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11 – O reconhecimento

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O RECONHECIMENTO

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Uma festa era a ocasião ideal para a população ateniense mostrar sua verdadeira vocação para a dança e para a música.

O salão estava repleto de convidados ilustres, que se destacavam com suas roupas elegantes e luxuosas. A alegria era certa e ouviam-se gargalhadas longas, risos esparsos e gritos de vivas. O melhor vinho era bebido e os criados não se cansavam de servir os deliciosos manjares e as apetitosas iguarias, por entre olhares ávidos para não perder nenhum fuxico.

Quando Teseu assomou à porta principal, não passou despercebido. Seu porte altivo, sua vasta cabeleira e o traje que usava fez com que todos se voltassem em sua direção. Subitamente, houve silêncio e todos fixaram o olhar nele, o estrangeiro.

Medeia levantou-se, pressurosa, mas Egeu tomou-a pela mão. O rei fixou os olhos em Teseu, admirava-o, cami-

nhando resoluto ao seu encontro. Ceres interceptou-o. Teseu estacou obediente. – Não queremos que se aproxime demais do rei! – sussurrou o guarda principal.

Teseu sorriu. Egeu desviou o olhar, desconcertado. Forte arrepio percorreu-lhe a espinha, por isso apertou a mão de Medeia, que compreendeu. Ela tinha que eliminar o quanto antes Teseu das vistas do rei, senão seria tarde demais. – O lugar deste homem, com o veneno preparado, é bem próximo da gente! – falou baixo a feiticeira.

Egeu não se sentia bem. – Ele não me parece mau, seus olhos têm alguma ternura, é um bom homem, não? – murmurou, complacente. – Quê?! É um assassino! Deve ser morto e aqui o será!

O rei sofria, alguma coisa em Teseu lhe agradava muito, agora que vira seu rosto, percebia que o rapaz nada tinha de perigoso.

Súbito um acorde prolongado foi emitido e os cantores puseram-se a cantar, festivos. Teseu foi acomodado próximo a Medeia e o rei, enquanto Ceres estava à sua frente, atento.

Então gordo porco assado foi trazido, animal preparado desde a véspera, cheiroso e bonito. Medeia olhava, aflita, a taça com o veneno diante de Teseu, que não ousava beber. Os olhos da mulher lacrimejavam de ansiedade.

Egeu pousou os olhos em Teseu, que correspondeu o olhar; demoraram-se um pouco os dois, um olhando o outro e Ceres contemplando a cena com interesse; mas o rapaz sorriu e, para se fazer reconhecer ao pai, puxou a espada para cortar a carne…

Egeu escancarou a boca e perdeu a voz. Os olhos reviraram, aflitos, enquanto as mãos gesticulavam pela força da emoção. Medeia assustou-se, mas pôde compreender o que estava acontecendo. – M-meu… meu… fi-filho! – gemeu Egeu.

Todos os olhos se viraram ao ouvi-lo. Fizeram silêncio; os movimentos foram suspensos, parecia que a respiração dos circunstantes suspendeu-se. Homens e mulheres observavam Egeu, ninguém entendia o que estava acontecendo. O silêncio foi interrompido quando, com muito custo, Egeu conseguiu erguer-se. O rei assemelhava-se a um homem atemorizado, em estado de choque, pois colocou as mãos à cabeça e gritou desatinadamente: – Este!… Este!… Este homem é o meu filho! Teseu! Meu filho Teseu está aqui! – E apontava para o forasteiro.

Ceres, atônito, encaminhou-se ao jovem forasteiro. – Por favor, senhor, por favor, senhor, seu pai quer lhe falar!

Somente assim Teseu ousou levantar-se e encaminhar-se ao choroso pai.

Egeu avançou célere, gesticulando, gritando e batendo com as duas mãos no peito.

– Meu filho, meu amado filho, Teseu! – E beijou-o nas duas faces, acariciando-lhe em seguida, para, enfim, abraçá-lo, terna e comovidamente.

Teseu deixava-se abraçar e beijar, surpreendido pela extrema demonstração de afeto e carinho: foi quem mais ficou desconcertado diante de todos.

Egeu era confortado por Ceres. – Senhor, senhor, acalme-se! Tudo está bem! – dizia o fiel companheiro.

Os olhos de Egeu crisparam-se, revoltados. Ele não escondeu sua raiva, então bradou: – Prendam Medeia! Ela não pode escapar do palácio! Esta mulher queria matar meu filho, e hoje ele seria envenenado! Oh! Não! Não! Ela deve ser morta! Não a deixem escapar! Jamais! – gritava o bom rei.

Ceres acalmava-o, e então Teseu falou: – Meu senhor, eu estou bem, estou aqui, pode ficar calmo, eu não lhe quero mal!

Egeu aproximou-se do filho, beijou-o mais uma vez. – Eu sabia, meu coração dizia que havia alguma coisa em você familiar, alguma coisa minha; meu coração tentou evitar a tragédia! – murmurou o rei.

Ceres ouviu e também ele compreendeu por que Teseu lhe intrigava, ligado como estava a Egeu pelos laços de amizade e fidelidade: adivinhava-lhe as coisas boas ou ruins. Teseu não o perturbava, muito pelo contrário, incitava-o à curiosidade, porque sua força era excepcio-

nal, contada como sobre-humana. Teseu era diferente dos outros homens, com seus traços indômitos, gestos de boa educação e vestimenta nobre. Não aparentava ser comum. – Meu pai, fique calmo, vamos ouvir os cantores, dançar com os dançarinos e nos alegrar, sim? – convidou um alegre Teseu.

Egeu bateu palmas duas vezes, festivo e alegre como nunca esteve. – Música! Canto! Quero dançar também! – incentivou o rei de Atenas.

Imediatamente foi obedecido. Teseu suspirou aliviado, percebendo que Egeu parecia descontrolado ante a emoção de vê-lo, o filho de Etra.

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