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1 – Solitária em Naxos

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SOLITÁRIA EM NAXOS

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Opiar arrastado e seguro da ave ecoou ao longe e cresceu mais e mais por entre a vegetação. O piado estendeu-se pela praia deserta, deserta; a praia vazia, mas que recebia, em sua areia, o corpo firme e jovem de Ariadne.

Ela dormia tranquila. Estava só, mas dormia como quem repousa bem em sua cama, em casa.

A água lambia-lhe os pés quentes pelo sol em pleno vigor da hora certa da manhã. Ela dormia.

Pássaros voavam e pousavam ali perto. Aproximavam-se do corpo e nada de movimento da bela jovem de cabelos encaracolados que dormia na praia, sozinha.

Ariadne não acordava, porque dormia satisfeita, ou melhor, realizada. O sonho bom das boas conquistas prontas e certas. Ela dormia. As ondas e marolas se avolumavam, abeiravam-se de seu corpo inocente, puro, o corpo de quem não suspeita da solidão…

Então, novamente, seus pés foram molhados e ela se revirou na areia, tentando abraçar alguém invisível. Ariadne voltou seu rosto para essa mesma pessoa (também invisível) e pronunciou, sonolenta e entorpecida pelo sono gostoso: – … Teseu?

E revirou-se lutando para permanecer adormecida, mas seus pés estavam sendo repetidas vezes banhados, porque a água parecia querer acordá-la. – Teseu?! – pronunciou e abriu os grandes olhos azuis, que se ofuscaram ao brilho dos raios solares e o ardor intenso do calor. Somente assim despertou de vez, ergueu-se nos cotovelos e sem ver, mas assustada, gritou com mais força o nome de quem amava: – Teseu!

Ela se viu sozinha e sem respostas. De pé, pôs a mão direita sobre os olhos e viu que os navios estavam longe. Aterrorizada pela situação, sua boca abriu-se para um grito, que não saiu, tamanho fora o choque, e sentou-se na areia, absorta em sua sorte.

Fui abandonada; ele me deixou sozinha na ilha, pensou aflita.

Seu choro foi sufocado pelas ondas revoltas. Ela estava sozinha, abandonada na ilha de Naxos.

Parte I Filho de Posídon

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