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17 – O labirinto

17

O LABIRINTO

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Àhora determinada, os atenienses foram encaminhados ao Labirinto e lá aprisionados. Grande multidão seguiu os soldados e as vítimas. O rei ficou à janela de seus aposentos. Não ousava sair porque Ariadne gritava a plenos pulmões nas escadarias do átrio. Gritava contra o pai, gritava contra a tirania, em favor das pobres vítimas. Ninguém ousava fazê-la calar-se e Minos não ordenou sequer que a retirassem do local. – Injustiça! Injustiça! Crime! Ninguém mais deve ser dado ao Minotauro! – gritava Ariadne. E quando não tinha mais forças, quando seus músculos enrijeceram, tombou sem sentidos no chão, mas os criados da cozinha, que a vigiavam, acudiram-na solícitos e a levaram para ser tratada da crise.

Minos observava da janela. – Que desgosto ter uma filha assim – murmurou, sem emoção.

Na escuridão do antro, na caverna do monstro, os companheiros de Teseu ficaram juntos, medrosos e amontoados, agarrados uns aos outros.

Dédalo construiu complexa edificação, lugar de muros altíssimos com voltas e ziguezagues, longuíssimos corredores e caminhos retorcidos.

Teseu e os outros estavam à boca do Labirinto; um lugar frio e sujo. Uma caverna de pedras afiadas, indicando às vítimas todo o desconforto, prenúncio do terror que ali encontrariam. – Vamos! Vamos daqui! – incentivou Teseu. – Aonde? Ir para onde? – quis saber Menestes. – Ela nos enganou, mulher má, mulher enganadora… disse que tiraria você, nós, e nada! Infeliz mulher, que morra! – falava exasperado Nausítoo. – Ariadne fez tudo que pôde, enfrentou o próprio pai, homem que não deixa por menos até os ataques de filhos! – confortou Teseu. – Não sei, não sei, Teseu, porque seremos mortos pelo Minotauro devido à morte de Androgeu, um filho querido de Minos – lembrou Eribeia. – Ariadne zombou de você e de todos nós! – gritou Nausítoo. – Calem-se! Calem-se, Ariadne está sofrendo por nós! – gritou Teseu.

– Por você, talvez; por nós, não creio! – asseverou a enciumada Eribeia.

Teseu não respondeu. Menestes adiantou-se ao grupo, patético, em choque. – Temos que ir, então vamos, não sei pra onde – falava absorto.

Em passos lentos, afligido pelo medo e pela escuridão, o grupo seguiu o caminho em voltas.

Teseu buscou a mão de Eribeia e a segurou fortemente. – Por quê? O que houve? – Quero proteger você, sim?

Eribeia não respondeu, mas deixou-se ficar de mãos dadas com o outro.

O Minotauro sentiu o cheiro de carne viva, de presas novas, então lançou forte rugido, alçou a cabeça para que as narinas captassem melhor de onde vinha o aroma de comida fresca e partiu em corrida frenética, pois nada comia há três dias e três noites consecutivos. – É ele! – gritaram todos.

O coração de Teseu acelerou, os músculos do pescoço retesaram-se, as mãos crisparam-se e forte calafrio percorreu-lhe o corpo. – Acalmem-se! Acalmem-se, eu cuidarei dele! O Minotauro é forte, mas não é tudo! – acalmou-os Teseu.

Ninguém lhe obedeceu: gemidos, suspiros e gritos eram ouvidos; vários desmaiaram em pânico, então Teseu tomou uma decisão.

– Fiquem aqui! Eu irei adiante e o enfrentarei! Assim evito uma desgraça maior! – Não, não permitirei, Teseu; o que é isso? Estamos juntos, ficaremos com você! – falou Menestes. – Isso mesmo, estamos juntos! – concordou Eribeia. – Morreremos todos e juntos! – confirmou Nausítoo.

Teseu viu-se rodeado de companheiros leais, mas acrescentou: – Sei, sei que estamos juntos, mas não quero que morram comigo, posso poupá-los e vou enfrentar sozinho o monstro! – Não! – Não falem mais porque vocês farão o que eu determinar – interrompeu Teseu com voz forte, resoluto.

Os outros homens e mulheres permaneceram calados, aterrorizados com os uivos e rugidos da fera que se encaminhava a eles com fúria mortal.

Teseu desvencilhou-se com brusquidão das mãos de Eribeia e sumiu nos becos sinuosos do Labirinto.

O pequeno grupo estacou. Amparavam-se nas pedras úmidas, sentindo o cheiro de carne podre e sabendo que eram presas fáceis da fera.

Todos os olhos estavam bem abertos, os corações batiam descompensados, então Eribeia falou: – Vamos nos sentar próximos uns dos outros e nos proteger bem!

Menestes abraçou-a choroso, enquanto Nausítoo ficou na outra extremidade do grupo, atento, vigiando.

– Ele conseguirá! Ele é forte! – sussurrou em voz trêmula Eribeia. – Sim, conseguirá! – confirmou Menestes.

E não falaram mais enquanto o silêncio e o terror os envolveram como um manto espesso, um manto de impotência.

Teseu corria muito, e sua corrida era vertiginosa, a corrida certa de eliminação. Aquele monstro deveria ser liquidado de uma vez por todas. Como subsistia uma fera tão hedionda? Preciso matar, exterminar o mal e conseguirei isso! Estou ouvindo seu grito, sinto o cheiro de seus pelos fedorentos, mas quero tocar com as minhas mãos seus grandes dentes e suas patas!, e Teseu corria mais do que era possível correr.

E o Minotauro avançava aos galopes, rugindo, mas pressentindo que a presa vinha ao seu encontro também às pressas. O bicho diminuiu a marcha, confuso. O que estava acontecendo? Todas as presas fugiam e tentavam se esconder, a que vinha ao seu encontro era destemida e avançava? Mas prosseguiu, raivoso, grunhindo mais e mais.

Teseu desenrolou o novelo, deixou-o correr, abaixou-se e buscou uma pedra pontiaguda e comprida e, quando percebeu que, em uma ou duas voltas do Labirinto estaria diante do monstro, estacou e agachou-se.

O Minotauro continuou sua corrida frenética e passou por Teseu sem pressenti-lo. Quando o percebeu e voltou-se, tarde demais, o filho de Egeu acertou-lhe o olho direito, furando-o. O bicho tombou, gritando de dor, e numa investida rápida, forte, Teseu jogou-se por cima da fera e rasgou-lhe com um golpe intenso e fundo a garganta, gesto tão espontâneo quanto doloroso para o seu braço.

E o Minotauro nem rugiu de dor, tamanha foi a força que lhe decepou a cabeça.

Quando, na escuridão, Teseu ergueu a cabeça ensanguentada, soltou um grito tão profundo que ecoou pelos corredores, passou pelos companheiros e esbarrou nas grades de entrada do Labirinto. – Teseu! – gritou Eribeia. – Teseu! – bradou, despertando, Ariadne.

Minos arrepiou-se e Egeu sentiu o coração acelerar.

O braço de Teseu erguia ainda a cabeça, quando forte tonteira fez o filho de Posídon tombar sem sentidos sobre o corpo inerme do Minotauro.

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