6 minute read

15 – Teseu perante Minos

15

TESEU PERANTE MINOS

Advertisement

No cais, pai e filho puderam ao menos trocar algumas palavras. Egeu, choroso, tentava ao mesmo tempo pedir perdão e se despedir do filho.

Eribeia comoveu-se pelo choro contido de Egeu e intercedeu, dizendo: – Perdoa, Teseu, perdoa! O rei chora demais e te ama! Perdoa!

Teseu olhou-a, também comovido. A princesa também mostrava piedade ao rei de Creta enquanto era conduzida ao Labirinto para ser pasto do miserável monstro. Teseu admirava tamanha abnegação mostrada pela filha de Alcátoo, rei de Mégara. Ela não era indiferente à dor.

O jovem então voltou-se ao pai, foi-lhe ao encontro e o abraçou. Egeu chorou mais ainda, convulsivo; a tristeza e a dor sacudiam-lhe o corpo.

– Meu querido, perdoa teu pai! – suplicava.

E, pouco a pouco, Egeu foi se tranquilizando.

Na embarcação, estavam os jovens exigidos por Minos: Menestes, neto de Ciro, rei de Salamina; Eribeia, filha de Alcátoo, rei de Mégara; Nausítoo, piloto, entre outros filhos de nobres atenienses ou de Estados vizinhos.

Diante do clamor que se ouvia na praia, dos gritos dos pais, irmãos e parentes, Teseu, o herói da Ática, estava de pé, cabeça erguida, olhar voltado ao horizonte, impassível enquanto pensava: O que irei fazer? Terei que proteger meus amigos! O monstro, o Minotauro, não machucará nenhum destes! Todos estão sob minha proteção!

E calado permaneceu, não desejava trazer aos amigos a falsa confiança: se era protetor, protegeria e basta!

Ao aportarem no final de uma tarde em Creta, Minos quis conhecê-los melhor, então convidou-os para um jantar festivo.

Os jovens atravessaram a longa sala, sujos, esfomeados e medrosos. A viagem quebrantou-lhes o espírito de aventura ou intrepidez. – Viva! Viva aos heróis de Atenas! – recepcionou-os com sarcasmo Minos.

A alegria do monarca disfarçava o horror e ódio que nutria aos atenienses. Seu filho fora covardemente machucado, assassinado por parentes e amigos, por mãos de alguns deles, os cruéis atenienses.

Teseu apresentou-se de maneira intrépida, não o impediriam, quem quer que fosse, de dizer a verdade. – Sou Teseu, filho de Egeu. Teu filho Androgeu era meu amigo, melhor, meu muito e muito bom amigo, senhor; Androgeu me amava e eu o amava como a um irmão…! Ele foi traído não por mim, nem ao certo sei o que lhe aconteceu… A perda de teu filho é tamanha perda para mim, senhor Minos de Creta! – falou e juntou-se aos seus amigos.

O rei não esperava palavras de tão reconhecidas considerações ao seu filho, até desconhecia que Teseu era tão próximo de Androgeu, ou ao menos havia esquecido após o acontecimento fatal. Ouviu, demorou-se alguns instantes e pensou antes de se pronunciar: – Como é belo o filho de Egeu! Belo, robusto, alto e de grande graça! Meu filho está com Hades e ele aqui, vivo e belo como jamais vi um jovem em minha terra! Você não me disse nada, filho de Egeu, onde estava enquanto meu filho era morto? Com quem estavam seus braços, olhos, imaginação e vigor enquanto retiravam a vida de meu herdeiro? Amigo que não soube poupar o infortúnio do outro? Onde?

Teseu tinha lágrimas nos olhos e sua voz tremia; os braços se agitavam frenéticos enquanto respondia:

– Meu senhor, eu não sei de nada, mas meu coração bate sofrido com a perda de meu amigo! – Ora, ora, que o Minotauro resolva a quem retirar a vida e a quem poupar, sim!? – gritou, possesso, Minos.

Teseu prostrou-se sobre a terra, ergueu os braços em gesto de súplica. – Suplico, senhor, eu suplico que poupe a vida dos demais, todos outrora amigos de seu filho quando ele entre nós vivia! Suplico que não os encerre no Labirinto para que sejam pasto do Minotauro…! – Como? O que pretende, covarde?

Teseu ergueu-se prontamente e ofereceu-se: – Que eu vá sozinho. Que meus amigos sejam poupados, mas que eu pereça em lugar deles! – Cale-se! Cale-se, homem mau, o que é isso?! Quero todos no Labirinto! Imediatamente! – gritou o rei de Creta.

Os guardas aproximaram-se, servis. – Não! Espere, senhor, eu suplico! – pediu Teseu, humilhado e novamente prostrado. Sua cabeça tocava o chão enquanto todos os amigos choravam, abraçados, tentando erguê-lo.

Minos não gritou mais. Estava estupefato. Não estava habituado a uma demonstração de coragem e abnegação como aquela de Teseu. Não mais falou, mas fitou longamente o filho do rei de Atenas e não lhe respondeu mais; estava deveras confuso.

Eribeia estava confortando Teseu, quando se aproximou Ariadne, filha de Minos. – Não, Teseu, não faça isso, iremos todos nós ao Labirinto, e que seja logo!

Teseu viu-a vindo ao seu encontro e foi tomado pelo encontro com a suave beleza da filha de seu opressor. Fitaram-se longamente e Eribeia ergueu-se de imediato, pois ainda estava debruçada sobre Teseu, no chão. – O que deseja? Quem é você? – indagou Eribeia, intimidada. – Me chamo Ariadne e quero ajudar. Sou uma das filhas de Minos – disse, ainda fitando Teseu. – Por que devemos acreditar em você? – desconfiou Eribeia.

Ariadne fitou a outra demoradamente, mas deixou a timidez de lado. Olhava com certa arrogância contida, isto é, desviou os olhos e voltou a pousá-los em quem lhe interessava: Teseu.

Os outros se acotovelaram em torno da jovem, enquanto Teseu se pôs em pé, rápido, mostrando-se em sua altura e charme. – Por que quer nos ajudar, Ariadne? – perguntou, interessado. – Não posso dormir bem todas as vezes que sei quantos estão sendo encerrados no Labirinto, junto ao

Minotauro. Meu pai sabe que não concordo com essa matança, essa oferenda injusta, criminosa… – falou Ariadne, e, enquanto falava, sua voz se embargou, seus olhos se marejaram e ela voltou-se a Teseu. –Não aguento mais essa atrocidade; sou filha do rei, mas não compactuo com sua ordens, entendem? – desculpou-se a enamorada de Teseu.

Eribeia logo compreendeu. Seus olhos iam num vaivém de Teseu para Ariadne, num frenesi de ciúme e despeito. –Mas o que pode fazer por nós? Minos nos quer logo como pasto do Minotauro! – falou, ríspida, Eribeia.

Ariadne nem sequer voltou-se à outra, aproximou-se ainda mais de Teseu e confiou: –Hoje mesmo vou interceder por vocês, sim? Farei de tudo para salvá-lo… para salvá-los! – disse e retirou-se.

Menestes esfregou as mãos, contente. –Ao menos o amor pode salvar Teseu e a todos nós! –disse, irônico. –De que está falando, homem? – falou, enrubescido, Teseu. – Estou falando dessa moça que aqui estava e só olhou para você. Ela foi bem clara que nos salvará porque quer você livre, entende? – Não é nada disso, Menestes. Ariadne não é cruel ou criminosa como o pai! – enfatizou Teseu. – Ora, Teseu, que a moça seja justa e boa, tudo bem, mas agora se juntou outro motivo… – falou Nausítoo.

– Qual motivo? – interrompeu. – O motivo da paixão! A filha de Minos está apaixonada por você!

Empolgados como estavam em conversa entre homens, esqueceram-se da presença de Eribeia; mas Teseu olhou-a furtivamente, viu-a com os olhos baixos, bela, com a cabeça inclinada e os cabelos caindo-lhe pelas faces, então desconversou. – Basta! Conversa tola, não estamos aqui para pensar em besteiras de amor. Queremos solução! – Graças a Zeus temos uma! – disse Menestes.

This article is from: