Edição 188 - Caderno 1

Page 1

Ano 30 • número 188 • Julho de 2012 • Belo Horizonte/MG

Dossiê nas páginas 8 a 12

legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda

Caderno do!s - teatro, cinema, artes plásticas, música, resenhas e moscas embriagadas


2

Belo HorIzonte, julHo de 2012

primeiras palavras

IMpressão

Geração avançada; sociedade nem tanto

eXpedIente

REITOR Prof. Rivadávia C. D. de Alvarenga Neto

Marina Fráguas 6º período

INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGN Prof. Rodrigo Neiva

edição: dany Starling Elas já queimaram sutiãs, já morreram por seus direitos e escolhas. Eles pegaram em armas contra regimes totalitários, fizeram revolução com as próprias mãos. Elas adquiriram direito ao voto, chegaram å presidência e, mesmo assim, lutam por igualdade e respeito. Juntos, eles conquistaram liberdade de imprensa, voz ativa e espaço. Envoltos no mesmo objetivo, com a mesma vontade e dons similares, a nova geração de homens e mulheres, filha dos descontentes, revela-se politizada, ainda que de forma tímida, e apresenta talentos diversos, paixões transcendentais e olhares atentos, que fazem do jornalismo um mundo subjacente ao encontrado nos noticiários. Um jornalismo que foge

do lead convencional e vai muito além do estereótipo da busca da verdade. Muito mais que trazer à tona informações relevantes, é algo encarnado na pele, nos olhos e, sobretudo, no ar que dá vida a esses tantos jovens. Nesta edição do Impressão, conseguimos unir política, sensualidade e... Imprensa! Com uma carga extraordinária de entrevistas, fotos e pesquisa, nossa equipe, com o ar investigativo de iniciantes, porém não menos ávidos jornalistas, reuniu indignações e uma série de aparatos que revelam pilares ocultos, ou talvez esquecidos e ignorados, da sociedade e da política brasileira. Dando a cara a tapa sem medo, o Jornal Impressão, em uma homenagem clara ao mestre que tanto nos guiou

pelo caminho da ética e moral, por meio do dossiê “Raio X da Imprensa”, dilacerou os limites padrões e, em textos ousados e pertinentes, traçou o perfil do jornalismo que não queremos e não devemos seguir. Querido professor João Joaquim, esta edição é dedicada a você e à sua vida inteira destinada ao jornalismo puro e aos valores que irão ecoar para sempre, e que, nem em duzentos, trezentos anos de edições, conseguiremos expressar nossa admiração e gratidão! Para contribuir ainda mais com essa carga altamente jornalística e empírica, a editoria “Outros Papos” trouxe uma entrevista bem descontraída com a jornalista Leila Ferreira, que conta momentos da carreira e pincela toques pessoais da

profissão. No descontraído Caderno Dois, além de música, lingerie, lançamentos e dicas culturais, uma matéria especial sobre o belo trabalho realizado pelos restauradores, responsáveis por conservar nosso patrimônio cultural. Isso sem contar nossa breve e intensa passagem pela “Marcha das Vadias”. Com muita paixão, amor e com tudo que o leitor mais gosta, esta é a vez e a voz de quem tem o jornalismo não apenas como paixão, mas como norte. E, em meio à imprensa moderna e suas mazelas, traço um paralelo, um tanto apropriado, com a escritora Simone de Beauvoir: “Por vezes a palavra representa um modo mais acertado de se calar do que o silêncio”. GUILHerMe pACeLLI

COORDENAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMO Profa. Fernanda de Oliveira Silva Bastos

LABORATÓRIO DE JORNALISMO IMPRESSO EDITORES Prof. Leo Cunha Prof. Maurício Guilherme PRECEPTORA Profa. Ana Paula Abreu (Programação Visual) ESTAGIÁRIOS Camila Freitas Guilherme Pacelli Jéssica Amaral MONITORES Dany Starling Gustavo Pedersoli Marina Fráguas

LAB. DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS EDITORA Profa. Lorena Tárcia

Parceria LACP – Lab. de Criação Publicitária

equipe do impressão entrevista roberto pompeu de Toledo e Míriam Leitão, para o dossiê especial.

Ilustrações Cristiano Soares (aluno de Publicidade e Propaganda)

IMPRESSÃO / TIRAGEM Sempre Editora 2000 exemplares

eleito o melhor jornal-laboratório do país na expocom 2009 e o 2º melhor na expocom 2003 O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pelos professores Maurício Guilherme e Leo Cunha, com os alunos do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo - do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço.

JÉSSICA AMArAL

Participe do IMPRESSÃO e faça contato com a nossa equipe: Rua Diamantina, 463 Lagoinha – BH/MG CEP: 31.110-320 Telefone: (31) 3207-2811 Email: impresso@unibh.br

pArA seGuIr o jornAl Facebook Impressão - Jornal Laboratório do UniBH

@

Site: www.jornalimpressao.com.br

Twitter: twitter.com/impressaounibh


Visão crítica

IMpressão

Belo HorIzonte, julHo de 2012

3

arTiGO e COlUNa

parada Gay não é carnaval

pitadas de política por Lucas Garabini 7°período

Cpi Cachoeira

Camila França 7°º período

edição: Marina Fráguas Entre os meses de junho e julho é realizada no Brasil uma grande manifestação popular: A Parada do Orgulho Gay, que surgiu para dar visibilidade à comunidade homossexual. Suas bandeiras são a luta contra a homofobia e a busca pela igualdade de direitos. No entanto, o evento vem perdendo sua essência. Como toda manifestação, o objetivo da Parada é mostrar a existência do descontentamento com a forma que os homossexuais são vistos pela sociedade. Os manifestantes pedem proteção contra o precon-

ceito, o direito de participar e de serem inseridos nas normas sociais e jurídicas da sociedade. O cunho é político. Ir às ruas se manifestar representa uma maneira de ser reconhecido como integrante do meio em que vive. Hoje, o que vemos na imprensa é uma divulgação empolgada de números de participantes em uma festa.Mais importante que retratar que milhares de pessoas saíram de casa para participar da Parada Gay, é debater o motivo que as levaram até ali. Os números garantem repercussão, mas não expressam a luta por igualdade. O sentido carnavalesco dado à Parada faz com que os homossexuais fiquem presos

a estereótipos como, por exemplo, o de animados e divertidos. Presos a esses conceitos, a discussão em torno do tema se torna inexpressiva. Transformar uma causa em algo em que as pessoas se divirtam é oportuno e incentiva quem vê de longe a olhar mais de perto e, quem sabe, até rever preconceitos. O problema não é fazer festa, mas sim deixar de lado a importância de mostrar que as diferenças não existem. Participar da Parada Gay contribui para manter viva a luta pelos direitos LGBT, mas que cada participante leve alegria e também a vontade de contribuir para um país mais justo e igualitário.

Enquanto houver a CPI do Cachoeira, este será o assunto do momento nas editorias de política. No começo, alardearam a comissão como uma oportunidade para que o Congresso Nacional oferecesse sua cara à tapa e refizesse sua imagem junto à opinião pública – um absurdo, diga-se, pois CPI não serve pra isso. Agora, o que se vê, são uma série de manobras jurídicas, negociatas

de bastidores e caminhos no mínimo suspeitos, para aquilo que era visto como uma redenção dos parlamentares brasileiros. A cada dia, a CPI se perde mais. Entre revelações, convocações adiadas e declarações estúpidas, a opinião pública fica menos interessada no que acontece em Brasília. Não por uma questão de alienação, e sim por estar totalmente desacreditada.

Dilma e a Ditadura

acesso à informação

Desde sua posse, a presidente Dilma se posicionou favorável à revisão do regime militar brasileiro, inclusive quanto às indenizações dos presos políticos e parentes dos desaparecidos naquele período. É válido rever historicamente um tempo nefasto da história brasileira, mas cautela e bom senso conduzem sempre a um equilíbrio justo e consensual. É preciso pesar bem as declarações e levantar com cuidado qualquer bandeira. Esclarecer os acontecimentos nebulosos da época da ditadura e abrandar as injustiças do passado é uma coisa. Trazer de maneira incessante e sistemática este assunto ao presente é outra.

A lei que permite ao cidadão brasileiro consultar quaisquer informações referentes aos órgãos públicos federais representa um passo dado em direção à transparência pública e ao respeito às liberdades civis. Num mundo em que a circulação de informação se dá de maneira global e instantânea, qualquer restrição representa um contrassenso. Enquanto houver penumbra sobre as ações públicas e governamentais, também existirão brechas para se desviar das intenções democráticas e republicanas. Outro ponto positivo da lei é a abertura para que exista organização popular em um nível mais forte, consciente e participativo.


4

Belo HorIzonte, julHo de 2012

outros papos

IMpressão

lições de um fogão a lenha leila ferreira revela como carreira foi influenciada pela mãe, cuja morte a afastou da Tv FoToS: ASAFe ALCÂNTArA

em seu apartamento, tendo como fundo a Serra do Curral, Leila Ferreira relembra diferentes momentos de sua carreira

Asafe Alcântara paulo Henrique Chaves 5º período edição: Marina Fráguas Uma das figuras mais conhecidas da televisão mineira, a jornalista Leila Ferreira já foi professora, hoje ministra palestras para diversas empresas e é autora de livros de sucesso. Atualmente, fora da TV, pretende voltar assim que se recuperar da maior perda da sua vida: a morte da mãe. Foi justamente ela, Lúcia, a grande inspiração para as mais de 1.600 entrevistas realizadas em cerca de dez anos do programa “Leila Entrevista” na televisão. “Minha mãe era uma pessoa iluminada, amada por todos. Ela congregava as pessoas, tinha habilidade para acolhê-las. Mesmo com a vida sofrida, jamais dava sinal de amargura e tristeza. Era uma pessoa forte, serena, generosa. Por causa disso, as pessoas se juntavam ao seu redor.”. Leila acrescenta: “Sempre falo

que fiquei mais de um ano fazendo mestrado em teoria da comunicação em Londres, mas o verdadeiro mestrado foi feito na minha cozinha em Araxá. Ali aprendi os valores que devem pautar a comunicação entre as pessoas. Acho isso mais importante que qualquer teoria, que qualquer técnica. O jornalismo, de alguma forma, já acontecia na minha casa. A vocação jornalística foi sendo preparada naquele fogão. Sempre falo que crescemos no calor do fogão à lenha e à sombra das palavras.”. A carreira como jornalista começou na mídia impressa, no jornal Correio Braziliense, da capital federal. Trabalhava na editoria de Cultura quando recebeu o convite para ingressar na TV Bandeirantes de Brasília, então em processo de implantação na cidade. O seu jeito de conversar com as pessoas chamou a atenção do responsável pela emissora, que a convidou a fazer parte da equipe. “Nunca pensei em

fazer televisão. Nem hábito de ver TV eu tinha. Entrei e adorei. Fiquei um mês tentando conciliar o jornal e a Bandeirantes. Então deixei o impresso”, conta. A partir daí, Leila não parou mais. A televisão a tinha conquistado, mas nem tudo estava perfeito: “Amava meu trabalho na Bandeirantes. Fiquei três anos, mas detestava Brasília. Voltei para Belo Horizonte, trabalhei como repórter na Globo, mas odiava ir para rua”, explica. Na sequência, ganhou bolsa para um mestrado em Comunicação numa universidade de Londres. Quando voltou, estava decidida a não fazer matérias na rua. “Não ia ficar nesse troço coisa nenhuma”, relembra. Passou um tempo como colunista de cultura da rádio CBN, mas acabou retornando para a reportagem, o que fez com que regressasse para a TV Globo. Leila conta que teve ao todo três passagens pela emissora carioca, “e em todas as vezes, eu pedi demissão”.

Após uma dessas saídas da Globo, Leila teve a oportunidade de começar o programa “Leila Entrevista” na Rede Minas. Foram oito anos de sucesso na emissora. O programa também passou pela TV Alterosa, onde ficou por dois anos, repetindo o êxito da antiga estação. Foram mais de 1.600 entrevistas realizadas, entre famosos e anônimos. “Gosto de entrevistar. Entrevisto celebridade por obrigação e a pessoa humilde, ou anônima por paixão. A celebridade já chega com as respostas prontas e decoradas e, se o entrevistador não estiver ali, ele nem nota. É como se fosse um discurso mecânico e pronto. O anônimo não! É mais verdadeiro e puro.”, conta. No entanto, Leila destaca: “Claro que existem exceções, como, por exemplo, a escritora Isabel Allende, Tony Ramos, Denise Fraga, pessoas super simpáticas, humildes, que encantam”. E como manter um programa durante dez anos, com tanto sucesso? Leila não vê segredo. “Acho que,


IMpressão

pelo meu jeito mineiro de conversar, não tem nada de diferente”. É claro que, com tantos entrevistados, nem sempre tudo saiu como planejado. “Na TV, tudo é inesperado. Todo dia tinha algo diferente, mesmo não sendo ao vivo. Às vezes, converso com a pessoa antes da entrevista, mas quando começa a filmagem, a pessoa não fala nada”. Ela lembra o sofrimento de quando entrevistava alguém que falava demais: “Não consigo interromper, começo a sentir ondas de calor e suar. Tenho medo de ser mal educada.” Mas todas essas situações

outros papos trouxeram grandes experiências para ela, que gosta de recordar as lições que tirou das entrevistas. “Talvez a maior lição é descobrir como o ser humano se parece. Entrevistei a Rainha da Suécia, em um palácio de 608 cômodos, e, depois, a Saluiza, uma benzedeira do vale do Jequitinhonha, num barraco. Duas rainhas, duas mulheres dignas, boas, com elegância de viver. Uma simplicidade, uma gentileza. Ouvir falar sobre perdas, tristezas, angústias, medos, alegrias. Todos têm grande semelhança”, sentencia.

Belo HorIzonte, julHo de 2012

Como escritora, Leila tem se dedicado ao público feminino, atuando em palestras por todo o Brasil. Aliás, o livro Mulheres, por que será que elas? surgiu de uma palestra que Leila realiza até hoje. O mais recente, A Arte de ser Leve aborda temas como gentileza, leveza do ser, as pequenas coisas que podem ajudar a “diminuir o desgaste do cotidiano, e, acima de tudo, não tornar um peso para as pessoas que convivem com você”. E a esperada volta de Leila às telinhas? “Tive três oportunidades, em três veículos diferentes, mas ainda es-

tou processando. Ainda não consigo voltar. A morte de minha mãe está ainda muito recente. Não conseguiria voltar transparecendo essa tristeza”. Dona Lúcia, a grande inspiração de Leila no começo, voltará a ser também nos projetos futuros. “Acho que nós duas vamos continuar juntas, só que de outra forma. Estou tentando aprender como é esse jeito novo e até que eu descubra, acho que não consigo escrever nada, nem fazer entrevistas. Mas creio que ela mesma, lá em cima, vai me ajudar a reencontrar as palavras”, conclui.

além de falar sobre os desafios enfrentados nas entrevistas, leila também citou a forte influência da mãe em sua vida

A leila que conhecemos No dia da entrevista, a ansiedade em se deparar com a pessoa da Leila se confundia com a responsabilidade de fazer, pela primeira vez, uma entrevista tão importante frente a frente. Chegamos e o porteiro nos anunciou. Ela já estava nos esperando na porta. Quando a vi, logo passou um filme de todos os episódios do “Leila Entrevista” em minha cabeça. Sim, era ela, “sem tirar nem por”: A mesma Leila da televisão. Muito sorridente, abraçou a todos e pediu que ficássemos à vontade em seu apartamento. Vi um piano ao longe, grandes janelas e um grande sofá. Era tudo simples, mas de extremo bom gosto. A receptividade de nossa anfitriã fez o nervosismo cair 90%. Em alguns minutos, ela mesma nos

tranquilizou com tamanha simpatia e humildade. “Deixa de ser bobo, estou aqui para te ajudar, pode me perguntar o que quiser”, disse, com um imenso sorriso nos lábios. Quebrou, assim, qualquer resquício de nervosismo ainda restante, com aquele jeitinho mineiro, que lhe é característico. Nosso bate-papo durou quase três horas, apesar de termos uma pauta pré-estabelecida. Curiosidades particulares sobre a sua vida foram surgindo, e ela sempre disposta a responder a tudo. A figura da mãe é destaque no bate-papo. Dona Lúcia, logo percebemos, foi uma grande influência para Leila. Levantamos do sofá e ela nos levou a dar uma volta por sua casa. “Olha esse jardim, amo-o. E toda

5

noite um casal de urubus se refugia aí”. Quando subimos mais alguns degraus, deparamos com uma cena de Belo Horizonte fantástica. No dia estava um calor de 30 graus, mas aquele vento fresco e puro nos causou um frescor inigualável. Leila pediu para tirarmos uma foto dela lá, pois não tinha nenhuma fotografia em seu apartamento, principalmente com aquela maravilhosa vista da serra do curral de plano de fundo. Olhamos para cima e o casal de urubus está lá, na torre do prédio. Ela também nos pediu para tirar foto deles. Terminamos nossa conversa sentados à mesa, deliciando um agradável café. “Todo mineiro termina uma boa conversa acompanhado de um bom cafezinho”, finaliza Leila, mineira como ninguém.


6

Belo Horizonte, juLho de 2012

Minha BH

Impressão

Corra, BH, Corra! O hábito da corrida toma conta das ruas da capital mineira fOTOS: Fernanda carvalho

Bruno Garces Fernanda Carvalho 5° período

Edição: Marina Fráguas Correr ouvindo funk, perder 40 quilos, mudar os hábitos alimentares, se tornar um triatleta, priorizar apartamento perto das pistas, mudar o roteiro de viagem para incluir a corrida no programa, encontrar disposição, superar problemas emocionais, fazer da prática na rua um hábito, um lazer, um prazer... Os sujeitos de cada uma dessas ações fazem parte de um interessante quadro encontrado em Belo Horizonte: o boom de corredores de rua. Como praticantes que somos, notamos essa mudança.Poderia ser apenas uma impressão. Afinal, foi algo que percebemos visual ou intuitivamente, mas fomos pesquisar. O número de corredores na capital mineira é impreciso e difícil de ser calculado. O que de fato pode ser mensurado é o crescimento de corridas organizadas. Para 2012, foram marcadas 80, número bem menor há quatro anos, quando era apenas 16. Esse número vem aumentando devido aos amadores. Thiago Ladeira é um corredor que começou com a intenção de emagrecer e, para sua própria surpresa, perdeu 45 quilos desde 2005, quando começou a correr. “No início, penava para fazer 3 km em 40 minutos. Em 2011, contudo, completei o Iron Man Brasil 2011 em 13

horas”, diz o hoje triatleta. A competição sobre a qual Thiago fala é composta por 3 modalidades: 3,8 km de natação, 180,2 km de ciclismo e 42,2 km de corrida. “Este ano, a meta é baixar o tempo”, sentencia. Já com Daniel Mallaco, tudo começou com um choque emocional. Depois de momentos difíceis, decidiu que era hora de mudar. A decisão? Correr, claro! Cerca de um ano depois, 40 quilos foram deixados para trás e novos hábitos incorporados ao dia a dia. Mudou a alimentação e chamou os colegas para a pista.Mallaco fez bem a seu corpo e mente e àqueles que estavam ao seu redor. Algum tempo depois de começar a correr, sofreu um acidente. Desta forma, não pôde participar das competições nas quais havia se inscrito. Seu cunhado, Marcelo Graciano, assumiu seu lugar e começou a treinar com frequência para aguentar o ritmo das competições. Daí em diante, não demorou muito para que Gabriela Mallaco, esposa de Marcelo e irmã de Daniel, também começasse a praticar a corrida. Hoje, o casal de publicitários corre de maneira metódica. Eles não têm um consultor de corrida, nem acompanhamento frequente de especialistas, mas leem muito sobre o assunto e estão sempre atentos às pesquisas e novidadesque surgem. Possuem vários tipos de tênis, adequados para este ou aquele tipo de pisada e de

corrida, cronometram o tempo com um relógio que mede a distância, a velocidade e os batimentos cardíacos, impõem-se metas e participam de competições. Ufa! O esporte se incorporou tanto à vida do casal que, quando decidiram morar juntos, o principal critério para a escolha do apartamento foi estar perto de algum lugar onde pudessem praticar. Chegaram a mudar o roteiro de uma ida à Europa só para participar de certacorrida organizada. “Lá fora, as pessoas são melhor preparadas, preocupam-se mais com a saúde e sabem a importância de

“Belo Horizonte está despreparada para a prática da corrida. As pistas são poucas e mal cuidadas ” Marcelo Graciano

praticar esportes”, comenta Gabriela. “É verdade! A gente fica triste em ver o quanto BH é despreparada, as pistas são poucas e mal cuidadas. Espero que esse aumento no número de corredores não seja só moda, mas uma mudança de hábito dos belo-horizontinos”, deseja Marcelo.

Corrida tem se tornado prática constante nas ruas e praças de BH

Aqui, feriado é dia de corrida! Em pleno feriado de 1º de maio, alguns dos locais preferidos dos corredores estavam cheios. Em um tour pela manhã, começamos pela Lagoa Seca e fomos até a Bento Simão. Seguimos para a Barragem Santa Lúcia, passamos pela Praça da Assembleia, pela Praça da Liberdade e estacionamos de vez na Lagoa da Pampulha. Na verdade, acreditamos que a grande delícia da corrida de rua é a questão da liberdade mesmo, de escolher

o local, a companhia, a música, o ritmo, a meta, a hora. O momento é bom para esquecer os problemas ou para pensar em como resolvê-los, para relaxar o corpo, liberando tensões, e trabalhá-lo ao mesmo tempo. A corrida te tira do marasmo, dá para respirar o ar da rua, ver gente, carro, árvore, bicho, dá para sentir a cidade mais de perto, dá para fazer parte dela. Essa é a grande diferença entre correr na rua e na esteira.


Um dia no...

Impressão

Belo Horizonte, juLho de 2012

7

Ousadia e irreverência sobre rodas Álvaro de Oliveira

Conheça a rotina dos profissionais que cruzam o país diariamente transportando cargas Álvaro de Oliveira Thalvanes Guimarães 5° PERÍODO

Edição: Gustavo Pedersoli “Eu quero que risque o meu nome da sua agenda. Esqueça o meu telefone, não me ligues mais. Porque já estou cansado de ser o remédio pra curar o seu tédio, quando seus amores não lhe satisfazem.” Com o rádio ligado, Anderson Oliveira se diverte, lembrando de sua namorada, ao ouvir o clássico sertanejo “Telefone Mudo”, na voz do Trio Parada Dura. “Disque várias vezes, meu bem, telefone mudo não vai chamar”, brinca. Até chama, algumas vezes, inclusive. Numa hora, um amigo, outra, um cliente. É só reduzir a marcha, dar uma encostada e atender ao telefone, que, na verdade, não é mudo. Até porque, ele é um item essencial para o seu trabalho. Nas ruas do bairro Eymard, Região Nordeste de Belo Horizonte, o Mercedes L1620 Azul causa impacto por onde passa. É grande, pesado, e nas vias estreitas fica impossível não se destacar diante dos outros veículos. Anderson acelera, vai com confiança no volante, olhando o tempo inteiro seus retrovisores. Se vier alguém atrás com pressa, ele manda esperar. Tudo no seu tempo. Chegando ao Anel Rodoviário, a história é outra. Em alguns momentos, chega a ser um buzinaço. É buzina para o conhecido que passa do lado, é barulho para aquele que faz besteira. Barulho alto, diga-se de passagem. Ultrapassa um pela esquerda, outro pela direita. Abusando da leveza do caminhão, que o faz descer mais rápido que a maioria. Na hora do radar, o freio funciona bem. É hora de dar a quarta viagem do dia. O dono do depósito de materiais de construção, no bairro Capitão Eduardo, aguarda o caminhão lotado de areia. Não pode faltar nada aos clientes.

Anderson, que é caminhoneiro há 15 anos, usa isso como pretexto para pesar o pé no pedal do acelerador. Sua face, despreocupada e descontraída, o entrega. Dirige dessa forma por prazer. Quando sai da BR 381, diminui o intenso ritmo de veículos. Em pista única, sem acostamento, seguimos na estrada que dá acesso ao município de Santa Luzia. Se o carro da frente trava, a expressão muda. “O cara não anda!” Na primeira reta, ele faz a ultrapassagem, e segue em frente a todo vapor. Se já não era tão bom assim o asfalto irregular das estradas, até então percorridas, a situação certamente iria piorar no restante do percurso – cerca de 10 km – a ser feito em estrada de terra. As suspensões trabalham intensamente, fazendo o caminhão balançar de um lado para o outro, sem parar. Na via, há caminho apenas para um. O veículo toma todo o espaço da estreitíssima estrada. “E se vier outro caminhão?”, pergunto-lhe. “Sou abençoado demais. Sempre quando encontro outro, é num lugar que dá pra encostar”, responde. Além de sorte, Anderson também conta com a prestatividade do Sr. Nico, sujeito simpático, que opera a carregadeira, depositando a areia sobre a caçamba do caminhão. Não são gastos mais de 10 minutos para que o caminhão seja carregado. A máquina agiliza todo o processo. E já é hora de fazer a entrega. Subidas mais fortes na volta, mas o caminhão sobe com facilidade, como se estivesse leve. Chegando ao local da entrega, é feita a medida da areia. O comprador reclama, diz que o volume está mais baixo que o de costume. Anderson rebate: “Tinha pouca areia desta vez. Da próxima, recompenso.” Viagem fechada. Duas horas gastas. Seguimos para a última viagem do dia. Sem pausa, nem para água, a única alter-

Longas jornadas aliadas ao uso de remédios e entorpecentes: uma mistura muito perigosa

nativa era abrir a janela para aliviar o forte calor. O caminho era o mesmo, as situações, também idênticas. “Estão me acompanhando num dia atípico. Normalmente, vou é para Esmeraldas”, explica, informando que seu trajeto costuma ser maior. Dessa vez, o carregador não economizou na areia. O caminhão ficou mais pesado, teve mais dificuldades de subir os morros. Mas nada que atrapalhasse. Só foi de um jeito que o motorista não gosta muito, num ritmo mais lento. Na simples casa em que Anderson foi despejar a areia, uma rua estreita, com uma descida que quase formava um ângulo de 90° com a reta, não parecia ser possível, mas a missão foi cumprida. Era hora de ir embora. No dia seguinte, a rotina se repete: às 4h da manhã, está de pé, assim como tantos outros da profissão. Para An-

derson, o combustível para se manter atencioso no trânsito, pela manhã, é o café, que só a mãe sabe fazer. Dia a dia do mal Jornada de trabalho pesada, de 15 a 20 horas num só dia. Horário marcado para entregar a carga, alta velocidade, uso de drogas. Eis o perfil assustador de muitos caminhoneiros que circulam pelas rodovias brasileiras. Tais profissionais acabam colocando a vida deles, e de outros motoristas, em risco. Para ficar acordado e “preso” ao volante, o jeito é tomar remédios. Só que o “rebite” é um medicamento ultrapassado para muitos motoristas e a lei seca dificulta o uso de bebida alcoólica. Pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) aponta que a cocaína vem sendo usada no lugar das anfetaminas, o famoso “rebite”,

para manter os motoristas acordados. Entre os entrevistados no estudo, o consumo foi de até quatro vezes maior do que o encontrado na população brasileira. O levantamento ouviu, aleatoriamente, 308 motoristas que circulam por rodovias federais no Rio de Janeiro e São Paulo e constatou que 3,5% deles haviam usado cocaína. “É evidente que esses motoristas vão colocar em risco a vida deles e de outras pessoas, pois não estão em seu estado normal”, afirma a médica Vilma Leyton, coordenadora da pesquisa da USP. Tanto a cocaína quanto a anfetamina atuam no sistema nervoso central, de modo a alterar a percepção do motorista, reduzindo a atenção e os reflexos. A médica ressalta, ainda, outro agravante da droga: “Quando o efeito termina, o caminhoneiro pode simplesmente dormir”, explica.


8

Dossiê

Belo Horizonte, juLho de 2012

Impressão

Quem guarda

Em crise, a imprensa brasileira se vê dividida em dois blocos rivais e precisa Texto e Edição: Dany Starling Gustavo Pedersoli 6° período

Quarto poder. Formadora de opinião. Mediadora entre o fato e a sociedade. Para Rui Barbosa, “a imprensa é a vista da nação”. Para John Milton, “a imprensa é a luz da liberdade”. Estes e outros inúmeros predicados aglutinaram-se à prática jornalística ao longo dos séculos, fazendo da profissão quase um sacerdócio, tamanha a sua importância para as pessoas em geral. Tal como um castelo de areia destruído pelas ondas, no entanto, a imagem da imprensa aos olhos da multidão passa por um processo de mudança. No Brasil, o descrédito da mídia perante a populaçãojá vem de alguns anos, mas acentuou-se na última década, mais precisamente a partir da eleição de Lula para presidente, em 2002. De lá para cá, o que se viu foi uma divisão radical da imprensa em dois grupos antagônicos, deixando o brasileiro perdido na hora de buscar informação mais precisa, mais cuidadosa. Durante seus oito anos de mandato, Fernando Henrique Cardoso passou incólume pelo crivo da imprensa. Salvo em um ou outro problema mais grave – como o apagão ou a crise do Banco Central, em 1999 –, FHC sempre foi poupado. Lula, por

sua vez, encarou um processo inverso. Seu primeiro ano de governo recebeu poucas críticas, mas, a partir de 2004, e principalmente após o escândalo do mensalão, o ex-presidente passou a ser golpeado insistentemente pela mídia. Embora houvesse indícios de irregularidades no uso de doações de campanha, Lula e seu governo passaram aperto jamais sentido por FHC, por exemplo, no escândalo da compra de votos para a reeleição. Se a imprensa tradicional atacou por todos os lados, o ex-presidente teve a seu lado uma nova imprensa, ávida por defendê-lo. A democratização do investimento em propaganda aumentou o número de veículos que recebiam dinheiro federal, principalmente na internet. Blogs e mais blogs, além de algumas poucas publicações impressas, surgiram aos borbotões e, dependentes das verbas oficiais para subsistirem, entrincheiraram-se ao redor do governo. Diante de dois grupos tão distintos, é difícil encontrar, seja na internet, na televisão ou nos meios impressos, um jornalismo que realmente se mantenha alheio a essa divisão política. Se a isenção e a objetividade jornalística sempre foram alvos duros de alcançar, hoje, eles estão ainda mais distantes, tornando-se quase que verdadeiramente utópicos e surreais. “Objetividade é algo que se tem em mira, mas dificilmente a pessoa

escapa dos constrangimentos de sua formação, de suas opiniões”, entende o colunista e ex-editor da revista Veja, Roberto Pompeu de Toledo. “Objetividade não é um valor absoluto, mas uma meta da imprensa. A boa imprensa visa a objetividade, mas isso não significa que ela seja objetiva”, completa. Essa divisão pela qual passa a imprensa tem trazido consequências danosas à confiabilidade do jornalismo praticado no Brasil. Além disso, as relações entre os jornalistas, que nunca foram das mais cordiais – vale lembrar os embates duríssimos entre Carlos Lacerda e Samuel Wainer na década de 1950 –, hoje beiram a beligerância. Se ainda não chegaram às vias de fato, os encontros entre colegas nas barras dos tribunais já se tornaram constantes. Golpistas versus governistas A parte da mídia que se manteve como oposição ao governo Lula – e agora ao governo Dilma Rousseff – foi taxada de PIG – Partido da Imprensa Golpista. Popularizada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, a expressão, além de sugerir que a imprensa tradicional brasileira queira tomar o poder por meio da força, de golpes, é também uma sátira, já que a sigla, pig, significa porco em inglês. Fazem parte do PIG, segundo seus adversários, todos os veículos oriundos da velha mídia, conservadora e

reacionária. Não satisfeita com os resultados do governo Lula e de sua sucessora, ela pretende retomar o status quo, nem que, para isso, lance mão de métodos escusos de jornalismo. “Ao sabor da lei do mais forte, da lei da selva, essa imprensa mente com absoluta naturalidade, calunia com a maior tranquilidade. Se preciso, ela inventa ou omite sem maiores problemas”, ressalta o diretor de redação da revista Carta Capital, Mino Carta. Para Mino Carta, a CPI do Cachoeira – que investiga as ações do bicheiro Carlinhos Cachoeira em parceria com políticos e empreiteiras – deveria ser a “CPI da Mídia”. “É preciso convocar o senhor Roberto Civita para depor. O fato já está provado. A Veja pediu ao Cachoeira para organizar uma equipe que alterasse o sistema de segurança do apart-hotel onde morava o Zé Dirceu. Eles foram lá e criaram um sistema adequado para fiscalizá-lo não apenas com escutas, mas também ao investigar seus movimentos”, afirma. “Em contrapartida, o Cachoeira pede para a Veja valorizar a figura do [senador] Demóstenes [Torres], seu parceiro em mil tramoias. E eles dão as páginas amarelas para o Demóstenes, apresentando-o como um varão de Plutarco! Se tivermos uma CPI da Mídia, essa porcariada toda vai acabar. Mas isso se tivermos congressistas à altura de uma situação dessas. Eu tenho minhas dúvidas”, diz. Apesar de taxar a mídia brasileira DANY STARLING

Mino Carta e o papel da imprensa: “Fidelidade

canina à verdade factual e o exercício do espírito crítico”


Impressão

Dossiê

Belo Horizonte, juLho de 2012

9

os guardiões?

a mudar, caso queira reconquistar a credibilidade perdida nos últimos anos de conservadora e de se constituir como grupo político, o ex-Ministro da Comunicação Social do governo Lula, Franklin Martins, desdenha da força dessa parte da imprensa. “Ela fala o que quer, tendo ou não correspondência com os fatos. Não quer fazer jornalismo, quer comandar o país, mas sem ter votos para isso. Mas não acho que seja uma imprensa golpista. Ela não tem força para dar o golpe no Brasil. Nem é caso de PIG, mas de PIOR, o Partido da Imprensa de Oposição Ressentida”. A sigla PIG, contudo, também é usada pela imprensa tradicional para caracterizar o trabalho feito pelos blogs e publicações aliadas ao governo. Trata-se do Partido da Imprensa Governista, que pratica o jornalismo chapa-branca, sempre disposto a defender e elogiar aqueles que o patrocinam e, para isso, não se furtam na hora de atacar qualquer tipo de oposição. “Existe uma tentativa, nas redes sociais e em outros lugares, de minar a credibilidade da imprensa, que eu chamo de ‘jornalulismo’. O que ele quer é uma imprensa controlada pelo poder. Isso é da história da esquerda, é o Pravda, o jornal do estado soviético”, entende o editorialista da Folha de S. Paulo, Marcos Augusto Gonçalves. “O ‘jornalulismo’ quer, na verdade, solapar a liberdade de imprensa”, acrescenta. Para Roberto Pompeu de Toledo, “existem algumas publicações, alguns blogs, que são financiados exclusivamente pelo poder público. Esses estão, frequentemente, senão todos eles, a serviço daqueles que os financiam”. O jornalista, porém, critica a divisão existente na imprensa. “Acho triste esse clima de radicalismo, de tensão, que se instalou, no Brasil, nos meios de comunicação. Todo bipartidarismo é burro”, afirma. Quem também critica essa bifurcação é o professor e articulista do Estado de S. Paulo, Gaudêncio Torquato. “A divisão é posta e imposta por radicais de ambos os lados. Não compactuo com as divisórias que marcam fronteiras entre PIGs. A imprensa deve inspirar-se no ideário da liberdade e com responsabilidade, o que pressupõe levantar fatos de alta significação social”. Para recuperar a confiança Se o antagonismo entre veículos de comunicação impera no seio dos produtores de notícias, a esperança que um jornalismo melhor possa ser praticado no Brasil passa pela liberdade entre aqueles que consomem essas informações. Únicos donos do poder de escolha, serão os leitores, telespectadores e internautas os verdadeiros censores da mídia brasileira. “O definidor de quem sobrevive ou não no mercado de informações é o consumidor. Se você fizer um jor-

nalismo chapa-branca, ele perceberá que não é aquilo que está vendo e vai parar de comprar o veículo ou trocar de canal. Se você fizer uma coisa completamente contrária à realidade dos fatos, só porque é oposição ao governo, também será rejeitado. Quem está no comando é o consumidor de informação, é ele quem decide”, entende a comentarista de economia da Rede Globo, Miriam Leitão. Franklin Martins acredita que a imprensa só recuperará sua credi-

bilidade “se o público sentir sinceridade numa mudança de comportamento”. Segundo o ex-ministro, a discussão em torno do papel da imprensa já acontece desde 2005. “A sociedade brasileira não está satisfeita com a imprensa que tem. Se algo não for feito, o consumidor buscará outros meios para obter informação. E é missão da imprensa, fornecer informação e acesso a um debate público qualificado”. Para alcançar, novamente, a

confiança de seu público consumidor, o jornalismo brasileiro precisa rever os ensinamentos aprendidos e debatidos nos bancos da universidade. As velhas lições são perenes, não mudam ao sabor do vento. “A serventia do jornalismo é a fiscalização do poder, a fidelidade canina à verdade factual e o exercício do espírito crítico. Quando o jornalismo usa, na prática, esses princípios, ele funciona”, garante Mino Carta.

Roberto Pompeu de Toledo dispara: “Todo bipartidarismo é burro!” DANY STARLING

Para o ex-ministro Franklin Martins, não existe PIG, mas PIOR: Partido da Imprensa de Oposição Ressentida


10

Belo Horizonte, juLho de 2012

“A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Entrevistar o papa não nos faz santos. Ter um corrupto como informante não nos corrompe.” A afirmação acima foi retirada de um dos textos jornalísticos mais controversos e polêmicos já publicados em terras tupiniquins – para não dizer um provável divisor de águas na história midiática brasileira. O trecho faz parte do editorial assinado pelo Diretor de Redação da revista Veja, Eurípedes Alcântara, no dia 21 de abril de 2012. Tudo começou quando veio a público o conteúdo das escutas telefônicas feitas durante a Operação Monte Carlo, encabeçada pela Polícia Federal de Goiás. Nas gravações, constavam conversas entre o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos – vulgo Carlinhos Cachoeira – e o diretor da sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Júnior. A partir desse episódio, iniciou-se a tragédia grega – digna dos maiores dramaturgos – da publicação semanal da Editora Abril. Não é de hoje que a revista recebe críticas, de diferentes setores da sociedade civil, por conta de sua suposta falta de imparcialidade perante temas de relevância no cenário nacional. Porém, o momento

Dossiê são Parlamentar de Inquérito teria, portanto, o objetivo de investigar ações escusas praticadas pela grande imprensa. A ideia, da CPI ter como um de seus tentáculos uma investigação aprofundada da mídia, e em especial da Veja, é defendida também pelo jornalista e professor Nilson Lage. Todavia, o acadêmico revela ter uma grande descrença na efetividade que a abordagem do assunto na Comissão teria, tendo em vista o jogo de interesses existente entre os congressistas e a grande mídia, além do desconforto que seria gerado para ambas as partes. “A CPI tem efeito muito limitado. Se convidados, Civita e seus empregados teriam imprensa unanimemente favorável e seriam questionados por parlamentares que morrem de medo do poder destrutivo da mídia, particularmente da Rede Globo. Não vejo chance de se avançar por esse caminho”, argumenta. O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, também tem uma visão própria do assunto. Questionado sobre o modo como a direção da revista conduziu a relação do núcleo de jornalismo com Cachoeira, foi enfático: “Acho lamentável que a Veja tenha prestado esse papel”. Para ele, a publicação pecou por estabelecer

Impressão

Texto e Edição: Dany Starling Gustavo Pedersoli (6° período)

“Relação com bandido pra você obter notícia não é de hoje que existe. (...) É impossível você não sujar as mãos, você ser muito virtuoso – ‘com essa pessoa não vou falar’ – você se prejudica até profissionalmente, em certos casos.” “Tem muito de bravata nesse negócio, especialmente numa pessoa que é um chefe mafioso, como esse aí. Ele gosta de exibir poder, arrotar poder. Faz parte do personagem que ele se compôs.”

Fontes, cascatas

Roberto Pompeu de Toledo

& cachoeiras

atual vivido por Veja é bem mais complexo do que um mero posicionamento ideológico. Os grampos telefônicos feitos pela PF revelaram conversas entre o contraventor e o jornalista. Até aí nada demais. No meio jornalístico é comum que os profissionais tenham, em muitos casos, um indivíduo corrupto como informante. Neste caso específico, a situação é bem mais complicada, porque, segundo as denúncias levantadas contra a revista, o informante – no caso, o contraventor Carlinhos Cachoeira – estaria utilizando Policarpo Júnior para “plantar” notícias (e até mesmo criar factoides) que fossem de seu interesse, o que vai de encontro a todos os princípios éticos que regem a atividade jornalística. E, mais grave ainda, o bicheiro estaria usando esse mediador para promover reportagens contra os inimigos e adversários políticos de seu apadrinhado no Congresso Nacional, o senador Demóstenes Torres (sem legenda). O primeiro a levantar essa suspeita de que a Veja estaria “fabricando” notícias para denegrir a imagem de seus adversários políticos (em especial os do PT) – bem antes da operação Monte Carlo vir a público – foi o jornalista Luis Nassif, que, em seu site, escreveu uma série de reportagens sobre a temática, intitulada “O Caso de Veja”. Nela, ele listou uma série de matérias de capa que foram apresentadas pela revista como se fossem verdadeiras, dentre as quais: Os dólares de Cuba, O dinheiro das FARC para o PT e O espião de Renan Calheiros. Apesar de terem sido noticiadas paulatinamente, e ganharem ampla repercussão na imprensa, as denúncias divulgadas pela publicação não foram comprovadas. Essa postura ortodoxa é um dos principais combustíveis utilizados por seus adversários para inflamar as críticas em relação à revista. Uma das mais ferrenhas opositoras da publicação é a também semanária Carta Capital. Com o início das denúncias contra a sua principal concorrente, as páginas da publicação se encheram de críticas contumazes à postura adotada, ao longo dos últimos anos, pela revista da família Civita. Assim, um mal-estar generalizado instalou-se em sua redação e na dos demais veículos de comunicação do país, tendo em vista que atos obscuros poderiam ser trazidos à tona. Em seus editoriais, a Carta Capital começou a levantar a hipótese da “CPI do Cachoeira” se tornar a “CPI da Mídia”. Com essa nova denominação, a Comis-

uma relação anti-ética com o bicheiro, “ao transformá-lo num cúmplice, num elemento constituidor da matéria, do foco, aonde a fonte determina o que a revista vai fazer”. Entretanto, há aqueles que não veem motivos justificáveis para que seja feita a convocação da Veja, em contraponto às ferozes críticas de seus acusadores. Um dos que defendem essa postura é o colunista e ex-editor da revista, Roberto Pompeu de Toledo. Para ele, a relação profissional entre jornalista/ fonte criminosa, em muitos casos, é indispensável para se obter informações exclusivas. “Relação com bandido pra você obter notícia não é de hoje que existe. (...) É impossível você não sujar as mãos, você ser muito virtuoso – ‘com essa pessoa não vou falar’ – você se prejudica até profissionalmente, em certos casos”, justifica. Além disso, Pompeu de Toledo argumenta que o bicheiro Carlinhos Cachoeira estaria usando a situação como uma forma de mostrar a sua capacidade de influência. “Tem muito de bravata nesse negócio, especialmente numa pessoa que é um chefe mafioso, como esse aí. Ele gosta de exibir poder, de arrotar poder. Faz parte do personagem que ele se compôs”, pontua. Outro profissional que não julga necessária a convocação de membros da publicação para prestar depoimento na CPI é o articulista do jornal O Estado de S. Paulo e professor, Gaudêncio Torquato. “Investigar, ouvir criminosos e assemelhados não significa pactuar com o crime. Não vejo razão para convocar a Veja à CPI”, conclui. Procurada pela reportagem do Impressão, a revista alegou que “seus profissionais estavam envolvidos com projetos, apurações e coberturas especiais” e que não era o “melhor momento” para dar entrevistas. A – já complexa – situação toma nuances ainda mais palacianas ao pensar-se no peso que a Veja tem no Brasil. Fundada em 1968 pelos jornalistas Victor Civita e Mino Carta, a situação vivida atualmente pela revista nem de longe lembra os tempos áureos de grande credibilidade que desfrutou na sua fase inicial. Caso a convocação para a CPI se concretize, quais serão os caminhos trilhados por essa senhora de meia-idade, que se auto-intitula “indispensável”?

Também participaram: gUIlherme pacelli (2° período) e jéssica amaral (3° período)

Relação entre Veja e o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos acirra debate imprescindível acerca dos rumos da mídia brasileira

“Se a gente pensar em termos históricos, nada impede um jornalista de ser convocado. No passado, jornalistas como Carlos Lacerda e Samuel Wainer participaram de CPIs. Por que não o Policarpo comparecer?” João Joaquim de Oliveira

“Investigar, ouvir criminosos e assemelhados não significa pactuar com o crime. Não vejo razão para convocar a Revista Veja à CPI”. Gaudêncio Torquato

“O núcleo editorial que delimita a linha política da revista e sua opinião foi entregue a publicistas radicais de extrema direita, que utilizam todas as formas panfletárias conhecidas para impor suas ideias - entre elas a aliança com o lobby de Cachoeira, na verdade uma agência de espionagem montada pelo espertalhão para expandir sua rede de dinheiro e poder.” Nilson Lage


Dossiê

Impressão

Belo Horizonte, juLho de 2012

“É lamentável. É uma espécie de inversão do Watergate. Acho que a Veja tem de prestar contas. Uma provável convocação do Policarpo para a CPI não me parece uma ameaça à liberdade de expressão. O Parlamento tem todo o direito de convidá-lo, assim como ele tem o direito de se negar a comparecer. Se ele for convocado como jornalista, a prerrogativa do sigilo da fonte continua garantida para ele, o que pode limitar seu direito de resposta. De qualquer maneira, me parece um momento muito negativo para a imprensa brasileira com essa promiscuidade de relações estabelecida com a direção da Veja”. Celso Schröder

“Não quero entrar na discussão da relação do repórter, até que ponto foi, porque não tenho elementos suficientes. O que eu acho mais importante é a gente ter em mente que o consumidor de informação vai escolher qual ele quer. Se ele acha que a Veja tem errado ele vai parar de ler a revista e ela vai perder circulação. (...) O leitor, o telespectador, o ouvinte, é ele que está no comando”. Míriam Leitão

“Existem indícios que a revista manipulou informações para privilegiar esse esquema criminoso. (...) É preciso fazer jornalismo pra descobrir qual era de fato a relação do Carlinhos Cachoeira com o Demóstenes Torres e a revista Veja”. Lucas Figueiredo

“Essa CPI do Cachoeira deveria ser, no fundo, a CPI da mídia. Convoca o senhor Roberto Civita para depor. O fato já está provado. É uma questão criminal. É Murdoch! O Cachoeira pede para valorizar a figura do Demóstenes, que é parceiro dele em mil tramoias. Eles dão as páginas amarelas pro Demóstenes, apresentando-o como um varão de Plutarco. E ainda têm a desfaçatez de dizerem que isso é Watergate”. Mino Carta

“Se existirem de fato indícios de que de alguma forma a Veja participou do processo, que teve alguma influência no processo, eu acho que tem que ser apurado. Não sei exatamente se vai ganhar essa dimensão, mas se for o caso, eu acho válido sim convocar a Veja para a CPI.” Luiz Henrique Magalhães

“Se a Veja se mancomunou com uma quadrilha, se ela se transformou no braço midiático dessa quadrilha, que era um braço de arapongagem pra revista, eu acho que isso é matéria legal. Tem que ser processada e, se for culpada, tem que ser condenada. Isso é matéria criminal”. Franklin Martins

11


12

Belo HorIzonte, julHo de 2012

dossiê

IMpressão

O caso murdoch

erros e derrocada do News of the World são um alerta para a imprensa de todo o mundo Marcela Armond 8º período edição: dany Starling

FoToMoNTAGeM: GUILHerMe pACeLLI

Após 168 anos em circulação, o periódico londrino News of the World foi fechado em 10 de julho de 2011 mediante denúncia de que as mensagens do telefone da adolescente Milly Dowler, sequestrada e morta na Inglaterra em março de 2002, foram interceptadas por repórteres. A polícia apurou que o jornal tinha realizado escutas ilegais nos telefones de milhares de vítimas, entre elas a família real inglesa, atores de Hollywood, vítimas dos atentados de 2005 ao metrô de Londres e até mesmo o primo do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela Scotland Yard. Até a data de seu fechamento, News of The World era o jornal de língua inglesa mais vendido do mundo, com tiragem média de 2,81 milhões de cópias por semana. O escândalo do uso de escutas telefônicas ilegais pelo jornal chocou a população britânica. Considerada um dos berços da imprensa desde os tempos da Revolução Industrial, no século XVIII, a Inglaterra assistiu ao declínio do tabloide na mesma velocidade com que denúncias e revelações contra o News of The World atingiram proporções globais. Os métodos pouco ortodoxos do impresso ressoaram em outros países e retiniram em vários setores da sociedade, incluindo a mídia, que precisou reavaliar sua atuação sob o prisma o magnata da imprensa rupert Murdoch viu ruir um dos principais veículos de seu império em 2011 da ética. Mesmo na Inglaterra, onde parte 1843, no Reino Unido, pelos irmãos poder” na medida em que publiciza da mídia há anos sustenta a prática Bell. Em 1969, foi comprado pelo os problemas políticos e de instituido jornalismo popular, caracterizado News Corporation, conglomerado ções constitucionalmente estabelecipelo uso recorrente de notícias perde mídia de Rupert Murdoch. O tadas para o conjunto da sociedade. No tencentes às esferas privada e policial, bloide dominical dedicava-se à publicaso News of The World, a imprensa houve protestos incisivos contra o cação de notícias populares, retiradas adotou uma postura perigosa ao tramau uso da liberdade de imprensa. dos boletins policiais e escândalos da tar a polícia como parceira na aquisiNews of The World era considerado vida privada de celebridades. Repreção de informações extraoficiais, ao carro-chefe da imprensa marrom, no sentante do gênero popular, News of invés de manter-se na torre de vigília. entanto, seu fechamento apontou claThe World foi, desde seu lançamento, Em consequência desse mau posiramente para a existência de limites um jornal que chocava a sociedade cionamento do periódico, três de seus éticos que, ultrapassados, ferem a creda época. ex-editores foram presos por intercepdibilidade da prática jornalística. No decorrer das investigações, tar telefones alheios, sem autorização Segundo Eugênio Bucci, em seu também foi revelado que o jornal pajudicial. No livro Ethics and Journalism, livro Sobre ética e imprensa, credibiligava propina a funcionários da ScoKaren Sanders avalia que os editores dade é valor ético inestimável e, mais tland Yard, a polícia metropolitana de jornal devem atuar como guardique isso, um patrimônio do jornade Londres, para grampear telefones ões da integridade editorial, função lista. No jornalismo, credibilidade e que, além disso, havia contratado negligenciada pelo time editorial do gera lucro, pois o consumidor de um detetive particular como parte de News of The World. Em ato consideranotícias o faz sob a promessa de essua equipe permanente. O professor do como nobre pela opinião pública tar sendo informado com seriedade Afonso de Albuquerque, em artigo inglesa, o então chefe da Scotland e veracidade. publicado na internet, advoga que a Yard, Sir Paul Stephenson, renunciou O News of The World foi criado em imprensa é uma espécie de “quarto ao cargo, ainda que não tenha sido

diretamente envolvido com nenhuma figura do episódio dos grampos. Já o dono do News of The World, Rupert Murdoch, e o diretor executivo da News International e filho de Rupert, James Murdoch, foram convidados a comparecer ao comitê do parlamento britânico para serem questionados sobre o envolvimento que tiveram com o escândalo. O depoimento foi transmitido ao vivo pela rede de TV BBC 2. Até mesmo o atual primeiro ministro da Inglaterra, David Cameron, foi arguido pelo parlamento inglês sobre a contratação do ex-editor do News of The World, Andy Coulson, como seu porta-voz e diretor de comunicações e o relacionamento amigável que mantinha com Rebekah Brooks, então editora do tabloide. Em nome da autonomia do jornalista e para evitar conflitos de interesses nas redações, Daniel Cornu recomenda, em seu livro Jornalismo e Verdade, a recusa de presentes e favores, condenando, também, relacionamentos íntimos com fontes. Entre os deslizes cometidos pela empresa de Murdoch estão as relações promíscuas entre imprensa e política, o perigo representado pelos conglomerados de mídia, o uso indiscriminado de métodos ilícitos para obtenção de informações não oficiais e a inversão de papéis da imprensa, que deixa de trabalhar em favor da sociedade ao irromper contra o direito dos cidadãos à privacidade. O escândalo dos grampos telefônicos ilegais no jornal inglês News of The World é um exemplo clássico da necessidade de avaliação da performance dos meios de comunicação, papel exercido pela crítica de mídia. É, também, um alerta sobre os parâmetros éticos vigentes na mídia contemporânea. O pensar ético nas redações é, frequentemente, preterido em meio à ágil construção das notícias. Cotidianamente, debates deontológicos surgem em sua maior força apenas na ocasião de negligências e abusos da imprensa tornarem-se irremediavelmente conhecidos e inevitavelmente repulsivos. De outra sorte, os erros cometidos pelos jornalistas são talhados ao esquecimento, ressurgindo de tempos em tempos na mídia como lições não ensinadas e não aprendidas. No entanto, esquivar-se de debater os deméritos da imprensa não sepulta suas falhas, tampouco altera seus rumos.


Conhecimento

Impressão

Belo Horizonte, juLho de 2012

13

TIG: da sala de aula para o mundo Dany Starling 6º PERÍODO Quando um calouro inicia sua caminhada no UniBH, ele encontra, logo no primeiro período, uma série de matérias que servem de base para sua jornada acadêmica. Estudar filosofia, sociologia, história e as interfaces de seu curso é algo natural, já esperado. Mas quando depara com a disciplina Trabalho Interdisciplinar de Graduação – o TIG –, a dúvida logo vem à mente: o que é isso? No curso de jornalismo, o TIG está presente na matriz curricular até o sexto período. Sua função é desenvolver um único trabalho que mescle todo o conteúdo aprendido nas demais disciplinas oferecidas ao longo do semestre. O aluno tem a oportunidade de colocar em prática toda a teoria que lhe foi ensinada dentro de sala de aula. Realizado em grupo, o TIG é obrigatório em todos os cursos do UniBH. No final do semestre, todos os trabalhos são apresentados durante o Circuito Acadê-

mico, que acontece no campus Estoril. Os alunos são avaliados por uma banca de professores e falam desde o início da produção, os passos que foram tomados ao longo do processo e seus resultados finais. Se no primeiro período o TIG chega a ser assustador para alguns alunos, ao longo do curso ele se torna uma matéria envolvente. Principalmente quando o trabalho final avança além dos limites da faculdade e ganha vida, tornando-se uma peça de grande importância para o portfólio profissional dos estudantes. Muitos TIGs, em inúmeros cursos, saíram do campo da mera experimentação acadêmica e foram implementados na prática por seus criadores. O primeiro TIG Aluna do primeiro período noturno do curso de jornalismo, Natália Quaresma não se assustou tanto com o TIG. Com seu grupo, desenvolveu um blog sobre o complexo cultural da Pampulha. Para ela, o trabalho foi importante pela capacidade de “unir a convivência em

grupo com o desenvolvimento das técnicas passadas pelos professores. Pudemos aprimorar o que vimos em sala de aula”, enfatiza. O trabalho em equipe também foi ressaltado por Nelson Nunes, outro aluno do primeiro período de jornalismo, mas do turno matutino. “O TIG mostrou que não é possível fazer tudo sozinho. Todos precisam participar da construção do trabalho”. De acordo com Nelson, “ele não integra somente as disciplinas em seu processo, mas também os alunos que, no primeiro período, ainda estão se conhecendo”. Vitória na Expocom Em 2011, um grupo de alunos de jornalismo criou, para o TIG III, o programa de rádio Papo de Cinema, voltado exatamente para a sétima arte. Tendo como base o filme A Era do Rádio, de Woody Allen, o trabalho foi tão bem avaliado pelos professores e elogiado pelos colegas que o grupo decidiu inscrevê-lo no Prêmio Expocom, criado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (In-

tercom) e destinado a alunos de graduação. Uma semana antes de participar da disputa pelo prêmio, o grupo teve a oportunidade de apresentar o Papo de Cinema em uma nova roupagem: uma revista digital, que foi trabalhada durante o TIG V, já no quinto período do curso. “A aceitação do trabalho no terceiro período foi muito positiva, daí o desejo de dar continuidade a ele. Como a proposta do TIG este semestre era construir algo dentro do jornalismo especializado, optamos pela revista digital, segundo passo do nosso projeto”, conta a aluna Leilane Stauffer. Se no Circuito Acadêmico a apresentação é feita por todos os integrantes do grupo, na Expocom, realizada no final do mês de julho, o trabalho coube a somente um dos alunos envolvidos, Natanael Vieira. Segundo ele, a tensão foi muito maior. “Apesar de toda a preparação, de ter revisado com a Leilane cada slide, cronometrado a apresentação e dominar o conteúdo, tive todos os tipos de

Da esquerda para a direita: Jonathan Goudinho, André Zuliani, Leilane Stauffer, Natanael Vieira, Roberta Garcia e Welbert Emery.

sensações, nenhuma que me animasse. Saí da sala trêmulo, mas aliviado”, diz. O esforço do grupo foi recompensado pouco tempo depois. O trabalho foi premiado como o melhor de sua categoria na Expocom regional, classificando o grupo para a etapa nacional, que acontecerá em Fortaleza, no próximo mês de setembro. “Ouvir o nome do Papo de Cinema ser anunciado superou as minhas mais audaciosas expectativas. Subi no palco com a Leilane sem ver nada na minha frente”, lembra Natanael. Feliz com o resultado, Leilane analisa a trajetória do trabalho, desde quando foi pensado para o TIG, até a vitória em Ouro Preto, onde foi realizada a Expocom. “De nada adianta a faculdade nos oferecer meios de produção se não soubermos aproveitar e abraçar as oportunidades. É preciso participar mais e conhecer todas as facetas de nossa área, que não são poucas. Os quatro anos da graduação são muito pouco se quisermos ir além”, finaliza.


14

Belo Horizonte, juLho de 2012

Eu estava lá...

Impressão

milhares de Gregos... e um troiano no meio! Cruzeirense se infiltra na torcida atleticana e conta como foi

Poucos minutos antes do início do clássico, Rafael sabia que sua maior batalha estava na arquibancada

Rafael Arruda 5º PERÍODO Edição: Dany Starling Não há dúvidas de que a sensação de acompanhar um clássico entre Atlético e Cruzeiro, das arquibancadas, é incomparável. Sentir o calor da torcida, ouvir o barulho, ver o relvado completamente verde e saber que todos os holofotes da mídia esportiva estão voltados para aquele jogo é sensacional! Só que os papéis se invertem quando alguém se aventura em acompanhar o jogo no meio da torcida adversária. É como se existisse um troiano, disfarçado, numa multidão de gregos. Pois foi justamente o que eu fiz. Foi na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, no dia 8 de abril de 2012, quando Raposa e Galo se enfrentaram pela 10ª rodada do Campeonato Mineiro. Fui testemunha ocular do em-

pate em 2x2. Com orgulho, posso dizer: eu estava lá! Quando falamos do clássico entre Cruzeiro e Atlético, colocamos em pauta várias polêmicas, que partem desde os debates de torcedores em bares, ruas e no trabalho, até chegar nas próprias estatísticas levantadas pelos clubes. Há controvérsias na história do maior confronto esportivo de Minas Gerais. Segundo os números do Atlético, são 473 jogos, com 191 vitórias alvinegras, 158 triunfos celestes e 124 empates. Já nos dados levantados pela Raposa, são 455 partidas, com 158 vitórias azuis, 178 do Galo e 120 empates. Poucos dias antes do confronto das equipes, convidei amigos atleticanos para irem a Sete Lagoas assistir ao clássico. Alguns me chamaram de maluco, pelo fato de eu ter preferência declarada pelo Cruzeiro e possivelmen-

te não segurar o ímpeto, em caso de gol do time celeste. Mantive minha postura firme e disse que não falaria nada, até mesmo para preservar minha segurança. Com isso, o funcionário público José Xavier, 18 anos, e os estudantes Brandon Maldonado, 17, Leandro Henriques, 20 e Jonathan Hilbert, 19, quatro fiéis torcedores do Atlético, me acompanharam no trajeto de 100 quilômetros que separa Igarapé da Arena do Jacaré. Chegada indigesta Como saímos um pouco além do horário combinado, chegamos ao estádio com o jogo já em andamento. Passamos nas roletas após 15 minutos da etapa inicial. Já de cara, um torcedor atleticano pediu que eu carregasse a faixa de uma torcida organizada, favor que eu neguei prontamente. Não fui ao estádio para segurar pedaços

de pano, mas para assistir ao espetáculo. Rodamos por algumas partes das cadeiras na busca por um bom lugar para assistir ao espetáculo. Quando nos estabelecemos atrás do gol que fica do lado direito das cabines, eis que o pior acontece (pelo menos para mim). Aos 24 minutos de jogo, após receber perfeito lançamento de Richarlyson, Danilinho mergulha de cabeça na bola para fazer o primeiro gol do Atlético. Toda a Arena do Jacaré vibrava, e eu mantive minha postura de torcedor sério e concentrado. Na verdade, estava morrendo de raiva. Minha chegada realmente não foi nada boa. Os jogadores do Atlético estavam dispostos a fazer daquela tarde uma das mais terríveis da minha vida de torcedor do Cruzeiro. E o pior de tudo, teria que aguentar, durante um percurso extenso, as brinca-

deiras de quatro atleticanos. Aos 38 minutos do primeiro tempo, André recebeu passe rasteiro de Danilinho e estufou as redes de Fábio pela segunda vez – Atlético dois a zero. Brandon logo me abraçou, entoando o grito de “Galôôôô!” Segurei para não dar-lhe uns cascudos. Um torcedor ao lado estava mais empolgado ainda. A todo o momento, ele mandava provocações ao goleiro celeste, Fábio, dizendo coisas que só se escuta em estádios de futebol. Que loucura! Percebi que a torcida do Atlético estava muito engasgada com a última derrota pelo Cruzeiro, por 6x1, no último jogo entre as equipes em 2011. Ouvi muitos torcedores gritando “É a hora da vingança! Eu quero é goleada!” Não é pra menos. A péssima atuação dos jogadores, naquele dia, feriu o orgulho de muitos torce-


eu estava lá...

IMpressão

dores atleticanos. O jogo foi para o intervalo, com o Galo em situação bem tranquila perante a Raposa. Eu já estava me conformando com a derrota, até porque o Cruzeiro tinha praticado um futebol pobre na primeira etapa. O time havia entrado usando o esquema 4-3-3, totalmente aberto e com o meio-campo enfraquecido. Além disso, os laterais levaram um chocolate de seus adversários. Foram pelos lados que surgiram os dois gols do Atlético. O técnico do Cruzeiro, Vagner Mancini, tirou Wallyson, jogador de ataque, e colocou o armador Roger para voltar ao 4-4-2. O Atlético retornou para o segundo tempo com a mesma formação. Comemoração mental A postura do Cruzeiro no segundo tempo foi totalmente oposta à do primeiro. O time ganhou força no meio e partiu para cima do Atlético desde o início. Aos sete minutos, segurei para não xingar o Anselmo Ramon, que perdeu um gol incrível, com a meta vazia. Mas, minutos depois, ele conseguiu a redenção. Cruzamento de Diego Renan pela direita, Renan Ribeiro falhou e a bola

sobrou para o camisa 11 cruzeirense empurrar, de cabeça, para as redes. Foi uma sensação muito estranha. Se eu comemorasse o gol do Cruzeiro, poderia acarretar numa “Guerra de Troia” do século XXI. A diferença é que eu estaria sozinho, no meio de tantos gregos. Além disso, ver o estádio totalmente silencioso, logo após meu time fazer o gol e não poder comemorar é uma prova de fogo. Portanto, me reservei a “gritar com a cabeça” e fiz uma espécie de comemoração mental. Olhei para meus companheiros ao lado. Vi que estavam apreensivos. Cada um tinha sua maneira de torcer. Brandon estava mais elétrico: gritava a todo momento e dava instruções aos jogadores, como se estivesse dentro de campo. José era o mais contido dos quatro. Limitava-se a prestar atenção nos lances e a roer as unhas em certos momentos. O fato é que todos ficaram preocupados com o aperto no placar. A torcida atleticana ficou mais impaciente quando o time abusou do direito de perder gols. Guilherme foi o vilão da história, ao desperdiçar duas chances claras para marcar. Na primeira, foi desarmado por Marcelo

Oliveira. Na segunda, após bola na trave de Fillipe Soutto, o dez do Galo apareceu sozinho na cara do gol, mas se atrapalhou ao finalizar e acabou chutando por cima. Foi o suficiente para ser vaiado pelos mais de 17 mil

“Não poder comemorar um gol do meu time, que deixou a torcida adversária calada, é uma verdadeira prova de fogo” rafael Arruda pagantes toda vez em que tocava na bola. Quando a partida começava a tomar rumos dramáticos, o Cruzeiro chegou ao empate. Montillo lançou a bola no meio da defesa atleticana para Anselmo Ramon. O centroavante dominou com o pé esquerdo e chutou forte de direita para carimbar

Belo HorIzonte, julHo de 2012

as redes alvinegras e empatar o jogo em dois a dois. Foi o bastante para começar a sessão de protestos da torcida. E com razão, já que qualquer um ficaria chateado ao ver o time deixar escapar uma vitória, ainda mais no clássico, depois de abrir dois gols de vantagem. Eu, peixe fora d’água, fiquei caladinho, apenas fazendo a tal comemoração mental. E o empate foi um resultado justo para ambos. Flagrante Ao final da partida, imaginei o gosto amargo que meus amigos atleticanos sentiam pelo empate. Porém, para um deles, foi um momento especial. Brandon assistiu, pela primeira vez, a um jogo do Atlético na Arena do Jacaré. “Foi uma experiência muito legal. Nunca tinha ido a um jogo do Galo. Gostei bastante, é sensacional poder acompanhar o time do coração de perto. Pena que o resultado não foi o que eu esperava. Deixamos escapar por pouco”, disse o estudante, feliz por ter realizado um sonho antigo. Na saída do estádio, achei que estaria livre de todos os problemas e que poderia ir embora tranquilamente.

15

Mas, o mundo é pequeno. Passando pelo estacionamento, alguns integrantes de uma torcida organizada de Igarapé estavam sentados, esperando a condução para voltar pra casa. Logo me reconheceram. Quando vi, fiz um sinal para que eles não falassem nada, já que tenho amizade com a maioria deles. Um até tentou ameaçar, disse que ia me entregar, mas foi repreendido pelos demais, que sempre me respeitaram. Fui embora sossegado, junto com meus quatro amigos. Na volta para casa, conversamos bastante, e também trocamos provocações, claro, de modo amigável e sempre levando na esportiva. Leandro me parabenizou, dizendo que eu consegui disfarçar muito bem o lado de torcedor adversário. “Não é qualquer um que conseguiria. É muito complicado conter os ânimos nessas horas”, ressaltou. O fato é que foi uma sensação diferente e cheia de histórias para contar. Nunca havia me imaginado assistindo a um clássico no meio da torcida do Atlético. Agora, com essa experiência, conto - com muito gosto - todos os detalhes para quem quiser saber. Eu estava lá!


16

Belo Horizonte, junho de 2012

Jornal Daqui

Impressão

Manifestação cobra melhorias na segurança da Antônio Carlos Após mais uma morte trágica, alunos do UniBH, da Facisa e Senai bloqueiam a avenida e pedem mais atenção do poder público para a região da Lagoinha Fotos: DAVIDE DUARTE

Camila Freitas 1º período Guilherme Pacelli 2° PERÍODO Edição: Dany Starling Quanto vale uma vida? O que você faria se, na volta para casa ou na ida para a faculdade, se deparasse com um congestionamento de quilômetros? Qualquer pessoa ficaria curiosa para saber o que aconteceu. São obras na pista? Uma batida de veículos? Ou um atropelamento? Com certeza, as reações seriam bem diferentes. Algumas pessoas ficariam bravas; outras, talvez por cansaço, simplesmente ignorariam a situação. Uns ligam o rádio, outros aproveitam para dormir. A população está tão habituada a acidentes e atropelamentos no trânsito de Belo Horizonte que, não importa se o congestionamento à frente acontece devido a uma tragédia ou por provocado pelo trabalho de operários. As alternativas são comuns, deixaram de ser novidade. Preocupados com a banalização da vida e com o bem-estar alheio, os alunos do UniBH, coadjuvados por colegas da Facisa e do Senai, organizaram um movimento pró-vida no último dia 12 de abril, na Avenida Antônio Carlos, na altura do bairro Lagoinha. O protesto foi idealizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) do UniBH e liderado pelos alunos Fernando Reis e Eber Rocha. Ao som de um apitaço, que ecoou pela avenida e ruas adjacentes, os alunos reivindicaram melhorias na fiscalização e na segurança para os pedestres da região. Em 24 de Fevereiro, o aluno do 1° período de Publicidade do UniBH, Fernando Rosa de Souza, foi atropelado por um ônibus ao atravessar a avenida, rumo à faculdade. Além de melhorias na sinalização, bastante precária e que tem sido uma das principais causas de atropelamentos na Antônio Carlos, os estudantes querem também a ampliação do policiamento na região. Nos últimos anos, a Lagoinha tem se tornado abrigo de moradores de rua e usuários de droga, o que assusta aqueles que transitam por suas ruas e viadutos, locais recorrentes de assaltos e violência. A princípio, todas as pistas foram bloqueadas pelos estudantes, sentados no chão e em pufes. Somente após a chegada da Polícia Militar, que havia sido informada previamente pelos líderes da manifestação sobre o ato que ocorreria na avenida, é que foi liberada uma faixa de cada pista para a passagem de veículos. A manifestação trouxe uma série de complicações ao trânsito. Alunos discutiram com motoristas que, estressados com a paralisação, aceleravam

os carros na direção dos manifestantes, na tentativa de amedrontá-los, mas sem muito sucesso. Com os ânimos acirrados, o protesto perdeu um pouco o seu caráter pacífico. Em determinado momento, um ônibus foi apedrejado, causando alvoroço entre a polícia, o motorista do veículo atingido e manifestantes, deixando a situação ainda mais caótica. O protesto gerou grande repercussão entre as pessoas, direta ou indiretamente. Para o estudante do 5° período de Jornalismo do UniBH, Rafael Arruda, clamar por melhorias na região da Lagoinha é importante, pois a presença de varias instituições de ensino na Antônio Carlos gera um grande fluxo de pedestres e requer uma atenção maior dos órgãos responsáveis. “O tempo todo há circulação de pessoas para a faculdade, atravessando as ruas, o fluxo de carros também é muito grande e mesmo com o funcionamento dos semáforos na Antonio Carlos, o tempo que a pessoa tem para atravessar é muito pequeno”. A repercussão do movimento De acordo com o professor do UniBH e advogado, Murilo Marques Gontijo, “qualquer reivindicação deve ser feita de maneira organizada e dirigida a quem tem poder para resolver o problema. Há ainda a via judiciária para se buscar resultados desejados. As manifestações, ressalto, são livres e devem ocorrer, também, mas de forma a respeitar o direito dos outros”, avalia. Para o professor, a forma como os alunos lidaram com o assunto foi ineficaz. Uma manifestação é sempre a última das opções utilizadas para reclamar direitos vilipendiados, mas, se utilizada, deve sempre ser feita de forma que respeite o direito do outro de ir e vir. Colega de Murilo no corpo docente do UniBH, o professor de Filosofia na instituição, Luiz Henrique Vieira de Magalhães, discorda. “Acho que toda iniciativa pode gerar algum resultado. Se ninguém se manifesta, aí é que não vai acontecer nada”. Segundo Luiz, o direito à manifestação tem caráter de ato de cidadania e que todos os indivíduos, quando desrespeitados, têm o direito de se manifestar ou mesmo solicitar a intervenção do poder público por meio dos vereadores ou alguma autoridade que abrace a causa. Apesar de toda a celeuma ocorrida no dia da paralisação, as ações tiveram pouco efeito prático. Segundo o assessor da Regional Noroeste da Prefeitura de Belo Horizonte, Rodrigo Araújo Cruz, a entidade soube da manifestação, mas não recebeu nenhum pedido oficial que listasse os pedidos dos estudantes levantados durante o processo.

Universitários promovem apitaço, diante da insatisfação e ameaças dos motoristas

Alunos ocupam a faixa de pedestres em protesto contra a violência no trânsito

Diante de tais acontecimentos, o diretor do Instituto de Comunicação e Design do UniBH, professor Rodrigo Neiva, o Centro Universitário tem convocado reuniões com a BHTrans para procurar uma solução eficaz que solucione o problema de falta de segurança no trânsito. O que existe de concre-

to são campanhas educativas junto aos alunos nos campi Antônio Carlos e Estoril e moradores dessas regiões, além de outras iniciativas que ainda estão em discussão. Ainda segundo Rodrigo, já se pode notar um maior policiamento na região, o primeiro resultado dessas reuniões.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.