“Eu acho que ele deixou um pouco de cor para a cidade”
Diva Artacho Jurado
Edifício Louvre
foto: Tuca Vieira
Durante o processo de verticalização da cidade de São Paulo na década de 1950, João Artacho Jurado foi responsável pela construção de edifícios que introduziram uma nova proposta estética e funcional, transcendendo os limites da tradição modernista. Seus projetos deram destaque aos elementos decorativos, às cores vibrantes e aos espaços de convivência, oferecendo um estilo de vida e uma sociabilidade idílicos, quase cinematográficos. Edifícios como Bretagne, Piauí, Viadutos, Louvre e Cinderela se tornaram ícones da paisagem paulistana.
Nascido no bairro do Brás, em São Paulo, em 1907, Artacho Jurado começou sua carreira como letrista de cartazes, estandartes, feiras e exposições na década de 1920. Passou a desenhar estandes para feiras industriais e, durante as duas décadas seguintes, se estabeleceu como organizador de uma série de eventos, como as exposições Centenário da cidade de Santos e Bicentenário de Campinas. Ingressou na construção civil ao fundar a Construtora Anhangüera, com o irmão Aurélio, em 1946, produzindo casas, pequenos prédios e vilas. A empresa se transformou, na década de 1950, na Construtora Monções, por meio da qual Artacho construiu suas obras mais emblemáticas.
Parte da Ocupação Artacho Jurado, esta publicação apresenta aspectos da obra de um arquiteto que, mesmo incompreendido pela crítica de sua época, encontrou sucesso entre o público.
O projeto Ocupação Itaú Cultural, que celebra figuras ímpares da arte e da cultura brasileira, já prestou homenagens a outros nomes da arquitetura nacional, como Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Gregori Warchavchik e Rino Levi. Para saber mais sobre todas as edições do projeto, acesse itaucultural.org.br/ocupacao.
Itaú Cultural
Filho de imigrantes espanhóis, João Artacho Jurado (1907-1983) cresceu entre o catolicismo da mãe e o anarquismo do pai. Mesmo não frequentando uma faculdade de arquitetura ou engenharia – com uma formação amparada por cursos de desenho técnico iniciados na projeção de neons publicitários –, Artacho tornou-se um dos principais nomes da indústria imobiliária paulistana em meados do século XX.
É a partir da sua paixão pela ópera, da sua participação em feiras industriais na década de 1940 – onde constrói um pensamento cenográfico, tipográfico e formal próprio – e do desenvolvimento cromático e comercial ligado aos neons que sua vontade construtiva ganha corpo.
Por meio da sua incorporadora, a Construtora Monções, adquiriu lotes e construiu prédios nas áreas centrais e elitizadas de São Paulo, disputando espaço com os grandes nomes da arquitetura modernista paulistana, que sempre foram muito avessos à sua estética de adornos.
Artacho desenhava minuciosamente cada detalhe dos seus projetos, misturados com itens disponibilizados pela indústria de construção, além de se apropriar de referências da própria arquitetura moderna, recobertas com suas pastilhas multicoloridas, conectando profundamente a sua obra, única e facilmente reconhecível.
Esta Ocupação busca compartilhar esse encantamento de Artacho com a construção, realizada à revelia da crítica do período e sem perder o humor, a fantasia e a pluralidade de referências, para criar espaços de lazer e de vertigem emoldurados pelos elementos da sua arquitetura.
Guilherme Giufrida e Jéssica Varrichio consultores
A GRAMÁTICA DE ARTACHO JURADO
Com o objetivo de olhar para Artacho Jurado como um artista que desenhou e coloriu sobre as cidades de São Paulo e Santos, esta Ocupação comissionou a realização, por Tuca Vieira, de um ensaio fotográfico para um dos núcleos da exposição. A proposta do ensaio é destrinchar seus elementos construtivos propondo uma pesquisa abrangente sobre a gramática do arquiteto e seu desenvolvimento no tempo a partir de alguns de seus edifícios.
Num período em que a indústria pregava a padronização de elementos na construção civil, os projetos de Artacho propunham uma junção entre o industrial e o artesanal. O arquiteto desenhava muitos dos detalhes desses projetos: lustres, cobogós, janelas, escadas, rampas e gradis, dando personalidade a cada edifício. Por isso, foram selecionados alguns de seus prédios e destacados elementos, evidenciando sua pragmática construtiva e apresentando seu desenvolvimento no tempo e as variações e semelhanças entre os projetos. O escopo desse núcleo se desdobra nesta publicação, por meio do trabalho da ilustradora Juliana Russo, que traduziu em traço, desenho e cor a caligrafia projetiva de Artacho.
Da esquerda para a direita: Diva Artacho Jurado, João Artacho Jurado e Mercedes Jurado. Na ocasião, o arquiteto corta bolo no formato do Edifício Viadutos, ca. 1950 foto: autoria desconhecida
Ocupação Artacho Jurado
abertura quinta 20 de junho
visitação até domingo 15 de setembro de 2024 terça a sábado 11h às 20h domingos e feriados 11h às 19h
livre para todos os públicos
Itaú Cultural
Av. Paulista, 149, São Paulo piso 2
Entrada gratuita
Fontes: BallPill e Caslon Doric Papel: Pólen Bold 90 g/m2