Edição 212 - Caderno 2

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foto: rItA LuIZA

jornal laboratório do curso de jornalismo do uniBh ano 37 • número 212 • julho de 2019 • Belo horizonte • mg


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Cultura

Julho de 2019 Jornal Impressão

500 anos da morte de um gênio

foto: reprodução

Homenagens marcam a data do falecimento de um dos maiores sábios da humanidade

Última Ceia: pintura sobre parede, feita no refeitório do Convento de Santa Maria Delle Grazie, em Milão, Itália, entre 1494 e 1497

Iago Ferreira Gabriel Portela O mês de maio deste ano marcou os 500 anos da morte de um dos maiores gênios da humanidade e um dos maiores símbolos do Renascimento Italiano. O autodidata Leonardo di Ser Piero da Vinci nasceu no dia 15 de abril de 1452, no vilarejo de Archiano, próximo à Florença, Itália. Ele é filho da camponesa Caterina Lippi e do tabelião Piero da Vinci. Alguns estudos retratam que Leonardo tinha cabelos loiros, olhos azuis, nariz aquilino e era canhoto. Em sua juventude, foi considerado dono de uma beleza física magnífica. Em um desenho feito por Cosmo Colombini, de 1812, uma das poucas imagens guardadas do artista, Leonardo já está com feições mais envelhecidas. O artista tinha o costume de anotar tudo em cadernos, como rascunhos, pensamentos, emoções, planos, refle-

xões, e até mensagens codificadas. No ano de 1466, a família de da Vinci se mudou para Florença. Aos 16 anos, o artista já era aprendiz do pintor e escultor Andrea del Verrocchio. Por meio dessa oportunidade, realizou seu primeiro trabalho na participação da tela “O Batismo de Cristo”, de Verrocchio. Aos 20, fazia parte da Corporação dos Pintores de Florença. No trabalho com Verrocchio, da Vinci aprendeu processos importantes para a sua carreira, como técnicas de fundição, preparação de quadros e esculturas a partir de modelos nus e vestes drapeadas, desenho de animais e plantas, além da base sobre a perspectiva de cores. Outro detalhe que chamou a atenção de todos na época, considerada uma das melhores habilidades do artista, foi a combinação da arte com ciência. Cláudio Duarte, doutor em história pela Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG) e professor de história da arte, afirma que Leonardo da Vinci é um símbolo do renascimento. “Ele escreveu um tratado da arte da pintura, em que defende a valorização da habilidade, não só como um ofício mecânico e humilde, mas que fosse liberal, ou seja, uma arte de uso da mente”, avalia Cláudio. O professor ainda destaca uma famosa frase

de da Vinci, em que o artista diz que “a pintura é uma coisa mental”. Leonardo é considerado um dos artistas mais versáteis da história. Como bom renascentista, ele atuou em diversas áreas: foi pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, matemático, fisiólogo, inventor, anatomista, escritor, poeta, músico, dentre outras profissões. Era uma pessoa muito curiosa, tinha o desejo

de desvendar o mundo. Ele foi um dos primeiros a explorar estudos sobre o corpo humano, ao dissecar cadáveres. Observava tudo ao seu redor, como o voo de pássaros e insetos, as formas, sons e cores da natureza. Tudo isso serviria de base para suas pinturas.

Obras Da Vinci foi um dos primeiros italianos a

usar a técnica de óleo sobre tela e o aperfeiçoamento do sombreamento (sfumato). O artista coleciona cerca de 30 obras. Perfeccionista, da Vinci só entregava os trabalhos quando julgava estar do jeito que ele queria. Esse ideal de perfeição fazia com que as peças levassem anos para serem pintadas. Ainda assim, algumas não foram terminadas, tais

As obras de da Vinci pelo Mundo:

Museu do Louvre, Paris (França): Monalisa; São João Batista, A Virgem dos Rochedos, La Belle Ferroniere, Retrato de Isabella D’Este, A Virgem e Menino com Santa Ana Galleria degli Uffizi, Florença (Itália): A Anunciação, O Batismo de Cristo e Adoração dos Magos Biblioteca Ambrosiana, Milão (Itália): Retrato de um Músico Igreja Santa Maria delle Grazie, Milão (Itália): A Última Ceia Galleria Nazionale di Parma, Parma (Itália): Cabeça de Mulher National Gallery, Londres (Inglaterra): Virgem dos Rochedos (versão alternativa), A Virgem, o Menino, Sant’Ana e São João Batista National Gallery Of Art, Washington D.C (EUA): Retrato de Ginevra de Benci Museu Do Vaticano, Roma (Itália): São Jerônimo no deserto Hermitage, São Petersburgo (Rússia): Madona Benois, Madona Litta Alte Pinakothek, Munique (Alemnha): A Virgem do Cravo National Museum, Cracóvia (Polônia): Dama com Arminho


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Homenagens A Itália, terra natal do artista, é palco de uma série de exposições. Em Roma, por exemplo, o evento “A Ciência Antes da Ciência” é dedicado à produção científica de da Vinci, sediado na Scuderie del Quirinale. O acervo reúne mais de 200 peças, incluindo esboços que foram considerados prelúdios do paraquedas, helicóptero e tanque de guerra. Em Veneza, a exposição “O Homem É o Modelo do Mundo”, na Galleria Dell’Accademia, leva ao público 24 desenhos raramente expostos, com destaque para O Homem Vitruviano, emprestado do Museu do Louvre, em Paris. Em Florença, cidade em que Leonardo produziu algumas de suas maiores obras, a “Mostra Verrocchio” exibe peças de Andrea del Verrocchio, junto com as obras de aprendizes do artista, como Pietro Perugino, Domenico Ghirlandaio e próprio Leonardo da Vinci. No Palazzo Vecchio, também em Florença, a mostra “Leonardo a Firenze” expõe trechos do Codex Atlanticus, um documento de mais de mil páginas escrito entre 1478 e 1519, em que da Vinci escreveu anotações sobre matemática, astronomia, biologia, química, entre outros estudos. Uma exposição semelhante é a do Codex Leicester, na Galeria Uffizi. A obra é um compilado de textos, esboços e desenhos datados de 1508 a 1510. O documento, que foi comprado por Bill Gates em 1990 por US$ 30 milhões, apresenta estudos de alguns temas, como o movimento da água, fósseis e a luz da Lua. O Museu Galileu, também de Florença, traz

a mostra “Leonardo da Vinci: Visões - Os Desafios Tecnológicos do Gênio Universal”, que expõe projetos de ferramentas, objetos e instrumentos desenhados pelo artista, como uma carruagem autopropulsionada, um leão mecânico e até planos de como alçar voo. Já em Minas Gerais, a Casa Fiat de Cultura, em parceria com a Fundação Torino e o Consulado da Itália em Belo Horizonte, promoveu palestras no programa “Quartas Italianas” para relembrar a importância e contribuições de Leonardo para a cultura, arte e ciência. Os principais temas abordados foram pintura, arquitetura, projetos e, é claro, ideias de da Vinci. A estudante de Direito, Milena Santos, 21 anos, relembra a experiência de conhecer algumas das obras de da Vinci, no Museu do Louvre, em Paris, na França. “Conheci as obras que estão no Museu do Louvre, há alguns anos, mas eu me lembro de duas que são muito marcantes, que são a Mona Lisa e o quadro La Belle Ferronière, para mim, um dos quadros mais bonitos dele, se não o mais bonito”, reflete a estudante. Para Milena, a experiência foi única e inesquecível, uma viagem de amplo conhecimento e que estará sempre marcada na sua memória. A jovem recorda a sua surpresa ao ver o quadro Mona Lisa. “A primeira obra que eu vi foi a Mona Lisa. A reação que eu tive foi com o tamanho da obra. No museu tem quadros enormes, então, você acaba se acostumando com a grandeza. Quando eu vi a Mona Lisa, eu pensei ‘meu Deus, que quadro minúsculo’, ele é muito pequeno em comparação aos demais”, relembra a estudante.. Milena ainda falou sobre a dificuldade de acesso ao quadro. Por ser uma obra muito famosa, há sempre muitos turistas em busca

de chegar mais perto e levar uma foto de recordação para casa. “Uma coisa curiosa é que o quadro fica em um espaço que tem muitas proteções de vidro em volta. Não é um quadro que você consegue olhar e apreciar, a sala fica muito cheia e tem muita gente querendo chegar perto da corda de proteção para tirar foto”, conta. O professor Délcio Almeida, 52 anos, é designer e mestre em educação. Ele viajou para Florença, Itália, e teve a oportunidade de visitar a Galleria Degli Uffizi, casa de várias obras de artistas importantes da Renascença, tais como Michelangelo, Botticelli e Leonardo da Vinci. “A cidade transpira arte e cultura, é uma sensação muito forte

caminhar por ruas e vielas que foram palco de tantos acontecimentos importantes. É interessante observar que Leonardo produziu poucas pinturas em relação a outros artistas, mas sua técnica é absurdamente poderosa”, ressalta o professor Délcio. Para ele, o que mais impressiona é a magnitude dos pensamentos e criações de Da Vinci, que desde tão novo já constituía excelentes pensamentos aliados à uma estrutura mental a frente do seu tempo. Afinal, aos 20 já demonstrava um domínio técnico excelente, como os detalhes das flores e das asas dos anjos. Da Vinci estudava profundamente a anatomia dos pássaros, os elementos da natureza e conseguia transmitir

com maestria todas essas características para suas obras. Muitos teóricos o consideram um cientista, muito mais do que apenas um artista. Seu interesse pela anatomia, por artefatos mecânicos, dentre outras coisas, estava além da época e até mesmo da sua idade. “Eu fiquei muito impressionado com a técnica de sfumato que ele utilizava. É realmente impressionante! Sem máquinas fotográficas, apenas pelo registro de memorial e de observação da natureza, ele conseguiu imprimir um efeito genial de profundidade na pintura, parece muito real”, completa Délcio com admiração. O professor tem uma visão particular ao visitar espaços predominantemente turísticos.

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Muita gente opta por posar em frente às obras para tirar selfies, sem que haja um envolvimento com o trabalho. Délcio prefere dedicar um tempo em frente à pintura para observar a técnica, os detalhes e para divagar sobre o tempo que o artista pode ter levado para executar a peça, além de quais dificuldades, provavelmente, foram enfrentadas. Ao perguntado sobre Anunciação, Délcio foi enfático ao se expressar. “Tento entrar no universo do artista, no clima da época. O lugar, por si só, é impressionante. A Anunciação é grandiosa em toda sua técnica e é muito impactante ver pessoalmente algo que somente via em catálogos, livros, etc. O efeito é arrebatador”, finaliza. foto: reprodução

como A Adoração dos Magos, São Jerônimo no Deserto e a Batalha de Anghiari. Além de obras inacabadas, Leonardo deixou também centenas de desenhos, esboços e páginas de notas.

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Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, em exposição no Museu do Louvre, em Paris


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100 anos do Brasil campeão FOTOS: REPRODUÇÃO

Brasil celebra o centenário de seu primeiro título no futebol, o Sulamericano de 1919

Esquadrão do Brasil que conquistou o Sulamericano de 1919

Tasso Gomes Valéria dos Reis O Brasil não se tornou o país do futebol assim que o esporte chegou em solo nacional pelos “pés” de Charles Miller. O inglês atravessou o oceano com a bola do jogo, que ainda era de couro, mas o remo era o esporte mais popular por aqui, principalmente no litoral. No Rio de Janeiro, então capital do Brasil, o futebol chegou apenas em 1897, e o primeiro clube de futebol da capital foi o Fluminense, fundado apenas em 1902. O futebol era um esporte da elite branca, mais precisamente, um acontecimento social, em que o público se produzia para prestigiar os jogadores, que também trajavam roupas impecáveis em campo. Negros e brancos pobres não eram bemvindos nos times, já que os clubes não aceitavam ninguém que não pertence-se a elite social.

A popularização do futebol e a transformação em cultura de massa começou há 100 anos, em 1919, também no Rio de Janeiro, quando o Estádio das Laranjeiras foi sede do terceiro campeonato Sulamericano de Seleções, atual Copa América. O torneio, que contava com mais três seleções além do Brasil (Argentina, Chile e Uruguai), foi vencido pelo Brasil. Sendo esse o primeiro título oficial da seleção brasileira masculina de futebol. O torneio estava marcado para acontecer em 1918, um ano antes, mas, foi adiado devido à Gripe Espanhola que assolava o Brasil no final da Primeira Guerra Mundial. A final, realizada para um público maior que 30 mil pessoas, mobilizou o Rio de Janeiro. Funcionários públicos tiveram ponto facultativo e o comércio fechou na hora da peleja. O título conquistado na prorrogação foi come-

morado pela alta sociedade carioca, mas também pelo povo comum nas ruas da então capital brasileira. A competição é a mais antiga entre seleções no mundo, a primeira edição teste foi realizada em 1910. Já a primeira edição oficial aconteceu em julho de 1916, nesse ano, a seleção que conquistou o título foi o Uruguai, em um empate de 0 a 0 contra a Argentina.

A representação do povo dentro de campo foi o principal fator para tornar o futebol a maior cultura de massa do Brasil. Até 1967, a competição era chamada de Campeonato Sulamericano de Seleções, e foi só em 1975, na trigésima edição, que passou a se chamar oficialmente CONMEBOL Copa América. Em 1993, passou a convidar seleções fora da América do Sul, os primeiros convi-

dados foram Estados Unidos e México.

Cultura de massa Depois da conquista, o futebol começou a contagiar jogadores, técnicos e, principalmente, dirigentes e jornalistas. O que deu início a profissionalização do futebol, ratificada quatorze anos depois, em 1933. A representação do povo dentro de campo foi o principal fator para tornar o futebol a maior cultura de massa do Brasil. Mesmo após o início do profissionalismo, os clubes ainda não aceitavam negros e brancos pobres nos jogos. Mas, o esporte já se disseminava pela população brasileira, criando os “campos de pelada” nos subúrbios das principais cidades. O jornalista Mário Filho, que hoje dá nome ao principal estádio de futebol do mundo, o Maracanã, revelou que os dirigentes do Flamengo diziam que “negros eram bem-

vindos em outros esportes, não no futebol”. Outro fator importante para a popularização do futebol foi a proibição da capoeira em 1890, ainda antes da chegada de Charles Miller no Brasil, mas que durou até 1937. Isso fez com que muitas pessoas, depois da conquista da seleção brasileira do Sulamericano de Seleções, procurassem conhecer as regras daquele esporte para começarem a praticá-lo. Os futebolistas eram comparados aos operários das fábricas, já que eram requisitadas algumas características físicas para que eles jogassem. Foi esse um dos principais motivos para que os clubes começassem a aceitar os mais pobres em seus times. A maior quebra de barreira foi feita pelo Vasco, principal rival do Flamengo, em 1933, quando incluiu os negros no time e foi campeão estadual, que era o maior torneio de

clubes disputado. O futebol se firmou como cultura de massa com o tricampeonato mundial conquistado pelo Brasil em 1970. A paixão pelo jogo atingiu os quatro cantos do país, mesmo longe de qualquer mídia nacional. É óbvio que a paixão do torcedor por seus respectivos clubes foi a principal razão para isso, por meio do fascínio cultivado diariamente. Porém, a seleção brasileira ainda move muitos torcedores sempre que disputa uma competição oficial. Para o jornalismo, a conquista também foi importante. Os periódicos nacionais passaram a dar mais espaço para as notícias futebolísticas. Apesar de ter sido classificado como “assunto para preencher lacunas vazias”, o futebol ganhou espaço e tornouse capa dos principais jornais e revistas. Leonardo Baran, jornalista da TV Bandeirantes, vai cobrir a seleção


culturA

Formatos A Copa América não mudou apenas de nome. O antigo Torneio Sulamericano de Seleções mudou de formato inúmeras vezes ao longo dos mais de 100 anos da competição. No início, era disputada anualmente, mas em 1918, foi anunciada uma pausa devido ao surto de Gripe Espanhola. Depois, enfrentou a rivalidade entre Argentina e Uruguai, logo após a Copa do Mundo de 1930, a primeira da história, vencida pelos uruguaios em cima dos rivais argentinos. A competição centenária voltou a ser disputada em 1935, e

FOTOS: FACEBOOK OFICIAL

durante muito tempo foi realizada de maneira extra oficial. O selo de reconhecimento da CONMEBOL só veio anos depois. Nesse período, a Argentina foi tricampeã consecutiva, acontecimento único na história do torneio. Após a edição de 1967, realizada na Bolívia, o torneio entrou em um hiato de oito anos e só retornou em 1975. A partir desta data, o torneio não teria mais um país como sede. Até 1987, foi disputado a cada 4 anos, durante o ano inteiro, nos países participantes, sempre com o país mandante da partida como anfitrião. A partir de 1989, o torneio passou a ser disputado a cada dois anos até 2001, novamente com um país como anfitrião. Em 2004 e 2007 foram realizadas mais duas edições, uma a cada três anos, outro formato que não durou muito tempo. Desde 2007, a Copa América está no formato atual. 12 países se enfrentam a cada quatro anos em um país-sede pré-definido. A exceção foi a edição de 2016,

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Brasil e Argentina duelam pelo Sulamericano de 1919

realizada nos Estados Unidos, como comemoração dos 100 anos do torneio. Essa também foi a única vez em que a competição foi disputada fora do território Sulamericano.

Futebol hoje O futebol, hoje, consegue atingir todas a classe sociais. Pobres e

ricos, capitalistas e comunistas, muçulmanos e judeus, não importa o que você é fora do momento em que você está vestindo uma camisa igual à do outro, torcendo pelos mesmos atletas vencerem uma partida de futebol. Na última Copa do Mundo, realizada em 2018, na Rússia, o Bra-

sil foi o segundo país estrangeiro que mais comprou ingressos para o torneio, atrás apenas dos Estados Unidos (EUA). O país que mais comprou ingressos foi a anfitriã Rússia. Em 2019, exatamente 100 anos após a primeira conquista, o Brasil sedia novamente a

competição continental. Com o cenário completamente diferente, seis cidades receberão jogos da competição neste ano, incluindo a capital Mineira, Belo Horizonte. Nossa seleção está em busca de seu nono título do campeonato, entre Sulamericano de Seleções e CONMEBOL Copa América. Arte: RICARDO THOMÉ

brasileira pela sexta vez em uma Copa América, novamente realizada em solo nacional. Quatro dessas edições foram na América do Sul e a última, em 2016, nos Estados Unidos. “Existe algo comum em todas essas edições em que vivi: o carinho das pessoas com a seleção brasileira. Ela é sempre a mais aguardada nos aeroportos e hotéis”, afirma Leonardo.

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Autismo: um ato de amor no universo das séries Infelizmente, é comum nos depararmos com casos de crises e ataques preconceituosos no universo autista. As histórias acabam sempre em uma situação desagradável, devido a falta de conhecimento sobre o diagnóstico e preparo para lidar com a situação. Contudo, a informação começa a chegar. Hoje, algumas séries que ensinam e nos mostram um pouco da vivência com autistas já estão disponíveis nos serviços de streaming. Um exemplo é Atypical, uma série que retrata a vida de um adolescente chamado Sam, diagnosticado com o espectro de autismo, e que enfrenta várias dificuldades no convívio social. Apesar do humor contido, a obra aponta com seriedade questões da vida pessoal e familiar do jovem. É possível acompanhar o drama que sua família enfrenta ao ter que lidar com os problemas e situações inusitadas. Ao decorrer da história, ele embarca em uma aventura para conseguir uma namorada e alcançar sua independência. Outra história emocionante, porém voltada para um lado mais dramático e misterioso, é a série chamada Touch. A obra relata a história do jornalista Martin Bohm que, após perder a sua esposa, larga tudo para cuidar do seu filho Jake. Mesmo com muitos outros problemas para resolver em sua vida, ele acredita que não é capaz de cuidar de Jake por causa da dificuldade que o filho tem para se comunicar, um dos sintomas do autismo. É uma história e tanto para quem gosta de

Série Atypical

mistério e deseja conhecer as dificuldades enfrentadas por quem é autista e também convive com autistas. Uma criança pode ser diagnosticada com o espectro de autismo desde o nascimento e, a princípio, é preciso fazer acompanhamento com neuropediatra, além do encaminhamento psicológico para acompanhar o processo de desenvolvimento. De acordo com a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), existem três tipos de autismo: síndrome de asperger, transtorno invasivo de desenvolvimento e o transtorno autista. Lucas Géo, psicoterapeuta cognitivocomportamental, diz que uma criança com o TEA (Transtorno do Espectro Autista) necessita de uma estimulação muito precoce para potencializar o seu desenvolvimento futuro. “O acompanhamento terapêutico vai depender da idade e perfil da criança (ou adulto) com TEA, que vai desde a estimulação sensorial, de comunica-

ção, treino de habilidades sociais, até mesmo o entendimento de pensamentos e emoções”, complementa Lucas. O TEA ainda é desconhecido por várias pessoas. Angélica de Oliveira, mãe do Felipe, diagnosticado com o espectro de autismo no nascimento, conta que sentiu muito medo ao descobrir a condição do filho, mas, mesmo assustada com a situação, ela não deixou de recorrer a um médico. “Passei a conhecer e entender melhor o que era o autismo para poder ajudar o meu filho a ter uma vida saudável”, diz Angélica. Para o terapeuta Lucas Géo, a participação dos pais é fundamental no tratamento da criança. O acompanhamento médico tem uma fração muito pequena na vida do paciente e, para conseguir estimulações diferentes, é preciso orientar os familiares e as escolas destas crianças. “Muitas vezes realizamos o chamado Treinamento de Pais com intuito de informar e desenvolver

habilidades para que eles sejam parceiros em uma estimulação eficiente da criança”, explica Lucas. Angélica teve complicações no parto e seu filho também corria o risco de não poder falar e nem andar. “Para mim, foi muito marcante o dia em que eu o vi andar e falar. Demorou um tempo, mas foi mais uma vitória nas nossas vida”, lembra. Felipe já está com 13 anos e, mesmo com muita dificuldade no seu desenvolvimento, sua mãe nunca o deixou. “Todos os dias temos um aprendizado diferente com ele, isso nos encoraja a nunca desistir de nada. A alegria que ele transmite nos contagia”, declara a mãe. Existe um conjunto de técnicas para tornar mais eficaz o tratamento do autista. Muitas pessoas perdem tempo procurando recursos e investindo em tratamentos exóticos e inovadores, mas que não apresentam comprovação de resultados. Lucas recomenda a procura por profissionais especializados, que possam orientar nas decisões. “É importante que os familiares pesquisem bem a importância de tratamentos consagrados e com estudos que comprovem os resultados”, alerta o profissional. O acompanhamento desde o princípio é muito importante para o desenvolvimento da criança até a vida adulta. “Muitas habilidades demorarão muito mais a se desenvolver, além do desenvolvimento de muitos efeitos colaterais por ter tido toda uma vida sem ferramentas adequadas para enfrentar estes sintomas, como depressão e transtornos de ansiedade”, alerta o terapeuta.

O desafio da conquista Victor Mendonça é jornalista, palestrante, escritor e autista. Ele sabe que, para ele, os pais foram insubstituíveis durante o desafio do crescimento. Diante de crises de depressão, ansiedade e até mesmo agressividade, juntos, venceram esse caminho. “Fazia muito esforço para me adequar, para ser uma pessoa bem educada na escola, mas explodia quando chegava em casa”, revelou o jornalista. Para Victor, o apoio dos pais foi muito importante em seu desenvolvimento e, hoje, já comemora várias conquistas. Como escritor, já lançou os livros “Outro Olhar”, com crônicas de sua percepção como autista, e “Danielle, Asperger”, um romance infanto-juvenil sobre uma adolescente autista que sonha em conhecer sua atriz favorita. Além disso, lançou, com sua mãe, também jornalista, escritora, apresentadora e autista, Selma Sueli Silva, o livro “Dez anos

depois”. Uma coletânea de crônicas, contos, poesias e artigos que mostram o olhar deles sobre diversos temas como autismo, arte, política e espiritualidade. Apesar dos desafios, os autistas não são impedidos de viver a vida como uma outra pessoa qualquer. Eles têm sonhos e desejos, e o esforço de cada dia para conquistar o almejado. “Tenho uma preocupação muito forte em contribuir com um trabalho que possa, por meio das diversas áreas da arte e da comunicação, fazer a diferença, de forma positiva, na vida das pessoas”, finaliza Victor. Assim como as séries retratam as dificuldades diárias do autismo, a realidade não está muito diferente. As cenas podem não mostrar todas as dificuldades enfrentadas, mas ensinam bastante sobre a convivência. Não tem ato de amor maior que o cuidado e atenção a um autista, mesmo com dificuldades e conflitos no dia a dia. fotos: arquivo pessoal

Priscila Gomes

fotos: reproducào netflix

Estigmatizado como um transtorno difícil de lidar, o autismo ganha as telas por meio de seriados cinematográficos

Victor Mendonça, jornalista, escritor e palestrante


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a arte no spray

A história de uma mulher no teirritório urbano Belo-horizontina, nascida em 1989, Carolina Jaued é artista urbana na capital mineira há 12 anos. Jaued trabalha na educação de jovens por meio da arte, o objetivo é levar o grafite para escolas e outras instituições na intenção de quebrar o estigma social sobre a arte urbana. Formada em publicidade e propaganda, vive da produção artística, do trabalho com a escrita e desenvolvimento de projetos para editais, maneiras que a artista encontrou de arrecadar recursos para executar o seu trabalho. Carolina conta que conheceu o grafite antes mesmo de fazer grafite. Aos 8 anos teve o primeiro contato com a técnica por meio do seu irmão. Aos 15 anos percebeu uma explosão da arte na cidade, depois de começar a trabalhar

no centro da capital e transitar frequentemente pelas ruas. A artista sentia uma curiosidade imensa de saber quem eram os autores das obras que via. A internet, naquela época, já era um meio facilitador, então, Jaued começou a procurar outros artistas e a conversar com eles. Para que assim, consegui-se entender de fato o que era a arte urbana. Os primeiros trabalhos da artista nas ruas de Belo Horizonte foram o sticker e o lambe lambe - técnica ligada ao grafite que utiliza cartazes como intervenção urbana, na época, algo muito latente em BH. Certo dia, a artista foi convidada para pintar um muro, e mesmo ainda não tendo domínio da técnica, não pensou duas vezes e aceitou o convite. “Parece que quando você faz a primeira vez, quer fazer outras vezes para

ir melhorando seu trabalho, é uma forma de autocrítica, cada vez mais você quer evoluir”, comenta. A partir daí, Carolina começou a procurar referências de outros artistas para aprimorar seu trabalho.

Spray feminino As mulheres sempre tiveram interesse pelo grafite, mas só agora elas passaram a conquistar espaço neste cenário. Em Belo Horizonte, o número de mulheres nessa área é crescente. Carolina lembra que, no início, elas eram poucas. Muitas já haviam parado ou pintavam por influência dos namorados, somente 6 ou 7 meninas grafitavam ativamente. Hoje em dia, a presença das mulheres é muito maior. Diversos fatores dificultavam a presença das mulheres no grafite, naquela época, não havia tanto incentivo, já

que as mulheres eram minoria. Existia até um certo “medo” em ficar

na rua até tarde. Atualmente, o movimento de igualdade de gênero

abriu portas para que as mulheres participassem da arte urbana. FOTO: followthecolours.com.br

Micaelly Freitas

As mulheres estão conquistando cada vez mais seu espaço no mundo do grafite

Ernani Couto De esquina a esquina, nas mais diversas ruas e praças da capital mineira, Belo Horizonte, encontramos pessoas desenvolvendo algum tipo de atividade artística. Sejam malabaristas, músicos, dançarinos, poetas ou artesãos, os artistas de rua estão ganhando cada vez mais espaço e despertando a atenção do público mineiro. O artista Thiago de Araújo Felisberto, de 41 anos, natural de Portugal, já está há dois meses divulgando seus trabalhos em um dos pontos mais movimentados da capital, a Praça Sete de Setembro, Região Central de Belo Horizonte. Ele orgulhase das atividades que vêm desenvolvendo nas

ruas e afirma que tudo isso é sinônimo de liberdade. “Ser artista de rua é a minha vida, meu orgulho, minha liberdade, pois com esse trabalho eu posso ser como um pássaro livre na natureza, pouso em qualquer lugar e a hora que eu quiser”, afirma. Aos 16 anos de idade Thiago começou a desenvolver suas habilidades artesãs em Portugal. Filho de pais portugueses, funcionários públicos, ele via a necessidade em ajudá-los com as despesas de casa. “Os meus pais ganhavam pouco, somente o suficiente para sobreviver e manter a casa. Ainda na adolescência, eu observava aqueles artistas de rua produzindo suas mais diversas artes, foi a partir daí que des-

pertou o meu interesse e descobri o meu dom em fazer o mesmo, isso ainda em Portugal”, revela Thiago. Felisberto trabalha diariamente nas calçadas de “Beagá” produzindo os seus trabalhos artesanais, que chamam a atenção de todos aqueles que passam pelo local. São pulseiras, cordões, tornozeleiras e colares feitos com linhas coloridas, metais e couro. Além desses itens, ele desenvolve algumas atividades de origem cultural japonesa, como escrever o nome do cliente em um pequeno grão de arroz. Apesar da liberdade, o preconceito ainda é uma grande barreira para os artistas de rua e o retorno financeiro não é muito grande. Thiago

de Araújo ressalta a falta de valorização por parte de algumas pessoas. “Os brasileiros costumam julgar o próximo pela aparência e não pelo o que ele é exatamente. Vivemos num país capitalista, em que eles preferem comprar uma determinada peça cara de roupa, por conter uma determinada marca famosa”, afirma. Com boas perspectivas para o futuro, Thiago pretende viajar para outros países para divulgar o seu trabalho. “Estou com um projeto de voltar ao país do México, onde passei a vida por um bom tempo, para viajar, curtir a família e garantir mais oportunidade para mostrar o meu talento às mais diversas culturas”, revela Thiago esperançoso.

FOTO: ernani couto

De Portugal para as ruas do brasil

Thiago de Araújo divulga seus trabalho nas ruas e praças de Belo Horizonte


EXERCÍCIO fotográfico fOTO: MONIK GONZAGA

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Novos olhares

A arte em suas varias nuances, eternizada em fotografias BH, puderam exercitar a criatividade na produção de fotos inspiradas nos textos do caderno DOIS. Assim como na capa desta seção, as releituras das obras de Leonardo Da Vinci estão presentes no ensaio. Os alunos reproduziram obras famosas do artista italiano, claro, com um toque de modernidade.

A arte de rua, em suas diferentes nuances, também é valorizada pelos alunos. Desde o grafite nas paredes, passando por comércios locais de livros, até a confecção de cadeiras nas calçadas de Belo Horizonte. Além disso, a gastronomia local ganha produções que destacam os principais produtos de Minas Gerais.

fOTO: MONIK GONZAGA

fOTO: Vitória Josiele

A arte está presente em todos os lugares. Os movimentos artísticos inspiram, motivam, encantam e suscitam a reflexão e são capazes de unir as mais diferentes classes e estilos. Pensando nisso, para o ensaio fotográfico desta edição do IMPRESSÃO, os alunos de fotografia do Centro Universitario de Belo Horizonte - Uni-

fOTO: Amanda e Victor


fOTO: Vitória Josiele

fOTO: ANNA LUIZA

fOTO: Amanda e Victor

EXERCÍCIO fotográfico Julho de 2019 Jornal Impressão

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cultura

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Cultura gastronômica nas ruas de Belo Horizonte

Festivais promovem a internacionalização da cultura mineira Ana Amélia Gabriel Portela

fOTOs: ana amelia souza

Desde os primórdios da humanidade, a alimentação desempenha um papel essencial para a vida. O vínculo entre os seres humanos e o alimento é perceptível e indispensável desde os tempos antigos, fato confirmado pela relação entre as primeiras migrações e a disponibilidade de recursos. A comida se torna reconhecida não apenas pelo ato de satisfação e identidade, mas também de afirmação, como uma poderosa ferramenta de comunicação. Por meio dos alimentos e do ato de comer, comunicam-se valores, culturas e significados relacionados aos hábitos alimentares individuais. É possível identificar, portanto, de qual região determinado produto faz parte, assim como o pão de

Circuito Gastronômico de Favelas, 2019

queijo é tipicamente da região de Minas Gerais, o açaí típico do Norte, entre outros. O prazer proporcionado pela comida é algo especial, e os pratos típicos de cada região constituem um enorme valor social. Por exemplo, a maioria dos turistas que visitam o Rio Grande do Sul desejam experimentar o tradicional chimarrão e o arroz carreteiro, assim como quem vem para Belo Horizonte quer experimentar o pão de queijo, os queijos e o tradicional doce de leite. A culinária mineira atravessou as fronteiras nacionais e ganhou proporções mundiais. Para evidenciar e valorizar ainda mais os produtos locais, o governo do Estado autorizou, em 2012, que o dia 5 de julho fosse dedicado a celebrar a gastronomia de Minas Gerais. A data foi pensada, também, como

uma forma de homenagear o nascimento do autor Eduardo Frieiro, de 1889, pioneiro em discutir as nuances da comida tipicamente mineira por meio do livro “Feijão, Angu e Couve - ensaio sobre a comida dos mineiros”. O chef Lucas Peloso, da Rede Gourmet, fala sobre o cenário da gastronomia em Belo Horizonte e de como os chefs têm lidado com isso. “Hoje, se valoriza a cozinha afetiva, com gosto da infância. Uma memória afetiva que só você sabe, e através dela, manifesta sua gastronomia”, explica. Ele também enfatiza que a gastronomia internacional já não é mais tão popular quanto antes, há, agora, a hipervalorização dos produtos tidos como típicos da região. Contudo, os festivais gastronômicos, nacionais e internacionais, ganham cada vez mais

popularidade na rotina do mineiro que é, por natureza, um povo apreciador da boa culinária. Os festivais, em sua maioria, acontecem na grande Belo Horizonte. Eles atraem um público diversificado, curioso, e aberto a conhecer novas culturas, já que os eventos trazem, também, música e arte de fora. A internacionalização incentiva a crescente abertura de restaurantes de culinária estrangeira na cidade, além do significativo aumento na procura por cursos de gastronomia, visto como uma oportunidade para empreender.

Empreendedorismo Com a ajuda de organizações como SEBRAE, CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) e Fecomércio, os empreendedores conquistam a oportunidade de especialização e de qualificação, por meio de

orientações, consultorias, cursos presenciais e à distância. Esses cursos tratam de todas as etapas necessárias para abrir um negócio no ramo da gastronomia, essas etapas vão desde controle de estoque, higienização de equipamentos e instalações. A maioria é oferecida de forma gratuita. A especialização, por meio de cursos livres ou de graduação, é imprescindível para quem almeja se destacar no mercado de trabalho. Por outro lado, o aumento de demandas na hora de consumir os produtos tem feito com que os serviços de entrega também desempenhem um importante papel no ramo da gastronomia. Comerciantes e expositores movimentam o mercado por meio do empreendedorismo, em linhas gerais. Isso pode ser definido como a uti-

lização das competências individuais em prol do desenvolvimento de um projeto que pode contribuir para um grupo de individuos interessados. Tais projetos agregam valores para a sociedade, enriquecem a cultura e transformam a maneira de consumo e, até mesmo, a maneira de interação das pessoas que possuem alguns gostos em comum.

Festivais Em média, pelo menos um festival internacional e um nacional acontece durante cada mês em Belo Horizonte. Eles podem variar de acordo com a programação do calendário de eventos da capital. Além disso, existem os festivais “figurinhas carimbadas”, que acontecem anualmente em BH, são eles: o Festival de Comida Típica Japonesa, Festival Dia de Los Muertos e o Experimente América.


cultura

11 Arte: Paulo Henrique dos Santos

Julho de 2019 Jornal Impressão

VENCEDORES DO COMIDA DI BUTECO BELO HORIZONTE

Tanganica Art Bar

Já To Inno

Santuário Retrô Botequim

Pé de Goiaba

Vencedores do Comida di Buteco de 2019, edição comemorativa de 20 anos de festival

tinos em contato com a cultura japonesa, por meio das comidas típicas, apresentações culturais e manifestos artísticos, como odori, dança folclórica de origem budista, realizada em homenagem aos antepassados, tradicionais

tambores taiko, karaokê e artesanato. Além dos festivais gastronômicos nacionais que acontecem periodicamente na capital mineira, como o Brasil Sabor, Minas Tchê e o Comida di Buteco, responsável por eleger o melhor boteco

fOTOs: ana amelia souza

O Festival de Comida Típica Japonesa, está em sua 22° edição, e é um evento realizado anualmente em Belo Horizonte pela AMCNB (Associação Mineira de Cultura Nipo-brasileira). A intenção principal é colocar os belorizon-

Público na Praça da Estação, durante a final do Circuito Gastronômico de Favelas, 2019

do Brasil, Belo Horizonte também conta com circuitos gastronômicos apoiados pela prefeitura da cidade. Esses eventos são parecidos com a organização de um de festival e, geralmente, acontecem em locais abertos, como

as praças da cidade. O Circuito Sapucaí e o Circuito Gastronômico de Favelas são uma forma de incluir e estimular o microempreendedor dos aglomerados da cidade, além de oferecer para a população a oportunidade de ter contato com as realidades mais distantes. A interação entre gastronomia, arte e música, é feita de forma gratuita ou por meio de doações de alimentos. Dona Izaura Maria Daniel, dona da Marmitaria BH, localizada na região centro-sul da cidade, fala do preconceito sofrido pelas pessoas da favela. “Na favela tem muita coisa boa, muita gente com vontade e garra, só falta ter oportunidade. O circuito vem para mostrar que na favela tem qualidade, comida boa”, afirma. Izaura completa afirmando que o evento gastronômico é uma maneira de quebrar o estereótipo e modificar a imagem da região. Circuitos como este valorizam a comida típica mineira e de outros estados. A famosa “comida raiz” mineira, cativa o público, princi-

palmente pela sua grande representatividade e identidade regional. O Circuito Gastronômico de Favelas, em sua segunda edição em Minas Gerais, realizou, também, uma edição no Rio de Janeiro no ano passado (2018). Além de ganhar destaque fora do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte está concorrendo ao título de Cidade Criativa da UNESCO pela Gastronomia, com possibilidade de unir-se a outras oito representantes brasileiras que já integram a rede, como Brasília, Belém, Curitiba, Florianópolis, Santos, João Pessoa, Paraty e Salvador. A iniciativa da UNESCO ao conceder o título de Cidade Criativa é colocar as indústrias culturais e criativas em posição de destaque em relação ao desenvolvimento de estratégias inclusivas, seguras e sustentáveis. Essas estratégias têm como base o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. Os títulos devem ser anunciados até o final do ano.


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OUTROS PAPOS

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Da igreja ao ‘Enjoei’ Joyce Vieira Catarina Faria

fotos: JOyce Vieira

Uma peça de roupa faz muito mais que apenas compor uma produção, ela traduz costumes de uma época, exalta tendências e revela personalidades. Esses são alguns pontos que fazem com que muitas pessoas se encantem pelos achados em brechós. As constantes mudanças do mundo da moda e o resgate de tendências fazem dos brechós um empreendimento atrativo para lojistas e consumidores. Quem nunca quis renovar o closet sem gastar muito? As clientes classificam o preço como maior ponto positivo. Além disso, os brechós prezam pela qualidade das roupas, as peças que chegam são limpas e consertadas antes de irem para as araras. Alguns dos brechós até aceitam permuta, assim, você se livra de uma peça que está encostada na gaveta e compra outra que irá agregar ao seu estilo. Se engana quem ainda tem aquela visão de brechó como um lugar empoeirado com cheiro

de naftalina. Existem vários tipos, além dos tradicionais bazares feitos em igrejas. Um exemplo são os brechós de luxo que comercializam roupas e acessórios usados de marcas conceituadas, como Louis Vuitton. Estes são como verdadeiras boutiques, organizados e com muita variedade. Não só para “madames”, o brechó Madame Mê fica em um dos pontos mais emblemáticos de Belo Horizonte, o Edifício Maletta, nascido há 7 anos e criado por Carolina Campos. Formada em moda, ela optou por não ingressar no mercado tradicional. Ao visitar um brechó, decidiu começar o seu próprio, ainda pequeno, mas, com uma procura muito grande, o que fez com que a empresária migrasse para o Maletta. Carolina afirma que a procura por esse tipo de loja cresce a cada dia. “Quando eu era jovem, não existia Instagram pra ver o que estava ou não na moda. Hoje, se uma artista usa uma calça de brechó, todo mundo vê e quer igual”, comenta. O lado acessível dos

É comum encontrar peças ‘vintage’ nos bazares.

brechós é lembrado por ela, que pode atender no mesmo dia alguém com poucas condições e procura por uma peça barata, até “uma pessoa que tem muito mais dinheiro e quer comprar uma jaqueta de 300 reais”. Ela também comenta sobre as redes sociais. Para Carolina, sem a internet o brechó não teria sobrevivido. “É preciso se adequar à venda online, quem não é visto não é lembrado”, afirma. Nas redes sociais existem diversos grupos de brechós online, geralmente organizados por tipo de mercadoria. Os brechós online permitem comprar ou vender produtos por preços mais baixos e ainda há a possibilidade de obter descontos por meio da barganha entre consumidores e vendedores. O consumo colaborativo é um fenômeno social que vem modificando a maneira como as pessoas enxergam as atividades comerciais. Essa é a proposta do Enjoei. No funcionamento da plataforma, os usuários colaboram entre si e estabelecem relações. O site ganhou

destaque ao longo dos anos por levantar a bandeira de um moderno conceito de reutilização de produtos. No Enjoei é possível encontrar uma variedade enorme de produtos, desde roupas, calçados e acessórios, até animais para adoção – que recebem um preço simbólico de 10 reais, apenas porque o sistema não permite valores menores. Maria Laura, de 23 anos, começou indo aos bazares beneficentes da igreja com sua mãe e adquiriu gosto pelo garimpo de peças usadas. Hoje, ela visita brechós mensalmente, pois consegue encontrar roupas boas e baratas. Para ela, também é uma forma de sustentabilidade. O ponto mais atrativo nos brechós, para Maria Laura, é o preço. “Uma blusa, que eu acho por 2 ou 5 reais (no brechó), na loja de departamentos eu encontro por 19,90. Então, é uma diferença muito grande”, avalia. Outra vantagem lembrada por ela é a exclusividade. “O que é único no brechó são as peças que não se fabricam mais. Uma peça que eu queria há dois

fotos: JOyce Vieira

Brechós como alternativa para a economia e sustentabilidade

É comum encontrar peças ‘vintage’ nos bazares.

anos e não tinha condições de comprar, eu encontro no brechó por um preço totalmente diferente e não encontro mais ninguém usando”, finaliza Maria Laura.

Sustentabilidade Brechós são uma ótima opção para manter-se na moda conscientemente. A indústria têxtil é uma das maiores geradoras de poluentes, a maneira como sua cadeia de produção funciona não é transparente. Então, adquirir roupas de brechó ajuda na sustentabilidade, já que evita a retirada de materiais do meio ambiente e reutiliza o que já foi feito. Seguindo o pensamento de consumo consciente, a consultora de imagem Maíra Heneine tem se aproximado mais dos brechós.

O processo de consultoria, que consiste em algumas etapas de autoconhecimento e análise pessoal, é consciente por si só, pois, ensina a ter estilo utilizando peças-chave, evitando compras exageradas. Maíra conta que acha importante jogar fora o pensamento de que a peça de brechó tem energia de outra pessoa ou que não pode ser renovada. “O movimento está, aos poucos, ganhando força entre as clientes. Costumo indicar vários brechós, cada vez mais eu planto a sementinha e isso está ficando mais expressivo”, conta Maíra. As peças de segunda mão adquiridas em brechós evitam resíduos, pois já foram produzidas. Para Maíra, o futuro da moda está nos brechós e bazares.


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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

COMUNICA E TEM MUITO A DIZER

Arte: Cintya Juliana

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Você sabia?

Julho de 2019 Jornal Impressão

O super comum

Micaelly Freitas Regiane Santos Historicamente, o conceito dos super-heróis nos quadrinhos nasce nos Estados Unidos, em meados da década de 30, após a quebra da bolsa de Nova York. Esse acontecimento resultou em uma intensa crise econômica nos Estados Unidos e fragilizou a esperança dos cidadãos americanos. Foi nesse momento que surgiu a necessidade de criar um símbolo para recriar os sonhos daquela nação. Assim, é forjada a figura do super-herói. No ano de 1938, o primeiro herói com superpoderes ilustra as páginas da revista Action Comics, da editora National Comics, hoje conhecida como DC Comics. Era um personagem onipotente, com uma força extraordinária, além de ser uma representação do patriotismo. Sim, estamos falando do Superman. O clássico estilo de perfeição e divindade deste super-herói serviu de inspiração para a criação de todos os demais heróis dos quadrinhos. Porém, esses personagens não carregam apenas características de deuses e poderes místicos que salvam o mundo ocidental. Tanto a DC Comics quanto a sua maior concorrente, a Marvel, criaram super-heróis com personalidades e atitudes próximas ao cotidiano das pessoas “comuns”. Assim, a narrativa das histórias em quadrinhos vai além do conceito de oferecer ao leitor apenas entretenimento. Essas histórias mesclam a linguagem ficcional d e s c o m p ro m i s s a d a com temas que estão relacionados ao sistema social. Os heróis criados após o sucesso do homem de aço vão

além da representação de liberdade, justiça e proteção da humanidade. Eles passam a ter características emocionais, comportamentos típicos da jornada humanizada, enfrentam adversidades e vivem o processo da construção de identidade. Além disso, podemos identificar na construção desses heróis uma forte ligação com o contexto artístico e histórico da sociedade.

DC Comics A responsável por divulgar o Superman criou, em 1939, o personagem Bruce Wayne, o Batman. O homemmorcego nasce junto com a Segunda Guerra Mundial e tem características semelhantes às do expressionismo alemão como, por exemplo, a presença de luz e escuridão na narrativa do personagem. A história do Batman tem início na sua infância, quando ele viu seus pais serem assassinados por um ladrão. Como consequência do trauma, Bruce se torna um jovem muito melancólico, que busca desenvolver sua inteligência e raciocínio apurado. Também aprende técnicas de artes marciais e habilidades para investigação, o que o torna um dos maiores detetive do mundo. Arqueiro verde Esse herói da DC carrega na sua criação algumas referências ao Batman. O nome real do Arqueiro Verde é Oliver Queen. Nos quadrinhos, ele é um humano sem nenhum poder especial, herdeiro de uma grande fortuna e detentor de uma maestria com o arco e flecha. Na infância, Queen tinha grande admiração pelo personagem Robin Hood. Esse fascínio pelo protetor dos fracos e

FOTO: reproducào

A história humana dos Super Heroís

a vida de super-herói e salvar a vida de pessoas inocentes.

Poster divulgacão do filme Vingadores dos estúdios Marvel

oprimidos leva Oliver a aprender as técnicas de arqueiro. Sua relação com o heroísmo começa depois de um acidente. Oliver passa um período de sua vida perdido em uma ilha, mas começa a lutar pelas classes excluídas da sociedade após retornar para a cidade.

Batgirl A criação da Batgirl foi impulsionada pela ascensão do movimento feminista na década de 60. Bibliotecária e filha de um comissário de polícia, Barbara Gordon, identidade mais popular da Batgirl, se encanta pela vida de vigilante contra o crime após conhecer Bruce Wayne em uma festa à fantasia. Barbara tem conhecimentos em diversos campos de estudo, inclusive na área de informática, o que faz dessa super-humana uma especialista em tecnologia.

Marvel Clint Barton, mais conhecido pelo codinome de Gavião Arqueiro, foi criado em 1964 por Stan Lee e Don Heck. Nos quadrinhos, ele não possui nenhum poder especial, é um humano comum e com limitações. Clinton convive com uma deficiência auditiva que faz com que ele ouça menos que qualquer outro humano, mas isso não o impediu de aprimorar sua sensibilidade nos outros sentidos. Barton teve uma infância difícil. Por ser constantemente espancado pelos pais, o jovem decidiu fugir de casa e passou a morar em um circo. Foi lá que aprendeu tudo sobre o arco e flecha, além de desenvolver a sua agilidade e capacidade física. O desejo pelo heroísmo surgiu quando viu o Homem de Ferro realizar um resgate, então, o Gavião decidiu abraçar

Homem de Ferro Tony Stark, mais conhecido como Homem de Ferro, é um mulherengo bilionário com gosto pela bebida, adrenalina e invenções. O personagem foi criado por Stan Lee em 1963, mas foi o seu irmão, Larry Lieber, que planejou a primeira aventura do Homem de Ferro. Ainda bebê, Tony foi adotado por Howard Stark. Na infância, ele desenvolveu habilidades características de um pequeno gênio inventor. Aos 21 anos, foi forçado a assumir as Indústrias Stark após o falecimento dos seus pais, e a partir desse momento, sua vida mudou. Durante a Guerra do Vietnã, Stark foi atacado por uma gangue que o deixou com várias feridas, tal acontecimento o levou a construir a sua primeira armadura, inicialmente cinza, hoje, vermelha e dourada. Alguns anos depois, ele se tornaria o membro fundador dos grupo Vingadores. Pantera Negra A criação do Pantera Negra, no início da década de 60, ampliou a representatividade de minorias marginalizadas na sociedade. Até então, eram apenas os personagens brancos que exploravam terras africanas e salvavam os personagens negros de ameaças, ou mesmo serviam de ameaças para eles. O Pantera Negra é uma tradição do reino de Wakanda, função dada ao rei para que proteja seu povo e sua tecnologia, a mais avançada de todo planeta, segundo os quadrinhos. A construção do herói se dá graças à exploração tecnológica do Vibranium, presente em tudo no

reino, desde os sapatos até as armas. Inclusive nas roupas, algumas túnicas são, na verdade, escudos de energia provenientes do metal Vibranium. Quando o Pantera Negra surgiu nos quadrinhos, a sociedade convivia com a possibilidade de um conflito nuclear, proveniente da Guerra Fria. De ambos os lados da Cortina de Ferro, uma intensa disputa tecnológica fazia a ciência avançar rapidamente. Nos Estados Unidos, o movimento dos direitos civis, protagonizado pelos negros, confrontava o racismo ainda não superado no país.

Heróis de hoje De acordo com o contexto histórico, os super -heróis já incorporaram o papel de guias comportamentais, espirituais e até de ideal a ser seguido. Brigaram com os efeitos do crash de 1929 - período de crise econômica mundial -, fortificaram os aliados durante a Segunda Guerra Mundial, reivindicaram direitos de igualdade nos anos 70, participaram da Guerra Fria, destruíram inimigos e, incansáveis, ainda hoje, enfrentam os problemas que abrangem as esferas política, econômica e social do nosso planeta. Os heróis são reflexos da sociedade, alguns usam de sua inteligência e do avanço da tecnologia para solucionar problemas que existem no mundo, outros sobreviveram a problemas como nós, seres humanos comuns. Enquanto alguns oferecem soluções dignas de aplausos, outros abusam de opções insensatas, mas todos fazem parte do nosso cotidiano e, de um jeito ou outro, nos fazem refletir sobre situações que poderiam ser desinteressantes.


Você já VIU E OUviu?

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FEDRA

Jéssica Teixeira Lorena Aguiar Intensidade, reflexão e

FOTO: lorena aguiar

perfeição são algumas das sensações transmitidas ao espectador pela peça Fedra. O espetáculo, em cartaz na capital mineira, no CCBB, dispensa elogios quanto a sua iluminação, minimalismo cênico e elenco. Este, que transmite em cada movimento, o desejo e o ardor que envolve toda a peça, além da linguagem tradicional digna de uma tragédia grega. Em contexto, Fedra arde por Hipólito, seu enteado. A ausência e suposta morte do rei, seu marido, leva a moça a revelar seu maior segredo, o amor pelo jovem Hipólito. O retorno do rei precipita a tragédia e, então, a paixão é transformada em um crime violento. A adaptação da obra de Jean Racine é a perfeita tragédia pela excelência. Ao longo do espetáculo, as confissões de Fedra quanto ao seu amor culpado surgem três vezes. A primeira para sua aia Enone (dama de companhia de nobres e ricos), a segunda para o próprio rapaz e, após a rejeição de Hipólito, Fedra muda seu discurso. A terceira

A Besta do Labirinto

confissão foi feita ao rei, na qual ratifica a inocência do Hipólito, morto a mando do pai, entregue à besta do labirinto. A rainha Fedra age guiada por Enone. A aia revela, ao final, ter seus próprios motivos para convencer a moça. A moral da peça vai além das tragédias envoltas entre homens e mulheres. Há, ainda, o confronto de Fedra entre o cristianismo e jansenismo - movimento de caráter dogmático, moral e disciplinar, que assumiu também contornos políticos. O jansenismo se desenvolveu principalmente na França e na Bélgica, nos séculos XVII e XVIII, em reação a certas doutrinas e práticas no seio da Igreja Católica. Na adaptação, junto aos diálogos atuais, é possível observar uma crítica à sociedade. O homem se salva por seu próprio mérito ou por um dom divino? O vislumbre do peso das nossas ações e escolhas aparece como um alerta aos perigos que nos cercam, Fedra mostra que, ao fazermos uma escolha, não se pode voltar no tempo. O divino faz parte das nossas vidas, da nossa criação e nos leva a ter

uma vida guiada por essa doutrina. Mas, e se formos contra esses valores, seremos menos merecedores? O divino tem seus escolhidos? Ou somos nós, seres humanos, que estamos em uma busca intensa por um significado dos nossos atos, de olhos tapados e culpando a fé? No decorrer da peça, vemos que a deusa Vênus aparece em grande parte desta tragédia, agindo minuciosamente entre os atos, o que parece reforçar a ideia de que os deuses guiam nossas vidas. É possível ver Fedra como uma mulher que luta contra seus sentimentos, já que a sociedade a julgaria como errada. Nisto, é possível questionar se esse ponto seria uma crítica ao sistema ainda machista da atualidade. Tal pergunta é facilmente respondida com um “sim”, afinal, este é o sentido e objetivo da peça. A estudante de jornalismo e atriz, Bárbara Lourenço, fala sobre importância do teatro e o que a peça Fedra pode agregar aos dias atuais. “O teatro tem um papel muito importante para a sociedade. Muitas vezes, as pessoas não passam o

FOTO: facebook ccbb bh

A luta contra o tradicionalismo

Cartaz da peça Fedra, em exposição no CCBB de Belo Horizonte

olho em um livro ou em um conto, o teatro faz com que isso chegue ao público de forma mais didática”, ressalta. A jovem ainda entende que o público consome cultura por meio das peças teatrais, por meio de grandes es-

critores, postos como referência por conta dos seus trabalhos. Por exemplo, Nelson Rodrigues, Shakespeare e Almodóvar. Para Bárbara, “cultura é conhecimento, é bagagem, e todos precisam ter acesso”. Já Priscila Borges, estudante de filosofia, fala sobre a sua percepção quanto ao mito e a abordagem feita pela peça. “O mito não é tão claro para alguns, conheço duas versões existentes. A de Eurípedes, que tem uma pegada mais psicológica do que mitológica, em que a “violação” é anunciada por carta também. E a versão de Séneca, em que o suicídio se dá após a morte de Hipólito e a veracidade dos fatos vir à tona”, conta Priscila. Priscila ressalta que vários autores mencionam a morte de Hipólito e Fedra. Além de destacar o olhar do autor, Jean Racine, na peça, no con-

texto da dramaticidade e intensidade. “Tive a sensação, de fato, de ter sido abalada psicologicamente com aquilo que vi. Naquele amor rejeitado, que se não é comigo, não será com mais ninguém, um amor egoístico. A peça retrata bem isso”, destaca. Fedra reforça a ideia da luta das mulheres pelo seu ideal, sua liberdade de ser e sentir o que quiser. A peça pode ser vista, ainda, como umas das vertentes da luta pelo feminismo, em seu aspecto mais tímido, na luta de uma mulher para ser ela mesma, sem represálias ou medo. É perceptível a presença deste mito em nossa atualidade, em que, infelizmente, as mulheres ainda são julgadas por serem livres. Fedra pesa em nossos ombros e nos puxa para realidade, durante apenas vinte minutos de uma reflexiva apresentação.


CRÔNICas 16 alguém deu um match em vocÊ! Victória Farias

Meu caro amigo (acredito que à essa altura do campeonato, já posso te chamar assim), venho até você com mais uma incrivel descoberta e, agora, venho falar do amor. Ah, o amor! Tão lindo, tão brilhante, e tão distante. E quando eu falo distante, não quero dizer distância na existência, mas sim distância física, porque eu não sei se você sabe (mas eu sei), que é possível descobrir a quantos quilômetros de você o seu match no Tinder está. O que não vai fazer muita diferença, por que nenhum de vocês vai ter coragem de puxar assunto. Ah, o amor. As pessoas diziam que antigamente era mais fácil, que a tecnologia está atrapalhando as relações interpessoais. Se você quer saber, eu duvido muito que fosse mais fácil. Antigamente, você tinha que sair de

FOTO: Rita Luiza

Julho de 2019 Jornal Impressão

casa (o que é um esforço enorme), conversar pessoalmente com uma pessoa que você nunca nem viu antes (o que é um absurdo) e fazer essa pessoa gostar de você pessoalmente, o que requer muita sorte.

Hoje, você tem a possibilidade de passar horas e horas dando likes em perfis bonitos e que você tem quase certeza (ou absoluta) que são apenas rostinhos bonitos. A discussão se a tecnologia é boa ou não

para os relacionamentos é válida, mas não tem como negar que a facilidade é uma mão na roda. Já pensou fazer alguém gostar de você sem ter que contar uma piada, ou levar a pessoa a um bar, ou qualquer

coisa que signifique dividir o mesmo espaço físico com alguém? É infinitamente mais fácil! Mas, no meio disso tudo, existe um problema - estava tudo muito bom para ser verdade. Para que alguma coisa

dê certo, precisamos tirar o relacionamento do virtual e trazer para o mundo real. Eu sei, eu sei, é complicado, é puxado, leva tempo e, às vezes, as pessoas pessoalmente nem são tão legais assim. Devemos nos lembrar que, antes desse jogo de luz de led atacando nossa retina, o que geralmente chamamos de celular, as pessoas se chamavam para sair, iam a restaurantes ao invés de pedir um IFood (que demora horrores para chegar) e tiravam fotos em câmeras polaroids, que, pasmem, não havia possibilidade de saber o número de likes. A verdade é que nunca saberemos o quanto era bom ou o quando era ruim. A gente acaba se acostumando com a comida que chega sempre fria, a encomenda que chega muitas vezes atrasada e o amor que, por incrível que pareça, nunca chega.

Quase gêmeos no fim de julho A minha história com Harry Potter começou quando eu ainda era bem nova, no auge dos meus cinco anos, conhecendo o mundo mágico e desejando com todas as minha forças estudar em Hogwarts. Afinal, quem se importa com a educação básica quando se pode ir diretamente para o aprendizado de interessantes feitiços? Mas é preciso ressaltar um ponto muito importante nessa história toda: fazemos aniversário no mesmo dia. Sim, Harry e eu. E as minhas desconfianças começaram quando li A Pedra Filosofal pela primeira vez. Acho que é preciso explicar aqui meu raciocínio: o livro deixa

claro que Harry foi no seu aniversário visitar o Beco Diagonal com Hagrid. Até aí, um mistério a tal data. Mais adiante na história, Harry lê no Profeta Diário sobre o arrombamento no Gringotes, ocorrido em 31 de julho. Aí, ele confirma que aconteceu no dia do seu aniversário. Imagine a euforia que se instalou no coração de uma criança que desconfiava fazer aniversário junto com seu grande herói. Reli várias vezes e refleti por vários minutos, ou no máximo uns 5, para realmente me convencer. Todo o esforço poderia ter sido poupado se eu simplesmente tivesse procurado a informação na internet. Mas consideramos minha inexperiência e a escassez de recursos

como esse em minha tenra infância. Pois sim, nascemos no mesmo dia. Contudo, nossa grande diferença está no fato que ele é o menino que sobreviveu, o escolhido. Já eu, não sou sequer uma bruxa, a não ser que minha carta esteja bem atrasada ou perdida na unidade dos Correios em Curitiba. A marca na testa, contudo, é algo que temos em comum. Enquanto ele sobreviveu à uma maldição de morte, conjurada por um dos bruxos mais malignos a pisar na face da terra, eu sobrevivi à um terrível muro de chapisco que não desviou do meu caminho enquanto corria desesperada pelo quintal. Cada um com o vilão que merece. Mas nem tudo são

flores na minha relação com o querido Harry. Por mais heróico e admirável que seja meu parceiro de comemorações, eu infelizmente preciso deixar bem claro que a real dona do meu coração, e de longe personagem preferida, sempre foi, e sempre será, a incrível Hermione Granger. Sem ela, duvido muito Potter ter sobrevivo ao longo de sete livros. Rony sabia muito bem que não sobreviveriam dois dias. E Lupin deixou bem claro que ela era a bruxa mais inteligente de sua idade. Mesmo com todas as mensagens importantes deixadas ao longo da obra, envolvendo coragem, amor e amizade, não podemos nos esquecer nunca da mais

importante, imortalizada pela Mione: é Win-

gardium LeviÔsa, e não Wingardium LeviosÁ! FOTO: Rita Luiza

Rita Luiza


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