H.M. Ward - O Arranjo - Parte - 22

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Sinopse Tudo ocorreu para este momento, esta noite. O plano está pronto para ser executado. O sexy bilionário Sean Ferro está ao meu lado e na minha cama. Enquanto a tensão erótica entre nós se aprofunda, vejo o homem que ele poderia ser — o homem que ele está se tornando. Sean me tem em todos os sentidos possíveis e jura me proteger dos meus inimigos. Mas há uma coisa que ele não pode salvar, uma coisa que está se fragmentando dentro de mim e desmoronando. Meu coração está morrendo no meu peito enquanto meus demônios me atormentam sem aviso prévio. A escuridão está desaparecendo dos olhos de Sean e reaparecendo nos meus. O monstro dentro de mim está se alimentando, pronto para levantar a cabeça enquanto eu espero em horror, enojada com a mulher que estou me tornando. Se eu continuar com isso, se eu causar a morte dessas pessoas, não haverá mais nada de mim. Mas se eu não lutar de volta, eu morro. Eu não quero mais lutar, mas há uma pequena razão para me encorajar, um segredo que eu conheço há algum tempo me dando forças para ver isso.


Capítulo Um Uma simulação na casa de Miss Black parece uma boa ideia, assumindo que a coisa toda não vai para o inferno. Se ela está escondendo registros sobre a fonte de sua renda em sua casa, eles estarão mais trancados do que um cofre. Uma parte minha entende que isso é incrivelmente estúpido, mas não há como voltar atrás. Deus, eu me sinto doente. Nós nos empilhamos no furgão com os dois nerds, Mel, Marty e eu atrás, Henry franzindo a testa no banco do passageiro ao lado de Sean. Vagarosamente percorremos uma vizinhança suburbana, passando por casas com jardins planejados, luzes solares arrastando-se ao longo de canteiros centrais que levam às convidativas portas da frente. Calçadas de cimento mudam para pedra, como as calçadas mudam de concreto para pavimentos de tijolos com padrões intrincados. Estamos na área de classe alta agora. Sean dirige para cima e para baixo pelas ruas, procurando por um endereço e examinando o bairro. Eu não quero estar aqui. Pensamentos vibram dentro de mim como morcegos bêbados, saltando do meu cérebro e aterrissando com um BAQUE no meu estômago. Eu não quero fazer isso, mas não tenho escolha. Não há como esconder, não há como apagar as últimas semanas e fingir que elas nunca aconteceram. Se eu não fizer isso agora, sou uma mulher morta. Isso faz meu estômago revirar e minha garganta apertar, mas não tenho alternativas. Matar ou morrer não é o tipo de situação que achei que poderia acontecer comigo. Nem em um milhão de anos. Eu entendo porque meus pais não me contaram, por que eles guardaram seu segredo — então eu poderia viver sem medo, ignorantemente curtindo minha infância. Se eu não tivesse descoberto como eles tentaram se esconder, como eles passaram anos correndo, constantemente vigiando


seus ombros, apenas para morrer de qualquer maneira, eu poderia ter tomado esse caminho em vez disso. Eu poderia não ter escolhido matar alguém para me proteger. Assassinato nunca deve ser a primeira escolha, mas pode ser uma realidade sombria quando a vida o ultrapassa. Há um vazio nos olhos de Sean quando ele não percebe que estou assistindo. Ele olha fixamente, perdido em pensamentos, perdido no passado. A mansão Ferro é uma pilha de escombros. Ele tem sorte de ter perdido a mãe — era possível que ele pudesse ter perdido toda a sua família naquela única explosão. Fico feliz que ele não tenha que suportar essa dor. Pela primeira vez, estou feliz por não ter crescido com irmãos. Eu não posso imaginar puxá-los para isso. Desculpar-se não consertaria uma coisa maldita. Teremos sorte de sairmos dessa com vida. Eu não sou uma idiota. Eu sei que as probabilidades estão contra nós. Mas quando não há outro lugar para ir, nenhum outro plano de ação para nos libertar, temos que nos defender e reagir. Marty se senta ao meu lado, cauteloso, empoleirado na roda — bem, enquanto eu me sento no chão com os joelhos contra o peito, a cabeça inclinada contra o lado do furgão. Seu cabelo loiro escuro está empurrado para trás, afastado de seus olhos. Há uma lata vazia de gel em algum lugar. Possivelmente pela primeira vez desde que nos conhecemos, posso ver todo o seu rosto. As características angulares de sua bochecha e queixo, juntamente com as linhas de preocupação que comprimem a pele lisa entre as sobrancelhas e os cantos dos olhos, revelam que ele seja mais velho do que eu por vários anos. Quando seu cabelo era uma cortina pendurada em seu rosto, ele parecia mais jovem, inocente. Marty olha para mim enquanto atravessamos a escuridão em direção à casa de Black. Aqueles olhos castanhos quentes veem as coisas que Sean perde. Eu sei que ele sente que vou implodir, que há muito remorso fervendo dentro de mim, enchendo minha mente com veneno. Isso corrompe, tornando meu humor rançoso.


Eu não tenho ideia de como Marty anda por aí com sangue nas mãos, como ele pode olhar no espelho e ver qualquer coisa além de um assassino. Eu matei. O ato de extinguir outra vida não é algo que desapareça, e não importa se foi justificado. Ainda me mancha de uma maneira que é impossível tratar. Um pequeno Stain Stick1 não limpará meu passado. Nada limpará. Minha mente salta para as memórias de Amber, mas sai rapidamente, não querendo se fixar nela. Não importa, no entanto. O centro do meu peito se enche de concreto, e mal posso engolir. Há um rastro de corpos no meu caminho, tantas vidas perdidas. Mesmo que não seja minha culpa, ainda assim parece — é como se eu a matasse com minhas próprias mãos. Amber morou comigo. Ela tem uma família em algum lugar que a amava e agora ela se foi. Andamos lentamente por outra rua do bairro de Eastern Long Island, vizinhança de Black, passando por casas aninhadas em meio hectare e cercadas por árvores imponentes. Enquanto passamos, uma placa amarela onde se lia CAVALOS NA PISTA chama minha atenção. Mel senta em frente a mim, seus pés enfiados sob a sua bunda, com as mãos nas coxas, os olhos queimando um buraco no lado do meu rosto. Ela está inclinada um pouco para frente, pronta para atacar. Suas sobrancelhas se unem e eu não agüento mais. Eu finalmente levanto a cabeça da parede Do furgão e olho para Mel, — O quê? Por que você está me encarando desse jeito? Mel inclina a cabeça, fazendo seus brincos de argola de ouro balançarem. — Pare de pensar. Eu franzo a testa involuntariamente, em seguida, olho para ela e pergunto: — Você está me dizendo que não pensa em nada? Como qualquer coisa? Nunca?

1Stain

Stick - Um bastão que contém produtos de limpeza usados para remover manchas do tecido.


— Não, — ela diz, com naturalidade. — Eu não revivo coisas que não posso mudar. Eu vejo esse olhar em seus olhos — você está pensando em algo que você não queria fazer. Acabou, Avery. Concentre-se no que está por vir. Eu evito o olhar dela e me vejo olhando para o perfil de Sean novamente. — O passado não funciona assim, Mel. Está sempre lá. Não vai embora só porque eu quero sair. — Se você deixar, esse peso vai se ajustar em torno de seus ombros e esmagará seu pescoço até que sua garganta se feche, apertada demais para respirar. É quando você pula de uma ponte ou passa pela via expressa implorando a Deus para ser atingida por um caminhão. Lute, Avery. Afaste-se. Sobreviver não significa merda nenhuma se o seu cérebro está fodido demais para aproveitar a vida. Mel tem uma expressão sombria no rosto. Ela está vestindo um agasalho escuro com o capuz solto sobre a cabeça, seus brincos de ouro brilhando na escuridão. Eu me afasto, desesperada para estar em outro lugar. Sean e Henry sentam-se rígidos e silenciosos na frente. Cavanhaque e Justin estão espremidos em um canto, parecendo mais pálidos que o normal. Marty olha pela janela silenciosamente. Uma motosserra não conseguia cortar a tensão no veículo. Eu me contorço e olho para Sean. — Por que estamos circulando a casa dela? Já descemos esta rua quatro vezes. Henry suspira e olha para trás sobre o ombro de tweed marrom para mim. — Estamos procurando anomalias, outras possíveis residências que ela possa usar em conjunto com sua casa principal. Como esta, ele aponta enquanto dirigimos por uma pequena casa branca. — Está registrada em nome de Cecelia Black, que era sua mãe.


Mel diz: — Como você sabe disso? Eu nem sei o primeiro nome de Black. Como você descobriu quem era sua mãe? — Mel olha para mim e acrescenta: — Eu achava que Black era um nome falso. — Eu também, — admito. Sean se detém em um sinal de parada e se vira, olha para mim e explica: — Henry possui um talento excepcional para pesquisa — especialmente

informações

enterradas

por

anos,

para

as

quais

supostamente não restam registros. Henry zomba: — Sempre há um registro. Que idiota pensaria que não haveria? — Ele pega um pedaço de fiapo de seu colete preto e observa-o cair em suas calças, faz uma careta e repete o movimento. Mel pergunta — Black? Certo? Aposto cem dólares que ela pensou que não havia um traço do seu passado em qualquer lugar. — Ela limpou tudo há anos, — diz Sean, balançando a cabeça, — mas sempre há alguém que se lembra — alguma fonte negligenciada que conhece a verdade. — E se você encontrar a dita pessoa, — Henry continua sacudindo a ponta do dedo, — e oferecer um incentivo financeiro para lembrar-se de coisas esquecidas, é incrível a informação que você pode obter. — Ele sorri ao olhar de volta para trás, para nós. Seu olhar encontra Mel e ele pisca para ela. — Grande coisa, — Mel deixa escapar, franzindo a testa. — Você acenou com o seu dinheiro e descobriu o nome dela. Então derrame, o que é isso? Henry está praticamente tonto. Ele segura o encosto do banco, girando completamente e sorrindo para nós. — Você não poderia adivinhar! É como se a mulher quisesse ser Rumpelstiltskin!2

2Rumpelstiltskin

— é antagonista do conto de fadas de origem alemã, O Anão Saltador.


Mel não acha graça. Seu rosto é desprovido de expressão. Ela diz categoricamente: — Qual é o nome dela?


Capítulo Dois Henry

faz

um

som

irritado

no

fundo

da

garganta.

Honestamente, você não é nada divertida. Seu nome completo é Razelleia Vita Black. Eu questiono: — Sean, você sabia disso? — Eles tiveram uma coisa por um tempo, então ele provavelmente sabia. Eu não pergunto muito sobre esse relacionamento. Isso é passado e ele não é mais o mesmo homem. Sean nega com a cabeça e olha por cima do ombro, com os olhos sinceros sob a luz âmbar do poste. — Não, ela nunca me disse. Isso é estranho. Black falou sobre Sean como se o relacionamento deles fosse próximo. Talvez a intimidade fosse unilateral e vivida principalmente na mente maluca de alguém. Eu pergunto um pouco mais. — Eu pensei que vocês eram amigos em algum momento. Como você a chamava? — Querida, — Mel bufa, estende a mão e chuta meu joelho, rindo. Sean revira os olhos. — Não foi assim. Nós mantivemos as coisas formais. Não houve uso dos primeiros nomes, e prefiro não falar disso na presença de vocês. Eu não respondo. Em vez disso, concentro-me no perfil esculpido de Sean e na extensão de seu cabelo escuro. Embora tenha sido há muito tempo, ainda me faz sofrer por ele. Não de uma maneira suja, mas de uma maneira esmagadora e horrivelmente triste. Sean não esteve perto de ninguém por muito tempo. Deve ter sido horrível passar por tanto tempo estando isolado.


— Malditos lunáticos, vocês dois. — Henry cuspiu as palavras, subitamente desprovido de sua marca registrada, seu tom de provocação. Raiva visivelmente rola sobre ele, e alfineta. — O que as mulheres vêem em você? Como Amanda poderia escolher viver com pessoas como você? O furgão fica subitamente em silêncio enquanto o queixo de Sean trava. Seu aperto no volante se intensifica, até as juntas dos seus dedos empalidecerem. Mel fica boquiaberta com o choque, enquanto eu me sento dolorosamente ciente de quão forte aquele ataque o atingiu. Ainda assim, Sean não responde. Henry geme e balbucia: — Como é possível você procurar calor ou conforto nesse homem, Avery? Suas amantes anteriores estão piores pelo desgaste de estar com ele. Amanda tem sorte que morreu na mão dele, ou estaria em um hospício como sua outra vítima — quero dizer amante. Só vai mostrar... ow! Henry interrompe seu discurso e olha para Mel, que subiu sobre os nerds para prender a parte de trás da sua cabeça no banco do passageiro. — Que diabos dá a você o direito de cagar na miséria de outras pessoas? — Mel repreende quando ela golpeia a cabeça dele novamente. — Você tinha tesão por Amanda, mas ela escolheu Sean. Deixe isso para trás. O homem perdeu a esposa! Você acha que ele não sente? Henry bate de volta. — Claro que não! Olhe para ele! Ele tem tantos sentimentos quanto um robô! — Mel bate em Henry na parte de trás da cabeça — com força. Ele continua e estreita o olhar para ela, gritando: — Maldito inferno, mulher! Mel está pisando nos nerds enquanto ela tenta dar outro giro. — Você tem olhos, mas não vê merda3. — Quem é ele? Eu conheço um Jack Shat, mas isso é tudo. — Henry brinca.

3Ela

usa uma gíria jack shit que significa merda e por isso que ele faz um trocadilho com Jack Shat.


Mel bateu nele novamente. — Você acha isso engraçado? Você acha que eu ainda não descobri o que aconteceu entre você e Sean? Acorde, cara pálida! — Mel vai bater na parte de trás da cabeça dele novamente, mas ele se esquiva, balançando em seu assento. Justin finalmente consegue rastejar para a parte de trás do furgão com o outro cara caindo depois. — Não há como você saber, — Henry retorna. — Bem, eu sei. — Mel olha para ele. Henry ri levemente segurando a mão como um historiador em uma sala de aula. — Esclareça-nos, madame. Por favor, apenas conte o que aconteceu entre nós? Mel sorri, olha para mim, depois para Sean e depois para Henry. — Vocês dois se conheciam, eram amigos mesmo. — Qualquer um podia ver isso. — Henry suspira. — Eu não terminei, — Mel estala. — Vocês dois eram próximos até que Amanda veio correndo para Sean pedir ajuda. Ele não roubou sua garota. Na verdade, ele fez tudo o que pôde para manter a distância — mas você ficou desconfiado e enlouqueceu com eles. Você arruinou seu relacionamento com Amanda, não Sean. Então você despejou sua merda em seu trabalho e a sabotou. Amanda descobriu e qualquer chance de ganhá-la de volta desapareceu. É sua própria culpa, você a perdeu, então pare de culpar Sean por seus erros idiotas. E pelo amor de Cristo, podemos simplesmente esclarecer as coisas de uma vez por todas? Sean balança a cabeça levemente e assobia para Mel, — Não... Eu alcanço Mel, avisando: — Mel, espere Mel me golpeia e olha para Sean. — Sean não matou Amanda. Não houve assassino. — Do que você está falando? — Henry torce em sua cadeira para olhar Mel.


— Mel, não... — Eu tento cobrir a sua boca com as mãos, mas ela me empurra para longe. Marty se inclina para frente, intrigado. Os caras da tecnologia se pressionam na porta do furgão, parecendo prestes a fugir. Eu consigo envolver minhas mãos em volta do seu rosto, cobrindo sua boca. Eu assobio para ela: — Não se atreva! Não é seu segredo para contar! Henry está mais intrigado agora. Ele olha para Sean. Sua voz assume uma suavidade que eu não ouvi antes. — Do que ela está falando? Sean fica tenso. — Nada. Ela não sabe nada. — Ele olha para mim, pensando que eu disse a Mel. Eu nego com a cabeça. — Sean, eu não contei nada a ela. — Disse a ela o que? — Henry esbraveja. Mel lambe minha mão, e quando eu não me movo, ela afunda seus dentes na parte carnuda da minha palma. Eu grito. Então, Mel se move rapidamente e me coloca no chão do furgão. — Amanda se matou, idiota. Então toda vez que você culpa Sean, você soa como um idiota de merda. — O quê? — Henry olha para Sean, exigindo uma resposta. — Os jornais disseram que você fez isso. Ninguém sequer sugeriu suicídio durante o seu julgamento. Sean aperta a ponte do nariz e fecha os olhos por um momento. — Eu queria assim. Se as pessoas soubessem que ela fez isso de propósito, que ela escolheu tirar a vida de nosso bebê, elas teriam sido cruéis. Isso teria quebrado o coração de seus pais. Isso teria devastado qualquer um que a conhecesse. — Sean olha para Henry, e fica claro que ele nunca contou nada a Henry porque ele ainda pensava no cara como um irmão. Há completo silêncio. Os dois nerds olham para o teto e gesticulam os polegares como se quisessem estar em qualquer outro lugar. As sobrancelhas de Marty levantam com o choque, mas ele não pronuncia uma palavra. Ninguém se atreve a falar. É como se ele jogasse um


cobertor enorme sobre nós, deixando-o assentar lentamente ao nosso redor. O rosto de Henry se contrai quando ele estrangula sua calça. — Você nunca disse — Sean, por quê? Sean está em silêncio, olhando para frente. Mel suspira e responde baixinho: — Porque ele se importa com você, idiota. Enquanto você passou a última década tentando arruiná-lo, Sean estava escondendo a verdade de você, porque ele sabia o quanto isso te machucaria. Se esse homem é seu inimigo, preciso de novos amigos. Puta merda — Sean te protegeu e você nem sabia. Estou esmagada por Mel, ainda presa ao chão. — E como você descobriu todas essas coisas, Melanie? Ela sorri. — Eu tenho contatos. Eu dou a ela uma olhada. — O seu contato é um homem corpulento de meia-idade que trabalha para...? — Mel enfia as mãos sobre a minha boca para me calar. Eu recuo e chuto para ela, acidentalmente acertando o nariz de Justin com o meu sapato. — Hey! — Justin me empurra para longe. — Preste atenção. — Relaxe, Nerd. É apenas uma ferida na carne. — Mel olha para ele, deslocando seu peso para me libertar. — Se você diz isso, você está na merda. Nem pense nisso. Sean solta um longo suspiro na frente do furgão. — Gabe disse a você. — Hey! — Melanie se vira para ele, chocada. — Como você sabe disso? Sean se contorce e lança um olhar para ela. — Agora que todo mundo sabe de tudo — incluindo dois membros petrificados da minha equipe de tecnologia — podemos, por favor, continuar com isso?


Henry está pálido, toda a cor se esvaindo de seu rosto. — Eu não fazia ideia. Meu Deus! Sean, o que você deve ter vivido — tudo por ela. — Ele fica lá, atordoado. — Isso não está aberto para discussão, — afirma Sean. — Temos um trabalho a fazer, então vamos fazer isso. A casa da mãe primeiro, depois a casa principal. Eu vou estacionar em volta do quarteirão. — Estamos sentados no semáforo há muito tempo. Henry fica sem palavras, enquanto Sean avança e depois gira o volante enquanto se aproxima de um ponto no meio-fio. Depois de um momento, Henry respira: — Nada me chocou tanto quanto o que acabou de dizer. Eu não te conheço bem, não é mesmo? Mel bate Henry na parte de trás da cabeça novamente, — não, seu idiota. Você não conhece, e já que não estamos na Oprah, vamos nos mexer. Vocês dois podem se beijar e fazer as pazes mais tarde. Isso seria algo que valeria a pena ver, estou certa? — Mel arqueia as sobrancelhas para os caras da tecnologia, Marty e eu, enquanto Sean aperta os olhos fechados, canalizando paciência suficiente para não matá-la.


Capítulo Três Os caras da tecnologia tocam a campainha. Quando ninguém responde, eles se afastam e abrem um painel ao lado da casa. Eles colocam algo em um fio e acenam para Sean. Marty segue para a parte de trás da propriedade, observando para ter certeza de que não seremos emboscados. Sean, Henry, Mel e eu entramos na pequena casa com cheiro de mofo pela porta dos fundos. Dois raios de luz cortam a escuridão enquanto Henry e Sean acendem as lanternas ao mesmo tempo. Algo está apitando. Henry corre na direção do som, Mel logo atrás dele. Eu fico com o Sean. — O que estamos procurando? — Eu pergunto, varrendo meus olhos ao redor da sala. Este cômodo tem mobília velha e cheira a naftalina. Sean arrasta o feixe de luz pela sala e sussurra por cima do ombro: — Sistema de alarme. A voz de Mel vem ao virar da esquina, colocando sua cabeça por trás de uma parede de tinta amarela com pássaros empalhados, sentados em galhos que se projetam para fora da parede. — Consegui. Venham por aqui. Nós entramos em um armário em um pequeno corredor que deve ter sido um banheiro em algum momento. Agora ele está cheio de câmeras de segurança e um zumbido do computador discretamente na parede oposta. Henry se agarra a mim. — Venha aqui e coloque o colar em cima da unidade.


Eu entrego a ele meu bracelete e ele remove o cordão, colocando-o em cima da enorme máquina, mas não fica parado. Ele rola de volta. Henry franze a testa, olha para a fita e aperta a mão na testa quando não encontra nenhuma. — Falha de design. Estes devem ter um adesivo. Sean diz: — Podemos parar e pegar a fita antes de irmos para a casa principal. Por enquanto, faça isso. — Ele pega um lápis e coloca a conta na frente dele. Ele fica parado. — Você terá que ficar aqui para se certificar de que ele não escorregue e caia. — Entendido. Eu planejei isso de qualquer maneira. — Henry acena com a cabeça e aponta para a tela mostrando o sistema de segurança. — Veja. A imagem na tela é reproduzida para trás, nos mostrando deixando a casa ao contrário, enquanto a indicação do tempo continua para frente. É surreal. — Vai parecer totalmente normal. Podemos andar por aí como quisermos, mas a gravação mostrará apenas a casa vazia. — Henry se senta no painel de controle, usa o teclado para puxar o vídeo gravado de dentro e o apaga. — A única prova que estávamos aqui agora se foi. — Ele olha para Sean. — Enquanto ninguém aparecer, isso funciona bem. — Eu preciso levar o bracelete quando eu sair? Henry concorda com a cabeça. — Sim, se for possível. Eu só tenho dois protótipos. — Você não pode fazer outro? — Mel pergunta. Henry revira os olhos e lhe dá uma expressão de desprezo. — Não, eu não posso fazer outro. Não há tempo ou materiais suficientes. Além disso, esse pequeno bracelete custou quase cem mil para produzir. Mel olha para o pulso e sorri. — Então, o que você está dizendo é que eu deveria vendê-lo?


Henry caminha até ela, levanta o seu pulso com cuidado e pressiona o dedo no bracelete. — Se você o vender por seis dígitos, você seria uma idiota — como você diz tão delicadamente. Vale milhões. Seus olhos se encontram e ele continua a segurar a mão dela por um momento. Mel estremece e pisca rapidamente, antes de desviar o olhar. Porra, isso é engraçado. Eles tiveram um momento. Mel não vai gostar disso. Sorrio para mim mesma e pergunto a Sean: — E agora? Sean está vestindo jeans escuro com aquele suéter preto sexy que se agarra ao peito e abraça os músculos dos braços. Juntamente com seus sapatos chutadores de merda, ele parece um fodão. Ele empurra o cabelo para trás enquanto olha ao redor da sala, deixando seus olhos pousarem em mim. Sua expressão suaviza. — Agora vamos cavar as coisas dela e ver o que encontramos. — Vou vasculhar o disco rígido e ver o que aparece. — Henry desliza para uma pequena cadeira na frente do computador e começa a clicar em teclas, puxar arquivos e digitalizá-los rapidamente em busca de informações. Sean sai do quarto e desce o corredor. Nos deparamos com outro ambiente, cheio de móveis cor de rosa e cheiro de mofo. Sean pede que a gente suba as escadas. Quando chegamos ao patamar superior, ele se vira e gesticula em direção à porta do quarto. Está trancado. Ele pega um pequeno dispositivo, empurra-o no buraco da fechadura e aperta um botão. O som revelador do parafuso raspando aberto atinge meus ouvidos. Sean empurra a porta lentamente e olha para dentro antes de congelar em seu lugar. Ele está segurando a porta meio aberta, meio fechada, imobilizado. Raiva pisca em seus olhos apenas para dissipar quase imediatamente. A raiva em seu rosto se transforma em outra coisa, algo irreconhecível. — Mãe, — pergunta ele. — O que você está fazendo aqui?


Capítulo Quatro Eu passo ao redor da porta e espreito por Sean para vê-la. Constance Ferro está sentada, toda desalinhada, em um manto vermelho chamuscado. Correntes envolvem seus pulsos e tornozelos, estendendo-se até os anéis presos na parede. Eu não posso processar o que estou vendo. Ela morreu. Seu funeral foi realizado. Constance está morta. Eu vi seu braço decepado. Eu observei Sean tentar salvá-la dos escombros quando sua casa explodiu. Eu pisco, olhando boquiaberta para ela. — Que diabos? Constance não é a mesma. Ela está pálida, fraca e parece igualmente chocada ao nos ver. — Sean? Como você me achou? Como você soube que eu estava viva? — Sua voz é rouca, não é mais alta que um sussurro. Ele olha para a mãe, sem palavras. Eu ando até ela. — Quem fez isto com você? Ela arqueia uma sobrancelha para mim enquanto eu estudo a corrente tentando encontrar uma maneira de libertá-la. — Você ainda está por aí? Sean, é um prazer ver que o seu gosto pelas mulheres continua sem valor, mesmo no mais obscuro dos tempos. — O tom dela carece de sua bravura habitual, mas a velha Constance ainda está lá, se formando sob a superfície. — Avery é minha noiva, e você vai falar com ela respeitosamente, — diz Sean, sua voz monótona, sem um traço de malícia ou raiva. Constance ri levemente como se estivesse tomando chá da tarde. — Fala sério, Sean. Você não pode se casar com ela. Você sabe quem é o pai dela?


— Sim, eu sei. Ela empalidece. — Bem, Então. Eu suponho que sim se você quiser trazer mais assassinos ao mundo... Sean se vira e sai do quarto. Seus passos desaparecem enquanto a escadaria sombria o engole inteiro. Eu olho para Constance como se ela fosse louca. — Você quer que a gente deixe você aqui? Ela ri novamente como se fosse uma piada cósmica. — Você não pode me libertar. Essas restrições são fixadas na parede, e a chave da fechadura está com seu meio-irmão encantador. Diga-me, vocês tiveram uma reunião? Havia balões e bolo? Eu me ajoelho e entro no rosto dela. — Não. Na verdade, Vic já tentou assassinar Sean e eu. O bastardo quer me matar, então fazer coisas indescritíveis com o meu cadáver. Então, não, nós não somos melhores amigos e independente do que ele fez com você — eu sei que ele está planejando coisa pior. Diga-me, Connie, quer que a gente deixe você aqui para ele? Ou você quer sair? Seus olhos envelhecidos ficam vítreos e ela engole em seco. Eu acho que ela vai dizer algo legal, mas, em vez disso, ela sussurra: — Você não vai ganhar um centavo do dinheiro de Ferro. Eu não respondo à declaração. Minhas sobrancelhas levantam e meus braços se dobram sobre o peito. — Você quer morrer aqui? Parece que Vic Jr. preparou tudo perfeitamente. Ele gosta de atormentar as pessoas, e com o mundo pensando que você está morta e enterrada, ele pode tomar seu tempo. Ela balança a cabeça. — Você não pode me levar. Ele saberá que foi você e sua verdadeira missão aqui será arruinada. Sean sabe o que ele está fazendo. Deixe-me. Volte quando você abater aquele filho da puta. Seu pedido faz meu sangue gelar. Ela quis dizer isso, cada palavra.


— Não podemos deixar você para trás. — Você pode e vai. — Constance não diz outra palavra. Ela arqueia uma única sobrancelha para mim, uma dispensa, minha deixa para sair. Eu faço um som estrangulado no fundo da garganta e saio do quarto. Eu encontro o Sean na parte inferior da escada, sentado no último degrau, com a cabeça entre as mãos. Eu coloco minha mão em suas costas e me inclino em seu ombro, respirando seu perfume. — Então aconteceu isso. — Ela está viva, mas eu não posso salvá-la. Se eu a levar, Vic saberá que estávamos aqui. Se eu a deixar, ele vai torturá-la. Como eu posso ir embora? Ela é minha mãe, Avery. — Sean olha para mim, seus olhos azuis cheios de dor. — Eu não tenho certeza se importa o que você faça, ela se recusa a sair. Eu tentei fazer com que ela viesse. Ela me expulsou. — Eu tento não rir, mas não posso evitar. — Ela é algo a mais, não é? O canto da boca de Sean se levanta e ele sorri tristemente, balançando a cabeça. — Ok, nós terminamos isso. — Você vai deixá-la? Sean, eu não tenho sentimentos quentes e confortantes por ela, mas ela é sua mãe. Sean? Sean! — eu sussurro — grito enquanto ele corre de sala em sala, sem mencionar sua mãe novamente. É perturbador a rapidez com que ele aceita essa mudança de eventos, mas ele aceita. Com foco recém-descoberto, ele procura nas salas, levantando cuidadosamente papéis e abrindo gavetas, examinando seu conteúdo no escuro. De vez em quando, ele faz uma pausa e acende sua lanterna em alguma coisa e depois continua. Eu ando pelo quarto com ele e reviro as coisas. Encontro um caderno em uma mesa de cabeceira de mármore. Na frente tem uma lista de itens de mercearia regular, mas na parte de trás tem endereços de entrega. É estranho.


Há um registro por página: Cenouras - 5th Avenue.

Rigatoni - Dix Hills.

Salsa - Upper East Side.

Eu franzo a testa enquanto olho para isso. Sean se aproxima e para perto de mim, olhando por cima do meu ombro. Ele está perto o suficiente para seu perfume encher minha cabeça. Eu gostaria de poder envolver meus braços ao redor dele e nunca deixar ir. Eu mostro-lhe o livro. — Ou ela é louca, ou isso é um código. Sean folheia as páginas e acena com a cabeça. Ele pega, tira fotos de cada página e me diz: — Coloque de volta. Eu faço o que ele diz, e quando coloco o livro na gaveta, eu pego um abridor de cartas de metal. Ninguém merece ficar sozinho e indefeso com Vic Jr. Eu enfio no meu bolso e continuo procurando coisas de Black. Quando terminamos de explorar os quartos do andar de cima, Sean passa pelo quarto de sua mãe e fecha a porta. Eles não se falam. Isso me incomoda. — Você nem vai tentar tirá-la de lá? — Avery, ela não virá. — Ele para e olha para mim, aqueles olhos azuis implorando para eu não fazer um grande negócio com isso. — A melhor maneira de ajudá-la é terminar isso e voltar para ela. — Mas e se ele a mover? E se ele a machucar? Sean segura meus ombros. — Ele já fez. Havia um corpo na mansão. Não era minha mãe, então outra pessoa está morta. Se a


libertarmos, ele saberá que estamos vindo para ele. Eu não posso arriscar, Avery. Se eu tiver que escolher quem salvar, minha mãe ou você, não tenho dúvidas — nenhuma. — Suas mãos estão nos meus ombros e ele me obriga a olhá-lo no rosto. — Sean... — Avery, eu escolho você. — Suas mãos demoram por um momento, e há uma tristeza que tudo consome em seus olhos, que quebra meu coração. Ele pisca e desaparece. O homem assustador vestido de preto está de volta. Seus olhos escurecem e ele se afasta de mim, desaparecendo pelas escadas. Eu engulo em seco e olho para a porta dela, agora trancada novamente. Eu puxo o abridor de cartas do meu bolso e caminho em direção ao quarto antes de me ajoelhar na base da porta. Eu empurro o objeto de metal através da fenda perto do chão e ouço deslizar pela metade da sala antes de parar de repente. Pelo menos agora ela pode causar algum dano por conta própria. A voz de Constance vem pela porta. — Você ainda não vai ganhar um centavo.


Capítulo Cinco Nós saímos e voltamos para o furgão antes que alguém chegue em casa. A moto de Sean está estacionada em um estacionamento fechado de luxo a poucos quarteirões de distância. Parece mais um hangar de avião do que uma garagem pessoal. Ele para, entra com uma chave codificada, e depois nos leva para uma sala de concreto com controle de temperatura. Sean sai do furgão e acende as luzes. À medida que se ilumina, percebo que estamos em uma sala do tamanho de um campo de futebol e cheia, de parede a parede, com veículos caros, incluindo um avião bimotor, motocicletas e carros de corrida. Seguimos Sean e todos ficaram boquiabertos, chocados. Henry vagueia dos carros, na direção das motos, com as mãos estendidas num gesto, dê-me, com os olhos arregalados. — Um ciclone Ariel de 1958, — ele engasga. É maravilhoso. Perfeito. — Seu olhar se distancia ainda mais, e ele vagueia, olhando enquanto engole em seco. — Isso é um tanque de alça da Harley-Davidson de 1907? — Ele está praticamente babando quando se endireita, torce a cintura, e olha direto para o rosto de Sean. Apontando, ele diz: — Eu tentei comprar esta moto em leilão. Ofereci US $ 700 mil por isso, mas alguém me superou. Sean sorri. — Você deveria ter ido um pouco mais alto. US $ 715.000 era o número mágico. Henry faz um barulho estridente e pede para acariciar a moto. Mel e eu nos encaramos como se fossem loucos — até que ela vê um carro esportivo vermelho-cereja perto da parte de trás do hangar. — Puta merda! Isso é um Bugatti? Sean sorri e enfia as mãos nos bolsos. — Sim, o Veyron.


Ela grita — Puta merda! — E pula em direção a ele para colocar o rosto na janela do carro. Ela grita de volta para nós. — Por que você não contou a ninguém que tinha todas essas coisas? Sean encolhe os ombros. —A mesma razão pela qual eu não ando por aí falando sobre a ilha. Não conto a todo mundo tudo que eu possuo. Não é uma boa maneira de conquistar as pessoas. Henry o rodeia, alarmado, atirando-lhe perguntas. — Qual ilha? Onde? Aposto que a minha é maior. Mel ri quando ela volta, meio pulando. — Problemas de cara rico. Minha ilha é maior que a sua, — ela imita em uma voz cantada. — Ha! Quem quer uma moto feia e velha que nem consegue andar? Eu sorrio e viro, notando Justin e Garoto Geek4, ambos imaginando se eles podem pilotar uma moto com a bandeira americana pintada no tanque de gasolina, guidão longo e cromo cintilante. Eles olham para cima e perguntam a Sean: — Isso é real? Sean assente e enfia as mãos sob os braços, sorrindo timidamente. — Sim, eu gosto de filmes antigos e é uma peça americana icônica. Sean está em seu elemento no momento todas as preocupações esquecidas. É doce e mostra um lado dele que eu nunca vi. Parece estúpido, mas, além das poucas vezes em que ele ganhou um monte de dinheiro, esqueci que ele é rico. Ele raramente ostenta sua riqueza, e tenho certeza que o suéter que ele usa é da Land's End ou do GAP5. Eu nunca suspeitei que Sean possuísse uma inestimável coleção de veículos porque ele não age como um idiota convencido. Falando de idiotas convencidos, Henry bate Sean no ombro e fica ao lado dele. —Eu não tinha ideia de que você foi quem roubou isso de 4Geek

é uma gíria da língua inglesa cujo significado é alguém viciado em tecnologia, em computadores e internet. O conceito de geek é algo semelhante ao conceito de nerd: aquele que tem um profundo interesse por assuntos científicos e tecnológicos, gosta de estudar, é muito inteligente e às vezes é pouco sociável. 5 Land‘s End é uma varejista americana de roupas e decoração para casa. GAP é a maior varejista especializada em roupas dos Estados Unidos.


mim. Eu adoraria ter tempo para realmente examinar a peça mais tarde, se você quiser mostrá-la. É um ramo de oliveira, uma oferta de paz. Sean poderia dizer a Henry para se foder, mas ele não fez. Ele simplesmente balança a cabeça. — A qualquer momento. Sean entrega a Marty as chaves da moto que ele estava andando no dia em que nos conhecemos. Marty pula na moto, dá o pontapé inicial e concorda em comprar fita da loja antes de nos encontrar na casa de Black. Marty gira o motor, deixando-o ecoar na sala cavernosa, antes de sair e desaparecer na noite.


Capítulo Seis Quando subimos de volta no furgão, todos se acomodam. Há um pouco mais de espaço sem Marty ao meu lado, então eu chuto minhas pernas. Justin está com Garoto Geek logo atrás do assento de Henry. Mel está sentada à minha frente, espelhando minha pose e parecendo que está imaginando dirigir aquele Bugatti. Sean nos conduz de volta ao bairro em que estávamos antes, lentamente vagando pelas ruas, matando o tempo até que Marty nos encontre. Ainda há muita conversa animada sobre a coleção quando ele interrompe: — Preciso dizer algo. Isso pode mudar as coisas, então vocês precisam saber. Minha mãe, Constance, estava sendo mantida na casa da mãe de Black. — A residência que acabamos de deixar? — A voz de Justin trai seu choque. — Sim, — Sean responde sombriamente. Mel empalidece: — O que? Sua mãe estava lá? Ela está morta! — Eu também pensei que ela estava morta, — Sean diz, com naturalidade, suas mãos nunca vacilando enquanto ele continua a nos guiar em direção à casa de Black. —Aparentemente, o corpo na mansão não era ela. Eu me lembro do braço, o anel naquele dedo esbelto feminino. Estou de costas para Mel novamente. — Por que o anel da sua mãe estaria na mão de outra mulher?


Sean suspira, esfregando o rosto com uma das mãos enquanto gira o volante com a outra. Ao virarmos a esquina, ele confessa: — Ela era amante da minha mãe. Todo mundo faz um som de descrença, questões surgindo de cada boca, exceto da minha. Todos falam de uma vez só, gritando um sobre o outro. Sean silencia o furgão com um olhar severo no espelho retrovisor. — Eu não sei por quanto tempo ou por que ela não disse nada publicamente. Pergunte a ela quando toda essa merda acabar. Eu pisco rapidamente, imaginando como Sean mantém isso tão bem. Se ela fosse minha mãe, eu não a teria deixado lá. Eu não poderia ter ido embora. Eu olho pela janela e vejo Marty passar na moto de Sean. Ele acena para nós, sem saber da nossa conversa, sem saber que Constance Ferro está viva. O mundo acha que ela morreu na explosão. Seu funeral foi televisionado ininterruptamente, e uma multidão de enlutados colocou flores ao pé do mausoléu Ferro. Por fim, as portas da frente tornaram-se inacessíveis, e qualquer um que tentasse se aproximar tinha que percorrer as flores até a cintura que cercavam o túmulo de Constance. Ela poderia ser muito desagradável, mas o público não pensa assim. Eles lamentaram a morte dela como uma princesa perdida. Era fascinante de uma maneira surreal. Quando chegamos à casa de Black, repetimos nosso processo de antes. Os caras da tecnologia tocam a campainha. Quando não há resposta, eles se movem pela lateral da casa e mexem em um fio. Aparentemente, essa é a linha telefônica. O dispositivo que eles inserem, contém um chip de computador projetado para redirecionar todas as chamadas para o número de celular de Justin, caso o sistema de alarme dispare para obter ajuda. Ele pode então fingir ser o que precisamos. Esse chip na linha é um plano de segurança à prova de falhas.


Quando entramos, olho em volta. A casa de Black é moderna e elegante. Tudo é vidro e cromo, em tons contrastantes de cinza. Há algumas peças finas — uma espreguiçadeira antiga, uma escrivaninha francesa, mas nada caro o suficiente para trair sua renda declarada. À primeira vista, esta é a casa de uma mulher de classe média alta vivendo sozinha. Sean me empurra para um longo corredor alinhado por um espelho e entra no quarto principal. Ele me empurra até o armário onde Mel está colocando seu bracelete em um computador e colando-o no lugar. O monitor pisca por um segundo enquanto ela deposita o cordão na máquina. Henry localiza o vídeo da nossa entrada e apaga. — Vá em frente, — diz ele, sem olhar para cima. — Apenas dez minutos dessa vez. Mais do que isso, é abusar da nossa sorte. Eu saio com Mel e Sean. Marty está examinando o perímetro, observando a casa de Black, checando seus detalhes de segurança. Se ela chegar, ele contará a Henry, que nos dirá, e nós fugiremos. Eu ainda não gosto disso — vagar pela casa dela parece um convite para levar um tiro. Mel desaparece em um quarto e Sean em outro. Eu pego a última porta no final do corredor. Quando eu abro a porta para o quarto, desejo que não tivesse. É um ginásio equipado com pisos de madeira escura, mantas grossas e postes cromados com cordas de couro penduradas no topo. Instalado em uma parede é algo que parece pertencer a uma câmara de tortura. Ele tem correias e grampos presos diretamente a ele e uma variedade de pontas de metal removíveis em uma mesa próxima. Eu me encolho. Sean estava nisso com ela? Ele esteve aqui? Nesta mesma sala? Black o apresentou a todas essas coisas escuras e dolorosas de sexo? Eu não sei. Ignorando tanto quanto possível as engenhocas em torno de mim, eu vou em direção ao fundo da sala para uma pequena cama e mesa de


cabeceira. Nervosa, eu puxo o botão de vidro com muita força e, acidentalmente, puxo a gaveta inteira da moldura. Ela faz barulho quando cai no chão, derramando seu conteúdo. Uma garrafa de lubrificantes para aos meus pés. Eu xingo sob a minha respiração, enquanto empurro de volta na gaveta junto com preservativos e marcadores permanentes. Enquanto me estico para deslizar a gaveta de volta aos trilhos, noto algo estranho. O interior da gaveta é raso, mas o exterior da gaveta é profundo. Eu a coloco no chão e empurro os cantos do interior da gaveta. Ela se inclina. — Fundo falso, — murmuro para mim mesma e removo todos os itens da parte de cima da gaveta. Então eu empurro novamente e pego um canto enquanto ele levanta. Sob o tabuleiro, há uma corrente com três chaves douradas e finas. Parecem joias. Eu levanto na minha mão e viro-as. As chaves são grandes o suficiente para serem reais, mas algo sobre elas me lembra os pingentes de chaves da Tiffany que vi os outros usarem nos últimos anos. Procuro uma marca ou o carimbo de 14K, mas não há nada. Olhando em volta, me pergunto o que eles desbloquearão e por que estão escondidas. O que quer que elas desbloqueiem, não está aqui. Retiro as chaves do esconderijo e, em seguida, devolvo a gaveta à mesa de cabeceira. Eu vou para a frente da sala e paro para olhar para um poste. Tem tiras de couro em três pontos, um dos quais se parece com uma coleira. Na frente disso está uma barra sobre rodas. Tem cerca de um metro de altura, ajustável e tem um grampo no topo. Vai com o poste, mas não consigo descobrir o que faz. A voz de Mel me assusta. — Você quer uma demonstração? — Não. Mel ri, empurra a coisa para frente e trava as rodas. — Ajustável e há um controle remoto em algum lugar. Você é amarrada ao poste, trancada para não se mover, e a outra pessoa usa o controle remoto com o


brinquedo correto no final para provocar ou fazer você gozar. Eu tive um cliente que estava nessa merda. Ele tinha um vibrador chocante que gostava de usar. Meus olhos se arregalam quando minhas partes de menina se encolhem. — Oh Deus! Machucava? Ela encolhe os ombros. — Não realmente, mas não é minha coisa. Bem, se eu fosse a pessoa que mandava, poderia ser uma história diferente. Black está em alguma merda desarrumada! Isso é um barril para montar? Mel caminha até um grande cilindro cônico com um anel de vedação na frente. É revestido em couro e fica suspenso horizontalmente, elevado do chão por uma estrutura hidráulica de ferro. — Merda. Essa coisa custou uma fortuna! — Mel passa a mão pelo comprimento, depois bate o punho contra ele, esperando ouvir um som oco. Em vez disso, parece que algo está lá dentro. Ela olha para mim: — Quer saber o que tem aqui? Mel rasteja por baixo, encontra uma costura no couro, puxa-a para o lado e enfia a mão dentro do barril. Ela imediatamente puxa o braço para fora novamente, jogando um maço de dinheiro no chão. Seu rosto se ilumina. — Nem fodendo! Black escondeu seu dinheiro aqui? Eu olho embaixo e sorrio. — Ela colocou em um lugar que ninguém iria olhar. — Ela esqueceu de nós. Esse tipo de coisa faz a maioria das pessoas querer fugir. Eu não. Estive lá. Fiz isso. Literalmente. — Mel alcança o interior novamente e retira mais dinheiro. Na terceira vez, ela pega uma bolsa preta também. Ela se senta e abre. — Droga. Eu poderia viver do conteúdo dessa bolsa pelo resto da minha vida. — O que é isso? — Eu me inclino, tentando ver.


Mel dobra o tecido aberto e oferece para mim antes de se inclinar e selar o alçapão no fundo do barril. Eu abro o pequeno saco e olho para dentro. Algo brilha na escuridão. Eu ponho a sacola na palma da minha mão e uma coleção de pedras cai. — Diamantes! Há umas três dúzias aqui. — E eles são grandes, — Mel acrescenta, endireitando. — Quem teria pago a ela em diamantes? Mel me dá uma olhada. — Quem você acha? O que significa que Black tem feito merda que ela não deveria fazer por um tempo. Eu me pergunto se ela estava nessa merda enquanto o pai de Vic estava vivo. — Mel para de cobiçar as pedras na minha mão e olha para mim. Eu coloco as pedras de volta na sacola e ela murmura: — Ele não é seu pai, você sabe, e aquele idiota júnior não é seu irmão. Sangue é apenas uma merda que corre em suas veias, Avery. Não deixe ninguém te dizer o contrário. Isso me faz sentir um pouco melhor, mas ainda faz minha pele se arrepiar ao saber que estou relacionada com pessoas tão más. Não há garantias na vida. Nenhuma. Não me incomodaria tanto se eu soubesse em quem eu estava me transformando, mas minha identidade escorregou entre meus dedos no dia em que conheci Sean. Não é culpa dele. É apenas o momento. Eu teria sido enredada em tudo isso com ou sem Sean. De certo modo, a insanidade me trouxe amizades mais fortes que o sangue — que é o que Mel quer dizer. Eu deixo cair a cabeça e sinceramente digo a ela: — Obrigada, Mel. Você está tão perto de uma irmã quanto eu poderia conseguir. Ela oferece um sorriso irônico e ri: — Você só queria que fosse bronzeada! Arqueando uma sobrancelha para ela, eu cruzo meus braços sobre o peito. Ela é tão maluca. — Eu acho que você quer dizer negra.


— Isso também. Então você poderia usar brincos de argola e ser uma fodona como eu. Mas você não pode. Você é a irmã mais nova, a nerd e muito pálida. Tudo bem, — Mel cobre minha mão com a dela. — Eu vou cuidar de você.


Capítulo Sete Sean Nada. Miss Black mantém seus segredos próximos e seus inimigos mais próximos. Eu pensei que a conhecia bem, mas nunca a considerei capaz de tráfico humano. Sequestrar e escravizar pessoas estão tão longe de seus objetivos originais de vida, que eu me pergunto se ela mentiu para mim o tempo todo que eu a conheci. Não me surpreenderia agora. O instinto de sobrevivência é mais forte quando uma pessoa está prestes a atingir o fundo do poço. Miss Black não é o tipo de mulher de descer sem lutar. Mesmo assim, isso é tão perturbadoramente errado que eu não sei como processá-lo. Isso me faz pensar quem é o oponente mais formidável aqui — Black ou Vic Jr.? Enquanto ser atingido por aquele bastardo sugeriria a Vic, o envolvimento silencioso de Black me faz pensar se ela é o cérebro por trás de toda a operação. Nesse caso, desequilibrada ou não, devemos ser mais cautelosos com ela como nossa adversária. Minha mente volta para minha mãe, chamuscada e acorrentada. Seu rosto imundo e unhas quebradas não escaparam da minha observação. Ela estava dentro ou perto da mansão quando a explosão ocorreu. Sujeira e fuligem cobriam suas unhas e antebraços, como se ela estivesse cavando através dos destroços. Ela perdeu alguém significativo para ela naquele dia. Agora o mundo acha que ela está morta e Black pretende vendê-la. Ela não será comprada pelo seu corpo — qualquer pessoa interessada em adquirir Constance Ferro é sua inimiga. Minha mãe ofendeu tantas pessoas que é impossível escolher quem poderia ser, mas tenho alguns palpites. O bom é que ela ainda está trancada naquele quarto. Ninguém aproveitou a chance para comprá-la. O ruim é que ela ainda está trancada naquele quarto. É possível que eles estivessem enrolando para alinhar sua venda.


A compaixão de Avery quase me fez parar e levar a mãe conosco e que se dane as conseqüências. Independentemente das coisas ruins que mamãe fez, essa é uma maneira horrível de morrer — sendo vendida como propriedade e perdendo toda a sensação de segurança e a sua autoestima. Só isso poderia enlouquecê-la. Eu rolo os papéis em uma mesa do corredor e ouço Marty se aproximar. Ele está em silêncio, mas há sinais reveladores na maneira como ele se move, nos ruídos da casa. Uma tábua do assoalho geme suavemente e eu não me viro enquanto falo. — Hora de ir? — Saia. Eles estão vindo nessa direção com Vic Jr. no reboque. Eu deveria estar aqui para eles, então dê o fora agora. — Consegui. Marty corre pelo corredor, repete a mensagem para as meninas e depois desaparece nas sombras. Eu quero libertar minha mãe, mas isso significa revelar que estamos chegando. Isso arrisca Avery, e eu não posso fazer isso. Eu já imaginei o cenário uma e outra vez em minha mente, tentando encontrar uma alternativa, mas eu saio de mãos vazias. Não há como liberar minha mãe sem nos denunciar. Eu não posso comprometer Avery. Eu não vou perdê-la. Eu tenho que protegê-la. Mesmo assim, Peter vai me matar se algo acontecer com minha mãe. Jon vai... Bem, é difícil prever como ele vai reagir. Jon ainda está chateado com o mundo e esconde com um sorriso. Enquanto me movo pelo corredor, encontro-me com as meninas. Mel arqueia uma sobrancelha para mim e bufa. — Você estava em merda antes de conhecer Black, não é? Avery suspira e sussurra: — Não pergunte isso a ele! Eu nunca perguntei isso a ele! — Bem, pergunte a ele! Ele está bem aqui.


Eu reprimo o grunhido que está crescendo no fundo da minha garganta. — Senhoras, precisamos pegar Henry e sair. Lamento, não há nada. Não acredito que estamos saindo de mãos vazias. — Nós não estamos. — Os olhos de Avery brilham, e ela inclina a cabeça em direção a Mel. — Encontramos um estoque de dinheiro e muito mais. Confira. — Ela segura um saquinho e joga para mim. Eu devagar, olho de relance, em seguida, abro a bolsa e olho para dentro. Pedras claras brilham. — Diamantes? — Estou surpreso que Black os mantenha aqui. — Onde estavam estes? — Em um touro de treinamento, juntamente com um estoque de dinheiro. — Mel segura um punhado de notas de cem dólares. — Você pegou?— Eu assobio, repreendendo-a. Eu não posso evitar porque foi uma jogada incrivelmente imprudente e infantil. — Remover essas coisas pode sair pela culatra. E se ela perceber que eles estão faltando? — Devia haver um milhão lá dentro, junto com um monte de outros saquinhos de joias. Ela não vai sentir falta de um, a menos que tenha inventariado antes desta noite. Mel encolhe os ombros. — Além disso, isso pode fazer uma grande diferença para uma garota como eu. Eu ganhei isso e, se eu não for liquidada hoje à noite, estou recomeçando. Esta bolsa vai me ajudar. Avery

estende

a

mão,

pega

a

mão

de

Mel

e

aperta-a

tranquilizadoramente. Estamos demorando muito e sinto meus nervos se desgastarem. — Essa é uma história linda, mas precisamos dar o fora daqui. Onde está Henry? — Ainda na sala de informática, — Mel diz, mas quando entramos na frente da porta, ele se foi.


Eu xingo e enfio minhas mãos pelo meu cabelo. Preciso tirar esse idiota daqui antes que ele seja pego, mas eu não sei onde ele foi. Eu mando um texto para Marty e continuo empurrando as meninas em direção à porta. Meu celular vibra: MARTY: ESCONDA. ELES ESTÃO AQUI. — Merda. Algo dentro de mim estala e se encaixa no lugar. Eu estou no piloto automático. Eu levo as garotas para o porão. Assim que a porta dos fundos se abre, somos engolidos pela escuridão, seguros para observar vários pares de pés se arrastando, cada um fazendo um som distinto. O barulho de click-clack dos saltos de Black é fácil de identificar. As solas grossas de couro dos sapatos de Vic fazem um barulho silencioso. Os outros homens se arrastam atrás deles, totalizando oito. Um raio prateado de luar corta a janela do porão, iluminando o rosto de Avery. Seus grandes olhos castanhos olham para mim, quase em pânico. Ela sussurra: — O que faremos? Eu balancei minha cabeça e coloquei um dedo nos meus lábios. Conhecendo Black, ela tem o lugar inteiro grampeado. A menos que Henry tenha deixado o sistema de segurança no modo caos, ela nos verá. Câmeras estão escondidas nos cantos superiores das paredes do porão. Eu os vi na sala de segurança quando entramos na casa. Mel gesticula em direção às pequenas janelas que levam ao gramado lateral. Ela inclina a cabeça e move os olhos de uma forma que me diz exatamente o que ela está pensando. Eu aceno em silêncio e me aproximo, sussurrando tão baixo que mal faz barulho. — Eu vou te impulsionar. Mel primeiro, depois Avery. Avery se vira para mim com as sobrancelhas juntas. — E você? — Eu vou ficar bem. Apenas vá. — Minha voz diz a ela que isso não está aberto para debate, então ela não discute.


Mel solta o trinco e aponta para um ponto nos arbustos. — Encontre-me lá, Avery. Sean, nos vemos de volta na casa de Henry. Eu aceno com força e a levanto com facilidade. Mel desliza pela pequena janela e rola na grama. Ela se endireita e se agacha quando desliza para as sombras. Eu passo em direção a Avery, o coração batendo forte enquanto o medo tenta se firmar. Eu o empurro e engulo em seco. Enquanto aperto suas coxas e a levanto, ela olha para mim, implorando. — Não me faça te deixar aqui. Sean, eu não posso. — Você pode. Eu ficarei bem, especialmente se eu não precisar me preocupar com você. Encontre-me no Henry. Eu vou te ver em breve. Vá. — Eu a seguro até a borda da janela, esperando enquanto ela agarra e rasteja para o gramado. Ela rola de lado e olha para mim, preocupação enchendo seus olhos escuros. Ela alcança de volta pela janela e toca minha bochecha com os dedos. É uma carícia suave, do tipo que eu tinha medo antes de conhecêla. — Seja cuidadoso. Seus olhos contam uma história diferente, rodopiando com ansiedade tão intensa que é impossível se esconder. Seu pescoço está rígido, com todos os músculos tensos. Sua mão treme um pouco, mas eu não comento. Ela é mais forte do que ela pensa e, quando pressionada, Avery se transforma em tigre. Ela acha que é uma flor frágil, condenada a murchar com a menor dificuldade. Ela não poderia estar mais errada. Sua capacidade de explorar coisas novas comigo — como o tanque, por exemplo — mostra que ela é capaz de manter a força quando está mais vulnerável. Pessoas assim são raras. Ela não sabe a extensão de sua força, ainda não. Quando chegar o momento, ela descobrirá. As comportas que retêm essa verdade vão se esticar e rachar. Só então Avery saberá quem ela é e do que ela é capaz, e nenhum minuto antes.


Eu pego a sua mão e beijo as pontas dos dedos dela, sussurrando, — VÁ. Eu me afasto e fecho a janela enquanto Avery se desvanece na paisagem preta e escura. Mel é habilidosa com sua faca, então se elas forem vistas antes de saírem da propriedade, espero que ela ganhe. Contanto que uma arma não esteja envolvida. Eu

não

posso

pensar

nisso.

Meu

estômago

se

agita

desconfortavelmente, e eu me movo para o fundo da sala procurando um lugar para me esconder. É quando eu ouço o pequeno sussurro. — Pssst. — Eu olho em volta na escuridão, não vendo nada, mas reconheço a voz — a chamada ridiculamente feminina e formal. É o Henry. — Aqui, seu imbecil. — Henry se inclina para fora da escada e acena para mim. Eu me agacho embaixo assim que as luzes se acendem e inundam a sala. Henry abaixa o olhar, piscando enquanto se ajusta ao brilho que escorre sob as escadas. A sala está inacabada na maior parte. O pequeno espaço sob as escadas tem uma prateleira de concreto para suportar a escada íngreme acima. Henry empurra a cabeça para o lado e sobe, mudando para abrir espaço para mim. Eu não me encaixo tão facilmente como ele. Eu tenho que me mexer no lugar, de barriga para baixo no cimento frio, com o meu ombro sobreposto ao de Henry. Ele olha para mim, murmurando: — Da próxima vez eu sou o detrás. Eu o soco levemente no rim, e ele estremece. — Cale a boca, — eu assobio. Vozes caem do patamar acima, seguidas pelo som de passos rangendo na escada, até que vários homens estão no chão do porão. Eu posso ver seus tornozelos quando eles passam.


Eles estão conversando um com o outro e eu não reconheço nenhuma das suas vozes. — Por que estamos mantendo a cadela? Isso vai explodir na cara dele. — Você não foi pago pelo seu cérebro, Gragg. Pegue o barril e levante no três. Um. Dois. Três. Bufando Gragg geme: — Mesmo assim, movê-la é arriscado. — Estes não são para Ferro — eles são para a irmã mais nova de Vic. Gelo atira nas minhas veias. Eu me esforço para ouvir mais, enquanto eles sobem as escadas. — O que há com ele ser tão obcecado por ela? Ela é uma distração — reclama Gragg. — Certo, e quanto mais cedo ela for, melhor, ele poderá se concentrar. Então pare de falar e levante a porra do barril agora. Gragg amaldiçoa e faz uma pausa antes de chegar ao patamar. — Consegui. Pegue a garota, enfie-a aqui, entregue-a ao chefe e ganhe mais dinheiro do que podemos gastar. Eu estou triste com isso. Parece apenas uma perda de tempo. — Desde quando ganhar enormes quantias de dinheiro é uma perda de tempo? Levante o maldito barril e vamos dar o fora daqui. A garota foi flagrada. Temos que agarrá-la antes que ela desapareça novamente. Eu não vou levar uma bala por essa puta, e Vic não vai parar até que ele a pegue, então vamos embora já. Gragg protesta: — Sim, mas eu não entendo. Várias vozes palavrões repreendem Gragg simultaneamente. Ele para de fazer perguntas e, quando o resto dos homens está fora do porão, a sala fica escura.


Henry sussurra: — Eles estão indo para minha mansão para levar Avery. Eu estava pensando a mesma coisa. Eu me afasto de Henry e caio no chão, frenético para avisá-la. Correndo para a janela, eu espio para fora. Marty está andando com outro homem. Merda. Eu não posso sair desse jeito enquanto eles estiverem lá. Eu serei visto e fuzilado. Henry anda atrás de mim. — Obrigado por sua ajuda lá atrás, seu bruto. Eu puxo meu cabelo como um animal enjaulado. Não posso mandar uma mensagem para Marty e arriscar a vida dele. Ao mesmo tempo, eu não posso chegar a Avery se eles não se mexerem. Eu quero gritar, mas não posso. Meu coração dispara mais rápido quando penso no que eles farão com ela. Empurrar seu corpo em um desses barris de petróleo vai deixá-la doida. Ela terá que dobrar seu corpo em uma pequena bola e uma vez que eles a selem dentro — foda-se. Isso vai acabar com ela, para que não tenha atitude quando eles a despejarem na frente de seu irmão imbecil. — Temos que sair daqui, — eu rosno. — Sim, eu ouvi. — Henry olha para os barris restantes.

—Eles

levaram mais de um. Você percebe que isso significa que eles estão planejando capturar vários de nós hoje à noite. É irônico, estamos todos aqui, e Vic está indo em direção à mansão. Ele deve ter visto o artigo no jornal e reconhecido Avery. Eu me viro, sem paciência, e pego seu colarinho da camisa, apertando com força. — Avery e Mel apenas decolaram nessa direção e, a menos que as paremos, elas estão fodidas. Você entende isso? Henry golpeia para mim. — Sim. Por favor, me liberte. — Eu o coloco para baixo, e o homem alisa sua camisa. Ele olha para o chão e depois para mim. — Há algo que eu posso fazer.


— Daqui? — Sim, bem, talvez. Depende se meu drone está carregado. Henry pega seu telefone, e a pequena tela brilha enquanto ele vira para um aplicativo e o abre. Eu quero estrangulá-lo. — Você negou possuir um drone. — Pish, elegante. — Ele acena um pulso flácido para mim. — Eu neguei dizendo que o drone tirando fotos de Avery era meu. Também afirmei minha crença de que os drones são um saco e que não gosto de ser forçado a registrar o meu com a FAA. Eu nunca disse que não tinha um. Eu quero matá-lo. Olhando para o lado de sua cabeça, eu rosno: — Você disse exatamente isso. Ele encolhe os ombros: — Eu exagerei, e você deveria estar feliz. Minha mentirinha branca pode apenas salvar as garotas. — Ele bate em uma série de comandos e então olha para uma câmera ao vivo do drone. Está dentro de um prédio, pairando perto de uma janela. — Eu gostei desse painel. É feito de vidro artesanal de uma propriedade em Suffolk, você sabe. — Henry, — eu aviso. Ele bate o zumbido pela janela e sai pela noite. A coisa dispara para o alto e zumbe sobre a casa antes de se lançar em nossa direção. Se Avery ainda estiver a pé, talvez seja possível chegar até ela primeiro. — Você pode falar com ela através do drone? Quero dizer, se você a encontrar, como ela saberá que é você? Ele enfia o queixo e reprime um sorriso. — Ela não poderá me ouvir, mas ela saberá de mim. — Como? — Henry se contorce, evitando o meu olhar. Eu não o pressiono e mudo minha linha de questionamento. — E depois?


— Então nós os pegamos para seguir o drone longe da mansão. — É mais provável que Mel o acerte com um bastão do que segui-lo. — Talvez, mas uma vez que elas olhem para ele — bem, você vai ver. — Henry voa a coisa cerca de cento e cinquenta metros — baixa o suficiente para não interferir com a aeronave, mas alta o suficiente para que não possa ser vista do chão. Alguns minutos depois, está sobre a casa de Black, caindo como uma pedra do céu. Ele para, paira acima do solo e gira lentamente perto das árvores onde Avery deveria encontrar Mel, mas elas já se foram.


Capítulo Oito AVERY Mel me empurra para frente. Nós temos rastejado pelos arbustos por muito tempo. Estou cansada e meu corpo parece feito de tijolos. Eu gostaria de poder dormir por alguns dias, comer uma tonelada de sorvete e que toda essa situação acabasse. Mas não isso. — Eu acho que nós fizemos uma curva errada em algum lugar. — Eu fico de pé e bato em uma árvore. Mel ri. — Aquilo foi tão engraçado! Você deveria ver o olhar no seu rosto! — Estamos na merda de Pine Barrens6. Nós vamos cair em um buraco e ser atacadas por ursos. Eu franzo a testa e olho em volta, nervosa. Mel acena para mim. — Essa merda não mora aqui. O pior que você encontrará é o Jersey Devil7. Eu não posso evitar. Eu ri. — Eu acho que ele mora em Jersey, Mel. Ela bufa: — E o que? Esta não pode ser sua casa de verão? — Não é verão! — Psh. Esse é um bom motivo. Você precisa ampliar sua mente. Desde quando um bebê demônio não pode voar para sua residência de férias em outra estação que não seja verão? — Mel revira os olhos e empurra um galho para trás, marchando. 6Pine

barrens – Espécie vegetal dominada por gramíneas, arbustos baixos e pinheiros pequenos e médios. 7Jersey Devil - Criatura lendária que diz habitar o Pine Barrens do sul de Nova Jersey. A criatura é freqüentemente descrita como um bípede voador com cascos, mas há muitas variações.


Quando ela diz baby, meu coração doí, como se a descendência do demônio fosse meu filho. Eu imagino que seja mal interpretado e chore enquanto tenta me encontrar, mas não consegue. Eu pisco rapidamente, perseguindo a historia. Que raio foi aquilo? Compaixão por um bebê demônio? Eu estou ficando louca. Devo estar. Eu sigo Mel, embora não tenha ideia de onde estamos ou para onde ela está indo. Eu acho que ela está perdida, mas não estou totalmente certa. Está muito escuro. O luar cria um padrão rendado no chão da floresta, mas é difícil ver muito mais. Mel para de repente, balançando seus braços como uma louca. Eu a agarro quando ela está prestes a cair para frente. Eu não vi isso nas sombras, mas na borda está claro que há um buraco enorme na nossa frente e se ela não recuperar o equilíbrio, nós vamos cair direto nele. Com o coração batendo forte, eu puxo com força e ela cai de volta comigo no chão. Aliviada, eu suspiro e deito no chão da floresta por um momento antes de me levantar. Quando levantamos, nos aproximamos e espiamos pela borda. Os olhos de Mel se arregalam. — É uma merda em massa. Eu te disse que era aquele demônio esquisito. Ela parece preocupada, mas quando olho para o buraco, reconheço o que é. — Não é um túmulo, Mel. É uma mina de areia. Algum idiota veio aqui para roubar areia. Seu rosto se contrai e ela olha para mim como se houvesse uma cabra no meu rosto. — O que dizer agora? Quem diabos roubaria areia? É areia! — Eu sei, mas os locais de construção precisam de areia. É caro, então eles vêm aqui, roubam a areia do Pine Barrens, onde ninguém mora ou olha, e depois enchem o buraco com lixo quando acabam. Ela pisca aqueles olhos dourados para mim como se eu estivesse mentindo. — Eu não estou inventando isso. É fato.


— Parece uma vala comum para mim. — Não é. — A minha história é melhor. — Sim, provavelmente é. Seus olhos cortam para o lado enquanto ela olha para mim e depois volta para o buraco. — Então, quando nós conseguimos um contrato para um livro, e eles adaptarem a história em um filme, nós vamos dizer que isso era uma cova coletiva. — Um filme? — Eu quase rio. — Sim, porque não? Pense nisso. Ela começa a falar com as mãos, pintando o ar com o movimento das palmas das mãos. — Temos intrigas, mistério e um lunático que envergonha aquele cara da serra elétrica. Eu franzo a testa. Ela está certa. Essa coisa toda está mais confusa do que qualquer filme que eu já vi. — Tudo bem, é um túmulo de demônio. — Psh, agora isso é ridículo. Demônios não podem cavar. Eles não são cães sobrenaturais. Nossa, Avery! Algo zumbe por cima e se arremessa, sacudindo as copas das árvores. Pequenas luzes brilham e emite seus raios através dos galhos. Isso me assusta, eu grito e pulo para Mel. Ela não estava pronta para isso. Ela perde o equilíbrio e nós duas caímos para a frente e deslizamos para o fundo do poço de areia. Mel xinga uma série de palavrões que fazem meus ouvidos zumbirem, e então me empurra para fora de seu corpo de bruços para que ela possa ficar de pé. — Você não nos empurrou para um túmulo de demônio. Fecho os olhos por um segundo e explico: — Havia uma luz...


Mel não percebeu. Ela não olhou para cima, ninguém olha para cima. — Você nos empurrou para dentro do buraco por causa de uma luz de inseto? Qual é, Avery. Crie coragem. — Ela caminha para o lado e tenta sair, mas não consegue. É muito íngreme e as paredes não são estáveis. Toda vez que ela dá um passo para cima, a areia se solta e ela cai. Eu me levanto e limpo a areia. — Não era um inseto. Era uma daquelas coisas estranhas de helicóptero — um drone. Mel rosna e tenta sair de novo, mas só cai de volta no buraco. Ela levanta e xinga novamente. Quando termina com sua birra, ela olha em minha direção, acrescentando: — Graças a você, estamos presas no fundo de um maldito buraco! Eu não estou interessada em jogar a versão ao vivo do Frogger agora. — Eu acho que você quer dizer Pitfall8. E pelo menos não há nenhum demônio que desça aqui conosco. Imagino como tolas devemos ter parecido ao cair no buraco em câmera lenta, braços agitados, corpos caindo uns sobre os outros antes de escorregar até parar no fundo. Meus lábios se contorcem e eu bufo suavemente tentando engolir as risadinhas se construindo dentro de mim, mas algumas saem. Mel olha para mim enquanto tira a areia dos braços. — Não é engraçado. Eu não posso parar. Meu peito treme enquanto tento limpar o sorriso do meu rosto e ficar séria. — Ok, estou bem. — Eu não estou. O riso ainda está fervendo dentro do meu peito, mas não está mais no meu rosto. — Bom, — ela diz. — Qual é a melhor maneira de sair daqui?

8Pitfall

— Jogo onde o jogador deve mover seu personagem, conhecido como Pitfall Harry, através de uma floresta tipo labirinto em uma tentativa de recuperar 32 tesouros em um período de 20 minutos. Nesse tempo ele deve derrotar a densa floresta, com suas cobras, morcegos e insetos.


Eu olho em volta, — Bem, nós poderíamos saltar em alguns troncos e esperar que não caíssemos em um jacaré por engano. — Eu faço um som de Tarzan que soa mais como um bode. Mel olha para mim, irritada no começo, e então começa a rir. Ela se dobra e coloca as mãos nos joelhos enquanto ri com tanta força que não consegue respirar. — Puta merda! Isso soou como o jogo! Era como se você fosse metade cabra e metade Tarzan. — Ela se endireita e aponta para mim: — Faça de novo. Eu faço o barulho mais uma vez, desta vez mais alto. Meu último balido sai engasgado quando quase me engasgo de rir. Mel está rindo, com a barriga curvada e abanando o dedo na minha direção. — Isso é hilário! Quem sabia que lá no fundo você era uma garota de cabra! — Mel tenta fazer um som de balido, mas sai mais como o ACK, ACK, ACK de uma metralhadora. — Bwuhahahaha! Sua cabra mora no gueto e está fortemente armada. Sério Mel. Que tipo de animal de fazenda soa assim? — Há lágrimas nos cantos dos meus olhos de tanto rir. Eu os enxugo enquanto finalmente nos controlamos. Mel solta um longo suspiro pela boca e olha para mim. — Se não estiver algum babaca tentando nos matar, é tudo diversão e risos... — Sim, até que caíssemos em um buraco. — Você sabe o quão embaraçoso isso é? Eu sou como uma ninja de faca. Em uma briga de rua, eu ganho. Eu sempre ganho. Eu não posso acreditar que estou presa em um buraco. Ela balança a cabeça e olha ao redor. — Comigo! Poderia ter sido muito pior. — Sorrindo, ela levanta o olhar para encontrar o meu. — Sério, Mel. Eu não me importo de estar presa em um buraco com você, mas Sean vai surtar.


Ela finalmente para de rir e caminha em minha direção em passos longos e escorregadios enquanto a areia se move sob seus pés. — Por que não podemos cair em um buraco com um homem quente? Aquele cara do Pitfall era gostoso, mas ele era um pouco quadrado e retangular, se você quer saber. — Ela diz isso tão inexpressivamente que eu começo a rir de novo. — Sério. Nós não poderíamos cair em um desses buracos que já foram cimentados e com uma escada? — Nós não somos sortudas assim, Mel. — Eu me inclino contra a parede lateral e deslizo para baixo. Eu puxo meus pés em direção ao meu peito e inclino a cabeça para trás. O céu noturno parece com tinta derramada com uma camada de brilho prateado para compensar as estrelas. Mel dá algumas voltas e depois se senta ao meu lado. — Se eu morrer em um buraco, eu vou ficar chateada. — Ela cruza os braços sobre o peito e inclina a cabeça para trás, fechando os olhos. — Você vai dormir? — Sim. — E sobre bebês demônios e casas de veraneio? Ela abana uma mão preguiçosa para mim. — Não é verão. O carinha não está aqui.


Capítulo Nove Mel cochicha ao meu lado enquanto eu olho para o céu pensando, desejando que eu pudesse conter meus pensamentos, mas eles borbulham e transbordam da minha mente como uma panela de água fervente. Eu não posso parar isso. Imagens passam rapidamente pela minha cabeça como um filme confuso. As cenas não se misturam e as linhas do tempo espirais em um ciclo ilógico. Gritos silenciosos, pele escorregadia, um anel de noivado de diamante, a sensação fria do aperto da arma na minha mão, o chão duro na sepultura dos meus pais e sangue — derramando, juntando, cobrindo minha pele pálida, me manchando. O medo se intensifica e me sufoca até que eu não posso respirar. Eu pulo e afasto os pensamentos da minha mente quando o barulho se aproxima. Parece uma abelha gigante. Ajoelho-me ao lado de Mel e balanço o ombro dela. — Ele está de volta. Assim que ela está ao meu lado e nós olhamos em uníssono, uma luz brilhante reflete diretamente acima de nós, cegando-nos. O zumbido é alto quando cai perto de nós muito rápido. Ele para no nível dos olhos e paira no ar à nossa frente. — Eu gostaria de ter um bastão, — Mel rosna para a máquina, — eu o esmagaria! — Ela se inclina e levanta dois punhos de areia, pronta para jogá-la nas quatro hélices giratórias. — Espere! — Eu agarro seus braços, parando-a e me aproximo do drone. Não é branco como o que vi há algumas noites. Este é em tons de carne com listras marrons e — isso é um olho? Eu chego mais perto, piscando duas vezes para o aparelho, antes que arrepios percorram minha espinha e meu estômago azeda. — Diga que não é o que eu acho que é.


Mel se inclina, tomando cuidado para não se aproximar das lâminas giratórias, permitindo que o drone se mova. Ela bufa: — Aquele idiota maluco realmente tem tesão por você. Ele fez um drone Avery. O drone está embrulhado com uma foto minha. Eu pisco com força, esperando que meu rosto e corpo desapareçam do lado da máquina. É a foto minha que eu dei a Henry antes de saber que ele era louco. Era para ficar na carteira dele. Eu não deveria estar colada aos lados de um drone. De cara séria, eu olho para ele com desprezo. — Aquele bastardo. Ele me fez uma prostituta voadora! Mel tenta não sorrir. Ela olha a engenhoca com cuidado, em seguida, cospe: — Droga, ele é esquisito. Aposto que ele tem uma queda pela Mulher Maravilha. — Aposto que ele tem seu próprio jato invisível. Dane-se a Mulher Maravilha. — Isso é o que ele disse! — Ela ri e bate no seu joelho. — Porra, eu sou engraçada! O drone tenta decolar e depois volta quando não o seguimos. Faz a mesma coisa mais quatro vezes, tentando nos fazer decolar depois. Eu balancei minha cabeça e apontei, mas eles não parecem entender. Mel arranca drone do ar, vira-o e diz lentamente diretamente para a minúscula câmera na parte inferior, — Nós não podemos seguir. Nós estamos presas em um buraco. — Então ela joga a coisa no ar, e ela cai como uma pedra, quase batendo no chão antes de atirar na copa das árvores novamente. Ela ri. — Eu aposto que isso fez com que seus britânicos se juntassem. A propósito, você não quer ver o que está no lado de baixo desse drone. Ele é um sacana doente. — Seus lábios se contraem como se ela quisesse sorrir com carinho. É quase admiração. Não, isso não está


certo. Há um olhar deslumbrado no olho dela combinado com o sorriso quase bobo. De olhos arregalados, eu aponto para ela. — Puta merda! Você gosta dele! — Eu não! — Ela zomba, fazendo uma careta como se fosse uma acusação insana. — Sim, você faz! Você tem aquele sorriso tímido no seu rosto, aquele que é totalmente apaixonado e bobo! Como você pode gostar dele? Ele é louco. Ela não discute desta vez. — Eu não sei. Ele é gostoso, engraçado e um pouco doente. Além disso, quem é você para criticar? Você está namorando o cara mais distorcido do mundo. Rindo sombriamente, eu desafio: — Sim, mas Henry é pior. Ela sorri e pressiona as palmas das mãos juntas. — Sim ele é.


Capítulo Dez Não faço ideia de quanto tempo passa, mas parece que são horas quando Sean e Henry aparecem. Eles estão na borda com as mãos nos bolsos — suas posições espelhadas. As pontas da cabeça de Sean para o lado e os olhos de Henry estão arregalados, como se ele tivesse acabado de perceber que precisava cavar um buraco em seu galpão imediatamente. Eu aceno para Sean com as pontas dos meus dedos. — Hey! Como vai você'? Ele bufa e oferece um sorriso torto. — Como diabos vocês acabaram em um buraco? Mel olha para mim, resmungando: — A cara pálida, aqui, nos empurrou quando o drone do bastardo doente voou sobre nós. Sean e Henry estão prestes a dizer algo, mas Mel os interrompe. Agitando um dedo indicador no ar, ela estreita um olho em uma fenda e rosna: — E você não dá a mínima para isso. É escuro e estranho aqui à noite. Há reações piores para ser atingido no rosto por uma máquina voadora robótica. Meu queixo afrouxou, eu fico boquiaberta para ela. — Você me repreendeu! — Certo, — Mel olha para mim e ergue a palma na direção dos caras, — é por isso que seria redundante neste momento fazer mais repreensão. Eu já cuidei disso. Além disso, eu não gosto quando gritam com você. — Mas está tudo bem para você fazer isso? Ela cruza os braços sobre o peito e inclina a cabeça para o lado. — Com certeza.


Eu reviro os olhos e olho para Sean: — Salve-me. Por favor. Eu levanto meus braços para ele como uma criança, e ele sorri, balançando a cabeça. — Segure-se. — Ele pega um rolo de corda e amarra em torno de uma árvore. Henry está na borda e pergunta: — Areia é a sua criptonita, Melanie? Você finalmente encontrou um inimigo que não pode vencer? — Ele ri para si mesmo. — Foda-se, idiota. Ele olha friamente para ela. — Desculpa esfarrapada para uma assassina. — Quem diabos disse que eu sou uma assassina? — Obviamente, você não é. Estou um pouco desapontado. — Ele sorri para Mel. Eu recuo esperando as chamas saírem de sua boca. — Se você fosse, você não estaria presa em um buraco. — Imbecil. — Eu prefiro desfrutar a visitado seu buraco. Os lábios de Mel se torcem em desgosto. — Sim? Bem, tire isso e vamos ver o que acontece. Henry ri enquanto Sean joga a corda por cima da borda e o lembra: — Ela vai sair daquele buraco, e você vai querer não ter dito uma palavra. Henry enfia as mãos nos bolsos e ri, jogando a cabeça para trás como se Sean fosse engraçado. Soa forçado e sarcástico. — Até parece. Eu rio e bato minhas mãos sobre minha boca. Mel olha para mim, então eu corro para a borda onde Sean joga a corda por cima da borda. Colocando minhas mãos ao redor da corda grossa, digo a ela: — Ele parece com você.


— Não. Ele deseja poder soar tão incrível quanto eu. Mas ele não pode. Henry acena com o dedo indicador no ar, joga o quadril para fora e balança a cabeça — imitando Mel. — Ele faz isso. Ele é muito mais incrível do que eu, e eu adoraria transar com o filho da puta. Eu sorrio para Sean quando ele me puxa para cima. Eu grito para Henry: — Você deveria ter escutado Sean. Mel vai rasgar seu rosto quando ela sair. Henry estende a mão para ela. — Ela não poderia machucar uma borboleta. Seu auge acabou. Ela está caída, e indo para um declínio induzido pela gravidade, estou certo, amor? Depois que Sean me puxa para cima, empurro meus joelhos para cima e fico de pé, limpando a areia dos meus membros. Ele olha para mim com ternura, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Graças a Deus você nunca faz como lhe é dito. — Ele beija minha testa e parece respirar mais aliviado. No momento em que estou fora da corda, Mel a segura e escala a lateral do buraco, arremessando seu corpo sobre a borda antes de pular e correr para Henry. Ele está perfeitamente imóvel, com as mãos nos bolsos e uma expressão indiferente no rosto. Sua fachada serena quebra exatamente quando ela está prestes a pular nele. Ele solta um grito e corre, agitando os braços, para a floresta. Mel corre atrás dele, jurando uma tempestade. Sean olha para mim. — Eu preciso pará-la? — Não, ela gosta dele. Os olhos de Sean se arregalam. — Eu odiaria ver como seria se ela o odiasse. — Eu sei, certo? — Eu suspiro e me inclino em Sean.


Ele envolve seus braços em volta de mim e beija o topo da minha cabeça enquanto me diz o que ouviu no porão de Black. — Eles sabem que você está na casa de Henry. Nós não podemos voltar lá. Eu me encolho com o pensamento do barril. Não, é mais que isso. Isso me assusta, atirando pedaços de gelo em minhas veias, cortando todo o caminho até o meu coração. Juro que ele para de bater por um momento. Eu me afasto e viro para Sean. — Então não podemos esperar. Precisamos nos dirigir diretamente ao Vic Jr. e terminar isso. — Há uma providência primeiro. Você precisa ligar para Black e aceitar o trabalho. O nó na minha garganta cresce para um tamanho gigantesco, me estrangulando por dentro. Há tanta pressão em mim que parece que um movimento errado vai esmagar meu corpo na calçada. Um passo em falso e eu estou morta. Não, é pior que isso — meu irmão doente tem um barril com meu nome nele. Eu aceno e sussurro: — Se ele me pegar... Se isso não der certo... Sean me puxa para o peito dele, envolvendo seus braços fortes em volta de mim. — Eu não vou deixá-lo te machucar. Não agora, nem nunca. Depois desta noite, Vic Jr. vai se arrepender de ter fodido com um Ferro.


Capítulo Onze O telefone toca e Black responde: — Avery, estou surpresa em ouvir você. Estou respirando muito rápido e minha voz está tremendo. Ela vai ouvir, então eu faço a única coisa que faria esses sons parecerem razoáveis. Eu fungo e deixo escapar: — Eu quero o trabalho. O trabalho de cafetina que você ofereceu antes. — E o Sr. Ferro? Eu pensei que você tivesse terminado com o negócio de encontros? — Sua voz é sedosa e suave. Eu posso imaginá-la sentada em sua mesa com um sorriso no rosto. O jogo de gato e rato sempre a divertiu. Ela vai brincar comigo por um tempo antes de tomar sua decisão final. Minha garganta está apertada, e estou tremendo, eu respondo sucintamente: — Ele me deixou. — Minha voz soa vazia. — Você disse que ele faria isso. Você me disse... — Eu fungo e suspiro, — Você me disse que ele iria embora, e ele fez. — Eu não sabia que Sr. Ferro voltou para casa. Quando isso aconteceu? — Eu não sei! Ele foi embora mais cedo e disse que sua vida aqui é tóxica. Miss Black, eu realmente não quero falar sobre ele. — Então ele foi em seu jato esta noite? — Eu acho que sim. — Eu sei que sim. Correção — eu sei que o jato dele mapeou o plano de vôo deles e decolou com um passageiro esta noite. Se ela verificar, ela poderá confirmar minha história. — Eu preciso desse trabalho, Miss Black. Ainda está aberto?


Ela faz uma pausa, suspira profundamente e responde. — Sim, mas considerando o seu comportamento — o modo como você ignora todas as regras e recusa a minha supervisão — Avery, essa posição não é para você. Algumas mulheres foram feitas para liderar, enquanto outras trabalham melhor na retaguarda. Eu esmago meus lábios e tento não gritar com ela. — Dê-me uma chance. Eu vou te mostrar o quão valiosa posso ser. Não estou mais interessada em homens. Eu nunca vou me apaixonar por outro cara enquanto eu viver. Não tenho mais nada para fazer, nenhuma outra fonte de renda. Miss Black, por favor... — Eu imploro, adicionando uma respiração irregular no final para soar como se eu não tivesse terminado de chorar. — Nunca implore, — ela repreende. — Isso mostra fraqueza. — Sim, Miss Black. — O silêncio passa entre nós, estendendo-se para sempre. Começo a pensar que ela se afastou do telefone quando respondeu: — Esteja aqui às onze horas da noite. Você pode me servir esta noite. Estou falando com um cliente em potencial. Se assinar, ele paga antecipado. Entramos, pegamos seu contrato e preferências, fotos e depois fazemos a ligação. Ele quer uma garota nos braços em menos de vinte e quatro horas. É assim que funciona. Tem certeza de que você está pronta para isso? Meu coração bate como se eu nunca quisesse mais nada. Miss Black é mestre em manipular. Não é de admirar que ela seja tão boa nisso. Se não soubesse no que estava entrando, eu teria aparecido com um sorriso no rosto, grata por sua ajuda. Eu sôo o mais sincera possível quando respondo: — Sim, Deus, sim! Obrigada, Miss Black. Eu não vou te decepcionar. — Não, você não vai.


Eu desligo e me viro para Mel. Henry está atrás dela, vasculhando caixas abandonadas no porão do dormitório. Nós não tínhamos outro lugar para ir — pelo menos em nenhum lugar onde Black não saberia procurar. E se Sean for descoberto, eles perceberão que eu sei o que está acontecendo. Mel está me observando com seus olhos dourados, balançando a cabeça, em silêncio até eu desligar. Então ela joga os braços em volta de mim e aperta com tanta força que meus olhos quase saltam da minha cabeça. — Isso foi perfeito pra caralho. Não há como ela suspeitar de alguma coisa. — Assim que me libera, o celular de Mel toca. Ela acena para todos ficarem em silêncio e responde: — Hey, o que se passa? A voz aveludada de Miss Black entra no quarto pelo telefone. — Eu preciso de você esta noite. — Eu já tenho planos... — Os lábios de Mel se inclinam nos cantos. — É de seu interesse para aparecer aqui. Eu tenho um cliente interessado em seu perfil. Eu preciso de você para garantir a negociação. Você sabe como Avery pode ficar. Mel interrompe, repetindo: — Sinto muito, Miss Black, mas tenho outros planos hoje à noite. Ela rosna, suas palavras gotejando com ameaças não ditas, — eu vou fazer valer a pena, e, se você olhar para o outro lado, acredito que podemos chegar a um acordo mutuamente benéfico. Se você ignorar seus deveres, porém, enviarei Gabe atrás de você e não gostará dos métodos de persuasão dele. Eu sugiro que você apareça aqui às onze da noite em ponto. Mel empalidece um pouco. — Sim, Miss Black. Eu estarei lá. Hey, qual é o plano? Algum cara quer alugá-la ou o quê? — Mel tenta convencer Black a falar e espera ansiosa — esperando que ela diga alguma coisa.


Black não é uma tola, no entanto. — Venha e veja por si mesma, — diz ela. — Há muito mais dinheiro a ser feito se você estiver disposta a cruzar a linha, Melanie. Não se atrase. — A ligação cai. Mel coloca o celular de volta no bolso e olha para mim. — Eu não gosto disso. Muitas coisas podem dar errado. Eu me sentiria muito melhor se Vic Jr. tivesse uma arma na sua cabeça o tempo todo. Sean está tenso, com a mandíbula bem fechada e os braços grossos cruzados sobre o peito. Seu queixo está baixo, e ele está pensando, sem dizer muito até aquele momento. — Há muitas variáveis, eu concordo, mas assim que você e Avery estiverem dentro e ao alcance de seu sistema de segurança, podemos invadir. Ninguém vai desistir disso. Uma caixa cai, e nós olhamos para ver um Henry assustado segurando algumas contas de Mardi Gras.9 — O que? Mel se agarra a ele. —Você está ouvindo? É isso. Temos sucesso ou morremos. Não há nada no meio. — Sim, sim, eu estou bem ciente. — Ele enche o bolso com as contas e vai ficar ao lado de Mel. — Marty já está no local para nos dar uma vantagem. Ele pode garantir que todos estejam contidos na sala correta na hora certa. Eu me sinto mal, mas tenho que perguntar. — Vamos matar todas essas pessoas? Ninguém vai embora? Sean olha para mim por baixo dos cílios. — Eles dizimaram minha casa e tentaram erradicar toda a minha família. Eles têm minha mãe acorrentada e planejam fazer o mesmo com você — ou pior. Sabemos que Vic tem planos para você, então você me diz — quem vai viver? Eu vou ceder a você sobre isso, mas deixar qualquer uma dessas pessoas irem

9Mardi

Gras – eventos de carnaval em New Orleans.


embora hoje deixa a possibilidade de perder mais vidas no futuro. Eu prefiro não correr esse risco. Mel pergunta: — E quanto a Black? Ela nem vai estar lá. — Ela morre. — A voz de Sean é fria e decidida. — Nós a encontraremos depois disso e terminaremos. Mel acena com a cabeça, não diz nada. Uma calma gelada toma conta do quarto, enquanto todos nós estamos lá, nenhum de nós pronto para fazer isso. Mel finalmente diz: — Preciso tomar banho e me trocar. Espero que esta seja a última vez que tenhamos que ficar na frente de Black para qualquer coisa.


Capítulo Doze Mel caminha até uma prateleira no fundo da despensa coberta com uma sacola de plástico. Ela abre o zíper do lado e passa por alguns vestidos antes de escolher algo simples. É um vestido de cocktail preto com um decote baixo, de alcinhas e uma saia de tulipa que cai no meio da coxa em Mel. Em mim, ficaria nos joelhos. Mel inclina a cabeça para o lado, indicando que eu deveria escolher alguma coisa. — Vá em frente. Eu sei que você não tem um esconderijo em algum lugar. — Obrigada, Mel. — Certo. — Seu tom é sombrio, intenso, — certifique-se de que você possa correr em qualquer coisa que escolher. Eu também quero amarrar uma faca em você. — Ela lança um olhar para Sean e ele concorda. Mel não estava perguntando. É como se ela suspeitasse que as coisas não sairão como planejado, e de nós duas, eu sou o elo mais fraco. Henry pode comprar sua saída do problema. Mel é uma lutadora de rua. Sean é Sean. Marty é um agente ultrassecreto. Gabe é um policial. Eu não tenho habilidades defensivas reais, e o centro do meu peito dói porque eu não estaria aqui com essas pessoas se eu fizesse isso. Se eu pudesse me defender, seria uma pessoa diferente. Mel se foi sem outra palavra. Nós não podemos nem ouvir seus passos enquanto ela vagueia pelo corredor. Essa mulher é meio gata. Corro atrás dela, gritando: — Mel, espere. Eu saio correndo do depósito e a encontro no final do corredor, esperando. — O que?


— Eu nunca fiz nada assim antes. — Eu corro ao lado dela e suspiro. — Com a faca, qual é a melhor maneira de usá-lo para derrubar alguém? — Avery, se você puxar a faca, você atinge para matar. Não há outra opção. Você não pode usá-la como uma ameaça ou acabará com uma bala na sua cabeça. Eu engulo em seco e sinto meu intestino se contorcer. Torcendo minhas mãos, olho-a nos olhos e sacudo as pontadas de medo que sobem pelas minhas costas. Eu jogo minhas mãos para os lados, recusando-me a ter medo. — Eu não tenho a intenção que seja uma ameaça. Eu preciso saber. O que devo fazer? Os olhos de tigre de Mel passam por mim como se decidissem algo. Ela estende o seu pente na mão direita, fingindo que é uma faca. — Você terá que segurá-la assim. Haverá mais força em seus golpes. Você não pode segurar uma coisa maldita. Se a lâmina atingir o osso — ao redor da caixa torácica inteira — você perde. É simples assim. Use seu corpo, não apenas seu braço. — Ela me mostra algumas maneiras de afastar alguém. — Mas quando a merda bate no ventilador e você tem segundos para viver, você aponta para os pontos fracos, atingindo-os com força e rapidez. — Ela aponta para alguns pontos nas minhas pernas onde a faca faria o maior dano, então demonstra como evitar o jato de sangue se eu matar alguém. — Você pode ter mais de um atacante, e se você receber sangue quente em seus olhos, você está morta. Entendeu? — Suas palavras soam cortadas, como se a conversa em si fosse dolorosa. Eu concordo. — Mel, eu sou... Ela avança em mim e eu volto para a parede com um baque. — Se você se desculpar, eu vou te esbofetear. A censura e a culpa não importam. É uma guerra e você é o prêmio. Se eles viverem, você não. Não há porra nenhuma para se lamentar.


Mel recua e olha para o lado. Depois de um momento de silêncio, ela abre a boca como se quisesse dizer mais, mas pensa melhor. Mel fecha a boca e desce pelo corredor escuro, desaparecendo de vista.


Capítulo Treze Eu pego um vestido, perfume, maquiagem e qualquer outra coisa que preciso para me preparar esta noite. Eu vou ser bem sucedida ou morrer na roupa que escolher para esta noite. Eu quero me sentir poderosa, então tiro o vestido que fala comigo. Ele é branco e justo chegando logo abaixo do meu joelho. O tecido estica para que eu possa me mover. O decote da frente desce suavemente e flui sobre meus ombros em um V profundo, estendendo-se além das minhas costas. Alças duplas mantêm o tecido solto firmemente no lugar. Depois de puxá-lo, deslizando através dos quadris apertados, eu viro e pulo. Sean está de pé na porta do banheiro das garotas, com os olhos escuros. O olhar intenso em seu rosto faz minha pele arrepiar. Ele não se move. Ele permanece no limiar, congelado. — Sean? — Eu digo seu nome suavemente e caminho descalço em direção a ele, parando um passo antes de tocá-lo. Os músculos do pescoço e da mandíbula estão tensos apesar de sua postura casual. Se eu não o conhecesse melhor, acharia que estava com medo. Sean inclina a cabeça para o lado, encostando-a no batente da porta. — Eu poderia te esconder. Eu me viro e caminho de volta para o balcão onde tenho minha escova de cabelo, secador de cabelo e maquiagem espalhada. Eu levanto a escova e passo pelo meu cabelo molhado. — Eu não quero viver assim, Sean, pulando a cada som. Como está eu mal durmo. Sua voz é profunda e gentil. — Isso vai mudar você, Avery. Se você chegar ao outro lado, a mulher que olha de volta para você no espelho não existirá mais.


— É um risco necessário. — Eu digo as palavras, mas elas soam vazias. Sean está certo, mas não posso aceitar. Eu não quero nem pensar nisso. — Você só diz isso porque não tem ideia do que é viver do outro lado. Virando meu calcanhar eu olho para ele, irritada. — Sim eu tenho. Eu já matei alguém. Lembra? Talvez não tenha sido nada para você, mas ainda me deixa doente. Ele caminha em minha direção, seu corpo firme se elevando sobre o meu. — É o que eu quero dizer. Você o matou com uma arma e se sente assim. Imagine se você matar com as suas próprias mãos. Essa sensação nunca desaparece. Irá assombrá-la pelo resto da sua vida. Volto-me para o espelho e passo a escova por outra mecha de cabelo, desembaraçando-o enquanto vou. — É um risco necessário. Raiva brilha em seus olhos. — Isso é besteira. Algo dentro de mim se rompe e eu me viro para ele, apontando a escova em seu rosto enquanto eu vomito palavras afiadas. — Besteira? Besteira! Você sabe o que é besteira? Deixando uma pessoa de quem você gosta presa nas mãos de dois sociopatas! Sean se encolhe como se eu o tivesse esbofeteado. — Minha mãe? Você está chateada por isso? — Eu não estou chateada. Estou enojada. Eu não consigo imaginar deixar meus pais para trás por qualquer motivo — até mesmo para te salvar. E se eu fosse forçada a tomar uma decisão tão nauseante, com certeza teria sido mais destruído com isso! Ele está na minha cara, sibilando: — Você acha que isso não me incomoda? Você acha que essa decisão não me dividiu? — Não, você mal olhou para ela!


Os olhos de Sean suavizam. Sua voz fica moderada, equilibrada. — Ela está viva, Avery. Isso chocou o inferno fora de mim. Então, novamente, não. Você sabe por que eu fui capaz de ir embora? — Você não deveria tê-la deixado lá. — Eu tento me virar, mas Sean agarra meu braço com força e me puxa na frente dele. Rosnando, ele fecha os olhos nos meus, seu corpo pronto para lutar, — Eu a deixei lá porque é totalmente possível que toda essa merda caia desse jeito por causa dela — que ela é um deles. Meu queixo cai quando eu fico boquiaberta com ele, incapaz de falar. Sean puxa meu braço, estalando — Não me olhe assim. Meus lábios rapidamente se curvam em um sorriso de escárnio. — Sean, como você pode dizer isso? — Como você não percebeu? Ela é uma cobra e sempre foi. A natureza humana não é tão complicada, Avery. Minha mãe fará o que sempre fez — cuidar de si mesma. Ela não dá a mínima para você, eu ou qualquer outra pessoa a não ser ela mesma. Essa é uma verdade que aceitei há muito tempo. É algo que você parece não entender, e eu não vou deixar você descobrir da maneira mais difícil que minha mãe é uma cadela sádica. Eu tento puxar meu braço para longe e pisar em seus pés, mas Sean segura meu pulso com mais força. Eu acabo por arremessar minha escova de cabelo nele, mas ele desvia, deixando a coisa cair no chão. As luzes amarelas acima pulsam lentamente como um gerador ligado. Sean me empurra de volta para a parede fria e me prende no lugar. Seu olhar está faminto, desesperado. — Diga-me que você confia em mim. Em tudo, não apenas sexo. — Ele inclina seu corpo no meu, me esmagando. Ele está tão quente, tão tenso. Seu cheiro enche meus pulmões enquanto tento me afastar e


empurrá-lo, mas estou presa. Seu olhar de safira não sai do meu rosto, mesmo que eu tente olhar para outro lugar. Quando eu não respondo, ele levanta o braço e pressiona o antebraço no meu peito e, em seguida, desliza para a base do meu pescoço. Ele me observa, sabendo que eu odeio a sensação de estar presa. O suor se forma na minha testa e está ficando mais difícil respirar sob seu peso. — Avery, diga isso. Eu preciso saber de qualquer maneira. Eu fecho meus olhos e viro meu rosto para longe dele. Ele me solta e eu pulo com carga total, correndo para ele, empurrando-o de volta para a pia, então ele tropeça para trás. Eu pego o ferro quente e o seguro em seu rosto, prendendo-o com as costas arqueadas para trás até que seus ombros tocam o balcão. — Não é legal fazer as pessoas dizerem coisas que elas querem manter privadas. — De onde vem isso? O que diabos eu estou fazendo? É como se minha bússola emocional explodisse e arruinasse minha capacidade de pensar. O choque de Sean se esvai depois de um momento. Quando ele olha para longe do bastão quente logo acima de seu cílio e olha para mim, mal respirando. — Quando outras pessoas dependem de você, os fatos fazem a diferença. Se eu soubesse como a noite iria acontecer, eu não iria te pressionar, mas eu não sei nada. A menos que você vá me queimar, eu sugiro que você coloque isso para baixo agora. Eu não sei porque eu faço isso. Algo dentro de mim está gritando com ele, dizendo a ele como me sinto. Minha mão se move quando eu grito: — Eu não sou fraca! As costas de Sean estão dobradas em um ângulo não natural, tornando difícil para ele se libertar sem cair. Quando a chapinha vem para ele, ele arrasta a perna para o lado e me deixa desestabilizada. Aquele segundo lhe dá a vantagem. O ferro escaldante esfrega sua bochecha por


meio segundo antes dele arrancar a tomada da parede e jogá-lo pela sala. Ele bate e cai no chão em algum lugar na área dos chuveiros. Ele retira toda a porcaria que eu coloquei na pia, e ela voa antes que ele me levante. Seus olhos são tão profundos, tão perdidos. Ele me coloca na bancada gentilmente. Uma queimadura vermelha irritada reveste seu rosto onde a chapinha tocou sua bochecha. — Eu sei que você não é fraca. Isso não é o que eu penso em tudo. Por favor, me diga que você sabe disso. — Eu não sei o que você pensa sobre nada. Você nunca me diz... Ele pressiona um dedo nos meus lábios, me silenciando. Ele se inclina para perto, a boca sem fôlego. — Você é a mulher mais forte que conheço. Você é uma sobrevivente. Você não deixa ninguém ditar sua vida. Nunca desiste. Você nunca se renderá. Eu suspeito que seu mantra é algo sobre brilhar e morrer enquanto luta por suas crenças. Avery, a última coisa que eu pensaria de você, é que você é fraca. — Sua voz é suave, calmante e perfeita. Suas palavras provocam arrepios na minha pele, cada uma caindo como uma gentil carícia. Meus olhos ficam vidrados e eu pisco algumas vezes e pergunto: — Então por quê? — Porque o que? Diga-me o que você está perguntando, baby, porque eu não sei. Eu vou te contar qualquer coisa. Pergunte-me. — Por que você me escolheu? — Eu grito. — Você poderia ter tido qualquer pessoa. Há uma pausa e depois Sean solta um longo suspiro e pressiona a testa na minha. Olhando nos meus olhos, ele sussurra: — Eu me pergunto o mesmo sobre você. Por que você me escolheu? Você poderia ter qualquer pessoa. — Ao mesmo tempo que isso é lisonjeiro, não é uma resposta. Sean, por favor. Conte-me. Eu preciso saber.


— Eu escolhi você — eu quero você — porque você está em um ponto na vida em que tudo está mudando. Eu admiro sua coragem, seu otimismo e sua esperança. A maneira como você sorri e ri como se nada dessa merda estivesse acontecendo é notável. O mundo pode estar indo para o inferno ao seu redor — e está — e você ainda sorri. Por tudo isso, você ainda se importa. Isso é o que me assusta, Avery. Esta noite é diferente. Você está entrando nessa confusão sabendo que você terá que matar. É diferente. Isso apagará esse sorriso e ele nunca mais voltará. Meus lábios pressionam repetidamente em uma expressão nervosa entre um sorriso triste e esperança. — Eu acredito em você. Eu sei que isso poderia acontecer. Eu sei que vou mudar e quero que você esteja lá comigo. Você passou por isso e voltou. Sean, você pode me salvar de várias maneiras. — Avery, não com isso. — Eu sei que você pode me trazer de volta porque eu fiz isso por você. É possível. — Avery... — Seus lábios são uma respiração da minha. — Eu confio em você, em tudo. Eu enrosquei meus dedos no cabelo na nuca e inclinei a cabeça para trás enquanto o puxava para mim. Quando sua boca pousa na minha, eu o beijo suavemente, lambendo seus lábios em movimentos suaves e firmes, fechando os olhos e saboreando tudo sobre ele. Suas mãos fortes deslizam pelas minhas costas, pressionando contra a pele nua acima do meu vestido. Ele varre a mão sob o tecido e cobre minha bunda, puxando-me para ele enquanto o beijo se aprofunda. Sean geme dentro da minha boca, e eu gostaria que tivéssemos mais tempo, tempo para lutar, tempo para ficar enrolado nos lençóis e tempo para explorar toda a maravilha que é Sean Ferro. Mas nós não temos. É possível que um de nós sobreviva, enquanto o outro morre hoje à noite. Estou dolorosamente ciente de que talvez não tenha a chance de


segurá-lo novamente. Sean deve estar pensando a mesma coisa, porque ele move as mãos para baixo dos meus lados e para a bainha do meu vestido, empurrando-o até as minhas coxas para que ele possa ficar mais perto de mim. Seu beijo se aprofunda e percebo que esse é o Sean que eu queria tanto. É o homem perdido entre a escuridão e a luz — o homem sempre lutando para ser livre. Eu o tenho aqui neste momento. Eu tenho os toques delicados, combinados com os movimentos fortes que fazem meu coração bater forte. Meu corpo se aquece, reagindo ao seu toque. Sua língua na minha boca me faz ronronar, e eu inclino a cabeça para trás querendo mais, mas Sean se afasta. Ele me segura com força por um momento, esmagando meu rosto em seu peito, apoiando em minha cabeça. — Se eu te perder... eu não posso, -— suas palavras são quase inaudíveis, e então elas sufocam. Eu agarro seus pulsos, puxando-os para o balcão, e deslocando meu peso até que eu esteja prendendo-o lá. Obrigando seu rosto e aqueles olhos tristes a encontrar os meus. — Você não vai me perder. Não essa noite. Nunca. E se algo acontecer, se nos separarmos por um tempo... Sean sacode a cabeça: — Avery, não... — Sean, me prometa. Diga! Diga-me que você não vai voltar para o monstro. Este é você. Aquele homem, o aterrorizante, não é você. Você se importa. Você ainda se importa, eu sinto isso. — Sorrio baixinho para ele e libero o aperto em seus pulsos antes de me inclinar. Desabotôo sua camisa Oxford e pressiono meus lábios contra o peito dele. Sean não me impede. Ele não me pede para não fazer isso. Aquele beijo gentil em seu coração, sobre o que ele considera seu ponto fraco, diz muito. Eu levanto a cabeça e olho nos olhos dele. — Prometa-me. — Eu prometo. Para todo o sempre. Eu vou agüentar, mas você tem que fazer o mesmo. Você não pode entrar no abismo. Ele vai ligar para você, e você tem que dizer não. Se eu não estiver aqui, me prometa que


você continuará, continue sorrindo. — Sua respiração está quente, derramando sobre mim enquanto ele fala. Seu tom está em meio termo, e me pergunto se esta era a voz dele antes que sua vida fosse invadida por sombras. — Eu prometo. Eu o observo por um momento, e quando seus lábios caem sobre os meus, eu separo meus lábios e deixo que ele me beije profundamente. Suas mãos seguram minhas costas enquanto ele me puxa para ele, pressionando seu corpo contra o meu. Enquanto ele prova minha boca, girando sua língua com a minha, eu arqueio minhas costas, empurrando contra ele, desejando que eu pudesse ter mais. Não há tempo para isso. Mel virá nos procurar a qualquer momento. Aliás, já estou atrasada. Eu paro de pensar e deixo de lado a preocupação que está fazendo minhas entranhas se contorcerem de medo. Pego as calças, soltando a fivela antes de desabotoar a calça jeans e abaixar o zíper. Os lábios de Sean se movem para o meu pescoço enquanto eu libero seu comprimento duro. Eu o levo na minha mão e sinto sua pele quente ao meu alcance. Deslizo minha mão sobre ele de novo e de novo, antes de puxá-lo em direção ao V no topo das minhas pernas. Eu empurro o fio-dental fora do caminho e guio-o para o lugar certo. Sean tira a cabeça do meu pescoço e me observa guiá-lo. Seus lábios se separam enquanto ele solta o suspiro mais pecaminoso que eu poderia imaginar. Nós nunca somos tão gentis, tão suaves. Eu não quero que ele se contenha. Assim que ele está no lugar certo, eu pego sua bunda com as duas mãos e bato nele. Seu eixo desliza dentro de mim e eu suspiro, jogando minha cabeça para trás. Sean permanece quieto enquanto eu envolvo meus tornozelos em torno de sua cintura e pressiono contra ele, empurrando meus quadris para os dele, fodendo-o com força. Depois de um momento, eu grito com um pequeno clímax e me agarro a ele, pulsando quando volto para baixo. É quando Sean assume.


Ele balança contra mim lentamente, pressionando mais profundamente, espalhando minhas pernas ainda mais antes que ele me tire do balcão e se incline contra a parede. Olhando nos meus olhos, ele impulsiona, empurrando, segurando-se lá. Ele sussurra em meu ouvido, sorrindo maliciosamente, — deixe-me fazer isso. — Ele move seus quadris lentamente, me provocando, me fazendo querer mais. Eu não tenho ideia do que ele está falando, mas o desejo de lutar contra ele está se tornando difícil de ignorar. — Fazer o que? Ele empurra para dentro de mim e sussurra em meu ouvido: — Eu quero fazer você gozar. Deixe-me. — Sua voz é profunda, um tom de comando que me faz pensar no que ele quer fazer. Eu concordo, e ele me move de novo, de volta para o longo balcão na parte de trás dos chuveiros. Quando a escola estava em funcionamento, as meninas se sentavam em frente a esse longo espelho para fazer o cabelo. Sean me coloca de volta no balcão e, em seguida, agarra meus tornozelos, me puxando para a borda. Meu vestido rola até a minha cintura, mostrando minha pequena calcinha. Sean coloca os polegares ao redor dela e a arranca. Levanta até o nariz e inala. A intimidade da ação faz com que borboletas surjam dentro de mim. Elas voam dos meus dedos das mãos até os dedos dos pés, me fazendo sentir leve e amada. Então Sean oferece um sorriso de lobo, enfia minha calcinha no bolso e segura meus tornozelos sobre minha cabeça. Ele empurra para baixo sua boxer e libera seu pau, antes de pressioná-lo contra o meu núcleo. Eu respiro fundo e gemo. Ele está duro, quente e eu o quero tanto que me contorço. Sua mão desce na minha bunda, fazendo-a arder. — Não se mova. Eu tento ficar quieta enquanto ele me provoca duramente, movendo seu pau sobre minhas partes sensíveis, mas não escorregando para dentro. Eu gemo e tento cavar minhas unhas na bancada, implorando a


ele. Sua voz me faz abrir os olhos. — Avery, olhe no espelho enquanto eu te fodo. Eu olho para ele por um momento e viro a cabeça para o lado. Eu posso vê-lo, me ver. Meus tornozelos estão em seus ouvidos, pressionados em seu aperto firme. Ele empurra em mim lentamente, tomando seu tempo sobre isso. Minha boca se abre em um ―O‖, e quando eu me esqueço do espelho e olho para ele, há uma picada aguda na mão dele me batendo. — Só olhe no espelho, — ele rosna, empurrando mais forte desta vez. É tão difícil manter meus olhos abertos, mas eu faço. Eu olho através de cílios baixos enquanto ele me fode na bancada, empurrando com força e profundamente. O olhar em seu rosto, o modo como suas costas se arqueiam com cada impulso é divino. Eu quero lamber cada centímetro dele. Os olhos de Sean estão em mim enquanto eu mantenho meus olhos no espelho. Ele respira: — As expressões que você faz são lindas. Não feche os olhos. — Ele me pressiona com força e, em seguida, puxa um pouco, batendo em mim mais profundo desta vez. Eu arrulho, sentindo o sorriso no meu rosto antes de vê-lo. Eu o adoro. O olhar diz isso. Meus cílios estão abaixados e os cantos da minha boca estão inclinados para cima. Minhas mãos estão perto do meu pescoço, as pontas dos dedos enrolando um cacho. Sean balança em mim, desenvolvendo um padrão que me deixa louca. É quase como se ele estivesse me provocando de propósito, mas seu pau está dentro de mim. Mesmo assim, quero mais. Eu gostaria de poder senti-lo mais profundo. Eu choramingo, e ele desloca meus tornozelos e os pressiona para trás, me dobrando ao meio. Ele os pressiona para o balcão e sorri. — Você é flexível. — É uma coisa boa também.


— Sim, é. — Ele beija a ponta do meu nariz, antes de perguntar: — Você se importaria de segurá-los? Eu não posso evitar, eu sorrio. — Então você pode fazer o que? — Foder você sem sentido. — Acho que sim. — Eu seguro meus tornozelos ao lado da minha cabeça e então tudo muda. Quando ele empurra neste momento é muito mais profundo, pressionando de uma maneira deliciosa que me faz gritar. Eu imploro por mais, e ele me dá, empurrando mais forte, me fodendo mais profundo. Ele balança em mim, uma e outra vez, me provocando, puxando para o meio e depois empurrando com força. Ele me fode assim enquanto eu vejo meu rosto no espelho. Minhas pálpebras estão pesadas e minha boca está em constante O implorando por mais. Eu não tenho ideia do que estou dizendo, mas eu resmungo e choramingo quando ele me fode e, quando eu não aguento mais, ele entra em mim rapidamente até eu sentir algo profundo dentro de mim. O orgasmo me atinge com força e rapidez. Antes que eu perceba o que aconteceu, Sean cai de joelhos e enterra o rosto entre as minhas pernas, lambendo o meu gozo em traços lentos e molhados. Eu grito, segurando o balcão. Minhas pernas tremem e caem porque não posso mais segurá-las no lugar. Enquanto meu corpo pulsa, Sean pressiona sua língua dentro de mim, lambendo, saboreando e me tocando até que eu esteja completamente satisfeita. Quando ele levanta o rosto, sua nuca está brilhando. Ele sorri para mim. — Você é perfeita. — Ele se afasta das minhas pernas e fica em pé. Então ele se inclina sobre mim, me beija levemente e levanta minha calcinha. — A propósito, vou ficar com esta. Eu me sinto tão viçosa e leve. Eu tenho um sorriso idiota no rosto quando pergunto: — Por quê? — Para me lembrar que o sexo com você é melhor assim.


Eu me apoio em um cotovelo e pergunto: — E se eu quiser ter medo sem sentido e foder duro? Quem eu deveria pedir para me fazer então? Sean corre para mim, fazendo cócegas em mim e me pega como se eu não pesasse nada. — Eu sempre peço para te foder. Eu farei o que você quiser, do jeito que você quiser. Eu só estou dizendo que esse tipo de sexo não está fora da mesa. Na verdade, transar com você em uma mesa seria muito divertido também. — Ele me balança e depois me coloca de pé. Minhas pernas parecem gelatinosas, e eu balanço por um momento, segurando sua cintura e desejando poder enterrar meu rosto em sua virilha por um bom tempo. Eu chupo meu lábio e olho para ele. Sean sorri. — Você é perfeita, completamente, perfeita para caralho. Nunca mude, senhorita Smith. — Eu não sonharia com isso, Sr. Jones.


Capítulo Quatorze Sean se veste, me olhando com uma expressão perversa no rosto. Ele puxa sua calça jeans preta, remexe-se no suéter apertado e coloca um casaco preto por cima. Eu sorrio para ele e puxo o tecido em sua cintura. — Onde você conseguiu isso? Sean sorri de maneira infantil. — Marty. Ele disse que um dos clientes regulares de Vic usa essa coisa e eu ficaria menos perceptível nisso. Henry também tem um. Você gosta disso? — Talvez se você estivesse nu por baixo. — Eu sorrio para ele e beijo seus lábios suavemente. Eu me afasto, desejando que tivéssemos mais tempo. — Vejo você mais tarde. — Você sabe que sim. — Eu sorrio enquanto ele se afasta, sentindo meu peito se contrair até que eu não possa respirar. Nós dois agimos como se as coisas dessem certo, mas se eu aprendi alguma coisa, é que não há promessas na vida.  Meu coração não vai ouvir minha cabeça enquanto eu dirijo meu carro velho em direção ao escritório de Miss Black. Esta é a última vez, a última coisa que tenho que fazer para me libertar dela e de Vic Jr. Este será o fim de tudo. Eu apenas tenho que sobreviver. A liberdade é um objetivo atraente. As pessoas lutaram por isso, morreram por isso. Várias gerações de pessoas tiveram pior do que eu. Eu não pretendo liderar uma revolução. Não sou essa garota. Eu tenho certeza que eu não sou essa garota também, mas neste momento, eu só tenho duas opções — morrer ou lutar. Então eu agarro o volante até meus dedos doerem e desviar do tráfego até que eu pare na frente de uma farmácia. As borboletas no meu


estômago têm asas afiadas e me cortam por dentro. Estou pronta para vomitar novamente, mas não tem nada a ver com Black. Eu esfrego a mão sobre o meu estômago em um movimento suave. Não me escapou que eu me senti cansada e enjoada nas últimas semanas. Parece estar piorando, não melhora. Eu não sou idiota. Sei o que isso significa. Eu sei que não é stress. Mas eu quero a prova. Preciso saber com certeza. Saio do carro, entro na loja, ando pelo corredor e pego um teste de gravidez na prateleira. Com o coração martelando, meio querendo que seja verdade e meio temendo o pensamento de passar a noite com um bebê na barriga, eu vou em direção ao caixa. No momento da saída, meus olhos estão vidrados. A caixa tem trinta e poucos anos, cabelos ruivos desgrenhados, enrolados em um coque e presos por um lápis. Ela sorri para mim. — Você está bonita. Eu olho para ela. — Obrigada. — Meu rosto está comprimido de preocupação. Ela tem pena de mim, inclinando a cabeça para o lado, dizendo: — Há um banheiro nos fundos. Normalmente é reservado apenas para funcionários, mas é seu se você quiser. Ninguém vai te incomodar por lá. Somos só a Tina e eu esta noite. — Obrigada. Sou grata por isso. Ela assente secamente, abaixa a cabeça e caminha com passos decididos em direção à parte de trás da loja. Eu a sigo com o meu item escondido em um saco plástico. Nós passamos por uma porta e depois para uma sala de descanso. Há um pequeno banheiro na parte de trás. Ela acende a luz e sorri gentilmente para mim.


— A vida é um desafio para se viver e ainda mais difícil de planejar. Você pode fazer isso, no entanto. Aguenta aí. Ela aperta meu ombro e eu quase começo a soluçar, apenas conseguindo me segurar sem responder. Eu aceno para ela, entro no banheiro e fecho a porta. Eu tenho que estar grávida. Eu estou completamente louca. A gentileza está me fazendo soluçar, e se eu ver outro comercial de loção de bebê, vou comprar ações da Kleenex. Eu não espero. Não demoro e olho para a caixa. Rasgo a embalagem, leio as instruções e, depois de fazer tudo certo, espero. Dobro meus braços no peito e começo a me olhar no espelho. Meu polegar está entre meus lábios e estou pronta para mastigar minhas unhas. Eu quero pular, gritar e rir de uma vez. Enquanto fico lá e vejo a caixa de controle acender meu coração bate mais forte. Eventualmente, minhas mãos envolvem o meu meio, e eu seguro com força, esperando, observando. Há um buraco no centro do meu peito que vai se encher de calor se for positivo. Eu posso sentir isso. Acidente ou não, eu quero esse bebê. Eu nunca teria coragem de planejar uma gravidez e dar boas-vindas a uma pequena vida nesse mundo. Nem em um milhão de anos. Meu estômago azeda enquanto espero e assisto. São dois minutos de tortura. Dois minutos de sonhos, coisas que eu jamais diria que eu nunca sonhei antes. Minhas unhas cravam em meus braços quando eu me afasto do teste. Até agora não há segunda linha, nada. Eu não posso ficar olhando, assistindo e vendo nada acontecer. Talvez eu não esteja grávida. Talvez seja o estresse ficando totalmente louco. Eu quero chorar. Sinto que perdi o bebê que nunca tive. Uma lágrima desce pela minha bochecha, bagunçando minha maquiagem. — Pare de chorar, — eu me repreendo em voz alta. — Há outras coisas mais urgentes acontecendo esta noite. Foco, Avery! — Eu respiro profundamente, endireito a coluna e viro para pegar o teste e jogá-lo no lixo. Quando olho para o pedaço de plástico, há uma segunda linha.


Estou grávida.


Capítulo Quinze Eu suspiro, e isso se transforma em um grito feliz. Eu rio, pego a vareta que eu fiz xixi e pulo para cima e para baixo. Eu quero contar a alguém, mas não posso dizer ao Sean ainda. Temos que passar a noite primeiro. Há uma boa chance de eu não sair disso e ele sim. Ele sobreviverá porque ele sempre sobrevive. Eu acredito nisso. Eu tenho que acreditar ou fico louca pensando na alternativa. Eu não poderia deixá-lo passar pela perda de um filho novamente. Ele vai morrer por dentro. O monstro irá consumi-lo totalmente desta vez. Eu puxo a porta e viro para a funcionária. — Estou grávida. — Minha voz está trêmula e minhas mãos tremem. Eu ainda estou segurando a vareta como se ela fosse uma barra de ouro. Ela dá um mega sorriso para mim. — Parabéns! Você vai ser uma ótima mãe. Eu posso dizer o quanto você quer esse bebê. Não foi planejado, foi? Eu balanço a cabeça. — De modo nenhum. Eu estou tomando pílula. Não tenho certeza do que aconteceu. Ela encolhe os ombros. — A vida acontece inesperadamente às vezes. Eu amo essa música. Eu aceno para ela. — Sim.


Capítulo Dezesseis Puta merda. Tem um bebê dentro de mim. Um bebê! Isso não pode estar acontecendo. Estou tão animada que não consigo pensar. Eu vôo para Black e percebo que preciso desacelerar e focar. Ela não pode saber disso. Nunca. Eu preciso ser uma empresária fria, assim como ela. Se Black não acreditar em mim, se ela não estiver certa de que eu terminei com Sean e farei qualquer coisa que vier pela frente, eu estou ferrada — todos nós estamos. Eu solto mais um grito, excitada pelo bebê, e bloqueio o pensamento no fundo da minha mente junto com um monte de outras coisas que eu não posso lidar agora. Esta parte do plano pesa nos meus ombros, me esmagando. Eu paro na frente do prédio de escritórios de Black. — Você pode fazer isso, Avery. Você pode fazer isso —, eu canto, não acreditando. Eu puxo o retrovisor, com a intenção de me dar uma conversa de motivação mais elaborada. Ele sai na minha mão. Eu olho para o clipe de plástico nas costas e viro o espelho na minha mão. O vidro brilha para mim e começo a rir. Mesmo que Sean tenha reparado e restaurado este carro de pára-choque a pára-choque, ele ainda tinha uma parte original. Eu sorrio para mim mesma e afundo de volta no meu lugar. Minha vida tomou uma tangente selvagem, voando para um território que eu nunca ousaria olhar, levando-me a entrar em uma zona de guerra como a presa e o prêmio. Não é de admirar por que a mamãe sempre foi frenética. Eles esconderam isso de mim tão bem, que eu nunca tive uma pista. Papai sempre fazia questão de estarmos sob o radar e mamãe era uma mãe. O que mais uma criança poderia pedir?


Inclinando-me para frente no meu assento, coloco o espelho no painel e passo minha mão pela minha barriga uma última vez pensando que é uma garota. Deve ser. Eu posso sentir isso, o que não faz sentido. Eu digo para o bebê, pela primeira vez e possivelmente a última: — Você e eu não vamos fugir. Nós não vamos nos esconder. Nós estaremos livres de tudo isso. Eu prometo isso a você. Determinação que eu não sabia que possuía, flui pela minha espinha, endireitando-me, enchendo-me de coragem. Eu sobreviverei. Eu vou passar por isso. Eu tenho que fazer isso. Por ela.  Quando as portas do elevador se abrem, Gabe está lá. Ele está de terno preto e camisa branca. Uma gravata escura está amarrada em volta do pescoço e seus sapatos bem gastos são recém-engraxados. Ele acena para mim e aperta um botão com um dedo musculoso, levando-nos ao andar de cima. — Boa noite, senhorita Stanz. — Hey, Gabe. — Eu estou com os ombros para trás, olhando para frente. Ele não diz nada sobre Mel ou Sean. Nada sobre o plano desta noite, mas sei que ele vai me proteger. Eu aceno para ele quando as portas se abrem, depois saio do elevador. Em passos lisos e longos, eu ando pela sala, passando por mesas vazias, e caminho direto para o escritório de Black sem bater. — Olá, Sta. Black. — Eu falo com autoridade, com a confiança que eu não senti até alguns momentos atrás. Ela está em sua mesa, irritada, entrei sem ser convidada. — Avery, suas maneiras poderiam ser trabalhadas. — Assim como as suas. — Estou segurando minha bolsa na minha frente e inclino meu queixo para cima.


Black oferece um meio sorriso e levanta-se. Um vestido vermelho abraça sua forma esbelta, escavando no pescoço, e seguindo seu corpo até abaixo do joelho. Uma corrente grossa de ouro está pendurada no pescoço, com três chaves decorativas penduradas no final. Cada uma tem um tom diferente de ouro — amarelo, branco e ouro rosa. Uma chave é simples, lisa, enquanto a outra tem diamantes brilhando ao longo do eixo. Elas são as chaves de sua mesa de cabeceira, o conjunto escondido na gaveta

secreta.

Seus

lábios

estão

pintados

de

vermelho

sangue.

Juntamente com suas feições angulares, maquiagem escura dos olhos e cabelos escuros, ela está impecável. Nada é melhor que isso. Miss Black sempre parece melhor que todos. Ela se orgulha disso. Ela arqueia uma sobrancelha perfeitamente depilada enquanto caminha em minha direção, os braços delgados dobrados sobre o peito amplo. — Nós ganhamos coragem? — Ela para na minha frente, olha para o meu rosto a menos de trinta centímetros de distância. — Talvez ela estivesse lá o tempo todo. — Tenho o cuidado de não sorrir e reprimir minhas emoções, escondendo-as. Elas vão me foder demais. Eu tenho que ser fria, copiá-la fielmente. Ela precisa pensar que eu gosto dela, que eu quero ser como ela. Ela precisa acreditar de todo coração. Black ri levemente. — Eu teria visto isso. — Sei que sim. — Eu passo mais perto dela e encontro seu intenso olhar. Black não é o tipo de mulher com quem você brinca. Ela vai limpar o chão comigo se eu a irritar. Há uma linha tênue entre confiança e arrogância. Espero que esteja do lado certo porque comer carpete não parece atraente. — Você viu isso em mim desde o primeiro dia. Você sabia do meu potencial e me chamou. Eu fui à idiota que negou isso. Black inspira lentamente, como se estivesse usando um cigarro. Seus olhos estão fixos nos meus, me esmagando sob o seu olhar. — A bajulação é imprópria.


— Fatos, — eu corrijo, — estão longe de lisonja, Miss Black. Ela estreita os olhos para fendas e varre o seu olhar sobre mim. Com uma unha bem cuidada, ela aponta para a balança. — Suba. Pare de perder tempo. — Suas últimas três palavras não são afiadas. Eu posso dizer que ela gosta de ter seu ego acariciado, então eu não vejo isso vindo quando ela me surpreende. Larguei o vestido e subi na balança. Ela me mede, escreve, e depois senta na beira da mesa sem me dar permissão para me vestir. Então eu fico lá, com pouca roupa, olhando para os saltos polidos, vermelho fodame. Sua voz é profunda, direta e atada com um tom de aviso. Ela equilibra a caneta entre os dedos indicador e médio, movendo-a para cima e para baixo. Um movimento inquieto. Ela nunca se comportou assim. Espero que ela fale e fique quieta, absorvendo a tensão em sua mandíbula e a maneira como ela tenta parecer relaxada, mas ela não consegue. Eu não teria percebido quando a conheci, mas faço agora. Ela está preocupada. — Eu tenho um problema, Avery. Um dilema muito sério. Como eu vou saber, estar totalmente confiante de que você fará o que eu pedir sem perguntas hoje à noite? No passado, você provou ser imprudente e, com esse cliente, não pode ser. Você tem que me obedecer completamente sem qualquer discernimento, sem qualquer razão. Eu não acho que você é capaz disso. Sua aparência, sim, é perfeita. Ele prefere uma mulher com quadris mais largos, mesmo em um papel consultivo. Mas sua disciplina é totalmente deficiente. Eu não discuto com ela. Eu sinto todo o plano saindo de minhas mãos, indo em direção a uma queda livre. Tem que ser agora, esta noite. Tudo está no lugar. Por um momento, acho que ela sabe que estávamos em sua casa. Talvez Connie tenha dito a ela. Talvez ela tenha notado o abridor de cartas que faltava. Droga.


No passado, meus pensamentos teriam tocado no meu rosto como um filme, mas não hoje à noite. Eu fico ali, ombros retos, relaxados, mas confiante. Um pensamento passa pela minha cabeça. É um pouco insano, mas percebi isso antes, e é impossível ignorar agora. A maneira como os olhos de Black permanecem nos meus quadris e no inchaço dos meus seios. Eles permanecem lá por muito tempo. Seus lábios se separam e ela pisca lentamente, pensando em algo que ela não pode ter — algo que ela quer fazer, mas sabe que não deveria. Eu ajo. Ela tem que acreditar que é sincero ou não vai funcionar. Eu não sou essa mulher. Eu não me sinto assim, mas sei que ela se sente assim. Eu passo em direção a ela nos meus calcanhares e inalo lentamente, deixando o ar fazer meu peito subir. Meus seios se esticam contra a renda pura, enchendo o sutiã. Chego a um sussurro do rosto de Black, perto o suficiente para beijá-la, mas sem tocá-la. Eu movo meus lábios lentamente, com cuidado para mal escovar o lado de sua boca quando falo. — Talvez você nunca tenha percebido onde minha lealdade realmente reside. — Eu puxo um pouco para trás, o suficiente para ela chamar minha atenção. Quando nossos olhares se fecham, meu pulso ressoa em meus ouvidos. Seu olhar cai para os meus lábios, depois para o meu sutiã e de volta para minha boca. — A lealdade é rara — Estou ciente disso. Black me olha com cautela, mas ela não se afasta. — O que você está sugerindo? — Nada que você não queira. — As palavras saem dos meus lábios, lentamente, com certeza. Black está fascinada, me observando de perto, respirando com tanta força que seu peito incha, fazendo seus seios escovar os meus por um momento antes de expirar. Black persiste, lutando contra isso. Ela


sabe que eu estou morta, depois de hoje à noite. Eu suspeitava que ela me queria, mas eu não tinha ideia do quanto. Ficar tão perto por tanto tempo está atormentando-a, mas ela parece não conseguir se recompor. Eu abalei a mulher com o coração de pedra. Eu me arrisco de levantar a mão e pegar uma mecha de seu cabelo escuro, deixando-a cair em uma onda suave por seus olhos. Eu a varro de volta suavemente, mal tocando sua pele e ela estremece. Finalmente a peguei. Eu entendo-a. Sexo é poder, mas ela não tem interesse em homens. Agora não. Seu interesse por Sean nunca foi sobre ele — era eu. Ela me queria para si mesma. Isso muda as coisas. Eu posso usar isso. Isso pode nos salvar. Eu tenho essa chance. Tenho que ter. Há muitas vidas na linha, e não apenas a minha. Eu me inclino e fecho a distância entre nós, roçando meus lábios nos dela. Ela para de respirar, congela. A caneta cai dos seus dedos e rola sob a mesa. Eu abro meus olhos e me concentro em seus lábios, fingindo que ela é Sean. Penso em como ele me deixa excitada e esqueço-me de mim por um momento. De olhos fechados, eu me inclino e pressiono meus lábios completamente nos dela, acariciando a costura do seu lábio com a minha língua. Black estremece e suspira antes de se desfazer. Sua mão encontra minha bochecha e eu me forço a pensar nessa mão como sendo a de Sean. Eu finjo que ela é ele, inclino-me em sua palma e a beijo mais profundamente. Ela ronrona na minha boca e emaranha as unhas no meu cabelo enquanto ela se levanta e pressiona seu corpo no meu. Uma voz e uma batidinha de dedos na porta aberta soam atrás de mim. — Isso é um novo requisito de trabalho? — Mel pergunta, meio brincando. Tremendo, Black se afasta rapidamente. Seus olhos brilham com uma suavidade que eu nunca vi nela. Eu não sou aquela que quebra o beijo. Eu não sou aquela que se afasta. Ela faz e praticamente anda atrás


de sua mesa como um gato assustado. Mel a pegou tão desprevenida que Black parece incapaz de falar, então eu falo. — Sim, venha aqui. — Eu estendo meus braços para ela e sorrio. Mel bufa e acena a mão para mim. — Se não se importa, eu prefiro homens. Eu encolho meus ombros e minto, — isso é o que eu pensava até muito recentemente. — Eu me viro e olho para Black por cima do meu ombro com uma serena confiança que eu com certeza não sinto. Minha mente estava ficando louca e meu corpo estava confuso. Adicione um comercial de loção para bebês e eu vou agir completamente insana de todas as maneiras possíveis de uma só vez. Mel me dá um olhar ‗Que Diabos é Isso‘ quando Black está com os olhos no chão. Eu dou de ombros como se não fosse um grande negócio e depois dei a ela um olhar que dizia para esquecer isso. — Mudando de lado? — Há um duplo significado para a pergunta dela, uma nitidez que me preocupa. Black recupera o controle de si mesma novamente. Ela levanta a cabeça rapidamente e repreende Mel. — Escolher os lados não é necessariamente uma mudança, não quando ela não tem escolha. Peço desculpas por ignorar esse aspecto das coisas. Não vai acontecer de novo. O queixo de Mel cai e eu sorrio. — Não se desculpe. Nunca. Você é melhor que isso. Melhor do que todos nós. Os olhos de Mel se arregalam quando a testa dela se enruga, mas Black não vê. Seus olhos estão em mim, trancados com os meus. Eu apenas tomei a melhor decisão ou a pior possível. Ainda é cedo para dizer. Black me observa, seus olhos suaves e sua expressão ilegível. Eu não tenho ideia do que ela está pensando, mas quando ela sai e olha para Mel, ela voltou a ser como era antes. — Senhoras, o cliente desta noite


tem gostos incomuns. Fico feliz em ver que você está disposta a ir além, Miss Stanz. O jeito que ela olha para mim faz minhas bochechas queimarem. Eu não escondo meu rosto. Eu apenas aceno. Não é de estranhar que ela use meu sobrenome. Ela prefere a formalidade com aqueles que ela respeita. Isso me distinguiu de Mel em sua mente. Não tenho certeza se isso é bom, mas pelo menos agora eu sei o que a enfraquece. Isso pode me ajudar a ganhar vantagem se eu perder hoje à noite. Eu farei qualquer coisa, tentarei qualquer coisa para superar isso. Não gosto do pensamento de Black acabar em um saco preto, mas é um mal necessário. Fechada, sem vida e por trás de uma camada de plástico, é a única maneira de ficar livre dela. Algo no fundo da minha mente grita, forçando um tremor nos meus braços. Minha pele se arrepia em uníssono, das pontas dos dedos ao pescoço, em uma onda rápida. É preciso tudo o que tenho para manter as emoções longe do meu rosto, para permanecer estóica — forte. Mas eu sinto isso mesmo assim. O sangue em minhas mãos, o homem que atirei o homem que descansa na floresta. Sua localização é desconhecida. Sua família nunca mais o viu. Ele desapareceu sem deixar vestígios, e eu fui à responsável. Sei que foi autodefesa, mas isso não faz nada pela minha consciência. Eu poderia e deveria ter tentado encontrar outro caminho. O homem teria vivido. Eu poderia ter sobrevivido. Matar nunca é justificado e, no entanto, aqui estou me preparando para massacrar as pessoas que tentam me matar. É um movimento preventivo. Isso é justificado. Mas parte de mim sabe que não é. A parte de mim que é empurrada para o meu armário mental, trancada para sempre, banida da luz do dia porque eu não posso encarar esses fatos, grito de angústia. Eu não gosto de quem eu me tornei. É tarde demais para mudar o rumo. Se eu fizer, meus amigos morrem comigo.


Black pisca para mim, esperando por uma resposta a uma pergunta que eu não ouvi. Mel arregala os olhos e levanta as sobrancelhas, me dando uma cara de 'responda a ela, sua idiota'. Em

algum

momento,

os

esqueletos

no

meu

armário

se

transformaram em demônios. Eles não estão sem vida, esperando para serem descobertos. Eles estão se formando logo abaixo da superfície, sempre ali, ansiosos por uma chance de me arruinar. Eu não sou tola. Sei que filtrar as coisas que fiz só vai me fazer desmoronar. Se eu tiver que ser uma maldita sociopata para viver esta noite, eu serei, eu farei. Eu não penso duas vezes. Vou me matar para ter certeza de que meu bebê tenha uma chance de viver. Eu vou destruir qualquer chance que eu tiver de conciliar quem eu sou com o que eu fiz, se isso significar que Sean será capaz de segurar sua filha. Eu me pergunto se é assim que Constance acabou do jeito que ela é, se ela chegou muito perto da beira do declive escorregadio e uma vez caída, não poderia subir. A corrida para o fundo não é gloriosa. Não é nobre. É desprezível e eu faço parte disso. Eu não sou melhor que Constance. Não melhor que Black. Eu engulo em seco enquanto esses pensamentos passam pela minha mente. Eles vêm em uma explosão rápida que mal consome o tempo necessário para expirar. Eu me protejo, enquanto tento impedir a onda de horror que cresce dentro de mim. — Não tenho certeza se entendi isso. Você pode dizer isso de outra maneira? Mel suspira tão alto que ela cospe. Ela fala com as mãos, irritada. — Sta. Black quer que fiquemos juntas esta noite. Ela está fazendo uma introdução que tem conexões com pessoas que você vai querer como clientes quando for uma cafetina. — Mel sabe que eu não estava ouvindo e repete os fatos, então eu não sinto falta de nada. — Black montou a introdução, e já lhe apresentou os termos. Tudo o que você tem a fazer é aparecer com sua folha de especificações e acompanhá-lo, preenchendo-a. Ah, e ela vem com a gente. — Mel move um dedo na direção de Black e me lança um olhar sem esperança.


Black não deveria estar lá. Isso não faz parte do plano e causa um grande problema para o resto de nós. — Desculpe-me, você está vindo? — Eu olho para Black e sorrio para ela suavemente, abaixando a minha voz para um sussurro gentil. — Isso não é realmente necessário, é? — Eu toco seu braço com as pontas dos meus dedos e mal escovo sua pele. Black fica rígida, parando no meio da respiração, com os pulmões enchendo o peito. Isso força seus seios a inchar e empurrar o tecido vermelho de seu vestido. Seus olhos escuros encontram os meus e ela solta a respiração lentamente. — Não, não é. Na verdade, eu não planejei acompanhá-la. No entanto... — sua voz se esvai enquanto seu olhar permanece trancado no meu com uma expressão ilegível. Isso é arrependimento? Eu não posso dizer. Mel oferece: — Eu posso lidar com ele, se necessário. Além disso, Gabe estará por perto, então você só precisa ir se quiser. — E eu quero. — Há um caráter decisivo em seu tom, que fecha a conversa. Eu olho para Mel e sei que nós duas estamos pensando a mesma coisa. Estamos ferradas.


Capítulo Dezessete Nós

deveríamos

conversar

com

Gabe

no

caminho

para

a

propriedade de Vic Jr., finalizar qualquer mudança de último segundo com Marty, e então nos encontrar com Sean e Henry assim que estivéssemos dentro do prédio. Isso não é possível com o Black no reboque. Sento-me no fundo da limusine e troco olhares nervosos com Mel. Nenhuma de nós diz uma palavra enquanto nos dirigimos para a costa sul de Long Island. Gabe não olha para nós, não tem nenhum sinal de tensão no banco da frente. Eu me pergunto há quanto tempo ele está disfarçado porque estou pronta para vomitar. Eu torço a pulseira de ouro em volta do meu pulso e esfrego a conta preta redonda entre meus dedos. Os de Mel coincide com os meus, mas ela não se incomoda. O movimento atrai os olhos de Black e ela olha para os meus dedos, a pedra e depois para o meu rosto. — Você tem o bracelete ajustado, eu vejo. O que? Eu olho para a faixa de ouro. É idêntico ao antigo, com uma exceção: é do tamanho certo. Eu esqueci que meu bracelete original era tão grande que eu tive que usá-lo no meu tornozelo. Black percebe pequenos detalhes como esse, detalhes que Henry ignorou ao fazer as pulseiras. Eu sorrio como se fosse uma boa lembrança e largo a conta. — Sim, ele se encaixa muito melhor agora. Não cai. Black inclina a cabeça, estende a mão e espera que eu ofereça meu pulso. Mel cuidadosamente nos ignora. Se as pulseiras não chegarem dentro da casa de Vic, então estamos todos fodidos. Meu coração bate


quando eu ofereço meu pulso para a mulher. Ela pega minha mão e examina o ajuste, balançando a cabeça e soltando meu braço. — Bem feito. Eu engulo em seco e não digo nada. Seu olhar retoma o olhar vazio para frente. O carro enche com uma tensão palpável, quanto mais nos aproximamos da casa de Vic. Quando chegamos, entramos no caminho sinuoso e alinhado de árvores e nos dirigimos para a grande casa. É afastado na propriedade, oferecendo isolamento e privacidade como um bastardo doente como Vic precisa. Meu coração bate em minhas costelas e minhas mãos ficam escorregadias de suor. Eu me concentro na missão, tentando permanecer calma. Se eu perder minha merda, não vou poder pensar. E é evidente que vou precisar estar alerta hoje à noite. O carro puxa para dentro do círculo em frente à casa. A fachada é de ardósia e pedra cinzenta. As luzes inundam a pedra, acentuando as linhas arquitetônicas do prédio. Árvores altas e estreitas formam pináculos nos canteiros de flores, e no centro do círculo há uma enorme fonte, grande o suficiente para nadar. Tem quatro níveis onde a água escorre para uma base enorme, que mais parece uma piscina no solo do que um adorno de paisagismo. Gabe para o carro, dá a volta e abre a porta para Black. Ela desliza para fora e se endireita. Mel sai em seguida, deixando-me sozinha no carro. Gabe me oferece sua mão, e quando eu aperto a palma da mão na sua, sinto o raspar de papel sendo pressionado na palma da minha mão. Eu não digo nada e finjo ajustar a alça do soutien depois de levantar. Eu me viro brevemente, ajusto meu soutien e enfio o pedaço de papel fora de vista. Eu não posso ler agora. Ela vai ver. Gabe percebe, mas não diz nada enquanto volta para o banco do motorista e se afasta. Meu estômago se enche de chumbo e não consigo fazer meus pés se mexerem. A morte espera por mim naquela casa. Eu não posso ir.


Black se move em passos largos e rápidos em direção à enorme porta da frente. Mel está atrás dela até perceber que não estou me movendo. Eu mal posso respirar. Parece que tem um elefante sentado no meu peito. Mel engancha o braço no meu e se inclina, sussurrando: — Você pode fazer isso. Não digo nada. Em vez disso, olho para a porta e sinto meu estômago afundar em meus calcanhares. — Isso não está certo. — Não me diga, mas não há muitas opções agora. Nós não podemos abortar. Ela saberá que sabemos. Porra, Vic vai saber e ele virá atrás de nós. Esta é a nossa única chance. Mova seus pés. Pare de pensar. Apenas aja. Eu dou um pequeno aceno e olho para ela. — É isso o que você faz? — Sim, há uma razão pela qual eu pratico com facas, Avery. A memória muscular é mais rápida que qualquer outra coisa. Não pense. Apenas aja. Black está na porta, olha para nós lentamente caminhando em direção a ela e toca a campainha. Eu sussurro: — Tudo bem. Quando Marty estiver aqui, tudo ficará bem. Ele levará a pulseira para a sala de segurança e Sean virá para mim. — Certo. Marty já resolveu tudo. Quando o encontrarmos, a parte mais difícil dessa merda vai acabar. O resto depende de Marty, Sean e Henry. Então você e eu damos o fora. Eu aceno e olho para ela. — No caso de não conseguirmos... Mel me interrompe: — Nós vamos conseguir. Tudo bem, então não há necessidade de nenhum sentimento agora. Foco. Temos que prender Black e Vic por tempo suficiente para Marty colocar Sean e Henry dentro. Nós podemos fazer isso.


— Black pode pôr tudo a perder. Mel olha para Black. — Eu sei. — Bem, então o que faremos? — Nós improvisamos e lutamos como o inferno. — Antes de estarmos ao alcance da voz de Black, Mel libera meu braço, finge estar ajustando meu vestido, puxa a saia e alisa o corpete. — E lembre-se, sobreviver justifica qualquer coisa. Não pense. Apenas aja. Eu me viro para a porta da frente e sinto um dedo gelado percorrer minha espinha quando a porta gigantesca se abre, e a luz se derrama na soleira da porta. A voz escorregadia de Miss Black enche minha cabeça, — Aqui é Sta. Black para ver Victor. Eu tenho uma reunião.


Capítulo Dezoito Somos levadas por corredores por um homem que eu nunca vi antes. Eu olho em volta, procurando por Marty, mas não o vejo. O pânico tenta arranhar o meu intestino e entrar na minha garganta, mas eu o bato de volta. Isso não significa nada. Enquanto andamos pela casa, Mel e eu seguimos Black em silêncio. O mordomo — com um terno preto elegante — abre uma porta para uma sala com enormes janelas em uma das extremidades, painéis de madeira do chão ao teto, com entalhes grossos e molduras ricamente esculpidas. Ele nos leva para dentro. — Sr. Campone estará com você em breve. Por favor, fique à vontade. O homem recua, fechando as portas atrás de si. Isso não está certo. Marty deveria ter nos encontrado no caminho. Esse foi o plano. Eu olho para Mel, que parece totalmente calma. Ela caminha até as janelas e olha para o extenso gramado. Os enormes holofotes iluminam áreas do pátio, acentuando uma piscina olímpica, bangalôs e uma quadra de tênis. As árvores formam uma parede de sombras escuras na parte de trás da propriedade. Sta. Black passeia pela sala até uma escrivaninha velha e senta na cadeira de couro de espaldar alto atrás dela. Ela se instala e passa os dedos como se fosse dona do lugar. Eu quero andar, mas não posso. Dou uma olhada para Black e vejo seus olhos. Sinto meus lábios se transformarem em um sorriso nervoso. Ela olha para longe de mim, seus olhos cortando para o lado rapidamente. As borboletas no meu estômago se transformam em pedra e caem uma a uma até que eu esteja tão enjoada que estou pronta para vomitar. Vou até uma seção de estantes embutidas e puxo um livro velho e grosso da


estante. Eu abro e finjo ler, cuidadosamente puxando a nota de Gabe e colocando-a

no

centro

da

página.

duas

palavras

rabiscadas

apressadamente. Oito pequenas letras que me atravessam, me rasgando: ELA SABE Sinto minhas costas endurecerem enquanto fecho o livro com o bilhete ainda dentro e coloco de volta na prateleira. Antes que eu possa dizer qualquer coisa para Mel, as portas se abrem e Vic entra com dois homens atrás dele. Vic está vestido com uma calça preta que abraça o quadril e tem a cabeça recém raspada. Seus olhos são duros e sem vida, o que parece ainda mais inquietante quando combinado com o sorriso brincalhão em seus lábios. Uma pontada gelada de pânico corre pelas minhas veias quando ele olha em minha direção. Ele abre os braços com um sorriso como se fosse me abraçar. — Mana! Bom te ver de novo. Você fugiu tão rápido da última vez, que não conversamos sobre negócios. Eu me forço a cuspir com calma o nome dele. — Victor. Mel olha para o homem lentamente e examina seus lacaios. São três a três, supondo que Black esteja do nosso lado. Eu posso dizer que ela está se perguntando a mesma coisa. Quanto mais ficamos sem avistar Marty, pior eu me sinto. Significa que nada deu certo e já estamos mortas. Vic se vira para Miss Black e ri amargamente. — Eu não me lembro de você ter sido convidada aqui hoje à noite. Seus dedos se juntam e ela olha para ele, completamente calma. — Prazer em ver você também, Victor. Há um assunto que precisamos abordar antes de qualquer outra discussão esta noite. Victor não esconde sua fúria. — Você está fodendo comigo? Você sabe o que eu faço com as pessoas mentirosas de meia tigela, não é, Black? Eu sei que você sabe, então o que é tão importante que você arriscaria me irritar?


Black se levanta, anda diretamente em minha direção e passa os dedos ao redor do meu bracelete. Ela puxa e o fecho aparece, quebrando a corrente de ouro. — Isso não é meu. Você pode querer investigar antes que a noite avance. Eu odiaria ver você gastar um bom dinheiro em algo que não virá a ser concretizado. — Ela balança o bracelete de ouro sobre a palma da mão antes de largá-lo. Vic levanta, olha para a pedra. — Senhoras, se importam em compartilhar o que você tem aqui? — A resposta é exigida. Sua voz não tem o tom questionador. Os olhos de Vic vão para o pulso de Mel e, quando ele vê a pulseira combinando, ele estala os dedos e empurra a cabeça em direção a ela. — Pegue. Seus homens caminham até Mel e arrancam a pulseira de seu pulso. Mel não revida, não reage. Tudo está indo para o inferno quando a porta se abre e Marty entra. Ele está vestido de uniforme preto com uma arma presa ao quadril. Há um fio que se conecta a um walkie-talkie no bolso traseiro. Quatro homens o cercam e está claro que ele está no comando, o que me surpreende. Eu pensei que Marty se misturasse aqui. A voz de Marty soa dura e firme. — Desculpe interromper, mas é necessário. — Ele está em alerta como um soldado reportando para o dever. A esperança preenche meu peito quando o olhar de Marty pousa em mim. Tudo ficará bem agora. Eu finalmente posso respirar, e a certeza envolve meus ombros e levanta meu queixo. Ele vai pegar o Sean para mim. Ele também conhece meu plano de backup. Eu posso fazer isso. Ele pode me ajudar. Eu posso fazer isso e tudo vai dar certo. Graças a Deus. Eu nunca estive tão feliz em ver alguém em toda a minha vida. Vic balança os dois braceletes no ar e pergunta aos homens: — Você sabe o que são?


Marty se aproxima para pegar as jóias das mãos de Vic. — Sim senhor. Este é o dispositivo que eu descrevi. Está alojado na conta. Mel percebe isso antes de eu fazer. Enquanto meu coração afunda e a negação grita dentro de mim, ela grita: — Seu filho da puta! Mel continua a vomitar maldições desagradáveis para ele enquanto um guarda se lança contra ela, tentando contê-la. Ela o corta quando ele tenta prender o braço dela atrás das costas dela. Um grito primal sai de sua garganta enquanto ela gira ao redor, facas na mão, golpeando qualquer um que se aproxime dela. Mais dois homens se aproximam, e os três a forçam ao chão antes que ela possa causar algum dano sério. Eles a derrubaram sem qualquer esforço. Ela é arrastada da sala, prometendo a Marty uma morte dolorosa. Sua voz desaparece no corredor e, de repente, fica em silêncio. — Marty, — eu digo, minha voz trêmula. Coração batendo, olho para ele e sinto minha mandíbula apertar. — Eu pensei que você se importasse. Vic assiste com prazer. Black está inexpressiva, como de costume, ainda atrás da mesa, como se fosse apenas mais um dia no escritório. A voz de Marty é fria. — Você pensou errado. Com os olhos estreitados em fendas finas, eu grito para ele, — Como você pôde fazer isso? Depois de tudo o que passamos. Por que você não me matou antes? Por que esperar até agora? Por que fingir ser meu amigo? Marty olha para o lado de Vic. Vic sorri e gesticula alegremente: — Vá em frente e diga a ela. É uma história maravilhosa, um presente. Tanto potencial. É bom ver do que você é feito, Masterson. Marty se aproxima de mim e olha para baixo, seus olhos dourados duros. Vic me contratou. Essa parte era verdade — tudo isso — mas


houve uma pequena omissão, e é a única razão pela qual você ainda está viva. Meu queixo lentamente cai quando eu coloco as peças juntas. Marty me salvou apesar de Vic me querer morta. Por quê? Por que arriscar? Black fala, parecendo entediada: — Victor, seu pai, contratou Marty, mas sua lealdade sempre esteve em outro lugar, antes mesmo que Victor, o pai, fosse morto a tiros. Você está viva porque Vic Jr. queria assim. Marty é um mercenário, Avery. Ele trabalha para o seu irmão. Eu digo a palavra NÃO, mas nenhum som sai. Marty fica parado e não diz nada. Ele não é presunçoso, arrogante ou qualquer coisa. Ele olha para frente como um soldado, enquanto Vic Jr. dá um tapa, rindo de mim. — A expressão no seu rosto é linda pra caralho. Eu não posso esperar para ver o que vem a seguir. — Ele faz uma pausa, levanta um dedo e acrescenta: — Espero por isso. O som de um tiro quebra a noite. Ele vira a cabeça na direção de Marty e pergunta: — O que foi isso? Marty balança a cabeça. — Mais um. Um segundo tiro soa antes que eu perceba o que isso significa. Vic sorri. — Você não dá tiros de advertência, não é, Masterson? — Não senhor. Meu peito parece estar rasgando em dois. Corro para a janela e olho para fora. Dois corpos flutuam de bruços na piscina com fitas vermelhas saindo de suas roupas pretas, tingindo a água cintilante. Eu posso distinguir as longas filas dos casacos das trincheiras daqui. Os cintos flutuam para a superfície da piscina enquanto as ondas do respingo inicial se acalmam.


Um walkie-talkie no quadril de Marty faz um som estático quando alguém fala em seu fone de ouvido. Marty acena para Vic Jr. — Está feito. — Finalmente! Dois Ferros para baixo. Eu sempre começo com o mais difícil de matar. Isso torna o resto do jogo muito mais fácil. — Ele solta uma gargalhada perturbada e então se aproxima de mim, bate a mão no meu ombro. Eu tento me afastar dele, do seu toque, mas ele não me deixa ir. — Você gosta de jogos, Avery? Porque eu escolhi alguns, só para você — e agora não há ninguém para te salvar. Nem Sean. Nem Mel. E com certeza, nem Marty. Ninguém. — Ele envolve seus lábios ao redor das últimas duas palavras e sorri sadicamente no meu rosto. Terror corre através das minhas veias, mas eu não consigo me mexer. Eu não posso falar. Minha mão está no meu estômago enquanto o horror me atinge com força. Vic se aproxima e sussurra em meu ouvido: — Somos só você e eu, irmãzinha.


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