Edição 212 - Caderno 1

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do UniBH

Ano 37 | Nº 212 Belo Horizonte | MG

Julho | 2019

Foto: vitória ohana

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

DOSSIÊ TEC: como a IA está presente e influencia no nosso cotidiano? páginas 4 a 15

100 anos do primeiro campeonato de futebol conquistado pelo Brasil Caderno DO!S

O DOMÍNIO dos ALGORITMOS


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primeiras palavras

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EDITORIAL

expediente

REITOR

Ney Felipe A tecnologia está cada vez mais presente em nosso dia a dia. Na maioria dos momentos, é usada para facilitar a nossa vida, mas em alguns casos, o mau uso pode ser prejudicial. Entretanto, não é possível negar que estamos vivendo na era mais tecnológica da história. Se você está do outro lado do mundo e quer conversar com alguém aqui no Brasil, o app de mensagens instantâneas, WhatsApp, é uma ponte tecnológica capaz de aproximar duas pessoas. Se você quer expor uma opinião ou pensamento, é perfeitamente possível usar a rede social de 280 caracteres, Twitter, para isso. E agora, se você quer se locomover de um local para outro, sem importar a distância ou a forma, já existem aplicativos para te dar uma carona ou, até

ILUSTRAÇÃO: RICARDO THOMÉ

humor

mesmo, te emprestar aquela bike para uma pedalada. Esses exemplos mostram como a tecnologia veio, de vez, para facilitar nossa vida. Ah, esses novos tempos! Se observarmos o quanto estamos avançados tecnologicamente, também poderemos ver o quanto ainda estamos atrasados em alguns aspectos. Se, por um lado, a notícia está cada vez mais instantânea em nossas mãos, por meio de celulares, tablets e vários outros acessórios, por outro, passamos a ter que redobrar a nossa atenção em relação à essas ferramentas. Com toda essa velocidade, as fake news também se propagam e ganham uma dimensão nunca vista em outros tempos. Os “tiozões do zap” foram motivo de piada durante as eleições, mas a verdade é que o público mais velho tende a compar-

tilhar informações sem fundamento ou checagem profunda sobre o fato. Há situações em que eles só leem o título e já passam para frente. E tal ação pode causar danos irreparáveis. Muita gente passou a ter a sua voz intensificada com a tecnologia na palma da mão. Redes como Instagram e YouTube ficaram gigantes. Nos dias de hoje, as estrelas da internet são chamadas de digital influencers. Essas pessoas, que antes não tinham espaço, hoje, fazem propaganda para grandes marcas, mas uma pergunta que devemos fazer é: será mesmo que elas usam esses produtos? Às vezes, me pego pensando sobre isso. Como é possível fazer a divulgação de um produto que, na verdade, você não usa? As alunas Maria Vitória e Alexia Corradi abordam os limites éticos entre a transparência e as

postagens dos famosos digital influencers. Ainda sobre as notícias falsas, Pedro Fernandes e Verônica Ferron discutem as ferramentas utilizadas pelas organizações em busca de combater ou minimizar os impactos das fake news na sociedade, como Aos Fatos, Boatos.org, Agência Pública, entre outras. Além disso, a matéria questiona de que maneira a inteligência artificial pode ajudar a mapear e diminuir os compartilhamentos dessas informações. E sobre a tecnologia alinhada à mobilidade urbana, Guilherme Drager e Hiago Gomes discutem de que forma os aplicativos de viagem já estão presentes no cotidiano da sociedade, assim como os novos recursos de locomoção, como os patinetes e bicicletas que já ocupam as ruas de Belo Horizonte. É discutido, também, as

legislações vigentes para garantir os direitos e deveres dos usuários, além de como a inteligência artificial é fundamental para garantir a autonomia e segurança dos passageiros. O IMPRESSÃO, no caderno DOIS, relembra momentos marcantes, como os 500 anos da morte de Leonardo Da Vinci e os 100 anos da primeira conquista da equipe masculina da Seleção Brasileira de Futebol. Há ainda, discussões a respeito da representatividade do autismo na TV, a evolução dos brechós, uma análise dos super-heróis das grandes produtoras DC e Marvel Comics e, por último, um interessante perfil com artistas de rua da capital mineira. Então, sente-se em uma cadeira confortável, com um café ou chá ao lado, abra o seu IMPRESSÃO e desfrute da leitura deste jornal feito com tanto carinho.

Prof. Rafael Ciccarini

DIRETORA DO CAMPUS BURITIS Profa. Cinthia Tamara V. Rocha

COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Prof. João Carvalho

LABORATÓRIO DE JORNALISMO EDITORA Dandara Andrade

DIAGRAMAÇÃO Valéria dos Reis

PROJETO GRÁFICO Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)

ESTAGIÁRIA Vitória Ohana

ILUSTRAÇÃO Comunidade de Aprendizagem em Comunicação e Audiovisual (CACAU UniBH)

PARCERIAS Curso de Fotografia - UniBH Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)

IMPRESSÃO/TIRAGEM Sempre Editora 3.000 exemplares

Eleito o melhor Jornal-laboratório do país na Expocom 2009 e o 2º melhor na Expocom 2003 O jornal IMPRESSÃO é um projeto de ensino coordenado pela CACAU - Comunidade de Aprendizagem em Comunicação e Audiovisual do UNIBH. Mesmo como um projeto vinculado ao curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Espera-se que os alunos possam exercitar a prática e divulgar suas produções neste espaço. Participe do JORNAL IMPRESSÃO e faça contato com nossa equipe: Av. Mário Werneck, 1685 BH/MG CEP: 31110-320 Tel.: (31) 3207-2811 jornal.impressao@unibh.br


visão crítica

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Estamos protegidos na internet? A Lei de Proteção de Dados regulamenta punições para vazamentos de dados pessoais A nova lei de proteção dos dados que circulam na internet, que entrará em vigor em agosto de 2020, já assusta as empresas que cuidam dos nossos dados, cada vez menos preparadas para lidar com a quantidade de informações produzidas diariamente. Todas as empresas que tratam diretamente com dados e armazenamento de informações sigilosas, a partir de agosto, serão responsáveis por garantir a privacidade dos usuários, por meio de recursos de segurança em rede ou nuvem, sob pena de multa de até 2% do faturamento bruto, limitada a 50 milhões de reais. As empresas que forem pegas em situações que coloquem em risco a privacidade dos usuários devem apresentar seu plano de segurança a fim de

reduzir a aplicação de multas astronômicas. Mas por que, agora, os dados dos usuários e informações sigilosas passaram a ter tanta importância? Atualmente, os usuários de smartphones ou computadores portáteis registram ou permitem registrar seus costumes de compras, preferências, desejos, interesses e localização. Esses dados, portanto, passaram a ter um grande valor no mundo atual. Toda essas informações podem ser comercializadas ou usadas sem o consentimento do usuário. No momento em que você compra ou baixa um app qualquer no seu smartphone, você concorda em compartilhar os seus dados com as empresas que ofertam aquele serviço. Esse contrato de compartilhamento é esclarecido nos Termos e Condições de Uso, documento que raramente

é lido pelos clientes. Esse contrato, porém, também esclarece que as empresas devem manter os dados em sigilo. Entretanto, em busca de alcançar o consumidor ideal para os produtos, grandes empresas encontram, nesses dados precisos, uma forma de atingir em cheio o cliente. Informações dos usuários são valiosas e implicam em um comércio de venda de informações privilegiadas. Tais negócios geram milhões de dólares por meio da combinação de algoritmos que influenciam a compra do consumidor. Em um caso recente, em Belo Horizonte, uma rede de farmácias foi multada em mais de 7 milhões de reais por exigir CPF de seus clientes para cadastro, sem apresentar motivos consistentes para o pedido. O Ministério Público acusou a empresa de captar dados sem a

devida informação clara e precisa da finalidade do pedido. Na visão do MP, o banco de dados, com os números de CPF, representava “severo risco à intimidade e vida privada do consumidor”, além de “sujeitá-lo a riscos das mais variadas espécies em caso de vazamento de dados”. Neste caso, a nova lei ainda não estava em vigor, portanto, foram aplicados os princípios e normas do Código de Defesa do Consumidor. A nova Lei de Proteção de Dados traz

inovações acerca das punições. O objetivo é proteger ainda mais os dados de quem navega na internet, realiza compras em lojas físicas ou online, tem cadastro em redes de telefonia, cartão de crédito ou mantém assinaturas digitais. Até hoje, ataques de vazamentos de dados não tinham punições previstas pela constituição. A partir de agosto, empresas e/ou terceiros deverão ser contratados para garantir a segurança dos dados, sem poder alegar culpa de hackers ou crackers.

O advogado e professor de Direito, Luiz Felipe Siqueira, ressalta um ponto importante para eventuais descumprimentos previstos na lei, em especial do vazamento inlegal de dados e seus impactos. “O maior impacto, acredito, será na forma como as empresas e os entes públicos irão se portar diante da lei, tratando os dados que identificam o usuário de forma adequada, sob pena de pagar multa de 2% do faturamento ou R$ 50 milhões por infração”, explica Luiz. Arte: RICARDO THOMÉ

Giancarlo Ferreira

rodapé VIDA DE CROSSFITEIRo

Cuidado com o medo

Giancarlo Ferreira

Verônica Ferron

É, gente, não está sendo nada fácil. Ontem comecei no crossfit e, por favor, não façam isso com seus músculos, ou melhor dizendo, carne, para apanharem na academia. Não sei porque me convenceram a ir com frases do tipo “você vai gostar”, “é muito legal a aula coletiva” e “irá fazer bem a sua saúde”. Tenho vontade de matar quem inventou esse esporte que nos mata em 50 minutos de aula. Começa pelo aquecimento, que mais parece uma luta corporal. Os movimentos querem

dobrar os nossos corpos como se fôssemos uma das bailarina do balé Bolshoi. Mas, não acaba por aí. Depois, tem o levantamento de peso. Essa é a hora em que os mais aparecidos enchem as barras com pesos em excesso e quase se partem ao meio. Por fim, vem o pior, seria melhor ter desejado a morte do que ter vindo conhecer esse negócio de crossfit. Chega o momento do W.O.D, ou treino do dia em português. Mas, ué, já não estou aqui há mais de meia hora malhando, morto de cansado e nem teve o treino do dia ainda? Pelo amor de

Deus, me tirem daqui! Levantar peso, depois correr 400 metros, voltar, subir em corda que queima a mão, subir em um caixa saltando do chão, puxar um remo. Nossa, isso não é para mim. Ao final, todos deitados no chão, encharcados de suor, depois de um monte de repetições de exercícios, me perguntam o que achei da aula e se eu voltaria. Volto sim, só se for para matar quem me indicou essa modalidade desumana, que me deixou com dores antes mesmo de acabar o dia. Se eu ver na rua boto para rolar morro abaixo.

Final de domingo, já perto das 20h, as ruas desertas, como sempre. Só se ouvia o barulho das árvores se movendo com o vento e de alguns poucos carros passando em uma das avenidas mais movimentadas de Lagoa Santa. Subi a rua, acompanhada por aquele silêncio absoluto. Já não sentia algo bom. De repente, escuto um barulho vindo de um buraco. Sim, de um buraco! Continuei seguindo com passos mais largos e, neste momento, com o coração já acelerado. Confesso que rezei para

que fosse apenas um cachorro comendo lixo. Porém, não era. Em meio a escuridão, eis que surge uma mulher com um isopor na mão: “Moça, aceita comprar uma bala ou um chocolate?” Assim, do nada! A minha reação foi única: pular de susto. “Moça, que horas são, por favor?” Paralisei de medo. Naquela hora, acho que me esqueci até de como se respirava. A única reação que tive foi guardar o celular que estava em minha mão e continuar andando, ainda mais rápido, praticamente correndo. “Não precisa ter medo de mim, eu

não vou te roubar ou te fazer mal, não preciso disso”, escutei de longe. Por um instante, parei, olhei para trás e a unica coisa que consegui dizer foi: “Desculpa!” Essa é uma daquelas histórias que marcam a sua vida e te fazem refletir sobre suas atitudes e sobre o mundo em que vivemos. Não é bom ter medo de tudo e de todos. Não é bom pensar que todos são iguais e acabar julgando e condenando pessoas inocentes. Pois bem, de tudo isso, uma conclusão: cuidado com o medo, ele pode machucar um outro alguém.


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Modernidade móvel Guilherme Drager Hiago Gomes Se você é daqueles que presta atenção nos detalhes, talvez tenha notado, ao andar pela região central de Belo Horizonte, uma grande presença de bicicletas e patinetes nas calçadas. Sejam verdes, amarelos ou laranjados, esses meios de transporte chegaram para mudar a forma de se locomover entre os espaços públicos e, junto aos aplicativos já estabelecidos, como a Uber e a 99, oferecem novas soluções para a mobilidade urbana. No início, é normal haver um certo receio ao pegar uma bicicleta deixada no meio da calçada, mas é importante saber que, mesmo sendo gerenciadas por empresas privadas, qualquer pessoa pode desfrutar de um passeio junto aos amigos ou chegar no trabalho mais rápido com estes equipamentos. E para fazer isso, não é tão difícil, é necessário ter o respectivo aplicativo instalado no telefone celular e créditos disponíveis para utilizar os veículos.

Na mão Já são 5 anos desde a chegada da multinacional americana Uber no Brasil. A empresa veio com a proposta de revolucionar o modo de se movimentar nas cidades. É importante ressaltar que, apesar de possuir grande presença no setor dos transportes, a Uber não se caracteriza como uma empresa de transportes ou aplicativo de táxi, mas como uma empresa de tecnologia. Isso acontece porque ela oferece uma plataforma tecnológica para que “motoristas parceiros se conectem

de forma fácil e descomplicada a usuários que buscam viagens acessíveis e confiáveis”. A partir do conceito de ‘aplicativo de tecnologia que atua no transporte’, surgem os novos apps que trabalham com a “micromobilidade”, termo utilizado para tratar os meios de transporte menores e utilizáveis apenas por uma pessoa. Em Belo Horizonte, o Homo Driver foi primeiro aplicativo de mobilidade urbana direcionado ao público LGBTQI+. Pioneira mundial no segmento, a startup surgiu a partir da colaboração dos sócios Thiago Vilas Boas e Gerson Almeida. A dupla detectou a necessidade da comunidade em ter uma empresa de transporte privado que oferecesse inclusão e acolhimento às pessoas do grupo. Após um ano de pesquisas e elaboração do plano comercial, a Homo Driver se lançou no mercado em dezembro de 2018. Em apenas cinco meses de funcionamento, a empresa já conta com mais de 40.000 downloads, cerca de 5 mil motoristas parceiros e um total de zero casos de abuso ou intolerância registrados nesse período. Para Thiago Vilas Boas, sócio-fundador, o papel social da empresa vai muito além de seus serviços, uma vez que, além de ajudar a gerar empregos à comunidade LGBTQI+, o serviço também proporciona um cenário mais seguro para a mobilidade urbana. “Com o passar do tempo, muitas mulheres heterossexuais começaram a nos procurar a fim de evitar abusos e intolerâncias por parte de motoristas de outras empresas”, afirma.

“Eu vejo a Homo Driver com total segurança, somos respeitados pelo o que somos, sem sofrer nenhum preconceito ou assédio por isso. Os preços são justos e compatíveis com os preços ofertados pela concorrência”, relata o passageiro Aleff Kennedy, de 24 anos. O app da Homo Driver está disponível para download na AppStore e na Playstore, e para começar a usar os serviços da empresa, basta baixar o aplicativo e fazer um cadastro. Por mais que o foco da empresa seja promover transporte e um espaço de trabalho para a comunidade LGBTQI+, qualquer pessoa pode se tornar passageiro ou se inscrever para o processo de admissão de novos motoristas. Aos motoristas interessados na parceria, é preciso dizer que o processo não é tão simples quanto nos apps tradicionais. O controle da Homo Driver é mais rígido a fim de garantir a alta qualidade na entrega dos serviços. Para participar, o condutor interessado deve baixar o app e enviar seus dados, incluindo os dados do veículo. Estes serão avaliados e configuram a primeira fase da ingressão. Após ser aprovado, o condutor receberá um curso com simulações de possíveis cenários em que ele deverá atuar bem, é uma espécie de treinamento para saber se portar em diferentes situações. A obrigatoriedade de avaliar a corrida por parte do motorista e do passageiro é mais um diferencial da empresa, o objetivo é garantir o melhor aproveitamento dos serviços. Para avaliar e acompanhar os resultados, uma equipe trabalha 24h

Fotos: alina souza

A tecnologia possibilita novas maneiras de se locomover nos centros urbanos

Os patinetes já estão presentes na regiáo central de Belo Horizonte desde 2018

colhendo informações e gerando relatórios acerca das avaliações e comentários. Diferente das outras companhias, a falta de avaliação e de comentário pós-viagem impede que a pessoa prossiga para uma nova corrida, a corrida só para de ser cobrada quando o app recebe a avaliação do usuário. Segundo o motorista Juracy Lanes, de 36 anos, “os passageiros se sentem à vontade até para conversarem com o motorista”, já que eles se sentem representados e seguros pela empresa. “Nunca tive problemas”, ressalta o profissional. O aplicativo oferece 4 formas de prestação do serviço. (1) Driver, parecido com o UberX, para carros com no máximo 10 anos, ar condicionado, 5 lugares e 4 portas. Nessa modalidade, o preço é mais acessível. (2) Executivo, ape-

nas carros sedans com, no máximo, 5 anos de uso, inclui todas as características exigidas na categoria Driver, porém, com mais conforto e um porta-malas maior. (3) Luxo, além de todos os itens dos demais, banco de couro é obrigatório. Alguns modelos de SUV também entram nesta última categoria. Além dessas, há também a (4) Homotaxi, categoria parceira aos taxistas que procuram a empresa para fazer parte da prestação de serviço. Thiago Vilas Boas ainda destaca os planos da empresa para adicionar mais duas categorias: a Pet, que permite o transporte de animais, e a Homobaby, transporte para crianças e bebês que necessitem da cadeirinha. A expansão do serviço para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro já é prevista para acontecer até

o fim deste ano. A Yellow, por exemplo, aplicativo de compartilhamento de bikes e patinetes amarelos, surgiu da ideia de diminuir o longo tempo que os passageiros gastam presos no trânsito. A partir disso, Ariel Lambrecht, fundador da 99 (outra empresa com serviços de mobilidade urbana), e Eduardo Musa, exCEO da Caloi (empresa brasileira fabricante de bicicletas), se uniram para criar a startup líder em bicicletas sem estação e patinetes elétricos no Brasil. Já a Grin, responsável pelos patinetes verdes, segue a mesma lógica e, não à toa, se tornou a maior empresa de patinetes elétricos da América Latina. Em janeiro de 2019, as duas empresas anunciaram planos para fundir as companhias, o objetivo é criar um novo


DOSSIÊ tec conceito em soluções de micromobilidade e serviços online to offline do continente sul-americano, a GROW. O desenvolvimento de aplicativos de tecnologia e serviços, como o Uber e a Yellow, pode durar um bom tempo no mercado. Alysson Guimarães, que vive o universo de desenvolvimento de aplicativos de serviços desde os 15 anos, atualmente, trabalha em uma empresa de software médico e estuda programação e desenvolvimento de apps e softwares. Para ele, a inteligência artificial facilita a vida de programadores e usuários, já que possibilita otimizar o funcionamento destes aplicativos.

senvolvedor elabora todas especificações e requisitos para que seja possível iniciar o desenvolvimento do produto, nessa etapa, também são elaboradas as personas, perfis semi-fictícios de clientes ideais que o app deseja alcançar, sejam homens, mulheres, crianças, adultos, idosos ou deficientes; c) produção - os programadores começam já trabalhar na construção do programa, tendo como base todo o mapeamento que foi realizado no planejamento. Ainda nesta etapa, o Designer de UX (User Experience), profissional responsável por realizar a criação, desenvolvimento e implementação de soluções inovadoras e atraentes para uma melhor experiência do usuário, já pensa nas próximas alterações e entra em ação. A penúltima etapa é a de testes, uma das partes mais importantes do processo. Nesse momento, é feito todo tipo de teste para averiguar se as funcionalidades do produto estão de acordo com o desejado. Geralmente, testes A/B (em que dois pequenos públicos testam o produto

para trazer impressões externas) também são realizados. Por último, a entrega. Realizada caso tudo ocorra bem na fase de testes e, mediante aperfeiçoamentos, o aplicativo é, então, lançado no mercado.

Inteligência Artificial Alysson afirma que a Inteligência Artificial deve ser pensada na concepção da solução, na etapa de planejamento dos requisitos. A IA, como é chamada, tem como principal objetivo pensar na resolução de problemas no lugar de um ser humano. Neste tipo de aplicativo, a lógica da IA é automatizar o processo e agilizar um cálculo ou raciocínio que ocuparia o lugar de um ser humano real. Isso já acontece nos aplicativos de mobilidade. Se o aplicativo identifica que, aos finais de semana, há uma grande demanda de corridas para shoppings, automaticamente, aos sábados e domingos, o aplicativo mostrará o destino nas primeiras opções. E se você tem o costume de usar o aplicativo durante a semana, de segun-

da à sexta, para ir ao trabalho ou faculdade, o primeiro destino não será o shopping, mas sim estes locais. São nestes pequenos detalhes que a IA se encaixa. Hoje, ela também é bem presente no suporte ao cliente por meio dos chatbots, “robôs” programados para interagirem com os humanos através de comandos e solucionarem problemas dos usuários. Alysson afirma que a IA tem um papel importante nos aplicativos, a proximidade. “Tendo alguém pensando por nós, desenvolvedores, dentro do aplicativo, é uma oportunidade de experiência fantástica para o usuário e para o serviço que ele está consumindo”, ressalta. Apesar disso, Alysson também destaca que é muito importante pensar nos usuários dessas tecnologias. Enquanto programador, seu objetivo é pensar na melhor experiência para todos os tipos de usuário, seja em segurança, acessibilidade, mobilidade ou facilidade. “O desenvolvimento de aplicativos e softwares, por muito tempo, foi

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uma área muito oculta e sublime, quase uma área mística. Mas, é uma área extremamente técnica e até mesmo simples, do ponto de vista de processos, que envolve diversos tipos de pensamentos e pessoas para se alcançar um objetivo”, afirma o empreendedor. Para Alysson, a sinergia da equipe, alinhada a uma boa metodologia, resulta em um aplicativo de alta qualidade, utilizado por milhões de usuários. “Quando um aplicativo consegue ser próximo de todos, ele tem uma aderência muito maior”, completa empolgado.

Regras Ainda não existe uma regulamentação específica para a criação de aplicativos como esses. Até porque, é somente a partir da popularização e da transformação de lógicas sociais que surgem regras, assim como os projetos de regulamentação do Uber e de limite de velocidade máxima para uso dos patinetes. Mas, segundo Alysson, dentro da área de sistemas de informação, pode-se GRÁFICO: PAULO RODRIGUES

Criação de apps Antes de tudo, é importante compreender o processo. Cada aplicativo exige uma etapa específica e, por isso, na tecnologia da informação, existem várias metodologias de desenvolvimento de software. A partir daí, a Engenharia de Software se torna a área responsável por estudar e escolher a melhor metodologia

para a criação. No projeto, o objetivo é chegar a um MVP (Produto Mínimo Viável), ou seja, um produto capaz de atender a necessidade principal, mas que ainda não está completo. Por exemplo, seria como se o primeiro ato fosse criar um aplicativo de transporte apenas com sua principal função feita, a de realizar corridas, onde só seria aceito o pagamento em cartão. Outras funções, como avaliação, pagamento em dinheiro, dados de tempo de chegada e perfil do motorista, seriam adicionados periodicamente, mediante necessidades e testes com o público. As próximas etapas, portanto, servirão de teste para futuros complementos e adição de funcionalidades para melhorar a experiência do usuário. As etapas de criação dos aplicativos são chamadas de “ciclo de vida de software”, e podem ser resumidas em: a) demanda - a fábrica ou o desenvolvedor recebem um pedido de desenvolvimento com base em uma ideia; b) planejamento - o de-

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Os novos aplicativos ampliam as possibilidades no meio urbano


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dizer que existem três linhas que cercam o desenvolvimento. A primeira linha implica na forma como o produto é desenvolvido, voltada para a qualidade dos códigos gerados. Chamados de “padrões de projetos”, esses códigos são um conjunto de soluções para problemas que acontecem frequentemente em todo projeto de software/app. Isso facilita e impede que ocorram erros no desenvolvimento. A segunda linha fala sobre o processo de desenvolvimento dos aplicativos. Hoje, no Brasil, existe a MPSBR, Melhoria do Processo de Software Brasileiro, metodologia certificadora da qualidade do processo de desenvolvimento do software. Ela abrange normas que devem ser seguidas para certificar que o software seguiu criteriosamente o caminho correto. A terceira linha, voltada para legislação, são as leis que afetam o software já produzido, como leis fiscais, direitos do consumidor e, principalmente, a LGPD (Lei Geral de Proteção a Dados Pessoais), que entrará em vigor a partir de agosto do próximo ano (2020). Esta última regulamenta e garante a segurança de todo e qualquer dado pessoal,

armazenado por uma determinada empresa, estando incluso o armazenamento, a segurança e a remoção dos dados, caso eles sejam solicitados pelo usuário.

Segurança Seja nos aplicativos de macro ou micromobilidade, a segurança é um dos pontos mais levados em consideração nos debates entre as plataformas e os órgãos responsáveis, que tentam regulamentar e fiscalizar o funcionamento dos apps. Além do clássico embate entre táxi e Uber, nos novos aplicativos, a discussão acaba girando em torno da falta de segurança e da falta de instrução para a utilização dos equipamentos. Com a popularização dos apps de patinetes e bicicletas, usuários sem capacete e utilizando estes equipamentos em vias públicas acabam sendo cenas cada vez mais comuns. E se o número de usuários aumenta, o número de acidentes segue a mesma proporção. Dados do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII mostram que ao menos 76 pessoas foram internadas em Belo Horizonte por acidentes relacionados aos patinetes apenas em 2019. Ainda em Belo Ho-

rizonte, de acordo com a assessoria de comunicação da BHTrans, há um grupo de estudos trabalhando na elaboração do projeto de regulamentação desses equipamentos. Segundo Marilda Cunha, assessora de comunicação e marketing do órgão, “assim que o projeto for concluído, a BHTrans irá levá-lo à consulta pública e a sociedade poderá se manifestar e contribuir com opiniões e sugestões para, em seguida, a regulamentação ser providenciada”. Para compor o grupo responsável pela criação, também foram convidadas a Guarda Municipal e a Secretaria Municipal de Política Urbana. Até a regulamentação específica ser publicada (2013), a Resolução 465 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) permanece em vigor. A norma estipula que o usuário só pode circular em calçadas a uma velocidade máxima de 6 km/h e a 20 km/h em ciclovias e ciclofaixas, a utilização dos patinetes em outras vias ainda é proibida. A norma ainda ressalta as condições para que as bicicletas com motores elétricos possam circular nas ciclovias e ciclofaixas. A limitação da potência máxima em 350 watts,

É possível estacionar os patinetes em diversos pontos da capital, conforme indicado pelo aplicativo

velocidade máxima em 25km/h, equipamentos como indicador de velocidade, campainha, sinalização noturna dianteira, traseira e lateral, espelhos retrovisores

Veja mais:

Essa é uma matéria multimídia. Para acessar a continuação dela, escaneie o QR CODE com seu celular. Ele irá levá-lo para o vídeo que está hospedado no canal do Youtube UniBH TV.

http://bit.ly/2MZqT93

em ambos os lados, e condições mínimas de segurança para os pneus, são exemplos. Recentemente, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, publicou um decreto que implementa novas regras para o uso de patinetes elétricos nos espaços públicos da cidade. Quem for pego descumprindo o novo regulamento poderá ser multado em até R$20.000. A prefeitura de Santa Catarina também publicou um decreto acerca dos patinetes. Diferente da capital paulista, catarinenses de 16 anos também poderão usufruir da nova febre, desde que estejam acompanhados por um responsável legal. Ficou decidido que será responsabilidade da Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana e da Secretaria Municipal de Segurança Pública o

controle e fiscalização com base no Código de Trânsito Brasileiro e outras legislações aplicáveis . Reprimir práticas desleais e abusivas por parte das empresas prestadoras do serviço também ficou definido como dever das secretarias supramencionadas. Como em todo meio de locomoção, é necessário ficar atento às indicações de uso dos equipamentos. Os patinetes, por exemplo, devem ser guiados apenas por maiores de idade, com o uso do capacete, e que saibam respeitar os demais transeuntes urbanos. Uma dica para quem quer usufruir deste serviço, é fazer um passeio de reconhecimento do veículo, em alguma praça ou rua menos movimentada. Assim, o usuário cria uma intimidade maior com o equipamento, que irá ajuda-lo em situações inusitadas,


como um bueiro rebaixado ou um pedestre que “surgiu do nada”. Por isso, as páginas dos aplicativos sugerem o uso de capacete e itens de segurança como joelheiras, cotoveleiras e luvas, artigos que ajudam a amenizar os possíveis traumas causados por queda. É importante ressaltar que a maioria dos casos de acidentes registrados e divulgados envolvem frenagens bruscas, velocidades altas e desníveis no percurso. Dentre as novas exigências para o uso destes veículos na capital paulista, está o uso obrigatório de capacete, a proibição da circulação nas calçadas, circulação

permitida somente em ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas ou ruas com limite de velocidade de até 40 Km/h e velocidade máxima de 20km/h. A universitária Luisa Marques, 22, descobriu o aplicativo durante uma viagem à São Paulo. Na Avenida Paulista, a jovem se deparou com muitas pessoas se locomovendo com os patinetes e bicicletas dos aplicativos, antes mesmo das empresas chegarem à BH. “A primeira vez que andei de patinete foi em março desse ano, lembro porque foi um dia muito marcante para mim. Usei sem nenhum tipo de segurança e, para piorar, fui de ‘ca-

rona’”, confessa. Luisa afirma conhecer as regras e condições do aplicativo, já que só é possível liberar o veículo mediante afirmar estar ciente de todas as regras. Entretanto, a jovem não acha pertinente regulamentar especificamente o uso, uma vez que o app já faz isso. Segundo ela, cabe aos usuários usar do bom senso e pensar bem ao utilizar o transporte. “Nunca me acidentei, mas, frequento a Praça da Liberdade quase que diariamente e já vi algumas pessoas se acidentando por lá. Em todos os casos que presenciei, era visível que a pessoa não obedeceu alguma condição

de segurança imposta pelo app”, afirma. A jovem conta, também, que na maioria das vezes em que recorreu aos patinetes foi com o intuito de se divertir, não para usar como um meio de locomoção a fim de cumprir um trajeto específico. Segundo ela, a infraestrutura da cidade não favorece passeios confortáveis e seguros. “O que me preocupa mais é que, em Belo Horizonte, as calçadas são muito estreitas e podemos dizer que praticamente não existem ciclovias por aqui”, destaca. Já Pedro Augusto, de 25 anos, utiliza os patinetes sempre que tem a necessidade de

percorrer distâncias curtas ou quando quer “tirar uma onda” no calçadão do Rio de Janeiro. “Em Belo Horizonte, as ciclovias e ruas são bem precárias, mesmo assim, toda vez que preciso fazer algo rápido, entro no aplicativo para ver se existe um patinete à disposição na região. Como sempre viajo para o Rio, faço muito uso dos patinetes para chegar à praia. Lá é muito mais fácil, existem mais ciclovias e, aparentemente, muito mais patinetes disponíveis para usarmos”, compara Pedro. Pedro, que já tem experiência com motocicletas, skates e patinetes convencionais, disse que nunca sofreu acidente e,

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assim como a Luisa, não usou os equipamentos de segurança solicitados pelas empresas. Ainda assim, ele ressalta que o uso das proteções pode evitar possíveis sequelas em caso de acidente. “Se você tiver em casa, leve-os para o passeio”, afirma Pedro. Não se prenda à velhos conceitos de mobilidade, pois a tendência é que, cada vez mais, as empresas passem a invistir em novos tipos de serviços, com o objetivo de facilitar a locomoção nos meios urbanos. Lembre-se de seguir as dicas e normas de uso, gentileza também não pode faltar. Ela é muito importante para evitar acidentes e estresse. arte: Cintya Juliana

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você escolhe o que você vê? O crescimento do consumo de conteúdo audiovisual na internet altera as relações entre usuários e plataformas Daniel Oliveira Jhosef Cândido

FOTO: daniel oliveira

‘‘O crescimento do consumo de produtos audiovisuais na internet decorre, majoritariamente, da busca pelo entretenimento’’. É o que afirma Camila Saccomori, em seu artigo Novos Hábitos de Consumo do Produto Audiovisual Online. Segundo a pesquisa Vídeo Viewers, de 2017, encomendada pela Google, esse crescimento decorre da busca na internet por conteúdos que não estão disponíveis gratuitamente na TV aberta. De acordo com o relatório Global Internet Phenomena Report, elaborado pela Sandvine, empresa de equipamentos de rede com sede nos Estados Unidos, o tráfego mundial de internet É dominado pela Netflix, com 14.97%, seguido pelo streaming de vídeo por https com 13.07%. Em terceiro lugar, o YouTube, com 11.35% do tr·fego. A ìGlobal Internet Phenomena Reportî evidencia que os vídeos correspondem a quase 58% de todo o tráfego de internet no mundo. A pesquisa Vídeo Viewers foi feita no

Brasil entre os anos de 2014 e 2018, e registrou um crescimento de 135% no consumo de conteúdos audiovisuais na internet. Isto corresponde a um aumento de 8,1 horas semanais de consumo audiovisual na internet, para 15,4 horas semanais. Entre os entrevistados para a pesquisa de 2018, 86% afirmaram assistir vídeos na internet. O engajamento do público no consumo de produtos audiovisuais se traduz de maneiras diferentes entre as duas maiores plataformas de consumo audiovisual do mundo: YouTube e TV. O microempresário do setor Ótico, Leonardo Viana, 24, conta que seu consumo audiovisual alterna entre a televisão e o YouTube, mas a plataforma de vídeos É, ainda, sua favorita. Minha preferência é por conteúdos online, sinto que a TV ainda nos omite muitas informações importantes, enquanto a internet nos proporciona a experiência de buscar várias fontes diferentes sobre um mesmo assunto, explica Leonardo. Sobre seus hábitos de consumo audiovisual na internet, Leo-

Produtores audiovisuais já focam seus trabalhos exclusivamente para a internet

nardo revela que passa aproximadamente cinco horas diárias online, sendo cerca de 70% deste tempo destinado ao entretenimento em plataformas como YouTube e Netflix, e 30% em portais de notícia e pesquisas sobre política e história.

Os vídeos correspondem a quase 58% de todo o tráfego de internet no mundo. O doutor em artes e especialista em cinema interativo, João Carlos Massarolo, aponta que a internet também é, hoje em dia, o grande meio da produção o audiovisual. ìO resgate da linguagem audiovisual e a atualizarão dos conteúdos cinemáticos fazem parte do processo de integração dos procedimentos de produção„o. Na era do entretenimento digital, n„o existem dúvidas de que a internet é a mídia ideal para a exibição e a promoção„o de filmes e vídeos. Para o especialista, uma das questões que sobressaem na discussão é a relação entre os produtores de mídias digitais e as empresas de telefonia e provedores. João Carlos pontua

ainda que o estudo das ferramentas de trabalho disponibilizadas na internet, é uma forma de parametrizar o diálogo entre os procedimentos analógicos e os recursos digitais, aplicados não somente nos canais de cinema na internet, mas tambem na produção audiovisual em geral. Segundo dados divulgados pela Netflix, empresa fundada por Reed Hastings e Marc Randolph em 1997, em outubro de 2018 a empresa contava com 130 milhões de assinantes pagantes e 7 milhões de assinantes em fase de teste, referente ao primeiro mês gratuito, oferecido a todos os novos usuários. Entre 1 de novembro de 2016 e 1 de novembro de 2017, a própria empresa registrou que, em todo o mundo, por dia, s„o consumidos cerca de 140 milhões de horas em conteúdo audiovisual na plataforma. O YouTube, plataforma de compartilhamento de vídeos, subsidiária da Google desde 2006, traduz este crescimento por meio de dados. Segundo a empresa, mais de 1 bilhão„o de horas de conteúdos audiovisuais s„o assistidos

por dia. Eles contam, ainda, com mais de 1 bilhão„o de usuários em todo mundo. Com isso, a plataforma é responsável por 11.35% de todo o tráfego global de internet.

A Netflix, em outubro de 2018, contava com 130 milhões de assinantes pagantes e 7 milhões de assinantes que estão em fase de teste. Alessandra Campos Pérgola, doutoranda em ciências da comunicação e especialista em artes, diz que a internet, com seus produtos on demand, possibilita que as pessoas visitem e se divirtam em qualquer momento com o que desejarem, o que é mais difícil pela televisão. O importante na internet é saber garimpar o melhor conteúdo e usufruir dessas facilidades sem limites de horário, nem preocupação com a programação como nos canais de TV normal, completa Alessandra.

Smartphone Nos smartphones, o YouTube é detentor do tráfego global de internet, segundo o relatório Mobile Internet Phenomena Report, responsável por oferecer a vis„o do consumo mobile de internet no mundo. A plataforma detém 37% de todo o tráfego nos aparelhos, enquanto apps como Facebook e Snapchat s„o responsáveis por 8,4% e 8,3%, respectivamente. Os dados da pesquisa, levantados pela Sandvine, ainda apontam que outros aplicativos mobile representam uma parcela Ìnfima se comparadas aos números da subsidiária da Google. O Instagram representa 5,7%, WhatsApp 3,7% e a Netflix 2,4%. Para o estudante de psicologia Diego Fernandes, 23, os

smartphones se tornam o meio mais agradável de se informar e consumir conteúdo audiovisual. Diego passa cerca de 6 horas por dia consumindo conteúdos online, sendo o YouTube e o Instagram suas redes favoritas na hora de buscar entretenimento.

No Brasil Quando fechamos apenas no nosso país, o YouTube também é a forma preferida dos brasileiros para consumir conteúdo audiovisual online. Dos participantes da pesquisa, 44% afirmam preferir consumir conteúdo no YouTube e 22% na Netflix. Entretanto, o YouTube ainda tem um forte concorrente no consumo de audiovisual no país. A Vídeo Viewers indica que a TV Globo (emissora de TV aberta) detém 18% de todo o consumo audiovisual. Fiscalização No Brasil, os produtos audiovisuais s„o fiscalizados por duas instituições: o Conar e a Ancine. O Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária (Conar) é uma organização da sociedade civil fundada em S„o Paulo, em 1950. Seu objetivo é evitar a veiculação de anúncios e campanhas de conteúdo enganoso, ofensivo, abusivo ou que desrespeitem, entre outros, a leal concorrência entre anunciantes. Segundo o Conar, propagandas com temas como aborto, alimentos para lactantes e crianças de primeira infância e armas de fogo, não são permitidas. Além dos conteúdos que ferem o Código de Defesa do Consumidor, a Constituição Federal/1988, os Direitos Autorais e o Estatuto da Crianças e do Adolescente. A Agência Nacional do Cinema, Ancine, tem


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Lei do Audiovisual O Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou, em dezembro de 2018, o Projeto de Lei 5.103/18. Informalmente chamada de Lei do Audiovisual, o mecanismo legal garante a continuidade das políticas públicas destinadas ao audiovisual em Minas Gerais. Em sumo, a lei prevê o incentivo ao conteúdo audiovisual em todo o estado de Minas Gerais. Segundo o texto, a política deve abranger atividades relacionadas com o audiovisual, incluindo a elaboração de projetos, pesquisas, criação, produção, finalização distribuição, difusão, divulgação e exibição, de obras audiovisuais, além do desenvolvimento de novas tecnologias, formação e a publicação de obras que versem sobre o setor, como a crítica e a preservação do patrimônio audiovisual. Inteligencia Artificial A inteligência artificial é uma espécie de ciência especializada em fazer com que softwares tenham consciência similar aos humanos. Esse mecanismo vem influenciando no audio-

FOTO: fernanda cris gomes

visual, tanto na forma de produzir, ao permitir maior economia de tempo e mais autonomia para quem produz conteúdo; quanto no consumo, visto que os algoritmos são responsáveis por indicação de vídeos, programas, séries ou filmes com base em pesquisas recentes. Nunca houve tanto conteúdo de vídeo disponível em vários dispositivos e plataformas simultaneamente. Com tanta concorrência em todas as mídias, os produtores est„o criando conteúdos mais elaborados em vários formatos e resoluções. Já existem estudos que conduzem o uso da inteligência artificial em hologramas para exibição de propagandas com base no histórico de pesquisas e compras do smartphone. Na atualidade, a inteligência artificial, a produção, e o consumo de audiovisual na internet andam juntos. No YouTube, a relação entre ambos é evidenciada pela forma que os algoritmos definem as recomendações aos usuários. Leonardo de Marchi, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica em seu artigo como os algoritmos do YouTube calculam valor? Uma análise da produção, de valor para vídeos digitais de música através da lógica social determinada pelo YouTube de quais são os vídeos semelhantes se vale de uma técnica conhecida como mineração de regras de associação. Leonardo explica que, por meio desta técnica, os algoritmos do Google definem os vídeos semelhantes a partir dos que um usuário assiste depois de ter visto o vídeo inicial. A partir disso, por um período de tempo determinado, conta-se com que frequência cada par de vídeos foi coassistido Existem diversos exemplos de como a indústria audiovisual tem migrado para soluções de inteligência

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artificial e isso não é apenas uma tendência deste segmento. Mas, uma consequência do mercado de tecnologia mundial que caminha por essa mesma trilha. Com tantas informações, de diversos setores sendo concentradas na web, são abertas margens para uma troca em massa por meio inteligência artificial.

Mais de 1 bilhão de horas de conteúdos audiovisuais são assistidos por dia apenas no Youtube. Ele possui mais de 1 bilhão de usuários em todo mundo. A inteligência artificial se faz presente, também, em novos formatos da produção audiovisual. Uma das recentes inovações na internet é a empresa GliaStudio, dos programadores e designers David Chen e Dominique Tu. Por meio da inteligência artificial, eles convertem notícias em texto para vídeos. A IA analisa as palavras presentes no texto inserido e adiciona voz robótica e imagens relacionadas com o tema para compor a produção. A utilização da ferramenta é paga e o investimento pode ser acordado de

Produtores audiovisuais já focam seus trabalhos exclusivamente para a internet

duas formas com a empresa: por meio da compra da ferramenta em cada vídeo produzi-

do ou pela divisão dos lucros decorrentes da publicidade do vídeo. Mas, existe também

uma modalidade gratuita da ferramenta com publicidade pré-definida pela empresa. FOTO: valéria dos reis

como atribuições o formento, a regulamentação e a fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil. Uma autarquia especial, vinculada ao Ministério da Cidadania, com sede e foro no Distrito Federal, escritório central no Rio de Janeiro e escritório regional em São Paulo. O objetivo da Ancine é desenvolver e regular o setor audiovisual em benefício da sociedade brasileira. A Ancine afirma que estabelece regras para desenvolver o mercado e a indústria e fiscalizar o cumprimento da legislação relativa ao setor. Além disso, em sua atuação fiscalizadora, a Ancine apoia através de combate a pirataria, articulando diversos agentes e promovendo áreas educativas.

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Com a inteligência artificial, as plataformas sugerem novos conteúdos de acordo com as últimas buscas do usuário


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O ‘boom’ do combate às fake news Verônica Ferron Pedro Fernandes Tsunamis. É assim que as fake news são conhecidas ao redor do mundo. Além de causarem prejuízos irreparáveis à imagem de empresas e pessoas, o fenômeno tem a capacidade de se propagar rapidamente, principalmente nas redes sociais. Isso está diretamente ligado ao número de pessoas que acreditam em notícias falsas e as compartilham. Uma pesquisa realizada pela “Global Advisor: Fake News, Filter Bubbles, Post-Truth and Trust”, do Instituto Ipsos, em 2018, aponta que dentre 27 países, o Brasil é o país com o maior número de pessoas que já acreditaram em uma notícia que, na verdade, era um boato, totalizando 62%. Tudo graças à rápida propagação das notícias nas redes sociais e à falta de checagem das pessoas ao compartilharem determinadas informações. Mas o que torna as pessoas tão vulneráveis ao conteúdo enganoso? Uma pesquisa apresentada na convenção anual da Associação Americana de Psicologia explica os mecanismos por trás das tão apelativas notícias falsas. Os pesquisadores apontaram o chamado “viés de confirmação” como a principal razão para que as pessoas acreditem em dados incorretos. O termo refere-se à tendência das pessoas em aceitarem informações que confirmem suas crenças pré-existentes e ignorarem as informações que as desafiam. Yurij Castelfranchi, professor associado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas

gerais (UFMG), e mestre em comunicação da ciência, revela algumas dicas primordiais para o leitor que não quer ser vítima de falsidades. A primeira, segundo ele, é reparar que nem toda desinformação é fake news. O problema não são apenas as manchetes sensacionalistas, falsas ou distorcidas, mas as falsas questões. Muitas vezes, pessoas com interesses econômicos e políticos colocam dúvidas na opinião pública levantando falsas controvérsias, falsas questões sobre fatos que não deveriam ser colocados no território da dúvida. A segunda dica é não checar apenas as notícias que você não gosta e já suspeitar que sejam falsas, mas desconfiar principalmente das notícias que você acredita e concorda. Se saiu uma notícia que confirma e fortalece um pensamento seu contra um político, um partido, um movimento social ou algo assim, é dessa notícia que você tem que desconfiar, são nelas que geralmente caímos em fake news. “O maior fator de engano das pessoas não é a falta de acesso à informação, isso não falta, o maior fator é o ódio e a polarização. As pessoas acreditam em fake news porque querem acreditar”, aponta Yurij. As fake news ficaram ainda mais conhecidas após escândalos envolvendo o uso de robôs propagadores de notícias falsas em redes sociais durante a campanha presidencial dos Estados Unidos, em 2016. O assunto virou pauta e a prática se intensificou. De acordo com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcan-

FOTO: rita lima

Notícias falsas na internet podem parecer sem solução, mas a inteligência artificial têm contribuído para o combate à desinformação

Empresas de tecnologia, como Google, têm realizado ações de combate às fake news

çam muito mais gente. O estudo é o maior já realizado sobre disseminação de notícias falsas na internet. Ainda segundo a pesquisa, as informações falsas ganham espaço na internet de forma mais rápida, mais profunda e com maior abrangência que as verdadeiras.

A resposta para tanta desinformação é multifatorial. Jéssica Soyer, estudante de engenharia química, afirma estar sempre acompanhando o cenário político. Para driblar as fake news, Jéssica utiliza algumas maneiras para descobrir se uma notícia é falsa ou não. Segundo a estudante, utilizar o Twitter para se informar e seguir perfis com credibilidade, como a Folha de S. Paulo, o Estadão e O Tempo e o de alguns jornalistas, é uma de suas principais táticas. Além disso, ela destaca que sempre confere

como esses veículos divulgaram as notícias e tenta não fazer um juízo de valor, principalmente se tratando de política e temas polêmicos. “Se existe uma fonte oficial para checar a informação, sempre procuro ver a nota emitida por essa fonte, a fim de comparar mesmo os fatos. Além de nunca aceitar cegamente o que está escrito e esperar o maior número de informações possíveis para fazer um juízo de valor. O meu filtro principal será sempre essa incredulidade”, aponta Jéssica.

Checagem Diante disso, surge o seguinte questionamento: como combater as fake news? Uma das respostas são as plataformas dedicadas exclusivamente à checagem de fatos, criadas para que todos saibam se uma notícia compartilhada na web é falsa. A prática é conhecida pelo termo em inglês fact-checking, e verifica

a confiabilidade das fontes, além de descobrir se as informações que circulam no Facebook, Instagram e WhatsApp são verdadeiras ou se trazem algum tipo de distorção do real. A Agência Lupa é um bom exemplo de agência de checagem, sendo a primeira especializada em factchecking do país. No site, é possível ver as checagens produzidas pela agência, classificadas em nove categorias: ‘verdadeiro’; ‘verdadeiro, mas’; ‘ainda é cedo para dizer’; ‘exagerado’; ‘contraditório’; ‘subestimado’; ‘insustentável’; ‘falso’; e ‘de olho’. A equipe da Lupa adota três critérios de relevância para a análise: (1) afirmações feitas por personalidades de destaque nacional; (2) assuntos de interesse público; e/ou (3) que tenham ganhado destaque na imprensa ou na internet recentemente. A metodologia utilizada é própria, desenvolvida

com base em processos de sucesso implantados por outras plataformas de fact-checking como a argentina Chequeado e a americana Politifact. Segundo Gilberto Scofield, diretor de estratégias e negócios da Lupa, a rotina obedece dois parâmetros. Um deles é a checagem de eventos jornalísticos para a venda de conteúdo a mídias. Por exemplo, um pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro ou uma sabatina do ministro Paulo Guedes sobre a previdência. Outra frente é a checagem de posts em que há suspeita de serem falsos nas redes sociais. “Nossa missão é checar se o que está sendo dito tem sustentação em bases de dados verificáveis e, como consequência, saber se o que está sendo dito é verdadeiro ou falso. O Facebook é o nosso maior cliente. Cada vez que alguém denuncia um post, seja texto ou imagem, o Facebook


DOSSIÊ tec net adotaram medidas e estratégias para educar seus consumidores e até banir sites e usuários acusados da divulgação de fake news. No início de 2017, após a campanha presidencial americana, o Facebook anunciou uma nova estratégia para combater a propagação de fake news na rede social. Os usuários poderiam marcar uma notícia como sendo falsa e, em seguida, as agências de checagem parceiras confirmariam a veracidade das informações. Caso a notícia fosse confirmada como falsa, ela não poderia ser impulsionada no sistema de anúncios do Facebook e iria aparecer em posições mais baixas no feed dos usuários. Além disso, o Facebook acrescentou no topo do feed, temporariamente, dicas para identificar notícias falsas.

Inteligencia Artificial Quando falamos de inovação tecnológica, não podemos deixar de citar a importância e a utilização da inte-

ligência artificial (IA) nas plataformas de checagem. Hoje, graças a esse aparato tecnológico, é possível construir mecanismos e sistemas que simulem a capacidade do ser humano de pensar e resolver problemas. Com essas tecnologias, os computadores podem ser treinados para cumprir tarefas específicas ao processar e reconhecer padrões em grandes quantidades de dados.

“O maior fator de engano das pessoas não é a falta de acesso à informação, isso não falta, o maior fator é o ódio e a polarização. As pessoas acreditam em fake news porque querem acreditar. Assim como em quase todas as áreas, no jornalismo, o uso de IA só cresce e, com diversas frentes diferentes, vem dando forma ao que chamamos de jornalismo automatizado. Em várias partes do mundo essa modalidade nos

mostra que o futuro já chegou. No Brasil, há iniciativas e avanços consideráveis na área de IA. Um desses é o projeto Fátima, fruto de uma parceria da agência Aos Fatos com o Facebook. Logo antes das eleições de 2018, as empresas se juntaram para a primeira etapa do projeto de desenvolvimento de inteligência artificial na área de checagem de fatos. Fátima é um robô para Messenger, que orienta as pessoas sobre como trafegar no universo de informações na internet. E se você ficou curioso com o nome, Fátima vem de “FactMa”, uma abreviação de “FactMachine”. Na agência Lupa, Gilberto fala sobre um bot similar à Fátima, mas também disse que há novos projetos vindo por aí. “Por ora, só usamos IA no Lipe, que é o bot da nossa página no Facebook. Estamos preparando um projeto de bot para o portal que terá várias possibilidades de checagem automática, mas ainda não

FOTO: rita luiza

envia este post para a gente checar”, exclarece Gilberto Scofield. Que as empresas de checagem vieram para combater as notícias falsas, não há dúvidas, porém, será que é o suficiente para acabar com as fake news? Gilberto diz que é impossível. “Há cerca de 50 pessoas na checagem de dados em todo o Brasil. É impossível que esta gente dê cabo de um tsunami de notícias falsas produzidas por um país de mais de 200 milhões de pessoas. A saída é educação. É a formação de um exército de checadores e isso é tão verdade que o braço da Lupa que mais cresce hoje é o LupaEducação, que faz treinamento e oficinas de checagem pelo Brasil, Portugal e Espanha”, destaca o diretor. Vale a pena destacar algumas iniciativas realizadas em empresas de tecnologia, como Google e Facebook, para o combate às fake news. Para enfrentar este problema, as grandes corporações da inter-

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O termo fake news significa notícias falsas e tornou-se mais conhecido após a campanha presidencial norte-americana, em 2016

podemos falar a respeito”, mantém mistério o diretor da Lupa. Em Belo Horizonte, outro projeto é o serviço contra fake news e bots da UFMG: o Eleições Sem Fake. A iniciativafoi lançada pelo Departamento de Ciência da Computação (DCC) da universidade, com o objetivo de detectar fake news e comportamentos maliciosos em redes sociais no Brasil, inicialmente pensado para as eleições de 2018. O site contempla uma série de sistemas muito úteis, principalmente para jornalistas, analistas de dados e cientistas políticos que precisem acessar dados de audiência e monitorar comportamentos suspeitos no Twitter e, tambem, no Facebook. Fora do território brasileiro, a Reuters é outra agência que tem conduzido projetos na área de IA. A agência britânica, a maior agência de notícias do mundo, está conduzindo uma espécie de “redação cibernética”, como o

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próprio diretor executivo Reg Chua descreveu. A ideia toda baseia-se na proposta de uma força combinada de seres humanos e máquinas para trazer o melhor das duas partes. Segundo Chua, em uma entrevista ao portal britânico Journalism, os seres humanos são capazes de dar instruções para máquinas, contextualizar histórias, além de terem a capacidade de lidar com um mundo sem dados. “Quando reunimos essas questões, a verdadeira pergunta que precisamos fazer é como os humanos e as máquinas podem combinar melhor suas forças? Esta é a gênese da redação cibernética”, provoca Chua. Em contrapartida, Yurij mostra um relatório da União Europeia com recomendações e práticas concretas para o combate às famosas fake news. O relatório chegou à conclusão de que a resposta para tanta desinformação é multifatorial. De acordo com o relatório, há pelo menos quatro frentes paralelas que devem ser consideradas: a primeira são as ferramentas tecnológicas para alertar sobre desinformação online, que no Brasil tem sido desenvolvida, por exemplo, no campo da IA. A segunda vertente é a de regulamentação. No Brasil, algumas propostas apareceram, mas com pouca sensatez, já que eram mais focadas em castigar quem circula e produz fake news. O terceiro aspecto é a pesquisa e o quarto, e último, é a educação. No fim das contas, fica evidente que a resolução do problema das fake news não é nem um pouco simples. Diante de tal complexidade, cabe à comunicadores e, é claro, leitores, agir conjuntamente, ainda que a passos muitos curtos, disseminando boas informações e fugindo da dinâmica de ódio que rege o mundo dos acontecimentos nas redes sociais.


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Quem programa a inteligência artificial? Luiz Felipe Miranda Priscila Gomes

foto: reprodução

As empresas buscam, cada vez mais, aperfeiçoar o funcionamento das atividades pelos meios tecnológicos. O objetivo é aumentar a dinamicidade e possibilitar que um serviço possa ser realizado em menos tempo e por menos pessoas, ou seja, mais resultado com menor custo. Nas startups e empresas de tecnologia, por exemplo, são notórias as tentativas de automatizar funções e ainda assim, manter a excelência do serviço prestado. Houve uma época em que se falava em substituição completa do homem pela máquina, hoje, essa linha de raciocínio está mais fraca. Campanhas de integração do cidadão com os computadores e aparelhos digitais abrangem a ideia de aprendizado e atualização para a sociedade. Especialistas no assunto afirmam que o espaço profissional não deixará de existir, porém, a qualificação do

profissional deverá ser constante. “Ninguém, na época do Napoleão, poderia imaginar que haveria aviões e microprocessadores. A tecnologia vai criar oportunidades extraordinárias para as gerações que virão”, destaca com empolgação o palestrante francês Laurent Alexandre, autor do livro A Guerra das Inteligências. A inteligência artificial está mais presente nas empresas, o que evidencia o contato da máquina, no caso robôs, com os consumidores. Afinal, a inteligência artificial nasceu com o propósito de compreender a capacidade humana e tomar decisões inteligentes. O CEO da SAS, Jim Goodnight, por meio do site da empresa, destaca o papel da IA nas empresas. “Hoje, nós ajudamos clientes em todas as indústrias a capitalizarem sobre os avanços em AI, e nós continuaremos a embutir tecnologias de AI como machine learning e deep learning em todo o portfólio de soluções SAS”, afirma Jim. As startups tiveram

Ozires, robô criado por alunos do Centro Universitario de Belo Horizonte - UniBH

um aumento significativo nos últimos anos. Renato Mayer, fundador da 121 Labs, buscou uma nova maneira de aprimorar a experiência do consumidor por meio da tecnologia. A 121 Labs conta com um laboratório de inovação digital para identificar oportunidades de crescimento aos clientes. Um dos maiores problemas enfrentados pelas organizações é a insatisfação do cliente com o atendimento à distância. A 121 Labs utiliza robôs de inteligência artificial na comunicação por meio de e-mail, SMS e conversas telefônicas. “A ideia surgiu na busca por inovação nas áreas de pesquisas de satisfação e de mercado, que são muito caras e pouco democráticas. Em um mercado em que a experiência do consumidor está cada vez mais importante, é necessário estudá-la e medi-la”, comenta Renato. Para garantir que os clientes estejam realmente satisfeitos com o atendimento personalizado, a 121 Labs

foto: vitória ohana

Apesar do cidadão ter medo de ser substituído pelas tecnologias, há geração de empregos pela necessidade de lidar com as mesmas

Usuários de bancos digitais são atendidos por robôs nos meios digitais

realizou uma série de pesquisas com base na experiência de cada um deles. “Em novembro de 2018, alcançamos mais de 1 milhão de pessoas entrevistadas, estamos com um sucesso muito grande nos clientes que atuamos e que sempre continuam conosco aumentando os projetos”, comemora. A empresa de Renato já atua na prestação de serviço para empresas como Drogaria Araújo, Arcelor Mittal, Hermes Pardini e Sistema Unimed. Para ele, a ideia é utilizar a inovação e a tecnologia para que os clientes criem uma experiência excepcional para os consumidores e equipe. “Vamos ser reconhecidos como a maior referência em CXM no Brasil até 2025”, finaliza. Bruno Mascarenhas, 21, analista de TI do

banco Inter, participou do projeto da Babi, bot de atendimento de um dos bancos digitais referência no cenário nacional. Ele fala sobre a implementação da inteligência no banco. “A Babi é o nosso bot de atendimento, ela é utilizada em tempo integral desde dezembro de 2018. É vigiada o tempo inteiro por uma equipe treinada especificamente para entender o comportamento do cliente e todos os produtos ofertados”, revela. Bruno conta tambem, que a Babi ficou pelo menos 3 meses sendo desenvolvida pela equipe TI do banco em colaboração com a equipe de Customer Experience. “Inicialmente, ela foi projetada para conter a quantidade de atendimentos que não conseguíamos reter. Hoje, a Babi desenvolve a fun-

ção de reter, direcionar e solucionar os atendimentos”, esclarece. O analista de TI conta com muito entusiasmo sobre a evolução do robô que, hoje, cumpre uma função essencial dentro da instituição bancária. “Todos os atendimentos têm a tendência de iniciar pela Babi, somente o que ela não é capaz de reter é direcionado para o atendente, humano. Basicamente, alguns atendimentos que precisam de confirmações que não podem ser feitas por um chatbot”, explica Bruno. “Ela, realmente, foi vantajosa para a equipe, desenvolveu muito melhor do que o esperado a parte de retenção e direcionamento dos atendimentos. Hoje, a equipe treinada pode acompanhar alguns atendimentos em tem-


po real e, se necessário, intervir. Mas, eles ficam focados apenas em desenvolver respostas mais humanizadas para o sistema. No fim, foram feitos inúmeros elogios sobre sua utilização pelos clientes atendidos”, finaliza o desenvolvedor. Em contrapartida do sucesso da utilização da Babi, um outro robô é utilizado numa outra instituição financeira, a Bia, máquina responsável pelo atendimento ao cliente. A Bia foi criada por meio da AI e fez com que o Bradesco batesse a marca de mais de 85 milhões de interações com clientes desde a implementação do sistema, em 2016. A história da Bia se confunde com a de IBM Watson no Brasil. Em 2016, o Bradesco foi a primeira empresa no país a treinar o sistema no idioma português para que pudesse interagir, em linguagem natural, com os funcionários do banco e ajudá -los em suas atividades diárias. A partir dos feedbacks dos treinadores

do sistema, o Watson foi ficando mais inteligente e o projeto foi para uma segunda fase: atendimento aos clientes. Hoje, eles podem tirar dúvidas e realizar serviços com ajuda da inteligência artificial. Em entrevista dada ao site Decision Report, o diretor executivo do banco, Luca Cavalcanti, contou sobre a implementação da Bia e o amadurecimento da sua utilização dentro da empresa. “Ajudamos o Watson a falar português e a aprimorar as respostas com feedbacks diários. Essas avaliações positivas e o crescente engajamento demonstram que estamos no caminho certo e a IBM foi a parceira ideal. Agora queremos manter e aumentar a relevância da Bia na vida das pessoas”, revela. Para Luca, o maior desafio era disponibilizar uma solução que falasse português, entendesse a cultura do país, o sotaque e a construção das perguntas. Responsável pelo atendimento à clientes pessoa física de uma

das agências do Bradesco, Matheus Alexandre fala sobre a experiência do público com a inteligência artificial. “Por se tratar de uma agência em um bairro mais humilde, os clientes não são muito voltados à tecnologia, portanto, a demanda era muito alta em relação à utilização. Alguns vieram até a agência reclamar que não estava funcionando. Com algumas instruções, hoje a Bia é extremamente benéfica para o andamento de atendimento do banco, os chamados de problemas com as contas corrente e poupança diminuíram. Os clientes do banco conseguem tratar sozinhos dos pequenos problemas que acontecem”, finaliza o colaborador da instituição.

E os empregos? É importante entender que a inteligência artificial não veio para findar os diversos empregos. Pelo contrário, essa tecnologia precisa do ser humano. Assim como as pessoas adquirem experiências para

se tornarem cada vez mais inteligentes, os robôs também têm uma maneira de alimentar essas memórias: por meio dos dados. A capacidade de interpretar os dados externos, aprender com eles e tomar as decisões corretas para atingir um objetivo específico é o diferencial competitivo da AI. Isso porque, mesmo se portando como humano, essa tecnologia possui um software como base, que consegue captar milhares de informações. Porém, é necessário um alto investimento para que isso aconteça. A IBM (International Business Machines) investiu mais um 1 bilhão de dólares no desenvolvimento de uma unidade de estudo e criação de um supercomputador. Apesar do alto valor de investimento, o estudo realizado pelo Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações (LAMFO), da Universidade de Brasília (UNB), aponta que 54% dos empregos no

país serão substituídos pelos robôs até o ano de 2026. Ou seja, mais da metade dos trabalhos que existem hoje serão tomados pelas máquinas e tecnologias. Essa porcentagem significa que cerca de 30 milhões dos empregos formais e aproximadamente 2.600 profissões no Brasil, serão ocupadas por maquinas. O impacto desses dados pode gerar um certo desconforto ou medo. Afinal, as máquinas podem substituir a maioria dos empregos formais. Porém, há previsões de que outros trabalhos possam vir a existir no futuro. De acordo com o World Economic Forum (WEF) - Fórum Econômico Mundial, até o ano de 2022, no mundo, serão mais de 75 milhões de empregos dominados pelos robôs. Mas, em contrapartida, mais de 133 milhões de novas vagas serão criadas a partir dessas novas tecnologias. Ainda neste estudo, os dados apontam que 52% dos trabalhos formais sofrerão com a

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chegada dos robôs até 2025. Mas, atualmente (2019), 29% dos empregos mundiais já foram atingidos por essa “nova era”. Porém, há também quem creia que a utilização de robôs em excesso faz mal. Foi dessa maneira que Elon Musk, CEO da Tesla, entendeu que as habilidades artificiais podem ser valiosas, mas quando utilizadas em excesso, prejudicam o desempenho do equipamento. Após uma entrevista dada a CBS News, Tim Higgins, jornalista do The Wall Street Journal, reafirmou em seu Twitter que Musk concordava que a Tesla utilizou muitos robôs para fazer o Modelo 3 (um modelo de carro da marca) e que precisava de mais trabalhadores humanos. Logo depois, o próprio CEO da Tesla respondeu a afirmação dizendo que sim. “A automação excessiva na Tesla foi um erro. Para ser mais preciso, meu erro. Os seres humanos são subestimados”, reconheceu Musk. arte: Cintya Juliana

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Digital influencer: o poder dos likes e das visualizações Quem são os novos profissionais das mídias sociais digitais e os desafios que encontram para serem éticos e responsáveis?

fotos: ney felipe

“Oi meninas e meninos, tudo bom?”. Quem faz parte do ambiente das redes sociais digitais e tem perfil no Instagram ou YouTube, por exemplo, conhece esse jargão. Essa é a maneira pela qual muitos dos digital influencers começam um diálogo com seu público por meio das postagens. O termo, em tradução para o português, significa “influenciadores digitais”, e tem sido usado para identificar usuários que conseguem mobilizar grande número de seguidores, pautando opiniões e comportamentos ou criando conteúdos exclusivos, capazes de gerar muita interação. Os influenciadores costumam compartilhar seus estilos de vida, experiências, gostos e expor seu dia a dia, e é isso que gera interesse e, consequentemente, visibilidade. Tornando-se mais do que um criador de conteúdo, o influenciador se transforma em um ator midiático poderoso, capaz de provocar transformações comportamentais e de pensamento, tanto na internet quanto na vida

real de seus seguidores. Geralmente presentes nas redes sociais mais populares e com maior quantidade de usuários, essas personalidades produzem conteúdos variados, estrategicamente elaborados para seu público-alvo e publicados de formas diferentes em cada uma das plataformas. Alguns dos influenciadores digitais começaram do zero e conseguiram se consolidarar como profissionais reconhecidos depois de anos de trabalho diário. Eles acumularam seguidores pouco a pouco, a cada dia, e elaboraram maneiras de se tornar cada vez mais conhecidos no ambiente digital. Outros, por sua vez, viram sua realidade nas redes sociais mudar drasticamente após um fato inesperado, que foi determinante para mudar toda uma vida, como é o caso de Luiza Fiorese.

Atraindo links Nascida em Venda Nova do Imigrante, Luiza, 21, descobriu um câncer na perna aos 15 anos e começou a postar nas redes sociais sobre o seu estado de saúde com o intuito de comunicar seus amigos e familiares e buscar, também, o suporte des-

sas pessoas próximas. O que ela não sabia, no entanto, é que sua história alcançaria mais de 17 mil pessoas – seu número atual de seguidores no Instagram. “No princípio, postei nas redes sociais apenas para avisar meus amigos e pedir um apoio, mas esse post tomou proporções muito grandes. Já ali, várias pessoas da minha cidade começaram a me seguir para saber notícias”, conta.

Atleta de Vôlei Sentada e apaixonada por esportes em geral, Luiza se viu obrigada a deixar as quadras para focar em um tratamento intensivo. Porém, procurava sempre manter o otimismo em seu perfil na rede. “Nesse primeiro momento, minha ideia era, simplesmente, incentivar as pessoas que passavam pelo mesmo problema, então, buscava sempre compartilhar coisas boas do tratamento, para não deixar ninguém desistir”, relembra. Como consequência desse compartilhamento, o engajamento no perfil de Luiza foi aumentando cada vez mais. Pessoas que estavam em situação parecida passaram a acompanhá

fotos: Acervo do Instagram da Luisa

Aléxia Corradi Maria Vitória Mazão

Luiza, aos 15 anos, descobriu um câncer na perna e começou a compartilhar nas redes a experiência do tratamento

-la nas redes sociais e buscavam, de certa forma, um conforto nas palavras da menina. Mas, nem tudo foi facil. Luiza confessa que havia muitos momentos ruins, em que ela passava muito mal e até mesmo pensava em desistir. Mas, admite que não compartilhava aquilo com seus seguidores, justamente por não querer ser um gatilho negativo para as outras pessoas. “Hoje, mais madura, eu percebo que as pessoas precisam ver também a vida imperfeita. A vida de verdade. Porque elas se frustram quando veem a vida do outro indo tudo bem e não conseguindo levar pra sua própria vida esse mantra”, desabafa. Opinião que conta Devido à crescente popularidade e ao poder de persuasão dos in-

fluenciadores digitais, muitas marcas têm usado tais personalidades para criar ações de marketing, que geram às organizações resultados cada vez maiores. Além disso, para as empresas, é interessante ter a figura do influenciador atrelado aos seus produtos, devido ao fato de poderem obter um feedback instantâneo dos consumidores, que, por meio do ambiente virtual, expressam seus anseios e necessidades. Nesse contexto, surgem os “recebidos” ou “mimos”, conhecidos pelo público como os produtos que chegam à casa dos digital influencers para serem testados, experimentados e, muito provavelmente, divulgados em suas redes sociais. Normalmente, as blogueiras e instagrammers - influen-

ciadores que cresceram no Instagram e contam com um público fiel e importante para as empresas - agradecem pelos presentes e contam como foi a experiência, em grande parte das vezes positiva, com os produtos recebidos. Tal ação gera visibilidade para as marcas, além de construir uma relação de troca entre o influenciador e a empresa. Sander Henrique, 22, estudante de sistemas de informação na UFOP e seguidor fiel dos digital influencers, conta que o conteúdo postado por eles o atrai tanto visualmente quanto pelo produto que está sendo divulgado. “O conteúdo de alguma forma supre minhas necessidades como seguidor. Por exemplo, moda: algumas peças que o influenciador pos-


DOSSIÊ tec

Alguns dos influenciadores digitais começaram do zero e se consolidaram como profissionais reconhecidos

Dias ruins De acordo com um estudo feito pelo Royal Society For Public Health, instituto de saúde pública do Reino Unido, o Instagram é a rede social que tem o pior impacto na vida dos jovens que tem entre 14 e 24 anos. Por meio de uma entrevista com 1.479 pessoas,

fotos: acervo do instagram da AMANDA

Mas, e quando o produto recebido não agrada o influencer? Como ser transparente sem ofender a marca e sem fingir uma satisfação? Para Natasha Pugliesi, 21, modelo e digital influencer do Rio de Janeiro, a primeira premissa é que você tem que se identificar com a marca.

“Se você se identificar, o seu público vai se identificar. Se você fizer uma campanha de publicidade em que você não se interessa pelo produto, a chance do seu público se interessar é muito menor”, explica a modelo. Além disso, ela conta que já houve situações em que ela não gostou de um item recebido, mas que não deixou de divulgar. “Mostrei a roupa, divulguei e falei que aquele não era meu estilo de roupa, mas que com certeza agradaria alguém que se identificasse”, relembra. “Eu acho que tem que ter um respeito com a marca que está te contratando, mas, acima de tudo, com os seguidores”, conclui Natasha.

Amanda Salomão, professora de inglês, usuária assídua do Instagram

foi revelado que o Instagram é a rede social com mais avaliações negativas relacionadas à autoimagem. Além de ter um grande impacto negativo no sono e aumentar o medo de ficar por fora de tendências e acontecimentos. Os digital influencers têm papel fundamental quando se trata dessa qualificação do Instagram. Geralmente, essas pessoas costumam postar somente aspectos positivos do seu cotidiano, incluindo fotos de seus corpos sarados, novas aquisições, milhares de produtos recebidos por marcas renomadas e eventos de gala que são convidados a participar. Esse conteúdo atrai inúmeras visualizações, curtidas e um engajamento muito alto.Para a audiência, isso pode gerar um senso de comparação exagerado e frustração instantânea, uma vez que a vida dos seguidores pode ser muito diferente da realidade das personalidades. Assim como vários usuários das redes sociais, Amanda Salomão também

15 fotos: vitória ohana

ta, eu vejo e já fico querendo usar”, ele diz. É o mesmo caso de Amanda Salomão, 20, professora de inglês e usuária assídua do Instagram. Para ela, acompanhar os influenciadores é uma maneira de estar por dentro das tendências e ter maior referência na hora da compra. “Por eles [influencers], consigo achar mais facilmente produtos que eu estou querendo comprar, com as melhores indicações e resenhas, as quais irão me permitir ver se aquilo me serve ou não”, afirma ela.

Julho de 2019 Jornal Impressão

Usuários e influenciadores abusam das selfies nas redes sociais

lida com a desilusão por não ter uma vida igual à dos influencers. No entanto, ela reconhece também que há pontos negativos nessa relação. “Todo mundo quer isso porque se ganha muito, trabalha com grandes marcas, e eu queria ter esse estilo de vida. Por outro lado, essas pessoas ficam escravas da tecnologia e isso é ruim. Eu, por exemplo, não preciso dela o dia inteiro para trabalhar, mas elas [influenciadores] sim”, aponta Amanda. A psicóloga Maria José, 56, reitera que a idealização consiste em uma das defesas psíquicas mais precárias do ser humano e essa também é uma verdade presente nas redes sociais. “Através das redes sociais, foram criados falsos padrões de felicidade que, infelizmente, influenciam sim quem se encontra frágil emocionalmente”, afirma a

profissional. Ainda de acordo com Maria José, quadros de baixa autoestima podem ser potencializados com o acompanhamento dos influenciadores digitais sem que haja um olhar crítico do telespectador. “Muitos pacientes, independente mesmo da faixa etária, “agravam” sua angústia ao se compararem àquilo criado e postado para satisfazer ao próprio ego de quem postou”, conclui. Pensando nisso e visando trazer mais realidade ao seu perfil, hoje, Luiza faz postagens, também, sobre seus dias difíceis. Sem medo de ser real e com a intenção de fazer com que as pessoas vejam que é normal não estar bem todos os dias, ela fala sobre suas angústias, sobre as falhas do tratamento e dificuldades com a prótese que carrega na perna. “Mostro que, em uma

vida de hospital, você tem ganhos diários, mas também tem dias em que piora. Me sinto muito mais feliz hoje. Continuo recebendo as mesmas mensagens de incentivo, que são boas tanto para mim quanto para os outros”, completa a atleta. Natasha afirma ter consciência do impacto que tem na vida de seus seguidores, e que sempre presta muita atenção nas coisas que publica, justamente para as pessoas não terem uma ideia errada da mensagem que ela quer passar. “Tem mais ou menos um ano que eu ando pensando muito nessa questão e procuro enfatizar muito a autoestima, o empoderamento pessoal e a autoconfiança”, reflete. Natasha ressalta que o seu interesse é fazer com que o público se sinta bem consumindo seu conteúdo.


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Julho de 2019 Jornal Impressão

Jornal Daqui (Buritis e Região)

IDOSOS X JOVENS NO BURITIS Pesquisa revela que o contraste entre idosos e jovens tende a ficar cada vez mais evidente no bairro Fernanda Cris Gomes, Victor Mendonça Vitória Ohana

foto: fernanda cris gomes

O Buritis é um dos bairros jovens de Belo Horizonte. Ele nasceu de uma fazenda e foi construído por jovens de média idade que queriam constituir família e ter filhos. Após o estabelecimento do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), muitos jovens foram atraídos pelo rápido crescimento do lugar e pela oportunidade de morarem tão próximos ao centro de ensino. Portanto, desde a sua fundação, o Buritis busca se adaptar para receber e atender dois públicos com necessidades tão distintas. Uma projeção divulgada pela Fundação João Pinheiro, sobre a idade dos moradores de Minas Gerais, por município, mostra que a faixa etária das pessoas que vivem no bairro Buritis tende a ficar cada vez mais alta. Em 2040, a população do bairro deve ser compos-

Moradora do bairro Buritis

ta principalmente por indivíduos entre 30 e 44 anos e por aqueles que possuem mais de 60 anos de idade. Para Andreia dos Santos, professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas, a presença de gerações tão distantes no mesmo bairro acontece em quase todas as regiões universitárias de Belo Horizonte, como as regiões da UFMG e da própria PUC Minas. Uma das situações envolvendo os moradores mais velhos e jovens do bairro aconteceu em 2017, quando as festas chamadas “calouradas” foram alvo de reclamações constantes na Rua Vitório Magnavacca, acusadas de prejudicarem o trânsito e o sossego dos moradores. Apesar dos transtornos, alguns moradores, tanto mais velhos quanto mais jovens, afirmam que a região do Buritis ainda é um dos lugares mais completos e com maior qualidade para se morar. Dione Moreira, fun-

cionária pública aposentada e moradora do bairro há quase 30 anos, afirma não sentir necessidade de sair do Buritis para a maioria das atividades: “Aqui tem de tudo, principalmente onde eu moro, tem muito barzinho. Minhas amizades são todas daqui, então, eu nem saio do Buritis para ir para lugar nenhum”, avalia. Questionada sobre a presença das universidades, ela afirma não se sentir incomodada pelo constante fluxo de pessoas no local.

A faixa etária das pessoas que vivem no Buritis tende a ficar cada vez mais alta. Apesar de conviverem com a presença de centros de ensino há muito tempo, alguns moradores mais antigos consideram que, nos últimos anos, o fluxo de pessoas na região tem causado transtornos muito difíceis de serem superados. Rosana Siconha, umas das primeiras

moradoras do Conjunto Estrela Dalva, um dos primeiros loteamentos criados na região, confessa que o barulho e a quantidade de moradores no bairro despertam nela a vontade de mudar de endereço. Cidade interiorana O jovem Thiago Farias, recém-formado no curso de engenharia química do Centro Universitário Newton Paiva do Buritis e morador da região, afirma que o seu desejo é adquirir um imóvel no bairro e permanecer por muitos outros anos. Para ele, o clima agradável do Buritis, por vezes, se assemelha ao de uma cidade do interior. O mesmo clima de cidade pequena é perceptível para a advogada Fernanda Carvalho, ao afirmar que o mais gosta no bairro é o fato de poder encontrar as mesmas pessoas em diferentes lugares: “Aqui parece uma cidade do interior. A gente encontra as pessoas em todos os lugares, como super-

mercado, shopping ou no UniBH. Todo mundo conhecido, como se estivéssemos em uma cidade pequena”, brinca.

Não há grande diferença entre a quantidade de moradores do sexo feminino e masculino no Buritis. A massoterapeuta Regina Célia, se mudou há 2 anos, de Curitiba para Belo Horizonte, e afirma que um dos aspectos levados em consideração na escolha do Buritis foi a sua semelhança com o seu antigo bairro. Comércios Enquanto isso, os comerciantes percebem o contraste dos públicos e se adaptam a essa realidade. Edsonina Silva, funcionária da loja de decoração Estação Buritis, nota que a diferença das gerações está na preferência dos produtos: “Os clientes da loja estão na faixa etária de 25 anos. Os que estão decorando no momento possuem entre 25 a 50 anos. Esses são os que mais atendemos. O que os diferencia um pouquinho é que as pessoas com mais idade gostam mais de flores”, ressalta. Já Pedro Henrique Pereira, funcionário no depósito Mário Werneck e morador do bairro há mais ou menos 23 anos, confessa não perceber diferença de idade entre os clientes da loja. Mas, afirma que antes era mais comum ter clientes homens, e que atualmente as mulheres são maioria. Ainda segundo a projeção sobre os moradores de Minas Gerais, divulgada pela Fundação João Pinheiro, não há grande diferença entre a quantidade de moradores do sexo feminino e masculino no bairro Buritis.

Trânsito O trânsito do Buritis é um dos principais problemas relatados pelos moradores. Todos os entrevistados apontaram o fluxo de veículos como um dos fatores que menos gostam no bairro. Segundo Fernanda Carvalho, é nos horários de entrada e saída das universidades, quando a situação parece piorar. Em contrapartida, ela avalia que se não fosse pelas universidades, talvez o bairro não recebesse tantos investimentos: “Atrapalha, mas, ao mesmo tempo, o bairro melhorou muito porque as faculdades vieram para cá, senão não teria tanto investimento no bairro. Eu moro aqui há muito tempo, antes do UniBH vir para cá. Então, tem ganhos e tem perdas, tem equilíbrio”, reflete Fernanda Carvalho.

“A gente encontra as pessoas em todos os lugares, como supermercado, shopping ou no UniBH. Todo mundo conhecido, como se estivéssemos em uma cidade pequena” Intergeracoes Andreia dos Santos, professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas (ICS), afirma que os jovens moradores da região acabam por não criarem um vínculo afetivo com o bairro, já que, em sua maioria, estão de passagem. “A experiência intergeracional é sempre importante para os idosos e para os mais jovens em função do processo da vida”, exclarece a professora. A projeção divulgada pela Fundação João Pinheiro, mostra também que a população do bairro tende a crescer consideravelmente nós próximos anos.


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