Edição 191 - Caderno 2

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DO!S

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBH Ano 30 • número 191 • Abril de 2013 • Belo Horizonte/MG

Muito barulho por tudo Cena teatral de BH abriga diversas vertentes e polêmicas. Dossiê nas páginas 4 a 6.


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Cinema

Belo Horizonte, abril de 2013

Impressão

Independência fotos: jéssica amaral

Quantidade x Qualidade

Cine Brasil poderá exibir filmes independentes em BH

Barbara Goulart Cotrim 6º Período

Laura Rezende 7º Período

Edição: André Zuliani

Filmes autorais, experimentais, artísticos, produzidos de forma independente, com pouco ou nenhum patrocínio, em curta, média ou longa metragem, são contemplados todo ano na Mostra CineBH. A última edição contou com exibições em locais como Circuito Cultural Praça da Liberdade, Sesc Palladium, Usiminas Belas Artes, Cine Humberto Mauro e Inhotim, reuniram 126 filmes dos quais 78 curtas-metragens, produzidos em todo o mundo. A coordenadora da Mostra, Raquel Hallak, informou que a edição “consolidou o propósito do evento de colocar em evidência a produção brasileira em diálogo com o mundo”. Nos seis dias de programação gratuita, estima-se que mais de quatro mil pessoas puderam interagir com a sétima arte, sem que, para tanto, tivessem que desembolsar quantias consideráveis, como as cobradas no grande circuito comercial. O número de participantes deste evento, e de outros que promovem a difusão do cinema autoral na cidade, não consegue ser contabili-

zado com precisão. As estimativas fazem parte dos festivais realizados todos os anos, devido à passagem relâmpago de curiosos e à isenção de bilheteria para registro. “Há filmes que ganham prêmios em festivais mundo afora, mas que não conseguimos aferir por quantas pessoas foram vistos no Brasil”, ressalta o jornalista e crítico de cinema, Marcelo Miranda. As produções que nascem das mentes inquietas e longe das chancelas de grandes distribuições acabam à margem da sociedade, que se habituou a assistir lançamentos hollywoodianos – ou filmes de caráter mais popular feitos em outros países, inclusive no Brasil – exibidos, em sua maioria, nos cinemas de shoppings centers. As produções autorais ainda são território desconhecido por muitos brasileiros. Pouco se sabe sobre os bastidores e as produções que correm por fora do circuito comercial, os conhecidos outsiders, à margem dos mainstream. Mas o que torna um filme, de fato, independente? Daniel Queiroz, especialista no assunto e produtor cultural, tenta definir o movimento. “O cinema independente é aquele feito sem o apoio da indústria, de um estúdio ou grupo investidor, por produtores (ou pelo próprio diretor encabeçando

também a produção) que correm atrás dos recursos para viabilizar a realização”. Marcelo Miranda, que também atuou como curador de festivais, enfatiza a dificuldade de se rotular a produção cinematográfica autoral nos dias de hoje, devido às diferentes nuances que ela pode ter. “Desvinculados de grandes corporações e feito na raça, os filmes são realizados por criadores que estão mais preocupados com a criação e a autonomia do projeto”, explica. “Já o sistema comercial tem uma pegada pasteurizada, que adequa o filme ao gosto do público maior. A independência dos projetos de cinema autoral permeia este universo paralelo, com o intuito de discutir assuntos que o comercial não possibilita, dentro de sua grade de preferência”, conclui.

Em Belo Horizonte, o número de mostras, festivais e o aumento, ainda pouco significativo, das salas de cinemas independentes, pode transmitir a impressão de que esse movimento cresce de forma expressiva. No entanto, Daniel endossa que as dificuldades são enormes. “No que se refere à exibição, o cinema independente não costuma encontrar muitos espaços. A maioria dos cinemas de shopping restringe sua programação a filmes de grandes estúdios, em especial hollywoodianos. Ocasionalmente, estas salas exibem filmes ‘menores’, mas que tiveram algum grupo maior por trás da distribuição internacional, que compraram os direitos de lançar o filme em cinema (e também em dvd e venda para tv), depois de ter se destacado no circuito de festivais”, explica. Fica claro que existe espaço para obras independentes. No entanto, apesar de tais obras, bem como o circuito, não se pautarem por questões financeiras, os filmes estão inseridos no mercado. Atualmente, milhares de produções audiovisuais são lançadas todos os anos. Muitas delas premiadas nacional e internacionalmente. A pergunta que paira é se a capital mineira tem estrutura para receber e, assim, difundir a altura esse tipo de cinema. “Vivemos uma crise no cenário atual. O encerramento das atividades da Usina Unibanco de Cinema reforçou bastante esse processo. Afinal, a demanda é difusa e extensa. Com sorte, podemos contar com pequenos oásis que tentam impedir a homogenia dos filmes fortemente patrocinados, promovendo a pluralidade da cinematografia e atraindo um público carente de refletir sobre outros assuntos”, acentua Marcelo, que também foi o responsável pela curadoria do Festival Internacional de Curtas em BH, entre 2007 e 2011. A maior visibilidade do cinema independente passa por lugares como Cine Humberto Mauro, no complexo do Palácio das Artes, o Usiminas Belas Artes, novamente sob direção de Pedro Olivoto, o Teatro Oi Futuro Klauss Vianna e o Cine 104, recém inaugurado com

Onde assistir filmes independentes Cinema

Abertura

Número de Lugares

Belas Artes

1992

Sala 1 – 138 Sala 2 – 123 Sala 3 – 76

104

2012

80

Humberto Mauro

1978

158


Cinema

Impressão

ou morte Cines fechados em Belo Horizonte Cinemas

Fechamento

Lugares

O que é hoje

Acaiaca

Déc. 1990

818

Igreja Evangélica

Alvorada

1983

1.650

Casa de shows

Amazonas

1983

1.200

Igreja Batista

Art-Palácio

1992

1.200

Ponto Frio

Brasil

1999

2.500

Em reforma

Candelária

2000

2.000

Estacionamento interditado

Eldorado

1980

828

Oficina mecânica

Floresta

1980

1.450

Loja e Igreja

Guarani

1980

1.189

Museu Inimá de Paula

Horto

1970

1.100

Sede Grupo Galpão

Independência

1983

1.350

Demolido

Jacques

1990

1.800

Demolido. Local do Shopping Cidade

Metrópole

1983

1.300

Demolido. Local Banco do Bradesco

México

Déc. 1990

1.130

Estacionamento

Nazaré

1994

846

Supermercado Carrefour

Odeon

1995

1.200

Sauna masculina

Palladium

1999

1.300

Espaço multiuso Sesc Palladium

Pathé

1999

750

Em reforma

Progresso

1980

1.400

Casa noturna Phoenix

Roxy

1995

700

Galeria Feirashop

Royal

1995

1.200

Igreja Universal

Santa Efigênia

1981

980

Antigo Lapa Multi Show.

Santa Tereza

1980

1.150

Utilizado para eventos culturais

São Carlos

1980

780

Gráfica

São José

1980

780

Teatro

Tamoio

1990

710

Loja de roupas Monax

uma proposta bastante popular. Esses espaços pulverizam as produções autorais e até caseiras em Belo Horizonte. Mas, a capital mineira, que abrigou mais de 50 cinemas na década de 1970, pode voltar a ser palco de grandes produções, no intuito de ocupar essa carência física. Notícias que coroa este universo são as possíveis reaberturas do Cine Brasil, na região central da capital, e também do famoso Cine Pathé, na Savassi, ambas previstas para este ano. Imaginário coletivo

Muitos festivais abrem a porta para que a sétima arte permaneça em constante diálogo com os apreciadores. Eles são pontes, na medida em que possibilitam às pessoas fruir a arte por meio da indagação. Desse modo, há, atualmente, um público bastante plural, já formado para estes festivais e que sempre participa. Trata-se, em grande parte, de cineastas, estudantes, críticos, cinéfilos e curiosos do cinema. Marlon Penido, assistente de produção audiovisual há cinco

anos, conta que se apaixonou pelas produções independentes ao conhecê-las mais a fundo em um festival de cinema promovido em sua cidade natal, o Rio de Janeiro. Desde então, afirma que, além de começar a aprender o ofício de produzir filmes de própria autoria, passou a compreender melhor este mercado. “Assuntos variados me encantam. Há muito tema transgressor, outros melancólicos, alguns eufóricos e até retóricos, assim como a nuance de todo ser humano. Isso me fez enxergar uma profissão, mas, antes de tudo, tornou-se um grande hobby”, confessa Marlon, que, hoje trabalha na área em Belo Horizonte e também participa dos movimentos populares dos festivais. Só em 2012, além da Mostra CineBH, a cidade recebeu o Festival Indie, o Festival Internacional de Curtas, Festival Varilux de Cinema Francês. Tais ações cumprem sua vocação de gerar a reflexão sobre o audiovisual e valorizar o acesso do público a uma programação mais extensa de

Belo Horizonte, abril de 2013

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Com poucas salas para exibição do cinema independente, BH investe em festivais para conquistar o público

exibições. Lilian Lana, assistente comercial, diz que não consegue mais restringir seu interesse aos filmes convencionais, que entram em cartaz e possuem extensas filas e altos preços. “Os filmes cujo os autores têm total autonomia naquilo que produzem são mais verdadeiros”, avalia Lilian. Como se as produções autorais levassem mais em conta as carências humanas de conhecimento, carência esta que o grande circuito não supre por querer atender à maioria, a percepção geral, de modo a, assim, engessar o resultado dos filmes em exibição dos circuitos. Leis de Incentivo

Há hoje, no Brasil, diversos mecanismos para financiar uma produção independente (leis de incentivo, editais, além de incipiente mercado de co-produção internacional) e sua circulação (salas, mostras e festivais que também contam com leis de incentivo e editais). Daniel Queiroz, atual curador do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte com experiência como exibidor e programador do Cine Humberto Mauro e do recém-chegado cinema popular do hipercentro, o Cine104, diz que a maior dificuldade do cinema independente é angariar um público

fiel. “O desafio maior é a formação de público, de modo a ampliar o número de pessoas interessadas em acompanhar as produções que fogem dos padrões dos filmes usualmente exibidos nos grandes circuitos e nos canais de TV aberta”. Daniel afirma ainda que as produções longe dos padrões hollywoodianos são, sem dúvida, as melhores. “Acredito que grande parte dos melhores filmes produzidos no mundo, atualmente, são aqueles feitos à margem da indústria. Muita gente pode ampliar seu interesse por estas produções, sendo o trabalho do programador importante no sentido de promover a ponte entre os filmes e o público”. Mas o trabalho é árduo, explica Daniel: “Não podemos nos pautar pelos números de bilheteria dos blockbusters. Falamos de outra realidade, na qual os números não são o principal. Um prazer imenso é proporcionar que alguém entre em contato com um filme que dificilmente assistiria em outra situação, e saia tocado, transformado, interessado em conhecer novas cinematografias e buscar outros filmes que fujam à mesmice e aos padrões daquele cinema que se faz movido mais pelo comércio do que pelo efetivo desejo de criação artística”.

Cine 104 é a nova opção no hipercentro da capital


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Belo Horizonte, abril de 2013

Dossiê Teatro

Impressão

Debate que rompe Teatro de Experimentação x Teatro tradicional. Existe espaço para os dois? Um existe REPRODUÇÃO

Camila Freitas 3º Período

Guilherme Pacelli 4º Período

Hiago Soares 4º Período

Edição: Dany Starling Primeiro Ato

30 de Março. Era uma tarde fria de sábado quando os integrantes da Companhia Teatro Adulto desembarcaram na cidade de Curitiba. No dia seguinte, às 14h, as portas do casarão do Teatro Novelas Curitibanas se abriram para a primeira sessão do espetáculo Entre Nebulosas e Girassóis – texto inédito do jovem Rafael Neumayr, que também atua ao lado de Luiz Arthur e Julia Marques, uma estreante nos palcos profissionais, sob a direção de Cyntia Paulino. Juntamente a outros seis coletivos teatrais de Belo Horizonte, eles participaram da 3ª Mostra Grupos de BH–Teatro Para Ver de Perto, que integra a programação do Fringe, evento paralelo à 22ª edição do Festival Internacional de Teatro de Curitiba. A curadoria da Mostra Mineira esteve nas mãos do Galpão Cine Horto (centro cultural do grupo Galpão), que levou para o público do sul sete espetáculos reunidos em estéticas e linguagens das mais diversas, em montagens que se comunicavam com a dança, a música, o cinema e a literatura. Os grupos participantes formam um pequeno recorte da variada safra de companhias teatrais que já marcaram território em terras mineiras. A mostra em Curitiba, por exemplo, é obra da forte tradição de teatros de grupo que existe em Belo Horizonte – e que o Festival foi capaz de enxergar e valorizar. São grupos que, em sua maioria, instalaram-se em galpões (alguns alugados e divididos em parceria com outras companhias) e que se comprometem em pesquisar o teatro e desenvolver propostas experimentais: restrição de espaço da cena, linguagem multimeios, criação coletiva, textos inéditos, em

Um Molière Imaginário: peça do grupo Galpão coloca em perspectiva o teatro de pesquisa

parceria com dramaturgos ou de forma independente, dentre outras. O teatro experimental “fala” diretamente com a estranheza. Contamina-se com o risco e idolatra a dúvida. Neste “universo”, “caminhar” é

na e legítima de sobreviver no mercado cultural”, afirma o ator Marcos Colleta, do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum, em entrevista para o blog “Satisfeita, Yolanda?”. O ator explica que “em BH

“O teatro de grupo é uma alternativa digna e legítima de sobreviver no mercado cultural. Em BH, os grupos são sólidos, com pesquisas relevantes” Marcos Colleta

verbo que se faz com passos curtos, ou longos, mas sempre tortos, tateando o certo. É quando as perguntas se sobrepõem às respostas e a arte é vista como um transbordar de possibilidades. Segundo Ato

“Encaramos o teatro de grupo como alternativa dig-

não é possível falar de teatro sem falar de teatro de grupo; são muitos grupos sólidos, com pesquisas relevantes, com sedes que se transformaram em centros culturais”. Uma alternativa às montagens produzidas com elencos não-fixos e temporadas programadas, como majoritariamente acontece na Campanha de

Popularização do Teatro e da Dança – que ganhou status de maior projeto de artes cênicas do país e levou neste ano 395.544 pessoas aos teatros da capital, segundo o Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Simparc), no período de janeiro a março, quando se realiza o evento. A edição deste ano superou a do ano passado, que chegou à marca de 349.624 mil espectadores. A comédia “Um espírito baixou em mim”, dos atores Ilvio Amaral e Maurício Canguçu, mais uma vez foi recorde de público. A dupla mineira é honrada, desde 1998, com a “casa cheia”. Na temporada 2013, a Campanha, como é popularmente conhecida, abrigou 154 espetáculos (com predomínio das comédias), em 48 espaços da cidade. Para o dramaturgo e jornalista José Carlos Aragão, 56, autor da peça Aqui se faz, aqui se casa, “a Campanha de Popularização tem prós e contras”. E explicou, enquanto a cadela Diadorim, um poodle inquieto, roçava em suas pernas:

“No sentido de popularizar é bom, mas ela cria um paradoxo, porque, no restante do ano, ninguém vai ao teatro”. Presidente do Simparc, Rômulo Duque, 57, discorda de Aragão: “Há público fora da Campanha, mas é necessário que o produtor tenha competência para levar o público à peça dele”. Para Duque, o tal “buraco”, que vai de março a dezembro, “está condicionado a outros fatores”. Pedro Paulo Cava, diretor e criador do Teatro da Cidade, exemplifica: “Hoje, existem muitos apelos além do teatro, como a TV a cabo, a internet, as mídias sociais e os cinemas de shopping”, lamenta, ao lembrar que, “antigamente, em Belo Horizonte, as pessoas saíam do trabalho às 18h, chegavam em casa e iam tomar um banho [para ir ao teatro] às 21h”. Hoje, as coisas estão diferentes: “Se você for para casa, jamais voltará”, sentencia. Terceiro Ato

No dia seguinte a uma apresentação no Memorial Minas Vale do premiado


Dossiê Teatro

Impressão

Belo Horizonte, abril de 2013

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as divisas do palco sem o outro? Discussão divide atores, críticos e dramaturgos de Belo Horizonte REPRODUÇÃO / guto muniz

Meu Tio é Tia, de Marco Amaral, já foi vista por mais de 300 mil pessoas

monólogo A Morte de DJ em Paris, adaptação do conto homônimo do mineiro Roberto Drummond, dirigido por Walmir José, Luiz Arthur comentou o levantamento feito pelo Ibope Media, segundo o qual o público de Belo Horizonte é considerado o mais frequente em teatros/óperas, se comparado ao de outras capitais (15% contra 11% da média nacional). O ator, de 44 anos, diz ter ficado surpreso com a pesquisa: “Está difícil levar público ao teatro, mas temos que ser criativos e prender esforços, trabalhar no sentido de aguçar o olhar do espectador para algo que ele não vai achar na televisão, nem no cinema”. A surpresa de Luiz Arthur também pode ser explicada por aquilo que vem sendo criticado por outros profissionais da área: a concentração de grande divulgação em épocas e peças específicas. “Não acho que o que atrai o público para o teatro sejam ingressos baratos. Acredito, na verdade, na mídia da Campanha de Popularização”, analisa Arthur

“O público belo-horizontino tende a gostar de eventos porque, diferentemente do paulistano, que está acostumado a fazer tudo sozinho, ele gosta de andar em bando”, comenta Juarez Guimarães Dias, professor do UniBH, doutor em Artes Cênicas pela Unirio e diretor-pesquisador junto à Cia. Pierrot Lunar, também contrário à divisão entre os artistas da cidade. “Quando os mais intelectualizados se referem ao teatro comercial como lixo, ou como coisa desnecessária, colocam o público que frequenta esses espetáculos no mesmo bojo”, critica, ao especificar seu ponto de vista: “Quando pensamos no que há de vanguarda no teatro brasileiro contemporâneo, tudo passa, em primeiro lugar, por Belo Horizonte”. Ao lado da Campanha, outro evento que se destaca – tanto em notoriedade quanto em participação – é o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua (FIT), realizado, bienalmente, via parceria entre setor privado e captação de recursos pelas leis de incentivo à

cultura. O evento espalha, entre as nove regiões da capital - e também em cidades da região metropolitana - diversas produções e ações paralelas, como oficinas e debates, além de mobilizar artistas e produtores de vários estados, com par-

o FIT uniu, de acordo com o portal da Fundação Municipal de Cultura, “duas propostas de festivais internacionais: uma de palco, fundada pela direção do Teatro Francisco Nunes, e outra de rua, idealizada pelo Grupo Galpão”,

“Quando as pessoas mais intelectualizadas se referem ao teatro comercial como lixo, ou coisa desnecessária, colocam o público que frequenta esses espetáculos no mesmo bojo.” Juarez Guimarães ticipação de importantes coletivos teatrais fora do eixo nacional. O público tem participação efetiva neste que se tornou um dos cinco maiores festivais teatrais da América Latina. Criado em 1993 pela Secretaria Municipal de Cultura,

tradicional trupe de teatro da cidade, reconhecido, nacional e internacionalmente, pelos espetáculos de rua e pela incursão em pesquisa continuada que atravessa o universo do circo, da cultura popular e da montagem de clássicos em elogiadas produções.

Ato Final

“A gente está falando de um teatro que não tem estrutura rígida. Muito pelo contrário: as artes, de maneira geral, na modernidade e na pós-modernidade, estão todas abertas às intercessões”, esclarece, novamente, Juarez Guimarães, que, na Cia. Pierrot Lunar, investiga a narrativa teatral em textos literários, com transposição do livro para o palco – experimento batizado de “teatro perfomativo-narrativo”, que convida os atores a pisar no terreno da (des) construção textual, a fim de teatralizá-lo. É nesse solo fértil de possibilidades que, por vezes, desponta a ousadia e a singularidade de cada grupo, quando a serviço da investigação. Foi pensando em integrar novas propostas, nos limites estilhaçados na quebra de fronteiras, em criações que tentassem dialogar com o “mundo alucinado”, que Ione de Medeiros, 70, criou o Verão Arte Contemporânea (VAC). Desde 2007 sob a curadoria do Oficcina Multimédia – grupo fundado em 1977 por Rufo Herrera e assumido seis anos depois por Medeiros –, o evento realiza apresentações de produções recentes em galpões, teatros convencionais e nas ruas, priorizando artistas da cidade e contrapondo-se à programação de outros eventos que, segundo publicação especial do Estado de Minas, sobre o Oficcina, estão “mais vinculados ao entretenimento que à pesquisa teatral e artística”. O grupo Multimédia é contaminado pelo conceito de arte integrada e garante expressividade dentro e fora do país pelas montagens onde imagens e sons conversam com a dança, com o teatro e a instalação. Enquanto o diálogo se desenrola, o teatro continua “clamando a presença física do espectador” (citação de Luiz Arthur) no espaço onde se instala a poderosa máquina de fazer existir o que só pode estar vivo quando o respirar da platéia se mistura ao fôlego enérgico do ator.


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Belo HorIzonte, aBrIl de 2013

dossiê teatro

A polêmica da dramaturgia Toda peça tem um autor. Ou não? A idéia tradicional de um dramaturgo – alguém que cria um texto teatral, isolado em seu escritório – não é mais tão fundamental como era tradicionalmente. O texto no teatro, atualmente, resulta de motivações e processos variados, vistos com bons olhos por uns e com desconfiança por outros, e provoca mudanças na maneira de compor histórias e personagens. No processo colaborativo, as ideias se cruzam, esfarelam-se, morrem e renascem em moldes distintos. O dramaturgo (convidado pela equipe, ou integrante oficial da companhia) é responsável por assimilar os interesses do coletivo – surgidos de experimentos cênicos, entrevistas, vivências, improvisação – e fazer dessa mistura a síntese comum. Cabe a ele construir um texto que seja harmônico, em meio às diversas influências. Porém, não é um método que não se fecha em si. Há várias maneiras de se trabalhar a equipe de atores para a construção da escrita teatral. O dramaturgo pode ou não “meter o bedelho” nas orientações do diretor, e é possível que nem esteja presente nas salas de ensaio; algumas propostas buscam nos próprios intérpretes o material que vai, com o tempo, dar o formato final àquilo que começou em um procedimento artístico aberto, sem ponto de início definido. Ainda que seja ator, autor e diretor ao mesmo tempo, o indivíduo não hesita em ser criativo e colaborador na produção. Deixa-se contaminar pelas histórias que surgem no processo, onde as pessoas e seu repertório, suas aspirações e conflitos são colocados em cena e devidamente aparados, prontos para a prova dos aplausos. No entanto, a fragilidade, que divide espaço com a ousadia, é sinônimo para alguns desse modus operandi do teatro. “Uma coisa é você estar em sua casa e escrever uma peça do início até o final, outra coisa é você ir escrevendo a peça junto com a feitura da própria, junto com a sua concretização”, argumenta Juarez Guimarães.

Camila Freitas 3º Período

Para uma garota que foi ao teatro apenas uma vez na vida, essa foi, com certeza, a matéria mais difícil de executar. Os conflitos começaram logo na reunião de pauta, com a escolha do teatro como tema. Qual a diferença entre teatro experimental e teatro comercial? Existe preconceito entre um e outro? Temos bons críticos em BH? As questões eram levantadas e eu me debatia com dúvidas internas. “O que é teatro de pesquisa? E teatro experimental? Ou será que é a mesma coisa? Quem disse que eu entendo alguma coisa de teatro?” Mesmo com as leituras sobre o assunto, entendia cada vez menos. Como diz minha avó, me senti como cego em tiroteio. Descobri que os artigos e reporta-

“Temos grandes escritores hoje que trabalham nessa perspectiva”, diz, para logo em seguida citar Grace Passô, do espanca!, e Assis Benevenuto, do Quatroloscinco, como bons representantes da dramaturgia desenvolvida na capital mineira. “Literatura dramática tem outra carpintaria, o sujeito tem que conhecer a cena. A escrita teatral é completamente diferente da ensinada nas escolas”, ressalva Pedro Paulo Cava. Já José Carlos Aragão, autor de várias peças – algumas premiadas, caso de A presepada e Godot não vem mesmo, além de Bastidores de Romeu e Julieta e uma adaptação de Édipo Rei feita sob encomenda do grupo Teatro Andante – considera que o dramaturgo “é uma espécie em extinção”. Em seu blog [www.aragaoteatro.blogspot.com.br], Aragão discorre sobre a dramaturgia contemporânea, divulga seus textos e critica, por exemplo, a criação compartilhada: “é a forma mais comum de fugir a duas responsabilidades: pagar direitos autorais e contratar um dramaturgo. é um dos métodos preferidos por grupos e companhias que adotam os chamados processos colaborativos na criação de seus espetáculos”, recrimina. Outra crítica se dirige à pouca divulgação dos textos de novos autores: “Na maioria desses processos colaborativos não fica registrado o texto, quem viu o espetáculo, viu; quem não viu, não vê mais e não tem possibilidade nem de conhecer a história, porque o texto não é publicado”, conclui. Contudo, publicações de alguns grupos da capital, seja do texto, ou do processo de montagem, já foram realizadas, a exemplo do espanca! (Por Elise, Amores Surdos, Congresso Internacional do Medo e Marcha Para Zenturo); do Quatroloscinco (Outro Lado, É só uma formalidade); Mayombe (Mayombe: arquivos da memória, dramaturgia, pesquisas e práxis cênicas) e de montagens marcantes do Grupo Galpão (Romeu e Julieta, A rua da amargura, Um trem chamado desejo, além de outras sete que fazem parte da coleção).

gens sobre o assunto eram técnicos, feitos para quem já conhece o tema. Fiquei ainda mais frustrada. Na apuração é que finalmente comecei a entender como funcionava o teatro, o porquê de tantos conflitos e questões não respondidas. Fizemos entrevistas com pessoas bacanas, como Pedro Paulo Cava, José Carlos Aragão, Luiz Arthur, Juarez Guimarães e Romulo Duque. Tive o privilégio de ser apresentada ao assunto por essa gente boníssima. A cada conversa, fui aprendendo e entendendo como funciona esse mundo. Da nostalgia de Pedro Paulo à preocupação de Aragão com o texto, passando pelo clamor de Luiz Arthur por mais apoio da imprensa. Com Juarez, aprendi que existem divisões, mas que estão todos no mesmo barco quando se trata de dinheiro. E, finalmente, com Romulo Duque percebi que não adianta divisões entre os artistas. No final, se não existir a experimentação, não haverá teatro comercial. O teatro faz parte da história de um povo. E não é diferente com os mineiros, pois temos um teatro diferenciado, reconhecido nacionalmente. Embora faltem alguns ajustes e soluções para determinados problemas, o importante é o caminho estar sendo traçado para isso. Finalmente, consigo responder minhas questões internas sobre o tema.

IMpressão

“Todo mundo quer público. Quando artista se referem ao teatro comercial como lixo, ou estão colocando o público desses espetáculo REPRODUÇÃO

“O m apon um c para dige qual dige coisa Éof Juarez Guimarães Dias (professor do UniBH e integrante da Companhia Pierrot Lunar)

“O público belorizontino tem uma tendênci to, porque diferentemente do paulistano, qu a fazer tudo sozinho, ele gosta de andar em vai sozinho, morre de vergonha de ser cham GUILHERME PACELLI

“A p co e e p n

Pedro Paulo Cava (ator, diretor, dramaturgo, produtor, professor de teatro)

“Essa nova geração se preo umbigo, e aqueles duzento dias e pronto. Estão fazend para os amigos”.

“Você tem um triângulo formado por Bras econômico; e Rio com o poder da mídia, d é nada. Sente a síndrome do ‘tribobó do r criar em BH, sofrendo todo o massacre, to

“Sem experimen hoje, par

“Há, sim, público fora da campa para produzir adequadamente p

“Acredito que muitos se como ator, diretor, técn uma perspectiva para q


Dossiê Teatro

Impressão

as mais intelectualizados u coisa desnecessária, os no mesmo bojo”.

mercado hoje nta muito para consumo rápido, a um consumo cuja estão é facilitada, no l você não precisa erir nada, pois a a já está pronta. famoso fast-food”.

ia a gostar de evenue está acostumado bando. Ninguém mado de solitário”.

Belo Horizonte, abril de 2013

guilherme pacelli

“Há um desprestígio grande ao texto no teatro e, em decorrência, ao dramaturgo. O teatro contemporâneo está muito mais focado no aspecto cênico e visual do espetáculo, do que propriamente no conteúdo”.

José Carlos Aragão (artista plástico, escritor e dramaturgo)

“A primeira coisa que um produtor corta quando vai montar um espetáculo é o dramaturgo. É sempre a primeira cabeça que rola. E para fazer isso, ou usa-se textos de domínio público, ou muitas vezes o próprio diretor ou produtor assume a função de dramaturgo, embora não seja o papel dele”.

“Em BH, existe a prática de privilegiar os campeões. Alguém que se destaca em determinado segmento sempre é valorizado, repetidas vezes, pela mídia e pelas instituições que apoiam a cultura. Para eles só existe aquele grupo de teatro, aquele grupo de bonecos. Há muitos profissionais ralando para mostrar seu trabalho, alguns com muita qualidade, e não conseguem destaque”.

reprodução

“A divisão entre um teatro investigativo, de pesquisa e um mais comercial é real. Mas não podemos tomar isso de forma preconceituosa, como se um tivesse mais qualidade que o outro. O que sempre digo aos amigos e colegas de trabalho é que o fundamental é qualidade”.

A cena mineira está carecendo de público. Talvez ele tenha visto muita oisa ruim, ou que não entendeu, e fugiu do teatro. Talvez porque fique esperando somente a campanha de popularização e durante o ano não quer ir ao teatro”.

ocupa somente com o próprio os amigos que vão lá, durante dez do teatro para a própria classe,

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Luiz Arthur (ator, professor de teatro)

“Quando não havia as leis de incentivo, todo mundo que fazia teatro só fazia porque estava muito a fim. O teatro pelo teatro. Quando comecei, era assim. Agora muita gente quer fazer teatro para fazer sucesso, para resolver a opção sexual, ou porque tem acesso ao departamento de marketing da empresa e sabe que vai ter patrocínio”.

sília, com o poder político; São Paulo com o poder ditando moda. Belo Horizonte está no meio. Não rancho fundo’. Você tem que fazer ginástica para oda a influência desses três grandes centros”.

“Está difícil mesmo levar público ao teatro. Tinha que ter uma mídia muito maior, porque já não se tem a cultura do teatro. O sujeito nasce na Inglaterra com um livro do Shakespeare do lado. Talvez se a gente tivesse essa cultura, a coisa continuasse”. guilherme pacelli

ntação, o teatro comercial não vai existir. Acho que a experimentação vem, ra tentar novidades, que possam ser implementadas para o público assistir. E a partir do momento em que o público assiste, passa a ser comercial. Independentemente da linguagem, abriu bilheteria é teatro comercial”.

anha, mas é necessário que o produtor tenha competência para levar o público à peça dele”.

e atreveram, em algum momento, a fazer alguma coisa pelo teatro, seja nico, ou professor. Eles foram fundamentais para que hoje, nós tivéssemos que o teatro fosse além do que a gente amava, fosse a nossa profissão”. Romulo Duque (Presidente do SINPARC)


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Cibercultura

Belo Horizonte, abril de 2013

Impressão

Caiu na net, risada certa Youtube, blogs e redes sociais faz o humor brasileiro migrar da televisão para a internet com uma linguagem moderna e ágil fotos:REPRODUÇÃO

Paródia bem-humorada da presidente Dilma Rousseff é sucesso nas redes sociais

Carine Santos Cristiane Carvalho Josiane Martins 6º Período

Edição: Dany Starling

Chico Anysio, Jô Soares, A Praça da Alegria (depois A Praça É Nossa), Os Trapalhões. Por anos, esses foram os grandes responsáveis pelo humor no Brasil. Mais tarde, surgiram a TV Pirata, Casseta & Planeta Urgente, A Grande Família, Sai de Baixo, Os Normais, Zorra Total. A televisão brasileira sempre foi pródiga na hora de abrigar humoristas e comediantes, seja em programas cheios de esquetes ou por meio de seriados de comédia de situação. A fórmula, contudo, se desgastou ao longo do tempo. Antes de sua morte, em março de 2012, Chico Anysio já estava afastado da telinha, com uma e outra participação esporádica no Zorra Total. Jô Soares deixou os programas humorísticos de lado no início dos anos 1990 para se dedicar às entrevistas. Os Trapalhões, após a morte de Mussum e Zacarias, se viram resumidos ao programa do Didi, que deixou a grade de programação da TV Globo em 2013, mesmo desti-

no da trupe do Casseta. A Praça É Nossa, comandada por Carlos Alberto de Nóbrega, tem seu horário mudado por Silvio Santos constantemente, tudo por conta da baixa audiência. O humor brasileiro perdeu a graça? Não, longe disso. Ele apenas migrou de veículo. Atualmente, quem quer dar boas risadas não liga a TV, entra na internet. A web concentra, hoje, o trabalho de uma nova geração de comediantes e humoristas que, mais ousados e ágeis, cativam o público e incomodam as grandes redes de televisão, que perdem espectadores ano após ano. O surgimento do Youtube em 2005, site de compartilhamento de vídeos em formato digital, reinventou a forma de se produzir humor no país. Youtube

Um dos primeiros vídeos produzidos para o Youtube que logo alcançaram o sucesso foi o monólogo Tapa na Pantera, de 2006, no qual a atriz Maria Lúcia Vergueiro interpretava uma senhora de idade que há 30 anos era usuária de maconha. O ato de fumar, ou de “dar um tapa na pantera”, narrado de

maneira surreal, foi visto por milhares de pessoas em pouquíssimo tempo, ajudando a popularizar o site no Brasil. O Youtube também foi responsável pela propagação do stand-up comedy, ou “comédia em pé”. O gênero, importado dos Estados Unidos, já era praticado no Brasil há décadas por Jô Soares, Chico Anysio e José Vasconcellos, mas com o nome de esquetes, realizados em seus shows ao vivo, porém ficou famoso na figura de novos artistas, como Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Diogo Portugal e tantos outros. Alavancado pelas exibições na internet, os novos humoristas viram seus espetáculos ficarem lotados, o que lhes valeu a entrada na televisão convencional em programas como Zorra Total e CQC. Fora da televisão após uma tentativa frustrada de copiar o tradicional programa de humor norte-americano Saturday Night Live na Rede TV, Rafinha Bastos talvez seja o humorista que melhor saiba trabalhar com a internet. Seu canal no Youtube possui mais de 740 mil inscritos e está perto de completar 100 milhões de visualizações. Nele, Bastos inclui cenas de

seus shows de stand-up e o programa de entrevistas 8 minutos, com vídeos novos postados duas vezes na semana. Quem também está fazendo muito sucesso é o canal Porta dos Fundos. Idealizado por Antonio Tabet, dono do site de humor Kibeloco, o canal, lançado oito meses atrás, já tem quase três milhões de inscritos e mais de 240 milhões de visualizações. Seus vídeos, que também vão ao ar duas vezes por semana, são estrelados por atores como Fábio Porchat, Gregório Duvivier e Marcos Veras, que começaram no stand-up e tiveram passagens de pequena importância na televisão. Na internet, contudo, são sucesso absoluto. O vídeo “Estaremos fazendo seu cancelamento”, que Porchat estrelou para outro canal do Youtube, o Nós em Chamas, já tem mais de sete milhões de visualizações. Redes Sociais

A força das redes sociais, que se popularizam no Brasil a partir de 2008, primeiro com o Orkut e agora com Twitter e Facebook, ajudou a fomentar a indústria do humor na internet. Quando um vídeo do


Cibercultura

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da marca dos palitos, para usar sua criação de maneira comercial. Seja nas redes sociais, no youtube ou em sites e blogs, o humor dominou de vez a web e se tornou um nicho de negócio rentável e promissor. Com mais liberdade para trabalhar, os humoristas que fazem sucesso na internet não veem mais o veículo como trampolim para a TV. Pelo contrário, sabem que encontraram um filão onde há muito ainda para se explorar. Não a TV

Fábio Porchat em esquete que critica operadoras de telefonia

Porta dos Fundos é publicado, rapidamente milhares de pessoas o compartilham para amigos e seguidores, aumentando sua penetração. A conta do Kibeloco no twitter, por exemplo, tem mais de um milhão e trezentos mil seguidores. Rafinha Bastos é um dos campeões de audiência na rede social: é seguido por mais de cinco milhões de tuiteiros. A presença do twitter e do Facebook é tão forte que ajudou a

criar páginas de humor exclusivas nas redes sociais. É o caso da Dilma Bolada, personagem criada pelo estudante de publicidade Jeferson Monteiro, que faz uma paródia bem-humorada da presidenta Dilma Rousseff. Com mais de 100 mil seguidores do twitter e quase 300 mil no Facebook, as postagens da “eta presidenta maravilhosa”, bordão que ficou famoso na web, renderam a Jeferson o bicampeonato

do prêmio Shorty Awards, considerado o Oscar das Redes Sociais. Inspirada na tradicional figura que ilustra uma caixa de palitos, surgiu a personagem Gina Indelicada, perfil no Facebook com quase três milhões de fãs. Com postagens irreverentes e muitas vezes politicamente incorretas, o idealizador da página, Ricck Lopes (também estudante de publicidade), foi convidado pela empresa Rela Gina, dona

Em entrevista ao programa 8 minutos de Rafinha Bastos, Gregório Duvivier foi questionado sobre televisão x internet. De acordo com ele, os espetadores que vêem os vídeos são “reais”, pois ninguém deixa o Youtube ligado enquanto cozinha, algo que é recorrente em relação a TV, portanto, “o público é necessariamente ativo”. Outra vantagem do humor na internet é que não há filtros que engessam o roteiro da esquete, sendo assim, a oportunidade de ser autoral, ter total liberdade e público cativo, fazem que a migração para a televisão seja uma regressão. Duvivier ressalta que a televisão é que deve fazer a migração oposta e começar a produzir conteúdos voltados para a internet. “O bom da internet é que só quem vê é quem gosta. Ninguém está te obrigando a ver aquilo”.

Blogs de humor mais acessados no Brasil Os sites, com sua instantaneidade, deixam as pessoas sempre plugadas de uma forma tão ansiosa que preferem evitar a sensação de estarem perdendo algo. Confira os cinco blogs de humor mais acessados no Brasil: 1. Kibeloco.com.br – É um blog humorístico brasileiro criado em 2002 pelo publicitário carioca Antônio Pedro Tabet e que abriga o canal Porta dos Fundos. 2. Naosalvo.com.br - Blog criado em 2008 por Mauricio Cid, onde ele, de forma irreverente e utilizando uma temática religiosa, posta as mais engraçadas estripulias da internet. Pela abordagem humorística, se tornou um fenômeno na web, alcançando seus 10 milhões de visitas mensais em menos de quatro anos. Detalhe: As visitas são de maioria direta, ou seja, não vêm pelo Google. São “fiéis devotos”, que acessam o site frequentemente. 3. Naointendo.com.br - Blog de humor que usa a temática dos jogos da Nintendo, principalmente o simpático encanador Mário. Parceiro da MTV, possui em torno de oito a nove milhões de visitas/ mês. 4. Minilua.com – Minilua é blog independente, muito parecido com os agregadores de conteúdos. Seu conteúdo é postado por uma equipe de nove colaboradores, grande parte de suas visitas vêm por meio de parcerias dinâmicas com blogs menores. Com apenas dois anos online, já possui uma média de seis milhões de visitas/mês. 5. ahnegao.com.br – Blog de humor que está sempre acompanhando as tendências da internet e mantém seu conteúdo atualizado diariamente. Desde 2008 no ar, o blog vê sua média de acessos aumentar a cada mês – hoje em torno de dois milhões de visitantes –, figurando hoje entre os 10 blogs de humor mais acessados do país. Pioneiro na internet, Rafinha Bastos atrai fãs com humor e muita polêmica


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Você já viu?

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Os detalhes de um solista Wesley Martins de Abreu 7º Período

Edição: André Zuliani

A partir de uma história real, já publicada também em livro de grande sucesso nos Estados Unidos, O Solista se destaca pelo enredo, mas também pela qualidade da produção e direção, a cargo do britânico Joe Wright, o mesmo de Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação e do recente Anna Karenina. O drama envolve o poder da música: Steve Lopes, um jornalista interpretado por Robert Downey Jr (O Homem de Ferro, Chaplin), conhece Nathaniel Anthony Ayers, vivido por Jamie Foxx (Ray e Django Livre), um sem-teto ex-estudante de música, que vive tocando um violoncelo de apenas duas cordas nas ruas de Los Angeles. O jornalista tenta de todas as formas ajudar o solista perturbado a retornar sua vida e a realizar seu sonho, tocar no Walt Disney Concert Hall. Com isso, uma grande amizade é formada, de modo que altere a vida e quebre os paradigmas dos dois. Um dos destaques do filme é a iluminação, usada de forma bastante significativa. Sempre que o jornalista Lopez está em seu apartamento, a iluminação é mais escura, o que remete à confusão do personagem com seu próprio eu. Isso porque Lopez tem um problema em se relacionar com as pessoas e sempre vai contra as ideias de todos, o que, por sua vez, faz com que ele seja reconhecido e respeitado em seu trabalho. Por outro lado, a claridade e as cores usadas nas cenas em que aparece o solista, durante o dia, também revelam algumas coisas sobre ele: sua roupa muito colorida mostra as várias personalidades que Nathaniel comporta; seu cabelo o diferencia de uma forma artística. Os planos e movimentos de câmera reforçam também seus momentos de conturbação, alegria e espontaneidade. Outro destaque é o uso da trilha: quando a imagem mostra o solista, a música do seu instrumento é acompanhada por alguns violinos; porém quando mostra o jornalista, a música é apenas a do solista. Isso indica dois sentimentos: o do músico, se sentindo acompanhado por uma orquestra e o de Steve Lopez, que via apenas Nathaniel tocar.

Ficha Técnica

O solista (The soloist) Ano: 2009 País: EUA Direção: Joe Wright Roteiro: Susannah Grant, baseado no livro de Steve Lopez Elenco: Jamie Foxx - Nathaniel Ayers Robert Downey Jr. - Steve Lopez Catherine Keener - Mary Weston Tom Hollander - Graham Claydon Lisa Gay Hamilton - Jennifer Ayers

O crítico Rodolfo Marques (do site Cinecríticas), afirma que O solista é um pouco cansativo e modorrento, mas reconhece: “por vezes a projeção leva o espectador a momentos de lirismo e reflexão, ao mesmo tempo em que há uma crítica racional e esteticamente interessante à ausência do estado, no caso específico, em Los Angeles, na gerência da situação dos moradores de rua.” Discordo quanto ao filme ser sonolento, pois, pelo contrário, a obra é envolvente com seus detalhes espalhados por trás de uma

aparente simplicidade. Mas isso só é perceptível para quem não fizer uma leitura superficial nem tiver preguiça de analisar com apuro esse tipo de filme. Trata-se de um filme que deve ser assistido mais de uma vez, sobretudo para perceber os pormenores. Também é interessante para o espectador um conhecimento básico de música, de preferência clássica, já que o protagonista é fã de Beethoven, toca músicas do compositor alemão e se inspira na história dele para justificar aspectos da sua própria vida. REPRODUÇÃO


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Você já leu?

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Entre transposições de forma e conteúdo Leilane Stauffer 7º Período

Edição: Dany Starling

“Um simples convite para reflexões e risos.” A última frase do prefácio revela a que veio o livro A vida de jornalista como ela é, dos jornalistas paulistas e irmãos gêmeos Anderson e Emerson Couto. As 193 páginas da obra reúnem conteúdos publicados no blog “Desilusões Perdidas”, onde Anderson e Emerson se transformam no personagem Duda Rangel, jornalista desempregado que, como forma de desabafo, fala sobre os encantos e desencantos da profissão. E a solução encontrada para reunir a essência de histórias cômicas e mitificadas na internet em livro apresenta-se já na capa, com o slogan: O melhor do blog de Duda Rangel. Esse parece ser o recheio que faz com que o leitor se sinta atraído, perceba e viaje pela lógica do livro. Ao mesmo tempo em que os autores buscam valorizar a originalidade dos textos que já foram construídos e que fizeram sucesso entre os frequentadores do blog, há uma atenção especial em como organizar esse conteúdo. É o próprio Duda Rangel quem explica isso: “Do blog, nasceu este livro. Aqui estão reunidos os melhores – ou piores – posts, tudo arrumadinho por capítulos temáticos”. Em 16 capítulos, o enredo se constrói, preservando a identidade solta, criativa e sagaz encontrada no ambiente virtual e, ao mesmo tempo, enquadrando-a como alternativa que encontra meios para se sustentar. A organização do conteúdo em capítulos temáticos é capaz de dialogar e seguir o mesmo estilo irreverente contido nos textos. Prova disso são as epígrafes adaptadas que acompanham os títulos genéricos de cada uma das divisões. São paródias, metáforas e pensamentos sobre o fazer jornalístico, criados a partir de frases já consagradas e conhecidas pelos leitores. Para completar, as adaptações são assinadas pelos criadores das frases que inspiraram as adaptações, como escritores, músicos e figuras que, de alguma forma, tornaram-se populares. Integram a lista do repertório Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Raul Seixas, Claudinho e Buchecha, Dalai Lama, Walt Disney, e por aí vai. Após cada uma das 16 cortinas, desvenda-se o manual da diversidade, “da sobrevivência e do bom humor”, como o próprio Duda caracteriza. Para falar sobre o jornalismo, a receita, ou melhor dizendo, a premissa dos autores é usar a imaginação, explorando estereótipos, trocadilhos inusitados e ideias presentes no senso comum que despertam identificação nos leitores. Elementos que ajudam também a construir uma visão exagerada e apocalíptica da profissão, fazendo jus à imagem do personagem, desiludido com a carreira. Todas essas características são compiladas em uma métrica livre. A ideia de uma narrativa dinâmica, indicada já na capa do livro, dá sequência a uma miscelânea de estilos e formas adequados à proposta dos textos. Contos, crônicas, poesias, paródias e perfis nas páginas de Duda Rangel têm vida própria e não seguem padrões pré-fixados. Há textos com dois pontos, parágrafo e travessão e também aqueles sem pontuação alguma. A mesma reordenação textual chama a atenção para o registro de um movimento inverso.

Da mesma maneira que se exploram os formatos tecnológicos, com a disseminação dos e-books e da lógica dos livros eletrônicos, há também o registro da experiência virtual em livro impresso. Prova de que, como afirma Karin Littau em seu livro “Teorías de la lectura”, a comunicação literária envolve convergência entre o fisiológico, o material e o tecnológico. Nesta dinâmica, encontram-se os blogs como espaço aos produtores de conteúdo e emissores no processo de comunicação. E em um dos momentos de convergência, ressaltado pela autora, consagra-se o conteúdo do blog transformado em registro impresso. Assim como a chegada do “A vida do jornalista como ela é” segue esse movimento inverso, outras experiências similares também são transpostas do cenário virtual ao presencial. O site “Sensacionalista”, por exemplo, também decidiu reunir parte de seu conteúdo publicado no livro

“A História Sensacionalista do Brasil”, lançado pela editora Record. Uma proposta parecida à do “Desilusões Perdidas” e com temática próxima: falar do jornalismo de maneira irônica, hiperbólica e sarcástica. E a experiência tem tido aceitação. No primeiro mês de divulgação pela internet, o livro teve 250 exemplares vendidos. Anderson e Emerson Couto preferiram não apostar na inovação de um conteúdo adaptado e reformulado ao livro. Optaram por sustentar a mesma identidade do material produzido para o blog. Ainda com os mesmos textos e sem trazer algo novo ao público que já acompanha o trabalho dos autores, o livro consegue extrair boas gargalhadas dos fãs. Os irmãos, por meio de Duda, foram categóricos nas escolhas e buscaram sustentá-las, principalmente, por meio da criatividade e da objetividade. Coincidentemente, requisitos desse tal jornalismo. REPRODUÇÃO


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Crônicas

Asley Gonçalves 6º Período

Sinto saudade da época em que artistas da música eram de fato artistas da música - embora não tenha presenciado tal época. Isso é uma frustração que ainda estou aprendendo a lidar ao longo da minha vida, vasculhando ora aqui outra ali, a fim de encontrar algo que me devolva a fé naquela música que um dia serviu como forma de expressão artística. Certamente houve um momento único na historia da indústria fonográfica em que as coisas que vinham da alma serviam como produto de consumo e movimentavam milhões. Acho que obras assim continuam a ser criadas, no entanto, tropeçamos por cima do lixo que se instala sobre a grande mídia. Não posso ser leviano a ponto de querer enxergar as coisas da mesma forma em tempos diferentes; a internet surgiu, o banal ganhou mais espaço e o Brasil cresceu economicamente. Esses fatores modificaram todo o cenário cultural do país e do mundo, e só me resta a certeza de que a mudança foi para pior. Esse meu olhar pessimista tomou maiores proporções na manhã do dia 27 de janeiro de 2013, quando me surpreendi com a notícia da morte de mais de duzentas pessoas, vítimas de um incêndio em uma casa de show, e minha maior surpresa foi saber que a responsável por tamanha tragédia tenha sido a música. Sim, a música, ou o que podemos chamar de música. Alvará, pouca infraestrutura, lotação, espuma de isolamento acústico de baixa qualidade, na minha concepção, não passaram de fatores que potencializaram essa desgraça, mas o que realmente matou essas dezenas de pessoas foi a música, ou a falta dela. Alguns podem me achar radical, mas continuo irredutível com minha perspectiva, e repito: uma pequena dose de boa música teria evitado essa fatalidade. O entretenimento cultural tem se apoiado em vertentes medíocres e o consumidor brasileiro parece ter se tornado

um “bobo alegre”, disposto a sustentar esse comportamento de alienação por tempo indeterminado. Por isso volto a citar o desenvolvimento econômico do país, algo que acredito ser a mola propulsora desse comportamento. O cidadão brasileiro agora tem acesso ao que até alguns anos atrás não tinha; inclusão digital, carteira assinada, melhor qualidade de vida etc. Diante dessa realidade, ninguém tem do que reclamar, não é mesmo? É ai que ocorre a mudança cultural de um país para pior, por consequência

do comodismo. A música popular, que outrora servia como voz disseminadora de ideias e reivindicações, hoje se configura apenas como um passatempo fugaz, que entra por um ouvido e sai pelo outro. As músicas de fácil compreensão mostram o paradoxo desse país onde o brasileiro trabalhador e disposto certamente passou a ter os ouvidos mais preguiçosos do planeta Terra, economizando reflexões e fazendo assimilações poéticas em cima de canções que servem de exemplo em qualquer aula de divisão silábica. Diante desses

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fatos, julgo a música popular brasileira atual como a maior culpada pela morte de todas as 241 pessoas em Santa Maria. Se houvessem verdadeiros artistas se apresentando naquela fatídica noite de janeiro, não seria necessário o uso de práticas apelativas em uma apresentação extravagante e sem nenhum fundamento teatral plausível. Mas qual outro artifício seria mais apropriado para suprir a falta da verdadeira arte, do que os fogos de artifício? Eles encantam, chamam a atenção, e obviamente servem para preencher o buraco da carência artística de homens que não sabem usar os elementos naturais, inerentes a qualquer ser humano, como o corpo, a voz e o intelecto. Izaías Guerra

Meu mundo fora do “global” Kelle Lopes 6º Período

Essas coisas só acontecem comigo. É verdade, nada de mania de perseguição ou coisa de quem acredita na Lei de Murphy. Mas depois de hoje, cheguei à conclusão de que algo está errado, e esse erro só pode ser comigo. Acordei em sobressalto, escutei o despertador somente no terceiro toque da soneca. Na garagem, meu carro não ligou. Entrei em contato com o mecânico e do outro lado da linha escutei: “Iiiih, isso é problema na bateria”. Dirigi-me ao ponto de ônibus e esperei, esperei, esperei... Enfim ele parou no ponto. Tinha tanta gente que a porta quase precisou ir aberta. Me espremi e consegui um “lugar” para ficar, quando, do meu lado, para uma senhora de feição simpática...mas não por muito tempo. “Tá cheio hoje, né? Então, você viu ontem a loirinha que ganhou o prêmio, muito dinheiro. Eu gostei dela, disse até que não vai sair nua, acho pouca vergo-

nha sair daquele jeito pra todo mundo ver. Cê acha que ela mereceu?” Eu, com cara de espanto, logo pensei estar sendo confundida e, educadamente, respondi: “Desculpe, senhora, mas não sei do que se trata”. Ela se espantou: “Como não, minha filha? Tô falando da vencedora de 1,5 milhões do Bial, do Big Brother Brasil”. Ah, sim, ganhadora? Então já acabou?, pensei. “Não sei não, senhora, não acompanho o programa”. Quem viu a reação dela ao me escutar deve ter imaginado que eu a estava desrespeitando, xingando palavrões, de tão assustada a sua reação. “Como não sabe, em que mundo cê vive? Todo mundo sabe que foi a mineirinha, nossa conterrânea que ganhou aquela dinheirama”. Preferi não render assunto, explicando que eu não assisto porque não gosto do programa. Como vi que essa minha declaração poderia culminar em um barraco matinal dentro no ônibus, apenas dei um sorriso e me calei esperando que ela fizesse o mesmo. E fez, ao longo de uns

três quarteirões até que... “E a Morena, acha que vai voltar a namorar o Bonitão?” Suspirei e respondi calmamente: “Desculpa, mas não conheço essa moça, nem o ex-namorado dela”. Foi aí que ela esboçou um largo e alto sorriso: “Oh, menina engraçada. Sei que sabe do que eu tô falando. É da Morena, da novela das nove”. Expliquei calma: “Não senhora, não assisto novela.” “Como não, faz o que à noite?” “Esse horário estou na faculdade”. “Oras, minha neta também, mas ela vê tudinho pelo computador. Não tem internet não?” Pensei em dizer: tenho sim, mas não tenho tempo e também não gosto de novela. Mas como já sabia que ela ficaria indignada, apenas sorri, esperando que agora a conversa acabasse. Mas, muito prestativa, ela resolveu me colocar a par do que estava acontecendo. “Salve Jorge é muito boa sabe, filha? A novela conta a história da Morena, uma garota pobre que é apaixonada pelo Théo, um moço bonito do

Exército e devoto de São Jorge, mas aí ela resolve viajar pra fora do Brasil”... E eu sem entender nada, quer dizer, o nome talvez eu tenha entendido. Parece que o tal de Théo é devoto de São Jorge, logo pensei que ele fosse o galã e por isso o nome da novela. Essa foi uma das poucas coisas que eu consegui prestar atenção. Chegando no meu ponto de desembarque, aliviada porque ficaria livre daquele papo, agradeci e me despedi. Com outro largo sorriso, ela me responde: “Ainda falta um pedaço da história pra eu te contar. Mas veja só, que sorte a sua, vou descer no mesmo ponto que você”. Ela desceu, e continuou narrando a novela, até que eu virei uma rua que não era mais o seu caminho. Já cheia de tanto ouvir uma história que eu não entendia bulhufas e menos ainda me interessava, dei um seco tchau e virei as costas. Quando achei que já estava livre, escuto um grito: “Ei, filha, chamam de novela das oito, mas é enganação, passa mesmo às nove da noite, não esquece!”


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