especial ciência
DIVULGAÇÃO
Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBH Ano 31 • número 193 • Novembro de 2013 • Belo Horizonte/MG
Sol: amigo e inimigo da mulher Raios solares podem causar benefícios e malefícios à saúde Bárbara Braga Jade Vieira 8º PERÍODO
Pele bronzeada, há alguns anos, era sinônimo de saúde, vitalidade e beleza. As mulheres, principalmente, além de usufruir dos raios solares, muitas vezes buscavam –ainda buscam! – métodos artificiais para preservar a cor adquirida durante o verão. Outra medida utilizada por quem se preocupa com a tonalidade ideal para o corpo é o uso de cosméticos bronzeadores, que ajudam a intensificar e realçar o bronze. Já os protetores solares e hidratantes, produtos que realmente deveriam ser usados por quem se expõe ao sol, nem sempre são os mais consumidos. Além de ser um ótimo ingrediente para a estética da pele feminina, o sol possui recursos medicinais como a produção de vitamina D e de sensações que podem até combater a depressão. Esses benefícios, como explica o professor adjunto de Dermatologia do Hospital das Clínicas da UFMG, Claudemir Aguilar, são alguns dos resultados da exposição à luz solar por pelo menos 20 minutos diários sem protetor. “Entre 10 e 11 horas é o ideal, expondo, sobretudo, a região da face e dos membros. Esse hábito fortalece o sistema imunológico e fixa o cálcio nos ossos”, esclarece. O dermatologista deixa claro que o bloqueador solar deve ser evitado durante horário e tempo indicado, pois “impede a síntese da vitamina D, que tem início na superfície da pele”. A atividade se desenvolve em decorrência da ação dos raios ultravioleta em contato com as glândulas sebáceas da pele. Por combater deficiências fisiológicas e doenças psicológicas, esse tipo de tratamento é aplicado em mulheres com faixa etária variada, principalmente naquelas com mais de 40 anos. A funcionária pública Laudi Braga, que recebeu a orientação
médica de tomar sol diretamente na pele devido a uma avitaminose, adotou o método há três meses. Apesar de não notar nenhuma mudança no organismo, já se sente mais disposta. “A recomendação é não deixar de seguir o tratamento, pois daqui três meses vou repetir os exames para ver se o índice de vitamina D aumentou”, relata. Além disso, Laudi faz uso de um composto orgânico todos os dias para complementar o procedimento. Sobre o hábito de se expor ao sol, apenas quando vai à praia, o que só acontece durante o período de férias. Laudi acredita que se tivesse esse costume há mais tempo, poderia ter evitado a deficiência atual, por isso, não pretende parar e garante que vai repassar o costume. “O sol, na medida certa, é sempre uma ótima opção para se prevenir de várias doenças, além de gerar um efeito bonito na pele. O que precisa ser regrado é o tempo de exposição e os horários”, alerta. Grande parte da população toma sol de forma involuntária, seja no carro, caminhando e até no trabalho, como é o caso da faxineira de aeronaves Fernanda Vertelo. A dica é se prevenir da maneira que puder. Ciente dos males trazidos pelo sol, ela se protege da exposição obrigatória. Durante o expediente e na volta para casa ao meio dia, no horário de maior incidência, Fernanda já sofreu diversas vezes com “vermelhidão e coceira, que sempre aparecem nos períodos em que o sol está mais forte”, explica. Segundo Claudemir, pessoas com a pele clara como a de Fernanda têm mais tendência a problemas com essa exposição. O médico também afirma que esse tipo de pele envelhece mais rápido quando se tem esse contato direto com o sol, mesmo que de forma involuntária. É por isso que a faxineira se protege. “Para evitar mais problemas, eu faço uso diário de protetor solar”. Dessa forma, ela previne doenças mais
graves, como o câncer de pele, e se diz disposta a mudar de trabalho caso algum dia essa exposição fique ainda maior. “Iria considerar a situação da minha saúde em primeiro lugar”, garante. Ainda há aquelas pessoas que tomam sol por prazer, como uma forma de lazer em clubes, praias e cachoeiras. Cássia Soares é uma dessas pessoas fascinadas pelo sol. Como trabalha a semana toda dentro de um escritório, a serventuária da justiça procura, durante os finais de semana, se divertir no clube e aproveita para se bronzear. O único problema é o horário de exposição, de 10 às 16 horas, período em que há mais incidência dos raios solares. Com o aquecimento global, o dermatologista alerta ter ainda mais risco, pois “há menor dissipação da radiação UV, aumentando a carga que chega à pele das pessoas”. Mas Cássia afirma que, embora faça uso de bronzeadores, apenas utiliza aqueles que “contenham algum fator de proteção solar, mesmo que mínimo”. Quando mais nova, ela teve algumas queimaduras por usar bronzeador caseiro, que não apresenta nenhum tipo de cuidado com a pele. Hoje, ela está mais ciente dos riscos que corre pelo excesso de exposição, por isso não abusa. “Quando sinto que está muito quente passo uma água no corpo e fico um pouco na sombra”. O sol tem essas duas faces: quando a pessoa se expõe de forma consciente, pode usufruir de todos os benefícios que ele oferece, como combate à depressão e a produção de vitamina D, que melhora a absorção de cálcio no organismo; em excesso, a exposição pode causar queimaduras, câncer de pele e até catarata, segundo Claudemir. Desta forma, o que a população e, sobretudo as mulheres, precisam compreender é o limite que o sol exige para que se possa usá-lo de forma correta e saudável. O astro da natureza, apesar das restrições, tem muito a oferecer.
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Antitabagismo
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Estamos vencendo Queda no número de fumantes mostra que a luta contra o cigarro tem gerado resultados expressivos Ana Carolina Abreu Lorena Scafutto 8º PERÍODO
A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada pelo Ministério da Saúde, no Dia Nacional de Combate ao Fumo, em agosto deste ano, revela dados alvissareiros sobre o uso do cigarro. Segundo o relatório, nos últimos seis anos houve uma redução de 20% dos fumantes acima de 18 anos no Brasil. Embora a capital mineira permaneça entre os municípios com maior índice de adeptos ao cigarro, os dados sobre Belo Horizonte são positivos, uma vez que o
percentual de queda foi superior ao nacional. Em Belo Horizonte, houve queda de 25% do número fumantes maiores de 18 anos passaram de 16% para 12%. Ainda em BH, os homens permanecem fumando mais que as mulheres - entre eles, a queda foi de 21% para 15%. Já entre as mulheres, o índice caiu de 11% para 10% e ficou acima da média nacional, de 9%. A Vigitel 2012 também apontou que 12% da população de Belo Horizonte é fumante passiva no domicílio e que a frequência entre pessoas que fumam 20 ou mais cigarros por dia é de 4%. “Parar de fumar não é uma tarefa fácil, e embora muitos consigam vencer o vício, é preciso vigiar sempre”, afirma o comerciante Washington Luiz de Oliveira.
“Quando meus filhos nasceram, tentei parar, mas a força de vontade, na época, não foi tão grande. Quando minha filha ia completar seis anos, me pediu de aniversário que, ao invés de uma festa, eu parasse de fumar. Isso mexeu comigo e, novamente, tentei parar. Eu já estava pensando na hipótese, afinal, comecei a ter problemas de estômago em função do uso do cigarro. Foram dias e noites difíceis, até que consegui me livrar do vício. Depois de dez anos, ainda hoje, tenho que me vigiar para não voltar a fumar”, completa. Pesquisas em todo o mundo confirmam o efeito nocivo da publicidade no sentido de incentivar o uso do tabaco, bem como o efeito positivo quando há a proibição da propaganda, patrocínio
dos produtos e promoção. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou dados do relatório do Política Internacional do Controle do Tabaco (ITC), no qual um de cada três fumantes brasileiros que optaram por deixar o cigarro, entre 1989 e 2010, conseguiram graças às medidas adotadas para restringir a publicidade do tabaco. A pesquisa, no Brasil, é coordenada pelo Inca, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, Fundação do Câncer, Aliança de Controle do Tabagismo (ACTbr) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O trabalho foi feito de abril a junho de 2009 e de outubro de 2012 a fevereiro de 2013, acompanhando 1.800 pessoas, avaliando possíveis mudanças na percepção da população sobre as conseqüências do uso do tabaco. Publicidade como vilã
Embora existam, no Brasil, leis com restrição ou proibição da publicidade sobre o tabaco, a secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (Conicq), Tânia Cavalcante, afirma que muitos estabelecimentos desrespeitam as leis. “A publicidade do tabaco é proibida no Brasil desde 2000. Além disso, desde dezembro de 2011, é proibida a publicidade dentro dos pontos de venda sem que sejam apresentadas as advertências de saúde aprovadas pelo governo. No entanto, essa lei é praticamente ignorada”, afirma. A pesquisa do ITC foi realizada com adultos fumantes e não fumantes, e em 2012 e 2013, 22,6% dos fumantes e 24,9% dos não fumantes – ou seja, quase um quarto de ambos os grupos – notaram situações relacionadas a marketing de produtos de tabaco que os estimularam a fumar. Tânia explica essa situação: “Embora existam esforços nacionais para diminuir o estímulo ao consumo, caminhos alternativos foram encontrados pela indústria. Seja por técnicas mais sutis, ou diretas, como patrocínio de eventos”, conclui.
Riscos
Parar de fumar é tarefa árdua e demorada
Segundo o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP (Incor), a cada ano, seis milhões de pessoas morrem em todo o mundo por doenças atribuídas ao cigarro. No Brasil são cerca de 130 mil, o que representa 13% do total de óbitos em todo o território nacional.
Diabetes
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Insulina é redescoberta Pesquisa mostra atuação do hormônio na reprodução celular e aponta possibilidades de cicatrização de feridas e contenção de tumores NATANAEL VIEIRA
Maria de Fátima Leite: nova descoberta pode minimizar sofrimento de pacientes com Diabetes
Leilane Stauffer Natanael Vieira 8º PERÍODO
Ela com 52 anos, ele com 77. Ela com diabetes tipo 2 e ele, tipo 1. Ambos precisam da insulina que o pâncreas não produz. A deficiência, em ambos os casos, tem origem em predisposições genéticas. A história de Solange Moreira e Agostinho de Alcântara ilustra rotinas de quem convive com o diabetes. No caso deles, há mais de vinte anos. “O meu começou na forma gestacional, durante a gravidez de meu primeiro filho, aos 28 anos. Desapareceu e, com a gravidez do segundo filho, retornou”, lembra Solange o motivo que alterou seus hábitos alimentares e a frequência da prática de atividades físicas, dois aspectos que a ajudam a controlar o índice de glicose no organismo. Já Agostinho descobriu a síndrome aos 48 anos, em decorrência de problemas na visão. Ao consultar o médico, constatou que a taxa de glicemia estava em 296 ml/ dl – o resultado considerado normal da glicose fica entre 70 e 110 ml/dl. “Não é fácil conviver com isso. Estou pra encontrar um diabético que faça regime como manda o figurino”, diz o aposentado sobre as dificuldades em se manter na dieta alimentar. “Por esses dias mesmo, no aniversário do meu filho, tive que comer um docinho. E foi o tempo dela subir de 137 para 248”, confessa. A insuficiência do pâncreas na produção de insulina também repercute em outras funções do or-
ganismo. É o caso dos problemas renais, da retinopatia – lesões na retina ocular – e de aspectos que controlam o bom funcionamento do corpo, como o colesterol e a cicatrização. Onde estariam o controle e o investimento no tratamento de algum desses reflexos da doença? Desafios e perspectivas
Descoberta há cerca de 90 anos, após uma série de pesquisas, algumas interrompidas pela Primeira Guerra Mundial, a insulina foi o primeiro hormônio a ser extraído de animais para uso humano. Desde então, fascina e intriga cientistas. Onde age? Como? Qual fim? Entre tantas questões, boa parte foi respondida, outras ainda aguardam por soluções. Diante de tantas dúvidas e provocações, a insulina tem sido redescoberta em várias pesquisas. As funções de regulação do metabolismo e de proliferação celular, por exemplo, já são conhecidas. O mecanismo deste último processo, porém, ainda era nebuloso. Essa foi, entretanto, a grande descoberta de uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para se ter ideia, os estudos remontam a 2003, quando, em outra pesquisa, a equipe atentou para a existência de uma nova organela no núcleo da célula. “É como se disséssemos que existia outra estrutura no ser humano além do cérebro”, compara a professora Maria de Fátima Leite, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biológicas, integrante do grupo
autor do trabalho que redescobriu a insulina. O novo órgão libera cálcio que, por sua vez, atua na multiplicação celular. A intenção da equipe, então, foi investigar se o processo já conhecido de regeneração de tecidos via insulina relacionava-se ao de proliferação com o cálcio. “Descobrimos que a entrada da insulina no núcleo ativa a liberação de cálcio”, afirma. Maria de Fátima e a equipe foram os primeiros no mundo a mostrar como se dá o processo de introdução da insulina na célula, até o núcleo, enquanto ele ocorre e como o hormônio interfere na atividade de liberação do cálcio celular. O procedimento foi documentado com imagens em movimento e teve artigo veiculado na Hepatology, publicação de referência da área. “A descoberta tem sido bem aceita pela comunidade científica”, comemora. Isso porque a com-
preensão do desenvolvimento do processo sinaliza a possibilidade de contenção da multiplicação celular exacerbada, como num câncer. Outra esperança consiste na manipulação artificial da proliferação fisiológica, como na cicatrização. Pacientes diabéticos têm dificuldade na cicatrização em função da irregularidade da insulina. Foi o caso da irmã de Agostinho de Alcântara que, ao contrário dele, desenvolveu como reflexo do diabetes a deficiência na cura de feridas, que resultaram em infecções e amputação de dedos e dos pés. “A Maria morreu com 60 e poucos anos. E foi embora aos pedaços”, lembra. Na prática, os estudos apontam que, futuramente, o processo da cicatrização pode ser induzido artificialmente por meio de um gel que combine as atuações entre cálcio celular e a insulina, por exemplo. As duas perspectivas, contenção de tumores cancerígenos e a cicatrização, entram na linha de observação de toda sociedade pesquisadora. Formado por profissionais de várias áreas de conhecimento relacionadas à biologia, o caminho – e o enriquecimento – da pesquisa se dá também pela multidisciplinaridade. Profissionais de farmácia, bioquímica, física, medicina molecular e imunologia integram o grupo de estudos. Ana Maria de Paula, por exemplo, que contribuiu na obtenção de imagens microscópicas e na interpretação delas, atribui à diversidade de especialidades e conhecimentos a capacidade de a equipe em resolver problemas. “Cada pesquisador contribui com uma perspectiva diferente. O resultado é sempre maior que a soma simples das partes”, observa. Maria de Fátima Leite considera o aspecto multidisciplinar e garante a perenidade da pesquisa: “ainda há muito a ser pesquisado sobre a insulina”.
Noventa anos após ser descoberta, insulina ainda fascina pesquisadores
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Educação
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Número de leitores no Brasil (milhões)
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é se m FONTE: INSTITUTO PRÓ-LIVRO
Jonathan Goudinho 8º PERÍODO
Ler sempre foi uma atividade complexa. Por meio da leitura, apontam os estudiosos, é possível formar um sujeito reflexivo e crítico, capaz de compreender, interpretar e moldar seu papel na história. Principalmente após as décadas de 1980 e 1990 – período marcado por críticas ao ensino normativista da Língua Portuguesa –, vê-se muitos trabalhos no Brasil voltados ao desenvolvimento dos diferentes modos de leitura. E todos eles partem da mesma premissa: ler é um processo cada vez mais heterogêneo. “[O exercício da leitura] vem ficando mais móvel, mais instável, menos definitivo, com muito mais jeitos, formas, possibilidades, suportes e ambientes”, afirma a professora Ana Elisa Ribeiro, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). Devido a tamanha complexidade, foi necessário procurar uma palavra que pudesse simplificar o conceito e definir o processo de leitura: letramento.
Um indivíduo letrado é aquele que sabe ler e escrever – alfabetizado – e é capaz de responder adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita. “Ler é ver com os olhos dos outros, é mudar de ponto de vista. [A leitura] precisa ser entendida assim”, defende a professora Ana Rosa Vidigal Dolabella, doutora em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Nessa variedade de “paisagens midiáticas” – expressão cunhada pelo professor de Semiótica e Educação da Universidade de Londres, Gunther Kress –, diferentes tipificações são propostas em estudos atuais nas áreas de comunicação, linguagem, tecnologia e educação: letramento digital, literário, científico e midiático. Há também aqueles que entendem o letramento como um conjunto único, mas que se manifesta de diferentes maneiras. “Considero que não haja um tipo específico de letramento. Eu o avalio na perspectiva de Paulo Freire, grande pensador brasileiro. Diz respeito ao uso das diferentes linguagens nas práticas sociais, entendendo-as e praticando-as com criticidade”, comenta Ana
Experiências de profes mostram como os process tornaram-se cada vez ma
Rosa, que também é jornalista e psicopedagoga. Impresso versus digital
No grupo dos que consideram letramento um conceito amplo demais para ser mantido sem classificações está Ana Elisa Ribeiro. Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a professora estuda os processos de leitura desde a década de 1990, quando realizava o mestrado em Estudos Linguísticos, também pela UFMG. Já a tese de doutorado – “Navegar lendo, ler navegando” –, defendida em 2008, é um estudo sobre aspectos do letramento digital e da leitura de jornais. À época, conta Ana Elisa, “era pertinente trabalhar a noção de letramento adjetivando-o, colocando o ‘digital’ para marcar que estava falando das novas possibilidades”. A pesquisa mostra a relação de leitores com jornais impressos e digitais. “A comunicação móvel muda muito as nossas práticas e os textos mudam com elas. Um novo modo de escrever e ler está diretamente ligado a nossas práticas sociais de leitura”, explica a professora. No estudo, alunos universi-
Definição de leitor e não-leitor - Leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. - Não-leitor é aquele que não leu nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12.
- 52% das pessoas que são consideradas leitoras não estão estudando. Porém 84% dos não-leitores também não estudam.
- Segunda a pesquisa, as mulheres (53%) leem mais que os homens (43%).
- Pela definição, em 2007, 55% da população do Brasil podia ser considerada leitora (leu ao menos um livro no último trimestre). Porém, segundo a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o número de leitores caiu para 50%.
- Classe social: 50% dos não-leitores pertencem à classe C.
- 39% dos não-leitores têm renda familiar de um a dois salários mínimos. FONTE: INSTITUTO PRÓ-LIVRO
Escritora e professora mineira Ana Elisa Ribeiro es
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Educação
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Média de livros lidos por ano no Brasil
mover
ssores e pesquisadores sos de leitura e letramento ais complexos e dinâmicos
FONTE: INSTITUTO PRÓ-LIVRO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
studa o processo de leitura nos meios digitais
tários iniciantes fizeram testes de navegação e leitura nos jornais Estado de Minas e O Tempo, nas plataformas impressa e digital. Eles foram divididos em três grupos: leitores de veículos impressos, digitais e não-leitores. Os dados gerados pela pesquisa evidenciaram que bons navegadores podem se mostrar leitores fracos, assim como bons leitores podem se mostrar maus navegadores. O estudo ainda apontou que os leitores mais competentes foram aqueles que têm experiência na leitura frequente de livros, jornais e outros objetos, independentemente da plataforma. Ana Elisa ressalta que os leitores parecem não saber o quanto conhecem de jornais. Os grupos não apresentaram comportamentos homogêneos. Segundo a professora, “houve aqueles que declararam ler muito e demonstraram pouca habilidade com interfaces e textos, assim como houve quem se dissesse inexperiente e até incapaz de ler jornais e apresentasse boas e eficientes soluções
para navegar e ler, no papel e na tela”. Leitura, mídia e escola
No campo do letramento midiático, Ana Rosa coordenou o projeto “Jornal, Leitura e Escola”, realizado pela primeira vez em 2006. Ela é professora há 23 anos – e, atualmente, leciona disciplinas nos cursos de Jornalismo e Pedagogia do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH). O objetivo do projeto de extensão universitária foi a promoção de uma leitura crítica da mídia, feita a partir da interface entre comunicação e educação. Para o desenvolvimento da investigação, as atividades foram articuladas numa interlocução entre estudantes de jornalismo, professores da rede de educação básica e alunos das escolas envolvidas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “O caminho que percorremos foi o de compreender os papeis sociais da escola e do jornalismo, celebrando o casamento entre os dois”, comenta. A experiência resultou na tese “Mí-
dia, letramento e formação”, defendida em 2010. Diversas ações foram implementadas no projeto, como visitas a um jornal impresso diário, que permitiu o acompanhamento da proposta de educação para a mídia realizada pelo periódico. A partir de experiências como essa, o “Jornal, Leitura e Escola” interveio nas práticas educativas, potencializando o uso do jornal nas salas de aulas de leitura e produção de textos. “Alunos sabem muito mais sobre sua comunidade. E querem saber mais. Querem participar. O caminho é ajudá-los a entender mais sobre o discurso midiático e a promover oportunidades para sua participação em diferentes manifestações midiáticas”, pondera Ana Rosa. No mesmo sentido, e chamando atenção para a necessidade de boa formação de leitores, Ana Elisa Ribeiro é enfática: “Temos mais modos de ler e escrever do que em qualquer outra época. Penso que isso seja uma vantagem. O que continua sendo necessário é formar leitores e escritores habilidosos”.
Projetos de promoção da leitura como o Roedores de Livros, coordenado por Tino Freitas, se espalham pelo país
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Corpo e Mente
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O exercício do bem e do mal É bom para corpo e mente, e disso todo mundo sabe. O que nem todos percebem é que exercício físico feito sem orientação pode trazer muitos problemas DIVULGAÇÃO
Endorfina produzida durante atividade física reduz estresse e gera bem-estar
Janaína Praeiro Luísa Reiff 8º PERÍODO
Nada melhor do que sentir aquela sensação de corpo relaxado pós-atividade física: um cansaço prazeroso, que provoca sensação de plenitude. Quando se realizam exercícios de maior intensidade, o corpo libera uma substância, a endorfina, produzida pelo cérebro durante e após uma atividade que regule a emoção e a percepção da dor, ajudando a relaxar e gerando bem estar. A endorfina é considerada um analgésico natural, reduz o estresse e a ansiedade, alivia tensões e chega até a ser recomendada no tratamento de depressões leves. No entanto, os exercícios físicos, importantes para uma maior qualidade de vida, quando realizados em excesso ou sem o acompanhamento de um profissional, podem trazer sérias consequências ao organismo. Lesões musculares e articulares, fraturas ósseas, lesões cardíacas, queda da imunidade, irritabilidade, insônia e queda do desempenho. É primordial que o
indivíduo passe por uma avaliação médica antes de iniciar seu programa de atividades para saber suas limitações e restrições. Também é fundamental ser orientado por um professor de Educação Física. O professor Vítor Giatte Angarten, graduado em Educação Física pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), pós-graduado em Reabilitação Cardiovascular e Biomecânica da Atividade Física (UGF) e atualmente mestrando em Ciências do Movimento Humano, afirma que um atleta deve estar bem assessorado e monitorado por seu técnico, e que deve conhecer seus hábitos e estilo de vida, além de fazer constantes avaliações. Com experiência em reabilitação cardiovascular e periodização de treinos, Vítor sugere que não só o atleta profissional, mas também o amador, devem fazer exames laboratoriais periódicos que possam detectar alterações hormonais. O atleta amador Daniel Pizarro mescla os treinos de jiu-jítsu com musculação, corrida, natação e pedalada para fortalecer a musculatura e ganhar resistência. Ele diz que já teve alguns dedos das mãos
e dos pés quebrados e lesões leves nos joelhos e cotovelos, mas que se previne para evitar maiores contusões. Segundo ele, “como é muito fácil se machucar em esportes de luta, tomo algumas precauções, como alongamentos antes e depois do treino, e evito lutar várias vezes seguidas, dando o descanso necessário para o corpo se recuperar”. Nesse ponto, o professor Vítor afirma que a fraqueza muscular, que pode advir do excesso de exercícios, é um fator que predispõe a torções e lesões nos joelhos. Ele sugere àqueles que praticam diferentes modalidades de exercícios “um bom trabalho de fortalecimento muscular dos membros inferiores, já que este é um dos fatores mais importantes para que o joelho fique forte e evite contusões”, ensina. Esteroides anabolizantes
Com o objetivo de potencializar a perfomance e a força muscular, muitos atletas se valem de esteroides anabolizantes, hormônios sintéticos similares à testosterona que, quando usados em excesso, atacam fígado, coração, próstata e
articulações. Os efeitos almejados para quem faz uso desse recurso artificial só são conquistados por meio da combinação do uso da substância com exercícios físicos regulares e intensos. Para os que já vêm tomando altas doses dessas drogas, nem sempre é fácil interromper o uso. A interrupção pode gerar fadiga, perda de apetite, insônia, redução do desejo sexual e ainda uma grande vontade de continuar usando anabolizantes. Thiago Mello, preparador físico e personal trainer, diz que “usuários de anabolizantes podem desenvolver dependência, que pode ser percebida naqueles que continuam tomando as drogas mesmo depois de terem sofrido más consequências, como problemas físicos, nervosismo, irritabilidade e efeitos negativos em suas relações interpessoais”. O professor afirma já ter observado diversos alunos que, em busca de melhores resultados, usam essas substâncias por influência de colegas e até mesmo de profissionais do esporte. Marcela Araújo, frequentadora contumaz de academia, afirma que, no local onde pratica musculação, um instrutor já ofereceu oxondrolona, um esteroide anabolizante de caráter mais moderado. “Acabei aceitando porque ele trabalha com exercícios físicos e me aconselhou usar. Queria pernas mais fortes e abdômen definido”, diz Marcela, que realizou um ciclo (uso de 30 comprimidos) e notou certo “inchaço” após duas semanas, o que a fez optar por não dar continuidade ao uso. O tema de esteroides anabolizantes, para o professor Vítor, é assunto para uma longa conversa. Segundo ele, diversos atletas de ponta tiveram suas medalhas cassadas pelo uso dessas drogas. Ele cita o ex-ciclista Lance Armstrong, banido eternamente do esporte pelo uso e distribuição de dopagem bioquímica, perdeu seus sete títulos do Tour de France e contraiu câncer nos testículos. A partir desse exemplo, o professor questiona se vale a pena submeter o corpo a substâncias conhecidamente nocivas à saúde em função de melhores resultados. “Diversos atletas, profissionais e amadores, têm alta performance por meio da disciplina e acompanhamento constante de um profissional, tanto nos treinamentos quanto na dieta”, orienta.
Clima
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O calor como inimigo Aumento na temperatura gera problemas nas grandes cidades e tem sido encarado com preocupação pelo poder público Flaviane Oliveira Liliane Mendes 8º PERÍODO
Na segunda semana de outubro, foi celebrada a Semana Nacional de Redução de Desastres. As mudanças que vêm ocorrendo no clima estão se manifestando de diversas formas e, na maioria das vezes, há a ocorrência de eventos naturais extremos, que colocam em risco a vida da população. Ruibran dos Reis, meteorologista do Instituto Clima Tempo explica que essas mudanças bruscas nos últimos 30 anos mudaram as delimitações das estações climáticas e a intensidade dos eventos naturais, ocasionando chuvas sob a forma de fortes tempestades, rajadas de vento, além de uma grande concentração de descargas atmosféricas. Há uma coincidência entre o aumento da temperatura do planeta e as mudanças climáticas. “O aquecimento global é estudado desde 1870, após o início da revolução industrial, e o dióxido de carbono, presente na atmosfera do planeta, que antes equilibrava as temperaturas na Terra, a cada ano tem sua concentração aumentada e consequentemente aumenta também a temperatura no planeta. Podemos perceber um aumento médio de 0, 7 graus na temperatura nos últimos 100 anos”, explica Ruibran. Esse valor pode ser considerado pequeno, mas se analisado localmente, na Europa e Ártico, ocasionou um aumento de três a quatro graus. Em Minas Gerais, que já teve invernos oscilando entre dois e três graus, registrou 37,1º em outubro de 2012, maior temperatura registrada no Estado nos últimos 102 anos. Ruibran afirma ainda que as “ilhas de calor”, localizadas nas grandes cidades, causadas pela impermeabilização do solo, pioram o problema. “Belo Horizonte já possui legislação para sensibilizar a população acerca do impacto da urbanização descontrolada nas alterações do clima, mas é necessário um trabalho muito grande, que parta da conscientização dos governantes, para diminuir esse aquecimento do planeta. Que, se não for tratado, pode ser de quatro a cinco graus, nos próximos 100 anos.” Douglas Satler dos Reis, demógrafo formado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que a grande concentração populacional nas grandes cidades, tem causado impactos como mudanças climáticas e alterações nos padrões de precipitação de chuvas, o que pode provocar escassez de água ou problema de drenagem, o
que causa inundações. De acordo com Douglas, o grande desafio é pensar os grandes impactos globais com as mudanças climáticas do ponto de vista local. É importante que os gestores descubram como as cidades se adaptarão a um cenário climático diferente no futuro e como minimizar os problemas trazidos por essas mudanças. Estudos da ONU e do Banco Mundial feitos em 2011 já demonstram preocupação com tais impactos. De acordo com as pesquisas, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro têm legislações específicas referentes às mudanças
“É preciso um trabalho muito grande, que parta da conscientização dos governantes, para diminuir o aquecimento do planeta” Ruibran dos Reis
climáticas, que tratam, inclusive, do percentual de redução de emissão carbono que as cidades são obrigadas a programar nos próximos anos como medidas de mitigação. Mas, para que o trabalho seja efetivo, é necessário que sejam promovidas ações integradas junto às regiões metropolitanas. O perigo das inundações
Com as alterações climáticas, um dos principais problemas vivenciados é o período de emergência pluviométrica, que começa no mês de outubro e pode durar até o início do ano seguinte. Com o aquecimento global e o aumento da precipitação de chuvas, são comuns quedas de árvores, falta de luz, desmoronamentos e alagamentos, que todos os anos oferecem riscos à população. Em Belo Horizonte, medidas de contenção estão sendo estudadas como alternativas para garantir a segurança da população. De acordo com o coronel Alexandre Lucas, coordenador Estadual da Defesa Civil de Minas Gerais, será feito um monitoramento em pontos da cidade com risco de alagamento. A capital possui estações hidro meteorológicas instaladas em vários pontos, que emitem sinais dos níveis de água a cada dez minutos. Porém, em nove pontos da cidade, os alagamentos ocorrem em menos de dez minutos e será
necessário destacar agentes de Defesa Civil, Polícia Militar, BHTrans e Guarda Municipal para monitorar a elevação do nível da água e, tão logo percebam situações de enchente, interrompam o trânsito no local, impedindo, que pessoas fiquem presas em locais de risco. Os pontos mais críticos são locais que possuem córregos subterrâneos ou aparentes como as avenidas Francisco Sá, Cristiano Machado com Bernardo Vasconcelos e com Sebastião de Brito, Prudente de Moraes, Tereza Cristina e parte da Vilarinho. Além das equipes in loco nos períodos críticos, há meteorologistas monitorando todas as estações da cidade e, a partir do momento em que se detectarem nuvens fortes se aproximando, os agentes serão deslocados imediatamente para os pontos críticos. O papel principal dos agentes será tentar parar o fluxo de trânsito antes que os alagamentos, que levam de quatro a seis minutos para acontecer, peguem os motoristas de surpresa. De acordo com o coronel Alexandre, não se trata de matemática, é impossível programar e garantir que tudo sairá exatamente como desejado. Todavia, o trabalho é feito no intuito de prevenir mortes e ferimentos nas inundações. Que, infelizmente, seguem vitimando mais e mais pessoas a cada ano.
Entre o fim e o início do ano, chuvas torrenciais surpreendem pessoas que passam por pontos críticos da cidade
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Obstetrícia
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A melhor maneira de chegar ao mundo Contrariando recomendação da ONS, mais da metade dos brasileiros nasce por meio de cesariana. Por que o parto normal ainda não é a escolha da maioria das mães? Marcela Martins Raquel Braga 8º PERÍODO
O pequeno Miguel nasceu com saúde, depois de um parto normal que a sua mãe, Aline Valentim, considerou muito tranquilo. “Senti dor, sim, mas uma dor suportável. Não é tão assustador. Minha bolsa estourou de madrugada. No momento em que entrei na sala de parto, minha dilatação já estava completa e eu nem precisei tomar a anestesia”, conta. A professora diz, porém, que quando começou o pré-natal, ainda não sabia por qual tipo de parto ia optar. “Eu esperava que meu corpo desse sinais, e foi o que aconteceu”. Não há um tipo de parto ideal para todas as mulheres. Cada gestante deve ter a liberdade de escolher como quer ter seu filho. Entretanto, raras são as situações em que a cesariana é a opção mais vantajosa. Ainda assim, mais da metade dos partos feitos no Brasil são por meio do ato cirúrgico, o que garante ao país a maior taxa de cesariana do mundo: 52,3%.
Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa taxa não ultrapasse 15%, não há, em Belo Horizonte, nenhuma maternidade privada com índice inferior a 64,1%. De acordo com o obstetra do Hospital Sofia Feldman, Dr. Edson Borges de Souza, quase nunca a cesariana é uma recomendação médica que proceda. “Há algumas situações em que as pessoas acham que a melhor opção é a cesárea, mas não é. Mesmo quando bebê fica com cordão umbilical enrolado no pescoço, por exemplo, não há problemas (em se optar pelo parto normal)”, explica. O médico ressalta que as vantagens do parto normal são inúmeras. O risco de infecções e a chance de complicações são menores, e pouco depois de dar à luz a mulher pode ir para casa. Além disso, a ciência já comprova que o processo de nascimento é importante para que a criança se adapte no ambiente extra-uterino. Com o parto normal, diminuem as chances de ela ter problemas respiratórios ou de peso insuficiente. “Há um exagero descabido de
cesarianas”, garante o Borges. O obstetra afirma que a maioria das mulheres chega para fazer a primeira consulta de pré-natal disposta a fazer o parto normal, mas, à medida que o acompanhamento avança, elas mudam de ideia. “Para o médico, é mais vantajoso fazer a cesariana, já que ele agenda com a paciente o dia e o horário. O que acontece hoje é uma escolha induzida, e muitas vezes antiética pela cesárea”, condena. A mulher como protagonista
Durante anos o parto foi encarado como um procedimento cirúrgico, mas hoje a consciência de que o nascimento é um processo natural vem ficando cada vez mais forte. A ideia da mulher como protagonista está muito ligada a um conceito novo, chamado parto humanizado. Que não vem a ser uma terceira modalidade, mas sim uma filosofia que deve reger os procedimentos, sejam eles normais ou por meio de cesarianas. A filosofia do parto humanizado defende que é a mulher quem deve escolher como será o parto. Para isso, ela deve ser informada
Mesmo com inúmeras desvantagens, a cesariana ainda é a escolha de muitas mulheres
de todos os benefícios e malefícios de cada uma das opções, mas deve ter a palavra final sobre qual acha melhor. As decisões da mulher são levadas muito mais em conta que em qualquer procedimento convencional. A contadora Michelle Araújo, mãe de Maria Fernanda, estava decidida pelo parto normal desde o início da gestação. Porém, na 36ª semana, descobriu que o cordão umbilical estava enrolado no pescoço do bebê, e decidiu marcar uma cesárea. “O médico disse que não teria problema fazer o parto normal, pois a volta que estava no pescoço dela estava frouxa, mas eu não quis arriscar”, lembra. Três dias antes da data marcada, porém, ela passou mal e chegou ao hospital com cinco centímetros de dilatação. “Eu estava insegura e sentindo muita dor, então preferi a cesárea”. Em função do procedimento, Michele precisou ficar três dias no hospital. Se optar pelo parto normal, a mulher pode escolher se prefere ter o bebê em casa ou num hospital. A presença do médico também é dispensável, caso a parturiente prefira assim. Ele pode ser substituído por uma enfermeira ou por uma doula. Que não é uma parteira e não faz qualquer tipo de procedimento invasivo na parturiente, bem como não está apta a administrar medicamentos. Segundo a doula Helena Villas Bôas, o papel dessa profissional é incentivar e contribuir com a elaboração de um plano de parto. “Durante a gestação, ou até mesmo antes de a mulher engravidar, a doula utiliza todos os meios de que dispõe para auxiliar no fortalecimento da gestante, para que ela, ciente dos prós e contras, possa fazer escolhas conscientes e buscar resposta às suas expectativas para um parto seguro e saudável”, explica. Helena afirma, entretanto, que há uma tensão exagerada em torno de uma função básica, simples, do corpo feminino, uma falta de confiança na capacidade da mulher moderna em parir seus filhos. “O papel da doula se faz importante nesse momento. Ela é uma presença segura, livre de cobranças ou julgamentos em relação à gestante e que vai estar atenta para preservar o ambiente, a privacidade e a tranquilidade da mulher”.