ao extremo: incertezas — que não costuma frequentar ensaios de antropologia e sociologia, não raro encerrados no contrário dela a pesar como chumbo sobre as análises lapidares que pensam fazer. A cena agora se alarga, é viva, atraente. O prazer de ler sociologia pode retornar. Canclini talvez retoma, aqui, as balizas de seu primeiro livro, Cortázar,
una antropología poética, de 1968. Essa nova disciplina, indisciplinada, continua
“Pistas falsas, multifacética montagem sobre o futuro imediato já realidade: as novas ondas de racismo, a submissão da vida à engrenagem da produtividade e do lucro, as ruínas da política e as perplexidades do intelectual, o equilibrismo da arte, a difícil independência do afeto e do erotismo.” Marcelo Cohen “Em 2030, a Palestina já é um Estado e a ‘globalização vinda de baixo’ leva empresas do México para a China. Um arqueólogo viaja por cidades emblemáticas da América Latina observando os costumes locais e misturando-se com pessoas e temas aos quais se liga por curiosidade e espanto, talvez até amor. [...] Tudo é interessante para o olhar do escavador de culturas: o supermercado e o design de móveis, os costumes das ruas e o mercado editorial, a transformação dos zoológicos e os ecoparques. Em Pistas falsas, a etnografia é atravessada pela ficção e pelas emoções pessoais para enxergar, a partir do futuro, o passado que já somos.” Cristina Rivera Garza
Pistas Falsas
outra, belíssima mesmo se cartesiana
Pistas falsas Uma ficção antropológica
Pela segunda vez, esta coleção dedicada a acolher, a princípio, ensaios sobre cultura e política cultural — em trama crescente e internacional — inclui uma obra de criação literária. Os gêneros derretem-se e fundem-se. O instante é transdisciplinar, depois de penar nos impasses interdisciplinares.
NÉSTOR GARCÍA CANCLINI
A única surpresa é o tempo gasto nessa passagem e ultrapassagem. Ficou claro: não há mais espaço para um conhecimento que não integre os momentos da Estética (da arte, da emoção, da sensação, do pode ser),
aqui. Boa notícia.
da Ética (outro nome para a Prática
Teixeira Coelho
das melhores escolhas) e da Lógica (a abstração, as normas, o que tem de
ser). De um lado, o rigor da ciência; no canto oposto, as errâncias da sensibilidade. Durante tempo demais,
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NÉSTOR GARCÍA CANCLINI
NÉSTOR GARCÍA CANCLINI nasceu em 1939, na Argentina, onde estudou e obteve seu PhD em 1975 na Universidad de La Plata; em 1978, foi recebido igualmente como doutor pela Université Paris Nanterre. A partir de 1990, passou a ser professor da Universidad Autónoma Metropolitana de México, DF, onde reside atualmente. Exerceu a função de professor visitante da Università di Napoli, University of Texas at Austin, Stanford University, Universitat de Barcelona e Universidade de São Paulo, entre outras. Na UAM, além de suas pesquisas sob diversos aspectos da cultura, dirigiu um programa de estudos específicos sobre cultura urbana. Autor de diversos livros relevantes para a área, publicou nesta mesma coleção Itaú Cultural / Iluminuras a obra Leitores, espectadores e internautas.
desde Platão, impôs-se uma distância entre ambos os polos — em prejuízo dos dois. Não mais. Essa questão é clara para Néstor Canclini, até há pouco reconhecido como um filósofo de formação que escolheu os campos da antropologia. Ou da sociologia? O fato é que os rótulos pediram falência: cabeças pensantes são ora isto, ora aquilo, quase sempre isto e aquilo, não disto ou daquilo. E Canclini busca sair da linguagem formatada, setorial, para uma outra, aberta. Não será num livro clássico de antropologia em que se lerão palavras como amor, ouvida da boca de um
personagem; e beijo; e o desejo de ir à casa da amada mesmo tarde da noite para uma taça de vinho... E esta
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