Edição 207 – Caderno 2

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foto: joRge LoPes

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo do unibh Ano 36 • Número 207 • Novembro de 2017 • belo horizonte • mG


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EU ESTAVA (QUASE) LÁ

Novembro de 2017 Jornal Impressão

Aerosmith do lado de cá fotos: Luiz Vila Real

O que aconteceu fora do show do Aerosmith? O IMPRESSÃO acompanhou os fãs e todo o movimento externo do Mineirão encontrar pessoas que assistiriam ao show do lado externo. Um deles me respondeu – e tive a impressão de que, ao fechar as pálpebras, elas fizeram um tilintar de máquina registradora. “Quanto vou ganhar com isso?”, ele perguntou. Respondi que nada, nem mesmo eu estava sendo remunerado para estar ali. O sujeito zombou de mim com os colegas, e me perguntei se é assim que ele trata os entes queridos, perguntando quanto ganha por ajuda. Segui meu rumo. Fui para uma das vias na orla do estádio, a Av. Coronel Oscar Paschoal, cujo nome quase ninguém sabe, e que só descobri olhando no Google Maps. Na parte externa, o ‘show’ ficou por conta dos preços acessíveis praticados por diversos comerciantes em seus carrinhos de lanches

Luiz Vila Real Dia 18 de setembro de 2017. Segunda-feira. Um dia como outro qualquer para a maioria dos belo-horizontinos. Para os fãs de rock clássico, dia de show do Aerosmith. Para mim, dia de registrar a passagem da banda pela cidade em sua turnê de despedida – a não ser que façam como Judas Priest e Scorpions, que, no início da década, alegaram estar abandonando os palcos... Até lançarem novos álbuns. Do lado de fora do estádio de futebol, as luzes púrpuras não caracterizavam nem o clube alvinegro do Lourdes, nem o azul-celeste do Barro Preto. Mesmo assim, uma multidão, em sua maioria vestida de preto, se concentrava em massa na Esplanada do Gigante da Pampulha, um dos nomes do Mineirão – que na verdade é registrado em cartório como Governador Magalhães Pinto. A atmosfera de expectativa incidiu sobre

o local, logo que três painéis de led mostraram imagens de um time – de cinco integrantes, todos com posição fixa – pasmem, desde 1970! Diversos momentos e conquistas dessa equipe, vinda de Boston, nos Estados Unidos, foram ovacionados pela torcida no lugar, que praticamente entrou em ebulição ao ver os cinco integrantes chegando, sob luzes de holofotes, e quando o capitão do time deu o sinal, o resto da noite pôde ser resumido pelo título da canção “Let The Music do the Talking”, ou “Deixe a música falar”, em tradução livre.

Enquanto isso, lá fora Horas antes, às 16h, eu subi a Av. Antônio Abrahão Caram, câmera DSLR a tiracolo, mochila nas costas, com tudo que eu precisava – carregadores, câmera digital portátil, bloquinho de anotações e, até mesmo, um lanche. Afinal, ficaria ali até a madrugada do dia seguinte, e não estava

disposto a pagar os altos preços ofertados da Esplanada do Mineirão. Logo que cheguei a uma das entradas do show, nesse caso, a pista VIP, já notava os ambulantes, oferecendo camisetas e outras peças de vestuário, além de

itens colecionáveis da banda norteamericana. Outros, porém, vendiam guloseimas e cigarro.

Cambistas Logo à frente, cambistas a postos. Perguntei a um grupo deles se poderiam me ajudar a

Vendedores Me aproximei de um grupo de mulheres, sentadas em cadeiras de plástico, diante de uma Ford Courier vinho, que era só mais uma picape numa enorme fila que se formava no meio fio. Quis saber o que faziam ali. A mais extrovertida

No palco, Tom Hamilton mostra concentração; do lado de fora, Rosemeire se mostra alegre pelo êxito nas vendas

delas, com bom astral e à vontade como se fosse dia de jogo de seu time do coração – só não vestia camisa de futebol –, informou que estariam trabalhando no evento. Fiquei curioso, pois imaginava que toda a equipe da organização já estava a postos numa altura daquelas. A moça bem humorada, Rosemeire, me explicou que elas vendiam lanches, do lado de fora do estádio. Cada uma trabalhava em um carrinho diferente. Sim, carrinhos de lanches. Nada de food truck gourmet! No lado oeste do estádio, reinavam os populares “podrões”. Lanches apreciados por todo tipo de público que gostava da relação custo-benefício: o tamanho e recheios que matam a fome de qualquer pessoa, e o preço, segundo Rosemeire, bem mais barato que o da comida vendida dentro dos limites do evento. Ao longo da conversa, a vendedora confessa não ser fã dos Bad Boys de Boston (um


EU ESTAVA (QUASE) LÁ dos epítetos do grupo de Massachussets), nem mesmo aprecia o rock – embora se considere eclética. Apesar disso, reconhece que não é um “estilo pra qualquer um, é pra quem sabe fazer bem. Aerosmith é uma banda que faz música bem” diz, em suas próprias palavras. Rosemeire declara, ainda, que frequentaria os shows que acontecem na Esplanada, mesmo não gostando do ritmo que estivesse sendo tocado, pois valoriza o instrumental. Contudo, não tem condições para tal, afinal trabalha em um “ramo injusto”.

Burocracia A comerciante ressalta, em um tom de indignação e cansaço, que a cada show há uma luta por parte dos proprietários dos carrinhos para poderem tirar seu sustento. O alvará anual, que é pago no BH Resolve, a Central de Atendimento Presencial da Prefeitura de Belo Horizonte, de nada adianta frente à ação dos organizadores de tais eventos. Por vezes ligam diretamente para o prefeito, e os vendedores são obrigados a saírem do meio fio e aguardarem na saída das pessoas, “Como é de madrugada, aí percebemos que não há atuação da polícia, nem da Prefeitura, aí a gente para no mesmo lugar de antes, para trabalhar” ela completa, enquanto

serve duas clientes. Mais adiante, uma moça serve dois homens que entrarão para o show. Me intrometo – educadamente – no assunto e pergunto a eles se são muito fãs da banda, e no meio da conversa com a dupla, vinda de Conceição do Mato Dentro, a 16 km da capital mineira, descubro que a vendedora também é fã do grupo de hard rock. Raissa, que trabalha nos arredores do estádio há dois anos, diz que gostaria de estar do lado de dentro, mas a necessidade de trabalhar e o preço do ingresso a impedem. A vantagem é que quase sempre dá para ouvir o que está tocando no palco, que fica na avenida perpendicular à Av. Coronel Oscar Paschoal. O “Festeja”, festival que reuniu artistas como Anitta, Henrique e Juliano, e Maiara e Maraísa, no interior do Mineirão, e que ocorreu uma semana antes, também interessava à vendedora, porém o trabalho a impediu de comparecer. Mencionei o que fora dito por sua colega da Courier, e Raissa ressaltou que em setembro, no dia do Festeja, o comércio alimentício só foi autorizado a começar duas horas após o início do evento, às 16h. Ela ainda me contou que os comerciantes estão rentando resolver os problemas, mas a solução parece inal-

cançável; as demandas dos trabalhadores não credenciados pelos patrocinadores nunca são ouvidas. “Então, a gente desiste de lutar por isso” concluiu.

Na fila Mais adiante, na entrada da pista principal, conforme chegavam mais pessoas, fui até a bilheteria. Avistei dois rapazes que ficava de pé junto à grade que separava as fileiras dos guichês, e perguntei a um deles, que se identificou como Wellington, se ainda havia ingressos. Ele confirmou a informação. Perguntei se ele era fã da banda, e, balançando a cabeça, disse que sim. Inclusive, tinha se candidatado ao trabalho como freelancer na ocasião numa tentativa de poder acompanhar o show. Mas para seu azar, o destino – ou melhor, quem o contratou – lhe deixou encarregado de ficar do lado de fora. Seria uma oportunidade única, até porque segundo ele, “é a primeira vez que o grupo vem ao Brasil”. Bem, talvez ele não fosse tão fã assim. Afinal, era a décima quarta vez que uma turnê levava o Aerosmith ao Brasil, sendo que faziam apenas 11 meses que a banda esteve no país pela última vez, em outubro de 2016. Ou talvez ele só tenha trocado “Belo Horizonte” por “Brasil” no calor do momento.

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SÓ NO APERITIVO

Com ingresso para o Aerosmith no RiR, Vítor, Débora e Bernardo optaram por curtir o show do lado de fora, em BH

Nem todos que ficaram do lado de fora, no dia 18, tinham interesses exclusivamente profissionais. A exemplo de Bernardo e Déborah, estudantes de jornalismo, vários fãs acompanharam a apresentação do lado externo do Mineirão, na Avenida Abraão Caram, paralela ao palco da Esplanada. Bernardo conta que não compraram ingresso devido ao alto preço. “Uma facada, R$ 250. Quem faz a 250 pra ter só Aerosmith?” exclama Déborah, inconformada com a falta de uma banda para o show de abertura. Enquanto a estudante ficou contente por ter ouvido – e assistido, parcialmente, – a power ballad “Crazy”, seu namorado sentiu falta de “Janie’s Got a Gun”, do

álbum Pump, hit que integrou o repertório nas performances anteriores, bem como de mais momentos em que o guitarrista Joe Perry se destacasse, tocando solos. Apesar de tudo, o balanço final foi bastante positivo. Bernardo garante que, de onde estavam, dava pra ouvir tudo, e o ângulo de visão era amplo, embora não fosse possível avistar os membros da banda nos momentos em que caminhavam sobre a “ponte” que levava até o meio da plateia VIP. Déborah, completa que um amigo dos dois subiu numa árvore do canteiro da avenida para avistar melhor o que acontecia no palco. E não apenas o amigo, havia outras quatro pessoas nos galhos mais

altos das árvores para apreciar a banda. O casal alega que não tinha assistido ao grupo ao vivo anteriormente. Mas três dias depois, no Rock In Rio, conferiram uma apresentação mais energética dos Bad Boys de Boston. “Foi o mesmo set, porém a duração foi maior por conta das gracinhas com o público” relata Déborah. Bernardo conta que teve a impressão que isso aconteceu menos no show de BH. Os dois concluem que preferiram ficar de frente ao palco do Rock In Rio devido ao preço mais baixo do ingresso – e ainda puderam apreciar dezenas de nomes, incluindo os gigantes Def Leppard e Alice Cooper, por apenas R$ 190. Uma pechincha.

um brasileiro Quase roadiE “Roadie” é um termo que significa alguém que integra a equipe de apoio de um artista ou banda. Nos bastidores, são encarregados de toda a produção do show, divididos entre técnicos de iluminação, som, entre outros departamentos. O termo surgiu da palavra road, que em inglês significa estrada, pois as primeiras equipes viajavam nos ônibus

e em outros tipos de veículos nas rodovias dos países onde as bandas se apresentavam, de cidade em cidade. Alguns, apesar de não serem contratados como membros da equipe, poderiam ser membros honorários, como é o caso do farmacêutico de 31 anos, Stéfano Vignol. O show do Aerosmith em Belo Horizonte foi o décimo que ele assistiu no Brasil.

O farmacêutico veio de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, só para conferir sua banda predileta. Ele alega que, desde 2010, faz questão absoluta de vibrar a cada show, como se fosse o último do grupo. E não parou por aí. Stéfano já assistiu a shows da banda na capital de seu estado, no Rio de Janeiro, em Curitiba, em Brasília, e em

Porto Alegre, onde morava antes de se mudar para a cidade onde vive atualmente. “Vou nos outros da turnê Aerovederci, Baby!, então, no total, serão 13 shows”, completa, orgulhoso.

Muito azar Para sua infelicidade, a apresentação de Curitiba, a última no país, foi cancelada, assim como as restantes da turnê na América do

Sul, devido a recomendações médicas de que o vocalista Steven Tyler, com problemas renais, repousasse. Com boas lembranças de sua jornada de “fã roadie”, Stéfano ressaltou a boa hospitalidade dos mineiros, especialmente os integrantes do fã-clube da banda do estado, o Uaismith, que o encontraram no show e lhe deram as boas vindas a Belo Horizonte.

O roadie completa que os estudantes da Escola de Veterinária da UFMG, que se localiza ao lado do estádio, na Av. Presidente Carlos Luz, foram bastante solícitos e o ajudaram a arrumar um lugar para passar a noite. Os universitários chegaram a telefonar para hotéis, mas ele acabou dormindo na casa “do amigo de um amigo”, como ele relata.


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uM DIA NO...

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A finesse de ‘ex-camelots’ FOTOs: lucas soares

Comerciantes de produtos de baixo valor estão antenados à arte e à cultura como forma de renda a estampa, que eu faço na hora. Quando ela escolhe, coloco na máquina e, em 10 segundos, a camisa fica pronta”, esclareceu a vendedora. “A pessoa manda a foto pelo WhatsApp e eu já encaminho diretamente para a máquina. Muito rápido!”, contou, com celular em mãos, mostrando o poder da tecnologia em seu trabalho.

Embora a maioria dos exemplares expostos sejam infantis, os filmes mais solicitados são pornográficos

Lucas Soares Segunda-feira (16), Centro de Belo Horizonte. O termômetro marcava 31 graus e o trânsito de pessoas dentro de um dos mais conhecidos shoppings da cidade era intenso. Na porta, algumas pessoas sentadas ao meio fio, se hidratando com uma cerveja, um churrasco no espeto, análises e discussões sobre as compras do dia – ou sobre a venda. Dentro do centro de compras, que deixou de ser popular há um tempo, há vozes de todos os tons, sotaques e línguas diferentes. Essas vozes se confundiam entre inconformados pechinchadores e insistentes comerciantes. Nesse dia, fui um dos que pediam, encarecidamente, que comprassem meu produto.

Vendedor popular Em uma banca que comercializa DVDs, jogos e pen-drives, arrisquei meus dotes de mercado para vender lançamentos cinematográficos. Portando uma cartilha, ofereci ao cliente a primeira opção que julguei ser a sua preferência: o último

filme Piratas do Caribe. Inconformada, mas com risadas de canto de boca, a moça, que aparentava ter uns 35 anos, me contradisse, afirmando que queria, mesmo, o recente filme de terror It: A Coisa. “Como vendedor, sou uma boa pessoa”, disse à mulher que comprou mais quatro filmes com um valor total de10 reais. Antes de ir embora e com o apoio dos outros dois vendedores, consegui finalizar outra venda. Poucos minutos depois, um homem chegou analisando as capas que ficam à mostra no primeiro piso do shopping. — Posso ajudá-lo? — Estou procurando por DVDs de música sertaneja. Vocês têm? Olhei para os meus temporários colegas de trabalho e respondi, calma e certeiramente: “sim, cara!”. Além dos discos que estavam expostos, ofereci ao cliente alguns pendrives já gravados, com um valor de 25 reais. “Ok, vou levar um pendrive com modão, vocês têm aí?”, perguntou o homem. Pagou o valor, agradeceu ao amador vendedor, que também devolveu os agradeci-

mentos ao cliente e aos parceiros de banca.

Rolê cultural Após me aventurar como vendedor popular, resolvi passear pelo centro de compras para entender e mostrar como a cultura está presente naquele local, muitas vezes marginalizado pela localização, e, até mesmo, pelo público que frequenta o famoso Shopping Oiapoque em Belo Horizonte. Uma loja com várias camisas e estampas me chamou atenção. Eu me aproximei e conversei com Rose, de 44 anos, que comanda a banca. Com os recentes shows de rock, a comerciante disse que a venda de suas malhas cresceu bastante. “Com o Rock in Rio, saíram muitas camisas da banda Red Hot Chilli Peppers. Além disso, saem bastante do U2, dos Beatles e, também, do Paul McCartney. O show é esses dias, né?”, questionou a dona da loja, sobre a frequente procura pela estampa do ex-beatle, que se apresentou no Mineirão dois dias após a entrevista. O diferencial da loja de Rose são os 10 segundos milagrosos. “A pessoa pode escolher

Estilos Um estúdio de tatuagem, no terceiro andar do prédio, também oferece serviços a quem quer ser atendido de prontidão. Leandro, de 30 anos, é tatuador e trabalha no Oiapoque há, pelo menos, oito anos. Questionado sobre os desenhos que mais faz, cerca de oito por dia, o tatuador contou que os desenhos mais recorrentes são os já feitos por jogadores de futebol. “Já fiz fechamento de braço, de costas, de pernas. Hoje, o pessoal curte mais tatuagem de jogador, com passagens da bíblia, nomes de companheiros”, explicou. “O pessoal costuma muito, também, vir aqui em um dia e, no outro, voltar para tampar. Fazem no impulso”, revela. Uma loja de fantasias também me chamou a atenção. Vera, de 28 anos, sentada em um banco dentro da loja mostrou o leque de possibilidades que crianças e adultos têm na loja. Com a chegada do Halloween, no Brasil conhecido como Dia das Bruxas, no dia 31 de Outubro, a mulher mostrou as que mais saem na temporada. “Agora o foco é o halloween! E aí temos festas temáticas, né? Por isso trabalho com fantasias de bruxas, chapéus, túnicas, capas”, listou a vendedora. A mulher também

explicou que existem épocas já delimitadas em que o mercado de fantasias vende mais, como também precisa de preparar para cada ‘estação’ do ano. “Depois, temos Natal com fantasias de Papai e Mamãe Noel, artigos natalinos. Em fevereiro, artigos carnavalescos tomam conta da loja”, contou Vera, que entende que a mídia pauta suas vendas enquanto dobrava uma fantasia da personagem heroína LadyBug. “Vocês falam, mostram, e as pessoas vêm comprar”. Agradeci pela atenção, ainda mais por ter estado do outro lado enquanto vendedor de filmes piratas, uma ilegalidade prevista na nossa legislação nacional. Como outras pessoas, saí pela avenida que dá nome ao shopping. Não saí com compras, mas deixei o lugar com impressões

diferentes das quais havia chegado. Deixei para trás pré-conceitos que tinha, e levei, comigo, experiência de estar do outro lado.

Camelôs Muitos comerciantes que hoje vendem seus produtos dentro do Shopping ‘Oi’, apelido para o famoso centro comercial, trabalhavam, antigamente, nas ruas da cidade. Entre 2002 e 2003, com a Conferência Municipal de Polícia Urbana 2001/2002, foi decidido que os ‘camelôs’ – palavra derivada do francês, de camelot, que significa “vendedor ambulante” – seriam realocados em shoppings populares. Neste ano, outros camelôs foram retirados da rua para novos shoppings populares, o que abriu a discussão sobre os gastos desses comerciantes e o tráfego de pessoas nesses estabelecimentos.

Estampas de rock ditam o ritmo de trabalho de estamparia no centro da capital


OUTROS PAPOS

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Sempre nas alturas FOTO: ijuan mendez

Hoje, nas quadras, Yoandy Leal sobe alto para enfrentar desafios culturais e, claro, grandes adversários

Ponteiro do Sada Cruzeiro treina, no Mineirinho, para a final da Superliga

Bianca Lima Isadora Cunha Juan Mendez Leonardo Crizostomo Mariana Monteiro Imagine-se como um jogador de vôlei, sempre recebido pela torcida, ao entrar em quadra, da seguinte maneira: “Acabou o caô! O Leal chegou! O Leal chegou”. Possivelmente, a sensação de realização o invadiria. Afinal, você, finalmente, realiza um sonho de infância. Antes de chegar onde está, suponha que você não nasceu no Brasil, mas na Cuba socialista dos anos 1980, governada pelo presidente Fidel Castro. Sua família teve que lidar com dificuldades financeiras, passou fome e trabalhou bastante para conseguir sustento. Além disso, seu pai o abandona quando criança. E sua vida só começa a melhorar quando inicia... Uma carreira no vôlei. Tal cenário imaginado por ti é a história de Yoandy Leal, jogador de vôlei do clube Sada Cruzeiro. Em 2012, o atleta deixou Havana, sua cidade natal, para vir morar no Brasil. Veio com a cara e a coragem, e sem apoio familiar. “Foi

uma decisão muito difícil. Nós, cubanos, não temos noção do que significa jogar fora do país. Também foi complicada demais a minha saída da seleção cubana. No começo, meus familiares não aceitaram. Porém, com o tempo, todos passaram a aceitar mais a situação”, comenta. Apesar de ter deixado familiares e amigos em Cuba, encontrou, no clube, outro clã: “Tratase de minha segunda família. Sempre serei agradecido ao clube, por acreditar em mim e por me ajudar em uma das etapas mais difíceis de minha vida”. Entre os companheiros de time, está seu melhor amigo, Simon, que o conhece desde os 16 anos. Eles jogavam em times opostos, mas, quando foram competir pela seleção, em 2007, estreitaram os laços de amizade: “Ele sempre foi uma pessoa muito fiel, somos muito unidos. O fato de ele ter vindo ao Sada tem me ajudado muito. As coisas só melhoram ano após ano”, garante. A mudança de cultura revelou-se enorme, mas, hoje, não tem vontade de voltar a morar em Cuba: “Se eu for para lá, é para matar as

saudades, e ficar uma ou duas semanas. Depois, volto”, comenta, ao lembrar que adora, no Brasil, o jeito caloroso e receptivo das pessoas.

Início de tudo Aos 13 anos, Leal praticava atletismo, mas, a convite de um treinador, começou a jogar vôlei: “Na verdade, ia à escola de esportes para fazer atletismo, pois era corredor. Ali, assistia a todos os treinos de vôlei, e, um dia, me perguntou se eu queria jogar. Fiz alguns testes e entrei no time”, recorda-se. Antes de jogar no Brasil, o atleta ficou dois anos parado, pois, em Cuba, para poder trabalhar fora do país, deve-se parar de competir por algum tempo. Apenas ao entrar no Sada Cruzeiro é que retomou sua forma física. Aquela se revelou uma das épocas mais difíceis de sua carreira, pois Leal estava com 125 kg e se sentia muito pesado para jogar. O clube deu todo o suporte para que sua condição física voltasse aos 100%. Para o atleta, um sonho de carreira é poder jogar nas Olimpíadas. Como ficou fora de Pequim 2008, e,

em seu país, jogadores que saíram para atuar no exterior não podem competir pela seleção, Leal tomou difícil decisão de se naturalizar brasileiro. Agora, tem esperança de que, em Tóquio 2020, consiga concretizar seu desejo. O que o motivou a competir pela seleção brasileira foram o interesse mostrado pelo então técnico Bernardinho, e pelos vários amigos que tem, como Wallace, e a ideia de jogar por uma das melhores seleções do mundo.

Diamante bruto A história de Marcelo Mendez, técnico do Sada Cruzeiro, com Leal teve início em 2007. A visão do treinador, em relação ao atleta, não foi a de um jogador já formado, mas de alguém com potencial para um futuro brilhante. O jovem, afinal, exibia grandes qualidades: ótima altura, braços longos, bom salto e predisposição. Quando oferecido ao Sada, em 2012, Mendez não hesitou em aceitar a proposta, mesmo ao saber da pausa obrigatória de dois anos. A boa forma viria com os jogos. Bastaram seis meses para que a con-

dição física do jogador voltasse ao normal. Brincalhão e simpático, Leal não teve dificuldade em se integrar ao novo grupo. O que Marcelo mais gosta em Leal é seu lado cuidadoso. “Ele aconselha os meninos da base, e se torna um diferencial para toda a equipe”, ressalta o treinador. Hoje, o atleta é um jogador completo: ataca, saca e bloqueia muito bem. Como ponteiro está entre os três melhores do mundo, e, no ver do técnico, vai se sair muito bem na seleção brasileira: “Ele tem o sonho de jogar uma Olimpíada e está trabalhando para isso. Ele se sente brasileiro”, confessa. História engraçada vivida pelos dois aconteceu na final do Mundial de Clubes, em 2016. O jogo decisivo era contra os russos e, ao cumprimentar os adversários, Leal mostrou o anel que usava. O único problema é que a peça mostrava as conquistas dos mundiais de 2013 e 2015, justamente, em cima dos russos. Marcelo perguntou: “Negro, como vas a hacer eso!?” [‘Negro, como você vai fazer isso!?’]. Leal apenas sorriu e disse: “Tranquilo, Profe”.

Amizade sem limite Atualmente, os melhores amigos Simon e Leal revivem, no Sada Cruzeiro, a parceria que começou em Cuba, ainda na adolescência. Simon relembra que,

na terra natal, o amigo foi o último a compor a equipe, e, como capitão, ajudou a integrá-lo ao grupo. À época, Yoandy era muito tímido. Os dois começaram a conversar e se tornaram grandes amigos. Nos fins de semana, Leal ficava na casa de Simon, pois morava bem longe do Instituto de Esportes. Apesar de longo, os dois faziam o trajeto a pé. “Era cansativo e demorava muito. Com Leal, ficava mais fácil, pois íamos conversando”, relembra o grande amigo. Leal foi uma das motivações para que o parceiro viesse para o time do Cruzeiro. “É meu melhor amigo. Uma das coisas que me motivou a jogar no Sada é poder estar com ele. Passamos horas jogando PlayStation. E me diverto com suas piadas”, afirma. A decisão de jogar no exterior nasceu no Mundial de Vôlei, em 2010. Ao voltar a Cuba, os atletas não foram bem tratados. Simon se recorda que o governo praticamente não reconheceu os méritos dos jogadores. Ficar de fora das Olimpíadas de 2008 também foi difícil. Disputar aquela competição por Cuba era o grande objetivo dos dois amigos. “Nosso maior sonho era poder jogar os Jogos Olímpicos por Cuba. Por isso é que Leal se tornou brasileiro. Em 2008, ficamos a um jogo da classificação”, lamenta.

ficha técnica Yoandy Leal Hidalgo Posição: Ponteiro Altura: 2,02 metros Peso: 104 kg Naturalidade: Havana, Cuba Nascimento: 31/08/1988


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TRAMAS CONTEMPORÂNEAS

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a bÊnção nas ondas fotos: flávia nunes

Projeto de Lei quer tornar obrigatória transmissão de músicas religiosas em emissoras públicas de rádio

Bê Franco Gabriel Ronan O Brasil é um país laico, ou seja, possui posição neutra no campo religioso. Se alguém ainda tem dúvida em relação a essa afirmação, é só pegar alguma nota de Real. Se a nota não for falsificada, você irá se deparar com a frase “Deus seja louvado”. Se ainda restar alguma dúvida sobre “laico” no Brasil, esqueça! Possivelmente, no dia 12 de outubro de todo ano, você não vai trabalhar (feriado da padroeira de nosso país laico), então, pare de se importar. São muitas dúvidas no ar quando se vive em um país tropical, latino americano, abençoado por Deus e bonito por natureza. Por isso, temos 35 partidos políticos registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com tantos par-

tidos, como poderíamos ser mal representados? Dentro das inúmeras possibilidades, existe o PP. Um Partido Progressista. Partido do qual faz parte o Excelentíssimo Senhor Pastor Franklin, Deputado Federal. E dentro dos Projetos do pastor/deputado estão: • P L- 8231/ 2017 , ementa que dispõe sobre o prazo de, no mínimo, 60 dias para o retorno às consultas médicas, sem nenhuma cobrança adicional de novo honorário. • P L-712 8 / 2 017 , ementa que altera a lei 7.116 de 1983, para acrescentar a informação de doador de órgãos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Porém, o Projeto de Lei que mais chamou atenção da população e dos meios de comunicação foi o PL8.429/2017. Ele dispõe sobre a obrigatoriedade

de as rádios públicas tocarem, nas suas programações diárias, música religiosa nacional.

Projeto muito doido O PL, denominado como “projeto muito doido” pela própria secretária do gabinete do Deputado, deixou muitos questionamentos abertos, como, por exemplo: seriam músicas religiosas em geral, ou apenas cristãs? Segundo pesquisa realizada pelo IBOPE em 2015, 29% dos ouvintes escutam músicas religiosas. Além disso, inúmeras rádios tocam músicas do gênero. De acordo com o Pastor Franklin, um dos objetivos do Projeto é desenvolver a cultura da música religiosa para o povo brasileiro. Se o IBOPE já mostra que 29% das pessoas ouvem canções religiosas, o objetivo é

aumentar esse índice. Ainda de acordo com o Excelentíssimo, “Apesar da Constituição inferir o Brasil como um país laico, pesquisas revelam que somos o segundo país mais cristão do mundo, atrás, apenas, dos EUA, somando 175 milhões de seguidores de Cristo, fora outras religiões aderidas no país”, completa. A Lei 11652/2008, regula que os serviços de radiofusão pública no Brasil sustentam a “não discriminação religiosa”. Diante disso, seria inconstitucional que a programação fosse única e exclusivamente cristã. “Quero deixar claro que envolve todas as religiões assentidas no Brasil. Sejam evangélicas, católicas, afros, judaicas, islâmicas, budistas etc.”. Contudo, o número de devotos das religiões praticadas no Brasil não

é o mesmo e sequer chega perto de um equilíbrio. De acordo com o Deputado, não existiria divisão no horário da programação para determinar o tempo das religiões na rádio. “Devo seguir as leis de forma legal e o que a Constituição diz”,. Segundo ele, somam-se quase 20 crenças conhecidas no país. Ainda que apenas 1% da população processe fé a determinada religião, ela deverá ser veiculada pela rádio. Além disso, haverá punição para quem não respeitar a Lei. “Somos um país democrático e liberal. Haverá punição sim, caso não seja respeitado”, reforça. O locutor-apresentador da Rádio Inconfidência, Elias Santos, contesta o Projeto de Lei. Segundo ele, geraria dificuldades para as rádios públicas. “O

Estado é laico, portanto, uma rádio pública não deveria se pautar com tal programação, independentemente da religião”, afirma. Ele ainda ressalta as possíveis desigualdades que a medida sustentaria, por não atender todas as crenças igualmente. Ainda segundo o jornalista, o Brasil vive um período de “desrespeito às diversidades”. O cidadão brasileiro costuma impor sua opinião como correta e incontestável, diante de um cenário de manifestações homofóbicas, racistas, machistas. Nas religiões, por exemplo, o debate vai além e atinge o campo da educação pública.

Ensino gospel Em decisão realizada em setembro, o STF autorizou a prática do ensino religioso em escolas públicas, de maneira confessional,


TRAMAS CONTEMPORÂNEAS conforme proposta da Procuradoria-Geral da República (PGR). Dessa maneira, o conteúdo de determinada escola pode seguir preceitos de religião “a” ou “b”. A medida, entretanto, institui que a disciplina seja lecionada com caráter optativo e dentro do horário de aula. Diante desse fato, pode ser que, com o Projeto de Lei entrando em vigor, determinada religião seja beneficiada. De acordo com o Deputado, não existiria nenhuma religião sendo privilegiada. “As rádios não sobrevivem apenas de ‘assunto’. Elas seguem o padrão determinado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em nenhum momento, a veiculação de músicas, sejam elas religiosas, ou não, atrapalhará a programação pautada nas rádios. A música religiosa também engloba as questões educativas, artísticas, culturais, ciência e os informativos”. Franklin diz, ainda, que “para toda música, há uma história, um contexto, finalidade educativa e cultural. Não tenho receio, pois as rádios saberão se impor em relação às músicas em suas programações diárias”.

Desmotivação Uma das justificativas do Projeto é que as pessoas religiosas ficam sem motivação para acompanhar a programação do rádio. Mas será que com a aprovação, um cidadão sem qualquer vínculo religioso poderia, da mesma maneira, sentir-se desmotivado em acompanhar a nova programação? De acordo com o Pastor Franklin, por sermos um país laico, não há religião definida, e todos são livres para seguir ou não uma crença. “É de livre escolha. Não creio que o PL, tornando-se lei, ofenderá qualquer cidadão que não tenha uma religião. Ele (o Projeto de Lei) não impõe nenhu-

ma regra aos que não concordam com alguma religião. Ele busca proteger os que escolhem uma. Aos cidadãos que não têm religião, não mudará nada. As rádios – tanto públicas, como as privadas – já veiculam canções para o cidadão irreligioso. O Projeto tem o intuito de atender todas as classes, inclusive, o irreligioso”. Mas não é todo público religioso que se sente desmotivado e sem representação nas rádios públicas. Estudante de Direito, Marlon Figueiredo se diz evangélico, porém, não concorda com o Projeto. “Sou religioso, cristão. Não achei feliz o projeto de lei”. Além disso, pontua os motivos de não concordar com a proposta do Pastor Franklin. “Falando juridicamente, o Projeto fere um principio constitucional, o da liberdade de expressão. Não é viável obrigar rádios públicas a transmitirem músicas religiosas. Somos amparados constitucionalmente pela liberdade de expressão, e o Projeto fere esse principio”. O estudante responde, também, exclusivamente como cristão: “não me sinto menos fomentado na minha fé, nem menos incentivado pelo fato de não passar programação religiosa em rádios públicas. Não é certo tentar obrigar. Poderia até ser um projeto para fomentar as rádios a transmitirem assuntos religiosos, talvez com uma ajuda financeira para quem passasse”. Marlon não se sente lesado, principalmente por existirem outras emissoras que atendem aos fiéis. "Essas rádios atendem um público religioso e contêm as mesmas informações daquelas que são públicas. Ao meu ver, se elas tiverem de passar esse tipo de programação, abre-se o debate sobre as rádios religiosas transmitirem conteúdo irreligioso, dentro de sua grade musical”, finaliza.

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Concessões das rádios O debate acerca da democratização da mídia é recorrente no Brasil. Aqui, as rádios privadas funcionam por concessão pública, ou seja, necessitam de um aval do Estado para funcionar. Se a televisão é dominada por poucas empresas, que constituem verdadeiros impérios de comunicação, no rádio não é diferente. De acordo com Elias Santos, o rádio vive uma crise em seu modelo de negócio. Assim, as grandes empresas do ramo passam por dificulda-

des, em razão da quebra de paradigma. “Se fala muito em reformas da Previdência e trabalhista, mas precisamos reformar a comunicação brasileira, que tem uma legislação da época da ditadura”, salienta o radialista. Esse cenário também se reflete na ascensão de rádios religiosas na programação. “Se não regularizar, as igrejas vão tomar conta do negócio. Essas instituições têm grana e podem comprar os canais, o que gera uma desigualdade”. Elias cita o

caso da Rádio Feliz FM, que ocupa a frequência 96,5, após comprar a concessão pública junto aos Diários Associados. Neste momento, abre-se um novo questionamento: se as rádios privadas são concessões públicas e concedidas pelo Estado, por que são vendidas? “A Feliz FM saiu do ar durante um tempo, justamente, porque algum cidadão questionou isso na Justiça”, destaca Santos. Sendo, de certa forma, toda rádio privada pautada pelo poder público, existe alguma

possibilidade do Projeto ir além das rádios públicas? De acordo com o Deputado Pastor Franklin, não há nenhum “risco” de o projeto abranger as rádios privadas. O Pastor diz ainda: “É comum, várias emissoras de caráter comercial incluírem, em suas programações, certas músicas religiosas, o que só afirma a minha tese, de que determinadas músicas religiosas abrilhantam, ainda mais, as programações de rádios em nosso país”, finaliza o Excelentíssimo.


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eu me superei lá

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Fuja do padrão foto: bárbara souza

foto: bárbara souza

foto: JoÃo gabriel

Convidamos três jovens a um passeio para além de suas barreiras

Os corajosos Emannuel, Hilton e Bráulio saem de sua zona de conforto e enfrentam seus medos, preconceitos e timidez

Bárbara Souza Diego Souza Gabriel Lacerda Gabriela Guedes João Gabriel Batista Pedro Henrique Oliveira Já pensou, em 2017, no chamado “país do futebol”, um jovem de 21 anos não gostar desse esporte? Ou uma pessoa ser tão tímida a ponto de não conseguir curtir um karaokê com os amigos? Imagine, ainda, um roqueiro nato, buscando se enturmar em uma roda de pagode. Estranho, não é?! Pois bem! O IMPRESSÃO encontrou esses três jovens e os convidou a participar dessas experiências. Vambora?!

Eu quero me libertar Um belo sorriso, e óculos a esconder o rosto. Inteligente, ele é estudante de Medicina, mas nada de contato visual. Nem beijinho no rosto. Um aperto de mãos é suficiente. Não se trata de convencimento, mas de timidez. Na Medicina, estabelecer diálogo é importante para o diagnóstico. No caso de Hilton, porém, conversas são pesadelos. Perguntas fundamentais da consulta o embaraçam, e são rapidamente esquecidas. Ao apresentar trabalhos, a coisa não é diferente: “Começo a

tremer e me gelo todo!”, revela o jovem. Cantar em público é desafiador. “Pode me ajudar a perder a timidez”, conclui. De clima descontraído, no Bar da Cácia, ninguém se importa com afinação. Apesar disso, as mãos de Hilton gelam ao escolher a canção. Ele está com medo e não é à-toa. O bar está lotado. Pois é chegada a hora. O rapaz pega o microfone e entoa “I Want To Break Free”. A frase, cantada a plenos pulmões por Freddie Mercury, é sussurrada por Hilton. Terminada a canção, Hilton quer ir embora. “Odiei não ouvir minha voz”, justifica. O medo da opinião das pessoas sobre sua entonação o impede de cantar “I’m glad you came”, do The Wanted. Pedido dele. Apesar da apreensão no palco, o rapaz ficou feliz por ir – assim como a música da boy band – e disse, até mesmo, que voltaria ao local. “Isso pode me ajudar a ser menos tímido, mas não sei se cantaria outra vez por lá”, confessa o estudante. (DS e GG)

Um hater no campo A falta de interesse pelo esporte faz com que Bráulio Luís, estudante de Arquitetura,

não demonstre expectativas em relação ao clássico que irá acompanhar. O único aspecto evidente é o medo, devido às suas pesquisas sobre brigas de torcidas nos estádios. Subimos a avenida Abrahao Caram a pé, para que Bráulio sinta a energia de uma final, e, ao chegar na esplanada, não deixe de notar os muitos vendedores e cambistas, além, é claro, da arquitetura do estádio. Contudo, ao conversar sobre o jogo, o rapaz ainda não sabe o que dizer. Bola rolando. De repente, o susto! O Cruzeiro marca, a torcida comemora e ele grita, mas por poucos instantes. Gol inválido. Todos se revoltam e o jeito é esperar o fim o primeiro tempo, que segue sem muita emoção. Já na segunda etapa, mesmo sem entender os passes, é possível ver Bráulio vibrar, bater palmas e pôr a mão no rosto, apreensivo durante os ataques do Cruzeiro. O jogo segue sem grandes lances e, em um desses momentos, ele diz “É bem diferente. Na TV, só vemos o jogo. Aqui, os torcedores fazem ele acontecer. A experiência é outra”, afirma, ao observar o show dos torcedores. Fim de partida.

Bráulio sai, chateado, por não presenciar um gol... válido. Saímos do Mineirão, descemos, novamente, a avenida, mas, dessa vez, levando para casa alguém que passou a ver o futebol com outros olhos. (BS e GL)

E o barraco desabou! Emannuel Victor, publicitário, 26, é fruto da geração rock dos anos 1990. Vicente, pai de Emannuel, afirma que, desde antes do nascimento de seu primogênito, já punha os “bolachões” de Stones e AC/DC para acalmar o bebê, que, agitado, chutava incessantemente a barriga da mãe.

O menino cresceu e, hoje, ouve, junto ao pai, as mesmas bandas que “ouvia” antes mesmo de nascer. “Nunca passei um dia sem ouvir rock. É o alimento da minh’alma”. Vamos ao famoso bar Seu Tião, e, àquela altura, não há o menor sinal de roda de pagode. Horas depois, sentados, temos o primeiro contato com o indesejado. Dessa vez, o sertanejo universitário. “Fico deprimido com essas músicas. Você ouve a letra e fica triste”, comenta o personagem do dia, que, por acaso – ou não! –, veste a camisa do Black Sabbath, talvez como forma de declarar sua preferência musical.

Minutos depois, notamos que, coincidência ou não, os primeiros acordes dos cavacos já ecoam pelo bar, e o local, que estava vazio, rapidamente começa a ficar cheio. O pagode, finalmente, torna-se a principal atração da noite, ao menos para a maioria dos boêmios. Nosso personagem, por pouco, tolera todos os batuques e repiques dos instrumentos tocados a todo vapor. “Conta meia hora e vamos partir”, diz, sorrindo. Dito e feito. Passados alguns minutos, vem o pedido oficial para irmos embora. É aí que o “barraco”, de fato, “desaba”. (JGB e PHO)

olhar profissional Nunca mudar o corte de cabelo e sempre fazer o mesmo caminho. O que o senso comum chama de rotina, a Psicologia conceitua como “baixa variabilidade comportamental”. A carência dessa habilidade interfere no repertório existente na vida de cada pessoa, para lidar com situações diversas e adversas, de maneira a se refletir, até mesmo, nos gostos pessoais. No caso dos jovens da reportagem, Virgínia Nunes, psicóloga comportamental, realça a importância de experimentar coisas novas e de se abrir a elas. Talvez por esse motivo, o passeio de Emmanuel e Braúlio tenha sido tão diferente. Afinal, enquanto o estudante de Arquitetura não teve outras distrações, e se entregou ao momento, o roqueiro se esquivou do pagode, ao assistir a uma partida de futebol. No caso de tímidos como Hilton, porém, a situação é diferente. A psicóloga adverte: “As pessoas acreditam que incentivar a falar em público ajuda a perder o medo, mas não é assim. A exposição pode levá-lo a um ataque de pânico, ou criar uma situação ainda mais traumática”. Por isso, aliás, Virgínia recomenda que experiências como essas sejam devidamente guiadas por profissionais da área.


TRAMAS CONTEMPORÂNEAS

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O mercado que ninguém vê foto: helen nunes

Prostituição masculina movimenta, dia e noite, os desejos da capital mineira Daniela Aquino Francyne Perácio Thiago Fonseca Túlio Marques “Nas ruas, pelas surdinas, é onde faz o seu salário. Aluga o corpo a pobre, rico, endividado, milionário. Não tem Deus. Nem pátria amada. Nem patrão. O medo aqui não faz parte do seu vil vocabulário”. A vida de Robert André*, 19, é como a letra da Mc Linn da Quebrada. O jovem perambula por entre as cabines do hipercentro e nas ruas do Barro Preto, para vender seu produto, o corpo. “Faço programa desde os 18 anos. Minha família e meus amigos não sabem. Não tenho medo da morte, nem de ninguém. Fico com qualquer um, basta pagar R$ 30”. Robert é apenas um dos mais de 1.500 garotos de programa que circulam por mês na cidade, os quais conhecemos durante duas semanas, ao desvendar cabines, saunas, sites e ruas da capital mineira. São 18h30 de quarta-feira. O comércio no centro ainda está movimentado. O incessante sobe e desce na escadaria da cabine da rua São Paulo, quase esquina com Guaicurus, aponta que, enquanto a vida corre, o mercado do sexo não pode parar. Há jovens, idosos, maltrapilhos e bemvestidos. Foi lá que conhecemos Robert e Igor Silva* outros dez garotos. O espaço é de três por três. Na parede, o quadro exibe um seleto cardápio de pornôs. O balcão, ao fundo, com bebidas e comidas; tudo simples e improvisado. No meio, uma catraca, a separar a recepção e as cabines. Basta pagar R$ 2,50 para entrar, mais um valor que varia

de R$ 5 a R$ 20 para adquirir minutos de prazer na companhia de um garoto. O sexo acontece dentro de um cubículo de 2x1, entre um televisor de tubo e uma cadeira. O espaço? Abafado, sujo e sombrio.

Money for sex Aos 24 anos, Igor trabalha há 6 meses, na cabine, como garoto de programa. Entrou no ramo para sustentar o filho, após perder o emprego. “Tenho outra vida além daqui. Minha família e meu filho nem desconfiam do que faço. Não gosto de ficar aqui, estou acostumado, mas quero sair. O clima é pesado e não me sinto bem. Estou pelo dinheiro. Quando aparecer algo melhor, vou embora”, confessa. Segundo a socióloga Regina Moreira Amorim, do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), por mais que pareça existir estabilidade familiar, as condições dos limites sociais estão muito fragilizadas,

e a percepção do que é certo e errado começa a se perder. “Novidades se apresentam, por meio de desafios e adrenalina. Talvez esses motivos levam uma pessoa a se prostituir”. Entretanto, profissionais que trabalham com redução de danos da profissão afirmam não haver motivo específico que leva à prostituição. As situações são diferentes para cada garoto. Além das cabines, existem as saunas, que, por dentro, assemelham-se a clubes, mas, por fora, passam despercebidas. Nas mais baratas, uma simples nota de R$ 10 garante passaporte para entrada. Nas de luxo, só se libera a passagem com R$ 50. O dinheiro, portanto, seleciona o público, em ambiente digno do nome que leva: “Olimpo”. Uma toalha, um par de chinelos, a chave de um armário e o direito de usufruir de toda a estrutura da casa. Eis o que está incluído no valor pago à entrada. Ainda é preciso pa-

gar pelos minutos com os profissionais, que circulam, camuflados, entre clientes. Eles são jovens e sarados, e diferentes dos frequentadores – na maioria, homens de idade. Além da simpatia, tamanho do “dote” define quem vai faturar mais.

Além dos deuses Nas ruas do Barro Preto, no Centro-Sul de Belo Horizonte, outra realidade se apresenta. A região, de intenso comércio durante o dia, esconde, nas madrugadas, o submundo. Fria e cinzenta quinta-feira. Onze horas da noite. Garotos de programa aguardam os clientes. Numa esquina do bairro, Jonathan Cristo*, de 24 anos, é um dos mais belos e bemvestidos ‘boys’ do local. Ele conta que consegue realizar de quatro a cinco programas por dia. A média se relaciona às condições biológicas de cada um. O jovem entrou na prostituição há cinco anos, por falta de opção. Já trabalhou

em saunas, mas, na rua, encontrou sua identidade – e ampliou o lucro. Dali, quer sair às pressas: “Faço curso técnico de Mecânica. Pretendo me formar e arrumar um emprego”, confessa. O valor mais baixo dos programas é de R$ 30, por um encontro rápido, dentro do carro. A depender das intenções do contratante, o preço pode aumentar. A maior parte dos clientes é feita de homens casados e com filhos. No entanto, o que leva tais pessoas a buscar sexo com garotos de programa? Para a psicóloga Nizia Cristina Alves Coelho, os clientes podem ser hétero, homo ou bissexuais, e, talvez, por pressões sociais, culturais ou religiosas, não podem vivenciar essa experiência: “Em geral, não se assumem para a família ou para a sociedade e vivem uma vida dupla, anônima”. Além dos garotos de programa, há os acompanhantes. É o caso de Wallace Jhones, 22, de Manaus (AM), que ven-

de a própria imagem em um dos sites mineiros mais visitados por executivos em busca de sexo. Ele se considera um “acompanhante” e explica que há grande diferença entre a função que desenvolve e o garoto de programa. “No nosso caso, existe um investimento na beleza, no corpo, na cultura e no estilo de vida”, esclarece. O manauara está temporariamente em Minas, e não revela quanto já ganhou, mas afirma que, por aqui, já gastou mais de R$ 10 mil, em apenas duas semanas. “Dinheiro vem e vai. É uma ligação atrás da outra. Combino valor e o que faço. Pego firme em meus deuses e orixás e realizo o trabalho, sem nada a temer”. Wallace acredita que quem entra na profissão não sai nunca mais: “Tudo em minha vida sempre foi em troca de sexo. E nunca deixará de ser”, enfatiza o acompanhante. *Nomes fictícios


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Você já ouviu ?

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melancolia e rock’n’roll Natural de Betim, banda Rodas revela autenticidade em disco homônimo Bê Franco A banda Rodas – formada por Maycon Veloso (baixo), Leandro Souza (guitarra), Sidney Davi (bateria) e Vitor Gonçalves, líder, vocalista e compositor – lançou disco homônimo no início de 2017. Não disponível em plataformas físicas, o trabalho pode ser ouvido nas redes sociais, sem fins monetários. No canal da banda no YouTube, pode-se achar o álbum na íntegra. No momento em que escrevi esta resenha, a página contava com míseras 34 visualizações, e as curtidas no Facebook não chegavam a 400. Divulgação e sucesso, porém, não são sinônimos de coisa boa! Nunca foram, na verdade. Produtos banais e repetitivos da indústria cultural conseguem mais de 212.309.089 visualizações. Tal fato, contudo, não significa que se trate de obra-prima da música. A banda Rodas revela clara influência de clássicos do rock e do blues, mas com som próprio. Certos riffs mostram AC/DC como contribuição. Já o Blues aparece nos solos de guitarra e na melancolia das letras – que, aliás, são o grande diferencial do grupo. Alguma coisa de Barão Vermelho também pode facilmente ser percebida.

Os músicos são de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Autor das canções, o vocalista Vitor Gonçalves é bastante conhecido, no meio musical da cidade, quando o assunto é rock’n’roll. O artista compõe para várias bandas do gênero no município. Além disso, contribui com músicas para a banda Carne Nua, da capital. A poesia é realmente o diferencial da banda. O que me faz pensar que ela apenas se formou no local errado, e na época errada. Eis o principal motivo de a Rodas ainda não obter sucesso nacional, pois potencial para tal é o que não falta!

Playlist

As letras das canções tratam, basicamente, de sonhos frustrados e melancolia, com certo toque de “estradas” e temas do gênero. A guitarra de Leandro Souza acompanha, perfeitamente, o que a música quer expressar. Combina com a classe trabalhadora, temática presente em bandas internacionais, mas escassa no rock nacional. “Dia ruim” abre o disco. Trata-se de grande composição, na qual a letra fala por si: “A noite me diz tudo que o dia esconde. Em dias infernais, somos todos iguais. É só um dia ruim, nada é pra sempre”.

Ficha Técnica Artista: Banda Rodas Lançamento: 2017 Direção: Jennifer Siebel Newsom Gravadora: Estúdio Guerra Produção: Lucas Guerra Faixas: “Dia Ruim”, “Pra quem gosta de rock”, “Asas”, “Outro qualquer”, “Sentido contrário”, “Enfim”, “Questão de ser”, “De volta à estrada”, “Sem hora pra acordar” Disponível, na íntegra, no YouTube

Na sequência, a música é “Pra quem gosta de rock”, aquela famosa música clichê, comum a toda banda de rock’n’roll. Não deixa de ser boa por isso, porém. É o momento mais animado do disco. A terceira música, “Asas”, daria nome ao álbum. Ela prega a ideologia do grupo e da sequência às composições e às suas temáticas. A partir da quarta música, o disco torna-se bem mais blues. “Outro qualquer” tem guitarra bem interessante. É, para mim, a melhor composição. A letra fala de um sujeito que não precisa “ser alguém para ser alguém”. Em nove faixas, o disco segue sem perder qualidade, além de deixar clara sua proposta. O trabalho fecha com “Sem hora pra acor-

dar”, letra melancólica, mas de tom leve, e, até mesmo, animada. Boa maneira de fechar o álbum, por sinal. O som é rudimentar, e a banda não mostra experimentação. Rock

puro, sem frescura! O que o torna até meio repetitivo, mas é a fórmula desejada pelo grupo. “Primeiramente, queremos ser conhecidos como rock’n’roll. Depois, quem sabe,

pensamos em novas experimentações”, comenta o vocalista Vitor Gonçalves. Para quem procura novas bandas autorais, vale a pena conferir o rock’n’roll dos caras.

FAIXA A FAIXA “Dia ruim”: grande composição, com letra coerente. Vitor canta: “A noite me diz tudo que o dia esconde, em dias infernais, somos todos iguais. É só um dia ruim”. “Pra quem gosta de rock”: música clichê, que toda banda de rock deveria ter, com toques geniais. “Asas”: daria título ao disco. Prega a ideologia da banda: “O medo que conserve o segredo”. “Outro qualquer”: guitarra bem interessante, e grandes influências de blues. Para mim, a melhor composição do disco. É brilhante a forma como é abordada a simplicidade na letra. “Sentido contrário”: segue a

linha de composição das outras canções, e as influências da banda, principalmente, pelo melancólico refrão da letra. “Enfim”: refrão e riffs mostram o desejo da banda em se firmar e ser reconhecida pelo bom instrumental,com influência de AC/DC. “Questão de ser”: mostra, novamente, a genialidade e a criatividade das letras. “De volta à estrada”: a paixão por veículos e blues é escancarada, e justifica o nome da banda. “Sem hora para acordar”: Fecha bem o disco, de maneira leve; trata de dúvidas, sonhos e melancolia de maneira animada.


Você já viu?

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A MAGIA POR TRÁS DO OLHO FOTOS: vinícius rezende

Conheça o universo mágico criado no teatro lambe-lambe

Gabriela Guedes Em tempos de selfies e stories no Instagram, que tornaram comum o hábito fotografia, é quase impensável alguém esperar em longas filas para tirar um único retrato. Entretanto, tal cena era muito comum nas praças e parques de todo o país, no início do século passado. No Parque Municipal de Belo Horizonte, por exemplo, um fotógrafo lambe-lambe passava horas, encapuzado, atrás de uma caixa de madeira com uma lente apoiada num tripé. Com a popularização das máquinas fotográficas, o ofício desse profissional encontra-se, praticamente, extinto. Porém, como na natureza nada se cria, tudo se transforma, as bonequeiras Denise Santos e Ismine Lima tiveram uma ideia. Com inspiração na clássica máquina fotográfica, elas desenvolveram, na década de 1980, uma técnica que se tornaria fenômeno em várias companhias de teatro da América

Latina e ficaria conhecida, popularmente, como teatro lambe-lambe.

Caixa mágica Na criação das atrizes, a caixa ganha furos na parte lateral, para que o ator consiga manipular os personagens. No lugar das tradicionais lentes da câmera fotográfica, um olho mágico, por onde o espectador pode se deliciar, sozinho, com os elementos cênicos em escala reduzida. “Ele [o teatro] foi construído para dar intimidade. É diferente da plateia, porque há só o artista e a pessoa, numa troca direta”, explica Ismine, ao ressaltar a diferença desse gênero para o teatro convencional. Os espetáculos, com duração de 2 a 5 minutos, estão se popularizando entre os atores por oferecer algumas vantagens “Quem faz sua caixa pode sair por aí e ganhar seu próprisustento, porque ela é pequena e dá para levar em qualquer lugar”, comenta Denise. Ainda de acordo com a atriz e bonequeira, fazer teatro em

miniatura é mais difícil do se imagina “É um trabalho braçal e artesanal, porque nós construímos o cenário e manuseamos o boneco por horas. Você se anula para o boneco aparecer. É preciso ser generoso”, esclarece a atriz. Apesar da ideia do universo das miniaturas estar vinculada às crianças, é um engano limitar a temática das peças do teatro em miniatura ao público infantil. “É um universo com infinitas possibilidades. O conteúdo da caixa depende da vivência daquele ator e o que ele está disposto a oferecer”, garante Ismine. “Devastação”, de Denise Santos, por exemplo, mostra, de forma poética, a atuação predatória do ser humano no meio ambiente. Apesar de o teatro lambe-lambe ser, hoje, uma técnica reconhecida no mundo todo, suas criadoras se sentem desvalorizadas em sua terra natal. “A gente vê países como o Chile abraçarem nossa criação, mas, por outro lado, aqui no Brasil, existem vários lugares que proíbem as

apresentações de rua. É preciso democratizar os espaços”, critica Denise.

O Festim Com o objetivo de valorizar o teatro de animação – classificação que engloba outros gêneros além do teatro em miniatura – o Grupo Girino, da capital mineira, criou, em 2012, em parceria com a Fundação Municipal de Cultura, o Festival de Teatro em Miniatura e Teatro Lambe-Lambe (Festim). Por meio da realização de oficinas, exposições de espetáculos e rodas de conversas,

o evento reafirma seu papel no cenário cultural de incentivo às novas produções, ao promover intercâmbio de artistas e pesquisadores. Afinal, essa realização dá oportunidade de aperfeiçoamento técnico a atores e de encontros para importantes troca de experiências. Em sua sexta edição, o festival apresentou 25 peças nacionais e internacionais. O IMPRESSÃO esteve lá, para conferir peças apresentadas ao longo dos dez dias de programação. Nessa edição, o evento apostou em artistas da América Latina. México, Argentina e Chile apresentaram novas possibilidades para o que eles chamam de “Cajas Mágicas”. Destaque para Gabriela Cravo Canela, de Mendoza, na Argentina, com Bladimir. A encenação começa antes mesmo de o espectador visitar a caixa, pois a artista recria o período vitoriano, por meio do figurino de bruxa. No espetáculo de Gabriela, a mistura entre humor e medo é usada para contar peripécias do Conde “Bladimir” Drácula. O México também marcou presença, com o coletivo Cuerda Floja, da cidade de Durango.

As atrizes Denise Santos e Ismine Lima são as idealizadoras do teatro lambe-lambe

Eles abriram o jogo, ou, melhor dizendo, as caixas, e compartilharam técnicas de concepção com os intérpretes presentes, em uma oficina oferecida pelo Festim. Ator do coletivo, Felipe Haley, responsável pela animação da peça “El Dormilón”, conta a engraçada história de um homem que, cansado de um dia de trabalho, precisa de uma boa noite de sono, mas enfrenta obstáculos.

Atrações nacionais Como não poderia deixar de ser, o Brasil apresentou bons espetáculos para o público. Destaque para 3x4, do mineiro Lúcio Honorato. Inspirado no ofício dos lambe-lambes, o ator contou a história de um fotógrafo. Apoiado na gravação de um áudio, Honorato usa retratos 3x4 para construir sua narrativa, e se aproveita da relação de intimidade entre ele e o espectador, proporcionada pelo formato do gênero, para aproximar as feições de seu próprio rosto às de quem está assistindo. Pelo que pude conferir, não há outra reação senão a de esperar com animação pelas próximas edições do festival. E você, já viu as obras do Festim?


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CRÔNICas

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Bê Franco

Dividida (fut; consequência esportiva quando dois ou mais atletas disputam a bola). Lance perigoso em que, mesmo estando com pés descalços numa “peladinha” de sábado, um jogador pode levar o outro a uma ruptura de ligamento do tornozelo. Nenhum sábado em que se resolva “bater uma bola” está isento de tal fenômeno esportivo. Foi num lance como esse que perdi uma viagem, programada há tempo, para aproveitar o feriado prolongado. A princípio, senti muitas dores, até me levarem para o hospital, onde tudo ocorreu como acontece em qualquer hospital particular: má organização, demora no atendimento, mas, tudo correndo bem até aí. Eis que recebo a notícia da lesão. Teria que ficar com a perna engessada por três meses.

Nunca havia sofrido algo tão “sério” assim. Mas nada de mais. Porém, as circunstâncias me fizeram usar uma cadeira de rodas, outra coisa que se vê todo dia, mas, neste caso específico, era eu quem usava. A primeira diferença foi ao sair do hospital. Por incrível que pareça, o difícil acesso para passar com a cadeira fez com que eu gritasse um “Ai” de dor, quando a perna raspou na parede. Até chegar ao carro foi tranquilo. Tomado por um sentimento infantil de ter alguém me empurrando em uma avenida movimentada, fui sorrindo para casa. Tudo bem, exceto a dor que, de vez em quando, insistia em dizer: “Ei, ainda estou aqui!. Quem não gosta de um privilégio de “quando em vez”? Era tudo que eu queria depois de ser tão prejudicado na vida: cafezinho na cama, Netflix exclusivo,

sem lavar pratos. Só eu, o sofá e adulações de todos os cantos. Quando cansado dessa rotina, sempre tinha alguém para me empurrar; ficava em pé só quando não restava outra opção. Até no banho tinha alguém em meu auxilio. No estacionamento, não era diferente. Na semana seguinte, uma leve mudança. Não que eu tenha perdido os privilégios citados, mas estava diferente. O café na cama me irritava, não poder andar me tirava do sério, ter alguém sempre ao meu lado no banho me deixava constrangido, as vagas “exclusivas” viviam ocupadas e me sentia mal por sempre ter que contar com alguém para me levar aonde quisesse ir. Foi aí, também, que resolvi ir ao shopping. Era época de Natal, precisava resolver algumas coisas. Claro que tive de ser “empurrado”, a vo-

luntária da vez foi minha namorada. A calça que eu estava usando tampava o gesso. Muitos olhares tristes em minha direção, o dó tinha quase uma forma física, dava pra ver alguns pais conversando com os filhos.. Se eu pudesse ler mentes, conseguiria ouvir coisas do tipo: “Viu, filho, agradeça por ter saúde; que pena, uma juventude toda pela frente; tadinha, deve ser

difícil pra ela, será que já conheceu ele assim?”. Passava em frente às lojas, e era impossível entrar em algumas, por falta de acesso. Para ir aonde eu precisava, o úncio caminho era por escada rolante. Portanto, tivemos de sair do complexo, passar pelo estacionamento, que, obviamente, não tinha acesso para cadeirantes, fazendo dos quebra-molas, um exercício físico para a voluntária.

Gustavo Santos

prazer, Cadeirante!

Dias depois daquele passeio, tirei o gesso. Voltei ao shopping na mesma semana, fiz o percurso sem a menor dificuldade, andei pelas escadas rolantes, vi alguém de cadeira de rodas e não evitei o olhar de dó, pois sou muito mais saudável..Saí, entrei no carro que estava na vaga de deficientes. Não vi nenhuma multa, sempre vale a pena o risco, é tão mais próximo.

melhor amiga do homem: a ciência Ludmila Amâncio Se você é mulher, com certeza, já deve ter escutado a seguinte pergunta: o que torna um homem atraente para você? Seria o corpo em forma, a pele sedosa, o rosto simétrico, o cabelo impecável, a barba por fazer, o peso, a altura? Ou o caráter basta? A vida costuma ser um pouco injusta, mas a realidade é que conseguir um número de fãs e seguidores nas redes sociais pode ser tarefa fácil para os “bonitões” de plantão. Já para aqueles que, esteticamente, não fazem parte do padrão exigido pela sociedade, o problema é um pouco maior. A verdade é que os gostos podem variar e muito. Mas o melhor: ninguém tem nada a

ver com o que é atraente para você. Aqui vai uma dica para aqueles que querem encontrar um amor ou conquistar a mulher dos sonhos. Se você não nasceu com a aparência de um Brad Pitt, pode ficar tranquilo! Diversas pesquisas mostram que, em termos de atratividade, fatores biológicos são mais poderosos do que os físicos. Algumas dicas valiosas te ajudarão e lhe tornarão o parceiro ideal que elas tanto desejam. Mais fantástico ainda é saber que tudo é comprovado cientificamente, ou seja, não há dúvidas, é só agir!

Não sorria É isso mesmo. Achou estranho? Estudo realizado pela Universidade

de British Columbia, em Vancouver, no Canadá, evidencia que as mulheres preferem os homens sérios e com cara de marrentos. Sorrisos exagerados talvez não sejam a melhor opção. Porém, cuidado com o nível de mau humor, pois seriedade demais pode acabar afastando a crush.

Faça amor,não a barba Sim, os homens barbudos são os prediletos delas. Os cabelos na face dão a impressão de proteção e maturidade. Nada de ficar igual a um Papai Noel, tá bom? O ideal é deixar sem aparar em torno de uma semana e meia. Esqueça a lâmina de barbear, meu amigo! Esteja sempre cheiroso O olfato tem papel

importantíssimo na atração. Um homem cheiroso remete à ideia de higiene e limpeza. E qual é a mulher que não deseja isto? O cheiro natural já é capaz de atrair a atenção e com a combinação de produtos estéticos tudo fica na medida certa. Mas cuidado para não exagerar no perfume. Use-o apenas como complemento.

Opte pelo vermelho Se você não possui muitas camisas vermelhas, é hora de renovar o guarda-roupa. Essa cor, que remete a paixão, poder e sedução, mexe com a emoção das pessoas. Estudo feito pela Universidade de Rochester, no estado de Nova York, apontou que o sexo feminino dá mais

atenção a um homem com roupa vermelha. Não é sua cor favorita? Que tal mudar?

Adote um cãozinho Um homem que possui algum animal de estimação, segundo estudos, representa para as mulheres a ideia de companheirismo, amizade e sensibilidade. A revista Psychology Today, em 2008, fez uma pesquisa interativa sobre o assunto, em que mostrou que homens acompanhados com cachorros, ao pedirem o número de telefone das mulheres eram três vezes mais propensos a conseguir o que desejavam. E aí, já sabe qual sua raça preferida? Alimente-se bem Uma alimentação saudável oferece inúme-

ros benefícios para saúde. Mas não é apenas isso. Uma dieta rica em frutas e vegetais, com menos carboidratos, torna os homens mais atraentes. Sim, você leu certo. A pesquisa é da Universidade de Macquarie, em Sidney, na Austrália. O cheiro exalado pelos homens que possuem uma alimentação mais nutritiva é ponto positivo para o sexo feminino. Caro amigo leitor, as dicas são importantes, mas nem chegam perto de atitudes maduras, carinhosas e de responsabilidade. Não vacile! Lembre-se que o crucial é ser verdadeiro, sempre. Aliando isto com nossas infalíveis orientações, qualquer mulher ficará “caidinha” em você.


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