Ocupacao ROGÉRIO SGANZERLA
Ideias e imagens de um dos cineastas mais importantes do Brasil estão na Ocupação Rogério Sganzerla. Realizada pelo Itaú Cultural, a exposição é uma oportunidade de o público conhecer o universo criativo da obra de Sganzerla, por meio de seus filmes, documentos e roteiros originais datilografados, marcados, reescritos à mão. Anotações, referências aos artistas e aos personagens que o inspiraram, além de fotos e objetos pessoais, compõem a montagem. Parte da exposição, esta publicação traz textos atuais de críticos, pesquisadores e daqueles que compartilharam com Rogério Sganzerla sua energia, suas histórias de vida, afeto, trabalhos, ideias, filmes. Com uma obra enigmática, cuidadosa no que se refere ao som e à construção de poesia em imagens, Sganzerla reposicionou a história do cinema brasileiro no mundo. Os caminhos e os percalços dessa trajetória são contados nos relatos, na entrevista, nas fotografias de acervo e nos desenhos a seguir, numa homenagem afetiva ao cineasta que aos 22 anos realizou O Bandido da Luz Vermelha, considerado pela Unesco um Patrimônio Cultural da Humanidade.
Instituto Itaú Cultural
imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha
Pré-Ocupação de um visionário Joel Pizzini
Rogério está no ar, na tela e no papel. A Ocupação Rogério Sganzerla pinta numa esquina de ponta da Avenida Paulista, evoca os signos do caos, atravessa o perigo negro do abismo e joga luz nas trevas através do mistério da criação. Não estava escrito em lugar nenhum qual o destino que aguardava aquele guri, que até os 5 anos não falava, aos 7 já lançava um livro de contos e aos 11 aprontava o primeiro roteiro de longa metragem. Conta sua mãe, Dona Zenaide, que Rogério, lá em Santa Catarina, quando criança, adorava brincar de mágica e hipnotizar os amigos. O que ela não adivinhava, contudo, é que seu filho ganharia o mundo, tirando “o cinema do quarto de brinquedos” e revelando, em quatro filmes, verdades e mentiras da passagem do mago Orson Welles pelo Brasil. A cinefilia de Sganzerla aflorou aos 13 anos, no Colégio dos Irmãos Maristas em Florianópolis, onde o padre Andreotti, ao perceber que seu aluno não tinha pendor para atividades físicas, o estimulou a frequentar o cineclube, que exibia um atrevido repertório de John Ford e Rene Claire a Rossellini. A escolha de Rogério pelo cinema se definiu em 1961, na mudança para São Paulo, após sobreviver a um trágico acidente de carro em Joaçaba. Decidiu se instalar numa pensão na Pauliceia aos 15 anos e virou rato da Cinemateca enquanto fazia direito no Mackenzie, curso que abandonou dois anos depois, ao ser convidado por Décio de Almeida para escrever no festejado Suplemento Literário do Estadão. Através da crítica, fez cinema com a máquina de escrever, não diferenciando o “escrever sobre cinema do escrever cinema”. Depois fundou, com Maurice Capovilla, uma página de cinema no Jornal da Tarde, tornou-se, ainda, redator da revista Visão, da Folha da Tarde e do Última Hora. Nesse período conheceu Andrea Tonacci e realizou seu primeiro filme de ficção, curiosamente chamado Documentário, que conquistou o disputado Prêmio JB Mesbla. Entregue pela atriz Helena Ignez, sua futura esposa e parceira, o prêmio lhe rendeu uma viagem para Cannes, que ele aproveitou para a cobertura do festival. Na viagem de volta, escreveu no navio o roteiro de O Bandido da Luz Vermelha. O resto é mar. A trajetória errática de Rogério desse ponto em diante todos conhecem: lançado em 1967, O Bandido provocou enorme impacto, arrebatou vários prêmios no Festival de Brasília, transformou-se em clássico outsider e, como não bastasse, virou fenômeno de público, autenticando
a utopia de Oswald de Andrade – fabricar biscoito fino para o deleite das massas. Antes de tudo, o filme profetiza o AI-5 (“decretado o estado de sítio no país”, brada a locutora de rádio) e inova na incorporação do pop, do kitsch, de clichês, subgêneros e HQs. E, quando todos pensavam que estacionaria na sombra do próprio mito, Rogério apostou, em 1969, todas as suas fichas no popular e sofisticado A Mulher de Todos, um ousado modelo de indústria de Sganzerla para o audiovisual brasileiro – conforme o sócio e amigo Júlio Bressane. Um primor de roteiro, A Mulher de Todos escancara o talento de Helena Ignez, que revoluciona a arte de interpretar, explodindo os limites do enquadramento. Na sequência vem a radicalidade setentista da produtora Belair, que transpôs o deserto vigente no país e legou seis longas – marcantes viagens em apenas três meses de estrada. Da lavra de Sganzerla, três pérolas: Carnaval na Lama (desaparecido em mostra no Jeau de Paume, em Paris, em 1992), Copacabana Mon Amour e Sem Essa, Aranha. Enquanto filmavam com olhos livres e rompiam nós narrativos, o tempo se fechou e Rogério, Helena e Júlio se viram forçados a se exilar no Velho Mundo, onde concluíram parte dos filmes, que foram exibidos em Londres. Na volta ao trópico, no vácuo da contracultura, adotando seu singular método pré-colombiano, Rogério lançou com Helena o Abismu, salto no escuro que em 30 anos ainda reverbera com frescor sob a fuselagem sonora de Jimi Hendrix e a performance transcendental de Zé Bonitinho. O sonho acabou? No embalo dos esquisitos anos 1980, das aberturas políticas, da redemocratização e da globalização à vista, só um cidadão pode nos salvar: Welles. Ao lado, naturalmente, de três signos centrais do cinema de Sganzerla: Hendrix (desde Abismu), Oswald de Andrade (Perigo Negro) e Noel Rosa, inspirador de dois filmes: Noel por Noel (1980) e Isto É Noel Rosa (1990). Desse modo, Rogério Sganzerla dedica-se de corpo e alma a compor uma tetralogia sobre a passagem entre nós do cineasta norte-americano Orson Welles, nos anos 1940, quando It’s All True é abortado por contrariar interesses de políticos brasileiros e norte-americanos de suspeita vizinhança. Na primeira sessão do copião de O Signo do Caos em São Paulo foi que me aproximei mais de Rogério, que conhecia desde 1980, nos tempos de universidade, em
Curitiba, quando apresentou seu filme Brasil, debatido, com a presença dele, em nossa turma de jornalismo. De lá pra cá, breves encontros, mas para mim intensos papos lunáticos. Que mistérios tem Rogério? Enfant terrible,internacionalista,cineasta com suingue que saiu determinado da província para desburocratizar mentes e desafinar o coro dos contentes com um corte cínico-utópico na cena audiovisual contemporânea. Para ser vista com olhos livres e sensibilidade atenta (parafraseando Oswald de Andrade), apresentamos pela primeira vez em nosso país parte significativa da vasta produção intelectual-criativa de Rogério Sganzerla, cuja memorabilia é revisitada e a vida-obra escancarada nos roteiros inéditos e nos caderninhos em que desde criança anunciava o crítico que se afirmaria na adolescência. A Ocupação Rogério Sganzerla é composta de nichos-sequência que compõem a trajetória do artista, homem e pensador. Sem cronologia rígida, a montagem espelha a lógica cinematográfica, onde coabitam livremente tempos, ideias, formas, sons. Por se tratar de um artista transgressor, que permanentemente rompeu esquemas, decidimos sinalizar, ao invés de demarcar, resguardando assim a dimensão enigmática de seus escritos e registros fílmicos. Os espaços da exposição evitam o tom saudosista e valorizam aspectos pictóricos e gráficos recorrentes na obra do autor. Uma projeção exibe em quatro telas pequenos filmes que buscam conexões na filmografia de Sganzerla, evidenciando
seu estilo, características dos personagens e diálogos marcantes. Trata-se de um eixo central expositivo que proporciona ao visitante uma experiência sensorial que pretende antes despertar o interesse pela retrospectiva do diretor. A exposição extrapola as fronteiras do espaço e se prolonga no plano virtual, criando uma rede de dezenas de relatos através do site (www.itaucultural.org.br/ ocupacao), que permitirá uma compreensão mais abrangente do universo existencial e inventivo de Rogério, amplificando o alcance de sua obra. Na fase de prospecção e pesquisa, cerca de 4 mil imagens foram digitalizadas do acervo familiar, de instituições e de companheiros e amigos profissionais, para consequente seleção da curadoria. Os personagens “sganzerlianos”, com respectivos verbetes, ganham destaque na mostra, que revelará cenas familiares e exibirá o material bruto de dois filmes do cineasta catarinense: um inacabado, Fora do Baralho (1971), rodado no deserto do Saara, e Carnaval na Lama (1970), desaparecido em uma mostra que homenageava Hélio Oiticica em Paris, em 1992. Outro achado precioso é A Alma do Povo Vista pelo Artista (1991), filme-ensaio sobre a arte de Newton Cavalcanti, cujos originais estão desaparecidos, mas uma cópia recém-encontrada sem som será exibida. Os três signos medulares na constelação de Rogério – Noel Rosa, Orson Welles e Jimi Hendrix – ganharão espaços específicos. Atenção para o canto dedicado a Hendrix, que é o experimento interativo da mostra: uma guitarra com
O mar, elemento significativo nos filmes de Rogério, inundará uma tela sob forma de projeção, que o espectador descortinará ao incursionar no ambiente. O público estará, então, no interior de uma sala-telacaixa, onde o imaginário do gênio protagoniza a cena, os personagens divagam e a luz projeta signos e profecias que refletem o novo milênio. Concebida sob uma perspectiva contemporânea, a Ocupação Rogério Sganzerla persegue três linhas de fuga: luz, abismo e caos – nodais no universo do autor. Sua plenitude da poética poderá também ser compartilhada em retrospectiva completa do cineasta, debates com íntimos conhecedores de sua trajetória no Brasil e no exterior, por meio de portal eletrônico, livros e esta publicação: ecos do espírito da mostra. Através da mobilização da família, que generosamente abriu seu acervo, de amigos e colaboradores e entidades de preservação, e do envolvimento da equipe do Itaú Cultural, ocupa-se, enfim, um espaço privilegiado para a expansão da linguagem de Rogério Sganzerla. E justo na cidade que Rogério filmou compulsivamente com sua máquina de escrever desde
adolescente e onde produziu as obras-primas, O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos, que agora voltam reconhecidas para inscrever sua luz própria. A Ocupação Rogério Sganzerla é uma iniciativa sem precedentes sobre um artista visionário que transita na terceira margem do cinema, intransigente em seu ideário e que finalmente recebe um tratamento à altura da contribuição para o cinema brasileiro com que sonhamos (neste caso, sua vida vale o sonho). Um evento de fôlego, que proporcionará a fruição de uma obra singular, radical e ainda pouco acessível ao público, por dificuldades de distribuição. Esperamos que em breve este esforço lance sólidas bases para a sistematização do inventário documental do artista, criando, assim, condições para um diagnóstico que desencadeie uma ação urgente e efetiva para a restauração desse patrimônio audiovisual sem limites. Autor de Glauces (2001) e Helena Zero (2006) – ensaio sobre Helena Ignez –, Joel Pizzini é casado com Paloma Rocha, enteada de Rogério Sganzerla. Ao lado da esposa, dirigiu Elogio da Luz (2003), sobre a vida e a obra do cineasta. Colaborou na montagem de Luz nas Trevas (inédito), de Helena Ignez, com roteiro de Sganzerla. Diretor de 500 Almas (2004) e vencedor de mais de 20 prêmios em festivais nacionais e internacionais, Joel Pizzini é o curador da Ocupação Rogério Sganzerla.
imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha
dispositivo midi, disponível para qualquer visitante tentado a aguçar o imaginário musical inerente ao cinema de RG. A guitarra emitirá sons e imagens em inesperadas combinações.
Quando palavra e imagem convergem sobre o eixo dos sentidos Roberto Moreira S. Cruz
Mais uma vez o cinema está exposto. No espaço e nas telas desta Ocupação. E nada mais apropriado que o escolhido fosse um realizador que em sua visão vertical da realidade brasileira construiu uma das mais originais e criativas filmografias do cinema nacional. Rogério Sganzerla é de uma geração de artistas que viraram do avesso os dogmas estabelecidos das regras de conduta da cultura brasileira. Realizou aos 22 anos, em plena época da ditadura, um filme improvável e revolucionário em sua forma e conteúdo. O Bandido da Luz Vermelha é atemporal e, aos olhos congestionados da cultura da imagem contemporânea, ainda brilha e ofusca pela sua originalidade. Em seguida produziu, em 1969, A Mulher de Todos, filme feito e perfeito para Helena Ignez, sua companheira por 34 anos e com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla. Ao lado de Júlio Bressane e da própria Helena Ignez na experiência Belair, uma produtora independente e anarquista, que em três meses produziu seis filmes, realizou Copacabana Mon Amour, Sem Essa, Aranha e Carnaval na Lama (filme desaparecido e cujos negativos estão parcialmente deteriorados). Cinema como resultado da força criativa de uma geração interessada antes de tudo no exercício da liberdade de criação. Exilado como tantos outros, viajou para a Europa e a África, onde filmou com a mesma intensidade criativa o material bruto do projeto inacabado Fora do Baralho. Ao regressar ao Brasil, retornou ao cinema com Abismu (1977), filme que reúne em atuações antológicas Wilson Grey, José Mojica Marins, Jorge Loredo e Norma Bengell.
Foi nesse mesmo período que Sganzerla passou a se dedicar a uma vasta pesquisa sobre a presença de Orson Welles no Brasil, fato que ele referenciou nos filmes-ensaio Nem Tudo É Verdade, Linguagem de Orson Welles, Tudo É Brasil e O Signo do Caos. Com o mesmo olhar crítico e criativo, contou a história de Noel Rosa e celebrou Jimi Hendrix. Apesar do reconhecimento, a obra de Rogério Sganzerla está pouco preservada na memória audiovisual do país, e resgatála nesta exposição significa atualizar o que já se sabe sobre sua cinematografia, mas fundamentalmente o que pouco se mostrou e se pesquisou. Sganzerla era antes de tudo um homem da palavra e das ideias. Foi crítico de cinema, colaborou nos principais jornais do país,1 deixou escritos roteiros inéditos e refletiu de forma brilhante sobre a necessidade de pensar e de fazer um cinema que fosse genuinamente brasileiro. Quando começamos a trabalhar no projeto desta exposição, um tesouro foi imediatamente revelado. O acervo particular do cineasta estava intocado desde sua morte, em 2004. O interesse em descobrir o que estava guardado naquelas dezenas de caixas, pastas e arquivos de um cineasta da envergadura de Sganzerla motivou o convite para a família do cineasta se aventurar na construção coletiva desta exposição. Com a contribuição do curador Joel Pizzini, de Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla e de uma equipe de pesquisadores, iniciou-se o processo de averiguação, manipulação e levantamento de milhares de páginas, anotações, manuscritos, Com o apoio do Itaú Cultural, a editora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) prepara uma edição especial em dois volumes das críticas e dos artigos publicados por Rogério Sganzerla nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
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roteiros, cadernos, fotografias e sequências de filme. À medida que todo esse material era mexido e remexido, foi então se descobrindo um conjunto de rascunhos e textos, muitos deles desconhecidos da própria família, com traços evidentes de que, para o cineasta, a escrita servia de guia para suas ideias e para a elaboração de suas imagens. O próprio Sganzerla reconhecia em seus depoimentos que a escrita era a primeira etapa para a constituição do enunciado audiovisual. Como ele próprio afirmava: “Fazer cinema é como descrever um movimento impetuoso numa folha em branco pegando fogo”. Perceber as características desses textos, a forma muitas vezes aleatória e repetida com que as ideias eram escritas e anotadas, leva a supor que uma análise mais detida e metódica desses arquivos poderia revelar, sem dúvida alguma, outra abordagem sobre a linguagem e a narrativa de seus filmes. Desconheço alguma argumentação crítica que tenha se debruçado sobre a obra do cineasta a partir da hipótese de aproximação de sua linguagem audiovisual com sua escrita. Nesse sentido, a Ocupação Rogério Sganzerla quer trazer ao público essa dimensão sinestésica de seu cinema, em que palavra e imagem convergem sobre o eixo dos sentidos e se cruzam no campo da ambiguidade. Não é difícil notar que essa confluência nebulosa e pouco elucidativa entre imagem em movimento, língua e fala está na própria atonalidade narrativa de seus filmes, carregados de maneirismos, irreverência e contrastes estilísticos. Ver e ler os roteiros e as anotações de filmes como O Bandido da Luz Vermelha, A
Mulher de Todos e Nem Tudo É Verdade é um exercício prazeroso e ao mesmo tempo desafiador, uma aventura da leitura que evoca as imagens em movimento e vice-versa! Da mesma forma, reconhecer nos manuscritos os indícios de uma sequência ou a opção por uma fala específica de um personagem incita a percepção e a curiosidade de como tantas ideias viraram filmes! E que filmes! Roteiros inéditos, originais de seus artigos e críticas, fragmentos e material bruto de filmes inacabados, objetos e equipamentos utilizados na realização de seus filmes constituem-se em referências e signos de sua cinematografia. A Ocupação Rogério Sganzerla é uma experiência multissensorial, em que o cinema está expresso em sua dimensão plural de linguagens e sentidos. Em que as imagens, as palavras e os sons estão interpenetrados numa atmosfera sensorial e reflexiva, envolvidos pela força autoral e criativa de um cineasta com “C” maiúsculo. Roberto Moreira S. Cruz é gerente do Núcleo de Audiovisual do Instituto Itaú Cultural desde 2001, onde organiza e coordena projetos nas áreas de cinema e vídeo. É mestre em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando em comunicação e semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), onde desenvolve pesquisa sobre cinema, narrativa e projeções no contexto da arte contemporânea. Foi professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) no curso de comunicação social entre os anos de 1989 e 2001.
foto: arquivo da famĂlia de Sganzerla
Fluxo ininterrupto de energia criativa Djin Sganzerla
João Gilberto, de quem meu pai tanto gostava, cantou a saudade de forma singular. É com esse sentimento que “não sai de mim”, misturado a uma grande alegria, que vivo este ano de 2010. Um ano de reencontros e expansão. Um ano que culmina nesta “ocupação”, iniciativa belíssima do Itaú Cultural, com curadoria do Joel Pizzini, em que o público terá a chance de conhecer melhor essa personalidade, esse grande artista, escritor, cineasta único, Rogério Sganzerla. Em abril estive com Helena Ignez e Sinai Sganzerla no 12o Festival de Cinema Bafici, em Buenos Aires, onde Rogério recebeu uma importante retrospectiva. Um festival instigante, de excelente curadoria, sua obra sendo “redescoberta” por um público encantado, interessantíssimas análises, salas lotadas, diversos convites internacionais – França, Alemanha, Áustria e uma retrospectiva completa no Lincoln Center, a convite do curador americano Scott Foundas, que disse que seus filmes eram absolutamente geniais.
Tive a oportunidade de rever Nem Tudo É Verdade, uma poesia em movimento. Um filme magistral, com absoluta originalidade e liberdade, reconstrói a vinda do Orson Welles ao Brasil. Assistindo ao filme, me senti conversando com meu pai, vendo-o transformar em cinema tudo o que passava por suas mãos, fluxo ininterrupto de energia criativa. Depois da sessão, Quintin, crítico de cinema e ex-diretor do Bafici, veio emocionado conversar conosco. Contou que, em 2004, Roberto Turigliatto, então diretor do Festival de Turim, perguntou se ele conhecia a obra do Sganzerla, que em sua opinião era maior que Godard. Quintin respondeu que assistira apenas ao Bandido e achou que havia no comentário certo exagero. Mas agora, depois de acompanhar a retrospectiva de Sganzerla, percebia que Turigliatto estava certo, Rogério era maior que Godard. Assim tem sido seu reconhecimento. No ano passado, uma belíssima retrospectiva na Índia, e meses antes na Itália, em Trieste, entre tantas outras. Agora, em junho de 2010, Copacabana Mon Amour participa do 28o Festival de Munique. Os filmes seguem depois para a França e para Viena.
fotos: arquivo da famĂlia de Sganzerla
No Brasil, o Itaú Cultural faz a mais completa das retrospectivas, como o próprio nome diz, uma Ocupação Rogério Sganzerla. Apresenta esse multiartista em sua completude: roteiros originais ainda não filmados, objetos pessoais, filmes, fotos de diversas fases de sua vida, debates sobre a obra etc. Somados a isso, o relançamento do CD da trilha original do Copacabana Mon Amour e a publicação de dois livros com artigos e críticas que escreveu no Suplemento Literário do Estado de S. Paulo, na Folha de S. Paulo e no Jornal da Tarde. Meu sincero e carinhoso agradecimento a Joel Pizzini, esse curador/artista. Lembrei-me das nossas últimas caminhadas pelo centro de São Paulo, ele falando como filmaria o Bandido 2 (Luz nas Trevas), percebia como tudo ao seu redor era motivo de inspiração. Vimos um rapaz que consertava uma porta com um maçarico e meu pai logo comentou que criaria uma cena do Bandido usando um maçarico para acender um cigarro... Pouco tempo depois, no final de sua doença, comentou que somente uma câmera poderia salvá-lo.
Hoje, em paralelo ao que mais amo fazer na vida, que é atuar, administro junto com minha mãe e com Sinai a Mercúrio Produções (em São Paulo). Em paralelo aos projetos que criamos, vejo esse nosso trabalho de difundir, preservar e relançar sua obra como um serviço ao cinema brasileiro, mantendo vivo o legado de um dos seus principais artistas. E ao mesmo tempo um hino de amor aos dois, pais queridos, que tanto fizeram e fazem pela nossa cultura. Revendo o material que foi entregue ao Itaú Cultural para compor a Ocupação Rogério Sganzerla, encontrei cartas magistrais que não conhecia, como o cartão carinhoso que ele enviou de Firenze para o Júlio Bressane, mandando um beijo para a “linda Helena”, então namorada do Júlio; como a carta que enviou à Sinai, que na época tinha 9 anos, contando que estava em um festival e que iria encontrar ninguém mais, ninguém menos do que mister Welles... Quando me convidaram para escrever, pensei no que dizer. Lembro-me de um sonho que tive alguns meses depois de sua partida; ele filmava, filmava, com uma alegria, um contentamento enorme, como um menino em cima de uma árvore. O próprio sonho parecia ser enquadrado pela sua câmera. Senti que ele estava fazendo, onde quer que estivesse, o que sempre mais gostou. E as projeções de sua obra nós fazemos aqui.
foto: Marcos
Djin Sganzerla é atriz, estreou no cinema no longa-metragem O Signo do Caos, de Rogério Sganzerla. Premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como Melhor Atriz de Cinema de 2008, pelo filme Meu Nome É Dindi, de Bruno Safadi. Também recebeu, entre outros, o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do 39o Festival de Cinema de Brasília, pelo filme A Falsa Loura, de Carlos Reichenbach. Trabalha ao lado da sua mãe e da irmã na Mercúrio Produções, que lança neste ano o Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha, filme em que faz a protagonista feminina, Jane.
Bonisson
Cronologia
1946 Rogério Sganzerla nasce em Joaçaba, no interior de Santa Catarina, no dia 4 de maio. 1964-1965 Muda-se para São Paulo para cursar as faculdades de direito e administração. Inicia a atividade de crítico de cinema no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. 1967 Estreia na direção com o curta-metragem Documentário, que recebe o Prêmio JB Mesbla de Melhor Curta, o que lhe dá direito a ir ao Festival de Cannes. No retorno de navio ao Brasil, Rogério lê nos jornais brasileiros a bordo as notícias sobre um fora da lei conhecido como “Bandido da Luz Vermelha”, que agia em São Paulo. Como vinha escrevendo um roteiro sobre um criminoso de traços semelhantes, decide adaptar sua história à daquele personagem tão frequente na crônica policial da época. 1968 Realiza O Bandido da Luz Vermelha, seu primeiro longa-metragem, um dos mais premiados filmes brasileiros de todos os tempos. Posteriormente, na condição de clássico, é indicado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Na filmagem, inicia sua relação com Helena Ignez, atriz considerada musa do Cinema Novo e que se tornou sua parceira artística afetiva por toda a vida. 1969 Lança A Mulher de Todos, seu segundo longametragem, estrelado, entre outros, por Helena Ignez, Paulo Villaça e Jô Soares. Sucesso de bilheteria. Ao apresentá-lo no Festival de Cinema de Brasília de 1969, aproxima-se de Júlio Bressane, que exibia seu O Anjo Nasceu. Realiza dois filmes com a codireção de Álvaro de Moya: os curtas HQ e Quadrinhos no Brasil.
1970 Em parceria com Júlio Bressane e Helena Ignez, funda a produtora Belair – que em apenas três meses realiza seis filmes. Sganzerla dirige três deles: Copacabana Mon Amour (com trilha original de Gilberto Gil), Sem Essa, Aranha e Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a Exibicionista), filmado, em parte, em Nova York. Exilado, Rogério Sganzerla segue com Helena Ignez para Londres. Depois, para Marrocos, Argélia, Tunísia, Níger, Nigéria, Daomé (atual Benin) e Senegal, onde o casal se estabelece por algum tempo. 1971 No deserto do Saara, filma o documentário inacabado Fora do Baralho. 1972 Em 25 de outubro nasce Sinai, sua primeira filha com Helena Ignez. 1976 Em 27 de fevereiro nasce Djin, sua segunda filha com Helena Ignez. Realiza o curta-metragem documental Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (Villegaignon), premiado pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. 1977 Dirige Abismu, primeiro longa após um considerável intervalo. Na verdade, é o único lançado entre 1971 e 1985. No elenco, Zé Bonitinho, Wilson Grey e José Mojica Marins. 1978 Realiza o curta-metragem Mudança de Hendrix. Participa como codiretor e montador do filme Horror Palace Hotel, de Jairo Ferreira. 1980 Realiza o curta-metragem Noel por Noel, primeiro filme seu sobre Noel Rosa. Edita Um Sorriso, Por Favor, filme de José Sette sobre o universo gráfico de Goeldi. 1981 Realiza o curta-metragem Brasil, com participação de João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
1984 O documentário O Petróleo Nasceu na Bahia é lançado e premiado nos Festivais de Caxambu e Gramado. 1986 Lança o longa-metragem Nem Tudo É Verdade. Tratase do início de sua tetralogia sobre a vinda de Orson Welles ao Brasil (em 1942). 1990 Dirige o curta-metragem Isto É Noel Rosa. Realiza dois vídeos sobre artistas plásticos: A Alma do Povo Vista pelo Artista (sobre Newton Cavalcanti) e Anônimo e Incomum (sobre Antonio Manuel). 1991 Realiza o curta-metragem Linguagem de Orson Welles. 1992 Dirige o episódio Perigo Negro, que integra o longa-metragem Oswaldianas, baseado em Oswald de Andrade. 1998 Lança o ensaio documental em longa-metragem Tudo É Brasil. 2003 Após muitas dificuldades, conclui O Signo do Caos, o último da tetralogia sobre a vinda de Orson Welles ao Brasil, lançado e premiado no Festival de Brasília. É seu último filme. 2004 Falece no dia 9 de janeiro. Deixa uma obra extensa de filmes e muitos escritos, na qual há roteiros não filmados, como o do longa-metragem Luz nas Trevas – Revolta de Luz Vermelha. A partir desse roteiro, cinco anos depois se iniciam as filmagens da continuação da trajetória do Bandido da Luz Vermelha, sob a direção de Helena Ignez e Ícaro Martins. Atualmente, encontra-se em fase de finalização.
Filmografia Documentário – 1967 O Bandido da Luz Vermelha – 1968 A Mulher de Todos – 1969 Histórias em Quadrinhos (Comics) – 1969 Quadrinhos no Brasil – 1969 Copacabana Mon Amour – 1970 Sem Essa, Aranha – 1970 Carnaval na Lama (ou Betty Bomba, a Exibicionista) – 1970 Fora do Baralho – 1971 Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica – 1976 Ritos Populares, Umbanda no Brasil – 1977 Abismu – 1977 Mudança de Hendrix – 1977 Noel por Noel – 1980 Brasil – 1981 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) – 1981 Irani – 1983 Nem Tudo É Verdade – 1986 Isto É Noel Rosa – 1990 Newton Cavalcanti: A Alma do Povo Vista pelo Artista – 1991 Anônimo e Incomum – 1990 Linguagem de Orson Welles – 1990 América: o Grande Acerto de Vespúcio – 1992 Perigo Negro – 1992 Deuses no Juruá –1997 Tudo É Brasil – 1998 B2 – 2001 Informação H. J. Koellreutter – 2003 O Signo do Caos – 2003
Zonk! Crash! Boom! Orson, Oswald, Noel e João na Sganzerlândia ou Tamanho Não É Documento ou Um Pouco de Loucura Previne um Excesso de Tolice Steve Berg
imagem: frame do filme B2
imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha
“Uma nação que negligencia as percepções de seus artistas entra em declínio e depois de certo tempo cessa de existir para apenas sobreviver.” Ezra Pound Rarissimamente exibidos e mais raramente ainda objetos de qualquer reflexão crítica ou teórica dentro ou fora do Brasil, não surpreenderá a ninguém que os 20 curtas e médias-metragens dirigidos por Rogério Sganzerla ao longo de 37 anos (quatro dos quais estão desaparecidos ou em estado de deterioração) constituam a parte menos conhecida de uma filmografia por si só (e por um período de tempo quase obsceno) quase secreta. De Documentário (1967) até Informação H. J. Koellreutter (2003), o que salta aos olhos quando assistimos a esses filmes é sua profunda coerência e inte(g)ração com o restante da obra cinematográfica do autor [Eliot: “Em meu princípio está meu fim”: dois anos antes da explosão do Bandido através da fórmula Urânio=Mercury e 37 antes de O Signo do Caos, Documentário já contém referências a Orson Welles – em cartaz afixado à porta de um cinema, como integrante do elenco de O Terceiro Homem (1949), e em portrait/ homage que ocupa toda a tela por um instante] – seja pela mestria com a qual o autor navega por vasta gama de gêneros, temas e formatos (ficção, documentário, biografias romanceadas, musicais, institucionais e didáticos em bitolas de 16 e 35 milímetros e em vídeo com uso particularmente inspirado e dinâmico do table top), seja pela autoria de um cinema que se INVENTA apesar e por causa da precariedade de recursos, constante exercício de profundidade reflexiva e verve criadora raras na história do cinema brasileiro. Por esses 20 curtas e médias-metragens desfilam todas as grandes e pequenas obsessões do cineasta (por enumeração caótica: a história do Brasil, Orson Welles, Oswald de Andrade, a questão da cultura, os quadrinhos, Noel Rosa, João Gilberto, o FAZER artístico, a umbanda e o próprio cinema).
A poética A) LOGOPOEIA (a dança do intelecto entre as palavras): se o revolucionário Sem Essa, Aranha levou quase 40 anos para chegar ao grande público por meio de lançamento em DVD, o Sganzerla absolutamente clássico e seco (em termos de vocabulário da imagem e do corte) de Perigo Negro (1992), magistral filmagem do único roteiro cinematográfico do imenso Oswald de Andrade, escrito para integrar um dos três volumes inacabados de seu romance mural Marco Zero (1943-1946), é uma OBRAPRIMA totalmente desconhecida de todos a não ser dos mais devotos “sganzerlianos” – uma tragédia amarga e cômica que só dói quando a gente ri e reitera o tema da ascensão e queda do gênio precoce, encenada por um incrível elenco de estrelas trouvées, que inclui desde Helena Ignez até Abraão Farc, Paloma Rocha, Guará, Conceição Senna, Ruddy, Paulo Moura, Jorge Salomão, Antonio Abujamra e Sandro Solviatti, entre outros. B) MELOPOEIA (a ênfase no SOM): os dois filmes sobre Noel Rosa (Noel por Noel e Isto É Noel Rosa, de 1980 e 1990, respectivamente). João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia em Brasil (1981). Do começo de Helena surge mais um fim (o último curta) – da formação da atriz na Universidade Federal da Bahia (UFBA) ressurge o professor, compositor e esteta Koellreutter: depoimentos com música. MOTZ EL SON. C) PHANOPOEIA (a poesia de IMAGENS VISUAIS), o lado POP: metralhadora de imagens em table top e narração nonstop em Histórias em Quadrinhos (Comics), de 1969. O domínio total em que se fundem história e presente na estratégia-mor “sganzerliana” de SELEÇÃO e COMBINAÇÃO de imagens, quando a fotografia e o material de arquivo cinematográfico SE VOLTAM SOBRE SI MESMOS, obsessivamente, em eterno retorno, círculos concêntricos
de informação e possibilidade provindos de pedras/ provocações atiradas no espelho d’água da imagem da memória nacional. Trechos de Umbanda no Brasil ressurgem em Brasil. Linguagem de Orson Welles (1990) e Isto É Noel Rosa dão sequência a um jogo de espelhos cósmico – as mesmas imagens de arquivo que neles aparecem reaparecerão, reordenadas, em Tudo É Brasil (1998). O anti-institucional pós-tropicalista A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) (1981) pertence a essa categoria, bem como o martelo nietzschiano e as urnas quentes de Antonio Manuel que integram Anônimo e Incomum (1990), nas quais NADA e PIGMENTOS e TINTA se somam às participações aforísticas de Helena Ignez e Nonatho Freire e à fotografia das TELAS de Antonio Manuel – comprovantes do olho colorístico do cineasta, bem como ocorre em Deuses no Juruá (1997), com suas máscaras gregas, seus índios e suas cores saturadas. No outro extremo do espectro imagético, as cores delicadas dos cartógrafos em Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (1976) e os focos de luz e fumaça de América: o Grande Acerto de Vespúcio (1992), com interpretações icônicas e antológicas dos brilhantes atores-fetiches Paulo Villaça, como Villegagnon, e Otávio Terceiro, como Américo Vespúcio. D) O cinema ESTILHAÇO de Irani (1983) coloca en robe de parade o messianismo e a guerra santa no fragmento do projeto não realizado sobre a Guerra do Contestado (como filmar o conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro?). O misterioso e igualmente inacabado Ritos Populares –
Umbanda no Brasil (1977-1986), no qual a câmera segue a figura do pai de santo Woodrow Wilson da Mata e Silva, o Mestre Yapacany da umbanda esotérica, narrando sua própria trajetória e a criação da umbanda esotérica em passeio por livraria e ruas do centro do Rio de Janeiro enquanto um plano do rosto de Cristo num altar torna e retorna e cenas de ritual na mata preparam seu próprio retorno mais adiante em Brasil (1981). Ações Plano de estudo: rever os curtas e médias-metragens de Rogério Sganzerla enquanto subsídios para investigação sobre narração paramétrica (repetição + imagem não significante + adição por subtração). O ESTILO alçado ao nível de força MODELADORA do cinema. Base do plano de estudo: geografia e (des)memória cultural – São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina, Brasil. A Urca. Plano emergencial “arqueologia do cinema”: localização e restauro de Quadrinhos no Brasil, Mudança de Hendrix e Newton Cavalcanti – A Alma do Povo Vista pelo Artista. Não há outro modo de dizê-lo: os curtas e médiasmetragens de Rogério Sganzerla são simplesmente magistrais, os mais ricos jogos de imagem, música e significado. Visão, som e sentido. Procurem conhecer melhor. VEJAM como fez o artista pra andar pra frente e pensar em vertical. VER DE NOVO. MAIS LUZ.
Steve Berg é tradutor e pesquisador. Fez sua estreia literária na Navilouca em 1972. Traduziu para o inglês o “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade e toda a produção textual de Hélio Oiticica já publicada em língua inglesa, e é autor de ensaios sobre Douglas Sirk, Helena Ignez e os filmes de Belair, entre outros. Organizou retrospectivas de recortes da obra de John Ford e Fritz Lang, e foi curador da mostra Rossellini TV Utopia. Também acredita que é preciso tirar o cinema do quarto de brinquedos.
imagem: frame do filme A Mulher de Todos
Que mistérios tem Helena? Paolo Gregori e Pedro Jorge Tarde no centro de São Paulo, escritório da Mercúrio Produções. Entre cartazes de filmes, pastas vermelhas com páginas de roteiro e uma varanda repleta de plantas, a atriz e diretora de cinema Helena Ignez concede esta entrevista. Parceira criativa e companheira de Rogério Sganzerla, ela participou ativamente da concepção de sua obra. Agora, como resultado de seu trabalho (ao lado das filhas Sinai e Djin), o acervo do cineasta é cada vez mais ampliado e revelado ao mundo, como conta ela nesta conversa – um encontro entre três cineastas que, em comum, têm a paixão pela obra de Rogério Sganzerla e o desejo forte de transformar ideias em cinema.
imagem: frame do filme A Mulher de Todos
Antes de entrar nos temas bons, quero falar de um ruim: o cinema brasileiro.
É o balcão de favores do cinema brasileiro. Como foi enfrentar 50 anos de cinema brasileiro? Um cinema dominado por políticas e não raro por pessoas egocêntricas e metidas a besta e, ao mesmo tempo, você conseguir fazer um cinema que é o oposto disso, um cinema revolucionário.
O momento é bom, e muito próximo ao começo. Parece estranho, não é? Também é um momento de orgulho, de reunir forças. Realmente, é um momento extraordinário. Por um lado, que é o lado magnífico dessa história, trata-se do que está acontecendo em relação ao cinema de Rogério e o mundo. Há alguns anos atrás eu estive na Nova Zelândia, levei O Bandido da Luz Vermelha. Ao mesmo tempo, a Weelington Film Society deu a O Bandido da Luz Vermelha o título de um dos 50 melhores filmes do século XX. Essa descoberta do mundo [em relação ao cinema de Rogério Sganzerla] realmente explodiu com a morte dele. É como se tivesse destampado uma panela de pressão e então o cinema de Rogério começou a ser distribuído pelo mundo. A minha filha Sinai Sganzerla veio realmente conhecer o cinema do pai em 2006, numa casa lotada em
Turim, com pessoas sentadas no chão. Antes, ela não tinha podido conhecer a dimensão do trabalho do pai no Brasil, e tinha feito com ele a trilha sonora de O Signo do Caos. Então, é um momento extremamente radioso e importante. Ao mesmo tempo, esse cinema de Rogério se torna popular na juventude. Em alguns lugares, como no Bafici [Buenos Aires Festival Internacional de Cinema Independente, em abril deste ano], tivemos casas lotadas. Rogério é muito mais visto fora do Brasil. Desde junho do ano passado tenho feito constantes viagens para levar a obra dele. Temos ainda um trabalho difícil de recuperação e de preservação de seus filmes. Mas considero que, apesar de tudo, o momento é muito bom. O Nem Tudo É Verdade foi convidado para uma mostra, no ano que vem, no Lincoln Center [em Nova York] e ainda há mais dois convites internacionais para este ano. Foi preciso o Rogério morrer para acontecer tudo isso? De alguma forma ele previa isso. Você sabe que só Strindberg lia Nietzsche quando ele estava vivo? Isso é uma coisa doida e extremamente dolorosa. Mas a loucura tem lugar no mundo? Tem. Dos internacionais consagrados, por exemplo, um filme de que gosto muito é o Anticristo [de Lars von Trier, 2009], e aquilo não tem pé nem cabeça.
imagens: frames do filme A Mulher de Todos
Uma paixão... Mas O Bandido da Luz Vermelha nem chegou a ir para Cannes. O reconhecimento dessas genialidades precoces às vezes demora um pouco para acontecer. A própria trajetória do Orson Welles não foi muito diferente da do Sganzerla em termos de realização de filmes. Pelo tempo de carreira deles e pelo número de filmes realizados, tudo é muito proporcional. Será? Mas veja, Krzysztof Kieslowski foi descoberto em Cannes depois de praticamente 20 anos de carreira como documentarista. O Heneke [Michael Heneke] ganhou Palma de Ouro [pelo filme Das Weisse Band] no ano passado, sendo que o cara faz filmes desde a década de 1970. Mas esses caras conseguiram sobreviver. Pois é. Godard conseguiu. Mas ele é um atleta, ele tem uma coisa física por trás. E é suíço, o que sempre é melhor [risos]. Talvez se Glauber e Rogério fossem franceses, eles tivessem resistido mais. Como o Brasil trata mal seus verdadeiros artistas, não é? Eu posso falar porque eu não sou uma dessas pessoas, eu tenho outras porções. Mas tenho outra notícia muito interessante, o diretor do Festival de Locarno, Olivier Père, convidou O Bandido da Luz Vermelha para a edição do festival deste ano, em sessão especial. Isso foi muito bom. Locarno sempre gostou dos nossos marginais, não é? Acho Locarno realmente encantador. Como é que você vê esse encontro de duas pessoas excepcionais, você e o Rogério, que criaram uma obra tão voraz? No caso, você dando vida às personagens e ele escrevendo essas personagens. Não sei como dizer, talvez dizer não dizendo. Mas, bom, se trata de pessoas. Eu, ele e esse encontro.
Por aí. Tem essa força. A força também de uma atriz que vinha sete anos antes dele vivendo isso, começando um movimento, mas de uma forma muito fresh, com o Glauber, na Bahia. Na adolescência e na infância eu me alimentava do cinema brasileiro, das chanchadas. Mas eu não tinha grande tesão por esse cinema. Me divertia e tudo, mas não era o que eu queria fazer. Mas tinha uma força de uma criação ali que começou com O Pátio [o primeiro filme de Glauber Rocha, de 1959] e que depois foi distribuída em outros filmes, numa criação que tinha bastante autoria, mas que, de qualquer forma, era condicionada a um pensamento que nem sempre era o meu. Depois disso encontrei com Rogério exatamente a liberdade de me expressar completamente como artista. Tinha tido um vácuo muito grande talvez antes dele, porque essa adolescência com o Glauber foi adoravelmente fértil e louca, e estragada por um casamento. Éramos dois meninos, com 19 anos, na Bahia. O casamento estragou aquela coisa e foi curto. Mas teve um período antes dele em que eu encontrei essa efervescência toda. Então, quando eu encontrei Rogério, eu tinha já esse fogo, esse fogo dessa atriz e desse encontro com Glauber, uma forma glauberiana de ser artisticamente, e isso encaixou, se tornou no cinema que eu fiz como atriz com Rogério. No mais, foi uma imensa paixão, um grande amor extraordinário, e que fez inclusive com que eu me afastasse de tudo o que faria eu me afastar dele, talvez a carreira, talvez ambições nesse sentido. Eu queria estar ali, participar daquele momento de criação magnífico, que era a nossa presença com os filhos, isolados. Nós sempre fomos muito isolados. E então teve a ditadura, que nos baniu completamente, e depois a Embrafilmes, que nos deixou fora de produção. Enquanto isso o Rogério escrevendo. Ele tem uma produção literária extraordinária, que vai começar também logo a aparecer, assim como os roteiros. E agora será publicado um livro com os trabalhos [como crítico de cinema] que ele fez para o Estado de S. Paulo. Éramos muito afastados do cinema, graças a Deus. O que talvez tenha me permitido ter esse frescor de novo de retomar [o trabalho dele] após sua morte com a mesma intensidade de sempre. Retomar essa vontade de fazer cinema. Essa vontade já tinha vindo anteriormente, eu fiz um curta, A Reinvenção da Rua, fui movida por uma indignação pela situação da parte mais desprovida da sociedade, que são os moradores de rua. Então fiz a primeira coisa como diretora, diretora no sentido de ter uma ideia e me cercar de pessoas para fazer aquilo. Eu não sou exatamente uma cinéfila. Eu adoro completamente um autor de quem às vezes eu conheço apenas um filme só, apesar de ele ter uma obra inteira. Eu me interesso por poucas obras e me fixo nelas.
O Rogério já tinha mais isso, não, de ser mais cinéfilo? Ele era completamente conhecedor de cinema, com 17 anos ele já conhecia todas as fichas de filmes clássicos, de todo o cinema. Esses são o Rogério, o Glauber e o Júlio Bressane. Esses são os três que eu conheço que são cineastas e são cinéfilos. E tem o Carlão [Reichenbach] também. Como foi, na realidade, para você, ver o Rogério vivendo obsessivamente o trabalho do Orson Welles? Como era para você essa grande paixão dele pelo Welles e pelos filmes, você entrou nessa história de peito aberto? Era um enigma, essa convivência com o Rogério era uma grande viagem em mar revolto. Quando eu vi pela primeira vez um fotograma de O Signo do Caos e na mala tinha It’s All True, eu pensei “puxa, de novo”. Não era mais uma trilogia. Era o quarto filme. Em Locarno, numa mostra sobre Welles, eu ouvi um curador dizer que sem os filmes de Rogério a obra de Welles não seria completa. Esse trabalho [de Rogério Sganzerla] é um enigma, e é um trabalho explosivo de alguém com um espírito extremamente cristão, um cristão trágico com essa concepção de saber que todo o trabalho dele só seria descoberto depois do trabalho final, fechando com O Signo do Caos, com o fogo da cremação. Um trágico total, desde A Mulher de Todos que ele trabalha com a tragédia. No final de O Signo do Caos tem-se uma repetição com a frase “acabou, acabou, acabou”. E parece que era o fechamento da própria obra do Rogério. Isso foi muito assustador para mim. Pois é, um fechamento dionisíaco, com fogo, com alegria, com vibração, “amém, amém”. Quando ele ganhou como Melhor Diretor e Melhor Montador com O Signo do Caos [no Festival de Brasília em 2003], ele ouviu da filha [Djin] esse anúncio.
Sabe o que eu acho meio doido, Helena, é que nas mostras internacionais os curadores estão vendo os filmes do Rogério como se tivessem sido lançados hoje, com o olhar da novidade. É incrível isso, e mostra que são filmes modernos acima de tudo. E sobre a Belair, Helena, era inevitável esse encontro entre você, o Bressane e o Sganzerla, o trio Belair? Eu acredito que sim. Eu lembro que, quando vi o Copacabana Mon Amour, no Festival de Cinema Latino-Americana [2008, em São Paulo], com uma cópia restaurada, então a Djin apresentou o filme dizendo “Ah, eles usaram uma lente que foi do Fellini”. Vocês tinham essa magia que passa uma coisa que eu não vejo mais, uma coisa de ídolo, jovial. Era uma lente pesada, parecia um fundo de garrafa. Mas hoje é difícil manter essa jovialidade, não é? Mas eles conseguiam fazer os filmes deles assim. Na verdade era um cinema construtivo, que entrava na cabeça de seus ídolos. (Pausa para uma conversa entre os entrevistadores e Helena Ignez para falarem bastante sobre a nova geração de cineastas brasileiros, a exemplo do pernambucano Tião e seu filme O Muro.) Mas vamos voltar ao assunto da entrevista, que é falar do Sganzerla. É que falar da vida é muito interessante, e eu acho que foi isso o que me preservou, um interesse múltiplo forte que tenho.
Você acha que o que aconteceu com o Rogério por dentro foi um pouco essa coisa obsessiva pelo cinema? Sim, essa obsessão artística nietzschiana das pessoas anormais. Claro, porque eu acho que um gênio não é normal. Em toda a obra dele, mesmo no mínimo está contida a mesma qualidade em todos os filmes. E para mim o que me preservou foi ter conseguido arejar, sair. E talvez, não sei, mas de alguma maneira com isso eu possa até ter preservado a vida de Rogério. Porque na família ele podia descansar, e talvez do contrário não tivesse sido assim, talvez tivesse sido ainda mais difícil, como pode ter sido para o Glauber. Mas o momento é este, é de reconhecimento da obra de Rogério. E dessa forma Luz nas Trevas [roteiro de Rogério Sganzerla, dirigido recentemente por Helena Ignez] é um filme que abraça toda a obra de Rogério, é um filme que devora, se apodera antropofagicamente – como é da nossa família espiritual – a obra de Rogério e devolve a ela outro filme. É um filme interessante, rico e contraditório. Porque é sobre a justiça, uma comédia criminal sobre a justiça, e um filme gay, imensamente gay. Como foi organizar esse roteiro? Foi uma loucura. Eu estou num momento muito forte também, porque várias decisões estão em volta desse filme e desse roteiro. Luz nas Trevas também foi convidado para o Festival de Locarno, em competição oficial. E é um filme que nasceu em 2003, pela descoberta que eu tive desse trabalho que está ali nas pastas vermelhas. E Rogério, que em toda a vida não deixou de perder o humor cáustico, um dia me disse “Você abriu demais esse baú”. Porque exatamente quando ele ia retomar esse trabalho, ele teve a notícia – apesar de estar com a saúde boa, normal – do câncer no cérebro. Então o médico disse “Eu não sei como o senhor está aqui, andando normalmente”. E ele perguntou “Quanto tempo de vida eu tenho?”. E o médico falou “15 dias”. Em vez disso ele viveu oito meses, e foi exatamente nesses oito meses que eu extraí força. E dentro daquele momento terrível era de onde vinha a alegria; ela vinha desse roteiro, da vida, das palavras dele, em um roteiro
muito engraçado, de um humor muito interessante, com falas extraordinárias shakespearianas, tudo isso muito entrelaçado em mais de 700 páginas. E no final ele se virou e disse “Agora é Helena quem vai fazer”. E eu me vi com isso na frente, para organizar e criar e tudo isso dentro de um cinema brasileiro, sabendo de todas as dificuldades que temos para filmar. E enfim o filme está pronto. No mais, é uma produção familiar, a produtora executiva é a Sinai Sganzerla, a Djin é a atriz protagonista, em um elenco maravilhoso, com grandes atrizes e atores, a exemplo do André Guerreiro Lopes, que é também o meu genro, e do Ney Matogrosso, companheiro da minha geração, um ícone. Então tem essa estrutura familiar, com elementos que não são familiares, como a própria pessoa que eu convidei para codirigir o filme comigo [Ícaro Martins], que vem de uma concepção mais burocrática de cinema. E a grande vitória é que o filme não sofre essa influência burocrática que é fazer um filme no Brasil, em absoluto. É um filme radical, e radical na poesia.
Pedro Jorge dirigiu três curtas-metragens, o último deles o documentário A Vermelha Luz do Bandido, sobre a obra de Sganzerla. Com a irmã, a diretora Mariana Jorge, codirigiu o documentário América Brasil, que acompanha a turnê nacional do cantor Seu Jorge. Atualmente é um dos montadores da série televisiva HiperReal (SescTV, dirigida por Kiko Goifman). Paolo Gregori dirigiu curtas-metragens como Atrás das Grades (1993) e Mariga (1995). Ganhador do Prêmio Glauber Rocha no 25o Festival Internacional de Cinema de Figueira da Foz, de Portugal (com o curta O Feijão e o Sonho, 1996). Seu curta-metragem Tropiabbas teve a première mundial em Valência em 2005 e foi exibido em mais de 20 países, enquanto O Bebê de Eisenstein foi exibido em Xangai, Hamburgo e Montevidéu. Atualmente finaliza seu longa-metragem Chuva. É professor na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na Universidade Anhembi Morumbi.
Edição | Mariana Lacerda
fotos: arquivo da família de Sganzerla
foto: arquivo da famĂlia de Sganzerla
Investigações sobre o cinema (ou seja, o homem) moderno: Sganzerla crítico Ruy Gardnier
Observando o século XX, fica difícil afirmar que o crítico é um artista frustrado. São muitos os casos anteriores ao século passado – Stendhal, Diderot, Baudelaire e Machado de Assis, para mencionar apenas quatro –, mas este século viveu uma proliferação impressionante de artistas que exerceram a atividade crítica, como Georges Bataille, Ezra Pound, T.S. Eliot, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, todo o núcleo da nouvelle vague francesa (Godard, Truffaut, Rohmer, Chabrol, Rivette), Glauber Rocha, Jonas Mekas, além de incontáveis livros teóricos e manifestos que envolvem pensamento crítico (Schoenberg, Messiaen, Klee, Kandinski). Quando um grande artista exerce a atividade crítica, inevitavelmente ela se torna uma extensão de sua personalidade e de sua força criativa, selecionando as afinidades eletivas e afinando os processos de pensamento para lapidar as bases de sua arte. Como a crítica surge frequentemente nos períodos formativos dos cineastas, geralmente antecipando e/ou coincidindo com os primeiros roteiros, curtas e longa-metragem de estreia, observar o trabalho de um crítico-futurocineasta acaba sendo a mesma coisa que presenciar o retrato do artista quando jovem. Com os primeiros escritos de Rogério Sganzerla dá-se exatamente isso. No período mais brilhante de sua crítica, 1964-1967, Sganzerla é um jovem intelectual que tenta compreender as modificações que o cinema sofreu ao longo da década de 1950. Manifestando certamente uma série de mutações no globo, o cinema foi do certo ao incerto, do mastigado ao obscuro, do simples ao complexo. E o jovem Sganzerla criou para si mesmo a tarefa de mapear as características desses filmes que davam um sopro de renovação ao cinema daquele momento. Onde muitos viram gratuidades estilísticas, incoerências narrativas e hermetismo esnobe, Sganzerla viu um novo cinema que delineava uma nova relação com a imagem (e com os personagens, com as tramas, com a duração dos planos etc.) e que significava uma nova relação com o mundo. Em resumo, o empenho do jovem Sganzerla era explicar o cinema moderno.
“Moderno”, para ele, não é uma questão de afetação ou de moda: é o cinema que exprime as inquietações de seu tempo, no conteúdo e na forma. Vários conceitos surgiram em artigos do Suplemento Literário do Estado de S. Paulo: “herói fechado”, “câmera cínica”, “cinema do corpo”, “tempo solto”, com recorrentes menções ao cinema de Fuller, Godard, Resnais, Losey, Antonioni e, como precursores, Welles e Hawks. Por trás dos nomes “herói fechado” e “câmera cínica” está a ideia de que o filme não tem mais a função de explicar o mundo e os personagens, e sim a de evidenciar esse caráter de incompreensão das coisas, em que tudo que o espectador pode fazer é olhar. Isso claramente já antecipa todo o fascínio dos personagens-ícones de Sganzerla, figuras intencionalmente opacas que funcionam como personagens de vaudeville num palco sem chão: no vazio do entretenimento, o pitoresco se apresenta em seu furor violento (e de cabo a rabo no cinema de Sganzerla há uma forte violência do signo ligada à caracterização/ caricaturização dos atores). Sganzerla memorialista Nos anos 1980, outro período particularmente prolífico de sua atividade crítica, certos questionamentos do cinema moderno são retomados, mas a tônica geral é a melancolia advinda do rompimento de laços do cinema brasileiro com seu braço mais experimental. São recorrentes – e altamente justificadas – as reclamações de que o cinema brasileiro se rendeu à telenovela e esqueceu o que havia de genial em sua tradição experimental, prestigiando o “pornosoft” e o naturalismo sem ousadias. Na ausência, a seus olhos, de um presente vigoroso, Sganzerla transforma-se num memorialista, evocando épocas do passado em que o Brasil tinha a bossa. Como Ulisses cantando sua longínqua Ítaca, o Sganzerla dos anos 1980 é um cineasta que olha para o Brasil e vê seu adorado cinema moderno muito longe, soterrado pela televisão. O antídoto? Dá-lhe Orson Welles, dá-lhe João Gilberto, dá-lhe Noel Rosa, na esperança da volta de modernidade e inteligência no cinema exercido no Brasil.
no r a stro
de sganzerla uma antifotonovela
Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo
eu não falava e com Nasci em Joaçaba (SC). Até os 5 anos s infantis... conto de livro um vi escre eu anos 7 Eu era um menino barulhento, diferente dos padrões catarinenses...
Nesta página: fotos do arquivo da família de Sganzerla; frame do filme Documentário; frames do filme O Bandido da Luz Vermelha
i a fazer roteiro Com 10 anos comece atrás do outro... de cinema. Fazia um
Não tinha cineclube, não tinha nada. Não tinha meio nenhum de ir mais longe.
A partir daí foi um momento de primeiro encontro com o cinema. Estudava no Mackenzie e de cara já não acompanhava as aulas. Meu interesse era me envolver com cultura.
Resolvi sair. Fui morar em São Paulo...
Com 17 anos comecei a fazer crítica de cinema no Suplemento Literário do Estado de S. Paulo...
Nunca pensei em ser crítico. Sempre quis mesmo foi dirigir. Mas gosto do que faço porque, enquanto pude, fiz cinema com a máquina de escrever. Não diferencio o Quando eu fui fazer cinema, tinha, apesar de uma escrever sobre cinema do escrever cinema. grande ingenuidade, uma malícia que os outros caras não tinham. Fiz um curta-metragem e viajei para a Europa...
Comecei o argumento do filme na evolução de um garoto no mundo do crime...
No retorno ao Brasil, li nos jornais sobre um bandido mascarado.
A onda de violência estava crescendo em São Paulo.
E usei o título dos jornais: O Bandido da Luz Vermelha
Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma.
Decretado hoje estado de sítio no país. O dispositivo policial reforça todos os seus órgãos de segurança... Ninguém sabe quantos assaltos, roubos, incêndios e atentados ao pudor ele já praticou. Tá falando com o campeão de tiro ao alvo de Cuiabá.
Janete Jane, a escandalosa!
Outro dia tive que assistir o parto da minha cunhada. O bandido mascarado não respeita a mulher nem a propriedade privada.
Os jornais dizem que eu sou um gênio, um poeta adotado da Divina Providência, um santo... Um anjo anunciador... Sei lá... Eu sou um BANDIDO NACIONAL... O BANDIDO DA LUZ VERMELHA.
E o Terceiro Mundo vai explodir e quem tiver de sapato não sobra!
Vivo de pequenos furtos, empréstimo dos amigos... Posso dizer de boca cheia: eu sou um boçal!
Nesta página: todas as fotos são frames do filme O Bandido da Luz Vermelha, exceto a foto que Sganzerla está com a câmera (arquivo da família de Sganzerla)
Fiquei pensando...
Janete Jane, a namorada do Luz Vermelha, descobre a verdadeira identidade do pistoleiro mascarado.
JB da Silva, o maior. Candidato à presidência da Boca do Lixo. Que miséria, meu filho? Um país sem miséria é um país sem folclore. O que é que a gente vai mostrar pro turista? Hahaha!!
Até que saí bem no retrato falado.
Nesta página: todas as fotos são frames do filme O Bandido da Luz Vermelha, exceto a foto que Sganzerla aparece encostado na parede (foto: Marcos Bonisson)
Que é que o secretário pensa da miséria?
Prende esse anão boçal!
Fecha o cerco e manda bala nesse sacana!
Quem jogou a gatinha lá de cima?
Definitivamente, queria esquecer de uma vez, já que O Bandido da Luz Vermelha foi feito para ser visto numa poeira... Em São Paulo tive de me manifestar porque picharam e elogiaram sem entender.
Estou esperando uma crítica inventiva, no nível do provável, e não da certeza idealista, das especulações sentimentais e das perspectivas do passado e do provinciano, principalmente...
Troquei a grande angular pela teleobjetiva. Meu novo filme é uma comédia inspirada na chanchada, onde Helena Ignez é a inimiga nº 1 dos homens. das dez e Osso, uma gela Carne An de s ai s sexu As aventura aníacas. mais megalom Aquela depravação de novo? Antropófagos invadem a Guanabara!
Vampiro, você é um bacana!
O que você quer, Flávio Asteca? Quer Angela Carne e Osso só pra você? Vamos passar o fim de semana na Ilha dos Prazeres?
Sou o único negro milionário do Brasil!
Será este o marido nacional do século XXI? Do XVI ou do XXI?
Dr. Plirtz, proprietário do truste das histórias em quadrinhos do país, das minas de prata do Guarujá e da rádio emissora El Dólar.
Angela, meu amor, a minha paixão por você aumenta de 15 em 15 minutos.
Sim, sou eu mesmo, Dr. Plirtz, o grande bitolado!
Neste fim de semana vou me dedicar aos boçais.
Angela, meu amor, é uma pena que vocês não podem me dar nada porque eu tenho tudo!
Não quero mais homem bacana. Só dá trabalho. Não dá pé!
Mulheres, boa noite. Homens, goodbye. Alô, garotas, eu sou o Zé Bonitinho, pirigote das mulheres, e só entro em cena ao rufo de tambores!!!
Não sou batom, mas estou em todas as bocas. Garotas, vou dar para vocês um fiapo do meu beijo! Engraçado, não, engraçado é um boi de dentadura postiça fazendo fiu-fiu para uma vaca no brejo! O trem que o mundo espera apita. Só me interessa a profecia. Tudo é uma coisa só e isso é tudo! Sobretudo de uma coisa só vem de tudo um pouco. Somos, fomos e criamos, que de tudo é uma só mente universal. Para chegar à mente livre, percorri um grande cinema estranho.
Nesta página: fotos de Sganzerla (Marcos Bonisson); demais imagens são frames dos filmes A Mulher de Todos e Abismu
Me chama de bitolado. Vai, BI-TOhahaha!
Sinceramente, a solução mais adequada para você é o suicídio... Se mata, filho!
Se a verdade estiver no fundo de um poço ou de um abismo, é preciso buscá-la, porque sem O mundo é teu, boçal! De chute não há gol! vosso recalque só pode vir a maior boçalidade possível... No abismo se desce ou sobe... Eu subo!
Na caçapa de Joaçaba eu aprendi duas coisas em Tupi, firmeza e respeito é uma coisa só! Primeiro mate o seu ego, depois venha falar comigo! Eu acho que o Jimi Hendrix foi um pensador, o homem que colocou nas letras, concretamente, a frase “eu posso mudar a sua mente”. Isso é a revolução.
Aqui no Brasil você não precisa dormir para sonhar!
Nesta página: frames do filme Abismu; Creative Commons (foto Hendrix e Welles); foto de Sganzerla (Marcos Bonisson)
Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime.
Para evitar perguntas cretinas, devo dizer a todos que continuarei a seguir minhas diretrizes fundamentais, que são, nada mais nada menos, dar ao cinema uma noção de tempo, espaço e profundidade. Não sou um gênio... Nem tudo é verdade!
Todos os maus filmes já foram feitos. Os burocratas vêm liquidando o cinema. Meus filmes são uma propaganda da alma e do corpo brasileiro.
A máquina de filmar é o instrumento mais mentiroso inventado pelo homem, disse alguém e tava certo!
Não deram nenhum tostão para Noel Rosa.
O primeiro livro que minha mãe me deu foi Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare. Eu tinha 6 anos.
Mr. Welles, o que acha da crítica? Sempre me considerei um vagabundo, um saltimbanco, um outsider em qualquer lugar do mundo.
Hahahaha! Detesto todo tipo de parasitas!!! As pessoas são incríveis, me aplaudem até quando estou sóbrio!!!
Os astros são meus únicos aliados. O Brasil é o país que produz o melhor uísque falsificado do mundo!
O cara vem filmar o berço esplêndido, as mulatas... Respeito é manga de colete.
To see or not to see, that’s the question!
Nesta página: frames dos filmes Nem Tudo É Verdade, O Signo do Caos, Abismu e O Bandido da Luz Vermelha; foto de Sganzerla (Marcos Bonisson)
A imagem do caos é o próprio CAAAAOS!
Podem recolher todo o material...
Para o fechamento, um antifilme.
O cinema não me interessa, mas sim a profecia!
Os cinco sentidos são tão tolos como uma criança, não sabem distinguir ilusão da realidade, o verdadeiro do falso.
Acabou, acabou. Podem jogar tudo fora.
O cinema teria de ser escrito em uma folha em branco pegando fogo para poder registrar esse movimento de captação do pensamento de um filme durante sua realização. Por um cinema sem limite... FIM.
imagem: a partir de frame do filme Hist贸rias em Quadrinhos
O aroma de curry no meu olfato Ă lvaro de Moya
Conheci Rogério Sganzerla como crítico do Jornal da Tarde, onde eu era colaborador, ainda na sede antiga, com aquele luminoso noticioso que filmaria em sua obraprima, O Bandido da Luz Vermelha, em citação reverente ao anúncio da morte de Charles Foster Kane. Suas escritas eram ótimas e já revelavam seus diretores prediletos, como Samuel Fuller. Walter George Durst tinha feito um programa na TV Tupi focalizando Silki. Ficara impressionado com alguém que passava fome para comer. O faquir ficava num esquife de vidro na Praça da Sé, sem se alimentar e sem água durante dias, atraindo multidões dia após dia. Tencionava fazer um filme, mas alguém se antecipou e realizou um longa, para frustração de Durst, que não gostou da versão. Também entrevistara o Bandido da Luz Vermelha na prisão e queria fazer um longa. Ficou chateado quando foi anunciada uma versão. Quando, porém, viu o que Sganzerla realizara em seu Bandido da Luz Vermelha, engoliu, pois reconheceu que dessa feita resultara num grande filme. Na minha opinião, um dos maiores e melhores longas-metragens da história do cinema nacional, tal como A Margem, de Ozualdo Candeias.
imagens: a partir de frames do filme Histórias em Quadrinhos
Sganzerla era extremamente criativo e seu filme representa uma ruptura na linguagem brasileira – equivalente ao que Jean-Luc Godard fez com o cinema francês em Acossado. Na montagem, viu um rolo em 35 milímetros que era um teste de projeção com efeitos de sons e imagens, achou legal e incluiu em seu filme. Contou-me que, na montagem do som, num estúdio no bairro do Sumaré, perto da casa de Hebe Camargo, ouviu tiros, estranhou. Ele e o editor notaram que os tiros tinham
vindo de fora. Correram para a rua e viram um morto caído no chão e duas crianças ao lado, com gente correndo. Era um americano. Tinha sido fuzilado – depois de julgado pelos terroristas, segundo a imprensa – diante de seus filhos que iam para a escola. Mais tarde, a revista americana Time revelou que ele era um agente do governo norte-americano, a mulher dele não era sua esposa, mas uma agente também, e aqueles não eram seus filhos. Uma falsa família hollywoodiana para espionar a luta armada contra a ditadura militar brasileira. Continuamos amigos e em contato, mesmo quando não mais fez críticas escritas. Depois de algum tempo, procurou-me e revelou que tinha direito de usar a Oxberry da Jota Filmes, na Avenida General Olimpio da Silveira, para fazer um table top e que seu curta focalizaria os quadrinhos. Convidou-me para ser codiretor, redator e montar com ele a produção. Não tínhamos nenhuma experiência. Levei um monte de livros e revistas da minha coleção particular e filmamos O Fantasma. Ele me perguntou quantos fotogramas e chutei um número qualquer. Quando fomos ver as primeiras tomadas na Rex Filmes, tudo passou em frações de segundos. Como uma propaganda subliminar. Ficamos perplexos. E aprendemos... Escrevia em casa o texto, passo a passo, sobre o que
filmáramos na véspera. Ele lia e achava ótimo, perguntava quem tinha escrito. “Eu”, respondia, candidamente. No dia seguinte, o mesmo diálogo, até ele acreditar que eu podia escrever sem citações. Quando filmamos uma vamp de Flash Gordon, de costas, com um longo vestido preto, ele se impressionou com a semelhança com uma mulher mais velha do que ele com quem tivera uma relação. A mesma imagem de Alex Raymond que Hector Babenco mostrou para Sonia Braga compor sua personagem em O Beijo da Mulher Aranha. Quando filmamos alguns quadrinhos nacionais, ele observou que era como filmar Rolls-Royce e misturar com um Aero Willys brasileiro. Vamos fazer dois curtas, um Comics e outro Quadrinhos no Brasil. Escolhi Orpheu Paraventi Gregori para fazer a locução. Fomos para a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, ou o que sobrara dela, para juntar tudo. Ao entrar no terreno, o odor de curry vindo de uma planta ficou na minha memória.
ibérica após o término do conclave. Gasca lamentou, pois teria recebido um prêmio internacional, seguramente. Além disso, a diplomacia brasileira perdeu a cópia. Ganhamos um prêmio em Manaus. Rogério, vivendo no Rio, me telefonava e prometia uma cópia 16 milímetros e esquecia. Saiu em vídeo e nada. Até hoje não tenho um Comics. Mas ficou na minha lembrança a felicidade daqueles momentos juntos e o aroma de curry no meu olfato. Álvaro de Moya é jornalista,pesquisador e escritor. Publicou o livro Shazam! (Perspectiva), considerado um clássico sobre a trajetória da HQ no Brasil. Foi curador de exposições sobre quadrinhos, dirigiu ao lado de Rogério Sganzerla os documentários História em Quadrinhos (Comics) e Quadrinhos no Brasil.
imagens: a partir de frames do filme Histórias em Quadrinhos
Só falávamos de Orson Welles, de Cidadão Kane. Eram tempos de crise. Íamos comer algo na cidade de São Bernardo. Eu entrava numa loja de móveis vazia de fregueses e fingia interesse numa mesa Luiz XV e perguntava se dava para fazer sob medida aquelas pernas tortas com outro móvel incompatível. O vendedor aceitava absurdos, desde que concretizasse uma venda. Rogério se segurava para não rir e tirava sarro de mim, já na rua depois de prometer voltar mais tarde com a patroa. O curta Comics, por sorte, foi programado para acompanhar o filme de Pasolini Teorema e foi muito visto. Levei uma cópia para o Salão de Comics, em Lucca, foi bem recebido, o então diretor do Festival de Cinema de San Sebastian, Luis Gasca, sugeriu que eu mandasse uma cópia para a Espanha. Entreguei ao Consulado Brasileiro na Itália e chegou à península
imagem: frame do filme O Bandido da Luz Vermelha
Cinema fora da lei
Manifesto de RogĂŠrio Sganzerla (escrito em 1968, durante as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha)
imagens: frames do filme O Bandido da Luz Vermelha
1 – Meu filme é um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros. Fiz um filme-soma; um far-west, mas também musical, documentário, policial, comédia (ou chanchada?) e ficção científica. Do documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico (Sennett, Keaton); do western, a simplificação brutal dos conflitos (Mann). 2 – O Bandido da Luz Vermelha persegue, ele, a polícia, enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas, meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade. Quando um personagem não pode fazer nada, ele avacalha.
3 – Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime. 4 – Jean-Luc Godard me ensinou a filmar tudo pela metade do preço. 5 – Em Glauber Rocha conheci o cinema de guerrilha feito à base de planos gerais. 6 – Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem. 7 – Cineasta do excesso e do crime, José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás, das cortinas e ruínas cafajestes e dos seus diálogos aparentemente banais. Mojica e o cinema japonês me ensinaram a saber ser livre e – ao mesmo tempo – acadêmico. 8 – O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings.
9 – É preciso descobrir o segredo do cinema de Luís poeta e agitador Buñuel, anjo exterminador. 10 – Nunca se esquecendo de Hitchcock, Eisenstein e Nicholas Ray. 11 – Porque o que eu queria mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes e boçais, onde a estupidez – acima de tudo – revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido. Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameaçada por um criminoso solitário. Quis dar esse salto porque entendi que tinha de filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido. Meus personagens são, todos eles, inutilmente boçais – aliás, como 80% do cinema brasileiro; desde a estupidez trágica do Corisco à bobagem de Boca de Ouro, passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento.
12 – Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de São João Batista, a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. É um bom pretexto para refletir sobre o Brasil da década de 1960. Nesse painel, a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo mundo. 13 – Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme brasileiro liberador, revolucionário também nas panorâmicas, na câmara fixa e nos cortes secos. O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema – como também da nossa sociedade, da nossa estética, dos nossos amores e do nosso sono. Por isso, a câmara é indecisa; o som fugidio; os personagens medrosos. Nesse país tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento.
imagem: frame do filme Carnaval na Lama
Fragmentos de RogĂŠrio Hernani Heffner
Os filmes. Os filmes. Os filmes. Rogério sempre falou de tudo – do cinema, das pessoas do cinema, das sacanagens do cinema –, mas nada ficou acima dos filmes. Falava apaixonadamente, obsessivamente, dos seus e de todos os outros que considerasse instigantes, quer isso significasse Luís de Barros ou Samuel Fuller. Quase tudo era importante em alguma medida. Bastava começar uma conversa em torno do mais insignificante dos filmes, da mais banal das cenas, do mais reles dos planos, que a fala surgia num crescendo de frases rápidas, inacabadas, entrecortadas, com verbos no subjuntivo ou no pretérito imperfeito. O pensamento tinha de escoar, ganhar vida, apresentar-se de forma sugestiva, mas não como uma explicação ou uma lição de moral estético-histórica. A voz elevada, os braços agitados, a silhueta algo franzina agigantando-se num aparente corpanzil que dominava o pedaço, queria dar conta do que transformava o inerte, o monótono, em picada estimulante. Coisa de diretor de cinema atirado e incisivo que, diziam, ele era.
Não nos conhecemos antes por causa dos filmes. Ou melhor, foi por causa de filmes, mas não os seus, que em geral levavam (poucos, no início) admiradores impactados a se aproximar dele. De certa forma, Rogério foi se tornando familiar para mim por causa de relatos de outras pessoas. Uma delas, José Marinho, ator “sganzerliano” de primeira hora, foi meu professor no curso de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) no começo dos anos 1980. “Tarzan” propagandeava a maestria do diretor de O Bandido da Luz Vermelha. Outra pessoa foi Remier Lion, o mais antigo entusiasta, enaltecedor e profundo admirador que conheci da obra e do artista por trás da obra que se erigira após o sucesso daquele primeiro filme. Ele era um garoto quando pirou com os filmes e foi atrás do realizador daquilo que considerava mais do que uma lição de cinema, uma lição de arte e de vida. Ficaram amigos e fui absorvendo um pouco dessa relação ao estreitar a minha com o futuro programador, pesquisador, realizador e globetrotter de cinema.
Já tinha uma pequena ideia de quem era Rogério. Conheci-o antes de ele me conhecer, o vira no programa Cinemateca, transmitido pela antiga TVE do Rio de Janeiro no final dos 1970. Ele e José Carlos Monteiro eram os debatedores de uma emissão de A Marca da Maldade. Não me lembro do que disse, mas a imagem desse programa em particular ficou na minha memória. Não saberia dizer o porquê. Vi um filme seu algum tempo depois, novamente na televisão, antes de encontrálo pessoalmente já nos anos 1990. Era uma exibição do Bandido perdida em algum Corujão na Globo e não me deixou maiores marcas. Assisti mais porque era raro ver filme brasileiro na televisão. Diálogo A importância do momento do qual emergiu – ele não gostava dos termos “udigrúdi”, marginal etc., que considerava ideologicamente perversos, alijando a si e aqueles com quem mantinha afinidades do reconhecimento de uma hegemonia artística evidente – só foi ficando clara para alguém desavisado de uma geração posterior como eu ao longo dos anos 1980. Um conjunto de textos, cursos e sessões foi pavimentando a aceitação um tanto beletrista daquela experiência radical. Na época não percebi que o mais importante era o diálogo com
determinada tradição do cinema brasileiro, que esse grupo reconheceu, resgatou e incorporou. Tradição que significava diálogo com certas formas populares de comunicação, de fazer artístico e, mais do que isso, com certa estética que privilegia o espontâneo, o básico, o imediato. A pantagruélica precariedade não era uma condição (subdesenvolvimento e quejandos), mas uma expressão em aberto, pronta a ser elaborada pelos constituintes cinematográficos. Naquele momento, dentro do métier, apenas se prolongava a querela com o Cinema Novo, transformada em uma dinâmica do tipo algozes e vítimas, artistas e comerciantes, com e sem acesso à Embrafilme etc. Acabaria me encantando mais com a descoberta (tardia) da sinceridade e da plasticidade de uma obra-prima como Porto das Caixas do que com o que me parecia a repetição da estratégia formal de Terra em Transe retomada em Sem Essa, Aranha (a câmera na mão e a mise-en-scène da trajetória dos intérpretes). Quando conversei com Rogério sobre o filme “glauberiano”, ele não o endeusou, mas categoricamente o colocou no seleto clube das obras decisivas e artisticamente maduras. Minha percepção estritamente formalista naquele momento mais antigo não me permitiu
imagens: frames dos filmes Copacabana Mon Amour, Carnaval na Lama e Sem Essa, Aranha
considerar uma revalorização do cinema brasileiro popular antigo que sua geração realizara e uma dimensão de “conteúdo” que já tinha feito toda a diferença e que não deixava de ter uma (nova) presença conceitual. Nós nos conhecemos de fato por causa de um convite que Rogério fez a mim e a Lécio Augusto Ramos, como pesquisadores ligados à Cinédia, para que fossemos à sua casa conversar com um par de estudantes norte-americanos. Isso foi por volta de 1994/1995. Os visitantes queriam checar a possibilidade da existência de uma cópia de Soberba, com a montagem do diretor, e não do estúdio, e que teria sido enviada a Welles aos cuidados de Adhemar Gonzaga. Uma vez informado de que aparentemente ela nunca havia chegado por aqui, passamos a conversar sobre o cinema “wellesiano” e sobre seu projeto brasileiro abortado, tema de Nem Tudo É Verdade, minha primeira incursão de fato ao universo sganzerliano, e de um filme que estava preparando, o futuro Tudo É Brasil, obra que mais aprecio de sua filmografia. Não ficamos amigos no pleno sentido da palavra, não privei
de sua intimidade a não ser quando Sinai, Djin e Helena me pediram que fosse ao seu apartamento na Urca organizar os rolos de filmes que deixara e a documentação que pacientemente guardara durante toda a vida. Foi tocante descobrir o carinho que dedicara às três filhas – a terceira é Paloma –, preservando os trabalhos escolares e os desenhos infantis. Mas não me senti à vontade quando comecei a ler as doloridas cartas que mandava para os pais em Joaçaba. Não convivi com ele para reivindicar amizade e acessar sua vida privada. Desisti e reconheci que não tinha mais alma de pesquisador. Minhas lembranças, portanto, não passam por aquele abuso típico do mundo das artes, onde todo mundo é amigo de todo mundo. A partir daquele primeiro encontro passei a vê-lo mais constantemente, sobretudo na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/ RJ), onde ingressei em 1996, e nos arredores, como o Beco da Fome na Cinelândia (encontrei-o algumas vezes no restaurante Spaghettilândia, que, soube, frequentava bastante). Descobri o elo profundo que havia
entre ele e a instituição que sustentara a primeira apresentação pública dos filmes da Belair. Era o mesmo espaço que lhe proporcionava o prazer de revisitação aos clássicos do cinema ou, mais visceralmente, ao próprio cinema e também lhe fornecia regularmente materiais de arquivo para seus ensaios de montagem. A mais significativa fotografia que conheço de Rogério mostra o futuro depósito de filmes da Cinemateca, em 1979, entupido de latas e ele sentado à la Kane sobre elas, apresentandose em sua Xanadu particular. Os contatos dele dentro do arquivo começaram com Cosme Alves Netto nos anos 1970 e, na década seguinte, se transferiram para Francisco Sérgio Moreira. Podese dizer que apenas me tornei “herdeiro” dessa posição de interlocutor, que eu descobriria no fim do século passado, que girava em torno do contato com este mundo: o acesso a materiais de arquivo e da conservação de negativos, cópias e sobras de montagem da grande maioria de seus filmes. Rogério aparecia de vez em quando para as sessões regulares da Cinemateca, mais raramente para a chamada Ceia dos
Veteranos – projeções privadas de clássicos das matinês de outrora feitas por Cosme para um seleto grupo –, e aqui e ali para conversar pelos corredores e pelas salas do lugar, como quem não tivesse mais nada para fazer. Só retrospectivamente entendi o bem que lhe faziam os ambientes de cinema. Rogério era considerado um diretor/depositante difícil, de gênio explosivo e temperamento inconstante. Em uma ocasião, conheci sua fúria momentânea. Ligou me acusando de ter vendido seus filmes a produtores franceses. Era algo tão estapafúrdio, sem sentido, que não considerei de fato. Mesmo assim, endureci na hora e disse que passasse na manhã seguinte, pois estava despejando os filmes dele... Duas semanas depois nos encontramos e conversamos como se nada tivesse acontecido. Era reflexo da ida da única cópia de Carnaval na Lama para a França, para uma exibição no Musée Jeu de Pomme, e que nunca voltou ao Brasil. Quando assumi a responsabilidade de cuidar do arquivo de filmes, ele passou a tratar comigo
dos assuntos que envolviam suas criações futuras e seu acervo. E me procurou para saber das sobras do Bandido, pois pretendia retomar o assunto e fazer uma sequência. Reviu todo o material na moviola da Cinemateca, junto com Remier. Os dois também mexeram em uma cópia de Copacabana Mon Amour, que tinha chegado da antiga Líder, onde ficara desde 1980. De ações como essas resultavam no mínimo novas versões ou ainda novas produções, caso de Bandido 2, para o qual tive de conseguir uma imagem do criminoso real sendo preso em 1966. Percebi nesse momento que Rogério tinha muito pouco recurso financeiro para fazer frente aos custos desse tipo de trabalho e que buscava uma receptividade à sua arte que lhe permitisse seguir em frente. Usava, sobretudo, seus próprios filmes como base para novos trabalhos, canibalizando sobras e eventualmente os próprios negativos de filmes anteriores, caso de Fora do Baralho, que já não existia como obra desde o início dos anos 1990. Apesar do gesto desesperado, tudo era submetido a uma lógica e a um rigor que remontam
ao Bandido original, que utiliza criativamente trechos de antigos filmes B norteamericanos, italianos e japoneses, passam por filmes como Mudança de Hendrix e atingem um paroxismo em Tudo É Brasil. A manipulação do material de arquivo é sobretudo um sofisticado exercício de ressignificação, operado pela montagem cinematográfica. A sensibilidade para associações rítmicas e visuais, para raccords inusitados e para a emergência do tempo nos planos de outrora retrabalhados demonstra a enorme capacidade de Rogério em promover novas sintaxes para um conjunto de imagens que a rigor não mudou tanto assim sua natureza ao longo dos anos. A face mais visível disso é o labirinto wellesiano. Hoje é muito comum falar em filmes construídos a partir de material de arquivo, mas essa foi sua perspectiva maior ao longo de quase toda a carreira. Para mim essa sempre foi sua grande arte. Um último aspecto nos ligou mais diretamente. Tratava-se da conservação de seus filmes, aspecto que passou a preocupálo quando teve acesso aos negativos de Carnaval na Lama e
os trouxe para o Rio. Pediu que eu os examinasse e a descoberta foi trágica. Era muito tarde para fazer qualquer coisa. Olhamos os outros filmes e muitos já estavam comprometidos em alguma medida, mas poderiam (e podem) ser salvos sem maiores danos. Sua obra pagou o preço de ser pequena em produção de materiais, em geral negativos e umas poucas cópias, às vezes uma ou duas, de ser confeccionada a partir de filmes virgens diversos, por vezes vencidos e mal revelados e lavados, e de ser alvo de um processo de canibalização que ora implica a não existência de matrizes regulares, caso de Mudança de Hendrix, ora o desaparecimento parcial ou total de obras mais antigas. A reconsideração artística de sua obra nos últimos anos acabou por consagrá-lo como o grande nome do cinema brasileiro junto às novas gerações. É uma referência inconteste e um ídolo. Falta a sustentação desse fato pelas próximas décadas, algo que só pode ser obtido com a preservação integral e benfeita de sua filmografia completa. É o desafio que nos cabe e ao futuro.
Hernani Heffner é conservador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e professor de cinema da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/RJ) e da CineTV-PR, da Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Coordena o projeto de restauração do acervo Cinédia e escreveu este texto ao som de Carmen Miranda, Cat Power e Eliete Negreiros.
Nos meus filmes os atores contribuem com novo estilo de interpretação, de desincorporação, uma nova técnica de reinvenção. Rogério Sganzerla
Helena Ignez Atuou em O Bandido da Luz Vermelha (1968), quando iniciou um dueto histórico com Rogério Sganzerla, inaugurando uma forma de interpretar autoral, antinaturalista, a partir de A Mulher de Todos (1969), protagonizando Angela Carne e Osso, a “inimiga número 1 dos homens”. Em 1970, fundou com Sganzerla e Júlio Bressane a Belair, produtora independente que realizou seis longas-metragens em poucos meses, sendo Sem Essa, Aranha, Copacabana Mon Amour (no papel de Sonia Silk, a “fera oxigenada”) e Carnaval na Lama (como Betty Bomba, “a exibicionista”). Participou como atriz em outros filmes de Rogério, como Nem Tudo É Verdade (1986), Perigo Negro (1992) e O Signo do Caos (2003), passando para a direção no mesmo ano, com Reivenção da Rua (montado por Sganzerla), A Miss e o Dinossauro (2005), Canção de Baal (2008) e Luz nas Trevas (2010), com roteiro inédito de Sganzerla. Casada com Rogério por 34 anos, com quem teve Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla, Helena é mãe de Paloma Rocha, com quem contracenou em Perigo Negro (1992).
Paulo Villaça Rogério Sganzerla encontrou em Paulo Villaça o tipo ideal para viver o Bandido da Luz Vermelha nas telas: “ele tinha uma voz grave e a face de um Humphrey Bogart acaboclado e lembrava muito o próprio Bandido”. Atuou logo em seguida em A Mulher de Todos (1969), na pele de um impagável toureiro gay, e em Copacabana Mon Amour (1970), como Doutor Grillo.
Pagano Sobrinho Em O Bandido da Luz Vermelha, encarna o personagem JB da Silva, político corrupto, gângster e populista que propaga soluções cínicas para as mazelas do povo. Dessa forma, JB da Silva transformase no Rei da Boca, defensor da miséria como forma de salvaguardar o folclore. Jô Soares Jô Soares interpreta um hilário proprietário de um truste de histórias em quadrinhos, casado com a insaciável Angela Carne e Osso (Helena Ignez), em A Mulher de Todos (1969). As figuras do filme parecem saídas do imaginário dos gibis fabricados pelo próprio Doktor Plirtz, que traz um componente nazista no figurino e na postura, vigiando e enredando a mulher em jogos eróticos extravagantes.
Otávio Terceiro Um dos atores mais identificados com o universo de Rogério Sganzerla, Otávio Terceiro é o protagonista de seu último filme, O Signo do Caos (2003), que fecha a tetralogia sobre o percurso de Orson Welles no Brasil. O personagem é definido pelo autor como uma espécie de “agente do caos”, cujo modus operandi é o espírito de transação.
Antonio Pitanga Rogério Sganzerla propôs a Antonio Pitanga viver um milionário negro que é seduzido por Angela Carne e Osso em A Mulher de Todos (1969). Pitanga trabalhou com ele novamente em Nem Tudo É Verdade e interpretou Justino, personagem do último roteiro de Sganzerla, Luz nas Trevas (2010), dirigido por Helena Ignez e Ícaro Martins, em fase de finalização.
Guará Ator em Copacabana Mon Amour (1970), técnico de som em Sem Essa, Aranha (1970), realizou Perigo Negro (1992) e legitimou o antifilme O Signo do Caos. Em Copacabana Mon Amour, Guará é um malandro que tenta a todo custo ser o cafetão de Sonia Silk, cercando turistas e gringos na Avenida Atlântica. Aos pulos diante de dois marinheiros na orla de Copacabana, Guará grita: “Money, please, money, please... American friends... O que estamos fazendo aqui na Terra? Qual é o destino do homem?”.
Maria Gladys Aparição marcante em Sem Essa, Aranha (1970), Maria Gladys interpreta uma personagem histérica que desce a ladeira do Vidigal, vestida de verde-amarelo, gritando: “Eu tô com fome, tô com fome!”. No mesmo filme, em plano-sequência antológico, canta desvairadamente um tema inventado a partir de uma provocação de Rogério Sganzerla, com quem fez, ainda, Carnaval na Lama (1970).
Norma Bengell Em Abismu (1977), Norma Bengell protagoniza uma das personagens mais interessantes de Rogério Sganzerla: Madame Zero. Sua imagem de diva vaporosa fumando um enorme charuto tornou-se ícone do cinema brasileiro dos anos 1970.
Othoniel Serra “Nessas condições, imóvel diante da miséria nacional, o otário só pode seguir dopado de sol, de cachaça e de magia.” Othoniel Serra interpreta Vidimar, o irmão gay e macumbeiro de Sonia Silk (Helena Ignez), em Copacabana Mon Amour (1970); tresloucado, uma espécie de médium esfarrapado. Segundo o argumento do filme, “um imbecil, apaixonado pelo patrão, Doutor Grillo (Paulo Villaça), a quem mata, com o lúcido desespero de haver destruído seu eu”.
ilustração: João Pinheiro
Wilson Grey Ator de mais de 150 filmes, na maior parte como coadjuvante, Wilson Grey interpreta em Abismu (1977), com viés expressionista, o papel de secretário de Madame Zero (Norma Bengell). Ao lado de José Mojica Marins, como Doutor Pierson, persegue um egiptólogo que detém um manuscrito com pistas de um antigo tesouro.
Moreira da Silva Em Sem Essa, Aranha (1970), Moreira da Silva, o rei da malandragem, aparece em uma única sequência, cantando e sambando. Sua presença se enquadra incrivelmente na mise-en-scène delirante do filme, em que Zé Bonitinho dá as cartas, constatando: “Essa é a pior das épocas!”. Uma alusão ao fantasma da ditadura, que meses depois levaria ao exílio Rogério Sganzerla e Helena Ignez.
Luiz Gonzaga Em travelling circular e vertiginoso, a câmera acompanha Luiz Gonzaga e sua sanfona em Sem Essa, Aranha. O ambiente é suburbano, o quintal de uma casa e chão de terra batida. Ao som do baião, Helena Ignez, em plano-sequência, vomita um dos monólogos mais contundentes de Sganzerla: “Esta terra é de araque! O sistema solar é um lixo! Subplaneta! Planetazinho metido a besta!”.
José Mojica Marins Em Abismu (1977), José Mojica Marins faz o “elogio à boçalidade”, na pele do Doutor Pierson. Personagem caracterizado como o Zé do Caixão, está envolvido numa trama arqueológica, perseguindo um egiptólogo com um supertelescópio, na busca de tesouros e elos perdidos com civilizações ancestrais. Autor de mais de 40 filmes e ator em cerca de 20, José Mojica Marins manteve um diálogo criativo com Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Eliseu Visconti e Neville de Almeida.
Grande Otelo Aparição luminosa em Nem Tudo É Verdade (1986), o ator Grande Otelo foi a figura eleita por Rogério para ocupar o cartaz de Tudo É Brasil, terceiro filme que compõe a tetralogia sobre a passagem de Orson Welles pelo Brasil. Interpretando a si próprio, Sebastião Prata, pode ser visto além da chanchada, como a sobreposição de três signos encarnados pelo artista: o comediante das chanchadas, o sambista de Rio Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, e a representação de Otelo, o único protagonista negro de Shakespeare, que culminou, inclusive, no nome do ator: Grande Otelo.
Zé Bonitinho Personagem marcante em Sem Essa, Aranha (1970), em que vive Aranha, o último capitalista do país, e no filme Abismu (1977), como o Médium Um, Jorge Loredo foi convidado por Rogério após a consagração de seu personagem Zé Bonitinho na televisão brasileira. Nesses filmes, Zé Bonitinho ocupa um espaço central, com monólogos quase metafísicos, que conferem relevo à sua figura e o transformam por vezes em alter ego do próprio Rogério Sganzerla.
Programação Ocupação Rogério Sganzerla
visitação quarta 9 junho a domingo 18 julho 2010 terça a sexta 9h às 20h sábado domingo feriado 11h às 20h O Itaú Cultural apresenta a filmografia de Rogério Sganzerla. Serão exibidos os trabalhos produzidos pelo diretor no período de 1968 a 2003, além de obras que contam com sua participação e retratam seu universo criativo. quarta 9 18h sessão 1 Documentário 14 Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm Numa tarde de ócio nas ruas de São Paulo, dois jovens com pouco dinheiro e sem rumo falam sobre o que fazer tendo sempre como motivação o próprio cinema. A produção recebeu o prêmio JB Mesbla – Viagem a Cannes em 1967, foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005, e convidada oficial do 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004. A Mulher de Todos 16 Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Peter Overbeck; cenografia: Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci; montagem: Rogério Sganzerla e Franklin Pereira; música: Ana Carolina Soares; produção: Alfredo Palácios e Rogério Sganzerla; realização: Servicine e Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas; som: Julio Perez Caballar; elenco: Helena Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antonio Pitanga, Abrahão Farc, Renato Corrêa e Castro, Thelma Reston, Silvio de Campos Filho, José Carlos Cardoso, Antonio Moreira e José Agrippino de Paula Angela Carne e Osso é uma ninfômana casada com o Doutor Plirtz, ex-carrasco nazista e dono do truste das histórias em quadrinhos no Brasil. Entediada com sua vida, passa o tempo colecionando homens no retiro idílico da Ilha dos Prazeres. A obra recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Atriz (Helena Ignez) no 4o Festival de Brasília; o de Melhor Filme no 1o Festival do Norte do Cinema Brasileiro; e o de Melhor Filme no Festival de São Carlos. Foi exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg,
na Suíça, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidada oficial do 22o Festival de Cinema de Turim, em 2004. 20h debate 1 com Helena Ignez, Joel Pizzini, Júlio Bressane e Roberto Turigliatto
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17h30 sessão 1 B2 Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi, 11 min, 2001, p&b, 35 mm Montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Lanny Gordin, Gal Costa e Jards Macalé Curta-metragem realizado a partir das sobras de O Bandido da Luz Vermelha e Carnaval na Lama, traz um material que evidencia o método de trabalho de Sganzerla, calcado em técnicas singulares de montagem. Exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e convidado do 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006. Sem Essa, Aranha Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; assistentes de direção: Kleber Santos e Ivan Cardoso; produção: Júlio Bressane e Rogério Sganzerla; realização: Belair; fotografia e câmera: Edson Santos e José Antonio Ventura; montagem: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane; som: Guará Rodrigues; elenco: Jorge Loredo, Helena Ignez, Maria Gladys, Luiz Gonzaga, Moreira da Silva e Aparecida Considerada obra radical, Sem Essa, Aranha inovou tecnicamente aspectos que dizem respeito à interpretação e à direção, pautadas, sobretudo, pelo improviso. O filme reflete, por meio de planos-sequência, a realidade brasileira em 1970. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e no 23o Festival Internacional de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e foi convidado do Festival de Taormina, na Itália, em 1998. 20h debate 1 com Antonio Urano, Helena Ignez, Hernani Heffner e Maria Gladys sexta 11 Elogio da Luz 14 Joel Pizzini e Paloma Rocha, 54 min, 2003, p&b/color., vídeo Produção: Canal Brasil Filme-ensaio sobre Rogério Sganzerla cuja narrativa coloca às avessas a cronologia de seus trabalhos, revelando as relações entre seu processo criativo e sua trajetória como pensador do cinema. Conta com depoimentos
de personalidades que conviveram com o cineasta na intimidade e nos sets de filmagem. Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi 14 José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm Montagem: Rogério Sganzerla; direção de arte: Fernando Tavares; produção: Mário Drumond; som: João Vargas; edição de som: Eliseu Visconti; cenografia: Osvaldo Medeiros O espírito e o universo gráfico do desenhista e gravador brasileiro Oswaldo Goeldi. Sem se ater a preocupações biográficas ou didáticas, o filme discute o conteúdo artístico e cinematográfico em relação ao movimento expressionista. Recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Filme no Festival de Brasília em 1981. Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da 14 França Antártica Rogério Sganzerla, 17 min, 1976, p&b/color., 16 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Paulo Sérgio; montagem: Ramon Alvarado; diretor de produção: Wilson Monteiro Filho; elenco: Paulo Villaça Inspirado em Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry, o curta-metragem acompanha a trajetória do aventureiro Nicolas Durand de Villegagnon e a formação da colônia francesa no Rio de Janeiro no século XVI. Filmado nos locais onde se sucederam os episódios históricos, como o Forte Coligny, na Ilha das Cabras, recebeu o prêmio da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro no concurso Uma Data para Lembrar e foi exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. 20h sessão 2 Histórias em Quadrinhos (Comics) 14 Rogério Sganzerla e Álvaro de Moya, 7 min, 1969, p&b/color., 35 mm Produção: Elyseu Visconti; música: Rogério Sganzerla; montagem: Milton da Silva; narração: Orfeu P. Gregori; table top: Paulo Pichi; imagem: Rex; som: Vera Cruz Primeiro documentário em curta-metragem de Sganzerla, aborda o universo dos quadrinhos. Guiada pelo texto de caráter histórico do especialista Álvaro de Moya, a câmera passeia pelos traços de artistas como Will Eisner, Milton Cannif, Alex Raymond e Al Capp. Exibido no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. A Mulher de Todos 16 Rogério Sganzerla, 92 min, 1969, color./p&b, 35 mm sábado 12 15h sessão 1 Ritos Populares – Umbanda no Brasil 14 Rogério Sganzerla, 18 min, 1977, color., 16 mm. Documentário inacabado Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Tony Ferreira; técnico de som: José Sette; montagem: Denise Fontoura;
narrador: W.W. da Matta e Silva; realização: Tupan Filmes O registro de um depoimento de Woodrow Wilson da Matta e Silva (fundador da Umbanda Esotérica, em 1940) é alternado com cenas de transe e de rituais filmadas na Tenda Umbandista Oriental, em Itacuruçá. A produção foi exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Copacabana Mon Amour 18 Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; assistente de direção: Guará Rodrigues; produção: Rogério Sganzerla e Júlio Bressane; fotografia e câmera: Renato Laclete; montagem: Mair Tavares e Gilberto Santeiro; trilha sonora original: Gilberto Gil; elenco: Helena Ignez, Paulo Villaça, Otoniel Serra, Lilian Lemmertz, Joãozinho da Goméia, Laura Gallano e Guará Rodrigues; realização: Belair Sonia Silk, uma mulher perturbada por visões de espíritos, perambula por Copacabana com o sonho de ser cantora da Rádio Nacional. É o primeiro filme brasileiro em cinemascópio, rodado, em boa parte, nas favelas cariocas. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o e no 23o Festival de Cinema de Turim, na Itália, em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla; e no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005. 17h sessão 2
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Informação H. J. Koellreutter Rogério Sganzerla, 18 min, 2003, color., vídeo Fotografia: Marcos Bonisson; montagem: Marina Weis; mixagem: Ricardo Reis; trechos de composições utilizadas: “Tanka II”, de H.J. Koellreutter Um retrato de Hans-Joachim Koellreutter, aluno de Paul Hindemith e mestre de diversos músicos, como Cláudio Santoro, Guerra Peixe e Edino Krieger. A produção foi exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. América, o Grande Acerto de Vespúcio 14 Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., beta e vídeo Câmera: Carlos Otávio Jubé; elenco: Otávio Terceiro e funcionários do Teatro Carlos Gomes Nesta obra experimental que conjuga cinema e teatro, Sganzerla recorre a um aparato técnico mínimo para deixar o ator Otávio Terceiro exercer o papel de Américo Vespúcio. Baseado em uma carta do navegador, intitulada “Novus Mundus”, relato do descobrimento da América, o vídeo traz um monólogo singular. Recebeu o prêmio de Melhor Ator (Carlos Otávio Jubé) no CineEsquemanovo, em Porto Alegre, em 2007, e foi exibido no 23 o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005.
Anônimo e Incomum 14 Rogério Sganzerla, 13 min, 1990, color., vídeo Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Marcos Bonisson; trilha sonora original: Fernando Moura; elenco: Helena Ignez e Nonatho Freire; realização: Tupan Filmes O artista plástico Antonio Manuel apresenta seu trabalho em cenários como seu ateliê na Rua Alice e a Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. As obras do artista se alternam com tomadas de telas coloridas, pintadas à época da filmagem, e com cenas dramáticas estreladas por Helena Ignez e Nonatho Freire. A produção foi exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Isto É Noel Rosa 14 Rogério Sganzerla, 43 min, 1990, color., 35 mm Montagem: Sylvio Renoldi; fotografia: Dib Lufti; produção executiva: Diana Eichbauer; arquivo: Jorge Pereira Vaz; imagens: Marcelo Marsilac, Sergio Arena, Newton Gomes e José Sette; design: Edmundo Souto; arte-finalista: Ana Rita; figurinos: Diana Eichbauer; som direto: Joaquim Santana; voz: João Gilberto e Gal Costa; elenco: João Braga Após Noel por Noel (1980), o sambista carioca é novamente retratado por meio de imagens documentais. Parte delas mostra o músico em uma caminhada trôpega, já tomado pela tuberculose, pelas ruas do Rio de Janeiro durante o Carnaval. A produção foi apresentada no 80o aniversário do compositor de Vila Isabel e na Galerie Nationale du Jeu de Paume, em Paris, em 1993, e exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004. 20h sessão 3 Documentário 14 Rogério Sganzerla, 11 min, 1967, p&b, 16 mm
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O Bandido da Luz Vermelha Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm Roteiro e música: Rogério Sganzerla; fotografia: Peter Overbeck e Carlos Ebert; cenografia: Andrea Tonacci; montagem: Sylvio Renoldi; som: Júlio Perez Caballar, Mara Duvall; elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Sérgio Hingst, Pagano Sobrinho, Sergio Mamberti, Luiz Linhares, Sonia Braga, Ítala Nandi, Renato Consorte, Antonio Lima, Maurice Copovilla, Ozualdo Candeias, Roberto Luna, José Marinho, Carlos Reichenbach, Marie Caroline Whitaker, Renata Souza Dantas, Ezequiel Neves e Lola Brah; realização: Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas Segundo Sganzerla, O Bandido da Luz Vermelha é “um far-west sobre o Terceiro Mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros [...] um filme-soma; um far-west, mas também musical, documentário, policial, comédia ou chanchada [...] e ficção científica”. O longa traça um panorama do Brasil por meio da trajetória de um foragido da polícia em crise de identidade, compondo um painel apocalíptico do país. Recebeu os prêmios de
Melhor Filme, Direção, Montagem, Diálogo e Figurino no 3o Festival de Brasília, em 1968; o prêmio Governador do Estado de São Paulo, na categoria especial; o INC (Instituto Nacional do Cinema); e o Roquette Pinto. Foi convidado oficial do Festival de Turim em 2004 e do 3o DLA Film Festival, em Londres, em 2004, e exibido na Weelington Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; na Auckland Film Society, na Nova Zelândia, em 2007; no 9o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, em 2007; no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no Barbican Center, em Londres, em 2006; no 16o Festival Internacional de Bobigni, em Paris, em 2005; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no Internacional Film Museum Festival, na Áustria, em 2005; no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; no III Discovering Latin America Film Festival, em Londres, em 2004; no MoMa, em Nova York, em 1999; e no Festival de Cinema de Taormina, na Itália, em 1998. domingo 13
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15h sessão 1 Noel por Noel Rogério Sganzerla, 10 min, 1980, color., 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Renato Laclete; table top: Edson Lobato; som: Nel-Som; realização: Rogério Sganzerla Produções Cinematográficas Ensaio visual sobre o compositor e sambista carioca, com imagens de arquivo do ambiente musical e histórico da época, incluindo aspectos pitorescos de Vila Isabel. Recebeu o prêmio do Público e de Melhor Montagem no Festival de Brasília em 1981 e foi exibido na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Tudo É Brasil Rogério Sganzerla, 82 min, 1998, p&b/color., 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; edição: Hugo Mader, Mair Tavares, Sylvio Renoldi; produção executiva: Rojer Garrido de Madrugo; som: Sylvio Renoldi Um aprofundamento da pesquisa de Sganzerla sobre a estada de Orson Welles no Brasil, em 1942, para a realização de It’s All True, projeto boicotado pelos estúdios de Hollywood. Nele, fragmentos de imagens que registram Welles no Rio, em Salvador e em Fortaleza são sobrepostos por gravações em áudio de alguns depoimentos radiofônicos e de composições interpretadas por artistas como Carmen Miranda e Herivelto Martins. Recebeu os prêmios de Montagem, Pesquisa Histórica e Crítica no Festival de Brasília em 1998; o prêmio de Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA); e o prêmio Marché du Film, do Festival de Cannes, em 1998. Foi exibido no Museu Guggenheim em Nova York em 1999; no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e foi convidado
pela Cinemateca de Munique, na Alemanha, para a Welles Conference, sobre a carreira de Orson Welles. 17h sessão 2 Olho por Olho Andrea Tonacci, 13 min, 1966, p&b, 16 mm Roteiro e fotografia: Andrea Tonacci; montagem: Rogério Sganzerla; elenco: Francisco Arruda, Ronaldo Ferraz, Sérgio Frederico, Daniele Gaudin, Franco Ogassawara e Fábio Sigolo Um grupo de amigos da classe média circula de carro pela cidade de São Paulo, reagindo ao sentimento de impotência e frustração que lhes invade a vida. Belair Bruno Safadi e Noa Bressane, 80 min, 2009 , p&b/color, 35mm Documentário resgata a trajetória da produtora cinematográfica Belair Filmes – dos cineastas Júlio Bressane e Rogério Sganzerla –, que realizou seis filmes em três meses. Os cineastas, censurados pela ditadura militar, saíram do país; os filmes ainda hoje são pouco conhecidos. 20h sessão 3 Irani Rogério Sganzerla, 8 min, 1983, color., 16 mm Roteiro: Rogério Sganzerla Filmagens registram uma festa popular relacionada a uma batalha travada na cidade de Irani, marco inicial da Guerra do Contestado, em Santa Catarina, em outubro de 1912. A produção foi exibida na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. O Signo do Caos Rogério Sganzerla, 80 min, 2003, p&b/color., 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; fotografia: Marcos Bonisson e Nélio Ferreira; montagem: Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi; trilha sonora: Sinai Sganzerla; direção de arte: Sérgio Reis; elenco: Otávio Terceiro, Sálvio do Prado, Helena Ignez, Guará Rodrigues, Freddy Ribeiro, Djin Sganzerla, Camila Pitanga, Giovana Gold, Eduardo Cabus, Gilson Moura, Felipe Murray, Vera Magalhães, Anita Terrana e Ruth Mezek Ao tratar indiretamente da temporada de Orson Welles no Brasil para filmar It’s All True, Sganzerla, em O Signo do Caos, seu último filme, prova mais uma vez ser um inovador da linguagem cinematográfica com essa reflexão sobre os percalços do cinema no Brasil. A produção recebeu os prêmios de Melhor Direção e Melhor Montagem no Festival de Brasília em 2003; o de Melhor Montagem da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2006; e o prêmio Especial do Festival do Rio em 2003. Foi convidado oficial do 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006, e exibido no 9th Film Fest of Mar del Plata, em 2006; no Tekfestival – Rogério Sganzerla’s Homage, em Roma, em 2005; no Festival Internacional da Procida, na Itália, em 2005; no 58o Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, em 2005; no Presénce et Passé du Cinéma Brésilien, em Paris, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; no Festival de Cinema de Trieste, na Itália; e no Festival Internacional de Cinema de Roma, em 2004.
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17h sessão 1 Helena Zero Joel Pizzini, 34 min, 2006, p&b/color., vídeo Roteiro: Joel Pizzini; assistente de direção: Sinai Sganzerla; câmera e fotografia: Eryk Rocha; som: Bruno Espírito Santo; edição de som: Alexandre Gwaz e Robson Rumin; montagem: Joel Pizzini e Robson Rumin; produção executiva: Paloma Rocha; realização: Canal Brasil; música: Jorge Mautner e Nelson Jacobina; elenco: Helena Ignez, Gal Costa, Jorge Mautner, Jards Macalé e Lanny Gordin Ensaio documental sobre o universo criativo da atriz e cineasta Helena Ignez, que, por meio de um ritual de tai chi chuan, evoca e reinventa sua memória. A Reinvenção da Rua Helena Ignez, 27 min, 2003, color., vídeo Roteiro, produção e produção executiva: Helena Ignez; fotografia: Marcos Bonisson; câmera: Rogério Sganzerla, Marcos Bonisson e Eduardo Barioni; montagem: Rogério Sganzerla; edição de som: Rogério Sganzerla; música: Walter Smetack; elenco: Vito Acconci; realização: Mercúrio Produções Primeiro filme de Helena Ignez como diretora, homenageia o arquiteto e artista contemporâneo norteamericano Vito Acconci. Perigo Negro Rogério Sganzerla, 27 min, 1992, color., 35 mm Adaptação, produção e diálogos adicionais: Rogério Sganzerla; argumento original: Oswald de Andrade; fotografia e câmera: Nélio Ferreira Lima; montagem: Sylvio Renoldi; música: Paulo Moura; instrumentação: Edson Maciel; consultoria musical: Otávio Terceiro; elenco: Abrahão Farc, Helena Ignez, Antonio Abujamra, Tita, Paloma Rocha, Betina Viany, Conceição Senna, Guará Rodrigues, Bayard Tonelli, Sandro Solviat Ninho de Morais e Paulo Moura; realização: Tupan Filmes, para a Secretaria de Cultura do governo de São Paulo A trajetória do jogador Perigo Negro, que, em franca ascensão, tem sua carreira sabotada por um cartola inescrupuloso. Adaptação livre de um roteiro cinematográfico escrito por Oswald de Andrade, Perigo Negro faz parte do projeto Oswaldianas, que também conta com episódios assinados por outros diretores (entre eles Júlio Bressane). A produção foi exibida no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no 23o Festival de Cinema de Los Angeles, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e no Festival de Cinema de Taormina, na Itália, em 1998; e representou o Brasil na 19a edição do Latin American Film Festival, em 2005. 20h sessão 2 A Miss e o Dinossauro 2005 – Bastidores da Belair Helena Ignez, 17 min, 2005, color., super-8 Roteiro: Helena Ignez; câmera: Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e Helena Ignez; montagem: André Guerreiro Lopes; produção executiva: Ester Fér; edição de
som: Pedro Noizyman; vozes em off: Rogério Sganzerla e Helena Ignez; pesquisa: Helena Ignez e Ester Fér; seleção musical: Helena Ignez; elenco: Helena Ignez, Maria Gladys, Guará Rodrigues, Jorge Loredo, Aparecida, Kleber Santos, Bety Faria, Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e Neville d’Almeida; realização: Mercúrio Produções Ao registrar o making of de Cuidado, Madame e Sem Essa, Aranha, duas produções simultâneas da Belair, Helena pretendia fazer um documentário à época de lançamento dos filmes, o que não foi possível. Finalizado em 2005, o projeto tem narração em primeira pessoa da atriz e diretora sobre as gravações. Canção de Baal Helena Ignez, 77 min, 2008, color., digital Roteiro: Helena Ignez (inspirado em Baal, de Bertolt Brecht); produção: Sinai Sganzerla, Patrícia Godoy e Ana Oliveira; música: Roberto Riberti e Carlos Carega; fotografia: André Guerreiro Lopes e Aloysio Raolino; edição: Ricardo Miranda, Júlia Martins e Guta Pacheco; elenco: Felipe Kannenberg, Djin Sganzerla, Beth Goulart, Michele Matalon e Marcelo Lazzaratto; realização: Mercúrio Produções Baal é um poeta e cantor que recebe de Meck um convite para jantar. Lá, ele se torna sarcástico com os demais convidados, escandalizando-os ao cortejar a mulher do anfitrião.
Ficção futurista adaptada livremente do conto homônimo do escritor Ray Bradbury, metaforiza a situação política do Brasil, então sob ditadura militar. 20h sessão 2 Brasil 14 Rogério Sganzerla, 12 min, 1981, color., 35 mm Roteiro e produção: Rogério Sganzerla; elenco: João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia O registro dos bastidores da gravação do disco Brasil, de João Gilberto, de 1981, com a presença de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia no estúdio. Dorival Caymmi, Ary Barroso, Grande Otelo e Eros Volúsia, em performances raras, e Orson Welles, no Carnaval do Rio, completam este curta, que apresenta uma imagem singular do país. A produção foi exibida no International Film Museum Festival, na Áustria, em 2005; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; e no III Discovering Latin America Film Festival, em Londres, em 2004. Copacabana Mon Amour 18 Rogério Sganzerla, 85 min, 1970, color., 35 mm sexta 18
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16h sessão 1
17h sessão 1 Um Sorriso, Por Favor – O Mundo Gráfico de Goeldi José Sette, 23 min, 1981, color., 16 mm
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Horror Palace Hotel 14 Jairo Ferreira, 41 min, 1978, color., super-8 Filmagem: Jairo Ferreira e Rogério Sganzerla; narração, montagem e finalização: Jairo Ferreira; depoimentos: José Mojica Marins, Francisco Luis de Almeida Salles, Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Neville d’Almeida, Rudá de Andrade, Elyseu Visconti, Bernardo Vorobov, Dilma Loes, Renato Consorte e Satã Nos bastidores do Festival de Brasília de 1978, cineastas como Rogério Sganzerla, Júlio Bressane, Elyseu Visconti e José Mojica Marins analisam o cinema no Brasil. Destaque para os comentários do crítico Luis de Almeida Salles, entrevistado por Sganzerla. Bom Jesus da Lapa – O Salvador dos Humildes 14 Elyseu Visconti, 14 min, 1970, color., 35 mm Fotografia e produção: Elyseu Visconti; montagem: Rogério Sganzerla; pesquisa: Ana Tereza Ramos; texto: Ipojuca Pontes O documentário registra a romaria realizada anualmente às margens do Rio São Francisco, na Bahia, em devoção ao Bom Jesus da Lapa. O Pedestre 14 Otoniel Santos Pereira, 25 min, 1966, p&b, 16 mm Fotografia e câmera: Andrea Tonacci; montagem: Rogério Sganzerla
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Linguagem de Orson Welles Rogério Sganzerla, 15min, 1990, p&b/color., 35 mm Montagem: Severino Dadá; música original: João Gilberto; som: Roberto Leite; elenco: John Huston, Edmar Morel, Grande Otelo Único curta-metragem da tetralogia “sganzerliana” sobre a vinda do enfant terrible hollywoodiano ao Brasil para filmar It’s All True, a obra trabalha com material documental (recortes de jornal, fotos etc.) similar ao que seria usado em Tudo É Brasil, oito anos depois. A produção foi selecionada e apresentada na categoria Especial na 46a (1993) e na 58a (2005) edições do Festival Internacional de Locarno, na Suíça, convidada pela Cinemateca de Munique para a Welles Conference – organizada pelo Filmmuseum im Münchner Stadtmuseum – e exibida no 23o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2005; e na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005. Nem Tudo É Verdade Rogério Sganzerla, 95 min, 1986, p&b/color., 35 mm Roteiro: Rogério Sganzerla; fotografia: Edson Batista, Victor Diniz, Carlos Ebert, José Medeiros, Edson Santos e Afonso Viana; montagem: Severino Dadá e Denise Fontoura; direção de arte e figurinos: Raul Williams; música original: João Gilberto; som: Roberto de Carvalho; elenco: Arrigo Barnabé, Grande Otelo, Helena Ignez, Nina de Pádua, Mariana de Moraes, Vânia Magalhães, Abrahão Farc, Otávio Terceiro, José Marinho, Geraldo Francisco, Mário Cravo e Nonatho Freire Primeiro filme de Sganzerla a tematizar a vinda de Orson Welles ao Brasil, em 1942, para filmar It’s All True, projeto
boicotado por Hollywood. Arrigo Barnabé interpreta o diretor de Cidadão Kane, até então desfrutando como nunca do status de maior gênio precoce do cinema. A produção recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora no 14 o Festival de Gramado, em 1987; o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu, em 1986; o prêmio da Associação Brasileira de Cineastas; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em 1985. O filme foi convidado pela Cinemateca de Munique, na Alemanha, para a Welles Conference, sobre a carreira cinematográfica de Orson Welles, foi convidado oficial do 22 o Festival de Turim, na Itália, em 2004, e exibido no 20 o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; no 22 o e no 23 o Festival de Cinema de Turim, na Itália, em 2004 e 2005 – Tribute to Rogério Sganzerla; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no Seattle International Film Festival em 1987; no Melbourne Film Festival em 1987; no Festival Internacional de Cinema de Chicago em 1986; no Festival Internacional de Cinema de Berlim; e nas redes de TV BBC (Londres) e TF-1 (Paris), em 1986 e 1985, respectivamente. sessão 2 It’s All True: Based on an Unfinished Film by Orson Welles Bill Krohn, Myron Meisel, Norman Foster, Orson Welles e Richard Wilson, 89 min, 1993 Produção: Régine Konckier, Richard Wilson, Bill Krohn, Myron Meisel e Jean-Luc Ormieres; produtor associado: Catherine Benamou; fotografia: Gary Graver; edição: Ed Marx; música: Jorge Arriagada; narração: Miguel Ferre; elenco: Jeanne Moreau, Orson Welles e Carmen Miranda Documentário realizado a partir de cenas recuperadas e reconstituídas de It’s All True, de Orson Welles, cujas filmagens no Brasil, em 1942, foram interrompidas. Originalmente composto de três histórias sobre a ordem sociopolítica da América Latina (My Friend Bonito, The Story of Samba e Four Men on a Raft), o filme de Welles contrariou interesses dos governos brasileiro e norte-americano, sendo, então, boicotado. debate com Bill Krohn, Catherine Benamou, Ismail Xavier e Samuel Paiva sábado 19
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15h sessão 1 A Vermelha Luz do Bandido Pedro Jorge, 16 min, 2009, color., beta Este documentário radialístico-científico-experimental analisa o filme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, realizado em 1968, além de refletir sobre a atual indústria cinematográfica brasileira. O Bandido da Luz Vermelha Rogério Sganzerla, 92 min, 1968, p&b, 35 mm
17h sessão 2 A Cidade do Salvador (Petróleo Jorrou na Bahia) Rogério Sganzerla, 9 min, 1981, p&b, 16 mm Montagem: Rogério Sganzerla; coprodução: Fundação Cultural do Estado da Bahia e Cepoc Filme-documento sobre as relações de poder entre classes, no contexto sociocultural da Bahia, com base na história da exploração do petróleo no estado. Recebeu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Caxambu em 1985; o prêmio Incidental e de Melhor Montagem no Festival de Gramado em 1987; e o prêmio Abraci, no Fest-Rio, em 1985. Foi exibido no Seattle International Film Festival; no Melbourne Film Festival em 1987; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; e nas redes televisivas BBC (Londres), em 1986, e TF-I (Paris), em 1985. Sem Essa, Aranha Rogério Sganzerla, 96 min, 1970, color., 16 mm 20h sessão 3 Deuses no Juruá Rogério Sganzerla, 15 min, 1997, color., digital Roteiro, imagens e edição: Maria Maia; música: Villa-Lobos Trechos de Floresta do Amazonas, do compositor Heitor Villa-Lobos, pontuam uma montagem sonora da língua grega e das línguas indígenas pano e aruaque. Os índios do Juruá e os deuses gregos se confundem e confluem nesta obra. Abismu Rogério Sganzerla, 80 min, 1977, color., 35 mm Roteiro, produção e montagem: Rogério Sganzerla; direção de produção: Ivan Cardoso; música não original: Jimi Hendrix; fotografia: Renato Laclete; som: Dudi Gupper; elenco: Norma Bengell, José Mojica Marins, Wilson Grey, Jorge Loredo, Edson Machado, Mário Thomar, Mariozinho de Oliveira e Satã Inscrições em algumas das cavernas da Pedra da Gávea, que remontam ao período pré-colonial, são o ponto de partida para este tributo a Jimi Hendrix e ao poder de Mu, divindade fenícia celebrada pelo personagem Zé Bonitinho. Este filme marca o retorno de Sganzerla ao longa-metragem após um longo período de ausência. Foi exibido no 20o Festival Internacional de Cinema de Fribourg, na Suíça, em 2006; na Mostra Cinema do Caos CCBB, no Rio de Janeiro, em 2005; no 22o Festival de Cinema de Turim – Tribute to Rogério Sganzerla, na Itália, em 2004; no Festival de Cinema de Roma em 2004; e no Festival de Cinema de Trieste, na Itália, em 2004. Filmes inacabados de Rogério Sganzerla que não entraram na mostra: Carnaval na Lama Fora do Baralho Mudança de Hendrix Newton Cavalcanti: a Alma do Povo Vista pelo Artista
Biografia dos debatedores Antonio Urano Mestre em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV), especializou-se em promoção comercial, atuando na América Latina por vários anos. Ocupou diversos cargos na Embrafilme; empreendeu dezenas de mostras nacionais na América Latina; organizou a participação do cinema brasileiro em eventos como o mercado do filme de Cannes, de Berlim e de Milão; participou do esforço pioneiro de comercialização dos direitos de filmes brasileiros para países do Leste Europeu e da Ásia; formulou projetos para a distribuição e a promoção internacional das produções do país; foi consultor de vários festivais de cinema; e por três anos foi diretor comercial da Riofilme. Bill Krohn Crítico e ensaísta norte-americano, publicou os livros Hitchcock at Work e Luis Buñuel – Chimera. Foi codiretor de It’s All True (1993) e colaborador de Cahiers du Cinéma e The Economist. Manteve uma interlocução criativa com Sganzerla, a quem define como “um cineasta para o novo milênio”. Catherine Benamou Formada pela Universidade de Nova York, é professora no Departamento de Estudos Étnicos da Universidade de Michigan, especialista na obra de Orson Welles e em teoria do documentário e autora de Rediscovering Orson Welles e It’s All True, uma Odisseia Pan-Americana. Admiradora do cinema de Rogério Sganzerla, cultivou com ele permanente diálogo, o qual se nutriu do mútuo interesse na passagem de Welles pelo Brasil. Integrou o projeto de restauração das imagens produzidas por esse realizador.
Helena Ignez Formada pela Escola de Teatro da Bahia, participou de montagens de Bertolt Brecht e August Strindberg. Estreou no cinema com O Pátio (Glauber Rocha, 1959); integrou o elenco de A Grande Feira (Roberto Pires, 1961), O Grito da Terra (Olney São Paulo, 1964), Assalto ao Trem Pagador (Roberto Farias, 1962) e O Padre e a Moça (Joaquim Pedro de Andrade, 1965). Casou-se com Rogério Sganzerla e, nos anos 1970, fundou, ao lado do marido e de Júlio Bressane, a Belair; em 2005 lançou-se como diretora com Reinvenção da Rua, montado por Sganzerla; celebrou o cinema do diretor em A Miss e o Dinossauro (2008), seu segundo filme. Nesse mesmo ano, o longa-metragem Canção de Baal (livre adaptação de Brecht) marcou sua estreia na ficção e lhe rendeu o prêmio da crítica no Festival de Gramado. Em 2009, filmou seu segundo longa, Luz nas Trevas, ainda não lançado – com roteiro inédito de Sganzerla. Hernani Heffner Conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) desde 1996, é professor de cinema na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), na Fundação Getulio Vargas (FGV/RJ) e na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), além de coordenador do projeto de restauração do acervo Cinédia. Trabalha, desde 1986, com pesquisa histórica em cinema brasileiro. Publicou vários textos, entre eles mais de uma centena de verbetes para a Enciclopédia do Cinema Brasileiro; atuou como entrevistador no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ); realizou curadorias e participou de mostras apresentadas pelo CCBB do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brasília, pela Caixa Cultural e pelo Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc/SP). Ismail Xavier Crítico, mestre em teoria literária, professor de cinema da Universidade de São Paulo (USP) desde 1971 e professor visitante na Universidade de Nova York (1995), na Universidade de Iowa (1998) e na Universidade Paris III – Sorbonne Nouvelle (1999). É autor de obras referenciais – entre elas O Discurso Cinematográfico: a Opacidade e a Transparência; Sétima Arte: um Culto Moderno; Sertão Mar: Glauber Rocha e a Estética da Fome; e Cinema Brasileiro Moderno; é conselheiro da Cinemateca Brasileira desde 1977. Publicou, como coordenador da Coleção Cinema, Teatro e Modernidade (Cosac Naify), O Olhar e a Cena – Melodrama, Hollywood, Cinema Novo e Nelson Rodrigues e Alegorias do Subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal, em que analisa a obra de Rogério Sganzerla.
Joel Pizzini Autor de ensaios documentais premiados internacionalmente, conquistou com os longas 500 Almas (2004) e Anabazys (inédito) os prêmios de Melhor Filme, Som e Fotografia, o prêmio Especial do Júri e o de Melhor Montagem, nos festivais do Rio, de Mar del Plata e de Brasília. É conselheiro da Escola do Audiovisual de Fortaleza; professor da Faculdade de Artes do Paraná (FAP); curador da restauração da obra de Glauber Rocha; codiretor, com Paloma Rocha, dos documentários extras dos DVDs do cineasta; e diretor do novo filme Olho Nu (Ney Matogrosso), coproduzido pelo Canal Brasil, para quem produziu Elogio da Luz. Foi curador das retrospectivas Faces de Cassavetes, Festival Jodorowsky e Estratégia do Sonho, o Primeiro Bertolucci; e colaborou na montagem de Luz nas Trevas, de Helena Ignez (inédito), com base em roteiro de Sganzerla. Júlio Bressane Estreou na direção com o curta Bethânia Bem de Perto, em parceria com Eduardo Escorel; em 1967, apresentou, no Festival de Brasília, seu primeiro longa-metragem, Cara a Cara. Foi premiado em outras edições do evento com Tabu (1982), Filme de Amor (2003) e Cleópatra (2007). Com Matou a Família e Foi ao Cinema e O Anjo Nasceu, ambos produzidos em 1969, inaugurou o chamado cinema marginal. Fundador da Belair em 1970, exilou-se durante a ditadura na Europa, onde rodou Memórias de um Estrangulador de Loiras (Londres, 1971); e no Marrocos filmou Fada do Oriente (1972). Como ensaísta, publicou os livros Alguns (1996), Cinemancia (2000) e Fotodrama (2005). Com A Erva do Rato (2008), seu trabalho mais recente, participou da Seção Horizontes do Festival de Veneza, a exemplo de Cleópatra (Melhor Filme em Brasília em 2006). Maria Gladys Iniciou a carreira no teatro, com Gianni Ratto, e atuou nos teatros Jovem, Mesbla e Dulcina. Nos anos 1960, trabalhou em Os Fuzis (Ruy Guerra, 1964) e Todas as Mulheres do Mundo (Domingos de Oliveira, 1967). Radicalizou sua linguagem nos anos 1970, com Sem Essa, Aranha, de Rogério Sganzerla, Cuidado, Madame e Família do Barulho, de Júlio Bressane. Entre os anos 1970 e 1990, seguiu sua parceria com Bressane (Gigante da América e Brás Cubas); atuou com Paulo Cezar Saraceni (Anchieta e Natal da Portela) e Walter Lima Jr., fez telenovelas e filmou com jovens realizadores, como Bruno Safadi, em Meu Nome É Dindi (2008).
Roberto Turigliatto Crítico de cinema italiano, é um dos fundadores do cineclube Movie Club. Entre 1989 e 1991, foi o responsável pela programação da sala Museu Nacional de Cinema, em Turim. Teve atuação destacada como um dos promotores e programadores do Torino Film Festival desde sua criação, em 1982, sendo ainda codiretor do evento nas edições de 2003 a 2006. Nesse período, organizou mostras retrospectivas de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane. A partir dos anos 1990, colaborou como curador na Mostra Internacional do Novo Cinema de Pesaro, no Festival de Taormina e em várias edições do Festival de Veneza. Desde 1991, escreve para o programa diário Fuori Orario, do canal de televisão italiano RAI3, para o qual já concebeu centenas de noites temáticas dedicadas ao cinema. Integra o comitê de seleção do Festival Internacional de Locarno. Samuel Paiva Professor do Departamento de Artes e Comunicação da Universidade Federal de São Carlos (DAC/UFSCar), onde atua como coordenador no curso de graduação e no programa de pós-graduação em imagem e som. É doutor em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), autor da tese “A figura de Orson Welles no cinema de Rogério Sganzerla”, e colaborador em revistas e publicações de cinema e história.
Expediente revista Ocupação Rogério Sganzerla Esta revista resulta do trabalho coletivo de Aninha de Fátima (coordenação e concepção), Kety Fernandes Nassar (organização e concepção), Yoshiharu Arakaki (direção de arte), Mariana Lacerda (edição), Jahitza Balaniuk (produção editorial e concepção), André Seiti (edição de programação), Jader Rosa (ideias). Participam: Joel Pizzini, Roberto Cruz, Ruy Gardnier, Hernani Heffner, Djin Sganzerla, Álvaro de Moya e Steve Berg (com textos), além de Paolo Gregori, Pedro Jorge (entrevista com Helena Ignez) e Lucio Branco (pesquisador da cronologia e da sinopse dos filmes, junto com Steve Berg). João Pinheiro desenhou as ilustrações dos personagens, enquanto Pedro Jorge e Alice Dalgalarrondo criaram a antifotonovela. A revisão foi feita por Rachel Reis. Agradecimentos: Kety Fernandes Nassar, Joel Pizzini, Maria Flor Brazil, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Helena Ignez, Polyana Lima e Mercúrio Produções.
Ficha técnica Ocupação Rogério Sganzerla Idealização e organização Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural
Comunicação visual e produção gráfica Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural
Museografia Valdy Lopes Jn.
Produção e montagem do espaço expositivo Núcleo de Produção do Itaú Cultural
Curadoria Joel Pizzini
Produção do site Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural
Assistência de curadoria Djin Sganzerla Sinai Sganzerla
Captação de depoimentos para site Fernanda Miranda
Apoio à curadoria Maria Flor Brazil
Parcerias
Acervo Família Sganzerla Desenho sonoro Edson Secco Pesquisa Lucio Branco (RJ) Anna Karinne Ballalai (RJ) Sérgio Silva (SP) Produção (Rio de Janeiro) Sara Rocha Assistência (São Paulo) Vani Fatima Natalia Meira Edição de imagens Claudio Tammela Assistência de edição de imagens Renata Catharino Leonel Barcelos Fotografia e imagens do mar Kim Castro
Agradecimentos especiais Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, Zenaide Sganzerla, Albino Sganzerla, Paloma Rocha e Associação Amigos do Tempo Glauber Agradecimentos Mercúrio Produções, Polofilme, Carlos Magalhães, Bernardo Oliveira, Bruno Safadi, Camila Val (CCBB/SP), Carlos Ebert, Cristiane Rezende (CCBB/RJ), Débora Butruce (CTAV), Dib Lufti, Hernani Heffner (Cinemateca MAM), José Marinho, José Quental (Cinemateca MAM), Lécio Augusto Ramos, Marcos Bonisson, Maria Maia, Mislene Martins (CCBB/SP), Noa Bressane, Remier Lion, Rosa Dias, Ruy Gardnier, Rodrigo Lima, Rosângela Sodré (CTAV), Sérgio Pedrosa (CTAV), Sidnei Pereira (CCBB/RJ), Vani Silva, Acervo/ Museu da Imagem e do Som (MIS/SP) e João Marcos de Almeida O Itaú Cultural agradece a Helena Ignez, Sinai Sganzerla e Djin Sganzerla pela atenção e pela participação efetiva na realização deste projeto Ficha técnica mostra de filmes e debates
Programação técnica guitarra Tommy Terahata
Produção Maria Flor Brazil Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural
Edição e programação midi para guitarra Gianni Toyota
Assistente de produção Halina Agapejev
imagens: frames dos filmes O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos; desenho feito por Rogério Sganzerla
entrada franca itaú cultural avenida paulista 149 [estação brigadeiro do metrô] fone 11 2168 1777 atendimento@itaucultural.org.br | itaucultural.org.br | twitter.com/itaucultural | youtube.com/itaucultural