem pensava! Aeroporto, então, só na imaginação, ouvindo no rádio Leandro e Leonardo: “Vamos pegar o primeiro avião com destino à felicidade...”. Pois bem, não sou de BH e por isso posso dizer: não há lugar melhor e que não para de trabalhar! Outro dia ouvi no rádio que a Copa do Mundo será aqui! Nosso Deus, pensei, vai vir gringo de tudo quanto é jeito e essa cidade finalmente vai aparecer na televisão, igual São Paulo e Ridijaneiro! Vai ter gente querendo gravar música do tipo: “Beagá, seu céu, montanhas sem fim, Beagá você foi feita pra mim...” ou “Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruzo a Afonso Pena e a avenida Amazonas...”. Seria bom demais!
Nesse mesmo dia passei numa banca e tomei um jornal. Ah! É bom saber das notícias de vez em quando. Peguei o trocado que tinha economizado pra média e resolvi comprar um periódico! Sentei lá no banco da Praça Sete e comecei a folhear. Tinha uma notícia falando das obras pra Copa do Mundo: “A capital mineira receberá seis jogos do Mundial. As obras de reforma e modernização do Mineirão terminarão em 2012. O estádio do Independência termina sua manutenção, aeroportos serão renovados e mobilidade urbana será modelo!”. Êta orgulho de Belô! No mesmo jornal, em outra página, tinha uma foto de um cara de terno azul no microfone. Embaixo, estava escrito: “Mais uma vez, Belo Horizonte não terá show de Paul”. Paul? Pensei. Isso deve estar errado! Ninguém chama Paul, todo mundo chama Paulo! E quem era esse tal de Paulo pra querer tocar em BH? Fui ler a notícia. Lá falava que BH foi excluída por falta de espaço adequado. Que, mesmo recém-reformado, o estádio do Independên-
cia não oferecia condições para apresentações de grande porte. E ainda tinha uma tal produtora falando: “Se tivessem sido feitas duas mudanças simples no Independência, haveria o show. A negociação financeira sempre esteve pronta”. Achei a notícia confusa e nem li direito, pois já pela foto eu sabia que aquele Paulo não era gente conhecida. Agora, me fala... Quem é esse caboclo pra querer tocar na capital, gente? Nem lá na minha cidade os artistas têm tamanha ousadia de querer tocar em BH e me vem esse peão achando que pode chegar assim, do nada, fazer e acontecer? Ah! Valha-me, Deus! Desde pequeno minha abençoada vozinha me ensinou que temos que ter humildade e saber do nosso lugar! Se na cidade do tal Paulo não tem lugar pra ele fazer show, vai procurar uma Ipatinga, uma João Monlevade, até mesmo uma São Domingos do Prata pra tocar, mas deixa minha BH de fora dessas pretensões granfinas! Sabe, se eu pudesse deixava um recado: meu amigo, ‘Sir’ Paulo, como estava
escrito no jornal – ele deve ser mais velho, pra ser chamado assim, de senhor –, não me leve a mal, mas aqui não tem lugar pra você! As pessoas aqui não conhecem a sua música e se a prefeitura não te autorizou, é porque você não ia encher o espaço. Se eu pudesse, ainda falava pra ele: Ô, meu filho, não fica triste, não. Trabalho tá difícil pra todo mundo! O senhor tem uma cara bem apessoada, arrumadinho, vê-se que se esforçou muito pra ficar bem engomado na foto. Quer uma dica? Passa na rádio da minha cidade e deixa uma cópia da sua fita, que eu conheço o dono e ele há de tocar pra você lá. Tocando uma ou duas vezes, se o arrasta-pé for bão, capaz até de você arrumar uns shows no Bar do Ricardo! E não desiste, não, que carreira de músico é assim mesmo! Uns dias você tem sucesso, outros não. Tenho certeza de que, com força de vontade, cê vai pra frente! Só não pode deixar o sucesso subir pra cabeça e querer fazer fama até no estrangeiro! Aí já é demais!