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9 – O reino de Atenas

9

O REINO DE ATENAS

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Próximo a Atenas, junto ao rio Cefiso, Teseu viu-se em meio aos fitálidas.

Os ilustres descendentes do ateniense Fítalo reconheceram-no de imediato. – Sabemos que mataste diversos monstros e malfeitores, por isso queremos cuidar de tua saúde, cuidar de teu corpo e de tua aparência, e cuidar de tua alimentação – falaram, diante da porta da cidade, próximo ao rio Cefiso. – Não fiz nada demais para tamanhas honrarias, meus senhores! – Bem sabemos como falam e como se comportam os melhores, o verdadeiro herói: a modéstia e a simplicidade se derramam pelos seus lábios! – pronunciou um senhor de longa barba branca.

Teseu ruborizou-se quando duas jovens se encaminharam até ele, retiraram-lhe as vestes e dirigiram-no ao rio para o banho de purificação.

– Estão me mimando, não fiz nada mais que o necessário, mas o que é isso? – reclamava, com a voz embargada pela emoção.

Uma das jovens enlaçou-o pela cintura e confortou-o: – Meu senhor, tu nos fizeste um grande bem!

Então Teseu compreendeu seu significado e calou-se imediatamente. Observava os movimentos, as atitudes, a alegria indisfarçável dos fitálidas preparando-lhe o banho, a comida, as vestes e os perfumes.

Nem um rei tem tal tratamento, pensou.

Medeia soltou um furioso grito e disparou pelo corredor imenso do palácio. Seus passos ecoavam fortes pela laje e ela cobria a cabeça com as mãos. Nervosa, a mulher entrou em seus aposentos, seguida por sua dama de companhia, a hipócrita Selênia. – Não, não é possível que ele já esteja aqui em Atenas?! Não! Não é possível! Estou perdida! – gritava a mãe assassina.

Selênia, mulher alta e esguia, olhava pela janela e via, com os seus olhos puxados, o casario ateniense. Ela tentava perscrutar mais distante ainda o que fosse possível ser visto. – Mas é verdade, senhora minha. Teseu foi visto nas imediações de Atenas. Os fitálidas hospedaram-no e cuidam dele como a um grande homem!

– Então ele virá logo ao palácio… e reivindicará o que é seu – balbuciou, aflita, Medeia. – A menos que alguém o detenha ou o impeça, senhora – concluiu a outra.

Medeia ergueu-se. Até então estava caída sobre a cama, aterrorizada com a notícia da chegada do famoso enteado. – É… é… ele mesmo? Tem certeza de que é o filho de Egeu, não é outro? – Quem mais como Teseu? Quem mais para ser reconhecido imediatamente como aquele que é destruidor de monstros, malfeitores e criaturas abjetas, senão Teseu? – O que fazer? Por Zeus, que estarei perdida, logo serei banida do reino… mais uma vez o infortúnio! – lamentava-se, gritando. – Senhora, senhora, acalme-se. Por que puxar ou danificar os cabelos? Acalme-se, porque ainda podemos reverter a situação… – sibilou a ferina Selênia. – Como assim, reverter? Não entendo. Que poderei fazer ainda contra o filho de Egeu? Matá-lo? É isto?

A outra deu uma risada, breve e de ruindade, e continuou: – Matar? Pra que sujar as mãos? Devemos afastá-lo do reino, logo, logo!

Medeia aproximou-se, confusa, e a raiva fazia-lhe doer a cabeça. Perguntou, aos gritos:

– Fala, mulher, fala! Como podemos afastar o filho querido de Egeu?

Selênia aproximou-se da execrável Medeia e disse: – Ora, minha senhora, aumente a fama ruim e perigosa do destruidor de monstros!

Medeia ficou alguns instantes pensativa. Então disse, como se falasse consigo mesma: – Ah! Sim, claro, claro. Egeu não deixará entrar um homem perigoso em seu reino já tão desgastado por conspirações e problemas políticos!

Selênia juntou-se à senhora reclinada na cama e sussurrou-lhe, maligna, aos ouvidos: – Esperemos amanhã ou começaremos agora mesmo, neste tempo favorável?

Os olhos de Medeia abriram-se demasiadamente, o ódio era a tradução de seu estado emocional. – Agora! Agora mesmo, antes que o rei tome conhecimento… Agora! – E assim saiu de seus aposentos, à procura de Egeu.

Teseu despediu-se dos fitálidas com abraços, beijos e fortes apertos de mão. – Volta sempre! Tu és o nosso melhor hóspede! Podes permanecer entre nós o tempo que desejares! – felicitavam-no e homenageavam-no os filhos de Fítalo.

Homens, mulheres e crianças acenavam, felizes, desejosos de lhe tocarem as mãos, os braços, o torso, qualquer parte do corpo. – Tu és um bem para nós! Tua mãe é e sempre será uma mulher feliz! – gritavam, extasiados.

E, coberto com uma luxuosa túnica branca, o filho de Etra rumou à sede de seu futuro reino.

No meio do caminho, porque tinha os cabelos cuidadosamente penteados e porque a túnica lhe dava aparência feminina, um grupo de pedreiros, homens que trabalhavam no templo de Apolo Delfínio, ridicularizaram-no. Um deles gritou: – Vejam, é homem ou mulher que estamos vendo passar por aqui?

Teseu ouviu e fingiu não dar importância. – A jovem não tem boca? Por que não fala? – gritou outro.

Em seguida, dez homens cruzaram seu caminho, interceptando seus passos. Um deles tocou-lhe o rosto, outro puxou-lhe os cabelos, e nada incomodava o futuro príncipe, pois acabara de ser tido pelos fitálidas como um vitorioso. Aqueles pedreiros não o conheciam, mas quando lhe cuspiram na face e tentaram retirar-lhe as vestimentas e rasgá-las, ele correu até um carro de bois, ergueu-o e atirou com violência contra os seus adversários, esmagando-os de pronto.

E então prosseguiu seu caminho, calmamente, ante os olhos aterrorizados dos circunstantes.

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