Ano 30 • número 189 • Outubro de 2012 • Belo Horizonte/MG
Guerra santa digital Reportagem discute uso de novas mídias para exposição de crenças pessoais
MotAGEM: GUILHERME PACELLI
fotos: JÉssICA AMARAL
PÁGINAS 8 a 11
do!s – Corredor literário, arte acessível, Hip Hop, led zeppelin e formandos em pânico
SEM MEIAS PALAVRAS Entrevista exclusiva com Jorge Kajuru
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Belo HorIzonte, oUtUBro de 2012
primeiras palavras
Impressão
Questionar: princípio do bom jornalismo
REITOR Prof. Rivadávia C. D. de Alvarenga Neto
Gustavo Pedersoli
INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGN Prof. Rodrigo Neiva
7° PERÍODO
Há um velho ditado, bastante difundido no Brasil, de que religião e futebol não se discutem. Contudo, amparada nos elementos que norteiam o jornalismo – a curiosidade e a dúvida –, a equipe do Impressão decidiu encarar a difícil – mas não menos instigante – tarefa de discutir, de forma clara e isenta, esses dois assuntos que estão fortemente presentes em nosso cotidiano. Com relação à religião, uma grande reportagem procura discutir os limites aceitáveis da liberdade de expressão religiosa em redes sociais. Até que ponto vai o direito de apologia a determinadas doutrinas, por meio de imagens e frases, sem que se atinja a convicção de outras pessoas?
O futebol entra em campo em uma surpreendente entrevista com o jornalista Jorge Kajuru, que solta o verbo ao falar sobre sua vida pessoal, a conturbada carreira na televisão e no rádio, a percepção dos rumos tomados pelo jornalismo e seu futuro na profissão. O primeiro caderno ganha um tom mais leve com uma divertida e pertinente matéria sobre o dia a dia de quem mora nas repúblicas estudantis em Ouro Preto. No campo político, uma matéria esclarecedora incita os leitores a conhecerem e entenderem o funcionamento do processo eleitoral brasileiro, traçando uma detalhada análise dos sistemas de votação e elegibilidade vigentes. O caderno Dois, por sua vez, está recheado de matérias que discutem a apropriação do espaço público como, por exemplo, as que debatem a acessibilida-
de de portadores de necessidades especiais a eventos na cidade e a utilização do espaço urbano para a promoção de movimentos culturais. Seguindo essa linha, outra interessante matéria apresenta o efervescente circuito literário localizado na Rua Fernandes Tourinho, na região da Savassi, onde três livrarias – num espaço de pouco mais de 150 metros – chamam a atenção de quem passa no local. Essa miscelânea de discussões e questionamentos faz jus à proposta editorial do Impressão, que, além de sempre se pautar na informação objetiva e imparcial, tem como um de seus princípios promover o discernimento e o amadurecimento intelectual de seus leitores. Indagar, além de necessário e prudente, é um direito individual. Como disse o filósofo grego Platão: “Uma vida não questionada não merece ser vivida”.
Entrevistando o homem-bomba Camila Freitas 2°PERÍODO
Guilherme Pacelli 4°PERÍODO
Edição: Dany Starling Um misto de euforia e nervosismo marcaram nossa quarta-feira, último dia 10 de outubro. Não sabíamos como nos comportar, e muito menos como começar uma entrevista com um dos homens mais críticos e polêmicos do jornalismo esportivo brasileiro. Ao chegarmos ao estúdio da BHNews, fomos muito bem recepcionados pelos apresentadores daquele dia, do programa Esporte News, Pequetito e Emersom Pancieri, nos dei-
xando mais nervosos do que nunca e sentindo a responsabilidade que tínhamos nos ombros. Os minutos de espera pareceram eternos, devido à nossa ansiedade. Finalmente, o momento tão aguardado da entrevista chegou. Jorge Kajuru estava nos esperando em uma sala com uma mesa de reuniões e uma TV grande que transmitia o Esporte News, no qual Kajuru faria uma participação especial. Durante a entrevista, que mais parecia uma conversa informal, Kajuru se encontrava à vontade para falar o que quisesse. Ele nos deixou perplexos com tanta informação, e emocionados ao percebermos que, mesmo sofrendo tanto
com a possível perda total da visão ele continua uma pessoa proativa. A impressão que tínhamos dele se esvaiu, transformando-se em admiração pela coragem e força ao enfrentar as dificuldades. Conhecer e entrevistar Jorge Kajuru foi uma aula para uma jovem e inexperiente equipe de futuros jornalistas. Mesmo tentando, de todos os modos, passar a impressão de um homem forte, resistente e sem medo do que a vida propõe, ele carrega muitas marcas e cicatrizes, que ainda estão se curando. Muitos dizem que ele é louco e outros que é um gênio, mas em nossa concepção, ele talvez seja os dois. Com certeza, como Kajuru, só o Kajuru.
eXpedIente
COORDENAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMO Profa. Fernanda de Oliveira Silva Bastos
LABORATÓRIO DE JORNALISMO IMPRESSO EDITORES Prof. Leo Cunha Prof. Maurício Guilherme PRECEPTORA Profa. Ana Paula Abreu (Programação Visual) ESTAGIÁRIOS Camila Freitas Guilherme Pacelli Jéssica Amaral MONITORES Dany Starling João Luís Chagas LAB. DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS EDITORA Profa. Lorena Tárcia Parcerias LACP – Lab. de Criação Publicitária Laboratório de Moda Laboratório de Convergência de Mídias Ilustrações Paulo Henrique Fernandes (aluno de Publicidade e Propaganda) Modelo da capa Hiago Soares IMPRESSÃO / TIRAGEM Sempre Editora 2000 exemplares
eleito o melhor Jornal-laboratório do país na expocom 2009 e o 2º melhor na expocom 2003
O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pelos professores Maurício Guilherme e Leo Cunha, com os alunos do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo - do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço. Participe do IMPRESSÃO e faça contato com a nossa equipe: Rua Diamantina, 463 Lagoinha – BH/MG CEP: 31.110-320 Telefone: (31) 3207-2811 Email: impresso@unibh.br
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Equipe do Impressão, nos estúdios da BHNews, com os jornalistas Emerson Pancieri, Pequetito e Jorge Kajuru
Impressão
Visão crítica
Belo Horizonte, OUTUBRO de 2012
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ARTIGOS
A praia do mineiro Pedro Thiago 7° PERÍODO
Belo Horizonte sempre foi uma cidade marcada pela discrição, pela calmaria cultural e pela eterna imagem bucólica dos jardins e ruas arborizadas, inabitados, a não ser por carros, transeuntes e certamente algum fotógrafo. Porém uma tentativa do prefeito em reforçar a discrição na cidade, inflou uma parcela da população, principalmente artistas e produtores culturais. Recorrendo ao deboche e ao questionamento dos valores morais da família mineira. Foi na internet que o mineiro começou a tramar sua primeira praia. Manifestações contrárias pipocaram por diversos espaços virtuais e virou debate nas redes sociais. Logo surgiu a convocatória virtual para “Praia da Estação”: Tragam instrumentos, roupas de banho, óculos de sol, protetor de pele e jacarés infláveis para a praia de cimento. Chocante. A população de Belo Horizonte se deparou com homens, mulheres, crianças, cachorros, ciclistas e ativistas sociais em trajes de banho, em pleno centro da cidade. A viagem de 400 quilômetros até o mar tornava-se desnecessária. O estranhamento inicial se tornou em sensação, afinal, uma cidade repleta de jovens e expressões sociais, até então abaladas pelo conservadorismo mineiro, encontrou no espaço
público, alvo de restrição, um lugar de manifestação e novas relações. Os sólidos valores da família mineira começavam a ruir. Isso ficou
espaço para manifestações de diversas urgências, desde a repressão sofrida pela população de rua, ao processo de verticalização desordenada
evidente quando, em 2011, o prefeito recebeu uma sonora vaia durante a posse do Conselho Municipal de Cultura: “Pessoal, isso não é do mineiro”, argumentava o mestre de cerimônias. Era a primeira manifestação, em espaço institucional, da revolução cultural que vive, hoje, Belo Horizonte. A praia da Estação se tornou um
da cidade. Os mesmos “banhistas” que se refrescavam na praia, realizavam ações de solidariedade e sensibilização pelas questões das comunidades que ocupavam terrenos ociosos e estavam ameaçadas de despejo. As redes sociais levaram o drama para outros cidadãos alheios aos problemas. Mas o interessante é a política sob
carnaval. Os assuntos são sérios, as questões são debatidas com veracidade na praia, mas sempre com espaço para a diversão, o lúdico, os rostos coloridos, batuques e cerveja. A Praia da Estação reuniu uma geração que pensa e usa a cidade de outra forma. As pessoas veem o espaço público como um espaço de interação, além do circuito barzinho/shopping Center. Houve desdobramentos interessantes do movimento praiano mineiro. O carnaval deste ano reuniu 21 blocos nas ruas da cidade, em 13 dias de programação. Alguns blocos chegaram a ter 10 mil foliões, que tiraram o sossego da até então cidade do descanso. A Praia atingiu sua maturidade política com o surgimento do Movimento Fora Lacerda, que se articula nas redes sociais e usa as praças públicas como escritório. Recentemente o movimento realizou uma passeata com 5 mil pessoas no centro da cidade. Nem a visita do ex-presidente Lula, na Praça da Estação, reuniu tanta gente. Inicialmente frequentada aos sábados de verão, reunindo pessoas diferentes, promovendo novas relações e novas aspirações em relação à vida coletiva na cidade. A Praia da Estação se tornou uma possibilidade de lazer para os belo-horizontinos.
A informação é pública ou comercial? Kelle Lopes 7º PERÍODO
As Olimpíadas tiveram origem na cidade de Olympia, na Grécia Antiga. Os jogos eram realizados em homenagem aos deuses. Os primeiros jogos da era moderna aconteceram em Atenas, no ano de 1896, sem a presença de divindades. Um dos maiores eventos esportivos do mundo, realizado há 116 anos, sofreu retrocessos nesta edição. Não em sua formulação, organização ou modalidades, mas na importância e relevância do seu trato. Nos Jogos Olímpicos de 2012, ocorridos na cidade de Londres, o direito de cobertura e exibição passou das mãos dos Marinhos para as dos Macedos. Desde então, o número de espectadores brasileiros, diminuiu consideravelmente. De acordo com a coluna Outro Canal, do jornal Folha de S. Paulo, a Rede Record alcançou números abaixo das expectativas durante a trans-
missão dos jogos de Londres, fazendo com que a queda de público chegasse a 40%. De acordo com o Ibope, a média das transmissões de 2012 foi de 6,3 pontos. Na última edição das Olimpíadas, em 2008, a Globo chegou a registrar média de 14,3 pontos. Cada ponto representa 60 mil domicílios da Grande São Paulo. Ou seja, usando uma simples calculadora, constata-se a discrepância nos números. O site norte-americano The Hollywood Reporter escreveu artigo sobre a audiência dos Jogos Olímpicos da Record e avaliou como “baixa”. “A rede, que está transmitindo os Jogos Olímpicos pela primeira vez, aumentou suas avaliações sobre a rival TV Globo, mas ainda vem em terceiro lugar”, afirmou. Isso se dá pela má qualidade da Rede Record que não consegue ser tão eficiente quanto o Sistema Globo? Não! Isso acontece graças à informação comercial, que vem se sobrepondo ao direito de informação pública.
É inegável que a TV Globo, durante seus 47 anos de existência, consolidou-se de tal forma que, qualquer assunto transmitido logo se torna notícia: desde um caso de corrupção no governo até uma adolescente que ficou famosa na internet, porque estava morando no Canadá. O fato é que a maioria dos telespectadores está acomodada. Sim, acomodada, e não alienada. Uma vez que o processo de comunicação há tempos não é visto sob o tripé emissor-mensagem-receptor. É certo que, nos primórdios da televisão – até a consolidação – pela sua grande influência e poder aquisitivo, o jornalismo global detinha, na maioria das vezes, as informações mais rápidas, precisas e exclusivas. Mas essa realidade não mais condiz com o século XXI. Se ainda vemos que continua tendo vazão, a falha é de quem? Da Record, que não é a Globo; do telespectador, que só assiste a uma emissora; ou da informação, tratada como mercadoria?
Nas Olimpíadas de Londres 2012, assistimos a uma série de quedas: queda dos atletas, do número de medalhas conquistadas pelo Brasil, da audiência em “TV aberta” e dos torcedores. É justo sermos “obrigados” a acompanhar os jogos em apenas uma emissora, a partir de uma linha editorial? Ou é justo que, ao buscarmos informações em outros canais, nos deparemos com imagens estáticas, apresentando a prova da corrida com obstáculos? É ético delimitar a informação que deve ser pública para uma só detentora dos direitos de exibição? Se for dinheiro que move essa máquina, que os direitos de transmissão sejam liberados para todos que queiram e possam pagar. Que o chamado bem público seja abrangente, e não restrito a quem assina primeiro a licitação. Precisamos da concorrência entre as emissoras, não no sentido de conseguir o direito de cobertura, mas em quem faz com mais qualidade e respeito a seus espectadores.
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Outros papos
Impressão
Sarcasmo na ponta da língua fotos: JÉSSICA AMARAL
Kajuru ataca desafetos, aconselha jovens jornalistas e revela pontos marcantes de sua carreira
Camila Freitas 2°PERÍODO
Guilherme Pacelli
4° PERÍODO
Edição: Dany Starling Já há um bom tempo longe da TV aberta, e bem mais magro do que à época em que se tornou conhecido pela forma irreverente como apresentava seus programas, Jorge Kajuru recebeu a reportagem do Impressão para um bate papo na TV BHNews, canal a cabo da capital onde trabalha desde maio desse ano. Usando óculos bem diferentes, com uma lente redonda e outra quadrada, brinco na orelha esquerda e uma caneta na mão – que quase não soltava –, mostrou que, apesar do novo visual, não largou o estilo ácido pelo qual ficou conhecido. Durante quase uma hora de conversa, Kajuru se mostrou bem à vontade. Enquanto comia um sanduíche de queijo e presunto, falou sobre esporte e jornalismo, mas não se furtou a contar detalhes de sua vida pessoal e os altos e baixos na carreira. Filosofou, deu conselhos e, claro, cutucou bastante seus desafetos. IMPRESSÃO: Kajuru, você está há muito tempo fora da
TV aberta. Por quê? KAJURU: A Band me demitiu ao vivo, uma coisa que não vou esquecer jamais. Daí em diante, eu virei um rótulo, até porque, no Brasil, isso acontece com facilidade. Me botaram como doido. Ah, esse cara é doido, não pode ir pro ar. Todo mundo tem medo de me colocar ao vivo. Entrevistas, só gravadas. Quando eu faço programa ao vivo, uma vez por mês, a diretoria desce toda para o estúdio. O programa se chama Kajuru sob controle [exibido pela TV Esporte Interativo], tem uma mulher comigo, exatamente para me controlar. I: Por que demitiram você ao vivo? K: Não tem motivo. Eu não xinguei o Aécio [Neves, então governador de Minas Gerais], não usei nenhum adjetivo contra ele. Eu apenas estava na porta do Mineirão e as pessoas estavam revoltadas. O ingresso estava muito caro. Em junho de 2004, o preço era de R$ 400 no câmbio negro. E eu, ao vivo pela Band. Não escolhi o lugar, foi a Band que determinou. Eu entrava ao vivo no Brasil Urgente, apresentado pelo Datena, no Jornal da Band, com Carlos Nascimento, e depois faria o meu progra-
ma, Esporte Total Segunda Edição, que começava às 20h15. O povo chegava e desabafava comigo, reclamando do Aécio. Estava dando audiência demais. Mas fui demitido, exatamente, às 20h28. Foi uma decepção. I: Foi a maior decepção de sua carreira? K: Em termos de emissora, sim. Mas se você perguntar sobre decepção jornalística... Vou falar uma coisa que nunca falei antes. É muito triste um país onde algumas empresas preferem patrocinar e se associar ao Milton Neves do que ao Jorge Kajuru. Desculpe a falta de modéstia. É duro. Não é fácil viver nesse país, nesse mundo. Às vezes, dá preguiça dele. I: Você voltaria para a Band? K: Aqui em Belo Horizonte, aconteceu uma coisa que me deixou muito feliz. O sobrinho do João Saad [presidente e dono da Band], Bruno Saad, que comanda a Band aqui em Minas, conversou comigo. Cara a cara, olho no olho. Ele me convidou para um projeto de rádio e disse que me queria em um projeto de televisão, mas que eu fosse entrando aos poucos. Não quis porque não aprecio o programa esportivo diário deles. Não
sei nem o nome [o programa chama-se Golasô], de tão ruim que é. Por onde quer que eu vá aqui em Minas, ninguém conhece o programa. E quem assistiu não quer ver nunca mais. Além disso, eu teria que trabalhar com o Éder [Aleixo, ex-jogador e comentarista]. Estou muito velho para trabalhar com o Éder. Eu gosto de escolher a equipe com a qual vou trabalhar. Para eu aceitar o projeto da Band, teria que ter liberdade de escolha. Em tudo: equipe, programa, quadros. Se for para trabalhar em algo sob a gestão deles, não quero. Porque eu já trabalhei lá, fui demitido ao vivo. Não quero passar por isso de novo. I: Quais os grandes pecados de quem faz jornalismo esportivo no Brasil? K: Em primeiro lugar, a ignorância. A ignorância é a maior multinacional do mundo, já dizia o Millôr Fernandes. Quantos jornalistas hoje, e aí é um pecado, não sabem quem foi Millôr Fernandes? Quem sabe quem foi João Saldanha, para mim o maior comentarista de todos os tempos? Por isso o maior pecado é a ignorância, a falta de estudo, a falta de conhecimento, a falta de procurar as
Impressão
Outros papos
O jornalista Jorge Kajuru fala com exclusividade ao Impressão sobre carreira, imprensa e vida pessoal boas referências no jornalismo. Achar que fazer bom jornalismo e entender de futebol é ler no Google. Me espanta e me enoja o tanto de comentaristas de Google. O sujeito vai falar sobre o jogo, mas não comenta taticamente. Se o jogo est[a 0x0, ele tem que falar porque está 0x0, os esquemas táticos, a escalação dos times. Mas não, prefere ir ao Google e buscar informações do tipo: “Ah, em 1932, tal time venceu três jogos consecutivos”. Informação é importante, mas para antes ou depois do jogo. Quando a bola está rolando, ele tem que falar sobre o que está acontecendo no campo. I: Você falou sobre procurar as boas referências. Quem são essas boas referências atualmente? K: Aqui em Minas, temos o Tostão, que sequer é jornalista, mas em todas as suas colunas ele dá exemplo de como se fazer bom jornalismo. O Juca Kfouri, embora tática não seja o forte dele. Ele é jornalista investigativo, faz denúncia, crítica. Infelizmente, não está mais na televisão aberta, o que é uma sacanagem. Outro que também está fora da TV, e muitos nem devem se lembrar dele, mas que para mim foi o maior depois do João Saldanha, é o Juarez Soares, o China. Ele foi demitido pela Band a pedido do Ricardo Teixeira e do Clube dos 13. Aqui em BH, também gosto do Emanuel Carneiro e do Lélio Gustavo. É preciso que os jovens procurem essas boas referências, esses bons exemplos, e entendam que, sozinhos, não chegarão a lugar nenhum. I: Você nunca teve medo de falar o que pensa. Já deixou de falar algo para poupar alguém? K: Eu não falo o que penso; falo o que sinto. Mas depende. Tem pessoas que você deve contar até dez antes de falar. O Mano Menezes, por exemplo. Eu o critico, meto o pau nele como técnico, mas não o conheço. Não tenho o direito de usar adjetivos com ele. Mas tem gente que não estou nem aí. Começo a xingar e não paro mais. CBF, Congresso Nacional, eu disparo a falar. I: Deve haver limites para se falar o que pensa, ou sente? K: Se o que você disser ofender a pessoa, sim. Conte até dez, porque eu não contei. Fui processado 128 vezes, perdi vários empregos e fui rotulado no Brasil como doido. Então, se você quiser ofender alguém, pense nas palavras que vai usar. Seja
irônico. Mande a pessoa para “Punta Del Este”. Diga que vai mandar o Ricardo Teixeira para o báratro. Ele nem sabe o que é isso, vai procurar no dicionário [N.E: báratro é sinônimo de abismo, despenhadeiro. Em sentido figurado, é sinônimo de inferno]. Hoje, eu levo na brincadeira. Se você ofender alguém sem pensar antes, vai usar um adjetivo que não precisava, e é um exagero. É aí que você perde o emprego, é processado. I: Você foi demitido ao vivo, teve sua rádio em Goiânia fechada. Você tem medo de novas represálias? K: Não tenho medo de nada. Só lamento que minha rádio tenha sido cassada por um gângster, que não pode ser chamado de ser humano. Que não apenas perseguiu a rádio, perseguiu minha família. É muito difícil viver num país onde não brigam as ideias, brigam os homens, e às vezes os homens brigam de morte. Em Goiás, um jornalista foi assassinado na porta da rádio devido a uma opinião emitida. Fico pensando porque não fui assassinado até hoje. Se o cara deu uma opinião e morreu, quantas eu já dei? Enquanto existir esse Marconi Perillo [governador de Goiás], eu temo. Até porque, ele fez filho, né? Podem surgir novos Marconis Perillos. Eu não tenho medo de morrer, mas tenho medo que outros Kajurus, que podem aparecer no jornalismo brasileiro, sofram o que eu sofri. Não quero meu sofrimento pra ninguém. Faz de conta que Deus deu essa lição só para mim. É um sofrimento que não desejo para o meu pior inimigo. Esse Marconi Perillo destruiu a minha vida, mas não desejo isso para o filho dele. Aprendi a rezar por meus inimigos. I: O que pode ser feito para impedir que casos semelhantes ao seu aconteçam? K: Isso só vai mudar daqui a muito tempo, com muitos Joaquins Barbosas no país. Com educação. Não há como discutir isso sem falar na escuridão da educação no Brasil. Um país onde não há liberdade de imprensa, há liberdade de empresa. I: Em algum momento, você pensou em desistir? K: Primeiro, não tenham dó de mim. Estou feliz, tomo minha cerveja, tomo um bom vinho quando sobra um dinheirinho. Estou doente no momento, da alma e da visão. Mas não estou
triste, não desisto. Nunca desisti de querer falar, de querer trabalhar, ter um programa de televisão. Falei no programa do Roberto Cabrini [Conexão Repórter] que ia parar, mas estava no fundo do poço da depressão. Nunca pensei em desistir da minha carreira, mas da vida, sim. Talvez em função de tudo isso. Precisei, e preciso, periodicamente, de um psiquiatra, de socorro psicológico. Desistir da vida é um desejo difícil de sair da minha cabeça, estou muito decepcionado com o ser humano em geral. I: Como é o Kajuru longe dos holofotes, na intimidade? K: Hoje, o Kajuru não está aí mais. É preferível ficar com a imagem do velho Kajuru. O Kajuru de hoje não está bem, está doente. Mas não precisa que ninguém tenha dó dele, porque ele tem dinheiro para ir ao médico. Tem que ter dó de quem não tem dinheiro para ir ao médico. Tem que ter dó de quem não tem hospital para ir. É de quem não tem um amigo para conversar, porque eu ainda tenho. Mas não posso mentir, o Kajuru de hoje não é legal. O Kajuru de hoje tem transtorno bipolar, essa doença terrível que eu descobri há quatro anos. Uma doença muito grave, que qualquer um de vocês pode ter e não sabe. Eu tenho que tomar um remédio chamado Carbolitium, um chumbo grosso, porque o bipolar vai da euforia total de comprar uma passagem avião com uma mulher gostosa que conheceu, se apaixonou e foi para Paris com ela, à depressão profunda, que se você tiver um revólver, você dá um tiro na cabeça. Agora, o Kajuru que você perguntou, de 51 anos de idade, 36 anos de carreira, esse Kajuru, eu vou ter um pouquinho de falta de modéstia. Esse Kajuru foi raro na raça humana. Aquele Kajuru que vocês viram lá atrás, era imperdível, era brilhante em todos os sentidos. Não tinha um sorriso mais bonito do que o dele, não tinha um raciocínio mais rápido do que o dele. Não tinha um poema que ele não sabia, não tinha uma música que não cantava, não tinha uma mulher que resistia ao encanto dele, mesmo sendo feio pra c*. Dono de uma lábia extraordinária. É esse Kajuru que fica pra mim. E estou lutando, indo aos médicos, para esse Kajuru voltar. E ele vai voltar. Deus quer, eu sei que ele quer. Nossa Senhora Aparecida, de quem minha mãe sempre foi devota, quer. Então, ele vai voltar.
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Um dia na...
Impressão
REPRODUÇÃO: arquivo pessoal
Terra do Nunca
História e irreverência convivem harmoniosamente em Ouro Preto Bárbara Braga Bárbara Guimarães Jade Vieira 6° PERÍODO
Edição: Dany Starling O dia amanheceu bonito e com ar de feriado. Clima perfeito para ir a Ouro Preto, cidade a 98 quilômetros de Belo Horizonte. A ansiedade e a música que saía do som do carro foram os principais combustíveis da viagem. Passados os caminhões e a neblina da serra, o trajeto ganhou novo formato. Depois de passar pela venda das panelas de pedra, avistam-se resquícios da antiga Vila Rica. A sensação de mergulho no tempo é inevitável quando se chega ao centro histórico e se avista o Museu da Inconfidência, na Praça Tiradentes. Cada esquina possui uma história específica do período colonial brasileiro. Até mesmo o nome da cidade faz referência a esse período e tem relação com o ouro escuro, recoberto com uma camada de óxido de ferro, descoberto naquela época e muito comum na região até hoje. Apesar dos três séculos de vida, Ouro Preto pode e deve ser considerada jovem, muito em função de sua população, recheada de estudantes universitários. Ao analisar as ladeiras, as ruas com calçamentos e as igrejas que compõem a estética local, percebe-se que existe muita coisa além do que é mostrado na televisão durante as datas comemorativas, como o tradicional Carnaval, a Festa do Doze ou as comemorações de 21 de abril. Para aqueles que ainda não conhecem, as repúblicas universitárias de Ouro Preto
ajudam a reescrever a história do primeiro Patrimônio Histórico da Humanidade. Como visitantes, conseguimos enxergar os dois lados que a cidade apresenta: a vida tradicional dos “nativos”, a presença das artes barroca e rococó, a trajetória dos Inconfidentes e demais hábitos dos moradores e, no outro extremo, a irreverência da vida universitária. Um belo exemplo de junção entre o tradicional e o moderno. Antes de se transformar em um dos principais “museus” do país, Ouro Preto, então Vila Rica, foi a capital mineira, antes de Belo Horizonte. Nessa época, a Escola de Minas tomou posse de todos os prédios e casas da cidade. Esses imóveis se transformaram nas famosas repúblicas. As casas, na maior parte dos casos, abrigam alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Com a expansão das escolas de ensino superior pelos quatro cantos do país, morar em república tornou-se algo comum. No início, todas as moradias eram de propriedade da Ufop, e os alunos que precisavam do serviço não tinham despesas com o aluguel. Hoje, as residências que adotam esse sistema são consideradas repúblicas federais, ou seja, de posse da instituição. Batalha do bixo Para conquistar uma vaga dentro dessas casas, o calouro deve passar por um período de adaptação, geralmente de seis meses, chamado "batalha". A pessoa que quer entrar em uma república, seja ela particular ou federal, é chamada de bixo. E a grande
diferença de Ouro Preto é que os bixos são os calouros das repúblicas, não da universidade. “A gente prega respeito e convivência. Durante a batalha, eles precisam executar certos tipos de atividades, para o bem-estar da casa e para a gente ver se realmente querem morar aqui”, afirma Leonardo Rebouças, o Torcicolo, estudante de Engenharia Civil e morador da república particular Notre Dame. O bixo é responsável pelos trabalhos da casa, como atender a porta e o telefone, cuidar dos serviços domésticos e reparos da moradia, além de buscar convivência harmoniosa com o restante da casa. Depois de ter cumprido a batalha, o bixo é julgado pelos moradores. Se for de comum acordo da casa que ele tenha realizado todas as tarefas e conquistado afinidade com todos, é escolhido para morar no local. “Já aconteceu de algumas pessoas não darem certo e acabarem saindo. E tem o caso da pessoa não se adaptar e pedir para sair. Os vetados são indicados para outra república”, diz o estudante de Ciências da Computação Pedro Henrique, o Bactéria da Notre Dame. Hoje é dia de rock! Assim como a vida estudantil, as festas, que em Ouro Preto são chamadas de rock, são um verdadeiro convite à diversão. Rock é qualquer tipo de confraternização que envolva os estudantes, de um churrasco entre os moradores da casa ao tradicional Carnaval. Algumas repúblicas se unem e promovem encontros que duram até o amanhecer. Pela já conhecida política da boa vizinhança, os estudan-
tes avisam aos moradores mais próximos que uma festa será realizada, convidando também os não-estudantes a participar. Tudo é muito bem regulamentado, já que a Prefeitura exige que as festas tenham alvará de funcionamento e uma perícia é feita em todos os locais onde acontecerão os rocks. Mas nem só de rock que se vive em Ouro Preto. Os universitários também enfrentam problemas durante o período da graduação, que, em algumas situações, fazem com que saiam do padrão festivo. Viver fora da rotina imposta pela tradição da cidade universitária pode ser complicado. Foi o que ocorreu com o aluno do sétimo período do curso de Engenharia de Minas, Guilherme Alzamora. Quando o jovem, natural de Betim, chegou à cidade em 2009, logo procurou uma república para morar. Bastou um mês para que Guilherme fosse atrás de uma nova alternativa de moradia. “Ainda não tinha conseguido estudar para as provas e senti que, voltando para casa todos os fins de semana, eu dificilmente seria escolhido depois da batalha. Nesse tempo apareceu um apartamento para alugar, pensei bastante e achei que seria a melhor opção”, explica. Atualmente, o estudante mora sozinho, mas é a favor de que todo calouro passe por essa experiência, pois considera como “única” a oportunidade de conviver em uma república em Ouro Preto. “Só estando em uma para saber o que se aprende lá dentro com os mais velhos, que vai além dos assuntos da faculdade”, afirma.
Identidade secreta Absoluta, Bactéria, Sedex, Mordaça, X-Barra, Poka-Pilha, Reage, Cigana, Bola Cheia, Marka-Texto e Panguá. Esses são alguns dos apelidos que os estudantes de Ouro Preto receberam, após serem testados durante os seis primeiros meses em suas respectivas repúblicas. Vencida a batalha do primeiro semestre, quem antes era conhecido apenas como “bixo” ganha um novo nome, em tom de gozação, que faz alusão a alguma mancada ou situação engraçada vivida pelo estudante. União de criatividade e bom humor, certos apelidos ganham destaque, como foi o caso da moradora da República Maria Bonita Flaviane Fioravante, que passou a ser conhecida como Dislexia por sempre trocar palavras no meio das frases. Ou ainda o estudante Raphael Stort, que também responde por Wilson, apelido que recebeu dos amigos por, aparentemente, não ter nenhuma expressão facial, tal qual a bola de vôlei companheira de Tom Hanks no filme Náufrago. De acordo com estudo feito pelo professor do curso de Turismo da UFOP, Jaime Saad, “os cognomes são criados em Ouro Preto porque lá é um ‘não lugar’, uma espécie de ‘Terra do Nunca’, onde as pessoas ganham outra identidade”. Por isso os estudantes recebem um apelido e, durante a vida universitária, período de aproveitar e de se conhecer, a pessoa vai usar e abusar da alcunha sem "sujar" seu nome. Depois que sair de lá, voltarão a usar o nome de batismo, que não tem marca nenhuma, e adentrar a vida social sem nenhum receio.
Conhecimento
Impressão
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Aspectos culturais do queijo Iguaria tradicional da culinária mineira corre risco de perder sua identificação com o Estado devido à falta de conhecimento de sua produção Iara Rodrigues 8°PERÍODO
Alessandra Ferreira Lúcia Miranda 7°PERÍODO Edição: Dany Starling Como um mineiro é conhecido por pessoas de outros Estados? Todos nós sabemos que é por ser comedor de queijo. Não há uma pessoa que, ao descobrir que somos de Minas, ou quando nos visitam, não pede um queijo minas, canastra ou o famoso queijo do Serro. Por ser um alimento sempre presente na mesa dos mineiros, o queijo tem um aspecto que vai além do gastronômico. É quase um gênero de primeira necessidade para a maioria das famílias de Minas Gerais. Na casa da empresária Elizabeth da Glória de Oliveira não fica sem queijo minas. O sogro de Elizabeth, fazendeiro da região de Rezende Costa, localizado no Campo das Vertentes, fazia questão de ter sempre um queijo em sua mesa para receber as visitas e para consumo familiar. Adaptada a essa tradição, ela vai todas as semanas no Mercado Central comprar queijo canastra curado. Na fazenda, os finais de tarde eram tradicionais. Todos em volta da mesa bebericando um cafezinho bem quente acompanhando o delicioso queijo. Elizabeth faz questão de manter o costume em sua casa. “O dia em que ficamos sem queijo, meus filhos e netos reclamam”, conta a empresária. Mesmo que não seja presença diária na mesa de todos os mineiros, é muito difícil encontrar um que não goste de saborear a iguaria ou, pelo menos, produtos feitos com ele. O queijo não é apenas um dos pilares da economia mineira, mas também um forte traço da cultura desse povo, que não abre mão de suas tradições. A produção do queijo é economicamente expressiva no Estado. Cerca de 30 mil famílias vivem de produzi-lo, o que gera em torno de 150 mil empregos diretos e indiretos. Helvécio Ratton, cineasta e diretor do documentário O mineiro e o queijo, lançado em 2011 afirma em entrevista ao site Uai, “só o Mercado Central de Belo Horizonte vende 80 tonela-
das de queijo minas artesanal por mês”. Para o professor de Filosofia do UniBH, Luiz Henrique Magalhães, a relação do queijo com o povo mineiro transcende a questão única do alimento. É também uma manifestação da cultura e tem lugar privilegiado no sistema simbólico de um povo. Luiz acredita que vários fatores e interesses das mais diversas ordens interferem nesse processo, como a disponibilidade da matéria prima, viabilidade comercial e a relação com festividades. O queijo e o mineiro O documentário O mineiro e o queijo retrata, de forma sutil e muito agradável, a rotina e a paixão dos produtores mineiros de queijo artesanal. O filme apresenta também as dificuldades enfrentadas pelos produtores em vender seus queijos fora de Minas Gerais. A simpatia e simplicidade dos mineiros é um algo a mais no filme, que aborda ainda temas acerca da economia e leis de fabricação ultrapassadas. Os produtores são os personagens principais, que contam também com a participação de autoridades envolvidas na questão da liberação da venda do queijo artesanal. Eles expõem suas idéias de forma simples e cativante com o famoso sotaque mineiro. É bem evidente a paixão que essas pessoas têm pelo que fazem. A tradição que passa de pai para filho é maior do que a simples produção de um produto para comercialização e sustento familiar. As histórias vividas por essas famílias são refletidas na qualidade e gosto do queijo. Além das condições de clima, vegetação e criação dos rebanhos para a produção do leite, está incluso o sentimento de paixão usado na fabricação dos queijos. O que faz esse alimento tão especial é, ironicamente, o que torna a sua comercialização fora do estado quase impossível. O cineasta e comentarista de gastronomia Rusty Marcelini colaborou com a pesquisa e produção do documentário. Segundo ele, os brasileiros e os mineiros conhecem muito pouco sobre o queijo minas. “Em 2005, quando o queijo foi tombado
como patrimônio material do município do Serro, eu não o conhecia. Não sabia que tinha que passar pelo processo de maturação, que tem que ser feito com leite cru”, relata o comentarista. O cuidado de higienização exigido para a produção artesanal foi atendido por vários produtores para que a tradição mineira não caísse em esquecimento. A fabricação de queijos europeus é também citada no documentário. Naquele continente, vários países criaram uma política própria para a manutenção e comercialização de seus queijos para o mundo inteiro. Legislação A imposição das grandes empresas, por não quererem concorrência nas gôndolas dos supermercados, faz com que a liberação e incentivo à produção artesanal seja cada vez mais contrária aos produtores. A legislação brasileira é inspirada numa lei norte-americana da década de 1950 e adaptada ao Brasil porque pensava-se que aqui poderia se desenvolver a mesma bactéria encontrada durante a produção de queijos nos Estados Unidos. Porém, nenhuma análise de clima, solo e temperatura regional foi feita, o que deixa a lei sem justificava sustentável hoje em dia. Ainda de acordo com Rusty, há um desinteresse dos legisladores de ir ao local e ver o trabalho que é feito no interior de Minas Gerais. “Era um período completamente diferente, as estradas eram todas de terra, não tinha geladeira. Era outro tempo. Essa lei é totalmente antiquada, mas acabou ficando durante muito tempo e hoje não encaixa mais”, afirma o especialista, sobre a exigência da lei Nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950. As exigências descabidas acabaram por desencantar muitos dos pecuaristas. Alguns queijeiros preferiram abandonar a prática e, para manter o sustento de suas famílias, decidiram fechar suas fabriquetas de laticínio e apenas vendem o leite que seria utilizado para a produção dos queijos. A exposição da forma simples de viver é um dos fatores marcantes e envolventes do
documentário. A narração fica em sua maioria por conta dos próprios produtores e expõe um traço a mais da “mineiridade” do diretor e
participantes. Com belas paisagens de Minas Gerais, Serro, Canastra e região do Alto Paranaíba enchem as vistas do espectador. fotos: luiz HENRIQUE MAGALHÃES
Queijo e sua produção: as várias etapas do processo.
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dossiê
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Camila Freitas 2° PERÍODO Dany Starling 7° PERÍODO Guilherme Pacelli Jéssica Amaral 4° PERÍODO Edição: João Luís Chagas Mais de um bilhão de pessoas conectadas, espalhadas por 213 países. Somente no Brasil, 54 milhões de usuários. Disponível em 70 idiomas, 2,7 bilhões de “curtir” por dia. Os números do Facebook, de fato, impressionam. Evidenciamo fascínio das redes sociais, fenômeno que tem transformado a forma de as pessoas lidarem com a internet. Se antes a rede era, tão somente, fonte de informações, hoje, a troca de conteúdo, por parte de quem acessa, é seu grande mote. Orkut, Youtube,Linkedin, Google+, Twitter, Facebook. São muitas as redes sociais disponíveis, cada uma com seu estilo, suas ferramentas e suas particularidades. O poder de atração dessas ferramentas é tão grande que pesquisas de universidades dos Estados Unidos e da Noruega já comprovaram o condão viciante das redes. Para muitas pessoas, ficar afastado do Facebook gera sintomas análogos às síndromes de dependência química, como alteração de humor, intolerância, conflito, estados de ausência e recaída. O Brasil tem números curiosos a respeito do Facebook. Os conteúdos mais compartilhados são fotos (68%, maior média mundial), notícias do dia (49%), recomendações de compras (48%), análise de produtos (47%) e esportes (41%). Outro tema bastante discutido, que coloca o país no primeiro lugar do ranking, é a religião: 39% dos brasileiros conectados ao site postaalgo sobre o assunto com frequência, ao contrário do que acontece em países como Austrália (8%), França (3%) e Japão (1%). A profissão de fé é levada a sério nas redes sociais. Em seus perfis, as pessoas fazem questão de deixar claro se são cristãs (evangélicas ou católicas), espíritas, umbandistas, budistas, etc. É como se fosse necessário carregar um crachá, um documento, para atestar a crença, de modo que não paire qualquer dúvida a respeito. Não bastasse essa confirmação, é maciça a manifestação religiosa nas postagens dos usuários. Versículos da Bíblia, trechos de outros livros sagrados, imagens com mensagens falando de Deus e demais divindades, conselhos, orações, trechos de cânticos, vídeos com pregações. Tudo é válido na hora de espalhar aos quatro cantos (e, nesse ponto, a abrangência do Facebook é significativa) seus motivos de culto. Tais postagens, contudo, têm gerado reações contrárias dentro do próprio Facebook. Na própria linguagem da rede, uns curtem, outros não. O que suscita discussões das mais variadas espécies. A mais recorrente, contudo, é sobre até onde vai o direito da pessoa em lotar a timeline (página onde se concentram as postagens dos usuários “amigos”) alheia com mensagens de cunho religioso. É invasivo? Não é? Para a professora de Antropologia
e doutora em Ciências Sociais Maria Cristina Leite Peixoto, não há problema. “As pessoas podem se expressar. Eu posso divulgar minhas ideias, porque não? Posso divulgar os valores da minha religião. Quem não quiser ouvir, ou ler, que despreze. É tão fácil, basta ignorar ou excluir da rede social”, avalia, além de ressaltar: “Não fica um pastor pregando na Praça 7? Não podemos ouvir as palestras em um centro espírita? É a mesma coisa, só que agora no espaço virtual”. Cristina, contudo, aponta limites que devem ser seguidos por aqueles que se valem do Facebook para manifestar sua religião. “A própria expressão tem um limite. Não posso impor minha crença religiosa aos outros, muito menos desrespeitar a crença alheia, dizer que é ridícula, que é coisa do capeta. Isso é completamente errado”, entende a professora. Para o jornalista, professor e especialista em redes sociais Jorge Rocha, as discussões sobre religião nas redes sociais são inócuas. “Principalmente no Facebook, é fácil ver uma guerra entre religiosos e ateus.
Atitu Mensagens de louvor e agradecimento; Imagens com trechos e citações bíblicas;
Posts que defendem o direito de manifestaçã Críticas às práticas religiosas e ao ateísmo ; Correntes em busca de novos adeptos;
Reclamações sobre o conteúdo e o excesso de
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udes mais comuns no Facebook
ão da crença;
e postagens
REPRoDUÇÃo
Parece aquelas confusões típicas de mesas de bar no Rio de Janeiro, nos anos 1970: muitas farpas trocadas e nenhum resultado além do bate boca. Aqui, nesse caso, há, ainda, o agravante de não haver, nem mesmo, mesas viradas ou copos quebrados”, ironiza. Intolerância Ainda que de pouco efeito prático, as discussões sobre religião no Facebook são acaloradas, com agressões de ambas as partes. Os religiosos não aceitam mensagens que decretam a não-existência de Deus (ou a divindade de sua crença) e os ateus se incomodam pelo excesso de postagens propalando as mais diferentes crenças. O tiroteio verbal começa e não tem hora para terminar. “O excesso de mensagens enche o saco, mas o que realmente incomoda são as manifestações preconceituosas. Dizer que quem não acredita em Deus não é nada, ou que os ateus são degenerados, é uma ofensa muito grande”, afirma o estudante de Ciências Sociais e blogueiro Robson Fernando de Souza. “Não sou obrigado a ler pre-
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gação. Essas eu ignoro. Mas não aceito que metam o bedelho no direito dos outros por conta de religião”. Dono do blog Consciência (www. consciencia.blog.br), que existe desde 2010, Robson se dedica a denunciar postagens que agridam ateus e outras minorias nas redes sociais. “Muitos religiosos atacam homossexuais e mulheres em seus comentários. Isso é inaceitável”. Segundo ele, entretanto, a intolerância diminuiu nos últimos anos. “A sociedade tem ficado mais consciente. Com isso, o preconceito diminui. Muitos religiosos entram para condenar um post agressivo e se preocupam em transmitir uma mensagem mais positiva”. Criada em 2008, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) possui uma página no Facebook com mais de 200 mil curtidores. De acordo com seu estatuto, uma de suas missões é “combater o preconceito e a desinformação a respeito do ateísmo”. Para a entidade, o mero compartilhamento de mensagens de cunho religioso “é o menor dos males da religião”. O problema, novamente, diz respeito às atitudes agressivas. Quem pensa que a briga se dá apenas entre quem tem religião e quem não tem, todavia, se engana. São recorrentes as rixas entre crenças diferentes. Quando Ana Paula Wallerstein postou uma foto condenando a adoração de imagens em sua página Imagens Gospel e Amizade, o mundo quase caiu sobre sua cabeça. “Muitos católicos entraram na página para brigar comigo. Me atacaram, xingaram, ameaçaram denunciar a página. Tudo por algo que eu acredito, que minha fé acredita”, diz Ana Paula, que é evangélica. “Felizmente, são poucos os casos de intolerância, pelo menos comigo. As pessoas já se acostumaram a ver o Facebook como um lugar propício à evangelização”, afirma. Para Daniel Marques, editor da página Umbanda, Eu Curto, “não há motivos para desavenças. Somos todos filhos do Pai Criador. Sempre há um ou outro usuário que tenta denegrir nossas mensagens, mas nossa postura é a de não gerar polêmica. Em geral, apagamos o que é inoportuno e sem nexo. Quando os próprios usuários se exaltam, mediamos da mesma forma, retirando os comentários e indicando nossa política de atuação. Preconceito só gera mais preconceito”. Poeta, tradutor, linguista e professor da UnB, Marcos Bagno é mais incisivo em suas críticas. “Fico irritado quando vejo posts de cunho religioso em minha timeline. Sobretudo porque, hoje, no Brasil, com o declínio do catolicismo, vem surgindo uma militância evangélica extremamente conservadora, moralista, homofóbica, misógina e politicamente reacionária. Se fosse uma questão de crer ou não em deus(es), tudo bem, mas quando essa ideia vem misturada com uma ideologia retrógrada, não consigo ficar calado”, desabafa. Ateu, Bagno faz duras críticas aos religiosos que, para ele, usam o Facebook livremente para propagar sua fé, mas não convivem bem com pontos de vista contrários. “Quando eles topam com argumentos que apelam para a racionalidade e o bom senso,
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ficam irritados, pessoalmente ofendidos e partem para a agressão ou a comiseração. Uma pessoa já escreveu que tinha dó de mim por eu não acreditar em deus. Respondi que sou muito feliz, não preciso desse tipo de compaixão e que ela dedicasse sua penaaos perseguidos, torturados e queimados em fogueiras pelas instituições religiosas”. Quem está nas redes sociais, contudo, dispõe de meios para evitar que sua timeline fique repleta de mensagens que julgue desagradáveis. “Há os que seguem a máxima ‘o Facebook é meu e posto o que eu quiser’. Prefiro pensar em filtros que me permitam acessar conteúdos que eu realmente queira consumir. Não é essa parte da graça das mídias digitais?”, indaga Jorge Rocha. Bagno concorda. “No caso do Facebook, podemos simplesmente bloquear as mensagens de alguém que não nos interessa. Fica fácil controlar, ao menos na nossa página pessoal, aquilo que não nos agrada”. “Ide” virtual “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. A lição, apreendida do livro de Marcos (capítulo 16, versículo 15), é seguida à risca pelos cristãos mais entusiasmados. As redes sociais potencializaram as ações de evangelismo, já que é possível espalhar mensagens religiosas a um número muito mais expressivo de pessoas que por métodos convencionais. As próprias igrejas estimulam esse tipo de evangelização. Promovem cursos, palestras e debates sobre o assunto, além de publicarem guias e tutoriais em seus sites. O uso do Facebook ganhou contornos estratégicos, sempre no intuito de aumentar o número de postagens e compartilhamentos. E atrair novos fiéis, obviamente. Muitos cristãos, contudo, fazem esse trabalho de maneira independente e intuitiva, sem a ajuda ou o fomento de suas igrejas. Ana Paula Wallerstein, por exemplo, teve a ideia de criar uma página no Facebook tão logo conheceu a rede social. “Fiquei viciada no face. Quando descobri a possibilidade de construir algo nele, não pensei duas vezes”, conta. Dona de comunidades sobre religião no Orkut que nunca ultrapassaram cinco mil pessoas, ela se surpreendeu com a repercussão de sua fanpage: em pouco mais de um ano, a Imagens Gospel e Amizade já reúne mais de 400 mil curtidores. “Nunca podia imaginar. Mexo um pouco no Photoshop, então eu mesmo crio as artes com mensagens evangélicas que posto na página, mas nunca fiz um curso de redes sociais, é tudo intuitivo. Quando percebi, já estava com mais de cem mil curtidores. O crescimento é assustador”, conta Ana Paula, que é dona de casa em São Paulo e se dedica à página à tarde, após cuidar de seus afazeres domésticos. No Sul de Minas Gerais, o casal de namorados Marianne Carvalho e Caio César de Souza criou uma página no Facebook para aproximar os participantes da célula (grupo de jovens, de número reduzido, que se
Dossiê reúne para cultos e estudos bíblicos) de sua igreja. Se no começo o espaço ficou mesmo limitado aos membros, a páginaDNA de Deusganhou corpo e hoje já conta com mais de sete mil seguidores, amealhados em pouco mais de dois meses. “Com o crescimento da página,
nenhuma outra denominação. Não existe vínculo”, garante. Membro da Igreja Presbiteriana de Caieiras (cidade da Grande São Paulo), Ana Paula se emociona com algumas manifestações que vê em sua página. “Criei um álbum somente com orações. Só ali são milhares de
Umbanda, Eu curto e Atea: religião em debate no facebook
resolvemos apostar, de fato, no evangelismo pela internet. Mas não foi algo de caso pensado, pelo contrário, foi surpreendente. Numa só noite, tivemos mais de 300 novos curtidores”, conta Marianne, que mora em Cristina, cidade próxima a São Lourenço. “Ao todo, devo ficar umas seis horas online. O Caio posta mais pelo celular”, diz a jovem de 17 anos, que frequenta a Igreja Sara Nossa Terra. Mesmo com o aumento constante de fãs, Marianne tenta interagir com o maior número possível de internautas. “Procuro sempre conversar com as pessoas. Pergunto se elas estão na igreja, se gostaram das mensagens. O retorno é sempre muito bom”, revela. “Nossa igreja nos apoia, mas não divulgamos seu nome, nem o de
compartilhamentos, com as pessoas realmente fazendo suas preces”. O próximo passo, segundo ela, é gravar clipes cantando músicas gospel e postar no Facebook. “Já prego e canto na minha igreja. Quero levar isso para o mundo virtual”. A busca por novos fiéis no meio online não se restringe ao cristianismo. De acordo com o umbandista Daniel Marques, “é nas redes sociais que as pessoas passam boa parte do tempo quando navegam pela internet. A religião que não perceber isso sofrerá, no futuro, por não ocupar esse espaço virtual”, entende. “Vivemos um momento muito particular, em que as pessoas estão em busca de um maior sentido em suas vidas, em busca do resgate de uma espiritua-
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lidade que, no fundo, todos temos dentro de nós”. Assim como as páginas evangélicas, a Umbanda, eu curto não está vinculada a nenhum tipo de terreiro, tenda ou centro específico. De acordo com Daniel, um dos trabalhos mais fortes da fanpage é o de instruir quem conhece pouco sobre a religião. “Há muita dúvida sobre várias questões umbandistas. Rituais, velas, cores, Orixás. Nem sempre essas respostas são encontradas na internet. Por isso mantemos um canal aberto para sanar dúvidas, de forma irrestrita”. Alertas Ainda que os trabalhos realizados por Ana Paula, Marianne e Daniel sejam reconhecidamente bem sucedidos, alguns cuidados devem ser tomados por aqueles que desejam iniciar ações de evangelismo pelas redes sociais ou mesmo dar prosseguimento ao que já vem sendo feito. Jornalista com MBA em mídias digitais e evangélica, Elisandra Amâncio tem rodado o país dando aulas sobre como evangelizar nas redes para igrejas e cursos de pastores. Segundo ela, a principal dificuldade dos alunos é em entender como funciona a linguagem de cada página. “Muita gente confunde o twitter com o facebook, não sabe o que é curtir, compartilhar, retuitar. É preciso conhecer a dinâmica da rede e seu público-alvo. Além disso, mesmo no meio evangélico, há os que refutam o trabalho no meio virtual, consideram perda de tempo”. Elisandra frisa em suas palestras a importância do bom senso na hora de postar. “Oriento os alunos para não serem chatos, não encherem a timeline dos outros, não praticarem spam. Quem quer evangelizar nas redes sociais não pode ser inconveniente, mas usar o meio virtual para mudar a vida das pessoas, seja com uma palavra, uma música ou uma imagem. O problema não está no conteúdo, mas no excesso”. Uma das reclamações de quem vê sua timeline repleta de mensagens de cunho religioso é a da “orkutização” do Facebook. Popular no Brasil na década passada, o Orkut viu uma migração em massa para a nova rede nos últimos dois anos, o que a encharcou de imagens e fotos de gosto duvidoso, inclusive as relativas a crenças, o que motivou muitosusuários a procurar uma nova rede social. O professor Jorge Rocha, contudo, condena o termo. “Orkutização sempre soou mal para mim, ando cansado de ler que tal coisa “orkutizou”. Penso que há o fenômeno chamado ‘a rede social do momento’. Houve uma migração de concentração do twitter para o Facebook, por exemplo, o que não foi atribuídoà tal orkutização. Não acho que isso possa gerar uma evasão, até porque, não vejo, no momento, nenhuma rede social sendo construída ou reelaborada para fazer frente à criação do Zuckberg”. Possibilidade de negócios Se num primeiro momento a ideia de quem cria uma página no Facebook para evangelizar é apenas levar mensagens religiosas para o meio vir-
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reprodução
Amadorismo marca posts na maioria das páginas
tual, o crescimento volumoso no número de curtidores e fãs fez com que alguns encarassem a tarefa como pro-
fissão. E ganhando dinheiro com isso. A partir de um vídeo postado no Youtube, o escritor Raphael Montei-
ro conheceu a estudante Izabel Zatta pelo Facebook. Hoje eles mantêm diversas páginas nas redes sociais, uma delas a Orar, Refletir e Amar, de viés religioso, que já conta com mais de 250 mil curtidores. Além das mensagens tradicionais, contudo, as páginas dedicam posts periódicos para o site pessoal de Raphael, que anuncia seus livros e palestras. “Hoje o maior acesso do meu site vem por meio do Facebook, faz parte do processo”, assume Raphael. “Temos outras páginas que são monetizadas, onde, muitas vezes, fazemos promoções e sorteios de livros”, diz ele. O escritor garante, contudo, que essa não é sua principal motivação para manter as páginas no ar. “É uma maneira de me relacionar com as pessoas, de passar o que eu penso. Não estou preocupado em vender livros, há uma série de sites onde eles são disponibilizados de graça. Além disso, trata-se de um público muito específico, de vestibulandos, jovens entre 17 e 20 anos”. Ana Paula Wallerstein, por outro lado, não se incomoda em assumir que a Imagens Gospel e Amizade se tornou fonte de renda. “Encaro como trabalho. Foi uma decisão di-
fícil, tive medo de misturar religião com dinheiro. Mas nunca anunciei que vendia o espaço. As pessoas é que me procuraram”, diz a dona de casa, que recebe cerca de mil reais por mês com anúncios de uma loja de roupas do Paraná e de um cantor gospel. O caminho da publicidade nas fanpages, contudo, ainda é bastante incipiente. Os analistas ainda não encontraram uma fórmula que permita ganhos vultuosos dentro do Facebook. Para Elisandra, a explicação vem do próprio comportamento dos usuários. “As pessoas até aceitam as propagandas nas páginas, mas ignoram. Por conta disso, o retorno é muito pequeno”. Seja para evangelizar, ganhar dinheiro ou simplesmente deixar claro para amigos e conhecidos qual é sua fé. A verdade é que a religião, seja ela qual for, invadiu de vez as redes sociais. E assim como qualquer convívio social que se preze, é preciso equilíbrio na hora de agir. Como diz o velho ditado, “meu direito acaba quando começa o do outro”. Agindo assim, o usuário terá total liberdade de propagar suas crenças, sem incomodar ninguém.
Marcas e acontecimentos das principais religiões Budismo
Siddhartha Gautama, ou Buda, foi um príncipe asiático que viveu na região do atual Nepal, entre 563 a.C e 483 a.C. Ele se tornou um guia espiritual e seus ensinamentos deram origem ao Budismo. Entre os preceitos da religião, estão o carma, uma “lei” de causa e efeito.
Nascimento de Jesus Cristo
Não se sabe a data exata do nascimento de Jesus. Por convenção, adotou-se o dia 25 de dezembro. Junto dele nascem as religiões cristãs, que hoje correspondem a 33% da população mundial. O acontecimento também é usado universalmente como um marco cronológico, indicando o ano 1.
Islamismo
Moamé, ou Muhammad, morreu a 8 de junho de 632 e foi o quinto e último profeta mulçumano. Segundo a crença mulçumana, recebeu as últimas mensagens de Deus, que mais tarde foram compiladas no Alcorão. A ele também é atribuída a unificação da Arábia.
Espiritismo
Alan Kardec, pseudônimo do pedagogo francês Hippolyte Rivail, é considerado o maior estudioso do espiritismo. Entre 1857 e 1868, escreveu a bibliografia básica da Doutrina Espirita, que consiste em cinco livros: O livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.
Judaísmo
Durante a II Guerra Mundial, mais de 6 milhões de judeus foram assassinados pela Alemanha Nazista, no que ficou conhecido como Holocausto. Os motivos da perseguição foram variados, desde a busca por uma “raça” ariana até ambição pelas riquezas que esse grupo possuía.
Umbanda
Criada, oficialmente, pelo Médium Zélio de Moraes, a Umbanda é a única religião brasileira. Por ter origens africanas, seus seguidores sempre foram vítimas de preconceito. A prática umbandista foi legalizada em 1945 – só então os praticantes puderam expor, publicamente, sua postura religiosa.
FOTOS: REPRODUÇÃO
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Jornal Daqui
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A voz das comunidades Bairros de Belo Horizonte apostam nos jornais hiperlocais para melhorar a comunicação entre os moradores e o relacionamento com a prefeitura Arthur Möller Maria Beatriz de Castro 2° PERÍODO
Edição: João Luis Chagas O jornalismo hiperlocal é um instrumento de comunicação entre os moradores e as associações de bairro. Neste cenário, as comunidades dão preferênca aos jornais impressos, por questões financeiras e práticas. Essas publicações cumprem um importante papel de interlocução, dando voz à população. Na região Noroeste, vários jornais impressos circulam há bastante tempo. A maioria das publicações divulga as realizações das associações de moradores e reivindicam os direitos da população. O Jornal da Floresta, fundado em novembro de 2008, é um porta-voz da comunidade. As pautas são sempre voltadas às sugestões e denúncias dos moradores por e-mail e telefone. Mateus Rabelo, diretor responsável, conta que, por meio do jornal, já foram realizadas muitas mudanças no bairro Floresta. “Já conseguimos instalações de semáforos, mudanças de circulação de vias, recapeamento de ruas e remanejamento de árvores, além do Projeto Olho Vivo, que será instalado após uma grande mobilização”, garante. A interação com a comunidade e suas reivindicações também é o principal obje-
FOTOS: Arthur Möller
tivo do jornal Nosso Grito. “A comunidade participa e dá ideias. As pautas são sempre os trabalhos realizados pela associação em prol dos moradores”, conta Jairo Nascimento, presidente da Associação de Moradores do bairro Santo André, existente há 32 anos. O Nosso Grito, há 15 anos em circulação, surgiu para suprir a necessidade de informar a população. O jornal, que não tem periodicidade determinada, divulga a ação comunitária e denuncia irregularidades, além de estabelecer grande diálogo entre a comunidade do bairro Santo André e a associação de moradores. Dentre as conquistas da associação estão obras de asfaltamento e programas habitacionais. Também existem projetos a médio e longo prazo como a implementação do sistema de transporte alternativo para o bairro. “Estamos perto do centro, de dois cemitérios, dois shoppings e centros de saúde, e não temos acesso ao transporte público. A função do transporte suplementar é beneficiar os bairros Santo André, São Cristóvão, Bonfim entre outros”, esclarece. O Jornal da Floresta, mensal e distribuído gratuitamente, também conquistou mais visibilidade para a Associação de Moradores. “O lema da associação é ‘mobilização, participação e conquista’.
Com o jornal, conseguimos credibilidade para buscar melhorias”, afirma Matheus, que viu no jornal uma oportunidade de ter a própria empresa e de seguir na carreira jornalística. “Eu já tinha o exemplo de um amigo que tem um jornal no bairro Buritis. Ele me prestou consultoria”, conta. Já a Gazeta da Lagoinha foi fundada por um técnico em publicidade. Creso Campos já tinha experiência na área de comunicação e jornal impresso quando fundou, no início dos anos 2000, a Gazeta da Lagoinha. O publicitário já havia trabalhado em outros veículos de comunicação antes do jornal. “Trabalhei em agências locais e emissoras de rádio. Também já atuei na área comercial vendendo anúncios publicitários de porta em porta”, conta. O jornal, gratuito e mensal, conta com a coluna de Tostão, ex-morador do Conjunto Habitacional IAPI. Além disso, divulga e reivindica ações para os moradores do bairro Lagoinha. Creso já montou sua própria agência de publicidade e foi diretor de mídias da filial mineira da agência multinacional Standard Oghit Mattee, entre 1975 e 1980. Com tanta experiência na área de comunicação, o publicitário aponta as dificuldades de se manter um jornal hiperlocal: “Se for por idealismo, você
Creso Campos enfreta dificuldades para manter o Diário da Lagoinha.
Jairo, do Nosso Grito, exalta as conquistas para a comunidade
tem que prover recursos. Dependemos de anúncios do comércio local, falta patrocínio. Muitas vezes tenho que bancar com meu próprio dinheiro”, afirma. A pequena equipe do Jornal da Floresta também enfrenta dificuldades para pagar as contas. “A maior dificuldade é a questão financeira, dependemos dos comerciantes do bairro”, explica Matheus. Segundo o jornalista, que também faz a captação de novos anunciantes, somente a criação das artes dos anúncios, a impressão e a distribuição são terceirizadas. Apesar do impresso obter êxito no âmbito da interação com a comunidade, existem outras mídias que podem ser exploradas para os mesmos fins. Mateus Rabelo conta que o Jornal da Floresta pretende se expandir para uma página da web, mas ainda é
apenas um projeto de criação, por depender de disponibilidade para manutenção e atualização. Jairo Nascimento, do Nosso Grito, afirma que o veículo de comunicação do bairro Santo André continuará sendo o impresso. Para ele, rádios comunitárias não tem mais espaço em Minas Gerais. “Na Noroeste, criei a Rádio Progressiva, no Bairro Aparecida, a Ativa, e no Santo André, a Integração FM, mas todas foram fechadas. Rádio comunitária é muito perseguida, é envolvida por toda uma burocracia”. O jornal impresso ainda é a melhor opção quando se trata de jornalismo hiperlocal, pois é uma forma prática e direta de informar a comunidade sobre seus direitos enquanto incentiva a noção de coletividade.
Eu estava lá
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“Cervejão com estuprão, não!” Comercial de cerveja provoca discussão nas redes sociais e protestos nas ruas de cidades brasileiras. Em BH, mais de 100 pessoas aderiram Jéssica Amaral 4° PERÍODO
Edição: João Luis Chagas Em meio a diversos acontecimentos cotidianos que pipocam com as horas em um sábado quase pacato nas ruas e avenidas de belo horizonte, algumas mulheres escolheram fazer parte de um deles. Em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Porto alegre, Florianópolis e Recife, mais mulheres se reuniam no mesmo dia com um mesmo propósito: participar da primeira Marcha Nacional Contra a Mídia Machista. Eu fui uma delas. O motivo da marcha? Um comercial de cerveja. Nele homens imagina-
vam o que fariam se fossem invisíveis. As imagens os mostravam apalpando as mulheres, sem que elas vissem. Além disso, os rapazes invadiam o banheiro feminino para arrancar a roupa das garotas que lá estavam. Achei bem estranho uma propaganda com essas cenas ir ao ar. Era inevitável não me incomodar com o teor daquelas imagens. Mas o que eu faria quanto aquilo? Não sabia como e o que exatamente. Cruzei os dedos e permaneci na espera que ele saísse do ar. Dias depois, recebi um convite no Facebook. Uma colega da faculdade criou uma página que discutia a representação da mulher na mídia,
incentivada pelo mesmo comercial. Pessoas de várias cidades do Brasil foram convidadas a discutir o conteúdo da publicidade. Havia surgido a oportunidade de fazer algo, e melhor ainda, coletivamente. No dia antes de chegar a Praça da Estação, onde nos encontraríamos, escrevi minhas frases em cartazes, que eram a minha voz. Imaginei cada mulher que estava a caminho da marcha com suas idéias como eu. Peguei o ônibus e me encontrei com as pessoas que participariam da marcha. Fizemos mais cartazes e trocamos mais idéias. Saímos de lá marchando e gritando, subimos até a Rua da Bahia, onde a Alem (Associação Lésbica de Minas)
se juntou a nós Éramos mais de 100 pessoas, homens e mulheres. As pessoas que estavam às ruas naquele sábado pacato se depararam com vozes, quebrando o silêncio habitual do fim de semana belo-horizontino. Todos os olhos que passaram por nós, ainda que estranhados ou desacreditados, levaram a marca das ideias que passearam por ali. Continuamos a caminhada, naquela tarde de sol forte, ainda que cansadas, até a Praça da Liberdade. As outras mulheres do Brasil também somaram seus passos aos nossos adiante no feminismo, deixando em mim, naquele dia, a vontade de andar sem fim por essa causa. Reprodução: dudu macedo
Após a Marcha das Vadias, ruas de BH recebem outra manifestação bem humorada
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Tramas contemporâneas
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A jornada do voto Seu voto pode eleger o candidato que você não escolheu. Entenda como funciona o processo eleitoral no Brasil FOTOS: DIVULGAÇÃO
Quociente eleitoral beneficia minorias; sistema, contudo, gera polêmica
Jonathan Maxuell 6° PERÍODO Edição: Dany Starling É mais ou menos assim: você vota no candidato A, defensor de bandeiras como a maior intervenção do Estado na economia, mas quem se elege é o candidato B, que defende exatamente o contrário. E com o seu voto. Desde a Grécia Antiga, onde nasceu a democracia, eleição é um sistema de escolha em que se elegem os candidatos que mais tiverem votos. Pura lógica. Mas não é bem assim que acontece no Brasil. A Constituição Federal e o Código Eleitoral definem e detalham o uso de dois sistemas eleitorais: o majoritário e o proporcional. No primeiro, são eleitos os prefeitos, os governadores, os senadores e o presidente da República. Nesse caso, a lógica é válida. Ganha quem tem mais votos, podendo as eleições ter dois turnos nas cidades com mais de 200 mil eleitores. A situação muda mesmo é no
proporcional. “No sistema proporcional, há mais respeito às minorias, pois se busca maior representatividade ideológica nas casas legislativas”. É dessa forma que o advogado eleitoral Wederson Advincula expõe a principal particularidade do sistema que elege vereadores e deputados estaduais, distritais e federais. Esse “respeito às minorias” se dá por meio de um complexo cálculo dos chamados quocientes eleitoral e partidário. “Neste sistema, nem sempre são eleitos os mais votados, pois os votos vão para o partido e não para os candidatos, que preenchem as vagas conforme o número de cadeiras obtidas”, destaca Advincula, que também é membro da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG) e coordenador de Direito Eleitoral da Escola Superior de Advocacia (ESA/MG). Para ficar mais claro,
vamos pensar nas últimas eleições para a Câmara dos Deputados, em 2010. O candidato Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, recebeu 1,35 milhão de votos dos paulistas. Foi o mais votado do país, com a segunda maior votação da história das eleições brasileiras para deputado. Tirica só fica atrás de Enéas Carneiro, morto em 2007, que recebeu 1.573.112 votos no pleito de
Votação expressiva não é sinônimo de vitória. Quociente eleitoral é fundamental para a escolha dos cargos no Legislativo.
2002. A legenda de Tiririca, o Partido da República (PR), estava coligada com o PT, o PCdoB, o PRB e o PTdoB. Isso quer dizer que qualquer uma dessas siglas poderia ser beneficiada pelos votos dados no palhaço. E foram. Por causa da expressiva votação em Tiririca, que ultrapassou o quociente eleitoral, ou seja, a quantidade de votos que precisava para se eleger, outros três candidatos da coligação conquistaram cadeira na Câmara: Otoniel Lima, do PRB (95.971 votos), Delegado Protógenes, do PCdoB (94.906 votos), e Vanderlei Siraque, do PT (93.314 votos). Nenhum deles havia atingido o quociente eleitoral. E o caso Tiririca não é isolado. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), dos 513 deputados federais, apenas 35 se elegeram por conta própria. O advogado eleitoral Flávio Britto explica que, no sistema proporcional ado-
tado pelo Brasil, “ao atingir determinada votação – o quociente –, aqueles votos excedentes começam a ir para os outros candidatos do partido ou da coligação, que serão beneficiados”. Toda essa complexidade deixa os eleitores desestimulados. “É muito confuso, não entendo nada”, protesta a nutricionista Fernanda Moraes. Seu irmão, o administrador Daniel Moraes, faz coro: “Não há dúvidas de que votar é muito importante, mas não saber o que vai acontecer com esse voto é desanimador”. Apesar das críticas, o especialista Wederson Advincula observa que, apesar de o modelo “aparentar ser uma aberração, decorre de uma evolução eleitoral, sendo que quase a totalidade dos países democráticos adota alguma configuração do sistema proporcional”. O tal quociente Para que os votos nas eleições proporcionais sejam devidamente distribuídos,
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levando em consideração os princípios democráticos do respeito à vontade da maioria e da consagração da representação das minorias, calculam-se os quocientes eleitoral e partidário. Advincula explica que “as vagas de deputados e vereadores são distribuídas de acordo com os votos obtidos pela legenda ou coligação e somados aos votos recebidos nominalmente pelos candidatos daquele partido ou coligação”. Desse modo, para um candidato a deputado ser eleito, ele não depende apenas de um grande número de votos. Considera-se também a votação que o partido ou a coligação obtiveram. Aqui, entra em cena o quociente eleitoral, definido como o total de votos válidos dividido pelo número de vagas existentes. Esse quociente delimita o número mínimo de votos que um partido ou coligação deve alcançar para eleger um candidato. “É importante destacar que só entram nesse cálculo os válidos. Ou seja, não são computados os brancos e nulos”, afirma Flávio Britto. Analista judiciário e professor da Universidade Católica do Salvador, Jaime Barreiros usa um exemplo didático para explicar como é realizado o cálculo do quo-
Tramas contemporâneas ciente eleitoral. “Imagine que em um município haja 1,2 milhão de eleitores, e que um milhão compareça às urnas no dia da eleição. Desses, 200 mil votam em branco ou nulo. Restam 800 mil votos, que são os válidos. Imagine, ainda, que estejam em disputa 40 vagas. O quociente eleitoral será descoberto a partir da divisão do número de votos válidos (800 mil) pelo número de cadeiras (40). Serão necessários, portanto, pelo menos 20 mil votos para um candidato ser eleito”. Descoberto esse número, a saga continua. Mas agora o protagonista é o quociente partidário, que indica o número de candidatos que cada legenda elegerá caso alcance o quociente eleitoral. O cálculo é simples: cada agremiação tem seus votos divididos pelo quociente eleitoral. Obtém-se, assim, o quociente partidário. “No caso do exemplo citado, um partido ou coligação que recebesse cem mil votos teria garantido o direito a cinco das vagas em disputa”, encerra o professor Barreiros. O problema é que quase nunca essas divisões resultam em um número inteiro. Então, nem todas as vagas em disputa são preenchidas a partir dos cálculos dos quocientes eleitoral e partidário.
As vagas restantes são divididas usando-se o método de distribuição das sobras entre os partidos que atingiram o quociente eleitoral. Esse processo é repetido quantas vezes forem necessárias, até que não haja mais vacância. Reforma eleitoral O Código Eleitoral brasileiro é de 1965, o único ainda não revisto após a promulgação da Constituição de 1988. Wederson Advincula acredita que “há grande desatualização, pois [o código] não acompanhou a evolução dos mecanismos e instrumentos democráticos.” Como estudioso de sistemas eleitorais de diversos países, o especialista entende que, apesar dessa desatualização, não existe a necessidade de ampla reforma no sistema brasileiro. Até porque não vislumbra “grandes mudanças na legislação eleitoral em curto prazo”. As soluções para possíveis equívocos podem ser aplicadas de forma gradativa e contínua. “Apresentamos hoje um evoluído estágio democrático. As distorções, portanto, são pontuais e podem ser corrigidas sem maiores traumas”, conclui o advogado. Informatização Nem só de complicações
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vive nosso sistema eleitoral. Apesar de todas as peculiaridades que dificultam o entendimento da maioria da população sobre sua lógica de funcionamento, o sistema brasileiro se destaca no mundo como um dos mais modernos. O principal motivo é o pioneirismo no uso da urna eletrônica, criada e implementada no Brasil no ano de 1996. As máquinas trazem mais agilidade e segurança ao processo eleitoral. A informatização das eleições é uma característica que posiciona o Brasil na vanguarda mundial. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a eleição de 2010 foi a mais informatizada já realizada no mundo. Foram 135 milhões de eleitores, mais de dois milhões de mesários, 456 mil urnas eletrônicas, 420 mil seções eleitorais, 22 mil candidatos, 3.027 zonas eleitorais e 27 partidos políticos. Organizadas pelo TSE, em âmbito nacional, e pelos tribunais regionais eleitorais (TREs), em âmbito estadual, os pleitos brasileiros chamam a atenção de autoridades estrangeiras, que buscam compreender como é possível realizar eleições com o nível de segurança, celeridade e transparência que o Brasil atingiu.
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Ensaio
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Pano pra manga? Não, mangas para árvores! Fotos: Jéssica Amaral 4° PERÍODO
Inspirados por participar da Bienal Brasileira de Design de 2012, os alunos do curso de Design de Moda do UniBH deram asas à imaginação na hora de produzir. Mangas artesanais foram confeccionadas pelos estudantes e enfeitam as árvores do campus Antônio Carlos, na Lagoinha.