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19 – Destino e fatalidade

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17 – O labirinto

17 – O labirinto

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DESTINO E FATALIDADE

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Ariadne foi abandonada na ilha de Naxos. Teseu não saiu do quarto por três dias e recusava-se a falar com quem quer que se aproximasse do recinto na embarcação.

Remorso? Arrependimento ou arrogância exasperada? O que quer que fosse, deixou-o retraído por dias, e, confinado, não respondia aos companheiros.

Eribeia, preocupada, foi-lhe ao encontro. – Covarde! Você é um covarde! – disse. – Por que sou covarde? – Porque tirou a princesa de Creta, fez com que ela acreditasse em você e a abandonou numa ilha!

Teseu não acreditava no que ouvia. – Como? Você é contraditória! Antes eu não podia levá-la, agora sou covarde? – Sim, covarde, porque não concordo com o que fez desde o início. Você é um herói pela metade: sedu-

ziu, deixou-se seduzir e em seguida abandonou. Minha admiração por você diminuiu, você mata monstros, malfeitores, mas não suporta o amor. Basta! Como pôde deixar a moça numa ilha? – falou Eribeia e retirou-se.

Lágrimas desciam pelo rosto de Teseu. Ele não sabia o que falar e seus pensamentos estavam confusos. O que fazer? Acabrunhado, trancou-se no recinto e chorou com amargor.

A tristeza acomodou-se na embarcação e Teseu não suspeitava a nova tragédia que o afetaria profundamente.

Aproximando-se o navio de Atenas, Egeu foi avisado de que a frota retornava ao porto.

O rei correu ao local para receber pessoalmente o filho, por isso desceu à praia e atento observava, e a ansiedade era tamanha que avançava pelas ondas, na expectativa de ver o filho.

Subitamente estacou e gritou ao fiel Ceres. – O que vejo, Ceres? – Como, senhor? O quê? – quis saber o outro. – Vejo velas negras, Ceres, velas de defunto! – gritava em desespero. – Acalme-se, senhor! Senhor, não é nada demais, nada mesmo! – confortava Ceres e fazia sinais aos soldados.

Egeu entrava mais e mais na água; tropeçando, caindo, levantando-se. Ceres corria atrás, preocupado com o súbito desespero do rei.

– Velas negras, eu pedi, pedi a Teseu que se fosse vitorioso, velas brancas; na derrota, velas negras! Meu filho, então, está morto! – gritava.

Ceres compreendeu então o desatino do rei, mas antes que o segurasse, Egeu lançou-se nas águas, sendo imediatamente engolido, submergido ante os olhos do fiel companheiro, que mergulhou, procurou e não mais encontrou o rei de Atenas.

Num pressentimento súbito, Teseu olhou as velas negras e viu ao longe a Acrópole, por isso, num grito rouco e estupendo, gritou: – Abaixem as velas! Abaixem! Que meu pai não as veja! – gritava feito louco.

Tarde demais, Egeu não mais reinava; estava submerso, mergulhado no reino de Posídon. – Meu pai… meu pai querido! Que meu pai não tenha avistado as velas negras! – falava e chorava o filho, recostado na amurada, tendo Atenas à sua frente.

Ao atracar no porto de Atenas, Ceres contou-lhe a tragédia. Teseu cambaleou ante a notícia. Seu regresso não foi de vitória e alegria.

Teseu nutria o remorso pelo abandono e pela fatalidade brusca de Egeu em se suicidar, afogando-se no mar.

E enquanto caminhava à frente, sozinho, Menestes, Nausítoo e Eribeia seguiam-no. Mais atrás, Ceres, os soldados e uma grande multidão de curiosos estavam no átrio do palácio.

Teseu se tornaria rei da Ática. Ainda que um rei poderoso, era triste e solitário.

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