Jornal do Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBH
Ano 34| Nº 201 Belo Horizonte | MG
Junho | 2016
Danilo Silveira
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Dossiê gastrô: motéis, botecos, chefs cegos e ingredientes raros páginas 4 a 9
Xarás de pessoas famosas vivem agruras e constrangimentos página 12
E Você,
Escritores discutem as múltiplas faces da literatura distópica
tem fome de quê?
caderno DO!S
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primeiras palavras
Junho de 2016 Jornal Impressão
Sabores mil Wilson Albino Ao se enveredar pelo IMPRESSÃO 201, você vai desembocar em prazeres diversos. O dossiê Gastronomia está no ponto, para agradar, aos mais finos paladares. Em “Gulosa luxúria”, nossos repórteres foram à caça das delícias servidas em motéis. Em “Os olhos não veem, mas o paladar sente”, conheça pessoas cegas que não precisam de ajuda para cozinhar. Em “Os olhos não veem e o paladar não sente”, talvez você se surpreenda ao saber que certas guloseimas levam, por exemplo, dejetos em sua composição. E que tal se aventurar em bares de procedência questionável? Se seu gosto é mais hard, você vai curtir a repor-
tagem sobre os famigerados botecos “copo sujo” – estabelecimentos onde os proprietários são espetáculos à parte. Neles, os repórteres do IMPRESSÃO, entre um petisco e outro, tragaram cachaças que se marcam mais pelo nome, pela cor e pela fragrância do que pelo gosto em si. Tudo isso ao som da boa e velha jukebox. Na seção “Tramas Contemporâneas”, é provável que você se indigne com o magistrado trapalhão, que confundiu quem movimenta fundos em bancos com aquele trabalha com bancos para fundilhos... É possível, também, que se compadeça dos vendedores ambulantes, gente que se arrisca às margens da BR-040, em engarrafamentos, no frio, na chuva ou no
calor, para conseguir o sustento da família. Você vai se emocionar, ainda, com as histórias de pacientes que viajam centenas de quilômetros até BH, em busca de tratamento especializado, e aguardam ansiosos pelo auxílio do Sistema Único de Saúde (SUS). Também há de se embalar ao ritmo da coragem de quem vai à luta para conseguir a carteira de motorista. Talvez você até se sinta esperançoso em saber que muita gente se importa com causas ambientais. A preservação da Serra da Moeda está, sempre, em pauta. O Caderno DO!S trata, dentre outras coisas, de liberdade vigiada. A vida em condições de extrema opressão, desespero ou privação, em uma abordagem cinematográfica, televisiva,
expediente
musical e, sobretudo, literária da distopia. Em “Miragem? O circo é real!”, há reportagem e belas fotos sobre a magia reinante nos picadeiros. Artistas e plateia afinados, acordados em um sonho – gente grande transformada em criança. Já em “Diga-me o que veste...”, nossos repórteres, livres na noite, desvendam o que há de fabuloso em boates que cobram verdadeiras fábulas de seus clientes. Na Bienal do Livro de MG, nossa repórter assistiu à celebração do encontro com autores, livros e leitores, e traduziu tudo em “Sou (exatamente) o que leio”. Em “Eu e Matusalém no Parque da Mônica”, dois adultos viajam aos tempos da infância. Ao lado das criações de Maurício de Sousa, os
amigos contam que quase ficaram ensandecidos – primeiramente, por realizarem um sonho de criança, e, depois, por escutarem os preços absurdos dos objetos à disposição dos bolsos dos frequentadores. “Ela realmente existiu?”. A pergunta tem a ver com Hilda Furacão, a garota rica do maiô dourado. A personagem do livro de Roberto Drummond, que teria deixado sua vida confortável para se tornar profissional no baixo meretrício belo-horizontino. Em “A veracidade que liberta, à página 11, uma análise crítica e paralela entre o cinema e a literatura sobre a paixão de Cristo. Este jornal, à bem da verdade, é um múltiplo convite a um banquete. Bom apetite! Ou boa leitura!
VICE-REITORA Profa. Vânia Café
INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGN Profa. Cynthia Enoque
COORDENAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMO Prof. João Carvalho
LABORATÓRIO DE JORNALISMO EDITORES Prof. Leo Cunha Prof. Maurício Guilherme Silva Jr.
DIAGRAMAÇÃO Juliana Rolim (LEGRA)
PROJETO GRÁFICO Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)
ESTAGIÁRIOS Danilo Silveira Rodrigo Oliveira Wilson Albino
ILUSTRAÇÃO William Araújo
em uma redação qualquer... william araújo
PARCERIAS Laboratório de Jornalismo Online Laboratório de Fotografia Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)
IMPRESSÃO/TIRAGEM Sempre Editora 2.000 exemplares
Eleito o melhor Jornal-laboratório do país na Expocom 2009 e o 2º melhor na Expocom 2003 O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pelos professores Maurício Guilherme e Leo Cunha, com os alunos do curso de Jornalismo do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço. Participe do JORNAL IMPRESSÃO e faça contato com a nossa equipe: Av. Mário Werneck, 1685 BH/MG CEP: 31110-320 Tel.: (31) 3207-2811 Email: impresso@unibh.br
visão crítica
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Wilson Albino Sempre senti pena de quem curte música, literatura ou cinema, mas o faz descompromissado, sem apego, sem tesão algum. Não consigo, não quero e nem tento me segurar. Viaaaajo! Mergulho mesmo nos ritmos, imagens e palavras. Vivo imerso nesse mar composto por fragmentos de poesia. Quando percebo, por exemplo, que umas artes desembocam em outras, é sinal de que mais uma ponte transdisciplinar foi devidamente pensada, construída e atravessada. A melodia, a harmonia e o ritmo de mãos dadas seguem rumo ao infinito e levam a gente junto. Portanto, saber o que é clave, pentagrama ou semínima não é obrigatório. Quem se arrepia ao ouvir os primeiros acordes da música preferida entende bem do que falo. Depois de envolvido pela canção, sonhar acordado é consequência, não causa. Impor-
tante mesmo é saborear a sonoridade e pensar nos versos que fazem, do ouvido da gente, residência fixa ao invés de porto. Ouvir a mesma canção por vezes seguidas, e ainda assim encontrar outras sonoridades entre os já conhecidos sons. Só quem gosta entende isso, mas não explica. Já fui muitas vezes ao cinema, e acomodado na poltrona, minha imaginação me permite ser outros. Acredito, sinceramente, que a sétima arte seja o lugar da transdisciplinaridade. O terreno fértil em que qualquer tema brota e se ramifica em incontáveis debates. Não há assunto que não possa ser discutido. Aborto, paixão e suicídio podem ser analisados sob o ponto de vista filosófico, por exemplo. Neste aspecto, é a reflexão que se faz presente. E, se a cena é impactante, repito a dose. Assisto duas vezes ou mais. Quase decupo. Passear por entre as construções imagéticas é
um procedimento meu. Mas, se o assunto estiver ligado à literatura, me fisga. Quero porque quero descobrir o nível de linguagem, as estratégias do autor na obra, a construção do sentido, as palavras escolhidas para causar esta ou aquela sensação, as tipologias textuais, os tempos verbais, o que há imbricado na base narrativa, os diálogos do livro com outras obras etc. Afora isso, comtemplo elementos linguísticos, itens lexicais e estruturas sintáticas. Abro aqui um parêntese apenas para dizer que não se trata de “encheção” de linguiça, não. Os tópicos tratados neste parágrafo são fatores de coerência (o que torna possível a compreensão do texto à pessoa que o lê) e coesão (tudo que diz respeito às relações de sentido que sucedem dentro do texto). A cultura quebra dogmas ao abordar tabus. Com isso, dissolve preconceitos há tempos arraigados. É ela que promove revolução, e, por causa disso, eter-
Danilo Silveira
Bem cultural
nas certezas se tornam efêmeras; discursos são encorpados, blindados e turbinados; estruturas sociais, imagéticas ou literárias são expostas; olhares, pensamentos e atitudes são convertidos. Quem seguir outros caminhos tem mais chance de se decepcionar e, não raras vezes, de se isolar em redomas permanentes. A cultura, antes de qualquer coisa, facilita o entendimento por meio da contextua-
lização. Quem congrega cultura há de sempre edificar moradas em mundos reais ou imaginários. A falta de conhecimento de mundo aleija a percepção, bloqueia a possibilidade de se enxergar novos horizontes. Que dó! Que dó daquele que não vê sentido em literatura, música, teatro, dança, pintura ou cinema. Às vezes, vive-se uma vida inteira sem descobrir
que o mais importante habita no cerne, ou seja, muito distante da aparência. Muito além de ponto de partida, a cultura serve de escudo, chão, oxigênio, alimento e rede. Por meio dela, mudam-se ideias fixas. Quem é sábio não acredita que o poder aquisitivo, a orientação sexual ou a cor da pele sirvam de parâmetro para medir a essência de alguém.
rodapé O prazer de uma dança
O que será, que será?
Anderson Pena
Francyne Perácio
Distração é a palavra que define as terças-feiras da aposentada Maria José Mendes, de 70 anos, que participa das aulas de dança cigana de um projeto social da igreja São José, no centro de Belo Horizonte. Lá, Maria se encontra com as amigas para compartilhar momentos agradáveis. O exercício da busca pelo prazer da dança já dura cerca de três anos. Ninguém pode negar que dançar é arte. O prazer maior para Maria, contudo, é o
calor humano. “Passo o tempo assim, leve em ver essas pessoas alegres, animadas e vestindo roupas tão lindas. Amo muito isso”, afirma. Dizer que dançar faz bem parece óbvio, mas Maria diz ser mera espectadora daquele show gratuito. “Fico feliz só de ver minhas amigas dançarem. Aprecio o gesto e a desenvoltura delas, o que me distrai bastante. A professora é ótima e me deixa bem à vontade no meu cantinho”, ressalta. Maria é apaixonada por música e dança. E o que ela julga ser mais
importante se resume à palavra afeto. Os sinais da idade certamente chegam para todos, e, nessa caminhada da vida, muitos se vão. Por isso, ela diz ser importante aproveitar até o último dia de sua jornada. “Enquanto eu puder vir e ficar junto dessa gente maravilhosa, estarei presente. Aqui, não importa a idade. O que vale é o amor ao próximo”, afirma. Por fim, ressalta: “O prazer não está somente em dançar. Ela pode estar em todos os lugares; inclusive, no olhar”.
Já aproximava das 13h, a sensação de calor era de 35º, o fluxo de pessoas era intenso, e o 4106 (Linha Santo Antônio/São Cristóvão) não chegava. Figuras curiosas circulavam pela praça Sete de Setembro, pessoas de todos os estilos, idades e classes. Umas a passeio, outras às compras, outras tantas como eu, indo ao trabalho. Com o passar dos minutos, no vai e vem dos ônibus, um casal estranhíssimo aproximou-se do ponto. Os
olhares de todos se voltaram a eles. Mas o que poderia ser tão bizarro a ponto de convergir toda a atenção para eles? E na Praça 7, onde milhares de transeuntes circulam? Uma adolescente distraída com o funk que tocava estridentemente em seu fone, não conseguiu conter sua expressão de surpresa. Nessa hora eu informava qual linha de ônibus iria para a região da Savassi, a uma moça que trazia em suas mãos uma lata de cerveja. Ambas paramos a conversa e
desviamos o olhar às formas peculiares que ali se apresentavam. O motivo de tanta curiosidade era um casal muçulmano que aguardava o transporte público para prosseguir. A mulher usava uma burca preta, e apenas seus olhos estavam descobertos, o homem, porém trajava uma calça jeans, camisa social e tênis, o que o caracteriza como tal, era seu nariz comprido, pele morena, olhos e barbas grandes. Eles entraram no ônibus e seguiram com sua rota, e tudo voltou como estava antes.
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DOSSIÊ GASTRONOMIA
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Gulosa luxúria
Lucas Duarte
Motéis investem em boa gastronomia e despertam interesse do público, com cardápios sazonais e serviço à la carte
Para encher os olhos e aguçar o paladar: motéis de BH mostram que também são bons na arte gastronômica. Para manter o pique de uma boa noitada, o corpo deve estar muito bem alimentado.
Lucas Duarte Michelle Martins Myrna Martins Paula Gargiulo Pequenas escadas levam ao silêncio em meio à movimentação da rodovia. São 10h30. A cama se revela impecavelmente estendida, com lençóis brancos. Sobre o chão, rentes à banheira, potes de shampoo e condicionador. Móveis planejados concedem beleza, sofisticação e privacidade ao ambiente, que embala histórias as mais diversas. No frigobar, bebidas alcoólicas, energéticos e água. Sobre ele, balas de hortelã, preservativos, lubrificantes, salgadinhos e um par de escovas de dente. O quarto está preparado para receber um casal. Na suíte do motel, a luz do sol banha a mesa ao centro do quarto. Nela, o cardápio suntuoso chama a atenção pela variedade e pela qualidade dos pratos. Ali, o prazer carnal é alimentado pela gastronomia.
Em meio às opções, o “Café Premium” – mais caro e mais completo -, é pedido. Vinte minutos depois, a campainha toca e o aroma da refeição invade o local. Pães frescos, manteiga, geleias, bolos, barras de cereais, torradas, biscoitos, uvas, fatias de queijos, presunto e ovos mexidos com bacon servidos em bandejas, e com fartura. Ao lado, café, suco de laranja, leite e chocolate quente, tudo embalado, individualmente, por papel filme. Após experimentar o prato, somos guiados à cozinha, pela coordenadora gastronômica e nutricionista de uma rede de motéis em Belo Horizonte. Antes da visita, porém, toucas de cabelo são entregues aos repórteres. “A rotina aqui funciona como em um restaurante. Preparamos todos os pratos com cuidado e capricho”, comenta a nutricionista Sarah Monteiro. O estabelecimento conta com 162 suítes e 16 funcionários respon-
sáveis pela culinária, que se revezam em turnos de 12h por 36h. Naquele momento, três cozinheiras preparam os pedidos. “Os pratos principais que mais saem são o filé à parmegiana e a picanha à moda gaúcha. Quanto às sobremesas, o petit gateau é o mais solicitado”, afirma a nutricionista. O ambiente onde os alimentos são preparados é amplo. Há refrigeradores comerciais que condicionam, separadamente, carnes, frutas, ovos, frios, verduras, legumes e pães. Refrigerantes, sucos e energéticos ficam em duas câmaras frias. Os vinhos são embalados por papel filme, em adega climatizada. Garrafas de whisky, champagne e vodka ficam dispostas em outro refrigerador.
Da cama ao prato Aliar a hospedagem para encontros amorosos ao consumo de alimentos é uma alternativa diferenciada, que pode despertar interesse, justamente,
por unir dois serviços. “Gosto da ideia, pois não preciso me deslocar do motel a um restaurante”, alega Alice*, estudante de Direito. Carolina*, professora do interior de Minas Gerais, afirma que costuma frequentar motéis com boa gastronomia e que ofereçam uma diversidade de opções aos clientes. “Gosto tanto de algumas refeições que, ao engravidar, tive desejo de comer um filé à parmegiana preparado em um dos estabelecimentos que costumo frequentar”, conta. A professora relata, ainda, que o namorado achou engraçado e não levou a sério seu desejo. “Assim que ele chegou em casa, pedi para irmos ao motel, mas deixei claro que era apenas para eu comer o filé”, relembra.
Fique à vontade O sabor das refeições disponíveis no cardápio é um diferencial. “Por prepararem os pratos à la carte – listados no cardápio
-, à medida que os pedidos são solicitados, sentimos mais cuidado, tanto na execução quanto na apresentação da refeição”, analisa Paloma*, também cliente da rede de motéis. Cuidados com técnica de preparo e higiene, na verdade, revelam-se medidas essenciais para se ganhar a confiança do cliente. Por esse motivo, há, na cozinha, um livro com receitas e imagens de todo cardápio do motel, para que as cozinheiras sigam o padrão estético e o sabor das refeições servidas. “Trabalhamos com cardápio sazonal, com ingredientes específicos de cada época do ano, para diversificar o giro dos pratos e aguçar interesse de nosso hóspede”, completa Sarah Monteiro. O cuidado com o funcionário também é uma das práticas da rede de motéis em que a nutricionista trabalha. “Oriento as faxineiras e cozinheiras a não consumirem nenhum alimen-
to deixado nos quartos, mesmo que estejam fechados. Por não termos contato direto com o cliente, não sabemos a real intenção da pessoa que ficou hospedada em nossas suítes, por esse motivo, tudo o que não é consumido, é descartado”, afirma. Certa vez, uma das camareiras do motel foi limpar uma das suítes mais caras do local e ao abrir o frigobar viu um copo de suco de laranja, ainda embalado. “Como estava fechado, imaginou que não teria problema em beber. Porém, acabou passando mal, desmaiou, e até hoje não sei o que de fato havia naquele copo”, revela Sarah. Após esse acontecimento, a nutricionista frisa todos os dias com as funcionárias para não comerem nenhum alimento deixado nos quartos. “O motel conta com refeitório e alimentação exclusiva para todos os funcionários. Peço que elas se alimentem somente com o que trouxerem de casa ou o
DOSSIÊ GASTRONOMIA nados e que queríamos ficar juntos”, relembra. O estudante conta que fez o pedido durante o café da manhã, com a mesa repleta de frutas, doces, geleias e rosas. “Os funcionários do motel foram extremamente atenciosos e me ajudaram em todos os detalhes. O fato do estabelecimento possuir gastronomia própria ajudou a fazer o cenário do pedido ainda mais romântico”, analisa. Luana*, farmacêutica, conta que um motel de sua cidade, Juiz de Fora, foi palco de um dos momentos mais emocionantes de sua vida. “Foi em meio a um jantar em nossa suíte preferida que contei ao meu marido que seríamos pais”, relembra. A farmacêutica diz que o marido ficou tão emocionado que ligou para a recepção para dar a notícia. “A felicidade era tanta que eu não conseguia guardar só para mim. As cozinheiras se emocionaram com minha felicidade, e enviaram para nosso quarto uma taça de petit gateau e no prato, escrito com chocolate, a frase ‘Parabéns papai’, relembra Lucas*, marido de Luana*.
parecia ser muito bonito. Porém, quando chegamos, o banheiro estava molhado e o vaso sanitário entupido”, relembra. Em relação à gastronomia oferecida pelo local, Renata* afirma que também não foi uma experiência satisfatória. “Fizemos um pedido e além da demora, o prato veio errado. Pedimos filé à parmegiana e trouxeram filé com fritas. A refeição chegou fria até o quarto. Para evitar confusão, preferimos não reclamar dos serviços, mas nunca mais voltamos ao local”, relata.
Come quieto O público que frequenta motéis procura por privacidade e nada melhor que aliar diversos serviços dentro de um só ambiente. Por vezes, as quatro paredes de uma suíte abrigam histórias inusitadas e instigantes. Bruno*, estudante de Engenharia Civil, pediu sua namorada em casamento dentro da suíte em que dormiram juntos pela primeira vez. “Era um lugar especial para gente, pois foi nessa suíte que percebemos que estávamos apaixo-
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Culinária requintada Da associação entre prazer sexual e experiências gastronômicas, nasceu o festival “Motéis Gourmet”. Idealizado pelo empresário Paulo Valle, a primeira edição ocorreu em 2012, com 10 participantes. Realizado durante o mês de junho, o evento busca o desenvolvimento de novos pratos e o aumento de hospedagens. O preconceito contra a gastronomia praticada nesses locais também motivou a iniciativa. “O objetivo primário é quebrar a resistência que ainda existe em comer nesse ambiente, e mostrar que suas cozinhas são tão assépticas, funcionais e criativas quanto as dos principais hotéis e restaurantes da cidade”, diz o empresário. Para participar do festival, o motel deve ter cardápio próprio e cozinha industrial adequada. O marketing é feito para despertar o interesse das pessoas. “Há, na cidade, diversos estabelecimentos com excelente gastronomia. O ‘Motéis Gourmet’ quer enaltecê-la e mostrar, para a população, que é possível alimentar-se com qualidade nesses locais”, avalia. O empresário destaca, ainda, que não há competição entre os motéis que participam do evento. “A intenção é promover a culinária executada em cada um deles, de modo a estimular as pessoas a conhecer e a experimentar os pratos especialmente criados, por vezes, para o festival”, diz. A rede de motéis cuja coordenação gastronômica é feita pela nutricionista Sarah Monteiro participou da edição 2015 do evento. À época, dois pratos foram criados com elementos afrodisíacos: a “tilápia entre lençóis” e o “ménage à trois, uma picanha grelhada ao molho poivre. “Isso incentiva os motéis a criarem pratos novos e melhores”, conclui. *Nesta reportagem, foram utilizados nomes fictícios, pois, em função de motivos diversos, os entrevistados não quiseram se identificar.
Enquanto os clientes cuidam apenas de suas fantasias, equipes especializadas se encarregam, nos bastidores, do acondicionamento ideal de bebidas e da assepsia da cozinha
Michelle Martins
uma pesquisa para que o cliente responda sobre o atendimento e qualidade dos serviços do local utilizado por ele. “Essa pesquisa é primordial para termos um retorno e sabermos o que o cliente achou do atendimento e sugestões de melhorias. Uma das perguntas na pesquisa é a limpeza do local e a higienização do alimento entregue”, salienta a nutricionista. No entanto, como ocorre em diversos estabelecimentos, há quem permaneça insatisfeito com a qualidade dos serviços prestados por motéis. A psicóloga Renata* afirma ter experiências negativas com motéis. “Fui seduzida em alguns momentos por propagandas e divulgações em redes sociais desses estabelecimentos, porém, ao chegar lá, percebi que os pratos oferecidos e as suítes em si não eram como o prometido”, afirma. A psicóloga relata, ainda, que ano passado foi com o namorado a um dos melhores motéis de sua cidade, Porto Alegre. “Iríamos comemorar nosso aniversário de namoro e estávamos animados, pois o motel
Michelle Martins
que é servido na cozinha”, diz a nutricionista. Após duas horas de conversas e andanças pela cozinha, visitamos alguns quartos. Durante o percurso, a nutricionista revela que o estabelecimento pretende ir mais longe, com sua culinária, por meio de um buffet para eventos, aniversários e chás de lingerie, a serem realizados dentro das próprias suítes. “Os clientes procuram e merecem o melhor, estamos dispostos a oferecer isso com a máxima qualidade possível”, completa. Nos quartos, devido à rotatividade de pessoas, a limpeza é um dos aspectos mais presentes, pois a má higienização do local e dos utensílios oferecidos pode representar riscos à saúde dos clientes. “Tudo é higienizado antes de ser entregue ao hóspede, do talher ao alimento em si. Garrafas, pratos e talheres são lavados com água e sabão e, posteriormente, com álcool em gel. Após essa etapa, cada objeto é revestido por papel filme”, comenta Sarah Monteiro. Sobre a mesa, ao lado do cardápio, há
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DOSSIÊ GASTRONOMIA
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Copo sujo, prato destemido Gabriel Lacerda
Pouco dinheiro no bolso, apetite pra dar e vender
Em alguns bares, a cachaça e o tira-gosto são o cartão de visitas e a cerveja gelada, o cartão fidelidade
Gabriel Lacerda “Já que Minas não tem mar, eu vou pro bar!” Como já cantado por Alexandre Peixe, nós, mineiros, temos à disposição inúmeras opções de bares e restaurantes. Na capital mineira, resolvi visitar alguns botecos para apreciar sua gastronomia e conhecer seus mitos e lendas. Então, caro leitor do IMPRESSÃO, conheça mais sobre os famosos “copos sujos” de Belô. Se você ainda não tiver idade para beber uma ‘marvada’, não se preocupe. Os botecões têm opções de bebidas que se adequam ao gosto e à idade de qualquer cidadão, além de cardápio variado, com opções talvez não saudáveis, mas gostosas. Então, vamos lá! Para dar início à jornada dos bares, escolhi começar pela região Norte de BH. Minha primeira vez foi impactante! Tinha grandes expectativas, ficava pensando se aquele seria o bar certo,
queria lembrar daquilo por toda minha vida... Pois bem, acertei em cheio! O Bar do Gatão me surpreendeu em vários aspectos: público, comida, ambiente e preço. Já tinha em mente que não seria caro, mas acho que comer e beber por R$ 2 foi um ótimo negócio. Antes de entrar, observei bastante o local e quem estava lá dentro. Fiquei em dúvida se tinha alguma restrição, pois dentro do bar só havia homens com bigode de general, sandália e blusa aberta. Depois desta observação, entrei e fui muito bem recebido pelo proprietário. Claro que ele achou estranho, mas logo começou a prosear comigo e foi contando histórias da região. Geraldo Rocha, dono do boteco e mais conhecido como “Gatão”, conta que os clientes são mais conhecidos e o público é fiel. “Tem 22 anos que estou aqui. Meus irmãos trabalhavam antes de mim e agora
eu tomo conta. Antes ficava aberto até o sol nascer, mas essa região ficou perigosa e cheia de bandido, e agora tenho que fechar às 19h”. Depois dessa conversa, perguntei ao Gatão qual eram o prato mais pedido e a bebida mais vendida. Ele não titubeou, preparou uma pinga chamada Daquelas e um pastel de carne. Antes, fez uma coisa inusitada: pediu minha identidade, para ver se eu era maior. Uma atitude que, geralmente, não acontece mais. Logo em seguida, peguei a marvada e o pastelzim. Pode parecer loucura, mas o sabor da mistura “pastel-Daquelas” foi único, e, digamos, sensacional. Vendo toda aquela movimentação no bar, um dos amigos e cliente do Seu Gatão, Aroldo Ribeiro, começou a interagir e contou que frequenta o bar desde 2004. Cada reboco da parede fazia parte da sua história. “Eu moro perto de dois bares, mas prefiro aqui. Tenho que andar para
chegar ao Gatão, mas beber com os amigos é melhor do que beber sozinho. Tomo uma cervejinha para relaxar, uma pinguinha para abrir o apetite e vou embora”, conta. Depois do bate-papo, e de experimentar o prato do dia – de todo dia – da casa, permaneci na Região Norte e perguntei para algumas pessoas sobre algum bar aonde poderia ir. Não ache, caro leitor, que tive preguiça ou estava sob efeito da água que passarinho não bebe. Fui orientado a conhecer o Bar dos Amigos, antes de seguir “viagem” e, por isso, fiquei. Curioso com o local, antes mesmo de atravessar a rua, avistei de longe um barzinho pequeno, com pouca iluminação, letreiro de tinta com duas letras coloridas e as demais em branco. Achei genial a publicidade: uma mesa de ferro do lado de fora, com um homem lendo jornal. Posteriormente, entrei e pedi ao senhor que estava no balcão,
que me recebeu com a cara fechada, para comer uma almôndega depositada numa vasilha com caldo, na estufa. Fiquei preocupado se o aperitivo não estava estragado. Resolvi o problema de forma criativa. De acordo com o ditado popular, “o que não mata, engorda”. Fui à padaria, a cerca de 3 minutos do bar, comprei um pão de sal, fiz uma espécie de sanduíche e comi. Foi uma sensação diferente: a bolinha de carne tinha tempero bem forte e apimentado. Perguntei ao atendente, que já estava com a cara fechada para mim, e ele disse: “Miolo é assim mesmo!”. Pois bem, comi miolo de boi sem saber o que era. Não vou mentir que estava bom, mas, se eu soubesse o que era antes de comer, talvez não tivesse encarado.
“Marvado” centrão Saí da zona Norte de Belô e fui direto para o centrão. Rodeado por inúmeros bares, lanchonetes e restaurantes na região, foi difícil selecionar um local com o padrão IMPRESSÃO de “copo sujo”. Chegando à Praça Sete, encontrei meu amigo e companheiro de faculdade, Thiago Fonseca. Apesar de não sabermos aonde ir exatamente, decidimos caminhar sem rumo. Cogitamos até a possibilidade de ir a bares nos hotéis na zona boêmia da capital, na rua Guaicurus. Mudamos de ideia e perambulamos pelas ruas. Ao longo da caminhada, percebemos que o movimento estava intenso, no período da tarde, e que alguns bares apresentavam a mesma estrutura física para receber os clientes. Conversei com os “gerentes” de dois botecos, que me
explicaram o motivo de os bares estarem tão lotados. “Não podemos ficar aqui até mais tarde. Os assaltos têm aumentado bastante na região e não estamos lucrando tanto”, afirma Gleisson, dono de um dos primeiros bares que encontrei. Por mais que a criminalidade atrapalhe o comércio, alguns barzinhos ficam abertos até mais tarde, e, graças a isso, começo minha jornada no centro. Na avenida Santos Dumont, vimos um boteco diferente dos demais. As comidas ficavam logo na entrada do bar. Não eram salgadinhos, mas pratos. Tropeirão, pururuca, dobradinha, linguiça e o famoso torresmo de barriga. Este último era lindo, e brilhava de forma que não vou esquecer tão cedo. Para alívio de Thiago, não pude saciar minha vontade, pois era salgadinho o preço do tira-gosto. As mesas eram típicas de barzinho de esquina, de ferro e amareladas. O público era diversificado. Encontrei gente que aparentava entre 20 e 30 anos, bebendo cerveja e jogando conversa fora. O que mais chamava a atenção era a quantidade de porções que saíam para as mesas. Vendo toda aquela comida, resolvemos experimentar uma pururuca e uma pinga. Pedimos ao garçom que servisse a melhor cachaça da casa, mas que maneirasse na dose, pois teríamos que ir a outros locais. Feito isso, o bom atendente, Márcio Pereira, nos serviu a famosa Vale Verde. Diante de várias pessoas que dominavam a arte de beber umazinha, resolvemos virar de uma vez e não fazer cara feia. Só tentamos, mesmo, pois nossa cara feia
DOSSIÊ GASTRONOMIA
Gabriel Lacerda
populares. Diante de tanto espanto, foi inevitável conversar com a dona do bar sobre como é trabalhar num botecão no centro, em meio a tantos homens. “Uns clientes querem algo além, mas, aí, é só agir com delicadeza ou mostrar o porrete”, conta Sandra de Jesus. Desde quando abriu o bar, há cerca de oito meses, não ocorreram casos graves e os fregueses a respeitam. O bar é pequeno, a estufa fica ao fundo e são servidas porções feitas na hora. A jukebox cuida da sonoplastia. Enquanto isso, a simpatia de Sandra contribui para que o lugar seja bem aconchegante. Ficamos só na cerveja, devido a problemas técnicos, do estilo “falta de verba”. Finalizado o roteiro, podemos concluir que BH realmente é a capital dos bares. O carisma, a comida, as bebidas, as pessoas e o preço de tais ambientes proporcionam incríveis experiências. Se um dia o caro leitor for a algum barzinho, vir um público diferente, ouvir músicas de corno e sentir cheiro de gordura, saiba que está em um típico boteco copo sujo mineiro. E que será muito bem tratado ali.
Diante dos perigos da cidade, Seu Gatão deixou as barbas de molho
Gabriel Lacerda
Bar das Meninas Depois da vergonha, agradecemos ao Márcio e saímos de lá. Ah, acho que pelo divertimento que causamos aos clientes, o dono não quis nos cobrar. Prosseguindo o passeio, andamos até a avenida Amazonas e encontramos um bar que lembrava um cenário de velho oeste. Com as prateleiras cheias de bebidas, das quais nunca ouvi falar, um funcionário chamado Joaquim e bolinho de bacalhau na estufa, parecia que estava em algum bar de Portugal. Só parecia, mesmo, pois, de repente, o DJ do local, vulgo clienteque-compra-ficha-para -a-máquina-de-música, pôs um “Menino da Porteira” para tocar e a viola comeu solta. Para acompanhar a voz de Sérgio Reis, pedimos a mais “marvada” pinga do bar: Cana-brava. Foi um pouco decepcionante, pois ela não era tão brava como a Vale Verde, nem queimou nossas gargantas. Depois de enfrentar uma dose, pegamos um gostoso bolinho
de bacalhau, apesar de gorduroso e apimentado. Sentamos no banquinho de madeira próximo ao balcão para observar as pessoas. Na hora, percebi que estávamos sendo observados desde o momento que entramos. Olhares atentos e com ar de suspense acompanhavam cada passo nosso. O legal é que as pessoas puxavam conversa para saber o que fazíamos ali. Um dos fregueses do Bar do Joaquim perguntou se era excursão de escola. Vale ressaltar que este mesmo freguês já tinha tomado algumas doses extras da branquinha e umas cervejinhas a mais. Depois de dois bares em uma hora, pensamos em achar um lugar que chamasse a atenção. Nessa hora, caro leitor, avistamos uma placa com nome diferente: Bar da Meninas. Surgiu o questionamento: será que podemos entrar ou é exclusivo para o público feminino? Curiosos, como todo bom jornalista, entramos no bar e tivemos uma surpresa. Fomos recebidos por uma bela senhorita de meia idade, de pele morena, cabelos lisos negros, com uma beleza encantadora. Como procedimento padrão, pedimos a comida e a bebida mais
Um bom copo sujo a gente percebe nos detalhes: música de primeira e petiscos de segunda (ou vice-versa)
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Gabriel Lacerda
virou motivo de piada no bar. Nunca bebi algo tão forte, que fizera minha garganta queimar fortemente. Thiago tossia sem parar.
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DOSSIÊ GASTRONOMIA
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o olho não vÊ, MAS o paladar sente Pessoas com deficiência visual falam como é cozinhar no escuro Nesta reportagem, escrita por uma aluna de Jornalismo que perdeu a visão aos 10 anos de idade, você conhecerá a história de três cegos que cozinham. Mesmo sem a possibilidade de apreciar as cores, Celia de Sousa, Alfredo Barbosa e Ronaldo da Silveira descobriram uma forma de explorar os sabores e aromas da gastronomia.
Superação Alfredo, 31 anos, ficou cego aos 25 anos, em decorrência de diabetes. Quando se descobriu com essa limitação, percebeu que teria que alcançar sua independência e aprendeu a cozinhar. Antes da cegueira, fazia apenas bolos, doces e afins. Depois, se aventurou nos alimentos diet, achocolatados e sucos. Cozinhar, para Alfredo, é um prazer. Ele
conta que, no início da limitação visual, teve dificuldades, porém aprendeu a cozinhar foi na prática. Quando tinha dificuldades, entrava em contato com pessoas que lhe pudesse auxiliar.
De mãe para filha Já Celia de Sousa aprendeu a cozinhar aos 10 anos, com a mãe. No ano seguinte, fez o curso de AVD, “Atividade da Vida Diária”,
no Instituto São Rafael, que atende alunos cegos em Belo Horizonte, não apenas em salas de aulas, para ensino regular, mas também com cursos de reabilitação, a exemplo do AVD. Célia relata que, no início não sentiu muita dificudade, já que enxergava melhor. Depois que ficou cega não sentiu dificuldade, pois já cozinhava antes. Para saber quando o alimen-
to já está cozinhando, ela presta atenção ao barulho da trempe. Outro truque usado por Célia para perceber que o fogo está aceso é colocar a mão úmida pouco acima da trempe. Ela se dedica a pratos os mais diversos, mas não gosta de fazer frituras, porque “o óleo acaba espirrando”. Garante, porém, que faz isso por cautela, já que nunca recebeu um pingo de gordura.
Independência Ronaldo já nasceu cego, em função de uma atrofia do nervo ótico. Apesar disso, cozinha há cerca de 20 anos, desde quando foi morar sozinho. Igualmente a Célia, ele não gosta de fazer comidas fritas. O que considera mais difícil é fazer bife. Enfim, há uma “luz” no fim do túnel, mesmo para aqueles com deficiência visual. William Araújo
Ana Borges
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o olho não vÊ E o paladar não sente
Apesar do sabor delicado de certas comidas, seus ingredientes são os mais “intragáveis”
Anna Elisa Oliveira Ariel Thêmis Já dizia Oscar Wilde (1854-1900): “A vida imita a arte mais do que a arte imita a vida”. Diante do título desta reportagem, você deve estar se perguntando: o que a frase do escritor e poeta irlandês tem a ver com ingredientes inacreditáveis? Antes de responder, lembremonos do remake do filme A fantástica fábrica de chocolate, de 2005. Numa curiosa cena, o protagonista Willy Wonka, responsável pelos produtos da marca fictícia, chega a uma ilha e começa a explorá-la. Em certo momento, um inseto voador passa pelos olhos de Willy, que o parte ao meio com um facão. No frame seguinte, o inesperado: o curioso personagem lambe aquele sangue gosmento preso à lâmina. E, então, você se questiona, novamente: “O que isso, afinal, tem a ver com ingredientes inacreditáveis?”. Em primeiro lugar, tais matérias-primas alimentares podem estar mais próximas de sua realidade do que imagina. Afinal, quem nunca comeu uma daquelas balinhas com “casca durinha”? Pois bem: essa “casca durinha” –
e muito agradável ao paladar – é composta por um dos tais “ingredientes inacreditáveis” desvendados nesta reportagem. E que rufem os tambores ao primeiro da lista: a goma-laca! Segundo Renato Lins, professor de Engenharia de Alimentos, a substância se compõe de corante avermelhado extraído de um inseto chamado Cochonilha, uma espécie de pulgão. O processo de extração é feito a partir dos tecidos do animalzinho, e o ingrediente é considerado natural na culinária. Quanto aos usos da substância, a história revela outras de suas funções, para além da alimentação: “Desde antigamente, tais produtos são usados de forma empírica, ou seja, as pessoas há centenas de anos, recorrem ao inseto, por exemplo, para fazer maquiagem, à maneira do que fazem certos índios brasileiros ao tingirem-se de urucum. Um dia, alguém teve a ideia de usar o Cochonilha em alimentos”, explica o professor. Seria esse “alguém” um parente de Willy Wonka? Em uma loja de artigos para confeitaria, em Belo Horizonte, a cliente Suene Matos diz desconhecer o in-
grediente e sua origem. “É algo que passa despercebido porque ninguém imagina que um inseto tenha sido usado no corante”, confessa, ao lembrar, contudo, que, no Brasil, há lugares onde as pessoas se alimentam, justamente, de insetos. “Eu já comi farofa de tanajura, mas, em doces, é novidade. E parece bem normal, pois estou até comprando essas balinhas para o aniversário da minha filha”, completa.
Rumores Tudo bem! Mas, e o que dizer sobre a vida imitar a arte? Desculpe-me, Oscar Wilde, há exceções nessa frase. Em outra cena do filme, Wonka diz a um dos visitantes que barras de cereais são feitas com lasquinhas de lápis. Acontece que, no dia 22 de fevereiro de 2016, o site da Folha de S.Paulo postou a seguinte reportagem: “Indústria americana adiciona madeira à composição de seus queijos”, em referência ao parmesão ralado. O texto revela que determinada empresa adicionava lasquinhas de madeira ao produto para que permanecesse “soltinho”. O professor Renato Lins, contudo, afirma não haver fundamento
no método abordado pelo jornal. “No processo a celulose microcristalina, que impede a absorção de umidade. Não se rala a madeira e põe no parmesão”. Segundo a nutricionista Rayane Marques, a celulose é um tipo de fibra dietética, bastante encontrada em legumes, verduras e produtos diet. Já em 29 de julho de 2011, a revista Galileu publicou breve reportagem intitulada “Comidas do dia a dia têm ingredientes nojentos”, em que cita o fato de a L-Cisteína, substância retirada do cabelo, ser encontrada em pães industriais. Bem... Calma! Conforme dito antes, nem sempre a vida imita a arte. O pão de forma que conhecemos não é feito com fios de quaisquer pessoas por aí. “A L-Cisteína é um aminoácido simples, composto de proteína que conserva os alimentos”, explica Renato. Os seres humanos contam com o elemento nos cabelos e nos pelos corporais, mas o que consumimos não é obtido dessa forma. “O aminoácido, de origem natural, é pulverizado. Para ser conservante, obtém-se concentração elevada para extração. Bifes e farinha, por exemplo, são compostos
desse tipo de proteína”, completa. Ainda na reportagem da Galileu, aparece a substância castóreo. O composto é extraído das secreções – fezes e urina – do castor e serve para atribuir sabor e perfume artificiais a alimentos de baunilha e framboesa. A nutricionista explica que produtos submetidos à fiscalização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na categoria “Novos alimentos e ou novos ingredientes”, devem ser devidamente registrados, bem como atender aos requisitos previstos na resolução nº 16/1999, que garante controle sanitário de alimentos e proteção à saúde, além de regulamentar o registro de alimentos e novos ingredientes. A listagem pode ser verificada no site, onde não consta o castóreo. Na verdade, o ingrediente existe e é usado em empresas de certos países, como os Estados Unidos. Gabriel Carvalho, de 16 anos, fez um passeio turístico na Disney de Orlando (EUA), em junho de 2015, e, em terras norte-americanas tomou muito sorvete de baunilha. “Comprei balas de vários sabores, incluindo framboesa. Nunca imaginaria que essas
delícias teriam um ingrediente desses”, confessa. No Brasil, porém, o uso é proibido. “Aqui, a baunilha é extraída da fava da planta Orquídea vanilla”, explica a confeiteira Camila Ferreira, que cursa Gastronomia.
Gelatinas Provavelmente, o leitor já comeu gelatina colorida ou uma deliciosa geleia de mocotó, não é mesmo? Por isso, deve, neste momento, estar a pensar: que descoberta virá agora?! Pode parecer estranho, mas, para melhor compreensão, falaremos, primeiramente, dos tecidos conjuntivos animais, encontrados em cartilagens e ligamentos das juntas ósseas. Nessas áreas do organismo animal, há colágeno, a exemplo do couro bovino. “A partir da matéria-prima nativa, retiram-se a fibra e o colágeno parcialmente hidrolisado, a gelatina. Carnes, ovos, frutas e hortaliças também contêm essa substância”, comenta Rayane. Por fim, Camila Ferreira lembra que, na confeitaria em que trabalha, é bastante usada a geleia de brilho, que também contém colágeno. “Eu sabia da origem, pois, no curso, estudamos uma série de substâncias”, afirma. Ariel Thêmis
Ariel Thêmis
Diversos alimentos são produzidos com ingredientes inacreditáveis
Substâncias improváveis aparecem, até mesmo, na gelatina engraçadinha voltada ao público infantil
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TRAMAS CONTEMPORÂNEAS
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Meu amigo congestionamento william araújo
Às margens da BR-040, vendedores ambulantes lucram com quilômetros de engarrafamento
Em meio aos faróis e buzinas, ambulantes se arriscam no caótico trânsito, para vender garrafas d’água, balas, chocolates, ou frutas
Diego Gonçalves Jean Brito Leíse Costa William Araújo 6h30 – Nossa, você precisa “tapar” aquela fresta. – Que fresta?! – Num tá vendo o sol entrar? – Ah, vi. Nossa, viu... A gente precisa é sair daqui. Imagino que esse seja o diálogo de algum casal morador do chamado “Conjunto Esperança”, nome puxado da memória (bem lá no fundo!) de Claudinho. Casinhas de madeirite, escoras, terreno de terra vermelha batida, muitos cachorros – grandes, velhos, pequenos, filhotes – e, sempre, um televisor. Ora ou outra, há crianças e, até mesmo, uma horta,
mas o que mais se vê são madeiras, mosaico de pau entre becos. Tudo isso em um mesmo lugar: o esmo canteiro entre duas rodovias. Acreditava que tal realidade era coisa de cinema brasileiro, de documentário. Igual ao documentário Ilha das flores, sabe?! Mas, não! Está tudo ali, amarrado à beirada da rodovia por onde sempre passei. E o “Conjunto Esperança” é um pontinho, lugar que só vi depois, quando notei seus moradores. Todas as vezes em que passava pela BR-040, lá estavam os vendedores ambulantes da rodovia. Naquele meio chão, entre um carro e outro lento – devido ao radar –, sempre se consegue ver um jovem, um homem, um menino, um aborto do trabalho fichado, com uma mão
levantada e outra na lata de amendoim.
“Sou o primeiro aqui!” – Vai amendoim aí, moço?! – Pipoca, “Dotô”?! – Uma é R$ 3. Duas, R$ 5. “Bibibibibibibi!” Passa a moto e eles continuam a pisar da faixa seccionada da rodovia. Enquanto isso, um olhar desconfiado, com jeitão meio calado: “Meu nome é Henrique, mas, na identidade, aparece Pedro Henrique. Gosto de Henrique, por isso falo que é meu nome”. De seus 23 anos, gastou 15 como ambulante de amendoim (sete no centro e oito nas rodovias). Henrique começou a vender quando percebeu que a mãe e os irmãos precisavam de ajuda. Era a única al-
ternativa. Se seu vizinho já vendia e mantinha a família, por que ele também não poderia? Nas mãos, exibe uma lata de tinta, com lateral inferior aberta. No fundo, carvão aceso; na boca, uma grade de geladeira, com vários cones de papel ofício – todos recheados de amendoim. O braseiro aquece à medida que a lata balança. Ele frequentou a escola até o primeiro ano. Não tinha material escolar e, desde sempre, viveu em vilas. Jamais desenhou papai e mamãe, pois só conheceu a matriarca. Com oito anos, já era ambulante. Quando começou no centro da cidade, ia à Savassi, abordava as pessoas e, às vezes, conseguia “salvar o dia”. Nem sempre dava certo, porém. Há alguns
anos, uma carreta abalroou uma passarela na rodovia Fernão Dias e causou um congestionamento de 34 km, nos dois sentidos da pista. Ali, Henrique viu a oportunidade de lucro. Foi experimentar, pela primeira vez, a venda de amendoim na rodovia. “A única coisa que atrapalha a venda é a concorrência. Tem gente que é ‘zoião’, diz. Hoje, existem de sete a dez vendedores no mesmo local, mas é necessário conversar com todos os outros, quando alguém quer começar. O dinheiro que Henrique luta para cuidar da filha de dois anos, da mãe e do aluguel, fica comprometido quando outros vendedores querem vender pipoca, água e salgadinho, enquanto outros, como ele, vendem apenas amendoim.
Quando começou no ofício, também passou por traumática experiência com a polícia: “Eles pararam a viatura e bateram na gente com o cabo da doze, até que saíssemos da BR”. Recorda-se, também, do tenente Donizete, único que apoiou a venda e disse que tudo aquilo era melhor do que ingressar no crime. Henrique se “separou” da esposa há três meses, e, agora, mora sozinho no bairro Jardim Vitória. Todos os dias, desce ao anel rodoviário, próximo do Betânia. “Quando não consigo um dinheiro bacana na BR, vou lá pra Savassi e tento terminar o dia”, conta, ao afirmar ter sido o primeiro a vender no bairro de zona sul. Além disso, sempre que os pontos se enchem de vende-
11 Fotos: william araújo
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dores, parte em busca de novos lugares. “Trabalho 24 por 48 e, todos os dias, estou aqui por volta das 19h. A vida de ambulante de BR é assim: vou para o meio da pista sem medo. É Deus na frente e a gente atrás. Nem penso em sair daqui, pois já me acostumei. Nem quero mexer com carteira assinada. Aqui, faço o que quero”, comenta.
Claudinho
Diferentemente do colega de profissão, Claudio Valério B., o Claudinho, que mora no Conjunto Esperança com a esposa grávida, vê tudo como passageiro: “Quero, o quanto antes, um serviço ‘fichado’”. Além disso, no início, teve muito medo de tudo. “Quando comecei a vender não atravessava a BR”, lembra. Vendedor ambulante há três anos, ele trabalha, de segunda a sexta, na BR-040, e, nos fins de semana, vende suas pipocas na
feira hippie, no centro de Belo Horizonte. Claudinho planeja tudo, espera o acumulo de veículos para começar seu expediente e, quando os carros, reduzem a velocidade, “salta” do Conjunto Esperança, com seu colete refletivo e vários fardos pendurados no pescoço: “Vai aí, moço?!”. Cauteloso, caminha pelos cantos da avenida, pois ainda sente medo de ficar nas faixas centrais. Às vezes, encontra um colega de serviço, para, conversa, mas não deixa de vender. Na esperança de conseguir algo melhor, tenta não se apegar à profissão. Será pai em breve e quer ter dinheiro mensal. “Qualquer bico que conseguir, já me ajuda. A luta para sobreviver e ganhar dinheiro acontece na pista. Entre os outros vendedores, ‘vence’ quem vende mais. E eles olham com maus olhos quem tem mais variedades”, relata. Antes de chegar às
rodovias, Claudinho trabalhou em uma padaria, à época em que morava na cidade de Ravena, na casa dos pais, mas foi demitido, a esposa engravidou, e teve que “se virar”. Vive em um barraco de madeira, parecido com palafita, no bairro Betânia, na encosta da BR-040 – quando se mescla à rodovia Juscelino Kubitschek de Oliveira. Ironicamente, uma rodovia com o nome de um presidente cuja meta era fazer o Brasil evoluir “50 anos em 5”, serve como abrigo às famílias que não tiveram como progredir. Para os vendedores ambulantes, contudo, parece não haver tempo ruim, nem desânimo ou aflição. Todos estão alegres – e não felizes. Alegres em se apresentar como são. Dos R$ 20 aos R$ 100 diários que tentam ganhar, nada afeta seu raspar de chinelo no asfalto – som que se mantém, ritmada e freneticamente, até o escurecer.
Espremidas entre uma avenida e uma rodovia, casebres abrigam os audaciosos ambulantes
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TRAMAS CONTEMPORÂNEAS
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Iguais só no nome Danilo Silveira
Às vezes, ser homônimo de um “famoso” não é tão bom assim
De um dia para outro, Jorge Washington transformou-se de pacato trabalhador em testemunha de um notório esquema de corrupção
Danilo Silveira Na manhã do dia 30 de março de 2008, o Brasil acordou ao som de uma notícia um tanto hedionda: em São Paulo, na noite anterior, uma garota de cinco anos foi jogada do sexto andar de um prédio; o pai e a madrasta, que residiam no edifício, seriam os principais suspeitos. A criança chegou a ser socorrida pelo Corpo de Bombeiro, mas veio a falecer logo em seguida. No final de semana seguinte, Ana Carolina Antunes de Oliveira, a mãe e detentora da guarda da menina, completaria 24 anos. O caso comoveu o Brasil, que utilizou de uma ferramenta muito útil na época – o Orkut – para se solidarizar com a perda da jovem. Na mesma manhã em que o Brasil era apresentado ao fato ocorrido, Ana Carolina Antunes Cunha de Oliveira acordou e foi direto para o computador. Como usa o desktop como instrumento de trabalho, principalmente para sua função como tradutora de livros e professora de idiomas, Carol – como é chamada pelos familiares e amigos – utiliza-se das redes de relacionamento
para fugir da rotina dos afazeres profissionais: no caso, o Orkut. Como não utilizava um nome abreviado para o portal, a caixa de mensagens de Carol amanheceu cheia de recados. Aquilo estranhou a tradutora, que recebia unidades de scraps. A tradutora deparou-se com centenas de desconhecidos em sua caixa de mensagem, lhe mandando mensagens de conforto do tipo: “Eles não podiam ter feito aquilo com sua filha, mas ela está em um lugar melhor agora”. Putz! O coração da mulher foi a mil. Acabara de sair de um relacionamento e tinha uma filha de cinco anos: Luísa. A menina passava alguns fins de semana com o pai, que, naquela altura, se relacionava com uma pessoa desconhecida, segundo Carol. Os recados não paravam de chegar. A aflição de Carol crescia a cada scrap deixado por um desconhecido em sua caixa de mensagem. Para o alívio da tradutora, sua filha dormia profundamente, em um dos quartos de sua casa. A tradutora não curtiu muito ser confundida com uma mãe que perdeu sua filha. “Preferia que fosse a Gisele
Bündchen”, ironizou, depois de tanta aflição. O pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram indiciados e presos pelo assassinato da menina. A mãe, Ana Carolina de Oliveira, após oito anos do caso, reconstruiu sua vida: casou-se e, ao que tudo indica, é mãe novamente. A homônima, a mineira Carol, sempre passou seus aniversários ao lado de Luísa: sua filha.
Meu banco é outro Certo dia, Jorge Washington Blanco, como é de costume, passou em um supermercado ao final de seu expediente. Lá encontrou com um amigo, perguntou-lhe da família, ouviu que estava tudo bem, despediu-se e foi embora. Coincidentemente, ao sair do mercado, o capoteiro topou com o irmão do colega, que estivera minutos antes: um oficial de justiça. – Ó, tive com o seu irmão agora há pouco. – saudou Jorge. – É, mas vim a sua procura. Trago-lhe uma intimação para depor ao Sérgio Moro. Naquele processo do Cerveró. – O oficial referia-se à Lava Jato. Jorge se assustou.
Achou que fosse uma brincadeira. Mas como o tom da fala do amigo era sério, viu que teria que se apresentar à Justiça Federal. Ao contar o fato para a família, seus filhos acharam que era uma brincadeira. Alguém poderia ter pego algo na internet e feito alguma sacanagem. O capoteiro advertiu e disse que era sério. Nem mesmo a vizinhança de seu estabelecimento acreditou na intimação. Demoraria uma semana para que o estofador se apresentasse, mas sete dias de muitas dificuldades para dormir. O homem não fecharia os olhos sem se preocupar com o que teriam feito com o seu nome e o porquê de estar envolvido em algo tão grandioso. Antes de se apresentar para depor, Jorge nunca tinha posto os pés dentro do Ed. Antônio Fernando Pinheiro (sede da Justiça em Belo Horizonte), sequer recebido uma intimação. A audiência seria feita por videoconferência. Sérgio Moro, o juiz do processo em primeira instância da Lava Jato, estaria em Curitiba, e Jorge, numa sala branca qualquer. No fatídico dia, Jorge foi advertido, pelo próprio Sérgio
Moro, que não deveria faltar com a verdade. Pois, se ocultasse algo, poderia ser processado. Logo em seguida, o juiz passou a palavra para o Ministério Público, para que lhe fizessem perguntas. – Bom dia, seu Jorge, tudo bem? – apresentou-se o responsável pelo MP. – Bom dia. Tudo bem. – respondeu Jorge. – O senhor poderia esclarecer a sua atividade profissional durante o ano de 2009? – Eu sou capoteiro. – Capoteiro? – estranhou o representante do Ministério Público – O senhor trabalhou durante algum período no banco Schahin? – Não! – O senhor esteve alguma vez com Jorge Luiz Zelada (ex-diretor da Petrobrás)? – Não conheço. Era um equívoco. O Jorge bancário que procuram estava há léguas da rua Itapecerica. Aliás, no logradouro – habitat de topa-tudo, antiquários e depósitos de reciclagem – não há sequer uma agência bancária, muito menos Schahin. Após a situação, uma enxurrada de veículos de comunicação e de jorna-
listas vieram à procura de Jorge. “Era Estadão de São Paulo. Era Rádio Gaúcha de Porto Alegre. Várias rádios e tevês”, lembrou. O encontro mais interessante, para o capoteiro, foi o dia em que um repórter da revista piauí – Roberto Kaz – veio do Rio de Janeiro para entrevistá-lo. “Nós almoçamos juntos e ele foi embora logo em seguida”, recordou. Hoje o estofador é só alegria para afirmar que os únicos bancos que tem contato são os automotivos. Edson acha que foi um erro comum. “Não foi a primeira e nem será a última vez que alguém será confundido”, pensou. Segundo o colega de trabalho, um homem foi confundido, há pouco tempo, com suspeito de homicídio. “O cara ficou cinco meses na cadeia. Em casos assim caberia até processo”, disse. O homônimo do banqueiro não pensou em acionar a justiça pelo engano, pelo contrário: achou até divertido ter os holofotes da mídia nacional. Principalmente, em um país onde o “rei” Roberto Carlos processa um corretor de imóveis xará por usar o nome composto em atividades profissionais – sem equívoco.
MINHA BH
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A vida à espera Moradores do interior se reúnem na praça Hugo Werneck, em BH, enquanto aguardam atendimento hospitalar Marcelo Gomes
Marcelo Gomes
A um passo da solução: mãe e filho finalmente felizes após consulta Marcelo Gomes
dade local é oriunda de outros municípios e deixam a cidade após a formatura.
“O hospital disse que não traria Vitor, e o médico me garantiu que se fosse o filho dele, usaria o próprio carro” Dandara é agente de bordo no trajeto entre BH e Guanhães, na região do Vale do Rio Doce. Ela explica que, de acordo com a especialidade médica, os guanhanenses recorrem à capital, pois a cidade carece de profissionais e estrutura. “É preciso elogiar o Sistema Único de Saúde, pois 99% das pessoas que levamos a BH são amparadas pelo SUS”, garantiu.
Falta de preparo “Vou bater naquele médico!”, brinca Mari Márcia, de João Monlevade, ao mencionar a
atitude do profissional que lhe disse para se acostumar com a dor. Outro que contrariou que as premissas do atendimento de saúde foi o médico da mãe de Maria Gorete Selestina, conterrânea de Mari. “Ele receitou um remédio errado, que provocou o ‘capote’ de minha mãe”, contou Gorete, em referência ao desmaio que presenciou. Franciane Santos construiu uma inspiradora história de vida. Ela vinha constantemente a BH para internar o pequeno Vitor, que nasceu com fibrose hepática. Apesar de pagar convênio médico, quando necessitou de hospital particular, a estrutura se mostrou insuficiente para recebê-lo. Solução? BH. “O hospital disse que não traria Vitor, e o médico me garantiu que se fosse o filho dele, usaria o próprio carro”,
lembrou. Ao conseguir um transporte, os 96 Km entre Lafaiete e BH pareceram uma eternidade, e, em certo momento, ela achou que Vitor já estava morto. Hoje, o garoto corre, brinca, estuda e não tem nenhuma restrição. Apesar do final feliz, a história de Franciane é o reflexo do gerenciamento da saúde e da desigualdade na partilha de médicos em Minas.
Contraponto O volume de médicos não é fator determinante para a saúde de um povo ser boa, pontua o deputado estadual Geraldo Pimenta (PCdoB). O parlamentar enfatiza que o número de profissionais importa pouco quando há condições de trabalho, coleta de lixo, água tratada, boa renda, elementos que compõem uma
rede de prevenção. “Nas condições ideais, você pode ter um médico para cinco mil pessoas”, afirmou. Pimenta garante que, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG),a comissão de saúde procura aperfeiçoar o SUS e levar tal debate a todo o estado, por meio de audiências públicas. “Ouvimos as demandas da população e as levamos ao poder executivo, bem como estimulamos o médico a criar vínculos com a cidade onde atende”, disse o deputado. Uma das políticas mais recentes para estender a “rede” de atendimento é o Programa Mais Médicos, do Governo Federal, que trouxe profissionais de vários países para trabalhar no Brasil. Esta e outras iniciativas podem, no futuro, tirar da praça Hugo Werneck a função de “terminal rodoviário”. Eduardo Constantino
Franciane e o filho. Maria Gorete e a mãe. Mari Márcia. O casal Fernandes. Vindos do interior de Minas, todos se encontram em um terminal rodoviário informal, cravado no meio da região hospitalar de Belo Horizonte. É ali que embarcam e desembarcam várias histórias que merecem, cada qual a seu modo, virar livro. Todos eles buscam garantia de vida. Procuram saúde e encontram a infraestrutura necessária. Dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRMMG) mostram que os grandes centros urbanos abrigam maior número de hospitais e alta quantidade de especialistas, fato corroborado pelos números: a relação de médicos por habitantes é muito desigual nas diversas re-
giões do Estado (veja o infográfico abaixo). Vera Lúcia e Geraldo, o casal Fernandes, vêm há muito tempo a BH. Ele teve câncer na gengiva e precisou de um tratamento que não existia em Barbacena. Simpático, o marido conta que se submeteu a uma cirurgia, e, hoje, se considera 100% curado. Agora, necessita de uma prótese bucal para melhorar a mastigação e, em função disso, acorda às três da madrugada para a viagem, financiada pela prefeitura de sua cidade. Segundo a Demografia Médica 2015, desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP), de 2010 a 2015, foram criadas 71 novas escolas de Medicina no Brasil, o que fará crescer o número de profissionais. No caso de Barbacena, porém, a maior parte dos médicos que se forma na universi-
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EU ESTAVA LÁ
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da baliza ao alívio Em busca da carteira de habilitação, candidatos experimentam todos os sentimentos do mundo
Necessária para muitos, a carteira de motorista figura na linha tênue entre sonho e pesadelo. Para a maioria dos jovens, conquistar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) significa uma passagem para a vida adulta, além da comprovação de independência. Entre burburinhos e experiências descritas aqui e ali, todos sabem das dificuldades para conquistar o documento. Afora as tensões, são muitos os requisitos burocráticos. É importante ressaltar que a inscrição inicial tem prazo anual, e que o candidato pode não passar em etapas do processo, mas recebe permissão para repeti -las depois de 15 dias úteis, desde que estejam pagas as taxas necessárias. Caso o candidato supere todas as fases, a carteira de habilitação não sai por menos de R$ 1.700. Quando a necessidade se soma ao sonho, várias pessoas abrem mão de outras coisas para conseguir a carteira. Para a maioria dos candidatos, a etapa mais difícil é o exame de direção, que se divide em duas partes: teste de rua e baliza. De acordo com dados do Tribuna Hoje, mais de 70% dos candidatos são reprovados nessa fase.
Conhecimento prático Em certa manhã, partimos em direção a uma experiência única – e agoniante! No início, estamos aflitos, pois queremos histórias diferentes para a reportagem. No caminho, porém, após conversas sobre o tão temido “dia
do exame”, deixamos as ambições de lado e decidimos ficar na torcida para que todos passem e tenhamos uma única história pra contar, sobre a emoção e a alegria dos candidatos que enfrentaram e venceram o desafio da CNH. Ao chegar ao local, nos deparamos com longínqua fila de carros, cada qual acoplado a adesivos de autoescola. Inúmeras pessoas nas calçadas, com o semblante apreensivo, aguardam sua vez. É possível notar, claramente, quem é quem: instrutores sorriem, fumam e agem como em um dia normal. Para eles, afinal, aquela manhã realmente é banal. Chegamos, pois, ao ponto de encontro. E lá estão eles: Tatiane Stephanie, Ana Carolina e Carlos André e seu instrutor, Célio Gomes. As meninas revelam-se, nitidamente, nervosas. O rapaz aparenta estar mais calmo que nunca. Tudo vai começar.
Como isso aconteceu? Sentada à beira da calçada, a ler um minilivro, Tatiana, de 23 anos, se levanta, nos cumprimenta e recomeça a leitura interrompida. A obra, na verdade, é uma minibíblia. Ela e Ana Carolina andam de um lado a outro, pedindo, em voz baixa, para que alguém, além dos examinadores, esteja com elas dentro do carro. Tatiana precisa da carteira para ter mais independência e facilitar os trajetos diários. No próximo mês, sua pauta vence. É o seu quarto exame e a última chance nessa fase. Um grupo de homens engravatados chega. Certo burburinho indica que os examinadores dos alunos de Célio são novatos. “Não pode ser. Quando
são novatos, querem mostrar serviço”, desespera-se o instrutor. Os examinadores chegam e Tatiana se encaminha para o carro, com as mãos na cabeça. Um dos examinadores pergunta a Célio: “Que rota vocês estão acostumados a fazer?”. Após intermináveis quatro minutos, Tatiana chega. O semblante denuncia o resultado: reprovação. Ela, então, se senta no exato lugar onde lia sua minibíblia e desaba em prantos. De sua boca, a frase única: “Como isso aconteceu?”. O sonho, uma vez mais, transformouse em pesadelo.
Quase realidade A mais ansiosa do grupo não para de andar de um lado a outro. Quase corre. “Meus
dentes batem tanto! Parece que vai cair”. Ana Carolina (22) tenta tirar sua carteira de habilitação há cinco meses. Este é o seu segundo exame. A sua torcida é para que o examinador faça a mesma rota das aulas de Célio. Assim que Tatiana chega, desolada, Ana dá um abraço na amiga e segue ao carro: “Está nas mãos de Deus”. Com a mesma duração do primeiro exame, Ana chega. Interessante saber o resultado apenas olhando para a pes soa. Ela passou! Ao chegar, conta, detalhadamente, como foi todo o percurso. Está tão eufórica que repete várias vezes o ocorrido. Em certo momento, observa a amiga e diminui o entusiasmo. O sonho de Ana quase virou realidade. Chega,
então, a hora da baliza. Ela adentra o carro e observamos de fora. Ela engata a ré e começa a última etapa. Assim que termina, percebemos que o examinador conversa com ela. Em menos de dez segundos, Ana observa sua quase conquista a se esvair. Põe a cabeça sobre o volante e chora, desesperadamente. Em seguida, sai do carro e nos conta: “Eu me esqueci do freio de mão”. Outro sonho, por pouco, transfigurado pesadelo.
Difícil trajetória Carlos (23) parece estar em um dia normal, encostado à mureta, a aguardar sua vez. Sem dizer nada, observa o que acontece a seu redor. Uma das meninas pergunta: “Não está nervoso?” “Estou e muito!”,
responde. A cada vez que um aluno volta do exame, o candidato pergunta como foi a rota e o que pediram os examinadores. Chega a sua vez. Ele segue devagar, pensativo, mas com o semblante calmo. Seu exame demora mais do que o normal. Carlos desce do carro sem expressões visíveis. Não dá para descobrir o resultado apenas por meio de seu rosto. “Agora, é na baliza”, diz. Comemoramos! Depois da falta de atenção de Ana Carolina, ele se concentra mais que o normal. Isola-se, e fica pensativo. Chega o momento. Com calma, faz todos os procedimentos com perfeição. Sai do carro e exibe o papel milagroso, que serve prova à conquista: Carlos está habilitado! Fotos: Isabela Almeida
Bruna Ribeiro Felipe Souza Isabela Almeida Júlia Reis Karoline Castro Raynan Hadad
Teste de rua representa momento de grande tensão para os candidatos à CNH
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Junho de 2016 Jornal Impressão
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Os dois lados da Moeda Emelyn Vasquês
Abrace a Serra da Moeda reúne centenas de pessoas por causas ambientais
Pilotos de paragliders, que conhecem como poucos os problemas e a beleza da região, abrem o evento em defesa da natureza
Emelyn Vasquês Maíra Leni Numa manhã de 21 de abril, certo evento em prol da sustentabilidade acaba por levar duas estudantes de Jornalismo a cerca de 40 km de distância de Belo Horizonte. A proposta era vivenciar e narrar o movimento “Abrace a Serra da Moeda”, sob duas perspectivas: a da repórter que o percorreria em terra firme e a daquela que sobrevoaria o local, exatamente, no momento em que centenas de pessoas se reúnem, para, de mãos dadas, dar vida a um grande abraço simbólico. Realizado desde 2008, no feriado de Tiradentes, o evento representa a luta pelo fim da exploração dos recursos naturais. Segundo Beatriz Vignolo Silva, organizadora e integrante da diretoria da ONG Abrace a Serra da Moeda, o objetivo do ato é defender as 30 nascentes que abastecem as regiões
adjacentes à montanha, então ameaçadas pela implantação de mineradoras e por uma fábrica da Coca-Cola. Nesta 9° edição, soma-se, à causa ambiente, um motivo a mais de consternação: o rompimento da barragem da mineradora Samarco, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG). Para Beatriz Vignolo, “o marco divisor do meio ambiente em Minas Gerais foi o problema com a empresa. As pessoas estão mais preocupadas e em busca de informações”. Mas, será que todos realmente se sentem parte daquele movimento em prol da natureza?
Paradoxos Em poucos instantes, certa inquietação passa a tomar conta da tranquilidade do evento. Um anúncio ao microfone logo descreve o que precisa – ou não deveria – ser dito: “Não joguem lixo no chão! Vamos nos lembrar por que estamos aqui”. Um grupo de seis garotos comem biscoitos
wafer. Um deles adverte o amigo para que não jogue o pacote no chão, enquanto outros riem do corajoso ato de quem exibe senso de boa educação e de coerência. O dia começa a revelar antagonistas, em um evento com causas para lá de sérias e nobres. O rastro daqueles garotos esconde-se sob a vegetação, pouco abaixo da trilha que muitos seguem para contornar a Serra. Mais à frente, uma senhora, Maria conta, sucintamente, que o evento é importante “para não pegar fogo na mata”. Ela não sabe responder a tantas outras perguntas, diferentemente do senhor, que, com idade por volta dos 60 anos, chama a atenção com um olhar profundo em direção aos vilarejos próximos à montanha. Morador da região, José Bones é o sábio engenheiro que fala das sete mil pessoas abastecidas pela água das 30 nascentes, da obrigação dos moradores em lutar pela Serra, dos resulta-
dos que viu ao longo dos abraços realizados e da resistência encontrada pela mineradora, ao se deparar com tamanha mobilização. O assunto flui como o voo dos paragliders que abriram o evento. José mostra, do outro lado da Serra, um ponto onde houve extração de minério. Distante do chão verde do lado de cá, só se veem o pó laranja e os tortuosos caminhos deixados para trás. A imagem que diz muito sobre a luta daquele dia. Trata-se de visão futura da Serra da Moeda, caso a ação dos moradores não surta resultados. No chão da Serra, uma faixa com os escritos “Mar de lama nunca mais” lembra o rompimento da barragem em Mariana. Ao falar disso, José acrescenta algo que, segundo ele, permite tais tragédias: “A corrupção derruba barragens, pois as pessoas se calam com o dinheiro”. Contudo, Bones reconhece que a sociedade vive, em suas palavras, uma complexa
equação: “Precisamos minerar em nosso benefício, e não para o interesse de empresas que avançam sem controle, em busca de ganhar dinheiro de forma fácil”. Ao meio-dia, é chegada a hora do abraço.
Nas alturas Silêncio total. Vestidas de branco, as pessoas balançam a bandeira do “Abrace a Serra da Moeda”. Um sentimento novo para surgir. Do alto, aqueles “pontinhos” brancos, em meio ao verde da montanha, demonstram o quão grandioso é o evento. Três minutos parecem pouco dentro do helicóptero, mas se trata de tempo suficiente para selfies pessoais, vídeos a serem publicados no site da empresa que realiza a assessoria da ONG e avaliação do trabalho de meses de divulgação. De repente, o evento se torna uma causa tão especial que a vontade é a de participar ativamente e de desfrutar, todos os anos, das sensações e dos resultados. Ao pousar, as expectati-
vas cedem lugar à vontade de chegar em casa e de contar detalhes à família e aos amigos.
De volta à terra firme Emília Machado, organizadora do evento há nove anos, revela os sentimentos ao final do abraço, assim como a sensação de mais um evento realizado e a preocupação com as futuras gerações: “O interesse das pessoas em saber sobre os objetivos da manifestação é o sinal de que algo está mudando. De fato, todos devem se preocupar mais em preservar. O que vamos deixar para nossos filhos?”, reflete. Os pensamentos continuam nas alturas. Afinal, os dois lados da Moeda mostram um dia de contrastes e reflexões memoráveis. De um lado, o engajamento de pessoas que realmente fazem o evento acontecer. De outro, a falta de sensibilidade de pessoas que precisam aprender o que José Bones tentava dizer: “Somos todos natureza”.
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jornal daqui (Buritis e região)
o bairro dos esportes Ilustrações: William Araújo
Buritis abriga atletas e espaços de treinamento das mais diversas modalidades Rugby Surgido na década de 1820, na cidade inglesa de Rugby, o esporte tem similaridade com o futebol e futebol americano. As modalidades (VII e XV) variam segundo a quantidade de jogadores em campo. Os jogadores precisam atingir a meta – um gol em forma de H – durante dois tempos de 40 minutos. O representante do esporte no Buritis é o BH Rugby, time nascido no UniBH. Todos os treinos são no campo da faculdade, no bairro Estoril.
Futebol O esporte como hoje o conhecemos formatou-se no século XIX, na Inglaterra. Apenas a nobreza o praticava. Uma curiosidade: o uso dos pés para locomover a bola em direção à meta era uma prática bem comum no Oriente, mais de 2.500 anos antes de Cristo. O Buritis United disputa, anualmente, o “Torneio Apertura 2016 de Futebol Semiamador”, em Honório Bicalho.
Futebol americano Proveniente da junção entre o rugby e o futebol europeu, o esporte nasceu no século XIX, na América do Norte. Os 11 atletas (característica do futebol) usam as mãos para transportar a bola (característica do rugby). Os pontos são marcados à medida que o time atinge a dead zone adversária ou joga a bola entre as traves em forma de Y. No Buritis, há sete praticantes do esporte, que participam do time Minas Locomotiva, atual campeão do Campeonato Mineiro 2016.
Maratona Diz a lenda que o esporte surgiu no século V a.C., quando os Persas declararam que matariam filhos e mulheres atenienses, caso vencessem uma batalha. A disputa ocorreu nas Planícies de Maratona, a 40 km de Atenas, e as mulheres prometeram sacrificar os filhos e cometer suicídio se não tivessem boas notícias em 24h. Como Atenas venceu, um mensageiro foi enviado rapidamente, para informar o resultado. A modalidade, disputada desde a primeira olimpíada moderna, em 1896, tem, hoje, o percurso de 42,195 km. O representante mais conhecido, no Buritis, é Milton Duarte. Assim como ele, os vários atletas treinam todos os dias da semana nas ruas do bairro.
Kartismo Após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1950, pilotos decidiram criar um veículo para correr pelo hangar, em pista criada pelos aviadores, enquanto estavam ociosos. Os veículos pesavam de 70 a 150 quilos. Atualmente, o kart é considerado a porta de entrada para o automobilismo em modalidades mais complexas, como a Fórmula 1. No Buritis, um dos representantes é Bráulio Lara, corredor no campeonato Netkart.
Tênis Jeu de paume [jogo de palma]. Assim era chamado o tênis no século XIII. Os jogadores que rebatiam pequenas bolas com a mão foram precursores do esporte. Mais tarde, as pessoas implementaram pequenas madeiras como extensão do braço. Até então, o jogo era disputado com seis jogadores de cada lado de uma rede baixa e, enquanto um jogador sacava a bola, dizia: “Tenez”. Daí à palavra “tênis”. O bairro Buritis tem várias quadras para prática e aprendizado do esporte, como a BH Tênis e o centro Club Winner Squash & Tênis.