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7 – Teseu, a força contra monstros

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TESEU, A FORÇA CONTRA MONSTROS

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Entre gritos, correrias e vivas, em meio a rapazes vigorosos e moças soberbamente lindas, destacava-se, sentado na escadaria do palácio, diante do jardim interno, Teseu, filho de Etra.

Os olhos puxados de um verde intenso jaspeavam escandalosamente ante os seus observadores. O rosto indômito tranquilizava quem o contemplava, e ele, cheio de si, numa alegria transbordante, gritava, todo sorrisos: – Vamos! Vamos! Joguem o dardo! Joguem!

E obedeciam-no todos, era um líder seguro. O encontro era esportivo, estivo e costumeiro; depois corriam ao lago próximo e banhavam-se animadamente até o anoitecer. A felicidade era contagiante, envolvente.

A companhia de Teseu era disputadíssima, ele era leal e sincero em palavras e por isso todos o queriam por perto, rapazes e moças.

A vida era confortável no palácio de Piteu, mãe e avô prodigalizavam ao jovem tudo que desejava. Ele, Teseu, sentia-se constantemente tomado pela alegria divina, então organizou uma viagem a Delfos com seus companheiros prediletos. – Vamos a Delfos, Alano? – Claro, querido, mas pra quê? – Quero oferecer a Apolo metade de meus cabelos… – Então precisamos avisar aos outros e arrumar nossas bagagens o quanto antes. Quando partiremos? – Em breve, tão logo avise minha mãe e o vovô, certo? – Conte comigo, está confirmado, avisarei os outros, principalmente Péricles, Astor e Lutio – lembrou o amigo com entusiasmo.

Teseu retornou aos seus aposentos, pensativo. Quando entrou na ala principal do palácio, rumou aos aposentos de Etra.

Diante do quarto da mãe, ficou alguns instantes parado, pensativo. Não abriu abruptamente, como de costume, mas sussurrou o nome da mãe duas vezes e bateu três vezes à porta.

Uma criada permitiu que ele entrasse. Etra surgiu em trajes íntimos, pronta para acomodar-se na cama.

– Quem é?… Ora, você, filho? O que houve? O que aconteceu? Está muito sério, filho, o que houve?

Teseu tinha o rosto fechado, nenhuma emoção transparecia. Fitava a mãe de maneira impassível. – Você está me assustando, filho, o que houve? – perguntava Etra, preocupada. – Quero pedir permissão para ir a Delfos oferecer uma mecha de meus cabelos a Apolo! – balbuciou Teseu. – Então é isso, Teseu. Que coisa, você estava me assustando!

Teseu ainda permanecia tenso, seu rosto contrafeito. – Não é nada, subitamente algo me tomou, uma tristeza… vontade de chorar, me vi quase aos prantos, como jamais me senti, mamãe!

Etra arrepiou-se, puxou o filho contra si e animou-o. – Deixa! Esqueça isto, filho, já passou!

Teseu voltou-se firme para a mãe. – Sim, claro, foi algo bobo… Já estou bem!

Mãe e filho se abraçaram mais uma vez, ternamente. – Passeio concedido, filho, espero que tudo corra bem, na proteção de Zeus!

Teseu beijou a fronte de Etra, feliz. – Mãe que é um tesouro pra mim!

E saiu, satisfeito, com passos leves, deslizando pelo pavimento, acompanhado pelo olhar preocupado da mãe.

Tão logo afastou-se, entrou Piteu.

– Ouvi tudo, filha, e acredito que chegou a hora de revelar-lhe a verdade, não acha? – Sim, pai, contarei-lhe a verdade… – Agora ou mais tarde? – interrompeu Piteu. – Tão logo chegue do Oráculo de Delfos. – Bem, que as coisas se arrumem no agrado dos deuses – ponderou o rei. – Assim espero, papai! – animou-se Etra.

Numa tarde chuvosa, entre relâmpagos e trovões, Etra quis contar os segredos ao filho, que já havia retornado de sua aventura.

Chamou-o à sala principal e, nervosa, mas disfarçadamente, perguntou: – A sua viagem foi tranquila, deu tudo certo? Não houve nenhum contratempo grave?

Teseu olhava-a sorrindo. Nada respondia. – O que foi? Por que ri? – Porque você está nervosa, falando rápido… Posso saber o que se passa, mãe? – Nada, não, só curiosidade! – Ah! Sim, como você mente bem, mãe!

Etra empalideceu vivamente. Suspirou e fitou o filho por longos minutos.

Teseu avançou alguns passos, fez-se sério e indagou, preocupado.

– Algo ruim com o vovô, mãe? – Não, filho, com você…! Ah! Não com você, mas o que devo contar-lhe, sim?

Teseu aproximou-se terno, carinhoso, e abraçou a mãe, dizendo: – Mamãe, o que há? Eu conto com as suas palavras sempre, nada de mal espero, pode falar comigo!

Etra pôs-se a chorar timidamente. – Ah! Não, não chore, mãezinha, o que houve? – consolava Teseu. – Choro porque você é um grande presente pra mim, filho! – Fico muito feliz com isso, mãe, mas me diga, por favor, o que está acontecendo?

Etra suspirou profundamente e principiou a falar: – Muita coisa não aconteceu como você acredita, meu filho. Eu não fui tão fiel e verdadeira quanto parece, querido… – Então? O que houve entre nós? Não sou seu filho? É isso?

A mãe pareceu estar ainda mais assustada. Ela o abraçava ternamente enquanto falava, com aparente nervosismo, porém sempre compreensiva: – Não! Não! Mas o que é isso, Teseu? Claro que você é meu filho, meu, todo meu, meu filhinho e tesouro dos deuses…!

E olhou-o fixamente, afastando-se um pouco dele.

Teseu fez-se sério, compreendeu o mistério, a confusão da mãe. – Egeu, então, não é meu pai!

Etra estava de costas: cabeça inclinada, imóvel e pálida, com um soluço preso na garganta. – Quem é meu pai, mãe? – murmurou o filho.

Fez-se alguns instantes de silêncio. Etra olhava sem direção, envergonhada. Olhava e nada via. Seus lábios se moviam, mas o jato de ar era impronunciável. – Quem, mãe?– indagou mais uma vez. – Posídon, filho, Posídon!

Teseu bebeu as palavras e nada disse.

Etra tomou coragem e avançou no assunto, timidamente. – Você me perdoa, filho? Na verdade, essa é uma história bem desagradável, nem o próprio Egeu sabe que você não é filho dele… – Não sabe? Como assim não sabe? – Porque Posídon me possuiu na nossa noite de núpcias, com o consentimento de Atena; fui enganada, era uma armadilha. A deusa me conduziu a uma ilha, dizendo que eu faria um sacrifício, mas quem estava por lá era Posídon, e então não pude escapar…

Teseu fitava a mãe, seu rosto denunciava enternecimento. Avançou carinhoso até ela e apertou-a afavelmente. – Mãe, pode confiar em mim. O que aconteceu a você foi terrível… Sou filho de Egeu, apesar do que 72

houve com Posídon. O segredo ficará guardado para sempre, mãe!

Etra chorava feliz, agradecida. Beijava o filho na testa, nos cabelos, nos olhos e abraçava-o fortemente. – Meu filho! Filho querido meu!

Teseu desvencilhou-se brincalhão. – Assim você me sufoca; quer me matar, mãezinha?

E ambos riam de suas aventuras.

No dia seguinte, ainda sob o sereno da madrugada, mãe e filho se dirigiram ao local onde Egeu escondera a espada e as sandálias.

Diante da enorme rocha, Teseu não se intimidou. Voltou-se para a mãe, confiante. – É esta a pedra? Aqui estão as coisas de meu pai?

Etra sorriu e respondeu: – Por certo, filho, aqui estão as coisas de Egeu, guardadas para você. – A espada e as sandálias! – juntou o rapaz. – Então é hora de tomá-las, porque são suas agora. Erga a rocha, filho! – incentivou Etra.

Resoluto, dono de seus movimentos, Teseu avançou e ergueu a grande rocha, sustendo-a em seus braços. A mãe viu com alegria os rijos músculos de Teseu, mas pensou: Estes braços e músculos não são do vigor de Egeu, mas sim de Posídon: meu filho é um filho de deus! 73

Teseu pôde resgatar os presentes de Egeu e os recolheu com evidente satisfação. Diante da mãe ergueu a espada, brandiu-a no ar, depois vestiu as sandálias. – Tudo permaneceu intacto; nada se perdeu, mãe. O couro não apodreceu, nem a espada se corroeu – disse realmente emocionado. – Agora, filho, você possui a independência, pode procurar seu pai, ir ao reino que também é seu, percebe? – Tenho força suficiente e devo amadurecer minha vontade para reconquistar minha terra, a terra de meu pai, dos monstros que a infestam e incomodam – disse convicto, já um homem dono de si.

Etra calou-se, admirando-o, porque o filho demonstrava segurança e honestidade e, apesar de temer por sua vida, sabia que forças invisíveis impulsionavam-no à luta e à guerra. – Temo por sua vida, mas sei que algo o impele, o impulsiona… mas você é o meu amor! – Mãe, farei de tudo pelo bem e por nós! Pode confiar em mim, sim?

Etra aquiesceu juntando as mãos, que foram beijadas por Teseu amavelmente.

Abraçaram-se e se retiraram do lugar, sem olhar para trás; seguiram em frente, como se certos da separação próxima. Não falavam, mas o vento fustigava-lhes as vestimentas e seus passos estalavam os gravetos e folhas da trilha. Mãe e filho, silenciosos…

Parte II Lutas e aventuras

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