Edição 215 - caderno 1

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Dezembro de 2020 Jornal Impressão

PRIMEIRAS PALAVRAS

EDITORIAL

EXPEDIENTE

Por Fernanda Freitas Em 2020, na medida em que ninguém devia colocar o pé na rua para curtir e aglomerar, a internet se fortaleceu ainda mais em nosso cotidiano. Se, antes, a interface digital era uma extensão da vida offline, essa situação, em alguns aspectos, se inverteu. O faturamento do e-commerce, por exemplo, cresceu 47% no primeiro semestre do ano, maior alta em duas décadas (!), segundo dados do Webshoppers. Mas se mais tempo online é sinônimo de mais consumo, seja ele de notícias, músicas, produtos ou serviços, surge uma preocupação: a segurança dos nossos dados. Os dados coletados pelos sites e aplicativos são usados para nos direcionar a mais conteúdos atrativos,

REITOR Prof. Rafael Ciccarini DIRETOR DO CAMPUS BURITIS Prof. Eduardo França COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Prof. Rafael Cristelli LABORATÓRIO DE JORNALISMO EDITORA Dandara Andrade DIAGRAMAÇÃO Ícaro Guimarães PROJETO GRÁFICO Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA) ESTAGIÁRIOS Alexandre Santos Beatriz Almeida Fernanda Freitas Ícaro Guimarães Isabela Santana Laura Mourão Letícia Sudan Matheus Rocha Thayane Domingos

e quando nos damos conta, estamos enrolados em

ILUSTRAÇÃO Ícaro Guimarães Matheus Rocha

uma teia de consumo que fica cada vez maior. O

ALUNOS QUE ESCREVERAM PARA ESSA EDIÇÃO

dossiê do primeiro caderno desta edição do Jornal Impressão discute o consumo sob essa e outras perspectivas, como os perfis de comportamento, sensação de pertencimento e consumo consciente. Além disso, nosso Caderno DO!S também abre espaço para uma reflexão sobre representatividade na mídia, a taxação de livros, o mercado de games no Brasil e a “militância de sofá”. Venha refletir conosco.

HUMOR

André de Paula Davi Bicalho Denys Lacerda Eduardo Almeida Emannuelly Gomes Glycia Vieira Hiago Soares Jessica Hellen Leandro Engrácio Lucas Marques Mariana Costa Michael Charlles Napáuria Almeida Paulo Henrique Pereira Sarah Aquino O Jornal IMPRESSÃO é um espaço de prática, experimentação e aprendizagem em Jornalismo, coordenado pela CACAU – Comunidade de Aprendizagem em Comunicação e Audiovisual do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário. Participe do JORNAL IMPRESSÃO e faça contato com nossa equipe: Av. Mário Werneck, 1685 - BH/MG CEP: 31110-320 jornal.impressao@unibh.br

Crédito: @okaveira


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VISÃO CRÍTICA

ESCREVIVÊNCIAS: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA E ALMAS QUE SANGRAM Sejamos afeto para afetar o sistema racista

Por Matheus Rocha Esse texto surge da necessidade de nomear um não-sentimento, calcado numa lógica de escrita contaminada por vivências, incluindo as minhas. A inquietação para escrita desse artigo me veio da vontade de contribuir para uma discussão pouco valorizada no âmbito da sociedade do consumo, principalmente em relação aos meios de comunicação, que reforçam alguns mecanismos de reprodução ideológica no que diz respeito à construção identitária e afetiva do homem negro. Para combater uma realidade racista em que vive o Brasil, é preciso jogar luz sobre a dinâmica que permite a existência de tantos preconceitos baseados na ideia de uma hierarquia social. Uma forma de saber por onde começar a derrubar essa pirâmide é voltarmos nossos olhos para alguns elementos que a mantêm solidamente de pé. A influência das mídias no comportamento social é mais forte do que muitos indivíduos gostariam de admitir. Não é preciso ser um grande estudioso para identificar as pequenas, mas significativas influências dos meios de comunicação na propagação de imagens estereotipadas, que colocam a população negra e, principalmente os homens negros, em uma situação de invisibilidade. Quando representados por personagens, esses homens são destituídos de qualquer tipo de humanidade, o que acaba sendo uma forma de violência simbólica, a partir do momento em que a falta de representação adequada nos espaços de expressão cultural marginalizam ainda mais nossos corpos. Os papéis mais comuns são secundários ou de figurantes, sendo eles retratados, por exemplo, como atletas, trabalhadores braçais, criminosos, favelados, escravos, o negro revoltado, o serviçal, o amigo do herói branco, o malandro, o feio, o rejeitado afetivamente ou aquele que tem o corpo hiperssexualizado e é retratado com erotismo e sensualidade, a máquina de fazer sexo.


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VISÃO CRÍTICA

Por Matheus Rocha

Créditos: Fotografia de Vitor Rodrigues

A TV brasileira existe desde os anos 1950, mas apesar disso, os homens negros ainda atuam em núcleos violentos, onde há criminalidade, e muito raramente ocupam um papel de destaque. Nos anos 60, início das telenovelas brasileiras, a participação de atores negros evoluiu bem pouco. Na trama A Cabana do Pai Tomás, a primeira novela que teria um protagonista negro, foi escolhido para viver o papel de escravo o ator Sergio Cardoso, um homem branco, que fez uso da técnica conhecida hoje como blackface. Por que não escolher um negro para representar um negro? Nessa época, não muito diferente de hoje, a mídia muitas vezes busca confirmar o mito da democracia racial e da convivência pacífica entre raças. Sabemos que a televisão não é um espaço de narrativa real, mas de construção real. O que significa que esse modelo de identidade e representação difunde e alimenta um imaginário de exclusão.


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VISÃO CRÍTICA

A lucidez que busco preservar diante de situações como essa apontamme à necessidade de compreender que o homem negro se encontra em um lugar subalterno. Apesar de obter seu gênero favorável, a questão racial nega qualquer lugar humano dentro da sociedade, começando pela questão corporal que, quando não é sexualizada, é brutalmente atravessada pela violência, seja ela, neste caso, física, mas também psicológica, através das relações sociais construídas. Sabemos que a masculinidade hegemônica é branca, e os homens negros têm que lidar, a todo momento, com o desafio da construção dessa masculinidade a eles imposta, ainda que esta não seja sua realidade. Esses preterimentos sociais, dos quais os homens negros são alvo, se expandem para todas as esferas da sociedade, inclusive nas camadas afetivas. Nem tudo é óbvio e perceptível. Por isso, é necessário que nós, principalmente homens negros, tenhamos um olhar mais observador a fim de refletir sobre os significados do consumismo, onde é possível visualizar também nossa construção identitária e de relacionamentos. É preciso ter em mente que nossos desejos são construídos culturalmente e, em certa medida, essa construção parte do que consumimos, reforçando a hipótese de que buscamos com frequência pelos ideais estabelecidos pela normatividade. Há um sentido para esses não-sentimentos aos quais nós, homens negros, estamos sujeitos, calcado nessa lógica de esvaziamento da nossa subjetividade, pensadas justamente para matar qualquer tipo de humanidade em nós. E quanto ao amor, quantos de nós, jovens negros, não nos consideramos como a razão desse não-sentimento ao menos uma vez na vida? Quantos de nós não odiamos nossos traços, nossos cabelos, narizes largos e pele negra quando nos percebemos esvaziados de nós mesmos a partir das representações dos nossos corpos na TV ou na internet? Quantos de nós ainda serão violentados simbólica e fisicamente nas relações que se constroem baseadas nessa subjetividade fortalecida pela mídia e pela cultura machista por medo de permanecermos sozinhos? Um caminho doloroso, sem dúvida, é esse que nos leva a compreender que nossa solidão e falta de afeto, por parte do outro e de nós mesmos, é histórica e socialmente determinada. Este texto, é sobre como nós, como sujeitos, somos formados por várias constituições que trazem à tona a incapacidade de percepções positivas sobre nossos corpos. Entretanto, ressalto que necessitamos reconhecer que somos afeto para afetar o sistema racista!


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DOSSIÊ CONSUMO

O CONSUMIDOR DO FUTURO CHEGOU Influenciados pelo período histórico, relações pessoais e crenças, todas as gerações estão em constante mudança na maneira de consumir

Por Jéssica Hellen, Letícia Sudan e Napáuria Almeida Quais comportamentos das antigas gerações serão preservados para o consumidor de 2022? A previsão, de acordo com a WGSN (Worth Global Style Network), empresa que se apresenta como uma autoridade global em tendências de consumo na atualidade, é que a autoaceitação será um fator importante na hora de consumir. Ou seja, a influência de consumir por idealização - característica da geração millennials - pode não existir mais. O dossiê das gerações da Rock Content explica que, a cada ano, surgem novos estudos sobre o comportamento, interesses e motivações de jovens para entender as necessidades desse público. Contudo, esses estudos não perdem de vista os adultos e idosos - geração X e baby boomers - que também possuem grande representatividade no mercado consumidor. Mas, antes de conhecermos as características de cada geração, é importante saber por quais marcos da história mundial cada uma passou.

Por Matheus Rocha

Clique aqui e assista ao vídeo com os relatos do que cada geração viu:


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DOSSIÊ CONSUMO

FATORES DE INFLUÊNCIA Toda geração tem um ímpeto interior que a leva a consumir. E cada uma delas possui também seu próprio comportamento influenciado por fatores como suas vontades individuais e suas relações sociais. Segundo Rachel Patrocínio, especialista em comportamento do consumidor, há quatro fatores que influenciam na jornada de compra: sociais, psicológicos, culturais e pessoais. “No que diz respeito aos fatores sociais, é importante a gente lembrar que as pessoas gostam de se sentir inseridas em um grupo, e acaba que o consumo de alguns produtos reforça um pouco essas características de pertencimento. Com a internet, o consumidor digital, a gente observa que os grupos de referência e a influência que esses grupos exercem fica infinitamente maior, por isso que a gente tem, hoje, a profissão de influenciador digital. Os fatores psicológicos são as motivações emocionais e sensoriais que são despertadas no consumidor e que farão com que eles criem ou não vínculos com as marcas. O fator cultural faz toda a diferença, é o tipo de crença que a gente tem. E têm também os fatores pessoais e características que dizem respeito sobre como a própria pessoa vai agir, os hábitos únicos que essas pessoas têm, os hábitos individuais que essas pessoas têm. E essas questões, como idade, sexo, ocupação, estilo de vida, personalidade, também impactam”, detalha Rachel. A tecnologia, claro, tem grande influência no comportamento do consumidor. Juliana Lopes de Almeida, especialista em marketing, explica que, apesar disso, não é ela que determina em si o comportamento de consumo. “A tecnologia sempre influenciou em todos os contextos da humanidade. Mas não é uma tecnologia que, de fato, será determinante para a tomada de decisão por uma compra. Vai além da tecnologia, se formos pensar em internet e outros meios de comunicação, tendo em vista que as preferências dos consumidores são determinantes para influenciar uma escolha entre um produto ou outro, ou mesmo entre uma marca e outra”.


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DOSSIÊ CONSUMO

OS BABY BOOMERS Nascidos entre 1940 e 1960, os baby boomers são da geração que viu desde a guerra do Vietnã até a transição da televisão preta e branca para a televisão em cores. Entretanto, apesar de terem presenciado a evolução tecnológica, possuem um comportamento mais tradicional, preferindo os hábitos antigos, como as ligações pelo telefone. Em relação a carreira, essa geração preza por estabilidade, preferindo continuar na mesma empresa por muitos anos, a fim de crescerem profissionalmente e se recusando a trocar de organização com facilidade. Porém, isso não quer dizer que eles não usam as redes sociais atualmente, mas apenas priorizam seu uso por necessidade e busca de informações. As redes sociais que mais utilizam são o Facebook e o LinkedIn. Em relação ao consumo, a WGSN afirma que os baby boomers procuram marcas que sejam tradicionais, pois eles não estão dispostos a experimentar novas marcas. Essa geração é facilmente influenciada pela mídia na hora de consumir, por isso, tendem a serem consumistas e a comprarem imóveis e carros.

GERAÇÃO X A geração X é formada pelas pessoas que nasceram entre 1961 e 1980, e presenciaram desde o golpe militar de 1964 até o surgimento do computador, celular e internet. Assim como os baby boomers, a geração X também preza por estabilidade e busca crescimento profissional. Contudo, essa geração tende a pensar mais nas tomadas de decisões. A WGSN disse que as pessoas dessa geração tiveram que aprender a usar a internet, e suas redes sociais mais utilizadas são o Facebook e o WhatsApp. Entretanto, até hoje, eles também utilizam os meios offline na hora de consumir informações. Possuem perfil competitivo e empreendedor, mas ainda assim são resistentes a mudanças. Essa geração é leal às marcas que consome e não se preocupa em pagar mais por isso. São movidos a status e luxo e, diferentemente dos baby boomers, não são influenciados pela mídia, se importando mais com a opinião das pessoas próximas.

OS MILLENNIALS Conhecida também como millennials, a geração Y denomina todos os que nasceram entre 1981 e 1995. Historicamente, presenciaram desde o desastre atômico de Pripyat até a popularização da internet. Ao contrário das gerações citadas acima, essa está mais aberta a assumir riscos. Em relação ao trabalho, valorizam a empresa, mas não têm receio de aceitar oportunidades melhores. Além disso, prezam por trabalhos que lhe trazem satisfação, procurando por atividades que gostam de realizar.


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Ainda sobre a carreira, segundo a WGSN, a geração Y possui um perfil inovador e criativo, mantém o uso do LinkedIn, porém também usa Instagram, Twitter e TikTok. Estando mais presentes no meio digital, eles adoram compartilhar suas experiências e tendem a substituir compras físicas pelo online. Na hora de consumir, procuram por marcas que demonstram os mesmos valores que eles, entretanto, demonstram mais lealdade aos influenciadores do que às próprias marcas. Por serem imediatistas, esperam que as empresas antecipem suas necessidades e que mostrem novidades, já que não possuem receio do novo. Possuem maior senso crítico em relação às gerações anteriores e, na hora de decidir o que consumir, levam em consideração fotos de redes sociais, indicação de amigos e fóruns de opiniões. Não possuem receio de lojas online e prezam por entregas rápidas, levando em consideração a personalização e experiências que as marcas têm a lhes oferecer.

GERAÇÃO Z Formada por pessoas nascidas entre 1996 e 2010, a geração Z vivenciou o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 e o avanço tecnológico da realidade virtual e aumentada. Apesar de já serem nativos na internet, presenciaram a migração do computador pessoal para o mobile, o que consequentemente os fazem consumir mais internet do que as gerações anteriores. Gostam ainda mais do que a geração Y de expor a sua opinião, pode-se dizer que, na verdade, eles têm essa necessidade. De acordo com a WGSN, a geração Z busca por autenticidade, são criativos, realistas e independentes. Carregam a característica da geração anterior (geração Y) de se preocuparem com sustentabilidade, porém as preocupações são maiores e, com isso, se importam também com o ecossistema e os recursos naturais. Essa geração está totalmente multiconectada, ou seja, navegam pela internet por mais de uma tela ao mesmo tempo, preferem redes sociais visuais, como o Instagram, TikTok e YouTube, mas ainda mantêm o WhatsApp como rede de comunicação. Em relação à carreira, a geração Z é desapegada e busca por um rápido crescimento profissional. Possuem facilidade de adotar o home office, detestam burocracias e querem fazer parte de organizações que admiram e proporcionarão orgulho. Essa geração é muito autodidata e, por isso, aprendem muito por conta própria através da internet, escolhendo mais conteúdos em audiovisual. Na hora de consumir, prezam por marcas realistas, autênticas e que possuem responsabilidade social. Gostam de manter contato com as marcas que admiram, e por isso sempre expressam suas opiniões em relação a elas.


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FUTURO ALPHA A geração alpha são os nascidos a partir de 2010. Por ainda serem crianças, não estão totalmente imersos nas redes sociais, mas já fazem o uso do YouTube. Essa geração, de acordo com a WGSN, é movida por estímulos sensoriais, possui muita facilidade com a tecnologia e com adaptação no geral. Consomem informações através do streaming, realidade virtual, realidade aumentada e gamification. Não sentem dificuldade com o ensino online, porém gostam de aprender através da experiência. Eles ainda não são os decisores no consumo, mas a tendência é que continuem se importando com a inclusão social e os valores que a marca apresenta. Além disso, as características de personalização, facilidade e

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rapidez apresentadas pela geração Z tendem a continuar.


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COMO SERÁ O CONSUMIDOR DE 2022? De acordo com o relatório Internet of Things, publicado pela Ericsson em 2019, a sociedade conectada se estabelecerá em 2022, quando teremos cerca de 29 bilhões de dispositivos conectados na internet em escala global, número que representa 3 vezes a população humana. Mas essas mudanças tecnológicas causarão impacto em nossas vidas. A pesquisa realizada WGSN faz uma previsão anual sobre o consumidor do futuro e analisa a macroeconomia e os propulsores sociais, mostrando quais serão os desejos do consumidor e o novo conceito de poder de compra. A pesquisa também aponta os quatro principais sentimentos do consumidor que impactarão nos hábitos de consumo: o medo, a dessincronização social, a resiliência equitativa e o otimismo radical. Esses propulsores resultam em três perfis de consumidores: os estabilizadores, os comunitários e os novos otimistas. Os consumidores do futuro considerados estabilizadores são formados pelas gerações Y e Z. As preocupações com o ecossistema tendem a aumentar e, por consequência da produtividade e incerteza ambiental, esses consumidores estarão em busca da autoaceitação e estabilidade emocional. Outro fator que influencia é o excesso do digital, pois através dele o contágio emocional se torna constante e as incertezas, ansiedades e exaustões acabam sendo compartilhadas em nível extremo. Uma das características predominantes do consumidor de 2022 é justamente a fusão da busca por aperfeiçoamento e a conformidade pelas coisas como elas são. Isso é chamado de aceitação radical, resultado de um auto aperfeiçoamento excessivo, que na prática acaba trazendo consequências opostas, como a baixa autoestima. “A mudança de comportamento do consumidor ocorre com base nas gerações e alterações econômicas, políticas, sociais e tecnológicas no contexto da vivência em sociedade. Essa mudança tem como princípio a compreensão do que consumimos, qual a frequência desse consumo e na maneira como criamos consciência sobre o que é importante para o indivíduo (necessidades e desejos) e para a sociedade”, explica Juliana Lopes de Almeida, especialista em marketing. Historicamente, esses consumidores presenciaram uma pandemia, por isso esse processo de questionamento e aceitação pode ter sido acelerado. A relação entre marca e consumidor deverá se manter semelhante à mesma relação que a geração Z possui, assim como o sentimento que os leva a consumir. “O sentimento de pertencimento, de se sentir junto à marca,


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como um co-participante do processo”, afirma Juliana. A especialista ainda explica que o perfil do consumidor de 2022 será parecido com o ano atual, acreditando que poucas mudanças ocorrerão em 2 anos. Uma tendência é que o consumidor do futuro continue se importando com as marcas que consome, a compra online se manterá e a opinião das pessoas ainda será um fator relevante na decisão. “Será como é atualmente, uma relação afetiva, de brand lovers, de defensores da marca porque acreditam no propósito da marca ou mesmo no posicionamento dela”, afirma a especialista. Sobre o perfil do consumidor futuro, Juliana ainda reflete: “Em 2 anos, acredito que pouca coisa irá mudar. Tendo em vista as mudanças por gerações, que ocorrem de 30 em 30 anos, ou mesmo quando ocorrem de 15 em 15 anos (no máximo), a gente ainda tem muita coisa para, de fato, ter alterações na maneira como consumimos. O perfil do consumidor de 2022 é aquele que se preocupa com a marca que escolhe para comprar o produto ou serviço, que procura investir em algo que tenha benefício, que prefere compras online, que compara preços de marcas concorrentes, que pesquisa mediante avaliações de outras pessoas para tomar a decisão da compra”. Rachel Patrocínio, também especialista em marketing, concorda que a tendência para 2022 é que a necessidade de se sentir próximo da marca ainda prevalecerá. “O consumidor, de modo geral, espera ações verdadeiras e eles precisam se sentir representados pela marca e o que elas acreditam, pelo seu propósito e pelo Rachel Patrocínio, especialista em marketing. Foto: seu próprio DNA de marca”. Ou seja, estes

arquivo pessoal.

consumidores ainda contarão com os serviços e produtos personalizados. Rachel diz que o consumo por mobile e da jornada omnichannel também é algo que podemos esperar. A especialista explica como funciona este comportamento: “Não existe mais hoje uma jornada de compra linear, a compra acaba passando por vários canais, e sofrendo muita influência tanto online quanto offline. Então existe uma constante movimentação do consumidor entre esses canais. Ele [o consumidor] está lendo o e-mail marketing que a empresa mandou, ele está na rede social acompanhando a marca, ele está na rede social acompanhando o influenciador digital que é embaixador da marca”. Outro comportamento que deverá se manter é a preocupação com a sustentabilidade, a expectativa é de que os consumidores continuem policiando as marcas no quesito de responsabilidade social. Com isso,


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podemos ressaltar mais uma vez como o consumidor preza por marcas que o representem e os valores que elas possuem. Ainda continuarão com o comportamento imediatista e Rachel explica que, por isso, pesquisas por voz e geolocalização são propensão. “As pesquisas têm crescido muito nas buscas “perto de mim”, “próximo a mim”, e existem muitas comunicações também no sentido do “eu”, “estar perto de mim”, o tempo inteiro. Essas buscas por voz, na verdade, estão se tornando quase que diálogos entre

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o consumidor e a marca”.


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APENAS 31% DOS BRASILEIROS PRATICAM O CONSUMO CONSCIENTE Bons hábitos levam em consideração a moda, o meio ambiente e o combate à pirataria Por Fernanda Freitas e Sarah de Aquino A sociedade contemporânea é rotulada por acadêmicos, intelectuais e profissionais de diversas áreas como a sociedade do consumo. Nesse sentido, Lívia Barbosa, em seu livro Sociedade de Consumo, expõe algumas abordagens para definir tal termo. Uma delas trata da alta taxa de consumo e descarte, produção em massa para as massas, presença da moda e sentimento permanente de insaciabilidade. Com o processo de globalização e o mundo capitalista neoliberal, acaba-se criando uma ideologia concisa baseada nas relações de consumo, formando-se, assim, a cultura do consumo, uma esfera da vida social. O forte impacto da internet nas culturas ocidentais, interligado a esses fatores, faz com que as instituições sociais, como religião e Estado, agreguem esse novo comportamento e passem a influenciar o consumo. Esse incentivo acarreta no consumismo, que é considerado um desejo impulsivo, descontrolado, irresponsável e, muitas vezes, irracional.

O QUE É CONSUMO CONSCIENTE As redes sociais digitais inflamaram uma tendência de superexposição de seus usuários. Mas muitas pessoas, numa tentativa de fugir da realidade insatisfatória, acabam criando uma vida digital paralela, onde só são ostentados seus ‘melhores momentos’. A melancolia que sentimos ao usar o Instagram não é à toa, pois é a rede mais nociva à saúde mental, principalmente para os jovens, como mostra pesquisa da Royal Society for Public Health, do Reino Unido. Para suprir o anseio de se sentir parte da wonderland digital, somos influenciados a adquirir diversos produtos para criar identificação com aquilo, alimentando uma cadeia consumista em busca da ostentação. A pesquisa também mostrou que as redes sociais são mais viciantes que álcool e cigarro, daí a dificuldade de abandoná-las. Mas esse mesmo


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ambiente insalubre pode fazer surgir e impulsionar debates importantes para a sociedade. Se há ostentação, há a conscientização sobre os impactos desse estilo de vida e sobre o que é o consumo consciente. Mas, afinal, o que é consumo consciente? É, primeiramente, a percepção às consequências, boas ou ruins, do consumo de todos os produtos e serviços. Não é possível consumir sem causar impactos, contudo, escolhemos a forma de impacto que causamos na natureza, nas pessoas envolvidas com o que consumimos e na sociedade. A importância de levarmos uma vida mais sustentável é reforçada todos os dias nas redes sociais, já que as consequências de hábitos consumistas nos trouxeram a uma crise climática e à breve escassez de recursos. Usando de ferramentas como Instagram e YouTube, foi e é possível compartilhar informações sobre consumir de maneira consciente e as

Por Matheus Rocha

responsabilidades dessa prática.

UM PANORAMA DO BRASIL Segundo dados do Banco Mundial, o 4° maior produtor de lixo plástico no mundo é o Brasil, gerando 11.3 milhões de toneladas por ano, ficando atrás dos Estados Unidos, China e Índia. Mesmo com grande parte desses resíduos sendo coletada, apenas 1,28% é realmente reciclada, já que há perdas na separação de tipos de plásticos, por motivos como estarem contaminados, serem multicamadas ou de baixo valor. Com base nesses dados, a ONG World Wide Fund for Nature fez um levantamento que apontou uma produção média de aproximadamente um quilo de lixo plástico por habitante a cada semana no país. Pensar em substitutos para o plástico já não é difícil, o uso de outros materiais recicláveis e reutilizáveis, como o canudo de metal, são alternativas comuns, porém não são alternativas economicamente acessíveis.


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Em um país desigual como o Brasil, produtos sustentáveis são um luxo para poucos. A questão financeira é o que mais pesa na adoção de práticas de consumo responsável. Mesmo 98% da população considerando adoção de melhores hábitos de consumo, a minoria os coloca em prática, como revelou uma pesquisa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Realizada em 2018, a pesquisa ouviu consumidores de todos os estados brasileiros e traçou o

Por Lorena Gomes

perfil da população referente às boas práticas de consumo.


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Apesar dos dados apontarem para a pequena parcela de brasileiros que trazem o consumo consciente para o dia a dia, a pesquisa traz dados interessantes sobre como há um movimento para mudar essa realidade. Foram separados três grupos de perfis de consumo: consumidor nada ou pouco consciente - não possui bons hábitos de consumo; consumidor em transição - possui bons hábitos de consumo, mas não o desejável; e consumidor consciente. A maioria dos cidadãos entrevistados se encaixa no grupo de ‘consumidores em transição’, representando 55% dos entrevistados. O grupo de ‘consumidores nada ou pouco conscientes’ representa 14%, enquanto os ‘consumidores conscientes’ somaram 31% dos dados. Os dados foram utilizados no Índice de Consumo Consciente (ICC), que fechou em 73% - em um índice que vai de 0 a 100% -, e teve alta de 1% com relação ao ano anterior (2017).

NÃO VALE TUDO Consumir conscientemente não está ligado apenas à valor e qualidade dos produtos. Também é preciso ficar atento às indústrias que utilizam trabalho escravo e financiam organizações criminosas, além de prejuízos ao meio ambiente. Ser consciente também é não financiar o mercado ilegal. Financeiramente, o controle do gasto familiar no Brasil incorpora hábitos que ajudam a poupar dinheiro, como fazer em casa serviços que poderiam ser contratados. E visando a economia, 58% dos entrevistados admitiram que compram produtos falsificados com frequência. Mas essa economia tem um custo alto para as empresas, governo e principalmente para o consumidor que, ao adquirir produtos sem nenhuma procedência, pode colocar sua segurança e saúde em risco. Além disso, o consumidor não terá suas garantias asseguradas pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), uma vez que a compra foi feita na ilegalidade. Um levantamento do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) mostrou que o Brasil perdeu, em 2019, R$291,4 bilhões com a venda de produtos ilegais em 15 segmentos distintos. Os setores que mais tiveram prejuízos são de vestuário, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, e combustíveis. Os valores somam preço dos produtos e

Por Lorena Gomes

impostos.


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As perdas bilionárias correspondem a, no mínimo, 7,85% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. A média para países latino-americanos é de 2%, conforme estimativa da Aliança Latino-Americana Anticontrabando (ALAC). Um dos setores mais afetados é dos cigarros, 57% do produto no país é de contrabando.

CONSUMIR COM INTELIGÊNCIA Os recentes períodos de crise influenciaram na adoção de bons hábitos de consumo, conforme afirma o educador financeiro José Vignoli. “A crise, ainda que à força, vem ensinando aos brasileiros muitas lições valiosas sobre economizar e pesquisar antes de sair comprando. Não se trata de simplesmente frear o consumo, mas sim de entender que é preciso comprar com inteligência”. Esta é uma tendência que pode ganhar cada vez mais força, principalmente pelo período de turbulência que a pandemia do novo coronavírus causou na economia mundial. E também pelo maior debate ambiental propiciado por episódios recentes da degradação do Pantanal e Amazônia pelas queimadas. A pesquisa da CNDL também abordou a adoção de hábitos sustentáveis ambientalmente como consumo de água, energia e uso de lâmpadas LED. Fechar a torneira enquanto escova os dentes, ensaboar a louça com a torneira fechada, não lavar calçada com mangueira e controlar a conta de água foram hábitos apontados por mais de 80% dos entrevistados. Quanto ao uso da energia elétrica, apagar luzes quando não há ninguém utilizando, controlar o valor da conta e passar roupas apenas em quantidades consideráveis também somaram mais de 80% dos cidadãos. A adoção de lâmpadas de LED, 73%, e a verificação do consumo de energia dos

Por Lorena Gomes

eletrodomésticos, 76%.


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MODA CONSCIENTE A busca da indústria da moda por ser mais sustentável é urgente. Sozinha, a moda é responsável por algo entre 8% e 10% das emissões globais de gases-estufa, é o segundo setor da economia que mais consome água e produz cerca de 20% de águas residuais do mundo. Segundo o Relatório da Indústria da Moda, em 2015, o setor consumiu 79 bilhões de metros cúbicos de água, além de liberar 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos anualmente. O consumo de peças de vestuário atualmente chega a ser, em média, 60% a mais do que há 15 anos, sendo que o tempo

Por Lorena Gomes

que cada peça permanece no armário caiu pela metade.

A preocupação fez com que a Organização das Nações Unidas (ONU) criasse a “Aliança das Nações Unidas para a Moda Sustentável”, que tem como objetivo apoiar a coordenação entre os órgãos da ONU que trabalham no setor e promover projetos e políticas que garantam que a cadeia da moda contribua para o alcance das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Consumir “moda consciente” não é, necessariamente, sobre escolher um produto eco-friendly, mas sim sobre ser consciente do que se está comprando. “A moda consciente parte da premissa de que há uma racionalidade criativa e de gestão, em função de um olhar apurado do entorno. Já a moda sustentável gera meios para que ações sustentáveis sejam promovidas, em relação à matéria-prima, pessoas, controle financeiro, dentre outros”, afirma Flávia Virgínia, coordenadora da pós-graduação em Moda e Inovação do UniBH.


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Saber de onde as peças vieram, quem as fabricou e em quais condições, do que ela é composta e como essas fibras foram produzidas faz parte de se estar consciente, e são objetivos do movimento global Fashion Revolution, que visa uma indústria da moda mundial que conserva e restaura o meio ambiente e valoriza as pessoas acima do crescimento e do lucro. O movimento incentiva as pessoas a buscarem informações sobre suas roupas, transparecendo os impactos das peças que consumimos, levando as marcas a se preocuparem com seus produtos. A busca por uma moda consciente deu origem a marcas como a PódeSim, de Belo Horizonte, que cria acessórios a partir de resíduos têxteis. “Depois de várias pesquisas para descobrir um problema em potencial, nos deparamos com os impactos negativos da moda no planeta. Foi um choque. E não existia gerenciamento de resíduo têxtil no Brasil. Isso brotou em nós uma vontade muito grande de resolver esse problema”, afirma Grazy Mendes, uma das três fundadoras da marca. Todos os descartes de tecidos são passíveis de reaproveitamento, mas alguns tecidos, principalmente os de fibras sintéticas, não podem ser reciclados, porque ainda não existe tecnologia para esse processo. Contudo, nada impede que sejam reutilizados. “O principal ponto é impedir que o resíduo vá parar no aterro sanitário”, conclui a empresária. A mudança necessária na indústria fashion começa a partir do momento em que há investimento na educação das pessoas, pois assim a demanda vai se alterar nas mais diversas cadeias. “Acredito que a demanda só virá quando percebermos que a sustentabilidade não deve ser uma etiqueta de separação de classes, como tem sido pautada, mas uma questão social e cultural, articulada a políticas públicas”, afirma a professora Flávia Virgínia. “Existem frentes de economia colaborativa, design circular e redesign, para citar algumas. O slow fashion, que é moda lenta, ou seja, o contrário da fast fashion, ou moda rápida, diz sobre uma moda que é feita no seu tempo, usando de recursos e técnicas menos mecanizadas e, consequentemente, geram menos impacto ao meio ambiente e agregam para si um valor de manufatura completamente diferente da roupa feita em série”, finaliza Flávia. Rever as práticas dessa indústria se tornou fundamental com o “boom” das fast fashions, somado aos escândalos da mão de obra escrava, à crise climática, ao maior acesso à informação e à uma geração de pessoas que visa propósito.


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MARKETING DE INFLUÊNCIA COMO ESTRATÉGIA DE VENDAS 45% das pessoas afirmam já ter comprado algum produto por indicação de suas personalidades favoritas Por Laura Mourão O brasileiro passa, em média, 9 horas por dia conectado à internet. E, dessas 9 horas, grande parte do tempo conectado é gasto dentro das redes sociais. Nesta terra de consumo de dados, os influenciadores são os reis e rainhas dos conteúdos: 71% das pessoas conectadas afirmam seguir algum tipo de influenciador e 62% afirmam possuir um influenciador favorito. Influencers, ou influenciadores digitais, são pessoas presentes em redes sociais, e outros veículos de troca de informação no meio digital, que possuem um grande volume de pessoas engajadas com seu conteúdo (números que chegam a milhões de seguidores) e alto poder de influência sobre elas. Existem influenciadores dos mais diferentes segmentos, como moda, empreendedorismo, estética, humor e educação. É importante entender que os influenciadores constroem afinidade com seus seguidores. Essa aproximação gera confiança, e confiança gera vendas. Não à toa, 45% das pessoas afirmaram já ter comprado algum produto por indicação de suas personalidades favoritas.

AFINAL, O QUE É MARKETING DE INFLUÊNCIA? Marketing de influência, ou influencer marketing, é uma estratégia de marketing digital que envolve produtores de conteúdo independentes com influência sobre grandes públicos altamente engajados. O objetivo de trabalhar com esses produtores de conteúdo, conhecidos como influenciadores digitais, é criar uma ponte entre uma marca e o público influenciado por eles, impactando positivamente na estratégia de marketing digital. Através dessa identificação do público com o produtor de conteúdo, as marcas encontram uma oportunidade de estabelecer parcerias com os influenciadores para que utilizem, apresentem e divulguem seus produtos e serviços.


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Por Matheus Rocha

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Hoje em dia, já existem empresas especializadas em marketing de influência no Brasil, como a Metrópole 4, de Belo Horizonte. “Muito mais que um sistema para encontrar influenciadores, a plataforma da Metrópole 4 é uma solução completa, capaz de contratar influenciadores, realizar campanhas de marketing de influência do início ao fim, e medir os resultados alcançados. Nosso time de especialistas em marketing digital auxilia clientes e influenciadores digitais a criarem campanhas criativas, autênticas e engajadas, transformando experiências da vida real em conexões entre marcas e pessoas”, afirma o CEO da empresa, Edson Rocha. Para Edson, trabalhar com o marketing de influência é propagar, por meio de uma voz forte, admirada e detentora de credibilidade, informações que influenciam no caminho do consumidor até a compra, de forma a favorecer a marca. Investir nesse tipo de estratégia tem gerado grandes resultados para as marcas, principalmente pela possibilidade de segmentar suas ações, escolhendo que tipo de público atingir de acordo com o objetivo da campanha. Na Metrópole 4, o contato da marca com o influenciador funciona como um “match”. Após o primeiro briefing com a marca, é feita uma procura – através de uma tecnologia de rastreamento nas redes sociais – por influenciadores que possuem sinergia com a campanha e que desejem participar dela. Em seguida, esses perfis são apresentados para a marca como sugestões, em caso de aceitação de ambos os lados, a campanha é desenvolvida.


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INFLUENCIE REPRESENTATIVIDADE Ao pensar em representatividade, algumas lutas e bandeiras podem automaticamente vir à cabeça, como o combate ao racismo, os debates feministas, a luta pelos direitos LGBTQIA+ e as reivindicações indígenas. Mas o que essas lutas têm em comum? Esses grupos são considerados minorias sociais, ou seja, tais pessoas não são representadas no espaço público, como na política, na televisão, em novelas, filmes, no jornalismo, nos cargos de maior poder e prestígio social. Representatividade é se sentir parte de uma representação, ou seja, enxergar em um reflexo seus interesses, traços da sua aparência/ personalidade/identidade,

classe

social,

nicho

ou

minoria.

A

representatividade não é apenas a organização de grupos buscando que seus interesses sejam representados e garantidos, mas é sobretudo parte da formação do que é o indivíduo que compõe esse grupo. A agência Heads, em parceria com a ONU Mulheres, divulgou uma nova edição de sua pesquisa sobre a representatividade de gênero e raça na publicidade brasileira. A sétima edição do estudo “TODXS – Uma análise da representatividade na publicidade brasileira” mostra que, apesar de estar em evolução, o mercado nacional ainda precisa quebrar estereótipos e se conectar com os consumidores de forma mais relevante. Segundo a pesquisa, entre os homens protagonistas de propaganda de TV, os negros são 9%. Entre as mulheres, o índice chega a 25%, o maior da série até agora, mas um número ainda distante da realidade brasileira, onde a população é de 55,8% de pretos e pardos, segundo o IBGE. Quando olhamos os coadjuvantes, o percentual de negros é bem mais representativo, podendo ser maioria em alguns casos. Isso significa que a diversidade ainda fica em segundo plano e o protagonismo continua majoritariamente branco. A pesquisa também traz dados sobre as representações e seus papéis nos filmes: os segmentos de produtos de limpeza, telecomunicações, alimentos, beleza e cosméticos e produtos farmacêuticos utilizam totalmente ou quase totalmente da imagem da mulher. No caso dos homens, os segmentos responsáveis por usar suas imagens são sites e aplicativos, seguradoras, entretenimento, combustíveis, construção e eletrônicos. Essas informações deixam clara a persistência dos estereótipos no mundo da publicidade e também mostram que apesar da questão estar sendo amplamente discutida, o avanço ainda acontece em um ritmo muito lento. Pensando nisso, cada vez mais marcas estão buscando aumentar a representatividade em campanhas de marketing. O marketing de influência, por sua vez, também agrega na representatividade, por estar presente nos mais diversos nichos. O que


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pode ser algo polêmico já que, comumente, tem-se levantado o debate sobre o mau uso desses influenciadores por parte das marcas. Por isso, faz-se importante estabelecer um pensamento crítico sobre até que ponto o marketing, como um todo, tem buscado realmente essa representatividade ou somente a atração de públicos específicos. A exigência de mais representatividade nas redes sociais ganha destaque especialmente no marketing de influência. As pessoas procuram por quem mais se parece com elas, por isso, o cenário tende a ser cada vez mais diverso. Com esse cenário, parte das agências e anunciantes já olha para a diversidade como ponto de partida para a criação de campanhas. Isso mostra também um pouco das preferências das novas gerações, que se mostram cada vez mais conscientes sobre as questões sociais. Com um público com esse perfil, é natural que as marcas acompanhem e procurem por influencers que transmitam essa visão. A modelo e digital influencer negra, Laís Lima, acredita que a representatividade no meio da publicidade é importante para que as pessoas tenham as mesmas oportunidades de trabalho dentro do mercado da internet. “Claro que, com os últimos acontecimentos, as empresas passaram a ter um novo olhar quanto à representatividade, porém estamos muito longe ainda de conquistar nosso espaço nesse meio. Podemos ver que muitas empresas falam em representatividade, mas quando se entra no perfil destas, não vemos o que dizem”, afirma Laís. Laís ainda fala que já perdeu algumas oportunidades de trabalho por ser negra. “Perdemos trabalhos por optarem por pessoas brancas. No meio ‘Miss’ por exemplo, para que eu possa vencer um concurso, preciso estar em um nível muito superior para chegar ao mesmo nível que uma outra mulher branca, apenas pela diferença de cor e por já terem um ‘padrão’ de mulher”, completa a modelo. Para ela, as marcas podem ajudar nas lutas sociais através de divulgação dos movimentos, tendo a representatividade de forma assertiva.

VIVO DISSO Esse mercado de marketing de influência está claramente em ascensão. Algo que 10 anos atrás seria improvável, hoje se faz como plano de carreira de muitas pessoas. A youtuber e influencer, Mayara Guimarães, começou seu canal em 2015, sem muita pretensão de um retorno. “Sempre consumi muito conteúdo na internet, mas nunca tive esse ‘chamado’ para trabalhar com isso. Até que passei por uma grande transformação em meu cabelo e senti que precisava compartilhar com as pessoas, e isso despertou algo em mim. Se eu conseguisse atingir uma pessoa com meu conteúdo, eu tinha atingido meu propósito, e para o meu espanto, deu muito certo”, afirma Mayara, que hoje tem o marketing de influência como sua principal fonte de renda.


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DOSSIÊ CONSUMO Mayara afirma que seu maior desafio é inovar na internet, trazendo um conteúdo de relevância para conseguir se manter, sem focar apenas no dinheiro, cocriando com as marcas. Tendo constância e consistência para fidelizar as pessoas que te seguem. Há poucos anos, nem todas as marcas eram engajadas com os influenciadores, era mais uma relação de troca. “Eu te dou meu produto e, em troca, você divulga minha marca”, a questão do “recebidos” era muito forte. Na medida em que o tempo foi passando, não só os produtores de conteúdo foram amadurecendo, e vendo que essa divulgação é um trabalho e que

Mayara tem o conteúdo de marca como sua maior fonte de renda. Foto: reprodução Instagram @maya.guim

precisava ser monetizado, mas as marcas também passaram a conscientizar que era necessário monetizar esse serviço.

“No início, eu tinha muita dificuldade em me posicionar, mas eu fui entendendo que essa era a minha fonte de renda e a partir desse posicionamento eu comecei a filtrar as marcas que eu divulgava de acordo com meu valor. A partir do momento que eu comecei a me valorizar, as marcas começaram a me enxergar de maneira diferente também”, afirma Mayara.

PRODUTOS AFRO E EMPRESARIADO NEGRO Maior debate sobre representatividade acarreta em mudanças nos hábitos de consumo, dá origem a novos movimentos sociais e obriga marcas a se movimentarem Por Emannuelly Gomes e Mariana Costa Um vídeo divulgado no final do mês de maio causou uma onda de indignação e reacendeu os debates sobre racismo nos Estados Unidos. Nas imagens, um homem negro reclama de não conseguir respirar, enquanto um policial branco está ajoelhado sobre o pescoço dele. George Floyd, um afro-americano de 40 anos, morador da cidade de Minneapolis, é mais uma vítima da maneira violenta com que a polícia dos Estados Unidos trata negros suspeitos de cometerem crimes. George morreu, e este não foi o único caso.


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Em março, Breonna Taylor, de 26 anos, foi morta em uma troca de tiros com policiais, dentro de seu apartamento, na cidade de Louisville, no Kentucky. Essas duas mortes provocaram grandes e violentas manifestações contra a crueldade policial diante da população negra americana. E os protestos se espalharam pelo mundo. No Brasil, os casos de racismo se multiplicaram. João Pedro Mattos, de 14 anos, foi morto durante uma operação policial na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. O corpo do jovem foi levado pelos policiais e a família passou 17 horas sem saber seu paradeiro. Já Miguel Otávio, de 5 anos, morreu ao cair do 9° andar de um prédio de classe média alta no Recife. O menino estava aos cuidados da patroa de sua mãe, enquanto ela passeava com o cachorro da família para qual trabalhava. Esses casos se somam ao do motoboy Matheus Pires, vítima de ofensas racistas ao fazer uma entrega, em um condomínio de luxo, na cidade de Valinhos, interior de São Paulo. E ao da juíza Inês Marchalek Zarpelon, da 1ª Vara Criminal de Curitiba, que citou a raça do réu como justificativa para condená-lo por fazer parte de uma organização criminosa.

RACISMO ESTRUTURAL Segundo o advogado e professor Sílvio de Almeida, em seu livro Racismo Estrutural, esse fenômeno é “um processo histórico e político em que as condições de subalternidade ou de privilégio de sujeitos racializados são estruturalmente reproduzidas”. Para ele, em sua concepção estrutural, o racismo é tratado como “normalidade, funcionando tanto como uma ideologia quanto como uma prática de naturalização da desigualdade”. Portanto, colocar pessoas negras em posição de inferioridade seria um comportamento considerado normal na sociedade. E os casos recentes, tanto nos Estados Unidos como no Brasil, confirmam essa percepção. No entanto, existem alguns movimentos que pretendem vencer o racismo estrutural e ressignificar o lugar da população negra na sociedade. O objetivo é empoderar negros e fazer com que eles encontrem alternativas para quebrar o ciclo de preconceito e discriminação a que são submetidos durante séculos de exploração.

“PADRÕES SUBALTERNOS” “Cabelo ruim. Cara de empregada. Nega maluca. Cara de bandido. Nariz de batata. Nega feia. Coisa de preto. Essas são algumas palavras e expressões diretamente ligadas às pessoas negras no Brasil”. É assim que começa o vídeo ‘Um novo olhar sobre a pessoa negra’, o TEDx de Gabi Oliveira no YouTube, com mais de 200 mil visualizações. A comunicadora social e youtuber é dona do canal De Pretas, que conta com cerca de 224 mil inscritos.


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Ela relembra que, nos anos 80 e 90, as referências das meninas eram as apresentadoras infantis Xuxa, Angélica e Eliana. Esse era o padrão de beleza a ser seguido e alcançado. Já as pessoas negras eram sempre representadas pelos mesmos estereótipos: a empregada que está servindo aos patrões, o escravo, o bandido, o menino de rua abandonado, a barraqueira da comunidade. Todos eles reforçados pelo mito da democracia racial em que, devido à miscigenação, o racismo não existiria no Brasil. Gabi descreve a difícil tentativa de se adequar a esses padrões na infância, quando costumava colocar um pregador de roupas no nariz, durante algumas horas por dia. Para ela, seu nariz não era considerado bonito. “O que eu escutava era: nariz bonito, é nariz fino. Cabelo bom, é cabelo liso”, diz. O que Gabi e outros youtubers, como Nátaly Neri e Spartakus Santiago, questionam não é a falta de representatividade de pessoas negras na televisão, mas sim a forma como elas eram representadas. Sempre por meio de estereótipos e nas mesmas posições subalternizadas em relação aos brancos.

Divulgação da série Ubuntu, da TV Brasil. Foto: Fernando Frazão - Agência Brasil

Eles acreditam que, para iniciar uma mudança, seria necessário um esforço, muito insistente, de representação de negros em outros lugares na sociedade. É preciso construir uma narrativa inovadora, impactando positivamente as pessoas e causando uma transformação social. As pautas dos vídeos destes criadores de conteúdo não se limitam ao racismo, eles falam sobre maquiagem, relacionamentos, viagens, alimentação, moda, música, comportamento. “Porque nós existimos e para além do racismo e dos estereótipos que nos foram impostos”, enfatiza Gabi.


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E as transformações já podem ser observadas em alguns hábitos de comportamento e consumo da população negra nos últimos anos.

PRODUTOS AFRO Em 2017, pela primeira vez na história, pesquisas na internet relacionadas a cabelos cacheados superaram as buscas por cabelos lisos no Brasil. Os dados são do Google BrandLab e apontam um crescimento de 232% no interesse por cabelos cacheados e 309% nas pesquisas por cabelos afro nos últimos anos. O estudo mostra ainda que 24% das mulheres de 18 a 24 anos reconhecem seu cabelo como cacheado. Porém, quanto mais avançada é a idade da mulher, mais difícil é assumir os fios naturais. “É sim uma tendência muito grande as mulheres assumirem os cabelos naturais, tanto em relação a alisamentos, progressivas, quanto em relação a assumir os fios brancos. Existe um movimento muito grande pelos cabelos naturais mesmo. Porém, a mulher negra que alisa o cabelo está sendo ‘marginalizada’ porque não assume a negritude em relação ao cabelo afro, cacheado”, reflete a cabeleireira Sarah Lemos. O YouTube é apontado como um dos principais responsáveis pela tendência de as mulheres mais jovens quererem assumir seus cabelos naturais e deixarem de recorrer ao alisamento. Muitas youtubers começaram movimentos de apoio aos cachos, fazendo com que a indústria de cosméticos tivesse que correr atrás para oferecer produtos para os inúmeros tipos de cabelos cacheados e crespos. Segundo o Google BrandLab, as buscas por transição capilar - o processo de abandonar os alisantes químicos e assumir os cachos naturais - cresceram 55% no Brasil nos últimos quatro anos. Atualmente, diversas marcas de produtos para cabelos, desde as mais caras e sofisticadas, como a Kérastase, até as populares, têm uma linha específica para cabelos crespos e cacheados. A Salon Line, por exemplo, possui linhas exclusivas para cabelos cacheados, crespos ou em transição capilar, com produtos ideais para cada tipo de curvatura. Já a Seda lançou o movimento ‘Sonhos incríveis demais para não serem realizados’, com o objetivo de valorizar as diferentes curvaturas de cabelo, mostrando que, além de explorar as possibilidades com ele, as meninas também devem explorar novas possibilidades de sonhar. E a garota propaganda escolhida pela empresa para estrelar a campanha é Gabi Oliveira. “A indústria cosmética também cresceu muito em relação a produtos para cachos e para cabelos grisalhos. Hoje em dia, o mercado para esses tipos de cabelo está muito amplo. São cremes, óleos, shampoos, hidratações específicas para cabelos cacheados. A maioria das marcas têm linhas específicas para todos os tipos de cachos e curvaturas”, reafirma a profissional Sarah Lemos.


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A cantora Rihanna é outra que está contribuindo para transformar e democratizar o mercado da beleza. Em 2017, ela lançou a Fenty Beauty, sua linha de cosméticos, com 40 tons de bases e corretivos. Hoje já são 50. Seu objetivo é beneficiar pessoas que já passaram por situações semelhantes às dela: de não encontrar cores correspondentes ao seu tom de pele entre os produtos de beleza. Já a também cantora, e publicitária de formação, Iza, é a nova diretora criativa e embaixadora da Olimpukus, maior marca de produtos esportivos do país. Ela vai participar da elaboração das campanhas da marca, além de ser responsável pelo desenvolvimento de uma coleção que chega ao mercado em março de 2021, mostrando que a representatividade negra

Por Lorena Gomes

está mesmo em alta.


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EMPRESARIADO NEGRO O estudo Empreendedorismo Negro no Brasil 2019, realizado pela PretaHub, uma aceleradora voltada para este público empreendedor, em parceria com JP Morgan e Plano CDE, traçou o perfil do empreendedor negro brasileiro: a maioria identifica-se como pardo (81%), é mulher (52%), tem menos de 40 anos (69%), mora nas regiões Sudeste (40%) ou Nordeste (31%), estudou até o Ensino Médio (49%) e possui renda familiar de até R$ 5 mil (37%). Já uma pesquisa realizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), mostrou que 49% das empreendedoras negras no país abriram as suas empresas por falta de oportunidade de trabalho e são as que menos faturam com os seus negócios. Acesso a crédito, gestão financeira e falta de apoio no planejamento do negócio são alguns dos principais desafios enfrentados. Além disso, 32% desses empreendedores já tiveram crédito negado sem explicação, de acordo com estudo feito pela PretaHub. A professora, pesquisadora e editora Íris Amâncio se encaixa um pouco nesse perfil. Embora tenha começado a expandir seu negócio por uma necessidade de outra ordem que não a financeira. Desde o final dos anos 1990, ela trabalhava como pedagoga, na formação de professores, além de exercer atividades de militância negra, palestras e formação de um coletivo nas periferias. Nesta mesma época, junto com a amiga Rosa Margarida, sentiu a necessidade acadêmica de ter e disponibilizar publicações de autores negros, africanos e de vários outros países. “Percebemos que, em termos de estudos acadêmicos, nós tínhamos acesso somente à cópia da cópia. Um docente chegava para assumir uma disciplina e levava cópias de obras raríssimas, em inglês, não tinha tradução”, conta. As duas decidiram, então, abrir uma livraria que reunisse vários títulos que eram indisponíveis para elas e demais colegas, estudantes e pesquisadores. Em 2006, inauguraram uma pequena livraria na Savassi, área nobre de Belo Horizonte, chamada Nandyala. O termo é da etnia Nyaneka-Humbi, do sudoeste de Angola, e significa “nascido em tempo de fome”. A origem tem inspiração na tradição oral africana, em que o ser que nasce recebe um nome que corresponda às condições do nascimento. “E, como nessa época, Rosa Margarida e eu estávamos muito animadas, com uma vontade incontida que nos levou a abrir o negócio, escolhemos o termo”. A ideia inicial era, em 10 a 15 anos, com trabalho e acumulando capital, começar a editar livros. No entanto, em 2007, elas foram procuradas por uma escritora negra da Guiné Bissau que precisava ter suas obras publicados no Brasil. A guineense seria conferencista em um congresso na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e não tinha exemplares


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para apresentar. Para colaborar com a escritora, Íris e a sócia buscaram parcerias com editoras que quisessem publicar os livros da conferencista. No entanto, encontraram dificuldades. Uma editora demonstrou interesse, mas faltando 15 dias para o evento, desistiu. “Ah não. Vai ser uma furada porque esses africanos não vendem”, relata Íris sobre o que ouviu como justificativa. Não querendo deixar a amiga na mão, elas assumiram a publicação. A obra foi lançada e o sucesso foi imediato. Os mais de mil inscritos no evento se encantaram com a publicação e passaram a querer publicar pela Nandyala. “Nosso trabalho de edição surgiu colaborativo, para poder garantir que uma escritora negra e africana pudesse ter a sua obra disponível, circulando no Brasil. E mantivemos esse propósito para o projeto editorial. É perfil da Nandyala, editar autoras e autores negros que não tenham trânsito no mercado. Ao mesmo tempo consideramos grandes talentos intelectuais que o grande mercado desperdiça”, explica. Portanto, a editora não surge a partir de uma decisão prévia, com plano de negócios, buscando investidores anjo e ser um nicho de mercado. “A nossa origem não foi e não é mercadológica, comercial. Nós começamos a partir de uma militância antirracista e avançamos da condição de livraria para editora em uma perspectiva bastante colaborativa”. Atualmente, as obras publicadas pela Nandyala circulam não só nacional, como internacionalmente. “Leitores de países africanos de língua portuguesa, pesquisadores dos Estados Unidos, França e outros países europeus e da América Latina adquirem as nossas publicações. E isso é motivo de muita satisfação para nós”. Com 14 anos de atividade, os princípios e ideias iniciais se mantêm. Porém, Íris conta que ela e a sócia enfrentaram dificuldades. “Nós não éramos empresárias e tínhamos um negócio. E não tínhamos nem visão empresarial. Foi um momento de dificuldade interna, pessoal. Mas a principal dificuldade da Nandyala como empresa é se posicionar no mercado como um todo. É uma dificuldade natural de toda empresa pequena, já que o mercado se impõe com sendo só para os grandes. Mas a Nandyala nunca dependeu desse grande mercado para funcionar”, explica. Íris destaca que tiveram muito apoio do Sebrae, que inclusive chegou a procurá-las para saber mais sobre empreendedorismo negro ou afroempreendedorismo. E ela confessa que não gosta do termo. “Em relação à nossa história social de negras e negros no Brasil, nós sempre fomos empreendedores. Se estamos vivas e vivos até hoje, depois de toda essa trajetória, dessa experiência absurdamente violenta, chocante e dramática que foi a escravidão das pessoas negras, (...) todo mundo deslocado das suas terras de origem. Acaba revelando historicamente a


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força, a resistência e, ao mesmo tempo, um potencial muito grande para se reinventar(...), sempre pensando na perspectiva o que fazer, como construir, como gerar, produzir e viver, com qualidade”. Diante disso, a editora questiona o uso do termo empreendedorismo negro, preferindo adotar empresariado negro. Ela acredita que esse termo não pode ser visto como uma forma de empoderamento da população negra. “Quando houver política efetiva de colaboração e de consolidação das práticas comerciais negras, para que esses empresários consigam estruturar as suas empresas, aí sim vamos poder falar de empoderamento da população negra. Em termos de relação de poder, esses que são chamados de empreendedores negros vão ficar eternamente fazendo feira? Montando seus estandezinhos aqui e ali nos eventos? E isso é empreendedorismo negro: vai pra mídia e fotografa, filma, entrevista, todo mundo se sente bem, porque está em evidência. Mas a meu ver é muito questionável”. Íris ressalta também que a pandemia deixou essa contradição mais evidente. Os empresários negros enfrentam dificuldades em conseguir crédito e investimento para seus negócios. “Nós não podemos cair nessas situações que acabam sendo um pouco dissimuladoras de uma realidade que é a realidade do racismo. E nós não recebemos as mesmas opções de empréstimos e financiamentos que empresários brancos, simplesmente

Por Lorena Gomes

pelo fato de sermos negros. Isso é racismo”.


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AFROFUTURISMO E ANCESTRALIDADE Wakanda para sempre! Se você assistiu ao filme Pantera Negra, de 2018, com certeza conhece essa saudação. O longa é um autêntico representante do afrofuturismo para o grande público, abordando a cultura e ancestralidade africanas, com embates sociais, por meio da ficção científica. Mas, afinal, o que é afrofuturismo, como ele surgiu, que outras obras fazem parte do movimento e qual a sua importância para a discussão do racismo na sociedade do século XXI? O afrofuturismo é um movimento estético, social, cultural e político que mistura elementos de ficção científica com história, fantasia e temáticas afrocêntricas, tendo o negro como protagonista. O objetivo do movimento é retratar os dilemas vividos por essa população, além de interrogar eventos históricos relacionados ao racismo global. O termo foi usado pela primeira vez pelo crítico cultural Mark Dery, em 1994, quando publicou um ensaio chamado Black to the Future. Nele, Dery descreve as características comuns entre ficção científica, música e arte afro-americanas e apelidou o fenômeno de afrofuturism. Porém, muitos estudiosos concordam que, já na década de 1950, existiam produções afrofuturistas, apesar do gênero ter ganhado força apenas nos anos 1990. O livro Invisible Man, de Ralph Ellison, publicado em 1952, é considerado o primeiro marco do movimento. Na obra, o autor critica as previsões tradicionais para o futuro dos negros nos Estados Unidos, embora não ofereça aos leitores um futuro diferente para se imaginar. Já na música, o pioneiro foi Sun Ra que, em meados da década de 1950, usava títulos afrocêntricos e temas ligados à cultura africana antiga, especialmente do Egito, com a vanguarda da era espacial, em suas canções. Em 1975, George Clinton reviveu a cultura afrofuturista, apresentando-a ao grande público por meio de sua banda Parliament-Funkadelic. Os dois artistas criaram visuais próprios, como extraterrestres que resgatam negros americanos das naturezas opressivas da Terra. A modelo, atriz e cantora Grace Jones é outro ícone da estética afrofuturista, assim como o hip-hop do Africa Bambaataa. No Brasil, os representantes do movimento são a banda de manguebeat Nação Zumbi e as cantoras, Ellen Oléria, Karol Conka e Gabi Amarantos. Atualmente, uma nova geração de artistas incorporou o afrofuturismo na música, na moda e no audiovisual. As cantoras Beyoncé e Solange Knowles, Rihanna, Erykah Badu, Missy Elliot e Janelle Monáe são algumas das responsáveis por trazer a temática para a cultura pop, já que costumam usar essa influência na identidade visual de seus shows, clipes e figurinos. Outra grande figura é o astrofísico Neil deGrasse Tyson, personalidade na área da ciência e apresentador da série Cosmos: Uma Odisseia no Espaço, releitura da série original apresentada por Carl Sagan em 1980.


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Movimento semelhante pode ser visto na prateleira das livrarias. William Hayashi é autor da trilogia Darkside, que narra a história de afro-americanos que viviam secretamente na Lua desde antes da chegada da missão Apollo 11. No Brasil, Fábio Kabral é autor do romance O Caçador Cibernético da Rua 13, que mescla crenças do candomblé em um planeta com tecnologia avançada que lembra a Wakanda de Pantera Negra. O longa, aliás, é o exemplo mais relevante do afrofuturismo atualmente, ao lado do álbum visual Black is King, da cantora Beyoncé. O filme mistura fantasia, tecnologia e ciência com questões raciais, sociais, políticas e econômicas, tendo o negro como ponto central da trama. Muito mais do que uma obra de entretenimento com estética afrofuturista, o longa proporciona reflexões importantes em uma sociedade que ainda tem racismo e segregação racial como pautas. Além disso, Pantera Negra destaca a representatividade e visibilidade da população negra no cinema. Heróis e líderes negros são retratados com profundidade na tela, algo incomum nas histórias de Hollywood. De acordo com um relatório da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, os negros representavam apenas 13,6% do elenco dos filmes de maior bilheteria em 2017, e geralmente em papéis ligados ao crime ou subserviência. Se você ficou interessado em saber mais sobre o assunto, preparamos

Por Matheus Rocha

uma playlist cheia de vídeos sobre o tema e um podcast exclusivo:


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GAMIFICAÇÃO, ALGORITMOS E BIGDATA Como o entretenimento, o uso de dados e a inteligência artificial se transformam em estratégias publicitárias para impulsionar o consumo Por Davi Bicalho e Hiago Soares “Vou te falar um negócio, vou citar um livro de um cara que eu gosto muito”. Eram quatro horas da tarde de um dia abafado e seco de setembro quando Vince Vader abriu o exemplar de capa cinza e letras garrafais na cor azul de Bom Entretenimento, escrito por Byung-Chul Han – filósofo sul-coreano que se debruça a pesquisar a sociedade contemporânea capitaneada pelo delírio consumista e neoliberal. “Vou ler para você um trechinho que eu acho muito interessante”. E reproduziu, então, com seu sotaque paulista característico, as palavras do pensador: “As fronteiras entre ‘realidade real’ e ‘realidade ficcional’, que marcam o entretenimento, tornam-se cada vez mais fluidas. O entretenimento se eleva a um novo paradigma, a uma nova fórmula de mundo e de ser. Para ser, para pertencer ao mundo, é preciso ser algo que entretém. Apenas aquilo que entretém é real ou efetivo”. Vicente Martin Mastrocola, mais conhecido por Vince Vader – nome que faz referência a um dos personagens centrais da franquia Star Wars – é professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo, onde leciona disciplinas como Análise de Jogos e Game Design para turmas de Sistemas de Informação e Publicidade e Propaganda, além de executar projetos e pesquisas em torno da gamificação. Vader tem 41 anos, o cabelo curto repleto de fios grisalhos, a barba cheia que marca o rosto com pelos também brancos e, naquele dia ensolarado em que leu para mim um trecho da obra do intelectual asiático Byung-Chul Han, explicou como o conceito de jogo (game) se relaciona com o seu trabalho de criar para empresas e grandes marcas o entretenimento necessário para o aprimoramento de uma equipe de funcionários ou para a captação de novos clientes, alavancando os lucros, otimizado pela diversão.


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DOSSIÊ CONSUMO “Gamificação é o uso de jogos em situações que não são jogos. É a aplicação de elementos presentes no game design em atividades que não são games”, explica o professor. Segundo ele, gamificar algo significa empregar técnicas motivacionais que os produtores de jogos (como os de videogame e tabuleiros) usam para motivar constantemente seus jogadores, aplicando

A “gamificação é o uso de jogabilidade em situações do cotidiano, em ambiente virtual ou não.” Acervo: Pixabay

essas técnicas em contextos que vão desde o programa de milhagens de uma

companhia aérea a aplicativos de entrega de comida, transporte particular, ou quando você coleciona carimbos do supermercado para ganhar um brinde ao final de uma promoção. “Os próprios aplicativos como o iFood, o Uber [funcionam assim], quanto mais você usa mais vai ganhando benefícios”, complementa. Para garantir sempre boas avaliações, além de elogios e comentários que o ajudem a ganhar a confiança dos clientes, Ivan Soares, 45, que trabalha há um ano e meio como motorista de aplicativo desde que foi demitido de sua última ocupação numa fábrica de tecidos, garante que mantém o carro limpo e tenta chegar o mais rápido possível até o passageiro que solicitou a sua corrida. “Sempre dou bom dia ou boa tarde, e se tiver com sacola pergunto se quer ajuda”, afirma. Outro exemplo que Vader destaca é a recente campanha publicitária para o novo sabor Wasabe dos salgadinhos Doritos, que trabalha com linguagem de filmes japonês, bem ao estilo Jaspion, famosa série de super-herói que fez muito sucesso na década de 80. Cada embalagem do produto contém um Tazo (pequenos discos colecionáveis) com um código no verso que dá acesso a um jogo de Pac-Man no site da marca. Procedimentos como estes buscam engajar usuários numa competição, encorajando-os a cumprir determinados objetivos como forma de subir de nível na plataforma, além de outras possibilidades, como o incentivo à colaboração em equipe, caracterização de status por ranking, estímulo de acúmulo de pontos, premiação, dentre outros. “O principal benefício nas estratégias de consumo de marcas, produtos e empresas a partir da gamificação é o fato de poder engajar a pessoa por meio do entretenimento na experiência de consumo”, finaliza Vader. Mas esse não é o único método usado por corporações e redes varejistas quando o plano é aumentar suas receitas e cooptar a atenção da clientela.


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“O principal benefício nas estratégias de consumo de marcas, produtos e empresas a partir da gamificação é o fato de poder engajar a pessoa por meio do entretenimento na experiência de consumo” Crédito: Dandara Andrade

ENTRE HUMANOS, BISCOITOS E ROBÔS O celular estava na mesa. Enquanto isso, a jornalista Fernanda Pontes, 28, que havia descoberto há pouco tempo sua gravidez, conversava com o namorado na sala de casa sobre a gestação. Foi questão de dias até que anúncios de produtos para bebês e gestantes começassem a circular nos sites e redes sociais que a futura mãe visitava. Mesmo bloqueado, o celular havia captado as conversas que rondavam suas expectativas sobre a maternidade e, nas semanas seguintes, transformado um diálogo de pais de primeira viagem em dados que foram usados para, no momento oportuno, direcionar a publicidade adequada àquela situação. “Os anúncios começaram a aparecer logo que comecei a trocar mensagens com meu namorado e minha irmã sobre a gravidez, principalmente no Instagram, onde recebo ofertas de roupas para bebês”, conta. Pontes relata que tem consciência de estar sendo observada pelas redes sociais, mas que, ainda assim, se sentiu invadida, tamanha a precisão dos algoritmos em reconhecê-la como consumidora em potencial. “Apesar disso, um anúncio que chegou e que me influenciou positivamente foi o de um sling, que facilita carregar o bebê recém-nascido e dá autonomia para a mãe realizar outras tarefas”, relata. Embora importunada com tanta propaganda, Pontes acredita que as redes sociais e seus anúncios frequentes acabaram lhe ajudando a identificar itens de compra essenciais para o cuidado com a criança, sem deixar de notar a quantidade de produtos supérfluos que são expostos nessa vitrine virtual com a etiqueta da necessidade. “É muito importante informação para irmos além da lógica do consumismo e não sermos enganados e engolidos por essa bolha do capitalismo”, conclui.


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De acordo com Luciana Bicalho, 36, doutora em comunicação social pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e professora de Narrativas Transmídia e Tendências do Jornalismo Contemporâneo no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, esses dados são capturados por códigos que entram e saem da rede, seja a partir de um celular ou mesmo uma TV Smart conectada à internet, e têm como objetivo reconhecer padrões nas atividades dos usuários em ambientes e plataformas digitais. São os chamados algoritmos, e eles estão por toda a parte: dos resultados de uma pesquisa realizada no Google às possibilidades de interação e interface numa determinada rede social, máquina ou aplicativo. Quando você acessa um site, por exemplo, é comum receber uma notificação na tela avisando que aquela página usa cookies para facilitar sua navegação e recomendar conteúdo e publicidade pelos quais você possa se interessar. Isso só é possível porque os cookies (na tradução literal: biscoitos) são pequenos arquivos de texto criados e armazenados no seu navegador, contendo informações pessoais que serão usadas para facilitar sua navegação na internet, preenchendo automaticamente sites que você costumar visitar, além de formulários e senhas. Mas não acaba por aí. “Nomes, gostos, data de nascimento, sexo, interesses, o que conversamos no WhatsApp, isso vai para uma base de dados e lá é transformado em padrões usados para organizar nossa vida na internet”, explica Bicalho. Em resumo, seu tráfego pela web deixa rastros, como farelos de um biscoito, o que torna possível saber quanto tempo você passou numa página, quantas vezes voltou e o que costuma chamar mais a sua atenção. Apesar da programação algorítmica ser feita por humanos, a captura, entretanto, se dá por meio de robôs, que codificam o comportamento e pesquisas do usuário na rede, transformando-os em dados, que podem ser usados de diferentes formas, por diferentes corporações, a exemplo de uma equipe de marketing de uma empresa, com o intuito de executar campanhas publicitárias para alavancar seus negócios. Na busca de produzir resultados efetivos e satisfatórios, é necessário que esses dados, também conhecidos como big data, sejam organizados e analisados de forma a criar uma base de informação estratégica para colher os resultados esperados. É aqui, portanto, que estão depositadas as esperanças de quem acredita que, através dessa quantidade gigantesca de pegadas que deixamos no terreno fértil da internet, seja possível desenhar o perfil do consumidor e prever quais serão seus próximos passos. A Netflix, por exemplo, uma das gigantes do streaming, coleta todo tipo de dados de seus assinantes, desde a escolha de filmes e séries, tempo de visualização e pausas, para monitorar o comportamento dos usuários na plataforma e criar sugestões personalizadas de conteúdo, algo que


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a estudante Beatriz Pinheiro, 22, até prefere, mesmo ciente de que está sendo monitorada pela plataforma. “Eu gosto de ter indicações porque sou péssima em escolher algum conteúdo para assistir”, confessa. Pinheiro é fã da atriz Scarlett Johansson e, segundo conta, começou a perceber que a Netflix deixava alguns trabalhos da artista como sugestão na página inicial de sua conta. “De repente, eu já estava vendo tudo o que ela produziu e que estava disponível no cardápio do aplicativo”, finaliza. Com uma gigantesca base de dados assim, a empresa pode apostar em projetos que deram certo e repetir o sucesso com a contratação de atores, roteiristas e diretores específicos, garantindo engajamento e fidelização de seu público.

PRIVACIDADE HACKEADA “A gente está sob vigilância. O tempo inteiro”, afirma Leonardo Melgaço, 26, mestre em Comunicação e Sociabilidade Contemporânea pela UFMG. Quando questionado sobre os princípios do big data, Melgaço chamou a atenção para Big Data é a análise e a interpretação de grandes volumes de dados de grande variedade. Acervo: Pixabay

duas perspectivas que, segundo ele, devem ser levadas em consideração sobre

o assunto. “Se você me perguntasse isso em 2010, eu te responderia que big data é aquilo que está atrelado à quantidade de dados e à velocidade de processamento destes, o que demanda técnicas e procedimentos algorítmicos cada vez mais aperfeiçoados para gente poder fazer uma análise. Nesse sentido, é uma ferramenta tradicional da ciência da computação”, diz. Hoje, no entanto, ele aponta outra definição. “Em 2020, big data é considerado, pelos profissionais críticos da área de comunicação digital, um discurso social atrelado a quem acredita que dados podem traduzir o nosso comportamento, tais como os estudos de consumo [que] valorizam dados vindos das mídias sociais”, analisa. Em 2016, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou um estudo que confirmava que mais de 40% das decisões de compra e venda de ações no mercado do país eram feitas por robôs investidores, programados por algoritmos com a função de reagir instantaneamente às dinâmicas típicas das bolsas de valores. É, portanto, a crença na tecnologia como aparato de interpretação das vontades humanas que, no limite, hoje devem tocar “em questões de cidadania, porque a gente produz esses dados, mas quem controla, quem manda nesses dados?”, questiona Melgaço.


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SUJEITO A TERMOS E CONDIÇÕES Foi pensando nisso que, em setembro deste ano, entrou em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): uma regulamentação que visa garantir segurança e transparência nos dados de cidadãos e consumidores do país. A lei foi criada com o intuito de estabelecer regras para o intercâmbio de informações. De acordo com Silvia de Freitas Furtado, 36, essa preocupação com a segurança em torno dos dados pessoais começou a ganhar força no mundo a partir da campanha de Donald Trump à presidência dos EUA em 2016. “A forma como as eleições foram conduzidas, as dinâmicas das redes sociais e as estratégias de campanha política que Trump assumiu acabaram levantando toda aquela polêmica sobre a empresa inglesa Cambridge Analytica”, explica a jornalista e professora de Análise de Dados e Big Data no Centro Universitário UNA, citando o escândalo revelado em 2018 pelos jornais New York Times e The Guardian, quando se descobriu que o Facebook havia vazado informações pessoais de seus usuários para a Cambridge Analytica, que se utilizou desses dados para traçar um perfil psicográfico dos eleitores estadunidenses em prol da campanha do atual mandatário da Casa Branca. Depois de muitas discussões sobre o assunto, em 2018, o Parlamento Europeu cria seu Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (General Data Protection Regulation – GPDR), que serviu de base para a elaboração da nossa LGPD, sancionada em 17 de setembro. Furtado explica que “além da LGPD, a legislação também prevê a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). É essa autoridade que vai executar e aplicar as multas e sanções, que só vão começar a ser aplicadas em agosto de 2021”. Até lá, as empresas deverão começar a se adaptar às novas orientações, desde emitir avisos nos sites informando sobre as políticas de privacidade e cookies, até a criação de uma nova área nas corporações, responsável por controlar e garantir que esses dados estão sendo tratados de forma correta. “É o que estão chamando de DPO, ou data protection operator, o operador de dados, um funcionário ou setor da empresa que vai garantir que não há nenhum risco de vazamento de informações”, esclarece Furtado, acrescentando que, quando for o caso de tornar algum dado público, estes devem ser feitos de forma anônima, já que o novo ordenamento assegura que os dados são, afinal, propriedade de seus próprios usuários – quer sejam os que você concorda em disponibilizar na internet ou até os que

Documentários sobre o assunto: O Dilema das Redes e Privacidade Hackeada. Clique nos Títulos dos Documentários para ser levado a página do youtube.

oferece no balcão de uma farmácia.


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CONSUMINDO MÚSICA NO SÉCULO XXI 30% dos brasileiros conectados à internet usam aplicativos de streaming de música, cerca de 36,6 milhões de usuários Por Michael Charlles e Paulo Henrique Pereira Gravar um CD ou um pendrive já foi considerado o mais “top” nas formas de reprodução de músicas, mas hoje não precisamos de nenhum outro dispositivo de armazenamento e de reprodução. Fazemos tudo pelo smartphone. Ouvimos nossos álbuns e faixas favoritas nos aplicativos de streaming de músicas, esses que, de tempos em tempos, têm mudado a maneira como consumimos música e até mesmo como nos relacionamos. Mais que ouvir uma música em nossos dispositivos, as mudanças de novos formatos de transmissão de música trouxeram as playlists. Agrupamos as músicas que queremos, às vezes por estilo ou por gosto mesmo. Mas já pensou em ouvir, em sua casa, todas as músicas que tocam naquele restaurante ou no bar que você tanto gosta? Esse é um modelo de interação que o serviço de streaming contribuiu para que existisse, e que na época de CD e pendrive seria totalmente inviável. Aliado ao fator pandemia, que alterou a vida de todas as pessoas, a tecnologia trouxe também a oportunidade de se estar em casa e ouvir aquela sequência de músicas que se ouviria estando em um bar ou em um restaurante preferido. Em Belo Horizonte, a cafeteria e restaurante Café com Letras possui, no Spotify, uma playlist com as músicas que tocam durante a semana no local, inclusive o nome da playlist é exatamente o nome da cafeteria, Café_com_letras. Essa, contudo, não é prática apenas desta cafeteria. O Jangal Bar, no bairro Cruzeiro, e o Redentor Bar, que fica localizado na Savassi, também colocam suas playlists de músicas disponíveis no Spotify, bastando apenas o cliente pesquisar no app pelos respectivos nomes jangalbh e redentorcultural. Isso mostra como essa nova percepção do consumo de música e dos meios de transmissão via streaming é usada, cada dia mais, para conectar as pessoas, lugares e marcas, e isso, apesar de parecer algo totalmente inovador, tem raízes há algumas décadas.


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O streaming se popularizou nos anos 2010, mas o modelo que conhecemos hoje começou lá nos anos 1920, quando o major americano George Owen Squier patenteou um sistema de transmissão e distribuição de músicas para empresas e assinantes por meio de linhas elétricas. Com a evolução da internet no século XX, os protocolos e servidores possibilitaram a criação de um serviço de transmissão pela rede e, no ano de 1999, foi criado o Napster, o primeiro serviço online de música. As plataformas de vídeo começaram apenas seis anos mais tarde, quando a Apple começou a vender séries e filmes via iTunes e com a criação do YouTube. De lá para cá, vários aplicativos foram criados com o objetivo de transmissão das faixas de músicas e também as chamadas playlists. Entre eles, estão Spotify, Deezer, iTunes e YouTube Music, que viram um mercado promissor e descobriram cifras milionárias na transmissão pelos apps.

OS NÚMEROS POR TRÁS DOS APPS DE STREAMING DE MÚSICA A popularização dos aplicativos mudou a maneira como o mercado musical fatura. Segundo dados da Pró-Música, entidade que representa todas as gravadoras do país, o faturamento do mercado com o formato digital foi de R$ 765 milhões em 2019, sendo R$ 758,47 milhões apenas com o streaming. Enquanto isso, o mercado de CDs teve uma queda de 69% em relação a 2017, representando apenas R$ 15,695 milhões no mercado brasileiro. Os aplicativos de streaming alcançam cerca de 36,6 milhões de usuários, dos 120 milhões conectados à internet, representando 30% dos brasileiros conectados. Por mês, os usuários consomem 13 bilhões de minutos ouvindo músicas e podcasts e, em média, cada usuário consome sete horas diárias. Segundo o economista e pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Gabriel Vaz de Melo, ainda não existem dados sobre o quanto o consumo de aplicativos de música contribui para o nosso Produto Interno Bruto (PIB), mas lembra que a indústria musical entra no campo da economia criativa. No PIB do ano passado, segundo a FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), a economia criativa movimentou R$ 171,5

Por Mateeus Rocha

bilhões, representando 2,61% de todo o PIB.


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Um dos usuários do Spotify no Brasil é o mecânico Stanley Rodrigues, 26. Assinante do plano Premium há quatro anos, acabou chegando ao aplicativo por curiosidade e, por gostar de criar playlists, optou por manter a assinatura. Hoje, consome em média uma hora por dia ouvindo os seus ritmos favoritos, principalmente Hip Hop e Rap. Ao ser perguntado se consome música em outros dispositivos como, por exemplo, o CD, afirma que o abandonou há cerca de seis anos e ainda brincou: “isso ainda existe?” Além das playlists que ele acabou descobrindo, Stanley também ouve as músicas sugeridas pelo próprio aplicativo, com base nas suas preferências. Um ponto positivo que ele coloca para o Spotify é a qualidade do áudio, que não é comprimido como no YouTube, mas pondera que os planos individuais são um pouco “salgados” e enxerga que os planos familiares podem sair mais em conta. Já a estudante de administração Natalice Pereira, 21, assina o Spotify na categoria para universitários, o que o torna mais barato. Essa é uma estratégia que algumas empresas usam para atrair os clientes, fornecendo promoções para nichos específicos. Natalice se considera eclética e não perde os lançamentos. “Muitas vezes acontece de entrar no aplicativo e ver uma indicação de música pelo próprio app e paro para ouvir. E por várias vezes eu acabo gostando da música e continuo ouvindo, seja no próprio aplicativo ou no YouTube”. Stanley e Natalice aproveitam as sugestões do aplicativo, que são feitas a partir das preferências dos usuários, dados que ficam salvos de acordo com a navegação nas plataformas. Além das sugestões de acordo com as preferências do ouvinte, o que muitos artistas e músicos fazem é o impulsionamento de conteúdo, ato muito similar às propagandas e ao marketing nas plataformas do Google, onde se paga um valor para que os produtos sejam mostrados para um grupo específico de pessoas, de acordo com gostos e idade, ou local onde o artista quer que essa música seja impulsionada.

OS ARTISTAS DO STREAMING “Para que eu consiga que minhas músicas sejam mais vistas nas plataformas, eu as impulsiono, nas descrições, eu as coloco como similares a de outros artistas de renome, que tocam estilos de músicas parecidos com o meu”, revela Felipe Marques, músico independente, com dois CDs gravados. Para Felipe, o mercado de streaming é dinâmico, independente e é a voz de todos. Ainda de acordo com o músico, na chamada era digital, todo mundo tem voz. Uma pessoa de casa pode fazer uma gravação caseira e ‘jogar’ nos apps de streaming. “Os músicos não ficam presos a uma gravadora, o que é muito bom. Mas, em compensação, para ter mais visibilidade,


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precisa ser pago”. Rodrigo Borges, mestre em Ciência da Informação pela UFMG e músico profissional, da nova geração da família Borges, criadora do movimento Clube da Esquina, nos apresentou um panorama sobre o consumo de música no streaming e o envolvimento dos artistas com o streaming das mídias. Perguntado se o mercado de streaming foi bom para os artistas, Rodrigo responde que é importante relativizar isso, pois, por um lado sim, porque os músicos têm mais controle dos processos, e também por que qualquer pessoa no mundo pode acessar. Entretanto, por outro lado, foi ruim por causa do poder da indústria cultural, que faz com que os grandes grupos detenham o poder político e econômico alcancem os melhores resultados. Outro problema apontado por Rodrigo são os direitos autorais. De acordo com ele, o repasse dos direitos autorais para os artistas é uma questão que precisa ser avaliada melhor, pois o valor é muito baixo. Ele acredita que essa é uma luta que está no começo e o fato é que os artistas precisam ser melhor remunerados.

O JABÁ 2.0 O termo ‘jabá’ é uma abreviação da palavra jabaculê, que surgiu com força nos anos 70 a 80, quando algumas gravadoras pagavam para que seus álbuns tocassem nas rádios. O termo e o ato foram se popularizando mesmo sendo considerado aético, tanto para quem dá quanto para quem o recebe. Algumas formas de jabá são: compra de posições nas paradas musicais das emissoras de rádio, compra de espaço para apresentação de artistas em programas de auditório e aliciamento de jornalistas para obtenção de comentários favoráveis. O ‘jabá 2.0’ acompanhou a revolução digital do mercado fonográfico. Agora, quem possui playlists com milhares de visualizações pode incorporar uma música de um cantor ou artista que está começando a carreira. Com isso, seria muito mais fácil aumentar o número de visualizações e entrar no ‘hall da fama’ em um tempo menor.


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EXIGÊNCIA DOS CONSUMIDORES REATIVA ECONOMIA CIRCULAR Sustentabilidade é questão de sobrevivência, e também é um novo requisito do consumidor Por Letícia Sudan O perfil de consumo tem mudado em escala mundial. A forma como o consumidor adquire um serviço ou bem não se limita mais aos padrões históricos. Um exemplo disso é que hoje, para se informar, não é preciso aguardar a chegada do jornal impresso ou o telejornal das 20 horas, já que o smartphone está nas mãos da maioria da população e, assim, o acesso às notícias do mundo inteiro está disponível a qualquer momento. Segundo dados apresentados na 19ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, realizada pela PwC, a expectativa para 2022 é que 82% dos brasileiros se conectem à internet móvel, o que irá mudar ainda mais o comportamento das pessoas na hora de consumir. Impulsionado pela pandemia, o e-commerce ganhou espaço em 2020 no Brasil. Segundo dados da 42ª edição do Webshoppers, um estudo elaborado semestralmente pela Ebit|Nielsen, em parceria com a Elo, o faturamento do e-commerce cresceu 47% no primeiro semestre do ano, a maior alta em 20 anos. Este processo de consumo em um clique, que gera acesso e proximidade com as pessoas, também cria o efeito de conscientização em massa. As tribos podem se comunicar mesmo a longas distâncias e criar padrões de cobrança quanto às diversas demandas sociais e políticas, como a inclusão, diversidade e empoderamento. Assim, algumas empresas estão se preocupando mais com a saúde, questões ambientais e até mesmo a representatividade. Segundo a Organização das Nações Unidas - ONU, mais de dois bilhões de toneladas de lixo, no mundo inteiro, são produzidas por ano. Dessa maneira, algumas organizações estão buscando formas mais sustentáveis na hora de produzir, como a economia circular.


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O QUE É A ECONOMIA CIRCULAR A economia circular baseia-se em uma nova forma de pensar no futuro e no relacionamento com o planeta. É um modelo econômico que incentiva a reciclagem e a preservação do meio ambiente, propondo uma mudança em toda a maneira de consumir, desde a relação com as matérias-primas até os resíduos. Esse modelo econômico é contrário ao linear tradicional, que defende a utilização e descarte. O conceito circular prioriza três etapas a mais do que a anterior, além de extrair, transformar, utilizar e descartar, ela também

Por Lorena Gomes

reduz, reutiliza e recicla, como explica o infográfico abaixo.

“A economia atual está organizada linearmente e precisa ser organizada de forma circular, considerando a reestruturação da política tributária, evitando bitributação nos resíduos que se transformam em produto, retirando restrições ambientais que dificultam o reuso e reciclagem de


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determinados resíduos. O importante é que resíduos podem se transformar em matéria-prima e/ou insumos, e passam a integrar um produto final com regras específicas. Outro ponto importante é reduzir o preconceito do consumidor de estar consumindo um produto que possui um determinado volume de material reciclado ou reutilizado”, explica Wagner Soares Costa, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais - FIEMG. Os recursos naturais estão cada vez mais escassos e as pessoas estão mais preocupadas com o consumo consciente, dessa forma, o que é o esperado e ideal, para o consumidor do futuro, é que qualquer negócio seja de grande, médio ou pequeno porte - siga esse modelo de economia circular. Segundo a Worth Global Style Network - WGSN, dentre as tendências que o consumidor tem adotado estão: revolução das compras pelos dispositivos móveis, a importância dos sentimentos, a economia da confiança, preocupações climáticas, antigas gerações e o fim da posse. De olho nesse consumidor, em outubro de 2019, a Unilever, empresa multinacional, prometeu em um evento que iria reduzir pela metade o uso de plástico em suas embalagens até 2025. Ou seja, ela pretende remover mais de 100 mil toneladas de embalagens plásticas, recolhendo e coletando as que foram vendidas. No início de 2020, uma de suas marcas iniciou um projeto de venda automática em uma estação de Nova York, que aceita embalagens de plástico usadas em troca de um sabonete, a Dove busca conscientizar seus clientes e incentivar a reciclagem.

CAPACITAÇÃO NECESSÁRIA PARA A INDÚSTRIA A indústria representa 20,9% do PIB do Brasil, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria - CNI. Dessa forma, o setor está em primeiro lugar dos mais importantes para o crescimento do país. As empresas industriais também contribuem com inovação e evolução tecnológica. Além disso, dados fornecidos pela CNI mostram que 76,4% delas desenvolvem algum tipo de economia circular.

“A partir dessa nova postura do consumidor, as indústrias estão se organizando de forma sistêmica e sistemática na estruturação de um programa de economia circular que inclui o design do produto, a redução da geração, reuso e reciclagem de resíduos.” - Wagner Soares Costa, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais - FIEMG. Foto: Arquivo pessoal Wagner Soares.


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Esse novo modelo econômico tem mudado o modelo mental da indústria, que passa a ser um modelo que produz mais com menos, aumentando a produtividade, tanto da mão de obra como do uso de material proveniente da natureza. Dessa maneira, novos empregos são gerados, que exigem novas habilidades e conhecimentos. “A academia vai ter de fornecer um técnico que possua conhecimento para criar soluções para os dilemas que existem entre produção e consumo versus preservação do meio ambiente. Não apenas formar pessoas que prezam pela preservação, mas que propõem soluções que reduzam o impacto das atividades humanas sobre a natureza”, reflete Wagner Soares. Esse novo modelo é de grande importância, por causa do aumento da produtividade econômica e redução do impacto ambiental. Segundo Wagner, a FIEMG está sempre de olho nessas mudanças no padrão de consumo da sociedade e atua no sentido de mobilizar e capacitar as indústrias para essa nova economia. Wagner explica que “ela [a FIEMG] possui um programa de implementação de economia circular em distritos industriais e, a partir de novembro de 2020, criou a rede mineira de economia circular, envolvendo as cadeias de produção no estado. A primeira fase é o levantamento de ações executadas pelas empresas que se enquadram no conceito de economia circular, a segunda fase é estabelecer, com base neste levantamento, um programa sistêmico e sistemático de economia circular na empresa, definindo procedimentos, indicadores de circularidade e monitoramento dos resultados obtidos”.

CONSUMO DE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL AUMENTA EM 2020 Dados da Pesquisa Consumidor Orgânico mostra que 60% da população passou a se preocupar com a alimentação durante a pandemia Por Alexandre Santos e Thayane Domingos

Alimentos saudáveis e orgânicos em alta. Foto: Congerdesign/ Reprodução: Pixabay


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JORNAL DAQUI (BURITIS E REGIÃO)

A existência de alimentos orgânicos não é novidade. Todavia, esse tipo de comida ainda não está presente na mesa de muitos brasileiros, seja por falta de conhecimento ou pelo custo que esse tipo de alimento acarreta ao consumidor. Os alimentos orgânicos são aqueles produzidos em solos equilibrados química, biológica e fisicamente, sem a adição de agrotóxicos transgênicos, sintéticos ou fertilizantes químicos. “O processo de produção dessa técnica respeita o meio ambiente, garante a conservação do solo devido à ausência do uso de agrotóxicos e promove, assim, a biodiversidade, sobretudo ao diminuir a possibilidade de danos à saúde”, explica a nutricionista Michelle Baroni. Nos últimos anos, a procura dos brasileiros por uma dieta saudável e equilibrada tem crescido. O último relatório de Pesquisa do Consumidor Orgânico, lançado em 2019, revela que, dos 1.027 entrevistados, 69% têm ciência da existência do selo Produto Orgânico Brasil. Outros 19% afirmaram consumir produtos orgânicos - tal crescimento deve-se a uma série de motivos, em especial o bem-estar. A pesquisa ainda revela que 60% das pessoas passaram a se preocupar com a alimentação durante o período pandêmico - e entre os principais motivos da inquietação está a preocupação com a saúde. Além disso, a pesquisa também aponta que o Brasil tem crescido na produção e exportação de alimentos orgânicos e a venda desse tipo de suprimento cresceu em mais de 50%. Michelle esclarece que esse tipo de alimentação reúne uma série de benefícios e promove a saúde do organismo. A nutricionista destaca que a ausência de agrotóxicos colabora na prevenção de possíveis doenças. “Além disso, possuem o selo federal do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), que assegura a qualidade do produto”, afirma. No que se refere aos alimentos transgênicos, Michelle Baroni explica que tais produtos passaram por algum tipo de mutação genética a fim de melhorar a qualidade e resistência às pragas. As plantas submetidas à essa mutação passam a produzir toxinas contra as pragas. “Os alimentos que apresentam qualquer tipo de composto químico que foi adicionado no processo do seu cultivo e/ou desenvolvimento podem apresentar diferenças de cor, textura, sabor e tamanho. Não são considerados saudáveis pois tiveram suas características naturais alteradas”, salienta.

DE OLHO NOS RÓTULOS O consumidor, ao fazer as compras dos produtos, pode verificar se a procedência do alimento é orgânico ou transgênico, consultando as


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informações que constam na embalagem do produto. “É possível saber se estamos ingerindo um produto que contém algum composto transgênico olhando no rótulo: se houver um “T” preto sobre um triângulo amarelo significa que o produto possui mais de 1% de matéria- prima transgênica”, Michelle explica. Apesar dos alimentos orgânicos serem naturais, ao fazer a compra deste produto o consumidor deve observar a qualidade, como explica a nutricionista Michelle Baroni. “Os cuidados no consumo dos alimentos orgânicos seriam a verificação do selo federal do SisOrg, que garante a autenticidade do produto. Também é necessário observar as condições físicas do alimento, que não deve apresentar sinais de deterioração ou qualquer outra característica que não seja comum do tipo de alimento”, alerta a nutricionista. A moradora do bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte, Sara Meyer, consome alimentos orgânicos há um ano, motivada a ingerir comidas puras e livres de venenos. “Acredito ser mais saudável, não somente por ser livre de venenos, mas por valorizar a agricultura familiar, os pequenos produtores e fazer a economia girar de forma mais democrática e menos monopolizada, além de respeitar mais todo o processo desde a plantação, a colheita e a distribuição”, argumenta Sara. A estudante de biologia, Paloma Abreu, tem sua própria horta de comida orgãnica em casa, no Buritis, onde produz pimentão. Paloma, que tem planos de ampliar sua plantação, conta que consome alimentos orgânicos pela ausência de toxinas em sua produção. “Eu sei de onde eles vêm, que são saudáveis mesmo. Eu tenho planos de ter mais plantação”.

BENEFÍCIOS DA ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA Nos últimos anos, tem-se discutido, cada vez mais, as alternativas sustentáveis que agridam menos o meio ambiente. A produção de comida orgânica, além de ser uma opção para o cultivo de alimento sem que o solo seja contaminado, é também uma boa escolha para quem deseja manter uma alimentação saudável e livre de toxinas. O solo, quando não é contaminado pelas toxinas usadas na agricultura tradicional, e é alimentado por adubo natural, tende a produzir alimentos mais ricos em nutrientes, o que é favorável à saúde de quem o consome, além de evitar a ingestão de substâncias químicas tóxicas, como agrotóxicos, fertilizantes, antibióticos e hormônios que podem causar desde reações alérgicas e respiratórias até doenças mais sérias. Os produtos orgânicos são fiscalizados, desde a produção até a comercialização e, por fim certificados. Ou seja, no ato da compra, o consumidor pode se certificar que o alimento possui um selo de orgânico. Dentre os benefícios que o consumo de alimentação orgânica oferece, podemos listar a proteção dos mananciais, uma vez que as toxinas da


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agricultura tradicional atingem os lençóis subterrâneos de água, e a economia de energia. O alimento cultivado também possui mais aroma e sabor.

VAREJO DE COMIDA ORGÂNICA NO BURITIS No bairro Buritis, é possível encontrar várias lojas e restaurantes que fazem venda de alimentos orgânicos. Veja a seguir: - Mundo verde Buritis - Avenida Professor Mário Werneck, 1225, Estoril - Empório Verde - Rua Eli Seabra, 510, Buritis - Fit Buritis - Avenida Professor Mário Werneck, 1480, loja 220, Buritis - IGREEN - Avenida Professor Mário Werneck, 883, Buritis - Divino Grão - Avenida Professor Mário Werneck, 1481, Buritis


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