Edição 207 – Caderno 1

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do UniBH

Ano 36 | Nº 207 Belo Horizonte | MG

NOVEMBRO | 2017

STEPHANIE MORGANA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Dossiê apresenta as várias facetas da gamificação na sociedade atual páginas 4 a 13

Projeto de Lei exige espaço para música religiosa nas rádios Caderno DO!S

Bem-vindo

À Geração gamer

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primeiras palavras

Novembro de 2017 Jornal Impressão

APERTE O PLAY! rosmith e não contará, aos leitores, sobre como foi a apresentação.

Afinal, seus olhos acompanharam, de modo privilegiado, o que rolou do lado de fora do Mineirão.

Ainda sobre o universo musical, um Projeto de Lei quer reservar espaços para canções religiosas em rádios de todo o país. O PL é de autoria de um deputado do PP. Conversamos com o autor do projeto.

Amém?

Passamos um dia em um dos shoppings mais conhecidos de BH, o Oiapoque. Pusemos pessoas em ambientes totalmente opostos às suas personalidades e acompanhamos garotos de programa em diversos locais. Tudo isso para que você, leitor, possa desfrutar das experiências de nossos repórteres.

No entanto, nos despediremos de um espaço que, há três anos, ocupava as páginas do IMPRESSÃO. A seção “Em uma redação qualquer”, do multitalentoso William Araújo, chega

izabela cardoso

Seja em casa, seja em lan-houses. Pelo computador ou via smartphone. Em sites especializados, ou, até mesmo, em matérias jornalísticas. Os games – que ganharam espaço no mundo virtual, com ampliação do número de gamers (jogadores) e difusão de novos conteúdo e tecnologias – são o tema do dossiê deste IMPRESSÃO, que está prontinho, em suas mãos, para ser “jogado”.

Se você não é gamer, poderá, no mínimo, entender como é o dia a dia de quem se dedica aos jogos. Além de entender os termos usados pelos jogadores e analisar dados que mostram o perfil dessa comunidade – e, ainda, como muitos deles deixam de adotar a prática como hobby e a ela se dedicam como profissão.

O IMPRESSÃO também esteve no maior evento de games da América Latina: o Brasil Game Show. Além dos gamers, a repórter conversou com familia-

res que acompanhavam seus entes em apresentações. E, apesar dos benefícios dos games, nesta edição, você verá casos de preconceito, ao envolver, por exemplo, jogadoras que, para não sofrer qualquer tipo de discriminação, precisam ocultar seu próprio nome. Eis, amigos, “o lado Z dos games”.

O dossiê dessa edição também discutirá novos jogos, como SUS: The Game, que aborda o Sistema Único de Saúde brasileiro, que dá ao jogador um único objetivo: não morrer no hospital. Além do polêmico jogo, há aqueles que abordam a inclusão de pessoas com deficiência e outros modelos de uso da gamificação, a exemplo do que ocorre no jornalismo.

Nosso caderno DO!S também está repleto de adaptações e personagens pouco vistas cotidianamente.

Além disso, como não poderia deixar de ser, prepare-se para muita música. O repórter Luiz Vila Real esteve no show da banda Ae-

VICE-REITOR Profa. Rafael Ciccarini

COORDENAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMO Prof. João Carvalho

LABORATÓRIO DE JORNALISMO EDITORES Prof. Leo Cunha Prof. Maurício Guilherme Silva Jr.

DIAGRAMAÇÃO Stephanie Morgana

PROJETO GRÁFICO

Nesta edição, contamos com a participação especial de “Seu” Zito, que não só estampa a capa do jornal, como atuou em diversas sessões de fotos

Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)

ao fim. Desde outubro de 2014, Will representou, em suas charges, situações cotidianas, e caricatas, de redações de jornal, com – Ilustres – personagens, como os professores do UniBH, e, em algumas edições, os estudantes.

A primeira publicação apresentava Juca, um aluno que sofre pressões por “só estudar”. Na charge, Juca desafia quem o julga com um certo “você está

ESTAGIÁRIOS

em uma redação qualquer...

dizendo que isso não é trabalho?”.

“Em uma redação qualquer”, portanto, foi mais do que uma seção.

Trata-se, na verdade, de uma era, que merece ser lembrada pela expertise de um estudante que, agora, vai para o mercado. De vez.

E você, está esperando o quê? Dê o play e aproveite! Aos familiares, diga que não é permitido pausar a leitura.

Saudações gamers!

Bê Franco Mariane Fernandes Stephanie Morgana

ILUSTRAÇÃO William Araújo Gustavo Santos

PARCERIAS Laboratório de Jornalismo Online Laboratório de Fotografia Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)

IMPRESSÃO/TIRAGEM Sempre Editora 3.000 exemplares

william araújo

Lucas Soares

expediente

Eleito o melhor Jornal-laboratório do país na Expocom 2009 e o 2º melhor na Expocom 2003 O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pelos professores Maurício Guilherme e Leo Cunha, com os alunos do curso de Jornalismo do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário.

Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço.

Participe do JORNAL IMPRESSÃO e faça contato com a nossa equipe: Av. Mário Werneck, 1685 BH/MG CEP: 31110-320 Tel.: (31) 3207-2811 contato.tudouni@gmail.com

visão crítica

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William Araújo Os games põem à prova toda e qualquer habilidade. Outrora, como entretenimento, competitividade, desafio e estímulo. Agora, nas garagens de ideias, narrativas e prototipagens. Os jogos eletrônicos acompanharam o desdobramento tecnológico numa corrida de revezamento – sempre projetado à frente enquanto recebia o bastão.

Porém, houve vitórias e derrotas até que se criasse uma tradição.

Na época das pequenas paredes opostas, de canto de tela, que se moviam verticalmente para rebater uma bola de bits (fim dos anos 1960, Chasing Game – Pingue Pongue), desenvolvedores estavam interessados em levar para o meio digital o que as pessoas faziam fora dele. A proposta era interagir, em tempo real, e o mais ergonomicamente possível, com o que estivesse dentro da tela. Surgia o termo jogabilidade.

A experiência de se tornar um “atleta” digital, disputar com outras pessoas e en-

treter esteve colada à corrida espacial e aos “Baby Boomers” - crianças nascidas durante o crescimento populacional pós Segunda Guerra Mundial. Quem não gostaria de brincar em um aparelho tecnológico de ponta?

Por isso, na década de 1970, grandes empresários investiram alto.

Criaram computadores portáteis exclusivos para a diversão, os consoles.

Nascia, em paralelo com a evolução dos chips microprocessadores, a desenvolvedora de jogos eletrônicos Atari.

O que antes estava atrelado à reprodução do mundo real, se tornou uma área de experimentações sem fronteiras. Jogos eletrônicos iniciavam nova trajetória, em meio a narrativas complexas em universos originais.

O encanador (Mário) que enfrentava um gorila que atirava barris (Donkey Kong), com o intuito de salvar a princesa, apareceu no início da década de 1980, pela Nintendo, exemplo clássico da rentável união entre televisor, console, manetes e botões. Lojas de jogos eletrônicos

(chamadas no Brasil de fliperamas) ocupavam o tempo livre de pessoas em várias faixas etárias.

Aparecia o conceito Arcade, em que o usuário obtinha créditos, jogava uma história linear, 2D, muitas vezes composta por desafio em plataformas, e não salvava seu progresso. O intuito era divertir e quebrar o recorde anterior.

O grande sucesso gerou filmes como Tron: Uma Odisséia Eletrônica, de 1982. Nele, o protagonista, hacker e dono de uma loja de arcades, é transportado para dentro do jogo eletrônico e precisa gladiar em um ambiente futurista. Concomitante ao surgimento dessas narrativas em películas, o designer Hideo Kojima, que sonhava em ser diretor de cinema, se unia à desenvolvedora de jogos 8 bits Konami, para lançar o clássico Metal Gear. Hideo criou a história do personagem Solid Snake, soldado das forças especiais Foxhound, que é enviado para destruir o tanque nuclear, de duas pernas, chamado Metal Gear. A narrativa foi aclamada em muitos países, tor-

rodapé

Cantar, e só Bárbara Souza As portas de metal desgastadas escondem um interior agitado e colorido, que promete uma noite divertida.

Um rapaz chega, coluna envergada, após um dia puxado de trabalho.

Cumprimenta pessoas que estão ali fora há horas, no famoso esquenta. Para ele, era apenas um rolê para cumprir tabela e evitar a culpa pelo afastamento daqueles que já foram tão próximos.

Resolve entrar, com o pé direito e esbarra na

pequena aglomeração que também aguarda a hora de subir. Pede desculpas, aguarda sua vez e sobe as escadas.

Apesar da aparência quase infantil e das dúvidas dos seguranças, ele entrega o documento comprovando a maioridade e ultrapassa, enfim, as barreiras que o impediam. A música que invade seus ouvidos é ruim, mas o garoto sente-se satisfeito, por saber que, ali, pode ser qualquer coisa ou qualquer pessoa. É sério! É possível ser Madonna ou Rena-

nando o designer japonês pioneiro na criação de jogos com histórias complexas e mecânica de combate Stealth, em que o inimigo não pode ser enfrentado de frente.

Nos anos 1980, surgiram problemas. O universo dos games estava saturado, consumidores pediam mais sofisticação e a onda de arcades entrou em declínio. As pessoas tinham em casa computadores portáteis e queriam, também, vídeogames pessoais, em que poderiam ter os jogos que preferissem. Na época, duas empresas lideravam o mercado de consoles (CPUs dedicadas a jogos eletrônicos): a Atari e a Nintendo.

Ambas tiveram de optar pelo investimento em máquinas portáteis em detrimento dos fliperamas. As desenvolvedoras de jogos precisaram acompanhar a mudança e muitas não possuíam tamanho capital financeiro ou intelectual. Por isso, houve o “crash” da indústria de games. Poucas pessoas compravam consoles protótipos de obsolência programada (atualizados anualmente e, às vezes, mensalmen-

William araÚJO

A terça é gamer

te), com jogos fabricados “às pressas”. Exemplo desse momento está no jogo Final Fantasy, lançado em 1987, que ganhou esse nome por ser a última esperança dos desenvolvedores.

Apesar disso, o game foi um sucesso e marcou a retomada dos lucros pela indústria, além de inaugurar o modelo RPG de mecânica de jogabilidade e narrativa.

A Atari não conseguiu acompanhar o ritmo e a Nintendo e Sega tiveram mais es-

paço com seus consoles portáteis de 16bits.

Em 24 de novembro de 1992, em projeto ousado da Sega, o jogo Sonic foi lançado simultaneamente no mundo inteiro. Por se tratar de uma terça-feira, o evento foi nomeado Sonic 2sday e marcou, definitivamente, a retomada do mercado de games. Por isso, até nos dias atuais, em que os aparelhos são potentes e tecnológicos, a terça é o dia escolhido para lançamento de títulos, consoles e eventos.

Belas Pétalas to Russo. E você não é julgado se, na verdade, preferir ser Beyoncé e Lady Gaga durante a performance icônica de Telephone. Uma ponta de animação surge e, novamente, enxerga o grupo anterior ao lado, mas, dessa vez, de uma forma diferente.

Ele estava disposto a aproveitar. Afinal, eram seus cinco amigos como nos velhos tempos! Então, respira fundo, sorri e, após alguns momentos, sente-se em casa.

Aquele local faz parte dele, assim como todas aquelas pessoas.

Vitória Ohana As lufadas de vento do mês abril batiam no meu rosto e nos meus cabelos. De longe, pude avistar a menina de cabelo ruivo e o menino esguio andando, apressadamente, em minha direção.

Eu gostava do jeito que o cabelo dela refletia o sol e dava luz para aquele lugar, a risada dele era contagiante e aquilo, também, me alegrava e muito.

Eles conversam sobre levar flores para algumas pessoas e conse-

gui até identificar alguns nomes, que eu ouvia ali, todos os dias.

Então, o menino arrancou uma flor que estava do meu lado, a menina quebrou o fino caule de outra que estava um pouco acima de mim e, novamente, o garoto tirou outra e, por último, a ruiva, que emanava luz, passou a mão sobre os meus cabelos rosados e disse: “Essas pétalas estão lindas, acho que vou levar essa também”.

A haste que me mantinha presa à minha singela árvore foi que-

brada delicadamente, minhas pétalas, como ela chamou, foram acariciadas mais uma vez e, num momento de carinho, o menino afastou os cabelos dela, me tomou nas mãos e fui depositada suavemente atrás de sua orelha.

Eu sabia que, após ser arrancada da minha fonte de vida, o fim seria inevitável, eu morreria em poucas horas, antes mesmo de completar o meu ciclo natural, mas naquele momento, por aquele motivo, me parecia uma boa maneira de partir.

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DOSSIÊ GAMES

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Os 10 mais vendidos da Nintendo 1. Super Mario World - 20,6 milhões 2. Super Mario All-Stars -10,55 milhões 3. Donkey Kong Country - 9,3 milhões

INFOGRAFIA: LEGRA

games.tecmundo.com.br

jogos.uol.com.br

A batalha pelos números Os cinco jogos mais vendidos de todos os tempos: 1. Tetris – 495 milhões 2. Minecraft – 107 milhões

4. Super Mario Kart - 8,76 milhões

3. Wii Sports – 82 milhões

5. Street Fighter II: The World Warrior - 6,3 milhões

4. GTA – 65 milhões

6. Donkey Kong Country 2 - 5,15 milhões

5. Super Mario Bros – Aprox.40 milhões.

7. The Legend of Zelda: A Link to the Past - 4,61 milhões 8. Super Mario World 2: Yoshi’s Island - 4,12 milhões 9. Street Fighter II’ Turbo: Hyper Fighting - 4,1 milhões

jogos.uol.com.br

10. Donkey Kong Country 3 - 3,51 milhões

Os 10 mais vendidos do Playstation 4 1. Call of Duty: Black Ops - 313.2 milhões 2. GTA V - 11.1 milhões 3. FIFA 16 - 8 milhões 4. Call of Duty: Advanced Warfare - 7.57 milhões 5. Star Wars Battlefront - 7.46 milhões 6. Fallout 4 - 6.69 milhões 7. FIFA 15 - 6.56 milhões 8. Destiny - 5.61 milhões 9. The Last of Us Remastered - 4.37 milhões

jogos.uol.com.br

10. Uncharted: The Nathan Drake Collection - 4.22 milhões

Os 10 mais vendidos do XBOX 360 1. Kinect Adventures (Microsoft) - 24 milhões 2. GTA V (Rockstar) - 17.8 milhões 3. Halo 3 (Microsoft) - 14.5 milhões 4. Minecraft - 13 milhões 5. Call of Duty: Black Ops (Activision) - 12 milhões 6. Halo 4 (Microsoft) - 9.4 milhões 7. Call of Duty: Modern Warfare 2 (Activision) - 7.5 milhões 8. Gears of War (Epic) - 5 milhões 9. Gears of War 2 (Epic) - 5 milhões 10. Halo: Reach (Microsoft) - 4.8 milhões

1962 • É produzido o primeiro jogo: SpaceWar. • As primeiras plataformas a serem compatíveis com o jogo foram os computadores arcaicos DEC PDP-1.

1968 1972 • Surge o primeiro console patenteado por Ralph Baer, nomeado como BrownBox.

• Odissey é o primeiro console comercializado.

No Brasil, só foi comercializado no final da década de 70 pela Philco e Ford, passando a ser conhecido por Telejogo.

1978

1990

• Surge o nome que todos associam aos videogames: Atari 2600. Foi Lançado em 1978 nos EUA e foi lançado no Brasil em 1983.

• É lançado no Japão o Super Nintendo, chegando no Brasil em 1993, pela Playtronic, uma joint venture entre a Estrela e a Gradiente.

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de frente para o futuro Foto: Mariane fernandes

Referência mundial em tecnologias digitais, professora Lorena Tárcia aposta no potencial lúdico da gamificação

Cada vez mais presente no jornalismo, gamificação tem transformado a maneira de contar histórias

Bê Franco Mariane Fernandes Stephanie Morgana

Ou seja, ao mesmo tempo em que o sujeito joga, interage.

Em meio à popularização da tecnologia, fica cada vez mais difícil imaginar o ofício dos profissionais da comunicação fora desse ambiente. Destacam-se, ainda, os engajamentos da gamificação para o jornalismo.

Conversamos com a especialista em narrativas transmidiáticas, a professora Lorena Tárcia, doutora em Comunicação pela UFMG, a fim de compreender essa realidade e, de certa maneira, antecipar o que pode ser tendência nos próximos anos.

É possível criar realidades virtuais para retratar tragédias, com o intuito de sensibilizar o espectador?

Sim. Com os óculos 360°, é possível reconstituir o ambiente, a partir das informações jornalísticas coletadas, e inserir a pessoa em tal local. Isso aumenta a responsabilidade do jornalista. É necessário mais apuração.

Por exemplo: em que horário exatamente o fato aconteceu? Como foi? Onde batia o sol? É preciso remontar tudo.

De que modo definir a gamificação?

Ela se baseia na característica do ser humano de gostar de recompensas, do lúdico e de brincadeiras. Isso está sendo incorporado, de maneira mais amplificada e coletiva, devido às possibilidades abertas pelas redes digitais.

Pode ser aplicado no campo do marketing, dos jogos digitais e da produção de notícias.

É viável financeiramente para as empresas de comunicação?

Ainda é caro. Temos que perceber o movimento das grandes empresas desse meio.

Todas elas estão se movimentando nessa perspectiva. Facebook, Google, Microsoft, Samsung.

Se os grandes, que são os “players” do mercado, estão considerando a possibilidade, é algo que vai baratear.

Qual a diferença entre realidade aumentada, realidade virtual, realidade mista e inteligência artificial?

São experiências bastante diversificadas.

Na Realidade Aumentada, é necessário um celular, ou um tablet, ou seja, é preciso ter um aparato para aumentar a possibilidade de visão.

Quando se interpõe esse objeto entre a pessoa e sala, existem determinados códigos que são lidos, assim como no Pokemon Go. Pode-se ver algo que não “estaria ali” sem o aparato.

A Realidade Mista é uma proposta da Microsoft, que consiste em construir um ambiente dentro de um cenário físico. A empresa fabricou óculos exclusivas, chamados HoloLens.

Com eles, é possível enxergar coisas invisíveis a olho nu. E a interação, por sua vez, pode acontecer por meio de movimentos do corpo ou de voz.

A Realidade Virtual já é mais complexa. Ela exige os óculos. A interação é total, a pessoa é parte do ambiente,

verdadeiramente, um personagem desse “universo”.

A inteligência artificial é outra possibilidade, que enriquece não só informação e jogo, mas amplifica tudo o que se vê na televisão e na internet. São as máquinas criando aprendizado independente do ser humano. Máquinas que recebem a informação inicial de uma programação e, a partir dela, têm capacidade de gerar outros conhecimentos, não previstos pelo próprio criador da tecnologia.

Você participou do Future of Storytelling Festival, realizado em outubro, nos EUA. Pelo que viu, é possível prever inovações na comunicação em pouco tempo?

Esse é um momento histórico da humanidade, em que se mudam os padrões de comportamento. A consequência disso ainda não é tão disruptiva, mas há apropriação dessas possibilidades de comunicação amplificadas, com muitas experiências, embora ainda esteja tudo

muito embrionário. É, realmente, uma questão da inteligência artificial e do mundo robótico.

Vários estudos se referem ao momento que se chama de singularidade, em que esses robôs passam a ser mais inteligentes que o ser humano.

Imaginem a gente, como ser humano.

Levamos, em média, 20 anos para agregar saberes antepassados e produzir conhecimento próprio. A partir daí, temos, em média, mais 30 anos de capacidade produtiva, e, quando estamos no auge, nossa memória começa a falhar e temos uma série de limitações. A máquina, não. Ela aprende permanentemente, e num processo que não temos. Ao contrário do que ocorre com as máquinas, nosso aprendizado é individual.

Você disse, em uma rede social, que “os mesmos gênios que trabalham para empresas de ponta também estiveram ou estão envolvidos com sistemas governamentais”. Até que ponto isso influencia em relação à privacidade, e a interesses nacionais? É algo que devemos temer?

Vimos grandes escândalos nos últimos tempos, principalmente, por causa do domínio norte-americano acerca dessas tecnologias.

Os aparelhos são absolutamente fechados para nós, e funcionam como sensores. Podem, por isso, nos vigiar. Ao mesmo tempo em que existem essas possibilidades, de os governos não serem claros quanto ao que pesquisam, ao volume de informações que estão coletando, e ao que fazem com as informações, essa mesma rede é a que

nos permite denunciar os abusos. É a mesma rede, por exemplo, que denunciou os EUA de abuso de autoridade por ouvir conversas de presidentes.

Existe uma parte bastante comprometedora da individualidade e da privacidade. Mas, nessa perspectiva, sou bastante otimista. À medida que estamos conectados e compartilhamos ideias, permitimos um grau de vigilância maior do que estava sendo feito com nossas informações.

Mesmo diante de tanta inovação, é possível, ao jornalista, manter-se distante dessa realidade?

Possível é. O sujeito pode optar por se isolar, mas tem um preço a pagar. Por outro lado, o sujeito que quer participar, profissionalmente, não pode se dar mais a esse luxo. É necessário entender a profissão e qual é o ferramental dela. Não à-toa, estamos numa profissão que se chama “Comunicação Social”. Nossa área exige socialização, e compreensão do outro.

Com relação aos novos métodos da gamificação, existem aqueles com maior resposta por parte do público? É tudo muito embrionário, ainda. Percebi que o que mais interessou às pessoas, nessa viagem, foi o que chamamos de “Infocomunicação”, isto é, a conexão do entretenimento com a informação.

Há tendência em unir esses dois universos, que não compromete, de forma alguma, a seriedade do jornalismo. Enquanto forma “ideal” de contar e narrar histórias, as pessoas têm preferido maneiras mais lúdicas.

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pontes virtuais arquivo pessoal

Jogos multiplayers rompem barreiras, facilitam interação online e aproximam pessoas a quilômetros de distância Ana Beatriz Diego Gonçalves Jean Brito William Araújo

Eis que chega o momento da catarse. Uns preferem esvaziar a carga emocional numa mesa de bar, outros preferem entrar numa pista de dança. Os gamers, porém, não precisam sair de casa... ao menos fisicamente.

Em um mundo sem fronteiras e, em premissa, totalmente interativo, personagens se destacam em cores, habilidades ou cooperação. E, quando chega o derradeiro fim da jornada noturna, os protagonistas de despedem e vão dormir.

Alisson S. Pereira, 22, é casado e mora em Porto Velho (RO).

A proximidade com a floresta amazônica poderia influenciar o acesso à tecnologia e distanciá-lo do ambiente de lazer encontrado nos jogos online. Porém, em 2006, com 11 anos de idade, já frequentava lan-houses.

As lan-houses funcionam da seguinte forma: minutos de uso dos computadores desktop são trocados por dinheiro.

Alguns jogos, como o Counter Strike fazem sucesso ali há anos, no Brasil, devido à interatividade online.

Ali, Alisson passou a interagir com amigos, ou melhor, conhecidos virtuais. À época, ainda não tinha serviço remunerado e dependia da boa vontade dos pais para se divertir. Nos dias mais generosos, enfrentava filas e passava horas em frente às telas, conversando e fazendo novas amizades.

Após dois anos, o garoto que se espremia na lan-house ganhou

Alisson e Karin se conheceram por meio do universo dos games e, desde então, mantêm amizade “a distância”

um console de jogos, o Playstation 2 (PS2). As rotinas mudaram e ele começou a ficar mais tempo em casa. Em alguns dias, “burlava” a escola para jogar.

Alisson logo descobriu que os consoles, tão práticos e portáteis, têm também um defeito: podem ser furtadas facilmente. Pouco tempo depois de ganhar o PS2, o garoto teve a casa invadida por um ladrão que, entre várias coisas, levou seu videogame.

Meses depois, o garoto conseguiu comprar, novamente, o console.

Dali em diante, nunca mais parou. Em 2010, migrou para o PS3, com melhor qualidade gráfica, e em 2016, para o PS4, que roda jogos da última geração.

Gerações e hieraquias É comum os gamers

se classificarem como veteranos e novatos, por meio dos tipos de consoles usados.

Os jogadores mais antigos iniciaram no universo dos games pelos consoles de 8 bits, como o Atari.

Lançado em 1979, o Atari tinha jogos eletrônicos com qualidade gráfica simples, que poderiam ser mudados mediante o encaixe de placas de memória do tipo Read Only Memory (ROMs) – denominadas no Brasil como cartuchos.

Outra maneira de hierarquização é por meio das habilidades desempenhadas nos jogos, servindo de parâmetro para julgamento dos demais.

Um gamer conside-

rado iniciante, pouco experiente nos jogos online, é chamado de noob por seus amigos. Alisson é veterano nas duas categorias: pelos consoles e pela habilidade.

Recepcionista em um hotel de Porto Velho, Alisson trabalha em um sistema de turnos (de 23h às 6h) e divide seu tempo entre o emprego, a família, o casamento e os games.

Ele não tem jogos preferidos, sempre opta pelos que considera os melhores em cada console (no Playstation, God of War e Last of Us).

No universo de games online, em que interage com os amigos, diz já ter passado mais de 52 dias (1248 horas) de sua vida jogando com apenas um dos três personagens do jogo Destiny, da desenvolvedora Bungie (mes-

ma criadora de Halo).

Como o fuso horário de Rondônia é uma hora a menos do que o da maioria do Brasil, Alisson precisa se organizar para encontrar os amigos online. Uma forma de estruturar o encontro é por meio da criação de grupos com valores, ideias e habilidades similares, chamados de clãs.

Clãs e amizades Karin Dardaque, é um exemplo de amizade encontrada dentro dessas organizações. Natural de Três Corações (MG), tem 25 anos de idade, cursa Engenharia Civil, esteve amasiado quando morou no Distrito Federal e nunca deixou de jogar. Ele participa do mesmo clã de Alisson, no qual os dois intermediam mais de 100 integrantes.

Para o mineiro, a entrada no universo gamer veio há 12 anos, com os jogos cooperativos de “16 bits”, quando ganhou de presente o console Neo Geo. Naqueles tempos, quando um gamer queria jogar com outro, era necessário ter dois ou mais controles (joysticks) e dividir as telas do aparelho televisor (split screen).

Videogames como Mega Drive, Super Nintendo, Neo Geo, Playstation 1, Nintendo 64 e muitos outros, anteriores a esses, não possuíam a capacidade de estabelecer conexão pela internet e, por isso frequentar a casa de amigos para jogar era habitual. Não havia ainda o conceito de jogos multiplayer

Os jogos multiplayer podem ser Player vs Player (Jogador versus Jogador ou competitivos) e Player vs Environment (Jogador versus Ambiente ou cooperativos) Ambos jogadores perpassaram vários consoles, aprimorando e buscando melhorias de interatividade.

No Brasil, a introdução aos jogos online aconteceu principalmente por meio dos computadores das lan -houses e ficou mais sólida quando os consoles passaram a permitir a conexão online.

Playstation e Xbox, videogames fabricados pelas concorrentes Sony e Microsoft, respectivamente, foram alguns dos consoles pioneiros na conectividade. Agora, as crianças que precisavam pedir permissão para jogar na casa de amigos podiam ficar nos próprios quartos e interagir com colegas de todo Brasil.

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Os videogames, principalmente após o advento dos jogos online, contribuiu para o hábito de ficar em casa.

No ambiente de jogos online, o lazer não é permeado de festas ou boates, mas de sofás, alimentos estrategicamente preparados e sorrisos pela madrugada… Até que a jornada empenhada pelos guerreiros noturnos acabe, eles se despeçam, desliguem os videogames, virem para o lado e durmam.

O sedentarismo acontece quando são gastas poucas calorias diárias com qualquer tipo de atividade física, o que acaba prejudicando o corpo e até mesmo a mente do jogador.

Segundo a psicóloga Christiane de Paula, da Clínica Sames, o risco de sedentarismo é real no mundo dos gamers.

“Jogar em excesso pode, sim, causar danos, prin-

reprodução

SAÚDE FÍSICA E MEntal

cipalmente nas fases de desenvolvimento da psique do indivíduo. A questão pontual é que as pessoas não podem deixar de viver o seu cotidiano “normal”, mudar a sua realidade e se entregar ao mundo

de fantasia que são os jogos. Tudo o que vai de um extremo ao outro é prejudicial”.

De acordo com a psicóloga, no mundo virtual, o indivíduo pode exercer poder, matar, roubar e ser al-

guém que normalmente não seria no mundo real. “Se ele for levado ao extremo, os limites entre realidade e ilusão entram em conflito, o que poderia causar um surto psicótico agudo ou até mesmo crônico.

Alguns gastam muito dinheiro e acreditam ser um investimento, mas pode levar à falência, outros se isolam do convívio familiar e ocasionam separações”. explica, Christiane.

Para os gamers, faze-

em sua pesquisa, que os games vão muito além do entretenimento: fomentam a capacidade

de absorção de conhecimento e aprendizado para quem os joga.

Segundo o autor,

rem parte de um grupo permite que eles se sintam úteis, além de servir para descarregar emoções. Entretanto, tudo precisa ter seu tempo certo, para não perderem as atividades normais, o sono, o trabalho etc. É necessário, então, usar o jogo apenas como mais uma forma de diversão e não como a única maneira de interação com o mundo. É importante ressaltar que até os 18 anos, a estrutura da personalidade e caráter do ser humano ainda está em maturação. Essa fase da vida requer contato com outras pessoas, pois é nesse momento que ele desenvolve os contatos sociais, seu modo de enxergar o mundo e a realidade ao seu redor.

“Todo tipo de isolamento é prejudicial à saúde física e mental”, acrescenta a psicóloga.

Pesquisa organizada pela empresa Conectaí – e divulgada pelo site especializado Tecmundo –, em 2016, 69% dos internautas, independentemente do gênero e da idade, jogaram online. Destes, 61% usaram games online com frequência, sendo 40% sozinhos e 21% com outraspessoas.

O instituto Pesquisa Game Brasil divulgou, no início de 2017, o novo perfil do gamer brasileiro. Nele, 74% disseram utilizar mais de uma plataforma (multiplataforma), sendo o smartphone a mais popular, com 37,6% de adesão. Os consoles e computadores foram preferência de 28,8% e 26,4%, respectivamente Em termos de gênero, uma surpresa: as mulheres são 53,6% dos gamers brasileiros, e 59% delas usam as plataformas mobiles,

se divertindo, em média, de uma a três horas por semana.

Francisco Tupy,

Mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo (USP), apurou,

reprodução

perfil do gamer este tipo de entretenimento possibilita uma nova maneira de aprender e pode, em uma perspectiva mais ampla, melhorar a qualidade do ensino.

Exemplo do uso destas plataformas para docência, os Estados Unidos da América lançaram a categoria de games intitulada serious, que são jogos voltados para a educação e aplicados em escolas.

Há seis anos, no Reino Unido, uma enquete com 1400 pessoas que se autodenominavam gamers constatou que cada indivíduo passava, em média, nove horas por semana envolto em jogos eletrônicos.

A pesquisa revelou também que jogadores assíduos, iniciados no universo gamer desde os nove anos de idade, terão passado, até os 45 anos, em torno de um ano e oito meses jogando.

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DOSSIÊ GAMES

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O mundo do$ e-$port$ REPRODUÇÃO

Os desafios enfrentados por quem decide transformar um hobby em profissão

Jogo “Na Batida” inspirado na paisagem da Praça da Liberdade e criado por Victor Hugo, um dos idealizadores da Startup “For Us Studios”

Izabela Cardoso Guilherme Peixoto Mariane Fernandes Durante muito tempo, os jogos eletrônicos foram tidos como meros “passatempos”.

Com o passar dos anos, porém, os games saíram do campo dos “hobbies” e tornaram-se profissão.

Treinos exaustivos, prêmios, troféus e fãs: tudo isso está presente na rotina daqueles que têm os games como ocupação profissional.

A participação em torneios online, a publicação de vídeos-tutoriais, sobretudo no YouTube, e a própria criação e produção de jogos são algumas das formas de ingressar no mundo dos e-Sports.

Vitor Hugo Dzivielevski, conhecido como “Vitinho Dzi”, tira do pôquer virtual seu sustento há cerca de oito anos. “Sempre fui viciado em jogos online e, com o pôquer, uni o útil ao agradável. Na época, meu pai tinha uma empresa que foi à falência.

Como eu já jogava pôquer recreativamente, vi ali uma oportunidade de, com dedicação, gerar renda para a minha

família”, diz ele. “Tive muito receio antes de entrar nisso [o mundo do pôquer]. Só depois de estudar bastante e ver que era possível depender apenas dos lucros do jogo, decidi me dedicar 100% ao pôquer online”, recorda o curitibano Vitor.

A principal façanha do jogador ocorreu no fim de 2013, quando conseguiu a terceira colocação no “800 Million Celebration”, torneio promovido pelo site Pokerstars.com. A “medalha de bronze” rendeu US$ 108 mil (cerca de R$ 342 mil) ao saldo bancário de Vitor, que disputou o campeonato contra 22 mil competidores.

O top-10 do certame contou com outro membro da família Dzivielevski. Trata-se de Yuri, irmão de Vitor, que terminou na nona posição. Eles chegaram a se enfrentar ao longo do torneio, que durou uma noite inteira.

Para Vitor, os atletas de e-Sports precisam estar sempre atualizados quanto às táticas de jogo. “Se hoje eu usar a mesma estratégia que me fazia ganhar dinhei-

ro há três anos, serei “jantado” na mesa de pôquer. Temos sempre que evoluir e buscar novos conhecimentos.

Sempre tem alguém disposto a ajudar”, opina.

Paralelamente à carreira de atleta profissional de pôquer online, Vitor atua como coach de outros jogadores, fornecendo dicas e orientações relacionadas ao jogo. Além disso, comanda o “VHD Poker Team”, equipe que conta com 25 membros.

Paixão nacional O futebol é o esporte predileto dos brasileiros.

No entanto, o país ainda engatinha nos “chutes virtuais”. Se comparados aos gêneros mais tradicionais, como ação e aventura, o futebol virtual ainda não tem o mesmo prestígio com os gamers profissionais, embora campeonatos de jogos como FIFA e PES movimentem boas cifras para os jogadores.

Envolvido nesse meio, Vinícius Alves, 22, tenta ingressar no mundo profissional do futebol virtual. Com uma dupla jornada, o ajudante de motorista tenta conciliar seus ho-

rários entre emprego e videogame. “Durante a semana, trabalho no período da manhã e, geralmente, tiro a parte da noite para jogar”, conta.

Aos sábados e domingos, costuma passar várias horas em frente à TV, jogando. “Nos fins de semana, me dedico bastante. Jogo à tarde, à noite e, às vezes, continuo até a madrugada”, complementa.

Fã da série FIFA, Vinícius utiliza o PlayStation 4 para jogar. Em 2017, chegou a conquistar uma das etapas da Hero League, torneio mais importante do universo do FIFA 17.

Ele, que também venceu uma das seletivas rumo ao Campeonato Mundial do game. “Fui jogar em São Paulo, em um torneio que pagava 5 mil e dava a vaga ao Mundial, mas acabei perdendo”, explica.

O rapaz, que comçou a jogar com mais afinco há cerca de dois anos, calcula já ter ganhado cerca de R$ 1.500,00 em premiações. Ele, porém, almeja ser um atleta de e-Sports. “Não sou jogador profissional, mas tenho a vontade e o sonho de me tornar.

Isso só virá com muita dedicação e treinamento”, encerra.

A visão de quem produz O processo de criação de jogos para plataformas virtuais desperta muita curiosidade nos usuários. Este foi o motivo que levou Victor Hugo Dapieve a ser um produtor de games.

“Particularmente, não sou gamer. Quis trabalhar com jogo porque, por volta dos meus 13 anos, jogava Tibia e ficava fascinado: ‘como uma pessoa havia criado um produto que me fazia gastar dinheiro e várias horas do dia?’”, explica ele, que foi um dos idealizadores da “For Us Studios”, startup fundada em fevereiro deste ano.

No entanto, engana-se quem pensa que a produção de games é um processo tranquilo.

Lenta e cheia de etapas, a criação de um jogo não garante retor-

no financeiro imediato.

“Por enquanto, só temos jogos autorais e em fase de testes.”, conta Victor, que é formado em Design de Jogos e Entretenimento Digital, além de ser pós-graduado em Design de Interação.

Victor relembra, com carinho, de um projeto feito em apenas 48H, durante uma Maratona de Desenvolvimento do Sebrae, que rendeu uma ida ao Rock In Rio. A menina dos olhos da startup, porém, é o Na Batida, jogo de dança desenvolvido para computadores.

“Colocamos um menino, que venceu um campeonato de “passinho” de funk no Aglomerado da Serra, como personagem do jogo. E o pessoal da comunidade produziu uma música que também está dentro do game”, relata o produtor, ressaltando o caráter social dos jogos desenvolvidos por sua empresa.

Top games mais rentáveis 1

Dota 2

US$ 24 milhões

2

LoL

US$ 4 milhões

3

Counter Strike: Global Offensive

US$ 4 milhões

4

Smite

US$ 3 milhões

5

Starcraft II

US$ 2 milhões

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Sorte no amor e no jogo Jéssica Sotero A fila era grande e tudo se encontrava escuro. Uma música eletrônica tocava bem alto, ao nível do evento que eu estava prestes a conhecer. Lá na frente, um painel enorme exibia os melhores momentos de edições anteriores, vídeos de jogos e os famosos cosplayers. Esperando para entrar, meu namorado me ensinava nomes de criadores e de empresas, além de termos conhecidos no mundo dos gamers, que, para mim, é completamente novo.

A fila começou a andar e entramos na área onde tudo acontecia.

Topamos de frente com uma multidão ansiosa para jogar seu game favorito. E foi assim que meu sábado começou, na maior feira de jogos da América Latina.

A Brasil Game Show nasce no Rio de Janeiro, em 2009, com público de, aproximadamente, quatro mil pessoas. Em 2013, a feira transferiu-se para São Paulo, no Expo Center Norte, e, neste ano, chegou a sua décima edição.

O evento reúne as maiores empresas do ramo de games. Além disso, conta com estandes de desenvolvedores independentes, campeonatos e presença de muitas celebridades do universo dos jogos.

Só em 2016, a BGS, como é conhecida, recebeu cerca de 300 mil visitantes e 200 marcas.

Atualmente, a feira é realizada no segundo semestre do ano, com cinco dias de duração.

Gamer, meu namorado Matheus me propôs acompanhá-lo nessa viagem à capital paulista, para, juntos, conferirmos o tão badalado e disputado evento.

Ele me ensina, desde o começo de nosso namo-

ro, os termos, nomes e demais especificidades do mundo dos jogos.

Ao chegar à feira, deparamo-nos com os gigantescos estandes das duas maiores empresas de consoles da atualidade no Brasil: PlayStation e a Xbox. De frente uma para a outra, atraíram, com as mais diversas formas, seus muitos fãs.

Percebi o tamanho da diversidade que o evento propunha quando vi um cosplay de Batman parado em cima de um palco. Ele estava à espera do início da música para dançar o famoso jogo Just Dance – game de dança que capta os movimentos que repetimos da coreografia. Logo depois, ao caminhar para nossa primeira fila, Matheus fez testes de jogos em lançamento. Eis que presencio um encontro inusitado: Jack Sparrow tira uma foto com o personagem Pikachu.

Em trinta minutos, conheci um colega jornalista presente desde o primeiro dia de evento, que curtia muito as atividades da programação. Não à-toa, ele disse estar bem cansado, mas adorando a experiência.

Também no primeiro dia, tive a oportunidade de conhecer Hideo Kojima, famoso designer japonês de jogos eletrônicos reconhecido por criar vários enigmas em seus games.

Ao sair da fila, visitei a parte da feira que, para mim, valeu mais a pena: os estandes dos desenvolvedores indies.

Trata-se de pessoas, ou equipes pequenas, que desenvolvem jogos por conta própria, com ou sem apoio financeiro, e têm a oportunidde de expor seus trabalhos na BGS, a fim de ganhar notoriedade.

Ali, naquela seção, depois de leve disputa no Music Rush, um jogo

de estilo musical, paramos em um estande que me chama a atenção.

White lie é um game focado em história, e com linda arte feita à mão, em tons sépia. Nele, um coelho procura sua dona, em um mundo desolado e surreal.

O objetivo do jogo é fazer o animal superar os desafios e descobrir a verdade por trás de tudo que está acontecendo. O game ainda não foi lançado, mas, pelo pouco que pude observar, quero chegar ao fim dessa história.

Ao sair dos estandes de jogos indies, encontrei o museu de evolução do videogame.

Havia vários consoles, desde máquinas com os famosos controles de uma só analógica e um botão, até aqueles que conhecemos hoje.

Matheus sentiu nostalgia, ao ver aqueles velhos videogames, e confesso que também me bateu uma saudade de quando era criança.

Após sair do museu, visitamos uma loja que vendia consoles antigos, um fliperama, controles, um Super Nintendo, e, com ele, uma das cenas mais formidáveis que pude presenciar naquele dia. Em um canto, pude ver duas gerações: pai e filho jogavam o famoso Super Mário.

Ao final do dia, estava exausta e com o celular sem bateria. Ao encontrar uma tomada para carregá-lo, uma senhora, que também precisava carregar o aparelho, sentou-se a meu lado e começamos a falar sobre a feira. Ela vinha do interior de São Paulo e estava ali para acompanhar o filho, que estuda para ser desenvolvedor de jogos.

Assim como eu, ela estava cansada, mas, já que o filho queria tanto estar ali, decidiu fazerlhe companhia. E disse

fotos: jéssica sotero

O dia em que acompanhei meu namorado até São Paulo para uma feira de games

estar se divertindo muito! Vi que, como eu, várias pessoas se dispõem a vivenciar o mundo do outro, tão somente, para que fiquem felizes.

Os estandes foram

fechando... E, na fila da saída, percebemos que, infelizmente, não foi possível apreciar tudo que a feira nos oferecia.

Voltamos para Belo Horizonte com a pro-

messa de retornarmos, em 2018, para a décima primeira edição da Brasil Game Show.

No ano que vem, porém, serei eu quem o convidará!

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Toxicidade seletiva gustavo santos

Mulheres relatam como os games afetaram desempenho em partidas

Arthur Scafutto Lucas Soares Atualmente, é bastante comum a glorificação do universo geek.

Quão criativa é a amplitude de conteúdo dos jogos e da interatividade entre os jogadores.

Observamos, também, a repercussão que isso vem ganhando a cada dia, em decorrência do aumento da acessibilidade aos jogos virtuais e a procura de novos jogadores.

Mas, apesar de ‘estar’ em outra plataforma, os preconceitos ainda continuam infectando, com vírus ‘reais’, os jogos online.

As minorias que compõem esse universo são submetidas a vários

atos de opressão, que, muitas vezes, não chegam ao público.

Cinthia, 21, relata os assédios e discriminações que sofreu, e ainda sofre, no meio geek. “Comentários como ‘você não deveria estar aqui pois Counter Strike – CS – é jogo de homem’, são frequentes. Mas quando crescemos, e ganhamos maturidade, as coisas explodem bem na sua cara”, conta a jovem.

A desvalorização da mulher, em geral, é bem recorrente em jogos de RPG [Role Playing Games] e de luta.

Hoje, as mulheres representam quase metade da comunidade, de acordo com a pesquisa Game Brasil 2015, da consultoria Sioux. Isso,

porém, não impede os ataques sexistas. Todas têm que enfrentar desde piadas a assédios de baixo calão.

Cinthia recorda uma ocasião bastante traumática. “Havia me reunido com amigos virtuais no Skype, para jogar League of Legends, mais conhecido como LOL. Tudo aconteceu quando estávamos jogando um contra o outro. Um dos garotos perdeu a partida para mim, e decidiu me atacar. Disse que eu deveria estar na cama dele ou lavando a louça, pois ali ‘não era lugar de mulher’. Enquanto isso, os outros rapazes se limitava a rir da situação e achavam tudo muito engraçado”, lamenta.a jogadora.

Nickname Uma saída muito comum para evitar o assédio, não só no meio gamer, mas em todo universo online, é o anonimato. Usuários tendem a mentir sobre seu gênero para evitar tais incidentes. “Mudei meu nick para as pessoas não desconfiarem que era uma mulher que estava jogando”, completa Cinthia.

Outra pessoa que se envolveu em uma intriga em uma partida de CS foi Khris Ellen.

A jovem, de 17 anos, disse que brigou com outro jogador que teria zombado do seu nome.

“Fui falar com o menino que ele estava falando meu nome errado e ele começou a me xingar, dizendo que eu não tinha que dar palpite em nada, e que iria continuar dizendo da maneira que quisesse”, explicou.

Em outra ocasião, foi surpreendida por um jogador que, após um deslize da oponente, fez o comentário: só podia ser mulher. Voltei a vida e o matei”, comemorou a garota, ao criticar tais comentários, que acabam desmotivando outras mulheres.

Preconceito Os estigmas ainda afetam a jornada de Deyse Neto, 24. Formada em artes visuais e estudante de design de jogos, relatou o que aprendeu no jogo, para além do inglês.

Por ser mulher, negra e lésbica, vivenciou situações constrangedoras. “Desde os 16 anos, participo de jogos online, maioria RPG e MOBA [Multiplayer Online Battle Arena]. Varia do célebre Ragnarok, do intermediário Perfect World e o viciante League Of Legends”, categorizou.

Deyse se apresentou algumas vezes, aos colegas de jogo, como lésbica e, nessas ocasiões foi tratada como homem e mais respeitada pelos jogadores. “Mulher que joga e não perde a partida: ou é homem dizendo que é mulher, ou é gay. Porque mulher, mulher mesmo, só atrapalha”, contou a jogadora, que disse ter a identidade diminuída em um ‘pseudo-respeito’ à sua sexualidade.

A artista visual também denuncia que, diversas vezes, reportou aos jogos essas situa-

ções, mas que de nada adiantava. “Todos os jogos online possuem o burocrático recurso de denúncia, onde nada é analisado, ou é identificado como delito, deixando o ambiente cada vez mais machista, misógino e imoral”.

Toxicidade Para a estudante, um dos motivos que a levam, aos poucos, a se afastar dos ambientes online, é o que ela chama de ‘toxicidade’ desses lugares. “O iniciante já sofre pelo simples fato de começar num meio totalmente desbalanceado. A mulher passa, então, por etapas muito mais complexas, tendo por vezes que esconder sua sexualidade para ser respeitada”, ponderou.

Curiosamente, é comum que os mesmos jogadores que escolhem personagens femininos, em sua maioria hipersexualizados, manifestem tal preconceito. “Eles saem das partidas dizendo que ‘mulheres não sabem jogar’, para poder usar da sua voz e corpo e fazer comentários escrotos e de cunho sexual nas partidas de videogame”.

@sexismo O portal PriceCharting, em 2012, realizou uma pesquisa, coordenada por Emily Matthew, uma das organizadoras do site, para mostrar o quão grave é o sexismo nos jogos online.

O levantamento, feito em redes sociais, como Facebook e Twitter, questionou o internauta sobre suas vivências nesse ambiente. Alguns resultados escancaram a diferença da realidade encontrada por homens e mulheres, nos games.

Das perguntas feitas por Matthew, estava: “você já vivenciou algum ato sexista enquanto jogava?”. As respostas ao questionamento foram enfáticas: 60% das mulheres disseram que sim. Cerca de 20% dos homens também disseram que já vivenciaram esse tipo de comportamento.

Outra questão levantada pelo portal é sobre a omissão do sexo durante os jogos. Quase 70% das mulheres que jogam disseram omitir informações sobre sexo para não sofrerem qualquer tipo de discriminação. Em contrapartida, menos de 10% dos homens tiveram que omitir tal informação.

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Brincadeira de criança?

Games engajados se espalham pela rede, nos consoles e smartphones. Para além da simples jogabilidade, eles abordam questões sociais, políticas, raciais e tecnológicas e auxiliam a reflexão crítica sobre situações vivenciadas na atualidade Igor Moreira, Kaila Odara e Stephanie Morgana

Já imaginou como seria jogar um game, se você tivesse a visão limitada? A Cidat-ONCE (Organização Nacional de Cegos Espanhóis) pensou, e desenvolveu um dos primeiros jogos para deficientes visuais.

Onae, a aventura de Zoe. permite que qualquer pessoa, com ou sem visão, desfrute do game..

A narrativa envolve a personagem Zoe, que trabalha em uma mina, recolhendo amostras, até que um terremoto a leva para uma civilização desconhecida. Para sair de lá, ela deve superar uma série de provas.

Os jogos tradicionais com experiência virtual permitem que o usuário escape da realidade. Já Onae, recorrendo à tecnologia tridimensional, tem recursos que aproximam, cada vez mais, o jogador do mundo real, levando-os a lugares que realmente existem.

Além disso, segundo os desenvolvedores, o jogo permite que o usuário tenha uma experiência sonora que aguça o sentido auditivo.

Por meio das teclas de apoio, o jogador tem uma noção de onde se encontra. Isso traz vantagens para quem pos-

sui deficiência visual, pois o cenário em nada influencia.

De acordo com o diretor da empresa desenvolvedora, Vector, em alguns momentos do jogo, enxergar pode até mesmo atrapalhar.

“Há situações nas quais é preciso escolher um som e, se o jogador se guia pela visão, vai se enganar”.

No jogo, existem ainda as “rotas de som”, onde os jogadores cegos ouvem um apito e, guiados somente pela frequência e pela velocidade, conseguem localizar os objetos.

o jogo da política

Super Impeachment Rampage tem duas versões, uma com a ex-presidente Dilma Rousseff tentando evitar o próprio impeachment.

Na segunda, os jogadores se põem no papel do atual presidente Michel Temer, e fazem de tudo para não renunciar. ao cargo.

Como todos sabem, em agosto de 2016, Dilma Rousseff foi afastada do poder, sob a acusação de ter realizado pedaladas fiscais.

Apesar de ser um assunto muito sério, os brasileiros fizeram piada, e até mesmo desenvolveram um jogo.

O game te leva até

este período conturbado da nossa história, e nos permite mudar o curso dos acontecimentos.

No jogo, desenvolvido por Bruno Britto e Mariana Salimena, você controla a personagem Dilma, que precisa evitar o impeachment a qualquer custo.

Ela encara o desafio praticamente sozinha, já que, o próprio jogo dificulta muito para que Roussef tenha ajuda.

Passando de fase, você encontrará algumas etapas “bônus”, como, a que apresenta Eduardo Cunha – ex -presidente da Câmara dos Deputados – como um caranguejo, numa

menção ao delongamento das investigações do processo de impeachment.

A segunda versão é um pouco mais “macabra”. Se na primeira, você tinha que coletar arquivos para ser inocentado, na segunda, o objetivo é ajudar Michel Temer a destruí-los.

Essa versão também conta com fases bônus.

Na mais famosa delas, é necessário jogar papelão na carne, em alusão à Operação Carne Fraca, da Polícia Federal..

O jogo pode ser achado em alguns sites de jogos, na página do jogo no Facebook e em breve estará na Play Store.

Preconceito racial Em sua segunda versão, o jogo South Park: A Fenda que Abunda Força continua a saga dos criadores da série, os norteamericanos Trey Parker e Matt Stone, de fazer críticas, por meio do humor, a diversos temas, principalmente de cunho social.

O foco, aqui, é a cor da pele do personagem, pois é ela que define o nível de dificuldade do game. A cor não interfere diretamente nos combates físicos, durante a história, mas influi no quanto de di-

fotos: reproduçÃo

deficiência visual

nheiro você ganha e na maneira como os outros personagens se dirigem a você, durante o jogo.

E não para por aí!

Mais à frente, o game pergunta ao jogador se

ele se identifica como garoto, garota ou outro, e, ainda, se é cisgênero ou transgênero, aproveitando para explicar, brevemente, o conceito de cada termo.

Problemas na Saúde SUS: The game”, criado por Luiz Alojziak e Ricardo Bencz, mostra a dura e triste realidade do Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil.

De forma simples, as setas do teclado fazem todas as ações do jogo, cujo objetivo é bem simples: sair vivo!

Você chega a um hospital em busca de atendimento. Mas, ao chegar lá, depara com atendentes ocupados com outras coisas, como

redes sociais e YouTube, e deixando os pacientes de lado.

Após pegar a senha 513, você vai para outra sala, onde não tem sequer uma orientação, e precisa achar o consultório do médico antes que morra nos corredores do hospital.

Ao contrário, da maioria dos jogos, que têm uma barra de vida, em SUS: The game, existe uma barra que significa morte. Quando você

não consegue achar a porta do médico antes que essa barra se complete, já era!

Outros problemas do país também são relatados no jogo, como o atraso nas obras públicas..

A qualidade gráfica não é um ponto forte, mas não tira a credibilidade e jogabilidade.

SUS não está disponível para download, mas você pode jogar online em vários sites.

abuso e consumismo Phony Story é um jogo educacional desenvolvido para dispositivos smartphones. Com o objetivo de promover uma reflexão crítica acerca da própria plataforma, o game alerta os usuários sobre o lado escuro do seu aparelho inteligente favorito.

O nome do jogo faz um jogo de palavras, re-

metendo não só a telefone (phone), mas também a fajuto (phony) e a história engraçada (funny story).

Por trás de uma interface polida, há uma cadeia de abastecimento preocupante.

O jogo, ao representar esse processo, faz do jogador, simbolicamente, um cúmplice da

extração de coltan no Congo, do trabalho terceirizado na China, de desperdícios eletrônicos no Paquistão e do consumismo de aparelhos eletrônicos no Ocidente.

Toda a arrecadação se destina, diretamente, para organizações que trabalham no combate aos horrores apresentados no jogo.

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GAMes de jornalismo Bárbara Souza Gabriela Guedes Eles já fazem parte das nossas vidas. Basta entrar no ônibus ou acessar as redes sociais para perceber que games como Candy Crush, The Sims e Minecraft são verdadeiras febres em todo o mundo. É comum, entretanto, deparar com questionamentos sobre o impacto deste passatempo no cérebro humano. Há quem diga, ainda, que os videogames são responsáveis pela alienação de crianças e jovens.

Se o caminho para desalienação é o estímulo do pensamento crítico, o jornalismo tem nisso uma de suas missões principais.

Motivados pelas transformações provocadas pela internet no fazer jornalístico – os profissionais têm buscado, cada vez mais, novas maneiras de apresentar a notícia. E se o jornalista não consegue vencer a mania dos games, porque não juntar-se a eles com outro propósito? É a ideia dos newsgames. Em tradução livre, jogos de notícias.

Esse é um novo gênero dentro dos jogos sérios, que tem como objetivo de transmitir um conteúdo educacional. Nessa vertente, os produtores se empenham em combinar o entretenimento e o que há de mais importante no jornalismo: a informação.

Quanto ao surgimento desse gênero, existem divergências. Entretanto, muitos classificam o game September 12th como o primeiro sucesso de newsgames.

Criado em 2003, por Gonzalo Frasca, também idealizador do termo que nomeia a vertente, o jogo tem como finalidade combater terroristas e poupar civis dos bombardeios.

Ao longo do jogo, se torna impossível salvar todos os civis. A mensagem passada pelo criador do jogo é bem simples: violência só gera violência.

Estas interações foram de grande uso para aumentar o alcance de leitores, de forma que, as publicações passaram a se adaptar à era digital, oferecendo testes e jogos virtuais como notícias para o público.

O retorno é tão grande, que, em 2014, o jornal The New York Times alcançou 3,8 milhões de visitantes quando publicou um newsgame.

Já em terras tupiniquins, a revista Superinteressante abriu espaço para a produção desses games em 2007 e, hoje, é referência no assunto.

Um dos responsáveis por esse sucesso é o jornalista Fred di Giacomo, que, logo no início de nossa conversa, fez questão de destacar a importância do gênero para desmistificar esse aspecto negativo atribuído aos jogos eletrônicos.

“As pessoas também já acharam que o cinema e os quadrinhos eram influências ruins para os jovens. Os newsgames e os jogos educativos estão aí para mostrar o contrário, pois treinam, educam e informam”, enaltece.

O jornalista começou a sua trajetória na área de forma despretensiosa. “Éramos garotos que gostavam de jornalismo e videogames. Pensamos que seria legal unir os dois e achamos que iriamos criar algo inovador a princípio, até descobrirmos que não era bem novo”, conta.

Seu primeiro trabalho foi na criação do Jogo da Máfia, no qual o gamer é um policial infiltrado, que age como traficante com o objetivo de prender o “che-

foto: mariane fernandes

Como os jogos eletrônicos estão inseridos no fazer jornalístico na atualidade

fão”. Por meio do jogo, é possível entender como funciona o tráfico e em quais regiões atua. A partir daí, ele não parou, e trabalhou em outros sucessos, como Filosofighters e Pule o Muro, feito para uma reportagem sobre 25 anos da queda do muro de Berlim, na Alemanha.

Segundo Fred, os newsgames estão influenciando o jornalismo a ponto de ganharem status de gênero próprio, pois simulam o acontecimento e, ao mesmo tempo, permitem que o receptor esteja imerso na história. “O cérebro está totalmente ocupado quando se joga videogame. É impossível fazer outra atividade, por isso, a pessoa se concentra apenas naquilo”, ressalta.

Na produção de um jogo jornalístico, é preciso estar atento a alguns detalhes. Afinal, ele precisa desafiar, divertir, informar e ensinar, senão perderá sua característica principal.

Fred afirma que o maior desafio do jornalista é transmitir informações de forma divertida, sem perder essa essência “É importante trabalhar com uma

equipe que não se esqueça do game design.

Não vale encher o jogo de texto. Na minha opinião,o jogador precisa aprender a informação através do próprio jogo e não por meio de recursos extras”, finalizou.

Adaptação brasileira A globalização está constantemente obrigando as mídias convencionais a se adaptar às novidades apresentadas no mercado digital e com os newsgames não foi diferente. Criados para terem impactos na vida dos jogadores além

dos jogos, desde que surgiram, eles desafiam os usuários a utilizarem a inovação e pode-se dizer que o resultado foi surpreendente.

A revista Veja, em 2008, lança o Jogo das Eleições, com o objetivo de mostrar para o eleitor qual candidato a prefeito combina mais com os seus ideais.

No mesmo ano, a Superinteressante coloca o leitor na pele de um agente do FBI para se infiltrar na máfia e desvendar o crime.

Em 2009, o tradicional Super Trunfo ganha

a internet e coloca os fãs de futebol para explorar as habilidades dos jogadores do brasileirão.

Já em 2011, é a vez da Rede Globo ganhar espaço e divulgar o Missão Bioma, para incentivar o telespectador a preservar e defender o meio ambiente.

No decorrer dos anos, SBT, Bandeirantes, Folha de S.Paulo e diversos outros veículos também se aventuraram nos desafios dos newsgames, porém, atualmente, é a Superinteressante que se destaca dentro das redes.

categorias de newsgames Atualidade: Baseados em fatos recentes, estes jogos podem estar envolvidos desde os editoriais, aos tablóides; Infográficos: Tratam qualquer tema com elementos de infografia; Documentários: Simulam situações e ampliam as histórias abordadas; Passatempos: Baseados em jogos como quebra-cabeças e caça-palavras; Letramento: Que tem como objetivo principal ensinar o papel do jornalismo e a sua importância; Comunitário: Que fazem efeito na vida do jogador; Plataformas: São os responsáveis pela criação de novos newsgames.

Fonte: Newsgames - Journalism at Play, de Bogost, Ferrari e Schweizer (2010)

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JORNAlismo de games arquivo pessoal

Em conversa com o IMPRESSÃO, especialista Marcelo Faria fala da cobertura de jogos no país eu ganhava os jogos. Eu chegava a jogar seis horas todos os dias.

Também realizei uma aceleração de jogos no Vale do Silício, na Califórnia, e outra na Malásia.

Embora tenha um público sólido no Brasil, o jornalismo especializado em games não é amplamente divulgado. Como você vê essa expansão?

Na verdade, o mercado explodiu de vez com a implantação do Mobile. Anteriormente, o mercado mais potente da América Latina era o do México.

Camila Marques Izabella Cardoso Jornalista especializado em games. De onde veio a ideia?

Meu sonho sempre foi ser jornalista de games. Já na PucTV, no 2o. período, eu apresentava um quadro especializado no tema.

Depois, estagiei na Outer Space, um dos

mais antigos sites de notícia de games do país, que já estava no ar antes do UOL. Hoje, atuo como parceiro do portal R7.

Você já começou atuando numa área pela qual tem paixão, o que costuma ser raro no jornalismo.

Como foi isso?

Trabalhei por dez

anos escrevendo releases de games, o chamado review, que são as críticas de jogos. O salário, naquela época, já era acima do mercado, mesmo sendo apenas estagiário.

Quando me formei, atuei como jornalista esportivo no jornal O Tempo. Cumpria jornada de cinco horas, e depois ia para a Outer Space.

Como é fazer esse tipo de jornalismo?

Você faz coberturas?

De forma presencial não. Fazia coberturas remotamente. A que mais me marcou foi quando chegaram o Nintendo I e o Playstation 3 no Brasil. Foi impactante, pois o game chegou em um dia e no outro, eu já estava jogando. Era algo bom para mim, porque

No campo do jornalismo de games, quem você considera uma referência?

Um é o Bruno Abreu, que foi meu chefe na Outer Space.

Ele já era uma referência há treze anos, e me inspira bastante, além de ser uma pessoa que viajou o mundo e vive para o site.

Outra referência é o Pablo Miyazawa, editor da IGN. Já gostava dele como repórter, e ele

Sites de jornalismo sobre jogos no Brasil 1

IGN Brasil

br.ign.com

2

Outer Space

outerspace.com.br

3

Tech Tudo

techtudo.com.br

4

UOL Jogos

jogos.uol.com.br

5

Arkade

arkade.com.br

6

Costumes de Nerd

costumesdenerd.blogspot.com.br

7

GameVicio

gamevicio.com

8

GameStart

gamestart.com.br

9

The Enemy

theenemy.com.br

gameLib

gamelib.com.br

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Reportagens feitas pelo jornalista Marcelo Faria, para o site Outer Space

também atuou como editor na versão brasileira da Rolling Stone.

Há alguma diferença entre o jornalista que atua em games e o “tradicional”?

A diferença é o papel que cada um desenvolve. O jornalista era um formador de opinião e influenciador.

Hoje o público tem informação, tanto de youtubers, quanto dos canais das próprias empresas, que são acessíveis e abertos. A crítica, hoje, já não tem tanto peso, pois os jogos não têm aquele lançamento impactante, além de estarem em atualização constantemente.

Atualmente, é impossível ignorar a potência dos influenciadores digitais. A visão de um youtuber desqualifica uma boa crítica?

Sim, o influenciador digital tem uma visão muito personalizada e autêntica, o que pode ser importante quando ele se identifica com o que o tipo de game que jogador mais gosta.

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TRAMAS CONTEMPORÂNEAS

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lama por todo lado foto: larissa pimenta

Repórter vai à região da tragédia de Bento Rodrigues em busca de explicações para o inexplicável pendurada na janela, e, mais uma vez, penso: “Brasileiro não desiste nunca”. Imagino, claro, todas as pessoas que moravam ali. Eu tinha que conversar com um antigo morador, já que o segurança não era de muita conversa. Acabam-se os cinco minutos e é hora de ir embora. Voltamos a Mariana.

Sem ser convidada, lama da barragem da Samarco destruiu casas, vidas e a lógica dos moradores do distrito de Bento Rodrigues

Getúlio Fernandes “A estrada é ruim”.

“Vai chover”. “Não animo, não”. Nem mesmo essas três desculpas e a ameaça de greve geral foram suficientes para me impedir. Com a mala pronta há dois dias, eu pego a estrada para Mariana (MG).

Talvez fosse mais fácil com muitas pessoas, mas apenas um dos amigos chamados topou ir, e, claro, chamou outro amigo. Acredito na força das pessoas e na vontade delas para fazer o que mais querem. Várias noites sem dormir de tanta ansiedade, inclusive, na madrugada que antecedeu a viagem. O medo era algo que eu não tinha. Então, o que me faltava? Pôr o pé na estrada.

A conversa no carro gira em torno da reportagem. “Como é a pauta?”; “O que pretende fazer?”; “Que rumo vai tomar?” Quando explico

aos dois corajosos, eles me motivam ainda mais.

Passamos por Nova Lima, Itabirito e Ouro Preto. Até que aparece uma placa que me chama a atenção e me faz pensar durante todo o dia. “Seja bem-vindo a Mariana. Aqui nasceu Minas Gerais”. “O que significa isso?”, pergunto-me. Mais 2km, um retorno, uma conversão à direita e pronto.

Aparentemente, uma cidade tranquila, moderna e desenvolvida.

Logo, logo, chegamos ao centro histórico.

Déjà vú Telefono para o presidente da Associação de Moradores de Bento Rodrigues. Quero saber como conversar com moradores do distrito.

Ele me diz que cheguei no dia certo, pois, naquela tarde, haverá uma reunião com alguns deles. A notícia me deixa feliz e liberado para conhecer melhor o mu-

nicípio. Várias igrejas, restaurantes e lojas. Os museus, em sua grande maioria, são de posse da arquidiocese. Os moradores, muito receptivos, nos tratam com sorrisos, carinhos e indicações.

Aos poucos, eles nos conquistam pela simplicidade e por tratarem visitantes como se fossem moradores.

Caminhar pelas ruas de paralelepípedo me traz sentimentos, pelos quais minha mente e meu coração se engrandecem.

Pisar em solo de cidades históricas me desperta grandes imaginações: como num déjà vú, saio da realidade e busco, mentalmente, desenhar o passado.

Ver aquelas igrejas gigantes faz com que eu me sinta pequeno. O poder do divino? Poderia ser esse mesmo o motivo para o tamanho dos monumentos. A cada dobra de esquina, um pensamento, uma intensa busca por compreen-

der ou, ao menos, tentar reviver o que aconteceu há séculos.

Depois do almoço, é hora de ir a Bento Rodrigues. A tão esperada hora, a busca pelo prazer e pelo êxtase, ronda esse momento. Duas ou três paradas para pedir informações, e, uma vez mais, o marianense mostra-se atencioso.

Em sete quilômetros percorridos, avistamos o começo da estrada de chão. Terra muito vermelha, neblina, um pouco de lama, muita mata e nada de pessoas. Os outros quatorze quilômetros a percorrer serão tensos.

Desistir? Nunca!

Chegamos, enfim, ao distrito de Bento Rodrigues. Na entrada, dois seguranças controlam o fluxo de pessoas. Um deles, homem de pouco papo, era morador do distrito. Consigo, então, a liberação para entrar.

Bento é um local

pequeno, que, logo na entrada, me deixa arrepiado. Lembro-me do poema de Vinicius de Moraes, e logo me vem à mente uma nova versão: “Rosa de Bento Rodrigues”. A motivação para aquela lembrança está ali, enraizada e bela: uma flor; uma rosa, para ser exato. A única no caminho. Mas passamos muito rápido, e não consigo a foto.

Com suas ruas de bloquetes intertravados, entramos com calma. Silêncio no carro: respeito ou admiração? Não consigo distinguir. Quando abro a porta e começo a sair, meu coração dispara. “Estou onde uma tragédia aconteceu”, minha mente sussurra.

Por minha cabeça, passam várias imagens de pessoas a correr da devastação de suas casas.

Logo à frente, uma casa de dois andares.

No andar de baixo, um bar. Deparo com uma bandeira do Brasil de-

Histórias Na reunião com os moradores, fico de olho em um senhor. Calmo e já de idade, Filomeno me chama muita atenção. “Pode conversar comigo?”, pergunto.

Quando o chamo para fora da sala, descubro que ele se salvou da tragédia por questão de minutos. Ao contemplar as mãos calejadas e o semblante cansado, percebo que ouvirei dele muitas histórias.

Filomeno da Silva, 84, fundou a associação de moradores de Bento Rodrigues. Orgulha-se de tudo o que fez por aquele distrito. Enfatiza que cresceu em uma comunidade com inúmeros amigos e onde todos viviam do garimpo e da agricultura. Trabalhar, a não ser nessas posições, era difícil.

“Agradeço muito à família de Roque Camilo, que me recebeu em sua casa e me deu todo respaldo”, comenta, acerca de sua adoção.

Roque Camilo, citado por Filomeno, foi prefeito de Mariana e entrou para a lista de políticos cassados da cidade. “Por ser inteligente, foi cassado”, completa.

Segundo Filomeno, as ideias de Roque eram propícias ao crescimento da cidade. Uma delas era fazer com que a cidade se desenvolvesse sozinha e não dependesse da mineração. É fato que, em Minas, os municípios com

TRAMAS CONTEMPORÂNEAS Astra 95, importado e de cor preta.

Impactos Um pouco antes dessa reunião de moradores, algo havia chamado a atenção de um colega: a cidade está vazia em pleno sábado à tarde.

Procuro a Secretaria de Turismo de Mariana, para saber como anda o movimento na cidade, pois um município histórico como aquele parece deserto demais.

Comparo registros aos quais tive acesso, no Centro de Atenção ao Turista (CAT), sobre o fluxo de visitantes ao longo dos anos de 2014 e 2015. Verifico a tendência de aumento de turistas de aproximadamente 30% por mês.

No entanto, especificamente em novembro de 2015, mês do rompimento da barragem, a cidade teve queda de 10%, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

A procura por hospedagem, após 5 de novembro, também caiu

consideravelmente. Diversos hotéis, relatam cancelamento de reservas, devido à suspensão da maior maratona da cidade. “Mariana teve queda não só no turismo, mas na economia também”, relatam duas moradoras. Afinal, a principal atividade econômica da cidade é a mineração.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico promete me encaminhar dados sobre o assunto, mas, enquanto você lê esta matéria, ainda aguardo tais informações.

Em todos os momentos em que presenciei a conversa de moradores de Bento, durante a reunião, tentei me colocar no lugar deles. Fico feliz por ter conhecido pessoas que superaram eventos trágicos e imprevisíveis, e ainda querem o melhor da cidade onde residem.

Os moradores pensam no desenvolvimento da cidade, contudo, por outro lado, querem gritar “independência

ou morte!”. Não desejam mais depender, apenas, da extração de minério de ferro.

Retorno É hora de ir embora.

Uma parada para o lanche, antes de pegar a estrada de volta. Em um típico restaurante mineiro, panelas sobre um fogão de lenha esquentam caldos de diversos sabores, e trazem mais um pouco do que Mariana é e sempre vai ser. hospitaleira.

Na saída da cidade,

passo, mais uma vez, por aquela placa: “Bemvindo a Mariana. Aqui nasceu Minas Gerais”.

Desta vez, eu consigo entender. A resposta está na ponta da língua: o estado tem pessoas que representam a serenidade, a hospitalidade, a irmandade, a capacidade de superar tudo e continuar lutando.

Conhecer aquelas pessoas foi algo essencial para saber quem sou e como estou sendo em minha rotina. Pretendo retornar à cidade,

pois até hoje, fomento pensamentos amorosos pelo local.

Finalmente, chego em casa, encontro amigos, namorada e família.

Deito a cabeça no travesseiro e agora te convido a ir até ali, na cidade pequena e calma.

Da gente hospitaleira, das igrejas grandiosas e dos fogões a lenha. Dos passeios turísticos, dos casos, das ruas de pedra e do frio gostoso. Entre e fique à vontade. Bemvindo a Mariana. Aqui nasceu Minas Gerais.

COMO (RE)COMEÇAR?

Normalina Yacy Viana Prefiro falar de (re)começo. Refiro-me às mais de mil pessoas que tiveram suas vidas arrastadas ou, literalmente, destruídas, pela lama. Embora, particularmente, tenha perdido 40 anos de muito trabalho, sinto-me agraciada por Deus, por ainda estar viva após quase dois anos da maior tragédia do Brasil: o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG).

A lama destruiu, totalmente, a fazenda e a pousada que eu mantinha no distrito de Bento Rodrigues, sem contar com a contribuição dos vândalos que finalizaram a destruição. Desde então, nada foi feito para que nossas vidas voltassem à normalidade.

A Samarco não se deixa ser representada. A justiça, por sua vez, nada faz em prol dos desabrigados; ou melhor, fez: suspendeu os processos que indiciavam os criminosos responsáveis pela tragédia.

Como se não bastasse, a empresa foi a público dizer que está arcando com os custos dos aluguéis de imóveis, além de repassar, mensalmente, um salário mínimo e uma cesta básica aos desabrigados.

Será que não seria mais do que obrigação dos assassinos proporcionar o mínimo

15 foto: getúlio fernandes

mineração dependem totalmente dessa atividade. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), no estado são extraídas, por ano, 180 toneladas de minério de ferro. Em 2014, Mariana ocupava a segunda posição da lista de maiores arrecadadores, atrás apenas de Nova Lima.

O sustento na comunidade de Bento Rodrigues, na década de 30, era regido por punhos próprios. “Já foi lá?”, me pergunta. Respondo que sim. “Você tinha que ter visto o campo de futebol! Criei o time para que a comunidade tivesse uma comunhão aos finais de semana”.

Filomeno fala, também, da saudade dos garotos que iam à sua casa, aos domingos, e o chamavam para treiná -los. Após contar isso, meu entrevistado avisa que precisa ir embora.

Sua simplicidade é marcante. Penso, então, em seu retorno para casa, naquele xodó que havia me falado em off, o tal

Novembro de 2017 Jornal Impressão

de socorro? Creio que quem destrói deve reconstruir. Porém, infelizmente, sei que isso não será feito, afinal, quem perdeu, perdeu.

A fila anda e os desabrigados envelhecem e morrem – isso, se não houver suicídio.

Impossível imaginar que, aos 69 anos, eu consiga retomar tudo o que conquistei em quatro décadas de trabalho. É lamentável pensar, contudo, que a lama não precisou nem de um terço desse tempo para destruir.

Segue o depoimento de Antônio Geraldo, uma das milhares de vítimas da tragédia, que, como eu, entregou tudo à lama.

O que o senhor sentiu quando aconteceu a tragédia e qual sua situação após dois anos?

Senti que nossa vida acabou. Aqui, em Mariana, estamos vivendo de favor e não temos nada. Eu queria minha casinha igual eu tinha, minhas coisas que eu mexia lá, e a lama acabou com tudo.

O que o senhor perdeu?

Foi embora um caminhãozinho, uma caminhonete, minhas criações. Até mesmo o Corpo de Bombeiros sacrificou animais meus lá.

O que o senhor recebeu, como indenização pelo desespero e pelo que perdeu?

Me deram 20 mil. Destes, 10 mil foi de indenização e o restante foi ajuda de custo.

Quanto o senhor recebe da Samarco para sobreviver com a família?

Atualmente, recebo cerca de 1.200 reais, por mês.

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Jornal Daqui (Buritis e Região)

EXPERIENTES E CONECTADOS Anna Elisa Oliveira Ariel Thêmis Patrick Lima Thamiris Fiorino Arthur Scafutto É notável o crescimento do número de brasileiros com idade acima de 60 anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2050, os idosos corresponderão a 66,5 milhões de pessoas, ou 29,3% da população.

Em 2030, o percentual de brasileiros com 60 anos ou mais ultrapassará o das crianças de 0 a 14, na proporção de 18% para 17,6%.

Ainda segundo dados do IBGE, referentes a 2014, 36,8 milhões de casas estavam conectadas à internet, o que representa 54,9% do total. São 95,4 milhões de brasileiros online – e o índice de idosos conectados aumenta continuamente.

Nada menos que 5,2 milhões de pessoas acima dos 60 anos – ou 21% de tal população – têm acesso à internet no país, conforme revela pesquisa do Instituto Locomotiva.

Na visão da professora Camila Maciel, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os idosos estão cada vez mais direcionados ao uso das tecnologias.

“Atualmente, quase tudo passa por ambientes digitais. Pagar contas e fazer compras em sites de e-commerce, por exemplo, são usos cada vez mais cotidianos”, comenta a professora.

Após a aposentadoria, os idosos passam por uma série de dificuldades. Além da diminuição de renda, há perda da inserção social, que pode ser compensada caso os idosos se mantenham atualizados.

Interatividade As redes sociais e diversos aplicativos possibilitam ao idoso maior aproximação com os familiares. “O contato com as redes proporciona a comunicação com laços mais fortes, com filhos e netos. WhatsApp, Facebook e Skype, por exemplo, são usados para comunicar e interagir com a família”, esclarece Camila. ​ Maria Matos, 63, gosta muito de ver e compartilhar vídeos e fotos de flores, receitas e bichinhos fofos nas redes sociais. “Minhas amigas, às vezes, também comentam e compartilham. Todas as manhãs, mando mensagens de ‘bom dia’ para minha filha, que mora longe, e também para os netos”.

Para o geriatra Daniel Azevedo, esse tipo de atividade traz benefícios. “Para a saúde dos idosos, que estão em uma fase de muita carência na área emocional, a interação virtual pode contribuir bastante”, diz.

Dificuldades Porém, existem muitos obstáculos nesse processo. Entre eles, o difícil entendimento das letras pequenas e a utilização das funções dos dispositivos móveis e smartphones.

O ​ aposentado Valdir Pedro, 73, expõe a sua dificuldade: “Eu sempre tenho que pedir ajuda para meus netos, filhos, sobrinhos ou alguém que esteja perto. Até tento entender e usar sozinho, mas acabo esquecendo e não tenho facilidade em encontrar o que quero no meu celular, muitas vezes não consigo nem mesmo encontrar os contatos que procuro”. ​A professora Camila relata que o cuidado com a acessibilidade é incomum até mesmo no

Foto: jorge lopes

Se não realizada de modo responsável, interação entre idosos e novas tecnologias pode ser bem complicada

Segundo especialistas, interatividade entre idosos e tecnologias pode contribuir, posivitamente, na vida afetiva e social

que se refere a pessoas sem deficiências graves.

No caso dos idosos, é ainda pior. “Exige um conhecimento maior do diagramador, e o mercado, em grande parte, não se preocupa com isso”, diz Camila.

A profissional explica que, para o desenvolvimento de interfaces, é necessária uma pesquisa aprofundada sobre o perfil do usuário.

Mas, essas análises possuem custo elevado e nem todas as empresas estão dispostas a arcar com o investimento.

Em consequência, o acesso para a terceira idade encontra-se em um nível muito precário. “Até mesmo os programas feitos para esses indivíduos precisam ser pensados em questões específicas”.

De acordo com o geriatra Daniel, o uso de smartphones é menor devido a limitações físicas. “Nessa faixa etária, também por problemas visuais maiores, ferramentas como WhatsApp, são bem menos

utilizadas. A maior parte dos pacientes que entram em contato comigo preferem utilizar o e-mail, porque a tela do computador é maior e o teclado é simples de digitar”, explica.

Pesquisas Já existem programas pensados para maiores de 60 anos com o objetivo de estimular a memória e outros parâmetros. A pesquisa para esses projetos exige engajamento multidisciplinar entre a comunicação, computação e a neurociência. ​ A neurociência é fundamental para identificar os sintomas da velhice, como perda da memória, enfraquecimento, prostração etc.

Aplicativos que avaliam esses fatores cooperam no tratamento. Porém, esses programas ainda estão em fase de desenvolvimento. Além disso, é necessário investimento para que cheguem ao consumidor. “São raras, no mercado, empresas

realmente interessadas em desenvolver tais técnicas”, conclui Camila.

Apesar disso, o Dr. Azevedo já percebe uma evolução no uso das tecnologias pelos idosos, que passam a ter mais ativação do equilíbrio emocional e mental. “Particularmente, vejo com bons olhos o que a tecnologia, a internet e os smartphones têm a oferecer para todas essas faixas etárias”, conclui o geriatra.

No Buritis O Buritis é um bairro jovem, porém conta com uma considerável população idosa. No que se refere às novas tecnologias, há aqueles que se adequaram bem às mudanças.

Antônio Vaschetto, 68, morador do bairro há 14 anos, sempre foi figura assídua na evolução das tecnologias, desde que trabalhava com isso.

“Para ter mais facilidade, acessar e entender o funcionamento dos aparelhos, é preciso

muita curiosidade e paciência”, frisa Antônio.

“Claro que não conseguimos fazer tudo na primeira vez que tentamos, ainda mais quando estamos sozinhos”.

Antônio e sua esposa Mírian, 50, são voluntários da Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) e usufruem dos serviços das redes sociais e das novas tecnologias.

Outra moradora da região que se adaptou com facilidade foi Alvanir Moreira, 66, embora tenha necessitado um pouco mais de investimento para aprender a manusear os aparatos tecnológicos. “Eu trabalhava em uma biblioteca, estavam surgindo as novas tecnologias. Fiz muitos cursos para me informatizar.

Depois que me aposentei, estou até um pouco desatualizada”, diz.

Alvanir, hoje em dia, como a maioria dos idosos, também usa a internet para manter o contato com seus amigos e familiares.