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5.5.2 O Entusiasmo do negro revoltado

pública de Exu, não vacilou em pôr-se do lado do “diabo” e, ser, desse modo, dentro do paradigma binário de exclusão, uma espécie de anticristo.

Importante salientar que desde o solo africano o poder colonial na sua visão bipartida de brancura dominadora leu Áfricas como locus das trevas, da incivilidade, da barbárie, do atraso e da perdição espiritual. Sob essas lentes, o negro (sua cultura, sua religiosidade e suas místicas) foi associado ao diabo (= Exu), cabendo ao projeto missionário católico salvá-lo (purificação/limpeza) da danação terrena e futura pela pia batismal. Grosso modo, considerando a construção política desse imaginário social genocida, ser “cavalo do santo” levou o negro revoltado a assumir o lugar do diabo e, desse lugar (lugar da gente preta, segundo as lentes da colonialidade), exorcizar o Cristo que assumiu o lugar do diabo, segundo as lentes de Abdias. Em outros termos, Abdias entra no jogo da polaridade e inverte exunicamente a ordem.

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5.5.2 O Entusiasmo do negro revoltado

Podemos dizer acerca da experiência mística travada por Abdias no coração da história, no enlace com Exu (orixás e ancestrais), que uma de suas marcas mais significativas e potentes é o entusiasmo. Cremos, pois, ser o entusiasmo a virtude das virtudes das místicas afro-brasileiras e nascimentistas, por conseguinte. Pinheiro (2008, p. 43) explica que “entusiasmo é o termo grego utilizado para designar todo estado paradoxal de perda de si em proveito de uma potência – e nesse sentido também de uma alteridade – divina”

Podemos então dizer que a razão mais radical das místicas nascimentistas é encher o corpo das potências sagradas, é estar incorporado, acompanhado e possuído pelas forças extraordinárias das divindades; forças que estão nas pedras, nos mares, nas árvores, nos ventos etc. Nesse horizonte, místicas nascimentistas são místicas trabalhistas porque exigem o facere, o bulir ou mandingar.

Diz Abdias no PEL que o ebó foi “preparado” para Exu; se houve preparo houve ação humana aliada à natureza. Quando se sente atravessado por forças potentes, o ser humano se enche de uma energia que ultrapassa o domínio da razão. Foi essa força e encanto que fez o negro revoltado, entusiasticamente, percorrer as distâncias do Ayê e do Orum recompondo nomes e inventando letras. Ciente da presença de Exu em seu lombo renegado e com axé por ele plantado na garganta, Abdias não fraquejou nos mais variados campos de batalha. Com os orixás e ancestres e, de modo, especial na companhia de Exu, o negro revoltado fez negro entusiasmado. E indaga oportunamente Ribas:

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