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4.1 O poder do mito

assim fazendo, dão testemunho de ser mais que uma ciência entre outras, mas sim de ser a teoria de uma práxis, que dá como fruto uma arte: a arte de viver.

Escreve Boff (1991, p. 30) em Seleção de textos espirituais: “Erram os que julgam que os místicos estão afastados do mundo. São os mais comprometidos”. Contudo, é dentro dessa perspectiva que se pode captar um estado de união mística estabelecido entre o ser humano e a divindade a ponto de a pessoa se transformar na divindade que o habita. Nessa perspectiva, a mística comparece como modos de se viver os mitos no aqui e agora; forma de torná-los vivos. Religiosamente falando, a mística é a vida do mito e o mito o alimento da mística. Sem mística, Exu transformar-se-ia num Hermes grego, isto é, num objeto de estudo, não de culto.

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4.1 O poder do mito

Nosso trabalho não tem a pretensão de enfatizar as produções variadas de Abdias, o que seria impossível. Nosso interesse fundamental restringe-se em mostrar a seiva espiritual onde sua existência deitou raízes. Na perspectiva ancestral africana, fonte inesgotável de vida e axé para Abdias, o mito não se apresentou como algo falso ou desprovido de poder, mas, sim, como força propulsora de encanto e poder de transformação. Nas oportunas palavras de Boechat (2008, p. 21), o mito é um “poderoso agende catalisador de mudanças individuais e sociais”. Assinala Queiroz (2013, p. 499): “Mito é tema relevante no estudo das religiões, pois sua presença acompanha os humanos desde os primórdios até hoje como uma das mais profundas expressões da compreensão de si e do mundo”214 .

Na perspectiva junguiana cada pessoa deve descobrir seu mito pessoal para construir sua existência de forma original, criativa e significativa; só o mito, nessa acepção, é capaz de encher a vida de conteúdo suficiente. Escreve Jung (2006, p. 348): “Presto viva atenção aos mitos da alma; observo o que se passa comigo... infelizmente o lado mítico do homem encontra-se hoje frequentemente frustrado. O homem não sabe mais fabular”. E ainda: “O homem mítico reivindica certamente, ‘algo além’”.

214 Queiroz (2013, p.499-511), no artigo Mitos e regras oferece uma visão panorâmica sobre o lugar do mito na história humana. Mesmo dentro dos limites de um compêndio, o texto se impõe pela clareza e profundidade. O texto aborda também a importância do mito e seu lugar na sociedade moderna. O autor faz significativa ressalva que as culturas têm visões diferenciadas acerca da divindade ou da transcendência, razão pela qual terão também outros desenvolvimentos e concepções míticas.

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