2 minute read

12 – Libertação e expulsão de Medeia

12

LIBERTAÇÃO E EXPULSÃO DE MEDEIA

Advertisement

Egeu descia, silencioso e triste. Quando chegou ao último degrau, soltou um profundo suspiro. Não queria pôr os olhos em Medeia, mas era necessário cumprir as obrigações de soberano, enquanto senhor de Atenas. – Pediu que eu aqui viesse, pois bem, aqui estou! – falou, sem erguer a cabeça, pois não queria fitá-la. Ele a considerava como uma serpente do deserto, venenosa ao extremo, maligna e perigosíssima. – Não me odeie tanto, Egeu… não me odeie! – O que você quer? Fale! – exigiu entredentes. – Poupe, poupe minha vida! Não me mate!

Egeu engoliu em seco e inclinou a cabeça, comovido. – Mas você não pouparia a vida de meu filho, sua mulher ruim! – sussurrou com desdém.

Ela não se intimidou. – Me poupe a vida, suplico! – implorou a ex-amante. – Sim, sim, eu pouparei a sua vida! Não quero mais ouvir sua voz!

Assim dizendo, tapou os ouvidos e tomou uma atitude severa, distante. Medeia pôs-se a chorar. Remorso e medo inundavam-lhe a alma. – Perdão! Perdão! Me perdoe! – Medeia gritava enquanto ia sendo retirada pelo carcereiro e levada ao interior da cela. – Amanhã, não pode deixar de ser amanhã, quero que esta mulher saia de meu reino e retorne à Cólquida! – ordenou o rei.

Dito isto, subiu célere os degraus, afastando-se do calabouço, um lugar sombrio, malcheiroso e inquietante, porque a presença de Medeia o enjoava deveras.

No dia seguinte, o rei espiou pela janela diversas vezes o momento em que o navio se afastaria do cais.

Medeia e sua companheira, Selênia, foram conduzidas à embarcação sob uma chuva torrencial. As duas foram observadas por uma pequena multidão que se aglomerou nas imediações do porto. Queriam ver aquela que tencionava eliminar o filho do rei. Como se sabe, a curiosidade acoberta a vingança, e o despeito é indiferença acomodada, assim nenhum circunstante xingou ou desacatou a infeliz, mas fitaram-na com desdém e frieza.

Ela desconfiava que pudesse ser ferida ou apedrejada, por isso atravessou as ruas cabisbaixa, nada arrogante como antes se apresentava. A vergonha tolhia-lhe os membros; Medeia, de maneira furtiva, pela primeira vez, temia sua sorte. Seus crimes poderiam ser revelados e, ali mesmo, frente a todos, poderia ser trucidada como execrável. Suspirava forte e seus passos eram vacilantes. – Senhora? Senhora? – sussurrava, aflita, a cúmplice. – O que é? Não fale comigo agora, mulher! – O que será de nós? O que será de nossas vidas? – perguntava a escrava, também aflita. – Não fale mais comigo, infeliz. Egeu poupou-nos a vida, mulher! Que os deuses tenham piedade de nós! – falou e emudeceu, tensa.

Sem nenhum privilégio, entraram no navio. Silenciosa e espertamente, Medeia acomodou-se num tamborete, perto da amurada, e ali ficou bem quieta enquanto a tripulação a observava. – A desgraçada já entrou, vamos levá-la para longe daqui! – gritou alguém.

Medeia retornava à Cólquida, de onde partira um dia.

Parte IV Guerra, amor e terror

This article is from: