5778 – Um ano repleto de promessas EQUILÍBRIO
Nova portaria leva ao centro do clube
LITURGIA
Iom Kipur em áudio e vídeo
EDUCAÇÃO
Escola de Israel ensina a empreender
Ano LVIII No 667
Setembro 2017 Elul 5777/ Tishrei 5778
PALAVRA DA DIRETORIA
A família é o berço de tudo, de tudo que fazemos, de tudo que buscamos. Tudo o que trabalhamos sempre é pela nossa família em quem nos inspiramos e de quem recebemos toda energia e amor para poder seguir o nosso caminho, as nossas batalhas. Temos que valorizar mais a instituição Família. Pode parecer óbvio, mas nos dias de hoje não é. Desmontam-se famílias como se fosse a coisa mais normal em atitudes às vezes intempestivas sem medir consequências. Quando a família está bem, esse círculo próximo faz todos os outros círculos ficarem bem; nosso humor, nossa saúde, o trabalho e a nossa disposição ficam melhores. Por isso, devemos valorizar mais essa fonte de energia e nos momentos bons vamos curtir, vamos nos abraçar, beijar, amar, e quanto mais melhor. E nos momentos difíceis, vamos nos unir, relevar, tolerar e batalhar juntos. Tudo isso me vem à lembrança quando vemos os acontecimentos pelo mundo. Barcelona, por exemplo, onde famílias passeavam tranquilamente e um ato brutal e bárbaro transformou esses doces momentos em tragédia. Quando vemos famílias que perdem filhos ainda crianças nos perguntamos em que mundo vivemos, afinal? De onde vem tanto ódio e tanta brutalidade? E por que razão? Acabou a tolerância religiosa, racial e de gênero? Nos Estados Unidos, atentados raciais e na Europa, religiosos. Essas pessoas não têm famílias ou
esse círculo familiar quebrou-se muito cedo e criou esses monstros? A resposta para o ódio é amor, muito amor, trabalhar as coisas positivas, trabalhar as raízes do bem e voltar a cultivar a família porque se tivermos bases sólidas certamente diminuiremos o ódio. Estamos no mês de Slichot (perdão) em que nos retratamos dos males que fizemos durante o ano e nos preparamos para Rosh Hashaná, para poder nos inscrever no Livro da Vida e pedir uma vida boa com saúde e prosperidade. Mas, para isso, temos de agir. Agir com amor, agir com honestidade e compaixão. Amar o próximo, fazer pelo próximo e principalmente sempre lembrar que a família é, de fato, a base de tudo. Shalom Shaná Tová Umetuká Avi Gelberg Presidente
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SUMÁRIO AGENDA NOSSO CLUBE NA NOSSA MIRA ENTREVISTA ACONTECE REGISTRO
CAPA NOS MOMENTOS FINAIS DE IOM KIPUR, AS FAMÍLIAS SE REÚNEM PARA UMA BÊNÇÃO ESPECIAL PROFERIDA PELO CHAZAN ESTEBAN ABOLSKI
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ESPORTES COSTUMES E TRADIÇÕES MAGAZINE GALERIA OPINIÃO ENSAIO
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CARTA DA REDAÇÃO
ANO LVII | NO 667 | SETEMBRO 2017 | ELUL 5777 | TISHREI 5778
DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’L) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE
5778 – Um ano repleto de promessas EQUILÍBRIO
Nova portaria leva ao centro do clube
LITURGIA
Iom Kipur em áudio e vídeo
EDUCAÇÃO
Escola de Israel ensina a empreender
CORRESPONDENTES ARIEL FINGUERMAN, ISRAEL Ano LVIII No 667
Setembro 2017 Elul 5777/ Tishrei 5778
FOTOGRAFIA FLÁVIO M. SANTOS GUSTAVO WALDMAN
Leitura para mais um ano
GERCHMANN (COLABORAÇÃO) CAPA DIVULGAÇÃO
DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES
Esta edição celebra Rosh Hashaná e mostra quais as novidades para o associado da Hebraica, como a entrada pela rua Alceu de Assis, acesso para o estacionamento, vestiários, etc, em mais uma extensa reportagem de Magali Boguchwal que também mostra como os serviços religiosos das Grandes Festas transcorreram ao longo dos anos, tendo as quatro décadas do chazan Gerson Herszkowicz no púlpito da sinagoga como fio condutor. E um guia de músicas alusivas a Iom Kipur pelos mais conhecidos intérpretes e como acessá-las no Youtube. A propósito, quando for ao clube veja a exposição de fotos e objetos de vários sinagogas de São Paulo. Além das seções habituais da revista, leiam a respeito de uma inusitada Faculdade de Empreendedorismo, em uma entrevista exclusiva de Ariel Finguerman com seu diretor, e que começou a funcionar este semestre em Israel com todas as vagas preenchidas. Perguntas e respostas a escritores judeus de Israel e Estados Unidos a respeito de sionismo, judaísmo, liberalismo e, claro, Trump. Mais Trump em um texto que trata das manifestações de desagrado dos generais americanos com seu comandante em chefe pelas declarações que deu depois dos eventos em Charlottesville. Um desses generais é o chefe do Estado Maior da Aeronáutica, um judeu. Leiam também a respeito do bem idealizado Museu do Holocausto, no andar superior do Memorial da Imigração Judaica, no Bom Retiro. E o amor confesso do jornalista Salomão Schwartzman pelo ídiche. Boa leitura. Shaná Tová Umetuká Bernardo Lerer – Diretor de Redação
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NOSSO CLUBE quais soluções adotar quanto à guarda de objetos e sacolas dos usuários. As áreas masculina e de família foram concluídas há pouco menos de um mês e as sócias foram transferidas para o que, em breve, será o novo vestiário masculino. Os futuros usuários vão esperar um pouco mais até o final da obra do feminino. A previsão é que no início do verão, todos os vestiários em frente à piscina social estarão prontos, então, mesmo em dias de chuva, será fácil acessar o local, tomar banho e se vestir para a próxima atividade do dia.
Outras melhorias
VESTIÁRIOS 2.0 A impermeabilização das quadras de tênis possibilitou uma reforma radical nos vestiários em frente ao Parque Aquático que criou o setor masculino e ampliou a área familiar sem prejudicar o público feminino que utiliza as piscinas
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rotina das usuárias do vestiário 7, sob as quadras de tênis, foi alterada no início do ano, quando parte do local foi interditado e todo o conteúdo original foi realocado na metade restante. Daí resultaram dois novos vestiários, um para a família – ideal para pais ou mães darem banho ou vestirem os filhos de até 5 anos – e um masculino, atendendo a uma antiga reivindicação dos nadadores, que, antes, usavam os os vestiários no Centro Cívico ou no Ginásio dos Macabeus, mais distantes. Com projeto da Bacco Arquitetura, os vestiários família e masculino foram projetados de modo a atender a todos os tipos de público, do atleta apressado ao idoso com dificuldade de locomoção. As áreas são amplas, com alças, bancos largos, ilu-
minação e sistema de circulação de ar. “Sócios que têm dificuldade em se vestir na posição em pé podem fazê-lo deitados e mesmo que o movimento seja muito grande haverá chuveiros e assentos para todos”, comentou o arquiteto responsável Marcelo Barbosa. Hoje é comum os homens se responsabilizarem pela higiene e troca de roupas das filhas, assim como as mães vestirem os meninos antes e depois das brincadeiras na piscina. Há alguns anos, a Hebraica adaptou uma pequena área do vestiário feminino para este fim. Nesta obra, o espaço sob as quadras foi dividido racionalmente para beneficiar a todos os sócios dentro dos conceitos modernos de utilização de um vestiário de clube. No fechamento desta edição, ainda faltava
AS INSTALAÇÕES DO VESTIÁRIO TÊM O QUE HÁ DE MAIS MODERNO NO QUE SE REFERE À ACESSIBILIDADE
A reforma dos vestiários é uma das muitas mudanças em curso na Hebraica. O diretor superintendente do clube, Gaby Milevsky, fala com entusiasmo do novo centro administrativo que será construído junto à rua Angelina Maffei Vita. “A ideia é posicionar melhor a Tesouraria e a Secretaria e evitar uma caminhada por dentro do clube, pois o centro administrativo terá um acesso exclusivo”, comenta Milevsky. As crianças ganharão um novo Playground que será instalado ao longo da passarela que hoje liga a portaria da rua Angelina Maffei Vita à Praça Carmel. Segundo Gaby, essa é uma entre muitas novidades para essa faixa etária. “A Escola Maternal e Infantil que foi ampliada em número de alunos e salas, no próximo ano vai ganhar uma nova ambientação interna e passará por uma renovação na proposta pedagógica”, anuncia. Mais uma vez, Gaby enfatiza que a execução de todas as obras mencionadas nesta edição da revista não significam eventuais custos adicionais para os associados. “Elas seriam inviáveis no contexto econômico atual do país. Mas graças à generosidade de vários doadores que escolheram contribuir com a Hebraica aos quais dedicamos nossa gratidão e a quem reconheceremos publicamente à medida que inaugurarmos todos os espaços”, promete o diretor superintendente. (M. B.) Leia mais sobre as obras em curso na Hebraica na matéria de capa, à página 30.
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ABERTURA DA NOVA PORTARIA DA RUA ALCEU DE ASSIS EM SETEMBRO DE 2017
VESTIÁRIOS FEMININO E FAMÍLIA EM FRENTE A PISCINA, DISPONÍVEIS PARA USO DESDE AGOSTO 2017
QG HAIR TOTALMENTE REMODELADO COM REINAUGURAÇÃO EM SETEMBRO 2017
TROCA DE ILUMINAÇÃO PARA A TECNOLOGIA LED, DAS QUADRAS DE TÊNIS 5,6,7 E 8 ALÉM DO PAREDÃO E QUADRA SOCIETY, EM SETEMBRO DE 2017.
ATIVIDADES INFANTIS ESPECIAIS DURANTE AS GRANDES FESTAS. INFORME-SE NA CENTRAL DE ATENDIMENTO - 3818 8888
Fotos: Flávio Mello dos Santos
NA NOSSA MIRA 1
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1. NINA E SHAI IDELMAN CURTINDO UM DIA DE CHUVA NA HEBRAICA.
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2. JEANE TEM COM OS SEUS NETOS FABRICIO E ALEXANDRE.
3. ADRIANA SILVA E MANOEL PSANQUEVIC
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NA SAÍDA DO TREINO DE NATAÇÃO
4. WYLLIE E CARLA DACHTELBERG JUNTAMENTE COM JULIE E ARIEL
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ENTREVISTA
Por Magali Boguchwal
Em vez de bombas, gols Hebraica – O que faz a 365 Scores? Yevgeny Brener – Muito simples. Mantemos os fãs de esportes atualizados em relação a tudo que se refira ao seu time ou modalidade prediletos. Quando o Flamengo joga, por exemplo, e faz um gol os usuários que torcem para ele imediatamente recebem um aviso, estejam onde estiverem, no estádio ou a milhares de quilômetros do Brasil. E não é só futebol. Trabalhamos com dez modalidades, pois há lugares onde o esporte nacional é outro, como a Índia, que tem um bilhão de fãs de cricket, muitos também atendidos pelo 365 Scores.
Yevgeny Brener falou aos sócios e empreendedores ligados ao Merkaz
uma história relacionada à ousadia israelense Convidado pelo Merkaz para uma palestra, um dos fundadores da start-up israelense 365 Scores, Yevgeny Brener falou a respeito do aplicativo que o fez rico mesmo não entendendo nada de esportes 18
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Merkaz – projeto de incentivo ao empreendedorismo na comunidade – abriu a agenda de eventos do segundo semestre realizando um encontro na Sala Plenária com os dois representantes do aplicativo israelense 365 Scores, Yevgeny Brener, fundador e chefe da área de receitas, e Carlos Eduardo Freitas, gerente do recém-criado escritório da empresa no Brasil. A Scores começou a funcionar em 2010, e seu aplicativo é um dos mais acessados entre os fãs de esporte no mundo. Brener concedeu entrevista à revista Hebraica e detalhou o aplicativo.
Um serviço assim exige muita pesquisa e um exército de empregados? Brener – Nada disso. Eu e meus três sócios criamos um mecanismo que navega por milhares de páginas da internet (sites, sítios) especializadas, processa os dados coletados e os disponibiliza em tempo real para o usuário. Quem teve a ideia de trabalhar nisso foi meu comandante no exército. Em 2008, prestávamos serviço na unidade de tecnologia do exército e ele se animou quando uma empresa israelense que prestava um serviço semelhante na área de música foi vendida por US$ 40 milhões. Sugeriu que eu e outros dois colegas nos juntássemos a ele e criássemos uma empresa para fornecer informações de esportes. Note que nenhum era atleta ou fanático por algum esporte. O público israelense acompanha muitos esportes? Brener – Não. Assim que criamos a companhia, sabíamos que teria de ser internacional, porque o mercado israelense é muito pequeno. Você ganha pouco dinheiro se operar exclusivamente em Israel. Sabíamos, desde o início, que queríamos ser grandes em todos os países onde as pessoas gostam
de esportes. Lugares como o Brasil, onde o futebol é mania nacional. Eis porque a 365 Scores é tão popular no Brasil, mas não só aqui, na Europa e em outros continentes.
BRENER VÊ NO BRASIL UM AMPLO MERCADO PARA A 365 SCORES
E o que aconteceu a partir da ideia inicial? Brener – Como disse, nós quatro ainda servíamos o exército. Trabalhamos seis anos na unidade de tecnologia. Não tínhamos nenhum conhecimento, a não ser o que se relacionava à tecnologia. O exército nos deu isso. É importante saber que ao ingressar no exército você passa por muitos testes e de acordo com o resultado você recebe treinamento e é encaminhado para uma função. Quando terminar seu período de trabalho, você será um profissional na ocupação na qual atuou. Nós cumprimos três anos a mais do que o período obrigatório. Não sabíamos como escrever um plano de negócios, como obter dinheiro. Mas decidimos realizar nosso sonho. Hoje somos uma companhia de cinquenta pessoas. Tivemos a ideia em 2008 e para trabalhar nela nos instalamos em um pequeno escritório em Rishon Letzion. A companhia começou em 2010 e crescemos dali em diante. Das cinquenta pessoas que trabalham conos19
ENTREVISTA
PEDRO MUSZKAT, DO MERKAZ, CARLOS FREITAS, DO 365 SCORES, SACKY MITRANI, DO FUNDO COMUNITÁRIO, E YEVGENY BRENER, DO 365 SCORES
co, quatro monitoram o conteúdo de esportes que oferecemos aos usuários. Nosso início foi igual ao de muitas start-ups. Primeiro se encara um desafio e, em seguida, procuram-se pessoas que acreditem no projeto. Em Israel é relativamente fácil começar um negócio. Quando começamos, em 2008, foi mais difícil mas hoje é realmente fácil, porque o ecosisstema de inovação foi construído para isso. Se precisa de auxílio, você pode recorrer a dez diferentes locais que o inserem em um programa, destacam mentores para ajudá-lo e haverá encontros nos quais você apresentará seu projeto aos investidores. Eu vejo que o Brasil se encaminha nesta direção e creio que Israel é um bom modelo de inspiração. O que difere a 365 Scores de uma empresa criada em outro país? Brener – Acho que temos uma boa porção de chutzpá (ousadia). Nós somos a número um no Google Play, um serviço em que os interessados buscam os aplicativos que lhes interessam. Temos 570.000 avaliações positivas. Mais do que a ESPN americana. Como conseguimos esse excelente resultado? Oferecemos nossas pesquisas de satisfação ao usuário sempre que um resultado positivo, como um gol ou o anúncio de uma vitória, aparece na tela do usuário. Nesse instante, ele certamente está feliz, então nos avalia bem e a soma das notas altas nos coloca no topo da lista, e isso certamente atrai mais usuários que escolhem nossos serviços em razão das boas avaliações. E do período de trabalho no Exército, o que restou? Brener – Tudo. Em seis anos, por exemplo, desenvolvemos um programa para reduzir o número de cidadãos a serem alertados caso um ou mais mísseis fossem disparados sobre o território israelense. Antes, em 1991, quando o Iraque lançou mísseis, o país estava dividido em seis regiões e o alerta mobilizava a população de toda uma região possivelmente seu alvo. Hoje, o país está dividido em duzentas regiões, então os alertas mobilizam muito menos gente obrigada a parar o que faz e seguir para os abrigos. Esse era o projeto no qual trabalhamos e ao criarmos a empresa, deixamos de alertar sobre bombas para noticiar gols, algo infinitamente melhor. Leia no Magazine reportagem a respeito da Faculdade de Empreendedorismo, em Israel
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CAPA
Por Magali Boguchwal
NOVOS CAMINHOS PARA
Iniciar o ano judaico com novidades é sempre bom. Na chegada para acompanhar os serviços religiosos das Grandes Festas, os sócios conhecerão a portaria da rua Alceu de Assis, parte de um amplo projeto de modernização da Hebraica
Ao acessar a nova portaria, o sócio estará a poucos metros do Salão Marc Chagall
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Hebraica se transforma durante as Grandes Festas. Em Rosh Hashaná e Iom Kipur suspende temporariamente as atividades normais de um clube e se volta exclusivamente para os três serviços religiosos realizados no Teatro Arthur Rubinstein, Salão Nobre Marc Chagall e na Sinagoga. “Durante as Grandes Festas somos a maior sinagoga do Brasil reunindo cerca de oito mil pessoas nos momentos de maior movimento”, afirma o diretor de Cultura Judaica Gerson Herszkowicz e há 44 anos chazan no serviço religioso do Salão Nobre Marc Chagall. Parte desse público usará pela primeira vez os novos acessos ao estacionamento e à portaria na rua Alceu de Assis, que encurta a distância ao Salão Marc Chagall e ao edifício da Sede, onde ficam o Teatro Arthur Rubinstein e a Sinagoga. “Mudança estruturais e estéticas são sempre bem-vindas. Presenciei a muitas desde o meu primeiro serviço religioso para jovens, em 1973”, observa Herszkowicz. Além da nova portaria (veja box à página), outro aperfeiçoamento que deve agradar as famílias que frequentam os serviços religiosos é a programação infantil oferecida nos horários em que os adultos estarão concentrados nas sinagogas. Oficinas, apresentações e atividades acontecerão no Centro de Juventude e ajudarão as crianças a compreender o significado dos rituais de Rosh Hashaná e Iom Kipur. Organizar a programação infantil exigiu muita troca de ideias e pesquisas por parte da equipe encarregada da tarefa. O mesmo acontece em relação à preparação dos serviços nas três sinagogas. “Não importa há quantos anos dirijo os serviços no Salão Marc Chagall, mas sinto que, a cada ano que passa, tenho algo a aprender ou posso oferecer algo a mais, seja em relação a uma prece específica ou no conjunto de atividades ligadas a Rosh Hashaná. Este ano, por exemplo, teremos uma exposição na Galeria de Arte (veja matéria na página ) retratando as sinagogas do Brasil que vai valer a caminhada do Salão até a Galeria”, anuncia o diretor. No serviço do Teatro Arthur Rubinstein, o mais antigo entre os realizados no clube, os preparativos estão em ritmo acelerado. O chazan Esteban Abolsky e o maestro Leon Halegua já se encontraram algumas vezes com o Coral Litúrgico e se preparam fisicamente para a maratona que é cantar nas Grandes Festas. “É difícil conciliar o trabalho e a faculdade com os ensaios, mas quando chega Rosh Hashaná as pessoas no teatro emanam uma energia tão positiva que compensa todo o esforço”, comenta Isadora Goldman, 20 anos, há quatro no coral regido por Halegua. Ela herdou o talento do pai, o cantor Cláudio, que nos primeiros anos de 2000 atuou com chazan no mesmo teatro onde, atualmente, a filha e outros voluntários enriquecem com suas vozes a sonoridade das orações. “Não consigo indicar uma reza que me impacte mais. Todas têm um significado e melodias lindas”, acrescenta a jovem. 25
CAPA A Sinagoga não tem coral, mas a atividade dos voluntários é essencial para o trabalho do chazan David Kullock. Maurício Mindrisz e José Luiz Goldfarb acompanham atentamente a leitura da Torá e informam à comunidade a página correspondente. Em momentos especiais, Margot Kullock, de 18 anos, assoma ao púlpito e sua voz ajuda as famílias a elevarem as preces. “Como ela também canta no Salão Marc Chagall, então, às vezes, ela não está quando faço a leitura de um texto”, comenta a mãe, Sylvia. Herszkowicz elogia a voz da jovem e se confessa dependente do grupo de voluntários que com ele dividem a tarefa de realizar o serviço religioso de Rosh Hashaná. “Em 44 anos, vi muitas crianças que integraram o coral infantil se transformarem em adolescentes e depois adultos. As filhas da maestrina do coral Zemer, Sima Halpern, cantaram nesse coral e no ano passado uma neta dela estava no grupo. O caso do Kiki Wertheimer é emblemático. Os pais dele cantam no Zemer e durante muitos anos era ele, Kiki, quem finalizava, com um solo, os serviços vespertinos. Hoje ele tem sua banda, a GPS, e oficia casamentos como chazan. O mesmo posso dizer do Simon Szacher e do Alexandre Press, que nos auxiliam há vários anos e tocam shofar nas Grandes Festas”, conta Gerson. “Fui aluno da primeira turma do curso de
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shofar desde os 14 anos e até hoje, 24 anos depois, encaro com muita alegria essa minha tarefa em Rosh Hashaná e Iom Kipur”, afirmou Simon, diretor e fundador da revista Zupi, especializada em artes gráficas. “Todos nossos colaboradores são antigos. Creio que temos de trabalhar para incorporar jovens, que aprenderão conosco e talvez nos substituam. É muito importante manter a harmonia entre profissionais e voluntários. É desse trabalho conjunto que resulta a beleza dos nossos serviços religiosos”, comenta Gerson Herszkowicz.
O peão da liturgia Mendel Szlejf em pé ao lado do Aron Hakodesh orienta os frequentadores do Salão Marc Chagall em que ponto dos diferentes livros a reza se encontra. Ele tem uma espécie de caderno no qual estão anotadas a reza, a página no livro antigo e no novo editados pela Hebraica ao longo dessas décadas. Mendel concorda com Gerson. “Nos últimos quarenta anos, algumas vezes pensei em passar as Grandes Festas com minha filha, que vive no México, e não vou porque sei que minha presença é muito importante para o andamento do serviço”, comenta. Antes de começar a frequentar o serviço religioso da Hebraica, ele acompanhava o pai na sinagoga de Pinheiros. “Ele faleceu,
A COLABORAÇÃO DE JAQUES RECHTER E MENDEL SZLEJF É ESSENCIAL DURANTE OS SERVIÇOS RELIGIOSOS DO SALÃO MARC CHAGALL; OS CORAIS INFANTIL E ZEMER SÃO DE RESPONSABILIDADE DA MAESTRINA SIMA HALPERN
Leon Halegua tradicionalmente rege o Coral Litúrgico
fiquei meio perdido, então a Ruth, minha mulher, comprou lugares para mim na Hebraica. Até 1973, nunca me passou pela cabeça rezar na Hebraica. Aquele foi o primeiro ano do resto da minha vida, porque comecei nas cadeiras do público. Um ativista que colaborava na organização dos serviços parou de fazê-lo e em seguida um jovem assumiu o lugar dele por pouco tempo. Foi quando aceitei o convite e aos poucos a integração entre o Gerson, Jacques e eu chegou ao que é hoje”, recorda Szlejf, que também foi vice-presidente do clube em duas gestões. Mendel sabe do que fala, pois cresceu em uma família tradicional e cursou yeshivá. “Preciso apenas de uma palavra para saber em que ponto o chazan está em um trecho do serviço. Além disso, gosto de música. Muitas das melodias que hoje são parte do serviço do Marc Chagall foram incorporadas por sugestão minha ao repertório do chazan Gerson Herszkowicz. Fico satisfeito em ver a reação das pessoas à novidade”, comenta. Ele cita também o ortopedista Moisés Cohen que faz a leitura da Shacharit, a oração da manhã, nas Grandes Festas. “Todos os anos, ligo para ele semanas antes e ele reorganiza a agenda para fazer essa mitzvá e enriquecer com sua leitura”, conta. “Minha preocupação é que, hoje, os jovens com algum interesse pela tradição ou liturgia se encaminham para as sinagogas, então será difícil conseguir essa renovação da qual tanto precisamos. Aliás, também precisamos conscientizar as pessoas de que o serviço inteiro é importante e não basta só ouvir o toque do shofar. Gos-
HORÁRIOS GRANDES FESTAS Dia 20 – Quarta-feira, 18h – Véspera de Rosh Hashaná (acendimento das velas às 17h42) Dia 21 – Quinta-feira, 9h – Shacharit do 1o dia de Rosh Hashaná; 17h – Tashlich (na Praça Theodor Herzl) Dia 22 – Sexta-feira, 9h – Shacharit do 2o dia de Rosh Hashaná Iom Kipur Dia 29 – Sexta-feira, 1 8h – Kol Nidrei; acendimento das velas e início do jejum às 17h45 Dia 30 – Sábado, 9h – Shacharit de Iom Kipur; 11h – Yizkor de Iom Kipur; 17h – Neilá Iom Kipur; 18h42 – Shofar e Kidush de Iom Kipur 27
CAPA taria que a sinagoga estivesse cheia para a leitura da Shacharit, assim como torço para que o Simon e o Alex se proponham a continuar quando pararmos. É um pedido para os próximos anos”, reflete. “De todo modo, este ano não vou ao México. Ocuparei meu lugar de sempre com muita satisfação”, conclui.
O MARCENEIRO DA TORÁ “E
Trabalho em sintonia Com a proximidade das Grandes Festas, o chazan Gerson Herszkowicz escreveu um depoimento no qual valoriza o trabalho de todos os que o acompanham durante os serviços de Rosh Hashaná e Iom Kipur. “Exerço até hoje, com muito orgulho, a função de chazan desde a sua criação, quando ainda era chamado de ‘Serviço Jovem’ e continuamente, até hoje, no Salão Marc Chagall. “Essa sinagoga é gigantesca: nos horários de maior frequência agrega 4.500 correligionários. Resulta dos esforços nas áreas de marketing, agendamento, recepção, montagem, produção, sonorização, iluminação e do esforço e talento de muita gente que atua no coral, orquestra, coral infantil, solistas, tocadores de shofar, leitores da Torá, oficiantes das rezas complementares, etc. Se nesse depoimento eu fosse nomear todos os integrantes e os responsáveis por essas tarefas e funções, não haveria aqui espaço suficiente. “Homenageio a todos eles por intermédio de três nomes: a maestrina Sima Halpern e os coordenadores Mendel Szlejf e Jaques Mendel Rechter. A estrutura musical e organizacional do Marc Chagall é capitaneada por eles. Durante o serviço, fico no meio da sinagoga, a uns sessenta metros de distância deles. Tenho um intercomunicador para falar com eles, se precisar. Nunca precisei. Não me perco. O público tampouco se perde. Isso, porque o timing e o comando dos três é ótimo.”
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O TOQUE DO SHOFAR É UM DOS MOMENTOS EM QUE A ATUAÇÃO DOS VOLUNTÁRIOS É MAIS PRECIOSA
u resumo assim: é um desafio feito com amor e prazer ao ver o resultado.” Assim o cirurgião plástico Ronaldo Golcman define o procedimento que realizou na recuperação da parte de madeira dos rolos da Torá da sinagoga da Hebraica. Aos domingos, o médico Golcman se recolhe à pequena oficina de marcenaria que montou. “Transformar é um desafio na minha vida e minhas mãos precisam estar sempre ocupadas, é algo quase incontrolável”, explica. Golcman já havia feito o mesmo trabalho em um livro sagrado da Congregação Israelita Paulista (CIP) e inicialmente pediram que recuperasse um Sefer Torá, mas, ao final, lhe deram dois. Os frequentadores da Sinagoga nem imaginam como essa tarefa é complicada e, no caso de Ronaldo, assim como nas cirurgias, procura levar seu hobby à perfeição. Primeiro, estuda detalhadamente as características de estilo, forma, respeito à estrutura da peça e só depois vai em busca de material apropriado. “Usei jatobá maciça, certificada pelo Ibama, pois é uma madeira forte, bonita, dá acabamento e, detalhe importante, é imune ao cupim, o que garante sua durabilidade.” Como as incrustações em madrepérola nos discos superiores também estavam danificadas e algumas com falhas, foi necessário ao restaurador procurar o material para completar ou trocar. E teve de comprar um torno maior que incorporou ao patrimônio da marcenaria doméstica. Os discos quebrados foram substituídos por madeira e os parcialmente danificados foram reaproveitados igualando sua tonalidade com a da madeira nova. A parte su-
perior do bastão foi elaborada de acordo com o diâmetro – determinado por um instrumento chamado paquímetro – e a altura de encaixe da coroa; a parte inferior do bastão foi reforçada de modo a suportar o peso de erguer o Sefer Torá, com a empunhadura de encaixe da mão. “É passo a passo. Corta, torneia, dá forma e, depois, o acabamento. É uma coisa única, que faço com intensa vibração, para transmitir o que penso, uma realização e um prazer bem grande”, é como Golcman define esse trabalho, que realiza voluntariamente, desde comprar o material até entregar o serviço. Passado o período dedicado aos Sifrei Torá da Hebraica, ele volta a fazer peças para a neta de 2 anos, sua mais nova paixão. (T. P. T.)
RONALDO GOLCMAN E A ARTE DE REPARAR A PARTE DE MADEIRA DOS SIFREI TORÁ
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CAPA
A parede envidraçada na portaria da rua Alceu de Assis
MELHORIAS EM SEQUÊNCIA
A
portaria da Alceu de Assis vai surpreender os sócios nas Grandes Festas e mais ainda quando os Iamim Noraim (Dias Temíveis) passarem, e adultos, jovens e crianças descobrirem as vantagens do novo acesso ao clube. “A concepção da nova portaria se baseia no princípio de que a vocação da Hebraica é o encontro. À medida que passam os anos precisamos cultivar e facilitar esse encontro, seja entre as gerações, setores da comunidade, correntes religiosas e até mesmo pensamentos diferentes e vivências diversas de wellness na Hebraica. A nova portaria da Alceu de Assis foi concebida com esse objetivo”, adianta o diretor-superintendente do clube, Gaby Milevsky. “Ao acessar, de carro ou a pé, o sócio e seus convidados estarão a poucos passos das catracas de identificação e do amplo hall com cafeteria Dulca e mesas com 105 lugares, banca de jornal. Também inauguraremos o Espaço Bebê, cuja localização será mais fácil para mães com bebês pequenos e nos finais de semana terá uma sala que servirá como extensão da Brinquedoteca. Será o ponto ideal para os amigos conversarem, ter momentos de leitura ou simplesmente para observar alguma atividade esportiva na quadra do Centro Cívico através do vidro”. A nova entrada do clube deve servir os associados neste grande centro comunitário que é a Hebraica em suas atividades esportivas, juvenis, sociais e culturais e não misturada com a escola como é hoje”, descreve Gaby. 30
Com a nova portaria, a entrada da rua Angelina Maffei Vita será usada somente para embarque e desembarque dos alunos da Escola Alef Peretz no horário escolar. “Dessa forma, conseguimos equilibrar a relação entre os sócios e a escola, restringindo, de certa forma, a área para a circulação dos alunos e ajudando os sócios a valorizar o lindo espaço que ele percorrerá a partir da nova portaria até as atividades e departamentos que lhe interessem. De toda forma, não haverá alteração nas portarias da rua Hungria, da alameda Gabriel Monteiro da Silva, para funcionários e a chamada chapeira velha, por onde entram os fornecedores”, completa. Uma vez em uso a nova portaria, em alguns meses será entregue o Departamento Médico, cuja construção faz parte do projeto de modernização do clube. “Chamamos de fase 1 B esta que iniciaremos nas próximas semanas e que resultará na transformação de várias áreas. Onde funcionava o Fit Center será um novo e sofisticado local para a prática de judô. O Fit Center será alojado em um novo local apropriado, ampliado e otimizado com novas propostas e recursos, inclusive oferecendo condições para a prática de outras modalidades e atrair novos usuários jovens. Também vamos realocar o tiro e abrir um acesso externo para quem pratica esse esporte”, anuncia. Gaby ressalta o esforço da diretoria em brindar o sócio com melhorias sem onerá-lo com taxas extras. “O presidente Avi Gelberg e eu nos dedicamos em arrecadar fundos e encontramos resposta em muitos abnegados que acreditam no projeto acomodação da Escola Alef Perez e na modernização das instalações do clube e o projeto segue conforme essas doações chegam e esse processo resulta do esforço conjugado do setor de Obras e Patrimônio, da Comissão de Obras do Conselho, de todos os setores afetados pelas obras em favor do bem-estar do sócio”, completa o diretor-superintendente. (M. B.) Leia mais sobre as obras em curso na Hebraica na página 12.
CAPA
Por J. J. Goldberg
Músicas para Iom Kipur, De tanto assistirem as cerimônias de Iom Kipur, quase todos os frequentadores já conhecem as melodias de cor e se aventuram a acompanhar mentalmente o chazan na interpretação delas. Publicamos abaixo quatorze endereços na internet onde clássicos da festa podem ser apreciados
MOYSHE OISHER INTERPRETA UM CANTOR DE CABARÉ NO FILME SINGING IN THE DARK 32
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uitas dessas canções se popularizaram a tal ponto que foram incorporadas ao repertório de artistas populares, como Bob Dylan, Barbra Streisand, Arik Einstein, Asa Yoelson (Al Jolson) e outros coincidentemente, mas não necessariamente judeus, como o baixo Paul Robeson e o grupo R. E. M. O pesquisador J. J. Goldberg preparou a relação abaixo de acordo com a ordem das celebrações, desde Kol Nidrei até a oração de Nehilá, passando pelas rezas da manhã e da tarde. Acompanham o texto os endereços no You Tube que facilitam localizar as performances de Bob Dylan, R. E. M., Chava Alberstein, Al Jolson (no original O Cantor de Jazz), Barbra Streisand, Arik Einstein, os cantors Yossele Rosenblatt e Moishe Oysher, Amy Winehouse, Earl Scruggs e Foggy Mountain Boys, Mordechai Ben-David, Paul Robeson, Dolores Gray, e Leonard Cohen e Meir Banai (duas vezes cada) e outros mais. Seguindo a oração de Mussaf e a história de Jonas, foi incluído o número musical que retrata a depravação da cidade para onde
Jonas foi enviado para salvá-la, Not Since Nineveh, do filme Kismet (1955). Aliás, até recentemente, a antiga Nínive e respectiva depravação estavam de volta ao noticiário com seu nome moderno, Mossul. A noite se aproxima, nos preparamos para ficar diante das Portas do Céu e estamos Knocking on Heaven’s Door (Batendo na Porta do Céu), música originalmente escrita e interpretada por Bob Dylan para a trilha sonora do filme Pat Garrett & Billy the Kid (1973). Na cena em que Dylan canta, Garrett atira em Kid e faz a letra – “Mama, take this badge off of me, I can’t use it anymore (Mamãe, tire este distintivo de mim, não posso mais usá-lo”) – ganhar mais vida do que qualquer apresentação em show. Trata-se da terrível realidade de que, às vezes, matar é necessário embora desumano, o que parece um pensamento particularmente oportuno em Iom Kipur. É do Kol Nidrei, o apelo por absolvição que resume o dia santo. Uma das versões mais intensas no cinema é a interpretação do grande cantor Moishe Oysher no filme ídiche Overture to Glory (Overture para a Glória – originalmente Der Vilner Shtot Chazn, O Cantor de Vilna – 1939). É uma variação do tema de O Cantor de Jazz, com Oysher no papel de um jovem chazan que sai da sinagoga para se tornar cantor lírico, mas fica sabendo que o filho morreu, perde a voz, se lamuria e retorna à sinagoga para um último Kol Nidrei antes de morrer. O primeiro Kol Nidrei cantado em filme foi a interpretação imortal de Al Jolson (Asa Yoelson) em O Cantor de Jazz, o primeiro longa-metragem sonoro do mundo, de 1927. Ele é filho de um chazan que prefere ser apresentador de espetáculos de vaudeville. Por isso, o pai rompe relações com ele. No final, se reconciliam na cena em que o filho volta ao lar para ajudar no Kol Nidrei na antiga sinagoga enquanto o pai está morrendo. Oysher e Jolson cantam apenas um fragmento de Kol Nidrei. Para a reza completa, a sugestão é ouvir Richard Tucker, o cantor nascido no Lower East Side que, de fato, se tornou famoso tenor lírico. Uma sugestão é o
Foi incluído o número musical que retrata a depravação da cidade para onde Jonas foi enviado para salvá-la, Not Since Nineveh, do filme Kismet (1955). Aliás, até recentemente, a antiga Nínive e respectiva depravação estavam de volta ao noticiário com seu nome moderno, Mossul
encantador Moroccan Kol Nidrei (Kol Nidrei Marroquino) cantado por Eyal Bitton. Outra, é o conhecido Kol Nidrei pelo devoto crooner católico ítalo-americano Perry Como. Nada de espantoso, pois Irving Berlin compôs White Christmas, a mais celebrada música de Natal. Passado Kol Nidrei logo começa o serviço de Maariv, mais ou menos com o Maariv Aravim, Blessed is He (Bem-aventurado seja aquele) que cria noite e dia e organiza as estrelas nos céus, na interpretação de Manfred Mann’s Earth Band cantando a versão de Bob Dylan para a oração, Father of Night (Pai da Noite): https://www.youtube.com/ watch/v=nJ0VCr3Y8Pg Os temas e mensagens de Iom Kipur de que tratamos ainda durante o serviço de Maariv, e na manhã seguinte, de Shacharit, se relacionam ao alcance e ao perdão divino, admitindo, ao mesmo tempo, nosso desamparo e esperança de encontrar forças para nos transformar. É o espírito de Losing My Religion, do grupo R. E. M., sucesso de 1991. E, claro, precisamos de respostas. Alguém – qualquer Um – está ouvindo? O roqueiro israelense Meir Banai, descendente de uma das famílias de showbiz mais conhecidas de Israel, oferece sua versão da tradicional oração de Selichot, Aneinu, recitada nesse dia – “Responda-nos, Deus de Abraão, defensor de Jacó, escudo de David. Vós que respondeis em tempo de desejo, de tribulações, de misericórdia, nos responda”. Mas a questão ainda incomoda: literalmente no final do dia, nossos pecados podem ser perdoados? Sim, de acordo com Earl Scruggs e os Foggy Mountain Boys, nesta canção tradicional, Hand Me Down My Walking Cane (Passe-me o Meu Cajado), All My Sins Been Taken Away (Todos os meus Pecados Foram Retirados), tocada aqui em 1961 no Flatt & Scruggs Grand Ole Opry Show. Earl Scruggs toca banjo. https://www.youtube.com/ watch/v=FmqfZ0k2mxQ 33
CAPA tle Help From My Friends, de Lennon e McCartney, cantada por Joe Cocker no Festival de Woodstock, em 1969. https://www.youtube.com/ watch?v=POaaw_x7gvQ
Leonard Cohen é sempre mais sóbrio como em If It Be Your Will (Se For sua Vontade). Ei-lo em um show de 2009 em Londres, explicando o que a música significa para ele antes de as britânicas Webb Sisters, Charley and Hattie, se apresentarem. https://www.youtube.com/ watch?v=9mqhuNrdwFw Ao pensar a respeito, no entanto, a linha que separa aceitação de desespero é muito tênue. O que fazer se isso é tudo o que existe? Chava Alberstein conseguiu na brilhante interpretação de Kmó Tsemach Bar – Like a Wild Flower (Como uma Flor Silvestre), de Rachel Shapira: “Amanhã estarei longe / Não me procure / Aquele que perdoa me perdoará meu amor / O tempo vai silenciar tudo / Estou a caminho /Aquele que me amou retornará aos seus campos do deserto, e ele saberá que vivi entre vocês como uma flor selvagem / Quero abrir meus olhos e florescer no meu próprio ritmo / Eu costumava sonhar, mas os sonhos me dilaceraram / Eu queria dar conforto, mas meu desejo me traiu / Eu sei que um fogo estranho iluminou minhas noites...” https://www.youtube.com/ watch?v=NZCk7iXNdT8 Amy Winehouse diz praticamente o mesmo neste blues: (I cheated myself like I knew I would. I told you I was trouble/Eu me traí, como sabia que trairia. Eu lhe disse que eu era encrenca) – You Know I’m No Good (“Você Sabe que Eu não Presto”): https://www.youtube.com/ watch?v=b-I2s5zRbHg Momento máximo de solenidade no mais solene dos dias é na abertura do serviço de Mussaf, à medida que o cantor se levanta e implora permissão, mesmo que seja indigno, para falar em nome da congregação em oração. Hineni he-oni mi-ma’as – Aqui estou, sem nada realizar, cantado por Yossele Rosenblatt, considerado o maior cantor dos tempos modernos. E aqui o equivalente aproximado da oração em inglês, With a Lit34
Na cena em que Dylan canta, Garrett atira em Kid e faz a letra – “Mama, take this badge off of me, I can’t use it anymore (Mamãe, tire este distintivo de mim, não posso mais usá-lo”) – ganhar mais vida do que qualquer apresentação em show
Mas e se uma sinagoga não tiver um cantor? Este é um clipe ídiche com o astro da comédia de standup Michla Rosenberg. Bach e Shepsel Kanarek, uma lenda em sua opinião. Aqui ele nos diz o quanto está irritado – o ex-cantor da Poughkeepsie (minúscula cidade do Estado de Nova York) acostumado a ter dois coros que o acompanhavam – por suportar a humilhação de se submeter a um teste por uma vaga nas Grandes Festas na congregação. Metade é em inglês, e o resto dispensa tradução para pegar o sentido. Quando, enfim, começa a cantar, é, aliás, Hu Malkeinu, Hu Moshienu (vehu yashmiyenu berachamov shenis le-eynei kol chai ...) no meio da Kedushá e seguido de um trecho breve, brilhante e sem palavras de Menashe Skulnik. Berosh Hashaná: em Rosh Hashaná está escrito, e no dia de jejum de Kipur é confirmado, quem viverá e quem morrerá, mas o arrependimento, a oração e a justiça (teshuvá, tefilá u-tzedaká) contornam a dureza do decreto. Em seguida, uma animada versão de Lubavitch, cantada pelo crooner hassídico Mordechai Ben-David. E o esperado Leonard Cohen cantando sua versão de Unetaneh Tokef, Who by Fire (Quem com Fogo), com Sonny Rollins no sax. https://www.youtube.com/ watch/v=7S_CjIidG4E Dos rituais do Mussaf, vamos diretamente aos dias antes da destruição do Templo: o serviço da Avodá, recapitulando o serviço de Iom Kipur do sumo-sacerdote e o ritual do bode expiatório, e Eleh Ezkerah, a Martirologia, lembrando o assassinato de dez sábios pelos romanos após a derrota da rebelião de Bar Kochba. No fundo, o serviço da Avodá é lembrança dos momentos em nossas vidas quando precisa-
YOSSELE ROSENBLAT E PAUL ROBESON, UM DOS MAIORES INTÉRPRETES DE SPIRITUALS mos de alguém para falar por nós. A entrada do sumo-sacerdote no Santo dos Santos em Iom Kipur pode ser a expressão máxima dessa necessidade que também ocorre em nossa vida diária, como Bill Withers nos lembrou em seu sucesso de 1972, Lean on Me (Apoie-se em Mim) https://www.youtube.com/ watch?v=KEXQkrllGbA Para recordar Elez Ezkerah, ouça Paul Robeson cantando o hino dos combatentes judeus, Zog Nit Keynmol – “Never say you’ve walked your final road. The dark skies will clear, our longed-for day will yet come when our marching steps will thunder, We survive (Nunca diga que você percorreu sua última estrada. Os céus escuros vão clarear, o dia pelo qual ansiamos ainda virá quando nossos passos de marcha trovejarão, Nós sobreviveremos”. Foi em uma gravação ao vivo de seu Concert at Tchaikovsky Hall in Moscow (14 de junho de 1949, transmitido ao vivo em todo o país pela emissora estatal. Poucos dias antes, Robeson visitara o poeta ídiche preso Itzik Feffer, seu amigo, que lhe contou que um amigo comum, o ator ídiche Solomon Mikhoels, fora assassinado um ano antes pelos capangas de Stalin, e ele, Feffer, esperava o mesmo destino em breve. De fato, ele e outros doze escritores judeus foram fuzilados em 12 de agosto de 1952. https://www.youtube.com/ watch?v=jzPShrawxLc
Segundo Martin Duberman, o biógrafo de Robeson, ele pediu silêncio ao público e anunciou apenas um bis naquela noite. Ele referiu-se aos profundos laços culturais entre os judeus da União Soviética e dos Estados Unidos e a continuidade dessa tradição pela atual geração de escritores e atores russos de origem judaica. Robeson referiu-se à sua amizade com Mikhoels e Feffer, e à grande alegria de ter se encontrado com Feffer. Robeson cantou em ídiche, para uma audiência silenciosa, Zog Nit Keynmol, a música da resistência do Gueto de Varsóvia, primeiro recitando as palavras em russo: “Nunca diga que você chegou ao fim / Quando os céus de chumbo podem pressagiar um futuro amargo / Com certeza, a hora pela qual ansiamos ainda chegará / E nossos passos de marcha trovejarão: ‘Nós sobrevivemos’.” Depois de um momento de silêncio, o público atordoado formado por russos e judeus, respondeu explodindo de emoção, pessoas com lágrimas nos olhos subiram ao palco, gritavam Pavel Vaslyevich (Paul Robeson, em russo) querendo tocá-lo. Depois desse gesto público em favor de Feffer e outras vítimas das políticas de Stalin, ao voltar para os Estados Unidos, Robeson nada comentou. De todo modo, era tudo o que poderia ter feito sem ameaçar diretamente a vida de Feffer. As autoridades soviéticas editaram a música e as manifestações depois do concerto, mas para os judeus que estavam no Tchaiko35
CAPA vsky Hall, foi uma sacudida histórica de energia e apoio. A leitura do Livro de Jonas durante Minchá, no final da tarde, é essencial no ciclo de Iom Kipur. Eis duas versões da história, a primeira relacionada a Louis Armstrong; e, talvez, a versão mais estranha já feita de Jonas, pelo falecido Lord Buckley, o eterno sumo-sacerdote do hip Jonah and the Whale (Lord, Wasn’t That a Fish?) – por Louis Armstrong. https://www.youtube.com/ watch?v=Y6VvhFDpo3A Procure Jonah and the Whale, na versão hipster de Lord Buckley, interpretada pelo imitador de Lord Buckley, Rod Harrison. Uma ideia é um clipe do próprio Lord Buckley em um programa de televisão de 1949, imitando Louis Armstrong. A história de Jonas realmente não faz sentido a menos que seja confrontada com a depravação pecaminosa da cidade para onde foi enviado para salvar, a antiga capital assíria de Nínive, atual Mossul, no Iraque. Infelizmente, nada mudou? Not Since Nineveh (Não desde Nínive), como cantou Dolores Gray em Kismet, o musical de Vincent Minelli (1955) a respeito do califado medieval de Bagdá (letra de Robert Wright e George Forrest, música de Alexander Borodin). https://www.youtube.com/ watch/v=LJJb4OW4A-g O serviço final do dia é Nehilá, o fechamento do portão. Nas tradições sefaraditas essa música é introduzida por um piyut, ou poema litúrgico de Moshe ibn Ezra chamado El Norá Alila (“Deus da Impressionante Escritura, conceda-nos perdão a esta hora de Nehilá”). Esta é uma versão em ritmo ligeiro de Meir Banai. E agora o clímax, momento favorito de muitos judeus em toda a liturgia, Avinu Malkeinu. De todo modo, eis Barbra Streisand em uma fantástica interpretação acompanhada do Vienna Jewish Choir. https://www.youtube.com/ watch?v=0YONAP39jVE 36
Berosh Hashaná: em Rosh Hashaná está escrito, e no dia de jejum de Kipur é confirmado, quem viverá e quem morrerá, mas o arrependimento, a oração e a justiça (teshuvá, tefilá u-tzedaká) contornam a dureza do decreto
Amy Winehouse adaptou uma música litúrgica para um blues inigualável
E o que mais apropriado para encerrar este momento de absolvição do que a imagem representada por The Band nessa versão do concerto de 1970, de I Shall Be Released de Bob Dylan? https://www.youtube.com/ watch?v=MjtPBjEz-BA O livro de oração de Iom Kipur nos leva de volta ao lar com o voto recitado duas vezes por ano – em Iom Kipur e em Pessach – de “No ano que vem em Jerusalém” (Beshaná habá beierushalaim). É tanto um desejo literal quanto uma visão messiânica de redenção e retorno. Ouçam The Ballad of Yoel Moshe Salomon, cantada por Arik Einstein, letra de Yoram Teharlev e música de Shalom Hanoch. Conta a fundação de Petah Tikva em 1878 por Yoel Moshe Salomon, o pioneiro do assentamento judeu na terra além das cidades muradas. É contada na forma de uma fantasia mágica: cinco cavaleiros saem do norte de Jafa até os pântanos no Vale do Jezreel. Quatro deles temendo morrer, provavelmente de malária transmitida pelos mosquitos, voltam para a cidade. Salomon desafia a morte, passa a noite no local e, de manhã, o vale amaldiçoado fica cheio do gorjeio dos pássaros. E há quem diga até hoje que os pássaros cantam sobre Yoel Moshe Salomon. https://www.hebrew-language.com/ hebrew-songs/song18.htm
ACONTECE
O sucesso do show Chagim Ve Moadim Le Simchá ainda repercute entre os dançarinos
SENTIMENTO Belibi (No Coração) é o tema escolhido para o 37o Festival de Dança Carmel que acontecerá nos dias 8, 9 e 10 de dezembro. Nesse período que antecede o evento, a confirmação da presença de três grupos de Israel, um da Argentina e um do Uruguai enche de ansiedade os organizadores 38
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uem frequenta o Centro de Danças da Hebraica está acostumado à montanha russa de emoções que envolve a organização do calendário de aulas e ensaios, dos acantonamentos e shows e especialmente quando se aproxima mais um Festival Carmel. “Já começamos as reuniões de produção e cada comissão trabalha no detalhamento das ideias que surgiram desde a definição do tema”, comenta Nathália Benadiba, coordenadora geral e diretora artística do evento. A direção geral do evento é de Gaby Milevsky, diretor superintendente da Hebraica. Coreógrafos e dançarinos tiveram o mês de julho para recarregar as baterias depois da maratona de ensaios para as apresentações do show “Chaguim ve Moadim Le Simchá” com o qual os grupos de dança do clube encerraram o primeiro semestre.
Em meados de agosto, os encarregados das áreas de produção e shows desenvolviam propostas de atividades e surpresas a partir do tema do festival. “Esta edição será calorosa e cheia de afetividade. Pensamos em um show exclusivo para dança de pares e convidamos coreógrafos e dançarinos a desenvolverem danças para apresentar nesse dia. Também teremos novidades no show das tnuot que agradarão os movimentos juvenis”, antecipa a coordenadora. Na programação, já está acertado que a noite de abertura será dedicada às danças massivas e que haverá um show em homenagem aos cinquenta anos de unificação de Jerusalém, no dia 9. “A cidade é o centro da tradição judaica, então será um espetáculo que tocará a todos, no palco e na arquibancada do Centro Cívico”, garante Nathália. Os organizadores do Festival começam o mês de setembro com uma boa noção dos participantes da 37 a edição. A lista de grupos participantes está quase completa. “Lehakot do Rio de Janeiro, Curitiba, Minas Gerais e Porto Alegre, das escolas, movimentos juvenis e sinagogas de São Paulo inscreveram os dançarinos e este ano teremos três grupos de Israel, um da Argentina e um do Uruguai. A possível participação de um grupo mexicano ainda é uma incógnita”, anuncia Nathália. De Israel, vem o grupo Misgav, que já participou de três edições do Festival Carmel, assim como o markid (professor de dança) Sagi Azran, uma das estrelas no Carmel 360o. “O público pode contar com muitas novidades, já que o Misgav vai trazer, pela primeira vez, seu grupo sênior, com dançarinos entre 30 e 60 anos. Outra estreia será a do coreógrafo Lior Tavori que trará duas lehakot, uma que dirige em Holon, um bairro de Haifa, e outro de Natanya”, comemora a coreógrafa. (M. B.)
O SHOW PRINCIPAL DO DIA 9 TERÁ JERUSALÉM COMO TEMA PRINCIPAL; GRUPOS DE DANÇA COMEÇAM ENSAIAR NOVAS COREOGRAFIAS PARA O 37O FESTIVAL CARMEL
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ACONTECE
“Mantendo a Tradição: Sinagogas e Chazanim”, com abertura dia 16 de setembro e até 3 de outubro, realizada pelo Museu Judaico de São Paulo (Mjsp) e Hebraica marca passagem das Grandes Festas
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foto que ilustra esta nota é da década de 1930 e mostra o chazan e coralistas do Templo Beth-El, situado então na rua Martinho Prado, um nível acima da avenida que viria a ser a 9 de Julho. Já nessa época surgiam as sinagogas no Bom Retiro (rua da Graça e rua Newton Prado, o “Groisser Shil”). Desde então foram muitos os centros de reza da comunidade, alguns desaparecidos ou ‘adormecidos’, como é o caso das sinagogas do Brás, Cambuci, e outras, como a da Lapa, hoje reunindo a terceira ou quarta geração dos imigrantes que as fundaram. Ao mesmo tempo, chazanim vinham da Europa, Israel ou da Argentina, nomes consagrados no canto litúrgico e em grandes palcos pelo mundo. Este é o tema da exposição “Mantendo a Tradição: Si-
nagogas e Chazanim”, com abertura dia 16 de setembro e até 3 de outubro, realizada pelo Museu Judaico de São Paulo (Mjsp) e Hebraica. A coleção da revista Hebraica, arquivada na hemeroteca do clube, e o rico acervo do Centro de Documentação e Memória do Mjsp serviram de material de pesquisa para reviver histórias quase perdidas no tempo e testemunhas de uma comunidade atuante, comprometida em preservar as tradições judaicas. Pessoas que dedicaram tempo, voluntários engajados, muitos quase anônimos, fazem parte dessa mostra, que ocupará a Galeria de Arte no período das Grandes Festas. Leia mais sobre as Grandes Festas na Hebraica na matéria de capa, à página 24.
REVERSO, A ENERGIA DO FLAMENCO
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m show preparado para quem gosta da força e magia da dança flamenca é o show “Reverso”, domingo, 17, às 18h30, no Teatro Anne Frank. Concepção e criação de Camila Leitte junto com Kátia Yazigi são as bailarinas que estarão no palco com Rafa Marum, Kátia Merlino e Fernanda Vianna para contar a história de uma mulher que sente, num momento final, as emoções vividas. Direção de cena de Einat Falbel, coreografias de Ana Paula Campoy e Ale Kalaf, também diretora coreográfica. 40
ACONTECE Um novo “Aonde Vamos?” A programação do Clube de Leitura começa sábado, 2, às 16 horas, no Auditório, com a rodada sobre A Língua Absolvida, livro de Elias Canetti. Já dia 16, às 16 horas, na Plenária, será a vez do sempre aguardado “Aonde Vamos?”, com o que há de novo na literatura judaico-brasileira e a mediação de Vivian Schlesinger. Participarão do debate João Celso de Toledo Húngaro, paulista que vive em Montevidéu, autor de O Cambista do Cais do Porto, que relata a história de um refugiado da Segunda Guerra e sua passagem pelo Rio de Janeiro; a gaúcha Leniza Kautz Menda, autora de Rindo do Trágico: o Humor na Literatura Israelense Contemporânea, uma análise de David Gross-man, Yoram Kaniuk, Amos Oz e outros autores; o psicanalista Paulo Blank vem do Rio de Janeiro para falar de Mentch, a Arte de Criar um Homem, seu livro mais recente; e o médico, blogueiro do Estadão, Paulo Ronsebaum traz Céu Subterrâneo, história de um escritor que busca suas raízes em Hebron, Cisjordânia.
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CINEMA NO EMBALO DO FESTIVAL Após o sucesso de público no Festival de Cinema Judaico, as sessões retomam seus horários normais. Setembro inicia com Zoológico de Varsóvia, sábado, 2, às 20h30, e domingo, 3, às 19 horas, no Teatro Arthur Rubinstein. O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Maki, drama alemão-finlandês-sueco, selecionado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017, estará na tela dia 6, quarta-feira, às 14h30 e 20h30. As sessões de sábado, 9, e domingo, 10, serão mais leves, com a comédia Despedida em Grande Estilo. Às 20h30 e 19 horas, como sempre. As sessões dos dias 13 e 16 serão no Teatro Anne Frank, pois o Teatro Arthur Rubinstein estará sendo preparado para as Grandes Festas, para retornar com uma seleção especial no mês de outubro. As sessões infantis e para as famílias acontecem dias 3, às 16 horas, com Moana, um Mar de Aventuras; dia 10 haverá sessão, às 16h30, o filme será confirmado pelas redes sociais do clube.
grade do Show do Meio-Dia deste mês atende a todos os gostos. A primeira atração, dia 3, será na Praça Carmel, sempre animada. Dia 10, espetáculo especial no Teatro Arthur Rubinstein, com grupos típicos chilenos. O conjunto folclórico Quinchamalí de danças, o Palimpsesto e seus ritmos alternativos e os cantores Nacha Moretto e Jorge Menares. Trazendo a alma latina, a força das músicas de Violeta Parra (Gracias a la Vida) e muito mais. Para atender a todos os públicos, o Teatro Anne Frank receberá dia 17 o Instituto Fukuda, excelência entre o erudito e o popular. Fechando o mês, 24, haverá o show “Dias Intensos”, com o Coral Kadosh, regido por Márcio Besen e participações especiais de Daniel Szafran, Geórgia Besen, Haley Peltz e Pedro Dela Rolle, no Teatro Anne Frank.
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ACONTECE
Por Philologos
Liv vro sobre a realid dad de issraele ensse “Ofereci o romance a quem havia publicado meu último livro (A Voz do Alemão, 2013). Eles tinham interesse, mas desde que eu mudasse o texto em relação à questão palestina. Por isso o levei para a Editora Simonsen”, diz Sabrina Abreu sobre O Último Kibutz, livro que lança domingo, 3, às 10h30, na Plenária. A jornalista se inspirou em uma viagem a Israel. ‘”Quando estava na faculdade, estourou a Segunda Intifada (em 2000). Falava-se muito disso por aqui, mas eu notava a grande desinformação das pessoas. O que a mídia publicava era pouco, na minha percepção. Então, comecei a estudar mais. Meu trabalho de conclusão de curso foi sobre Israel e prossegui com o tema na pós-graduação’”, conta. Sabrina herdou do pai a paixão por Israel e, depois de estudar a cultura e a geopolítica israelenses, há dez anos foi lá, prestou trabalho voluntário em um kibutz. “Não é um livro político, mas sobre juventude. Um romance de passagem’”, define a autora.
Empresária fala a respeito da mulher O próximo “Entre Amigas “será dia 15, às 7h30, no Espaço Gourmet. Durante um café-da-manhã, Dani Graicar (foto ao lado) falará a respeito da “Mulher do Século XXI”. Empresária de comunicação, mãe de três filhos pequenos, ela acostumou-se a enfrentar o dia-a-dia e quer passar essa experiência a quem for ouvi-la. “Vou falar das culpas, dos prazeres e de dicas para melhor ‘equilibrar os pratos’ durante esse encontro matinal, que muito me agrada”, diz a palestrante. Os encontros do “Entre Amigas” são um sucesso e atendem às mulheres que madrugam no clube, começando seu dia com atividades diversas.
Cinema, palestras e mostras A Feliz Idade, como sempre, tem uma agenda cheia e variada na Sala da Plenária. Este mês começa com a palestra “História da Imagem”, sábado, 2, às 14 horas. Os sócios gostaram e pediram mais, por isso um novo DVD de André Rieu está programado para dia 9 às 14 horas. Duas atrações na mesma semana: a palestra “Somos Donos do Nosso Próprio Destino?”, dia 14, às 14h30, com o psicólogo Rony Guttman; e dia 16, às 14 horas, Paloma Herrera mostrará como se vestir para ocasiões e datas especiais. Para quem gosta de preparar a casa de maneira diferente do usual, Vivian Blaus vai falar de “Decoração de Mesas” para ocasiões e datas especiais, dia 23, às 14 horas. Para saber a série completa do mês, consulte o folheto distribuído pelo clube. 44
REGISTRO
Três histórias da A Hebraica recepcionou os atletas que participaram da 20a Macabíada Mundial com faixas e banners em que os resultados obtidos em Israel foram valorizados e anunciados a todos os sócios. Uma festa marcada para este dia 5 vai reunir as equipes e atletas de modalidades individuais para um reencontro depois da viagem e a discussão de planos para o futuro
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uilherme Minakawa e Bruno Pekelman alcançaram objetivos inéditos na 20a Macabíada Mundial: o título de tricampeão macabeu no judô e a primeira medalha de ouro na esgrima respectivamente. “Foi a realização de um sonho, especialmente pois se nas 18o e 19o edições eu tinha certeza de viajar, nesta a decisão aconteceu na última hora”, comentou o judoca. Segundo Guilherme, nos dois primeiros torneios as equipes de Israel eram as mais competitivas. “Este ano também, mas a Letônia surpreendeu pelo número de judocas que trouxe este ano e pelo nível de luta”, descreveu o jovem. Entre os resultados da equipe brasileira de judô, outro ouro, o de Renata Pati, prima de Guilherme, que, em sua quarta Macabíada, foi campeã. Agora, já no Brasil, os dois retomaram o papel de sensei (professor) na Hebraica e Guilherme festejou mais uma vitória, a formatura na faculdade de fisioterapia. “Pretendo exercer a profissão e aplicar o que aprendi no esporte que amo”, completa o jovem. Aos 16 anos, o esgrimista Bruno Pekelman conquistou o primeiro ouro brasileiro na 20a Macabíada Mundial. Também foi a primeira viagem do garoto de 16 anos a Israel. “É um atleta de qualidade. Além do ouro, ganhou também uma medalha de prata. É bom no que faz, tem consciência de que há sempre mais a se aprender e que deve tratar todos como iguais”, conta Marcelo Schapochnik, que acompanhou os atletas juniores durante a Macabíada. “Quando vi que ele viajava sozinho repeti algo que fiz por outros atletas em edições anteriores, ou seja, apresentei o garoto à equipe de basquete, um grupo de Porto Alegre, que recebeu o Bruno de braços abertos. Quando não competia, ele participava de treinos e jogos do basquete. Cheguei a vê-lo em um treino. É essa integração que também diferencia a Macabíada de qualquer outro torneio”, afirmou Marcelo. Uma terceira história que vale a pena retratar aqui é a do tenista Cláudio Mifano, medalha de prata que se machucou no primeiro jogo e insistiu em seguir competindo. “Esta foi a minha segunda Macabíada e dediquei muito tempo para o treinamento. Depois de verificar que não houve fratura, passei a maior parte do tempo cuidando da perna. O mais chato foi assistir à cerimônia da arquibancada com a bota no pé”, lamentou. 46
BRUNO, CLÁUDIO (DE BOTA ORTOPÉDICA NA ARQUIBANCADA), GUILHERME E RENATA NUNCA ESQUECERÃO AS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS NA MACABÍADA
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REGISTRO 1
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5 1.EQUIPES MASTER BRASILEIRA E ISRAELENSE DE BASQUETE RESTRINGIRAM A RIVALIDADE ÀS QUADRAS; 2. ESTREIA DOS GINASTAS PAULISTAS NA MACABÍADA AGRADOU AO TÉCNICO FÁBIO ZUIN (D); 3. HANDEBOL FOI UMA MODALIDADE QUE RENDEU MEDALHA PARA O BRASIL; 4. ENTRE OS AMIGOS, A TÉCNICA ADRIANA SILVA (C) REENCONTROU AS COLEGAS VERA KAHN E DEBORAH KABANY (E), QUE EMIGRARAM RECENTEMENTE E COMPETIRAM NA EQUIPE ISRAELENSE; 5. INTEGRANTES DO POLO AQUÁTICO JÚNIOR SE DIVERTIRAM NO HOTEL EM HAIFA 48
REGISTRO
André, Pedro e Carlos Eduardo subiram ao pódio no Campeonato Paulista de Inverno
MEDALHAS A Hebraica ficou em nono lugar dentre outras 44 entidades participantes no placar geral do Campeonato Paulista de Inverno Junior a Sênior disputado no final do primeiro semestre no parque aquático da Unisanta (Universidade Santa Cecília)
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resultado serve de estímulo às equipes de natação da Hebraica para o Campeonato Paulista de Verão Júnior a Sênior em novembro, que será realizado no clube. Na véspera da partida dos atletas para a 20a Macabíada em Israel, os nadadores da equipe júnior do clube disputaram o Campeonato Paulista de Inverno nas piscinas da Unisanta e enfrentaram os melhores clubes do Estado e cinco equipes de outros Estados que, por não se realizar o Campeonato Brasileiro de Inverno, incluíram o Paulista na sua agenda competitiva. Segundo o coordenador de natação da Hebraica, Murilo Santos, “foi um torneio de excelente nível técnico. Participaram os melhores atletas de São Paulo e do Brasil como Grêmio Náutico União (Porto Alegre), Fluminense (Rio de Janeiro), Clube Curitibano (Paraná) e Ítalo Brasileiro (Espírito Santo). Também nadaram atletas olímpicos dos clubes de São Paulo, como Etiene Medeiros (Sesi), Leonardo de Deus, Joana Maranhão, Thiago Simon e Nicholas Santos (Unisanta), Brandon Pierre (Corinthians)”, descreveu. Além do nono lugar no placar geral, a Hebraica terminou o campeonato em sexto lugar na contagem de pontos no sênior, oitavo lugar no júnior 2, e 20o colocado no júnior 1. Individualmente, os nadadores inscritos pela Hebraica obtiveram uma medalha de ouro na prova dos cinquenta metros nado peito e uma de bronze nos cem metros nado peito (Pedro Mattoso), uma medalha de prata nos cem metros nado borboleta (André Marques) e mais uma medalha de bronze nas provas de cinquenta metros costas (Carlos Mingarelli). As equipes treinam diariamente para melhorar seus tempos e destacar o nome da Hebraica São Paulo na natação amadora. (M. B.)
REGISTRO
Hora de Agosto teve comemoração dupla. O Centro Juvenil Hebraikeinu celebrou 27 anos de atividades educativas e recreativas enquanto o grupo Jovens sem fronteiras (JSF) emplacou oito anos de iniciativas de cunho sociocultural
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grupo Jovens Sem Fronteiras completou oito anos em agosto (foto acima). Além do bolo, um Aponte com o tema “Padrões de Beleza”. Trata-se do formato encontrado pelo JSF para mesclar informação e debate sobre questões contemporâneas. “Temos como objetivos o desenvolvimento de programas de educação popular e formação de lideranças. Contribuir para construção e fortalecimento de espaços de participação popular”, afirma Flávia Burcatovsky, coordenadora do autointitulado coletivo. Segundo ela, foram oito anos de aprendizado e experiências nos quais o grupo foi se transformando e mudando as ações, mas sempre dentro da mesma visão. Hoje o trabalho do JSF se define em três frentes de atuação. Um deles é o Aponte, com periodicidade mensal. “Outra frente importante é nossa atuação no Movimento Anchieta, no Grajaú. Vamos para lá aos domingos e trabalhamos com crianças e jovens em torno de questões sobre sustentabilidade, reutilização de materiais e reconhecimento do espaço. Propomos atividades, criamos objetos com materiais, fazemos jogos e tocamos música. É sempre muito gostoso para todos”, descreve a coordenadora. “Por último, depois de tanta coisa interessante, também organizamos nossas festas. São encontros para celebrar os ciclos que experimentamos, sempre trazendo algum tema que achamos relevante, para não ser uma festa qualquer mas sim uma festa com a nossa cara”, explica a jovem. 52
QUAS SE TRINTA Dia 18 de agosto o Centro Juvenil Hebraikeinu completou 27 anos. A comemoração oficial foi postergada em algumas semanas, mas os coordenadores e madrichim do início publicaram nas redes sociais fotos e declarações marcando a data. Os comentários saudosos partiram de Israel, Estados Unidos, Panamá e também dos madrichim que permaneceram no Brasil, cujos filhos hoje são madrichim ou coordenadores. Nas imagens de gerações anteriores do movimento juvenil que hoje são pais de adolescentes ou estão iniciando famílias, nota-se que os atuais coordenadores, monitores, estagiários e chanichim preservam os mesmos valores de amizade, ligação com Israel e com a Hebraica que motivaram os pioneiros. E, melhor, existe uma nova geração de chanichim começando no Hebraikeinu Gan (2 e 3 anos) que provavelmente comemorará os 37 anos do Hebraikeinu. (M. B.)
COLUNA UM
Tania Plapler Tarandach imprensa@taran.com.br
Hon noris causa para Cie echanover A reitora da Universidade de Brasília Márcia Abrahão Moura entregou o título de doutor honoris causa ao cientista israelense Aaron Ciechanover, com a presença do embaixador Yossi Shelley. Aaron é Prêmio Nobel de Química de 2004 pela descoberta da degradação de proteínas mediada pela ubiquitina, que atua na regulação dessas macromoléculas biológicas.
SP Innovation Summit na Hebraica
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ais de mil empresários e investidores aderiram ao chamado do SP Innovation Summit 2017, realização da Câmara BrasilIsrael de Comércio e Indústria e Harpia Capital. Empreendedorismo e tecnologia entre os dois países foi o tema do encontro em que André Borges, representando o ministro de Ciências, Tecnologia, Inovação e Comunicação, Juan Quirós, presidente da Investe São Paulo, Dori Goren, cônsul geral de Israel em São Paulo, Daniel Annenberg, secretário municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo, Itche Vasserman (Conib), Bruno Laskowsky (Fisesp), Avi Gelberg (Hebraica), Benjamin Quadros (BRQ) participaram da abertura, e Jayme Blay (Cambici) e Ric Scheinkman (Harpia Capital), estes últimos os realizadores do encontro. Temas como inovação e novas tendências no mercado de startups, o mundo das fintechs, e-commerce, sistemas de segurança, tecnologia de ponta, inovação na educação e na saúde, robótica, inteligência artificial e cloud, transferência de tecnologia, patentes, ambiente regulatório, legislação na era digital e o relacionamento entre os dois países foram temas abordados durante o encontro, aberto por Avi Gelberg, em nome da Hebraica, anfitriã do evento.
Liberdade em Israel A jornalista iraniana Yeda Amin, 32 anos, é conhecida por seus textos na edição em farsi do Times of Israel. Há três anos, refugiou-se na Turquia, mas o Irã pediu sua extradição e lá seria condenada à morte. A Embaixada de Israel em Ancara acolheu-a e de lá viajou para Tel Aviv. 54
Diiálogo com muçulmanos e judeus Junto aos jovens do programa “Novas Gerações” do Congresso Judaico Latino-Americano, Fábio Szperling e Fábio Milman representaram o Brasil na Conferência Muçulmana-Judaica, em Saravejo, capital da Bósnia e Herzegovina. “O contexto desse encontro permite acercar-se de uma maneira diferente, evitar intermediários e ouvir os testemunhos diretamente”, afirmou Ariel Berinstein, representante do CJL.
Concurso leva empreendedor para Israel O Consulado de Israel e a Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia firmaram parceria para realizar o concurso Start Jerusalém Brasil 2017. São startups de trinta países competindo pela oportunidade de conhecer e participar do ecossistema desenvolvido por Israel. O vencedor viajará para Jerusalém na primeira quinzena de novembro, com tudo pago. Inscrições https:// startjerusalembrasil.wordpress.com/.
IB BI, fo onte e pa ara o con nhe eciimen nto o
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arrativas maniqueístas a respeito do Estado de Israel e do conflito palestino-israelense ocupam as mídias sociais e as rodas de debates, provocando preconceito e desentendimento. Daí foi criado o Instituto Brasil-Israel (IBI), que começou a funcionar oficialmente em um encontro na Hebraica. “Ideias de que o conflito entre israelenses e palestinos seja o da civilização contra a barbárie ou resultado do ‘imperialismo’, com opressores e oprimidos, apenas reforçam estereótipos”, afirma David Diesendruck, presidente do IBI. “Precisamos superar a noção de que a sobrevivência de um povo depende da derrota do outro”, completa. O IBI criou o portal (www.institutobrasilisrael.org) com análises, artigos, entrevistas, notícias, e perfil nas mídias sociais, Facebook, Twitter e YouTube. Assim, o IBI também se torna fonte de informação para professores, alunos, jornalistas e outros. O Instituto incentiva a produção de conteúdo, pesquisas e a realização de seminários e palestras sobre temas relacionados a Israel e sua relação no Oriente Médio. Além do diretor-executivo André Lajst, o IBI formou um Conselho Acadêmico: Gilberto Sarfati, Heni Ozi Cukier, Michel Gherman e Samuel Feldberg.
JUDEUS EM ROLÂNDIA Procurada por judeus que fugiam do nazismo na Alemanha, a pequena cidade de Rolândia (Paraná) recebeu, na época da Segunda Guerra, famílias que se estabeleceram nas redondezas da cidade e que aos poucos se transferiram para grandes centros. Hoje, a cidade vê renascer uma população judaica, que resolveu se unir aos residentes em cidades próximas e formar uma comunidade organizada, oficializada pela Wupj. Compõem a primeira diretoria, Lea Renée Bruch Duarte (Rolândia), presidente; Rivy Plapler Tarandach (Maringá), vice-presidente; Alexandre Israel Pinto (Maringá), diretor executivo; e Jefferson Carlo Beserra Gualda (Maringá), diretor-financeiro. Moradores de Arapongas, Londrina e Telêmaco Borba completam o quadro associativo.
Radicada nos Estados Unidos, a brasileira Sheila Goloborotko veio a São Paulo inaugurar sua terceira mostra individual no Brasil. Três séries de trabalhos recentes expostos na Mais Galeria de Arte. Para quem vai a Roma, Milão e Veneza, a El Al disponibiliza diversas opções de voos e horários. Basta agendar. A reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão Moura, entregou o título de doutor honoris causa ao cientista israelense Aaron Ciechanover. Embaixador Yossi Shelley acompanhou o Prêmio Nobel de Química. Duas jovens vieram da Talinn University, Estônia, para um congresso na USP a respeito de traumas. A que se seguiram pesquisas nos museus Afro, Japonês, do Imigrante e no Centro de Documentação e Memória do Museu Judaico de São Paulo. Quem foi ao Teatro Santander saiu feliz após assistir Cantando na Chuva. Com direito a chuva mesmo. A noite foi em benefício do Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar (Ciam). Vernissage de Tatiane Silva Hofstaller trouxe grande público à Galeria de Arte. Mistral era uma das importadoras na quarta edição do Festival do Vinho, no Shopping Pátio Higienópolis. Summit Saúde Brasil reuniu especialistas no Sheraton WTC Hotel: Mayana Zatz, da USP, Edson Amaro Jr. e Márcia Regina Makdisse, do Einstein, entre os palestrantes. 55
COLUNA UM Instituto Doar e revista Época escolheram o Instituto Olga Kos como uma das cem melhores organizações não governamentais do Brasil.
TIKUN OLAM NA VILA DE AREAL A partir de proposta da World Union for Progressive Judaism Latin America (Wupj), o KKL Brasil participou do Festival Regenera Rio Doce. Uma ação voltada ao Tikun Olam (“conserto do mundo”) da Vila de Areal, área próxima ao município de Mariana, MG, atingida pelo desastre ambiental que mudou a vida dos moradores. A Vila Areal não tinha nenhum equipamento público de lazer e em três dias, a parceria do KKL com a população local construiu um campo de futebol society e o jogo de inauguração, em seguida, “mostrou o sucesso da nossa contribuição”, destacou Marcelo Schapo, diretor-executivo do KKL Brasil.
Einstein: pioneirismo e esperança Desafios – Relatos de Celebração à Vida é o título do livro comemorativo, organizado por Dad Squarisi, e coordenação editorial de Nelson Hamerschlak, Editora Inbook, lançado na Casa Petra. O Hospital Israelita Albert Einstein reuniu pacientes e amigos para comemorar os desafios do Serviço de Transplante de Medula Óssea, que completou trinta anos.
“Holocausto – Trevas e Luz” A exposição “Holocausto – Trevas e Luz” pode ser vista até 15 de outubro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, uma parceria com o Museu do Holocausto de Curitiba. Foi aberta pelo prefeito Marcelo Crivella e teve a presença de Alfredo Tolmasquim, diretor de Conteúdo do Museu do Amanhã, Carlos Reiss, diretor do museu curitibano, e dos presidentes Herry Rosemberg, da Federação Israelita/RJ, e Abraham Goldstein, da B’nai B’rith Brasil. 56
Norma Grinberg, reconhecida internacionalmente, foi a artista homenageada na 1a Mostra de Arte Cerâmica. Evento itinerante com passagem por Piracicaba, Santa Bárbara d’Oeste e USP/Maria Antônia, em São Paulo.
CHAVERIM EM CAMPANHA
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Grupo Chaverim está em campanha para prosseguir com suas Oficinas Criativas. Com o dinheiro arrecadado poderá manter os profissionais da área técnica e materiais necessários para atender jovens e adultos com necessidades especiais. Para participar: http:// juntos.com.vc/pt/oficinascriativas
A EXPERIÊNCIA DE ISRAEL Especialistas de fundos de investimentos israelenses apresentaram cases de sucesso durante o evento “Transcendência do Homem por Meio da Tecnologia”, no Cubo Networking, iniciativa da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria. Entre as várias mesas de apresentação, Harverd Angels, da ACE, e Flávio Pripas, do Cubo, falaram de “Pitch Contest: Empresa para Potenciais Investimentos”.
WEIZMANN NO RANKING UNIVERSITÁRIO
O médico oncologista e presidente do Museu Judaico de São Paulo, Sérgio Simon, e o arquiteto, urbanista e ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, participaram do História Contada, talk show com Mona Dorf, na Unibes Cultural, na grade de eventos que marca os dois anos de atividades do local. A Galeria Virgílio recebeu a exposição NO BODY. São fotografias, vídeo e pinturas de Sílvio Dworecki. Sobrevivi ao Holocausto pode ser visto no canal a cabo Cult, em diferentes horários. O filme de Márcio Pitliuk conta a história do sobrevivente da Shoá, Júlio Gartner. Em suas andanças internacionais, Nicole Borger foi apresentada como a “intérprete de canções em ídiche na América do Sul”. Durante o Klezfest Concert 2017, em Londres.
A revista científica Nature publicou o Nature Index 2017 no suplemento Innovation e o Instituto Weizmann de Ciências ocupa o sexto lugar no ranking mundial das duzentas melhores instituições de pesquisa. As cinco primeiras são universidades norte-americanas. Para saber mais, https://wiswander.weizmann.ac.il/weizmann-institute-science-ranked6th-nature-innovation-index-2017-and-1st-outside-us.
Um sonho acalentado tornou-se realidade e José Ricardo Basiches conta a trajetória de seu escritório por meio de projetos selecionados. Está na mostra “Basiches Arquitetos: Desenho e Obra”, até 7 de outubro, no Museu de Belas Artes de São Paulo. Fundador da GVT, presidente da Telefónica, o israelense Amos Genish está na Europa, agora como diretor geral da Telecom Itália/Tim. Na Sinagoga da Hebraica, Felipe Melsohn foi festejado após a leitura da Torá, no dia da maioridade religiosa. Programa completo na Sala São Paulo: Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), os Coros Acadêmico e da Osesp e solo do violoncelista Isang Enders. Sob a batuta do maestro israelense Ilan Volkov.
Sobreviventes em Hiroshima
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mostra “Paz em Cena”, no Teatro João Caetano, dedicou uma semana destacando sobreviventes de tragédias mundiais e convidou Nanette Blitz Konig para falar do tempo que passou encarcerada no campo de Bergen-Belsen, na Alemanha. A peça Os Três Sobreviventes de Hiroshima levou ao palco Takashi Morita, Junko Watanabe e Kunihiko Bonkohara, sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima.
“Dilemas Éticos” aborda “Sexualidade Contemporânea” Luiz Coppieters, do Conselho Municipal LGBT de São Paulo, Miriam Chnaiderman, psicanalista, e o rabino Michel Schlesinger participaram do bate-papo conduzido pelo jornalista e apresentador da Rádio CBN Leopoldo Rosa. O encontro debateu a “Sexualidade Contemporânea” e faz parte de “Dilemas Éticos”, iniciativa da CIP e Livraria Cultura.
Os atores Lázaro Ramos e Felipe Hirsch e a escritora Lilia Schwarcz se encontraram na 15a Flip, em Paraty, em evento transmitido pela internet, site e perfis no twitter e facebook. Ex-Veja e atualmente na Folha de S. Paulo, Raul Juste Lores lança São Paulo nas Alturas, livro no qual o jornalista conta histórias de incorporadores e arquitetos, entre eles Libeskind, Korngold, Reif, Kon, Rzezak e Galman. 57
COLUNA UM Prêmio Nobel visita o Brasil Cientista do Instituto Weizmann e Prêmio Nobel de Química, em 2009, junto com os norte-americanos Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz, Ada Yonath participou do 38�. Congresso Internacional de Fisiologia, no Rio de Janeiro. A Associação dos Amigos do Weizmann do Brasil realizou um evento, em parceria com o cônsul honorário do Rio de Janeiro, Osias Wurman, a Federação Israelita e o Fundo Comunitário locais. Junto com Cláudia Costin, Yonath visitou a Escola Eleva, onde fez palestra e interagiu com os alunos.
Crianças fazem cartões para Grandes Festas Paula Canter Jacobsberg, do Studio Canter, realizou uma oficina com os atendidos pelo Lar das Crianças da CIP. Para desenvolver cartões de Rosh Hashaná, um deles feito manualmente, exclusivo. Assista ao vídeo da oficina, produzido por Mônica Zanon (https://goo.gl/gEzmzc), escolha os modelos e personalize as mensagens pelo e-mail cartaolar@cip.org.br.
“As Menin nas” foram para Recife A mostra “As Meninas do Quarto 28”, que já passou pelo MuBe, Hebraica, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília, e foi vista por mais de quarenta mil pessoas, agora ocupa a Galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu, no Recife, até 29 de outubro. Além da montagem, que reproduz um quarto no campo de concentração de Theresienstadt, na antiga Tchecoslováquia, a mostra exibe desenhos das cinquenta meninas que ali viveram dois anos durante a Segunda Guerra. Karin Zolko e Rosely Chansky dirigem esta mostra itinerante. 58
Depois de um ano sabático em Portugal, Suely Cencini volta e abre seu atelier de alta costura no Itaim. Eleita três vezes como a melhor doceria da cidade pela revista Veja, a Confeitaria Marília Zylbersztajn deliciou quem passou pela Callebaut Chocolate Week. A antropóloga Mirian Goldenberg foi uma das palestrantes no lançamento do Programa Unibes Cultural Sênior. Um ano e meio no metrô de Nova York, com o iPhone na mão e fotografando, resultou no livro You Are not Here. Obra do fotógrafo paulistano Jairo Goldflus em 456 imagens.
CASA DO POVO FESTEJA 64 ANOS A Casa do Povo prepara um superjantar para comemorar seus 64 anos de existência durante os quais abrigou a Escola Sholem Aleichem e o famoso Teatro Taib. Será uma grande festa, dia 18, com show do violinista Ricardo Herz e um múltiplo preparado pelo artista Maurício Ianes, mais Ivan Ralston comandando o cardápio. Eliana Finkelstein, Flávia Matalon, Joyce Pascowitch, Lilian Starobinas, Renata Schmulevich, Renato Cymbalista, Susana Steinbruch compõem a comissão organizadora do evento. Informações, incentivo@casadopovo.org.br.
AG G E N DA 12/9 – 19h, Salão Marc Chagall, Hebraica. Mega Challah. Faça sua chalá antes de Rosh Hashaná! Venda on line de ingressos: www. megachallahbrasil.com.br 16 a 25/10 – 5a Missão de Tecnologia, Ciência e Segurança para Israel. Realização Fundo Comunitário. Informações, 3081-7244 (Renata) ou pelo e-mail fundo@fundocomunitario.org.br
ESPORTES
Compromisso O INTERNACIONAL Dois times de handebol disputaram torneios de verão na Noruega, Suécia e Dinamarca, países onde a modalidade é preferência nacional e conseguiram, além de um vicecampeonato, muito aprendizado para encarar a segunda fase do Campeonato Paulista
A viagem à Escandinávia já se tornou tradição na agenda do handebol da Hebraica
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rganizar excursões pela Europa no meio do ano é quase tradição dos clubes e colégios onde se pratica o handebol. Em alguns países, a modalidade é mania nacional e onde se desenvolvem as técnicas mais avançadas de jogo. Segundo o técnico Gui Borin, a Hebraica já foi finalista algumas vezes do Partille Cup, o maior torneio do mundo, realizado na Suécia. “Este ano a Hebraica conseguiu enviar duas equipes formadas por atletas do sub-16 e sub-18, o que foi muito positivo. Também participaram equipes do Esporte Clube Pinheiros, Colégio Santa Cruz e um time misto formado por alunos do Colégio Arquidiocesano e outras entidades”, destacou. A viagem dos brasileiros começou pela Noruega, na cidade de Bergen, a seiscentos quilômetros ao norte de Oslo. “Foi a primeira vez que disputamos esse torneio. A cidade fica próxima aos fiordes, um lugar lindo com um dos maiores índices pluviométricos da Europa. A equipe sub-16 foi vice campeã, perdendo por um ponto, na final, do time de Bergen. A equipe sub-18 ficou em quarto lugar.” Em seguida, foram de trem para a Suécia. Sete horas atravessando as montanhas para disputar o Partille Cup, um dos principais no calendário sueco, com a participação de 88 países e cerca de dez mil atletas jogando em vinte ou trinta quadras de grama sintética espalhadas em quatro praças esportivas. O sub-16 ficou entre os dezesseis melhores e o juvenil (sub-18) ficou um pouco mais abaixo da tabela. Era verão, clima ideal para jogar. Já na Dinamarca, as duas equipes do clube disputaram um torneio menor, mas, de acordo com o técnico Gui Borin, tem maior nível técnico. “Os garotos do sub-16 ficaram entre os oito melhores. É um resultado ótimo, se considerarmos que a maioria dos atletas está no primeiro ano na categoria, ou seja, 15 anos, e enfrentaram times com atletas de 16. Foi uma verdadeira maratona de jogos. Em média, dois a três por dia”, explicou. Segundo ele, a excursão à Europa visa preparar os times para a segunda fase do Campeonato Paulista. “O grupo fica mais próximo, aprende técnicas e jogadas novas e apresenta um nível de jogo muito melhor. Creio que este ano o sub-16, o sub-18, o sub-21 e o adulto têm condições de disputar as finais no Paulista, que vai até outubro”, espera Borin. (M. B.)
ESPORTES
TÊNIS DE MESA Sócios de todas as idades aceitaram o convite feito pelo Departamento Geral de Esportes para a aula aberta de tênis de mesa na Praça Carmel. No segundo sábado de agosto, várias mesas oficiais foram instaladas no centro da Praça e todas ficaram ocupadas, ora por aprendizes tentando os primeiros saques, ora por tenistas veteranos, alguns dispostos a contar suas experiências na 20a Macabíada, em Israel. O medalhista olímpico Israel Stroh, (prata na Rio 2016, ouro na Macabíada 2017) conversou e jogou com todos os que se aproximaram dele.
Seletiva nacional de judô A judoca Maria Jasmin, uma das integrantes da equipe competitiva da Hebraica, foi convocada a participar da seletiva nacional, ou seja, tem chances de integrar a seleção brasileira. Aos 19 anos, ela treina no clube, atua como professora da turma de 3 e 4 anos e cursa a Faculdade de Educação Física. Para angariar fundos, ela organizou a rifa de um aparelho eletrônico e cruzou os dedos para conseguir mostrar seu potencial este mês, na seletiva em Salvador.
MEDAL LHAS PARA O JUDÔ As primeiras medalhas obtidas pelos judocas do clube no segundo semestre foram obtidas por Gustavo Rosa (ouro), Raphael Pinheiro (prata) e Tayla Maria (bronze) no Campeonato Brasileiro sub-13. No post comemorativo, a técnica Miriam Minakawa louvou os pupilos. “Parabéns a atletas. Vocês todos são campeões de dedicação, esforço, comprometimento e disciplina. A Hebraica, o Projeto Social e a Associação Minakawa de Esportes se orgulham de vocês.” 62
COSTUMES E TRADIÇÕES
Por Joel Faintuch
Por menor que seja o interesse pela religião e pelas tradições judaicas, poucos são os judeus que desconhecem o feriado do Iom Kipur. Nenhuma outra crença possui um dia de abstinência e oração tão solene e venerado, para expiação dos pecados
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e fato, o Iom Kipur ocupa uma posição especial na liturgia. Um tratado inteiro da Gemará (Iomá, O Dia) é devotado à data. Todos os dias do ano, excertos de Iomá são recitados no início das orações matutinas (Shacharit). No capítulo respectivo (Eizehu Mekoman, qual o local), discriminam-se as regras dos sacrifícios levados na ocasião ao Grande Templo (Beit Hamikdash). Trata-se, também, da única data no ano em que o Grande Sacerdote (Cohen Gadol), entrava no local mais sagrado do Templo (Kodesh Hakodashim, o santo dos santos), para realizar a tradicional oferenda de incenso (Ketoret), em nome do povo. No livro dos Salmos (Tehilim, capítulo 139), está assinalado que todos os dias foram formados, e somente um pertence ao Eterno. Trata-se, claro, do Iom Kipur. Mas e por que um dia tão especial? Não se constitui apenas de uma oportunidade para purificação das faltas, mas no mais importante dos Dez Dias Temíveis (Iamim Noraim). Segundo a transcendental prece Unetané Tokef, composta por rabi Amnon de Mogúncia no século 11, em Rosh Hashaná as pessoas são julgadas e, em Iom Kipur, carimbadas. Por isto mesmo, o cumprimento do dia é Gmar Chatimá Tová (uma boa e completa carimbada), para as pessoas serem confirmadas para um ótimo ano, no Sefer Hachaim (Livro da Vida). O autor de Unetané Tokef foi barbaramente tortura66
do e deixado à morte, por ordem do arcebispo de Mogúncia (Mainz, Alemanha), na véspera dos Iamim Noraim, por se recusar a abandonar a crença, e se converter ao catolicismo. Segundo a tradição, mesmo agonizando, ele pediu para ser levado à sinagoga, e na noite de Rosh Hashaná recitou a nova oração, antes de entregar a alma ao Criador. Assim que terminaram os dois dias de Rosh Hashaná, esta oração foi transcrita por seu discípulo, rabino Kalonimus ben Meshulam (999-1096), e passou a fazer parte de todos os machzorim (livros de oração das Grandes Festas), das congregações asquenazitas, e de algumas poucas sefaraditas. É recitada tanto em Rosh Hashaná como em Iom Kipur, no segmento matutino de Mussaf. Há quem duvide da autoria, e mesmo da existência de rabi Amnon, pois praticamente nada se sabe a respeito da vida dele. Os mesmos críticos defendem que Unetané Tokef tenha sido escrito em Israel, entre os séculos 6 e 8. A prova seria um manuscrito de teor semelhante, encontrado na Genizá da sinagoga Ben Ezra, no Cairo, Egito, aparentemente bem antigo. Esta Genizá era o local de armazenamento de textos sagrados velhos e danificados, e ao longo do tempo tem-se revelado, um verdadeiro tesouro de informações. No entanto, a prece não existe em machzorim anteriores, nem fazia parte da liturgia dos Iamim Noraim em nenhuma parte do mundo. Começou a se difundir exatamente na
Europa Central, a partir do século 11. Entre as famílias observantes, crianças com alguma maturidade já são ensinadas a jejuar na noite de Iom Kipur. Quando maiores, também no período da manhã, até que o bar-mitzvá (ou bat -mitzvá), torne obrigatório um dia inteiro de jejum. Há judeus que se desligaram completamente da comunidade, e até se tornaram inimigos da fé. Mas o jejum do Iom Kipur é algo tão profundo, que até eles hesitam em quebrá-lo. Diversos outros hábitos marcam a data. Em cidades da Europa Oriental, comia-se de véspera (seudá hamafsseket, a refeição pré-jejum), kreplach (pastéis cozidos de carne moída). A justificativa popular era: “ven men shlogt, este men kreplach” (“quando se bate, come-se kreplach”). Talvez em alusão à carne do recheio que já vinha batida, triturada. Na véspera de Iom Kipur transfere-se as más ações das pessoas, para galos e galinhas, com pequena prece (Kaparot) , que “absorvem” o castigo respectivo, na medida em que são abatidos de forma kasher, fornecendo dentre outras, a carne moída dos kreplach. Outras datas para kreplach são véspera de Purim (bate-se em Haman), e Hoshaná Rabá (bate-se no solo com ramos de salgueiro). Velas ou lamparinas são acesas nos lares e sinagogas para recordar os falecidos. No rito asquenazita, Iom Kipur é um dos dias de Izkor (recordação dos falecidos). No Brasil e em outros países, algumas sinagogas cobriam uma mesa externa com chapa metálica, para todos congregantes poderem acender as velas de véspera, com baixo risco de incêndio. Atualmente, luzes elétricas votivas eliminaram este problema. Além das duas grandes velas na mesa principal das residências, acesas cerimonialmente pela dona-de-casa antes da saída para a sinagoga, pois Iom Kipur é também um dia festivo. Não há kidush (santificação com vinho), e a refeição é à tarde, e não à noite. Mas isto não faz diferença. Há chalot (pães doces trançados) na mesa, come-se maçã com mel, e eventualmente outros alimentos similares aos de Rosh Hashaná. É o shabat shabaton (Vaikrá/ Levítico, capítu-
Mas e por que um dia tão especial? Não se constitui apenas de uma oportunidade para purificação das faltas, mas no mais importante dos Dez Dias Temíveis (Iamim Noraim). Segundo a transcendental prece Unetané Tokef, composta por rabi Amnon de Mogúncia no século 11, em Rosh Hashaná as pessoas são julgadas e, em Iom Kipur, carimbadas
lo 16), o maior dos sábados do ano (mesmo que caia em uma quarta-feira). Em princípio, a refeição pós Iom Kipur deve ser formal também, e logicamente kasher. Entretanto os ancestrais foram condescendentes. Quem estiver esfomeado, pode forrar o estômago como preferir, desde que ouça o toque do shofar na sinagoga, e finalize suas orações. Algumas lanchonetes em Israel divulgam publicidade especial para a quebra do jejum, como hamburgers de quinhentos gramas e outras loucuras. Na primeira missão tripulada para Marte da Nasa, dois astronautas desembarcam uma tonelada de equipamentos científicos, para testar a existência de vida no planeta vermelho. Um deles diz para o outro: – Por que não riscamos simplesmente fósforos? Se houver um mínimo de oxigênio na atmosfera, queimarão. Se não, nada ocorrerá. Um deles pega uma caixinha, e quando se prepara para acender aparecem diversos marcianos, pedindo, por favor, para não fazê-lo. Atordoados e surpresos pelo encontro inesperado, um deles puxa uma barra de chocolate e tenta oferecer aos marcianos para quebrar o gelo e favorecer o diálogo. Segue-se reação igual, educada, porém seca: – Por gentileza, não queremos. Guardem isto de volta. Agora os astronautas ficam mais intrigados: – O que está acontecendo aqui? Fizemos algo de errado? – Desculpem, mas em nosso calendário hoje é Iom Kipur. Não se proíbe aos turistas judeus visitarem os polos, norte ou sul. Para os apreciadores de aventuras radicais e incomuns, parece um ótimo programa. Aconselha-se, no entanto, jamais residir por lá, mesmo se, algum dia, problemas do clima inóspito, dificuldade de acesso e falta de qualquer infra-estrutura, forem solucionados. Nestes locais, a noite dura seis meses, e o dia, outros seis. E, como se sabe, o jejum de Iom Kipur deve incluir uma noite e um dia. Portanto, quando chegar a grande data, haja preparo e saúde de ferro! 67
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Ariel Finguerman, em Herzliya
Israel abre a primeira faculdade de
EMPREENDEDORISMO
A Escola de Empreendedorismo do IDC
Se há uma palavra em moda nesta época, especialmente no mundo dos negócios, é empreendedorismo. É definido como a capacidade de criar novos caminhos no amplo mercado de ideias e empresas
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té por uma questão de sobrevivência, o Estado de Israel tornou-se um dos países mais empreendedores do mundo, e volta a surpreender na área acadêmica. Mês que vem, será instalada a primeira turma da Faculdade de Empreendedorismo, considerada única no mundo em sua proposta. Será a mais nova unidade do Interdisciplinary Center (IDC), uma faculdade privada de muito sucesso, em Herzlyia, cidade que se tornou nos últimos anos símbolo das start-ups sabras. “A IDC é ela mesma produto de empreendedorismo. Onde funciona era uma base abandonada do Tzahal, totalmente transformada em um projeto considerado maluco por muita gente, há duas décadas”, diz o diretor da Faculdade de Empreendedorismo, Yair Tauman, em entrevista à revista Hebraica. O israelense Tauman é um matemático de renome internacional ligado ao mundo dos negócios, que vive entre Israel e Estados Unidos, onde ensinou em uma das melhores faculdades de administração do mundo, a Kellogg School of Management. Agora, no programa da IDC,
lecionará sua especialidade – teoria dos jogos aplicada em marketing –, área que desenvolveu junto com seu mentor, o prêmio Nobel americano-israelense, Robert Aumann. A turma de outubro, que abrirá a Faculdade de Empreendedorismo, já tem sessenta inscritos. Três anos mais tarde, sairão de lá formados também em administração de empresas. O programa será um misto de aulas teóricas e práticas, durante as quais os estudantes serão estimulados a criar start-ups. “Teremos inclusive apoio psicológico para os alunos, de modo a aprenderem a lidar com os fracassos inevitáveis. É muito raro um empreendedor ter êxito logo de primeira”, diz o diretor. Não se sabe de outra faculdade similar em qualquer parte do mundo. “Parece que existe outra escola de empreendedorismo em Boston, mas nem é chamada assim. Se for mesmo, é a única que conheço fora de Israel. Acho que é a primeira vez no mundo em que um governo dá permissão para um curso acadêmico em empreendedorismo”, diz o experiente diretor. Tauman levou o correspondente da Hebraica para conhecer o edifício da faculdade, inaugurado há pouco mais de um ano. O ambiente à vontade dos estudantes e o design moderno fazem a escola parecer um escritório do Google ou do Facebook. Boa parte do investimento para tudo isto veio do bilionário norte-americano Sheldon Adelson, dono de uma fortuna de mais de U$ 32 bilhões. Aliás, também o maior doador privado para a campanha presidencial de Donald Trump. Paramos num paredão e, pregados nele, os logos de empresas. São algumas das start-ups criadas por estudantes que participaram de um programa extracurricular de empreendedorismo existente na IDC há dezesseis anos, antes de se tornar agora currículo oficial da faculdade. O programa é chamado Sam Zell, nome deste bilionário judeu do ramo imobiliário de Chicago que o financiou. E tão bem-sucedido que foi citado na The Economist e inspirou a criação da Faculdade de Empreendedorismo. O Programa Sam Zell continuará existindo, escolhe 24 jovens israelenses promis-
Professor Yair Tauman diz que a Escola Adelson de Empreendedorismo é única no mundo
sores e dá um verdadeiro banho de conhecimento em start-ups. Já incluiu levar os estudantes para jantar com o mega-investidor Warren Buffett, participar de workshop com Uri Levine, o criador do Waze, e fazer visitas frequentes ao Vale do Silício, na Califórnia. Os formandos do programa criaram noventa start-ups que empregam atualmente 1.500 pessoas e atraíram U$ 450 milhões em investimentos. “Isto não existe em Stanford nem no MIT”, diz o diretor. A Faculdade de Empreendedorismo, criada a partir destas experiências, tem por objetivo também o público jovem internacional, incluindo, claro, estudantes do Brasil. Para isto, o programa será todo em inglês. “Também nisto queremos uma competição justa entre os estudantes. Hoje os estrangeiros são cerca de 20%, e nada impede que no futuro sejam 100%. Não daremos preferências”, garante Tauman. Outra boa razão para atrair estudantes estrangeiros é que Israel já se tornou símbolo de empreendedorismo global. Quando se conta o número de empresas de tecnologia registradas na Nasdaq de Nova York, o Estado judeu só perde para os norte-americanos. Existem lá mais start-ups registradas em Israel do que o total da Europa, Japão, Coreia, Índia e China. Em resumo, o Made in Israel na área do empreendedorismo tecnológico já se tornou uma brand. Leia mais sobre empreendedorismo israelense à página 18.
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MAGAZINE Jonathan Davis – A vantagem aqui é o programa todo em inglês. Se um brasileiro pensa em estudar fora do país, digamos nos EUA, Canadá ou Reino Unido, o IDC também é uma opção. Nossos cursos em inglês têm exatamente o mesmo currículo dos cursos que oferecemos em hebraico para o estudante israelense. Por isso somos a faculdade mais internacional do país.
ENTREVISTA
Empreendedores em tudo, por que não? O Centro Interdisciplinar de Herzlyia (IDC), fundada há apenas 25 anos, já coleciona alguns feitos no disputado mercado acadêmico do país. Foi eleita como a “mais satisfatória” pelos estudantes israelenses – apesar de absorver apenas 1% dos jovens do país. Por outro lado, a faculdade é sucesso entre os estrangeiros que decidem estudar no Estado judeu. De cada três inscritos no IDC, um é estrangeiro – incluindo cerca de trinta brasileiros. A faculdade foi criada ao estilo de uma start-up, recusando qualquer ajuda do governo. Oferece cursos de graduação e mestrado nas áreas de Comunicação, Administração, Economia, Computação, Empreendedorismo e Políticas de Governo. A anuidade é de U$ 12,5 mil por ano. “Mais barato que os U$ 60 mil de Harvard”, disse à Hebraica seu vice-presidente, Jonathan Davis. Hebraica – Para um jovem brasileiro que pensa em estudar em Israel, por que ele escolheria a IDC e não universidades tradicionais como Tel Aviv ou Jerusalém? 72
Estudantes do programa de empreendorismo
O IDC optou em não receber qualquer ajuda do governo. Por quê? Davis – Somos mais criativos quando não temos ajuda do governo. Dormimos menos, trabalhamos mais duro. Não recebemos um tostão do governo, então não queremos também que nos digam o que fazer. Somos empreendedores mesmo, acreditamos na livre iniciativa, privatização e competição. Nossa inspiração são as faculdades privadas norte-americanas, como Harvard, Yale e Columbia. Em São Paulo também há faculdades assim, mas tendem a ser elitistas, apenas para os ricos. Davis – Não queremos que a IDC seja somente para ricos, queremos atrair também gente inteligente que nasceu numa família pobre. Acreditamos em ajudar os mais necessitados através de bolsas. Cinquenta etíopes estudam aqui e não pagam nada. A IDC foi fundada por uma elite de acadêmicos e generais do Tzahal. É uma faculdade israelense por excelência? Davis – Acreditamos no sionismo, não achamos esta uma palavra má, muito pelo contrário. Jovens que serviram como oficiais em unidades de combate do Tzahal não precisam fazer exame de admissão aqui. Também damos lições privadas de recuperação para todos os reservistas quando são chamados para servir o exército e perdem aulas. Temos aqui a maior proporção de oficiais do exército estudando no país. Se alguém se incomoda com isto, não precisa vir estudar aqui.
12 NOTÍCIAS
Ariel Finguerman ariel_finguerman@yahoo.com
AM ISRAEL CHAI – Enquanto o país enfrentava uma nova onda de violência ao redor do Monte do Templo, uma ótima notícia: a gigante farmacêutica japonesa Mitsubishi Pharma comprou, em dinheiro vivo, a empresa israelense NeuroDerm, especializada no desenvolvimento de drogas contra o mal de Parkinson. Os japoneses pagarão U$ 1,1 bilhão, na maior transação deste setor na história israelense. A justificativa da Mitsubishi é melhorar a posição da empresa no mercado internacional. O presidente e criador da NeuroDerm, Robert Taub, já havia fundado a Omrix, perto de Rehovot, e a vendeu para a Johnson & Johnson por U$ 438 milhões.
PLANO B – O que faz um campeão olímpico quando sai dos holofotes e, ainda jovem, se aposenta do mundo do esporte? Para ganhar a vida, Gal Fridman, único medalhista de ouro na história de Israel, resolveu ser fotógrafo de casamentos. Aos 41 anos, o jovem que emocionou toda uma nação em Atenas em 2004, ao vencer no windsurf, mudou de carreira. Tudo começou como hobby, fotografando cenas esportivas nas horas vagas. Agora trabalha para dois bufês perto de Cesareia, fotografando casamentos, bar-mitzvás e aniversários. “Não nego serviço”, diz o ex-campeão.
ACABOU A MOLEZA – A Suprema Corte de Israel decidiu que mulheres divorciadas deverão contribuir de maneira igualitária com os ex-maridos para a pensão dos filhos. Até agora, era só o ex que pagava as despesas, mesmo se ela ganhasse mais que ele. A decisão colocou um ponto final em um processo judicial de dois homens divorciados que se uniram para apelar ao Supremo – um deles ganha menos que a ex, o outro tem a mesma renda que ela. As pensões agora para filhos entre 6 e 15 anos levará em conta a declaração de renda dos pais e os pagamentos serão feitos proporcionais, podendo até a mulher arcar com maior valor que o homem.
PRIMEIRO MUNDO – Quem ganha com a necessidade de renovar a carteira de motorista a cada cinco anos? Com certeza, não o cidadão comum. O governo israelense anunciou para este ano uma reforma muito bem-vinda no sistema: as carteiras terão validade até os 70 anos de idade, sem necessidade de qualquer renovação. A partir dos 70 anos, a renovação será exigida a cada cinco anos. E a partir dos 80, a cada dois anos. A ideia é desafogar as filas no Ministério dos Transportes e desburocratizar a vida do motorista. A ideia veio de países como Inglaterra, Dinamarca e Finlândia. Talvez um dia seguiremos até o exemplo de Alemanha e França, onde as carteiras não tem data de vencimento. 74
LUTA CONTRA O RUSH – Vem aí o maior estacionamento de Israel, que será construído ao norte de Tel Aviv, no kibutz Shefaim. É mais uma iniciativa para diminuir o enorme trâfego da hora do rush no centro do país. Serão sete mil vagas em três andares, de modo a estimular os cidadãos a não se aproximar com seus carros de Tel Aviv. Ali também será construído um terminal do sistema de trem do país e oitenta vagas para ônibus. O custo do projeto é de quatro bilhões de shekalim (mesmo valor aproximado em reais) e ficará pronto até 2023. É mais uma super-obra do superministro dos Transportes do país, Israel Katz
EMPREGO DESIGUAL – O desemprego em Israel é baixo, mantido em níveis europeus. Mas quando se coloca uma lupa na situação, o quadro é menos cor-de-rosa. Segundo novo relatório do governo, nas áreas onde vive a elite, o desemprego é quase inexistente: Savyon, ao norte de Tel Aviv, tem apenas 0,8% de gente sem trabalho e Omer, no sul, apenas 1,5%. Já a situação nas áreas muçulmanas de Israel é bem mais crítica: Ararah, no Negev, tem 25,3% de gente sem trabalho e, em Kusseife, de beduínos, 20,8% estão parados. Os piores índices estão entre as cidades judaicas ficaram com Mitzpé Ramon (10% de desemprego) e Dimona (9%), ambas no Negev.
BRUCHIM HA-BAIM – Boa notícia para o turismo em Israel: o governo autorizou a construção de um hotel no aeroporto Ben-Gurion. A rede hoteleira israelense ou estrangeira que vencer a licitação se comprometerá a construir um hotel de até quatrocentos quartos e, pelo menos, três estrelas. Haverá espaço para congressos, academia de ginástica e restaurante. O hotel terá ligação direta com o terminal de desembarque e as malas chegarão diretamente na recepção. Também haverá comunicação com a estação de trem do aeroporto. Se tudo der certo, o hotel será inaugurado em 2020.
SE LIGA, MALANDRO – Como combater a falta crônica de novas moradias na região central de Israel? O governo anunciou um megaplano para demolir todas as penitenciárias na região e, em seu lugar, construir dezenas de milhares de novos apartamentos. A operação levará uma década e incluirá o desaparecimento de conhecidas prisões do país, como a Ma’asiahu, que recebe políticos condenados famosos, e a Abu Kabir, em Tel Aviv. Ao mesmo tempo, serão construídas novas penitenciárias na Galileia e no Negev. Ou seja, acabará a mordomia de prisioneiros “residirem” em áreas nobres e ficará um pouco mais quente nas celas do país.
FUGA CEREBRAL – Israel bateu outro recorde mundial, desta vez, no entanto, prejudicial ao próprio país. Nenhuma outra nação exporta tantos cientistas para os EUA como o Estado judeu. De cada cem cientistas que trabalham em Israel, outros 27 decidem se mudar para universidades e laboratórios norte-americanos. Os israelenses já formam o maior contingente de professores acadêmicos estrangeiros atuando na terra de Donald Trump. “Simplesmente, não há lugar para todo mundo”, explica Noam Segel, 34 anos, ex-oficial da Aeronáutica do Tzahal e hoje membro da equipe que desenvolve o site da Airbnb na Califórnia. 75
12 NOTÍCIAS TÁXI PALESTINO – Enquanto o Uber, aplicativo conhecido dos paulistanos e de mais quinhentas cidades no mundo, continua proibido de operar em Israel, os vizinhos palestinos não perderam tempo. Começou a operar em Ramallah o aplicativo Careem, similar ao Uber, mas desenvolvido em Dubai e soberano no mercado do Oriente Médio. Avaliado em um bilhão de dólares, o Careem opera em mais de cinquenta cidades muçulmanas, onde supera o Uber. Agora querem estender o serviço para toda a Cisjordânia. O aplicativo já atraiu cem motoristas palestinos, satisfeitos com a receita alternativa ao desemprego que impera nos territórios.
SONHO AMERICANO – A start-up WeWork, fundada pelo israelense Adam Neumann nos EUA, tornou-se a terceira empresa tecnológica privada mais valorizada do mundo. Segundo a revista Forbes, agora que Neumann recebeu mais U$ 760 milhões aplicados por investidores, sua empresa está avaliada em U$ 20 bilhões. Só perde para o Uber (U$ 70 bilhões) e Airbnb (U$ 30 bilhões) na área privada, ou seja, entre as startups que ainda não abriram seu capital em bolsas de valores. Apenas como comparação, a WeWork ganha de longe do Twitter, avaliado em “apenas” U$ 13 bilhões. Neumann, nascido em Beer Sheva, viveu em várias cidades e kibutzim em Israel, até se alistar na Marinha. Após o serviço no Tzahal, mudou-se para Nova York, onde há apenas sete anos, fundou a WeWork, junto com um sócio. A empresa revolucionou o mercado de escritórios na cidade, oferecendo via internet espaços compartilhados para quem quisesse estabelecer uma nova empresa, mas não tinha dinheiro para arcar sozinho com os altos custos de aluguel. Hoje a WeWork emprega dois mil funcionários, tem mais de cem mil membros e atua em doze países. Em Israel, está presente em Tel Aviv, Herzliya e Beer-Sheva.
ELAS MERECEM – Ótima notícia para as crianças do kibutz Hatzerim, no deserto do Negev: a famosa empresa da comunidade, Netafim, líder mundial na tecnologia de irrigação por gotejamento, teve mais um naco vendido para estrangeiros, agora para os mexicanos da Mexichem. Com isto, entraram para o cofre dos 750 membros do kibutz, já um dos mais ricos do país, U$ 180 milhões, descontados os impostos. O que fazer com tanta grana? Depois de terem no passado engordado a pensão de todos os membros e criado um fundo que investe em outras start-ups do país, agora chegou a vez das crianças. Os pais da comunidade receberão 250 mil shekalim (o equivalente em reais) em nome de cada filho, para fazer o que bem entenderem com a grana. E haja criançada neste kibutz. Com a prosperidade que a Netafim injetou desde 1965, ano da sua fundação, as famílias locais se sentiram à vontade para ter uma média alta de filhos – 3,5 por casal. “Não vamos distribuir somas ilógicas para os membros do kibutz, e ninguém está exigindo isto”, diz Eli Ben Simon, diretor da Netafim e responsável por negociar com os mexicanos. “Aqui ninguém nunca passou fome e agora não temos necessidade de avançar sobre o espólio.” 76
MAGAZINE
Por Elad Zeret com Liel Leibovitz
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Como o Povo do Livro fundou um Estado nação moderno, é justo dedicar uma semana para celebrar os livros. Mesmo agora com muitas telas e mídia social, Shavua Ha’Sefer, ou Semana do Livro, é uma das mais queridas tradições de Israel, com feiras de livros em cidades do país e autores compartilhando ideias e obras
SOBRE SER JUDEU
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ara celebrar o evento, o jornal israelense Yediot Aharonot reuniu escritores de renome – israelenses, judeus norteamericanos e um filósofo francês – para falar de política, profecia, identidade, família e, claro, Donald Trump. Eis trechos dessas conversas com Amos Oz, A. B. Yehoshua, Etgar Keret, Jonathan Safran Foer, Paul Auster, Michael Chabon, Meir Shalev, Ayelet Waldman, Nicole Kraus e Bernard-Henri Lévy.
Etgar Keret (foto abaixo) – Os escritores judeus se divertem muito mais, principalmente os judeus norte-americanos. Todo tema pode ser espremido até a última gota. Assim, no tempo que levo para escrever sessenta páginas, Jonathan Safran Foer (autor do recente Estou Aqui) escreve um romance de seiscentas páginas.
Paul Auster se vincula ao seu judaísmo tanto do ponto de vista teológico como histórico
Paul Auster – Devo admitir que não compreendo completamente toda essa obsessão com a identidade. Para mim, identidade é o meu passaporte, com meu nome e fotografia. Nunca pensei em meus personagens confusos a respeito de sua identidade. É verdade, no entanto, que eles lutam, sofrem perdas ou outras dificuldades e tentam reconstruir suas vidas, mas são lutas universais, nem de judeus nem de não-judeus. Minha ambição como escritor sempre foi escrever acerca das coisas significativas na vida de uma pessoa – nascer, crescer, apaixonar-se, estar apaixonado – e as experiências que elas criam. Nicole Kraus – Frequento um grupo mensal de estudos judaicos há vinte anos. Todos lá têm 75 anos, e aguardo ansiosa essas reuniões. A cada encontro, entendo exatamente como meu cérebro é moldado por ser judia. É uma enorme riqueza. A. B. Yehoshua – Quando se fala de escrever e o judaísmo, é importante deixar claro que judaísmo é um termo que remonta ao século 19. Minha escrita é israelense. Eu sou a quinta geração de uma antiga família de Jerusalém pelo lado paterno. Os an-
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tepassados dele chegaram de Tessalônica e de Praga. Do lado da minha mãe, meu avô era um rico marroquino que deixou para trás todos os filhos e netos e fez a aliá em 1932 porque era sionista, quando aqui viviam duzentos mil judeus. Ele veio de um Marrocos livre do antissemitismo, um homem religioso. Portanto, sou completamente israelense, assim como meu texto... A mudança de ser judeu para ser israelense é moral, porque significa assumir a responsabilidade da totalidade da realidade e de tudo o que a rodeia. Um judeu da Diáspora é um judeu que é livre quando interage com outros judeus da Diáspora. Ele não está aqui nem lá, mas, na verdade, está em toda parte. Aqui, em Israel, você vive como qualquer um em qualquer outro lugar, em uma nação que oferece responsabilidade mútua e reforça a disciplina mútua. Você é testado todos os dias com base no que você faz, e não no que diz. Eu vivo dentro do hebraico. Sou cidadão israelense. Minha identidade é clara. Não há um único israelense que se possa dizer que é um israelense assimilado, mesmo que não tenha lido Bialik ou o Sidur, assim como não se pode dizer que um francês é assimilado porque nunca leu Molière ou pouco soubesse da história francesa.
Minha escrita é israelense. Eu sou a quinta geração de uma antiga família de Jerusalém pelo lado paterno. Os antepassados dele chegaram de Tessalônica e de Praga. Do lado da minha mãe, meu avô era um rico marroquino que deixou para trás todos os filhos e netos e fez a aliá em 1932 porque era sionista, quando aqui viviam duzentos mil judeus.
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Escritores de Israel e dos EUA falam de sionismo, judaísmo, liberalismo e Trump
(A. B. Yehoshua)
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MAGAZINE Ayelet Waldman – A comunidade judaica na América é provavelmente a comunidade branca mais consistente e progressista, em termos de direitos: ao aborto, direitos civis, constituição, igualdade de direitos, feminismo, tudo – desde cuidados à saúde à política externa. E Israel era encarado por gerações anteriores – a dos meus pais, por exemplo –, como uma espécie de exceção à regra. As gerações que adotavam essas políticas progressistas em casa, se fosse o caso marchariam com Martin Luther King, mas tinham um lado favorável em relação a Israel, de tal forma que Israel podia fazer o que quisesse, porque há um tipo de ansiedade, a ansiedade do Holocausto. Mas a jovem comunidade judaica da América não tem essa mesma sensação de exceção. Não tolera a contradição da política, expressa na política norte-americana e no sionismo. O melhor cenário é o de organizações como J Street, que é abertamente sionista em relação ao Estado de Israel, e acredita na solução de dois Estados. A verdade é que a maioria dos judeus norte-americanos experimenta uma completa desconexão, mesmo os judeus que querem desesperadamente ter um relacionamento com o judaísmo. Sempre sinto que Israel co-
Michael Chabon e Ayelet Waldman Waldman – Por um tempo, tentamos encontrar um judaísmo que tivesse a ver com a religião real. Meus pais me criaram ateia e sionista, então nunca fui à sinagoga. Havia ódio por todas as coisas ortodoxas. Ocorre que passamos por um período em que nossa família abraçou o judaísmo. Todos os nossos filhos são bnei mitzvá, houve belas cerimônias que foram realmente significativas para nós como uma família. Celebramos o Shabat, e por um tempo ocasionalmente até fomos à sinagoga. Chabon – Por uma década. Waldman – Sim, tentamos, fizemos o melhor possível. E então, em dado momento, nos olhamos um para o outro e dissemos “basta”. Era a ideia de que aqui estamos, tentando forçar essas estruturas do judaísmo em uma espécie de rubrica progressista espiritualmente significativa, quando é como um gracejo. Se pode reescrever as orações de vez em quando. E a verdade verdadeira é que esta é uma religião que se trata... Chabon – De chauvinismo. 80
A FAMÍLIA AYELET WALDMAN E MICHAEL CHABOM COM OS QUATRO FILHOS. DOIS NÃO FORAM PARA ISRAEL
meteu um erro terrível ao vilipendiar a J Street, porque a J Street é o melhor cenário. Meus filhos simplesmente não querem ouvir falar nisso. Eles não se importam e nem estão interessados. Seus valores como democratas na América não podem ser alinhados com o que está acontecendo nos territórios ocupados e, por isso, se desconectam. Pela primeira vez, queríamos trazer dois dos nossos filhos mais novos para Israel. Também ofereci isso aos mais velhos. Disseram “não”. Preferem ir a outro lugar do mundo. Completamente desconectados. Eles não querem ouvir falar disso, pensar nisso, nada. Amos Oz – O fanatismo nacionalista é quase todo produto dos judeus europeus, para não dizer dos ashkenazim. O fanatismo dos pais fundadores de Israel, de algumas das pessoas mais chegadas a mim, forjou aqui um novo homem e apagou todas as tradições de todas as Diásporas, incluindo o ídiche e o ladino, que é um tipo de fanatismo da Europa Oriental. Esse fanatismo se completa com a adoração pelas Forças Armadas e com as aspirações imperialistas. Da mesma forma, o fanatismo dos judeus haredi, aquele que dita que ser judeu significa isolar-se em seu gueto, isso também é uma importação europeia. Os judeus do Oriente Médio sempre foram religiosamente mais tolerantes e estavam acostumados a viver pacificamente com pessoas muito diferentes de si mesmos. O fanatismo é uma maldição que nos vem da Europa, não do Oriente Médio, e meu coração se parte ao ver como filhos e filhas de judeus que emigraram dos países do Oriente Médio estão infectados e são levados por esse fanatismo europeu. Eu queria que fosse o contrário. Bernard-Henri Lévy – Os extremistas são realmente uma minoria. Mas, se houver algo a respeito de que os judeus israelenses têm dificuldade em falar, é o abismo entre religiosos e seculares, entre Jerusalém e Tel Aviv. No meu livro, explico por que a palavra “ortodoxo” não é, de fato, a que melhor
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Mais pessoas celebram o Seder de Pessach do que jejuam no Iom Kipur. Por quê? Porque a história é fantástica, e é assim que se cria identidade. Mesmo os judeus seculares adoram a história do Êxodo, mesmo sabendo que partes dela são pura ficção.
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Sobre Israel
Meir Shalev – A identidade do judaísmo é criada a partir de duas fontes: 1-) observar as mitzvot. Um judeu é uma pessoa que observa as mitzvot, e eu não tenho problemas quanto a diferenças com outras pessoas; 2-) outra é o gênio, é uma narrativa. Os judeus conhecem suas próprias histórias e inventam novas, mesmo que não sejam tão boas. ... Mais pessoas celebram o Seder de Pessach do que jejuam no Iom Kipur. Por quê? Porque a história é fantástica, e é assim que se cria identidade. Mesmo os judeus seculares adoram a história do Êxodo, mesmo sabendo que partes dela são pura ficção. Nós não apenas nos sentamos e comemos a comida deliciosa em Pessach, mas lemos um texto que é um dos mais lamentáveis já escritos em hebraico, mas cheio de pequenas cerimônias que guardam a memória diretamente em seu cérebro.
(Meir Shalev)
se aplica a essas pessoas. O termo ortodoxo significa pertencer a uma escola de pensamento calcificada, e não há nada menos calcificado que o estudo do Talmud. Esses homens de preto estudam os livros sagrados, mantêm os textos em constante movimento. Alguém na política israelense precisa dizer isso. Israel precisa de conversas pacificadoras; isso é algo que a atual liderança não faz bem, e me deixa muito triste. Paul Auster – Tornei-me muito pessimista acerca do futuro de Israel. Cada um dos lados deste conflito fica cada vez mais intransigente e não se esforça nada para ver o ponto de vista do outro lado. Não culpo apenas Israel ou somente os palestinos – culpo ambos os lados. É um fracasso mútuo perceber que os dois lados têm um lugar nesta faixa de terra, e eles precisam encontrar uma maneira de viver lá. Não consigo parar de pensar que se Arafat fosse Gandhi e se os palestinos tivessem uma atitude diferente, há trinta anos já teriam um Estado. Mas não funcionou dessa maneira. Em vez de resistência não-violenta, eles vieram com armas e bombas. E Israel não parece interessado em acabar com o conflito. Não tenho sugestões concretas. Não sei o que precisa ser feito. Mas sinto que as coisas por aí não são tão promissoras. Etgar Keret e Jonathan Safran Foer Keret – Eu acho que Jonathan não perde o sono se preocupando com a destruição de Israel. Eu acho que ele faz perguntas a respeito do relacionamento entre Israel e os judeus norte-americanos. E a melhor maneira de responder a essas perguntas é imaginar Israel em perigo mortal real e perguntar até que ponto os judeus norte-americanos vão defendê-lo. Isto, pelo menos, é como eu leio [o último romance de Safran Foer, Estou Aqui]. Não sei se é isso o que você tinha em mente quando escreveu. Safran Foer – Foi isso mesmo. Eu tinha questões de identidade que não sabia como resolver. Tentei entender o quanto os ju81
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Sobre Donald J. Trump Ayelet Waldman – Jared Kushner (genro de Trump) é o judeu de estimação de Trump. Sempre houve esse personagem, como havia facilitadores nos campos da morte e nos guetos também. Há sempre o judeu que irá facilitar a agenda do antissemita. Eu não acho que Trump tenha uma ideologia coerente. Acho que ele é pessoalmente antissemita, e se pode ver isso nas coisas que diz. Como quando afirma: “Vocês e seu dinheiro” – Quero dizer, esses são tropos antissemitas, certo? Eu acho que ele se preocupa apenas com o poder pessoal, e você não vê nada de errado em fazer uma barganha com pessoas abertamente antissemitas. Eu acho que estamos abaixo dos muçulmanos em sua lista, mas acho que esse tipo de antissemitismo cruel agora tem permissão para florescer. Eu me sinto segura na Califórnia, mas não me sinto mais confortável nos Estados Unidos. Paul Auster – Quanto a mim, eleger Donald Trump foi a maior catástrofe que poderia ter acontecido à América. Eu acordo e me pergunto, como isso pôde acontecer? E como pode ficar pior? Nós elegemos um louco, o tipo de pessoa que nunca deveria ter qualquer poder político. Nicole Kraus – Parte do que torna meu relacionamento com Israel tão conveniente é que minha vida não depende da sua política. Mas eles dependem da política do meu próprio país (Estados Unidos), e as coisas não são muito boas agora. Nossa situação é chocante, porque pela primeira vez estamos sob a influência profunda da psicologia de um único ser humano. Aprende82
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Torneime muito pessimista acerca do futuro de Israel. Cada um dos lados deste conflito fica cada vez mais intransigente e não se esforça nada para ver o ponto de vista do outro lado. Não culpo apenas Israel ou somente os palestinos – culpo ambos os lados. É um fracasso mútuo perceber que os dois lados têm um lugar nesta faixa de terra, e eles precisam encontrar uma maneira de viver lá.
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deus norte-americanos se importam, e você não pode avaliar o quanto você se preocupa com algo sem pensar na possibilidade de o perder. A segunda questão que me interessou no livro não era específica sobre Israel, mas acerca da noção de lar em geral. O que é um lar? E o que é uma pátria?
(Paul Auster)
mos na escola a respeito de Hitler, Mussolini e Gadafi, mas na América, apesar de toda a nossa reverência pelo individualismo, criamos um sistema de controles e contrapesos para nunca ser dependentes da psicose de um homem. Os pais fundadores não poderiam ter antecipado as mídias sociais, e o fato de que um dia teremos um presidente que tuitará nossas vidas. Agora somos todos como os filhos de um pai totalitário que sofre de narcisismo e paranoia. Mudar de um presidente muito inteligente e muito decente para o que temos agora é um belo trauma.
Da profecia Amos Oz – Quero repetir algo que disse há trinta ou quarenta anos. Ainda concordo com isso, e acho que não é vulgar: no judaísmo, qualquer forma de messianismo que se pensa no tempo presente é falso messianismo. Este é o paradoxo da ideia messiânica em Israel; assim que se tornar o presente, é uma mentira. Messias Agora é um falso Messias. Paul Auster – Estou vinculado ao meu judaísmo, tanto do ponto de vista teológico como histórico. O judaísmo é uma religião radical, a primeira a levar em conta a todos – ricos e pobres, mestres e escravos. Seu surgimento foi um ponto de virada na consciência humana, e há capítulos na história judaica que tiveram grande influência na formação de minha própria visão de mundo. O Livro de Jonas, por exemplo, texto que lemos em Iom Kipur. É um dos livros mais estranhos da Bíblia – é curto, escrito na terceira pessoa, e um pouco cômico. Jonas tenta escapar do seu destino divino. Ele não quer ser profeta, não quer ir a Nínive, cidade pecadora conhecida pelo ódio pelos judeus. É pouco como um Deus enviando um profeta judeu para pregar na Alemanha nazista. E então, quando os moradores fazem a teshuvá e se arrependem, você entende que o livro é uma questão de justiça universal. Sua principal mensagem é que se apenas algumas pessoas desfrutam dos benefícios da justiça, então não é justiça.
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Prof. Reuven Faingold
Muitas destas fotos possivelmente retratam mortos e sobreviventes do Holocausto, com um museu só para ele, no andar de cima
Um Museu do Holocausto
NO MEMORIAL DA IMIGRAÇÃO JUDAICA Nas últimas décadas aumentou consideravelmente o número de museus e memoriais nas comunidades judaicas do mundo. Museus que perpetuam a memória de imigrantes e/ou sobreviventes judeus existem na Argentina, França, Inglaterra, Áustria, Alemanha, EUA, Polônia e Rússia
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hegou a vez do Brasil. Ao Museu do Holocausto em Curitiba, que funciona há anos, se junta o Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto, no Bom Retiro, que comemora um ano de existência e, no começo de 2018, deverá ser inaugurado o Museu Judaico onde antes era o Templo, tradicional sinagoga de São Paulo, um dos poucos exemplares construídos em estilo bizantino. O Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto, na esquina das ruas da Graça e Lubavitch, faz parte do roteiro oficial de cultura da cidade. Desde o mês passado está aberto à visitação pública um Memorial do Holocausto, no terceiro andar do edifício, em cujo terreno foi construída a sinagoga Kehilat Israel, a primeira de São Paulo. O espaço foi idealizado pelo curador Luiz
Rampazzo, cuja criatividade conseguiu reproduzir vários períodos da maior tragédia do povo judeu, entre 1933 e 1945, desde o boicote imposto aos judeus pelo Terceiro Reich, o confinamento em guetos, os assassinatos em massa perpetrados pelos esquadrões da morte e a Solução Final. Há objetos como louças de família, brinquedos, desenhos de crianças, uma variedade de malas, dois pijamas listrados, etc. O objetivo do Memorial é difundir a contribuição dos judeus ao desenvolvimento do Brasil desde o período colonial. Os membros da comunidade que fundou a sinagoga eram, em sua maioria, originários da Bessarábia e, ao chegar ao Brasil, reuniam-se para rezar nas casas de cada um deles nas quais se improvisavam sinagogas. Em 1912, eles se cotizaram e compraram o terreno bem na esquina das ruas da Graça e antiga Correia dos Santos. Na onda das transformações que remodelaram o Bom Retiro, na década de 1940, as construções antigas foram derrubadas e substituídas por novas edificações. Assim também a velha sinagoga do início do século passado, e em novembro de 1954, ano do quarto centenário de São Paulo, foi lançada a pedra fundamental da nova sinagoga Kehilat Israel. Entre as inúmeras peças expostas aos visitantes, há preciosidades como o “Diário de Viagem de Henrique Sam Mindlin” (1919) em que o futuro arquiteto escreve no navio sua jornada de Odessa ao Rio de Janeiro. Outra peça é o “Dialoghi di Amore” (1558), de Leon Hebreu Abravanel, poema de um ascendente do apresentador Sílvio Santos. O projeto museológico do Memorial foi concebido para receber escolas e instituições por meio de visitas guiadas de modo a que história, arte, religião e cultura se fundem em um ambiente voltado para a reflexão.
Visitando o Memorial O Memorial tem o que há de mais moderno na tecnologia de exposições, principalmente recursos de multimídia. No primeiro andar está a sinagoga, reconstruída em
O projeto museológico do Memorial foi concebido para receber escolas e instituições por meio de visitas guiadas de modo a que história, arte, religião e cultura se fundem em um ambiente voltado para a reflexão
1954. Mesmo sem as instalações da liturgia ela mantém todas suas características originais. É no ambiente da sinagoga que se assistem aos documentários e o início das explicações. Em frente à sinagoga, uma homenagem a Mendel e Dora Steinbruch, está a escultura “Pomba de Noé com ramo de oliveira no bico” do artista Gershon Knispel. A cena descreve o momento em que Noé procura terra firme para atracar a Arca, assim como o imigrante judeu busca “sua terra firme” para dar continuidade à atribulada vida na Diáspora. Nas vitrines do segundo andar estão os objetos trazidos pelos imigrantes. Todos retratam o ciclo de vida e ritos de passagem do judaísmo (nascimento, maioridade, casamento e morte); as tradições e a culinária de judeus do rito oriental (sefaradim) e ocidental (ashkenazim). Em baixo da chupá (pálio nupcial) e rodeado de ketuvot (contratos de casamento), o visitante tem direito à quebra (virtual) da taça durante a cerimônia. Ainda neste andar, fotografias das famílias dos imigrantes. E por meio de uma tela interativa, o visitante poderá obter informações a respeito de antepassados e pessoas conhecidas. A história da imigração judaica termina no subsolo. São painéis tecnológicos, mapas interativos e uma galeria de personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do Brasil. Uma mesa interativa projeta um mapa do Bom Retiro com as instituições e organizações judaicas que se fixaram na região como o Colégio Renascença, o Pletzale, a Cooperativa de Crédito do Bom Retiro, o Bar do Jacob, entre outras. E uma pequena lanchonete com especialidades da culinária judaica. Para agendar visitas monitoradas de grupos a partir de quinze pessoas, telefone para 3331-4507 e fale com a professora Ilana Iglicky. * Prof. Reuven Faingold é historiador e educador; PHD em História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. É sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e, desde 1984, membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas em Jerusalém. Atualmente, é responsável pelos projetos educativos do Memorial da Imigração Judaica de São Paulo
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Tempos Difíceis Charles Dickens | Amarilys | 352 pp. | R$ 89,00
Este é o décimo romance do autor inglês, celebrizado por Oliver Twist, cujo ponto central é o conflito entre duas visões opostas da vida e do mundo: uma impõe os fatos como única possibilidade razoável de inserção na realidade; a outra, que se desvela à medida que o romance avança e sugere que sem sonhos nem sentimentos, sem diversão nem fantasia, viver pode se tornar um exercício penoso, desesperador e até mesmo perigoso. Uma obraprima, claro.
Por Bernardo Lerer
High Hitler
Quem Manda no Mundo
Norman Ohler | Crítica | 375 pp. | R$ 47,00
Noam Chomsky | Crítica | 395 pp. | R$ 59,90
Este jornalista levou cinco anos pesquisando documentos que não haviam sido estudados sob a perspectiva do uso de drogas pelo Führer e os nazistas que podem ter ditado o ritmo do Terceiro Reich e, por isso, sugere ver a Segunda Guerra por outro ângulo. Theodor Morell, o médico pessoal de Hitler, lhe administrou 74 drogas diferentes desde injeções de esteroides a produtos similares à heroína. E os soldados alemães receberam o estímulo de doses de metanfetamina o que também explica os ataques à Polônia e à França.
Se não valesse pelo livro em si, o leitor tem o brinde de um posfácio a respeito da Era Trump, o que tem tudo a ver com a razão da obra: um profundo exame das mudanças do poder norte-americano, das ameaças à democracia, do futuro da ordem global e um guia para entender a situação internacional. Chomsky trata da Europa e Ásia, do envolvimento americano com a China e Cuba, sanções contra o Irã, conflitos no Iraque, Afeganistão, Israel-Palestina, relações com a África e América Latina, etc. Tem de tudo.
Senhor República Carlos Marchi | Editora Record |431 pp.|/ R$ 50,10
Os Diários de Alfred Rosenberg Organização de Jürgen Matthaüs e Frank Bajohr | Crítica | 660 pp. | R$ 65,90
Os registros do assim considerado “pai do nazismo”, cobrem o período 1934-1944 e representam um documento fundamental para melhor compreender a Segunda Guerra. Rosenberg foi o principal ideólogo do Holocausto e de seu projeto de exterminar o povo judeu. Acreditava na supremacia branca, dos alemães e escandinavos, e considerava os judeus e os negros, raças inferiores. E passou a executar sua política ao ser designado ministro do Reich para os territórios ocupados. Os diários estavam desaparecidos desde o julgamento de Nurenberg e foram descobertos em 2013.
A Cor da Coragem Julian Kulski | Editora Valentina | 416 pp. | R$ 59,90
“Não tenho a menor dúvida de que a Polônia vai vencer a guerra, mas tenho muito medo de que ela acabe sem que eu possa participar.” Era isso que o autor pensava quando tinha 14 anos, em 1944, ao se alistar aos combatentes poloneses que decidiram enfrentar as tropas nazistas naquele ano e foram derrotados em combates sangrentos. Mais que uma autobiografia, o livro é uma espécie de diário da guerra. Jan participou, sobreviveu depois de meses detido, lutou contra os traumas da ocupação e deixou este legado, que ainda vai virar filme 86
O subtítulo é “A Vida Aventurosa de Teotônio Vilella, um Político Honesto” e conta a vida deste antigo usineiro que começou a vida política pela extinta UDN e eleito senador pelo antigo MDB fez da luta pela anistia uma batalha pessoal. Na apresentação do livro, o jornalista Jorge Bastos Moreno, recentemente falecido, diz que se trata da biografia de um grande líder e um aprendizado sobre o Brasil. Vale a pena, pois isso ajuda entender porque as coisas estão de um jeito que ele não gostaria que estivesse.
O Itinerário de Benjamin de Tudela
Hebe, a Biografia Arthur Xexeo / Best Seller / 264 pp. / R$ 24,90
Uma das figuras mais aguardadas semanalmente pelo público era Hebe Camargo, morta em setembro de 2012 de complicações de várias cirurgias. O sofá onde ela recebeu centenas de entrevistados ao longo de anos era também o meio de como ela se fazia de visita nas casas dos espectadores, marcando a história da televisão brasileira. No livro, Xexeo conta a trajetória dela, seus amores e desamores.
Jacó Guinsburg | Editora Perspectiva | 156 pp.
Vida e Morte de M. Gonzaga de Sá
R$ 52,00
Lima Barreto | Ateliê Editorial
O editor da Perspectiva organizou, traduziu e escreveu as notas a respeito do original em hebraico Sefer Ma’assot schel Rabi Benjamim, um dos primeiros escritos da Idade Média a respeito dos povos da Europa, África e Ásia que o rabi Benjamim, nascido no reino de Navarra, conheceu na sua curta vida de 42 anos (1130-1172). Foi uma jornada de quase dez anos que o levou além do projeto inicial de ir a Jerusalém. Neste diário de viagem, traça um panorama fantástico de caráter etnográfico, sociológico e geográfico que pode ter inspirado a Marco Polo na literatura de viagens. É simplesmente maravilhoso e fartamente ilustrado.
264 pp. | R$ 39,80
O escritor carioca foi o grande homenageado da Feira Literária de Paraty (Flip) deste ano e este livro é pouco lido, pouco conhecido, pouco estudado, pouco editado e, no entanto, é uma das obras importantes do cronista do Rio de Janeiro. Um romance de enredo mínimo e voltado a questões filosóficas e existenciais. O romance é uma espécie de biografia de Gonzaga de Sá e reproduz suas conversas a respeito do cotidiano da cidade e as reformas urbanísticas em curso no início do século naquela cidade. 87
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Por Bernardo Lerer
LÁ TAMBÉM
“FAU UDA A” EM M DOSE DUPLA Os criadores da série Fauda, Avi Issacharoff e Lior Raz, que relata o caso verídico de caça a um terrorista palestino pelo Mossad, e na qual Raz faz o papel de agente israelense às vezes se passando por palestino, lhes garantiu o convite para rodar mais duas, desta vez pelo Netflix, uma das quais estará pronta ainda em 2018. Trata-se também de uma história real envolvendo o Mossad e a CIA com operações que duraram quase duas décadas para identificar, seguir por vários países e matar um dos mais perigosos terroristas, e na qual Raz será novamente o ator principal. Fauda alcançou grande audiência principalmente nos Estados Unidos porque “é uma história real de que todos gostam”, dizem os produtores. A outra série tem o título de Hit and Run (ao pé da letra, “atropelamento e fuga”) e conta a história de um casal cuja mulher é morta em um acidente e a vida do marido sofre uma reviravolta. Afinal, trata-se de espionagem internacional. Avi e Lior se inspiraram em casos que se repetem de uns dois anos para cá de atropelamentos provocados por terroristas. Atualmente rodam uma segunda série de Fauda, em Israel, para ser apresentada ainda em 2018, e Lior o ator principal, que será apresentada pela Netflix em vários países, menos Israel e França.
À espera de “Menashe” Enquanto isso, tem grandes chances de ganhar um prêmio no próximo Festival Sundance o filme Menache cujos atores são todos amadores mas os personagens, reais, porque conta uma história que acontece com alguma frequência em comunidades hassídicas: o pai fica viúvo e se recusa a encontrar uma nova companheira, preferindo educar o filho sozinho, ao mesmo tempo em que toca uma pequena mercearia onde faz de tudo. O principal conselheiro, e o único a quem ouve, é o rabino da comunidade, um homem de princípios embora flexível na compreensão dos problemas de cada um. Algumas mulheres são apresentadas a Menashe e ele não se liga a nenhuma delas dedicando todo seu amor ao filho, cujo melhor amigo é um primo, filho de Eizik, o cunhado de Menashe, e rico incorporador de imóveis de Nova York. Não se sabe quando e se o filme virá para o Brasil.
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O LADINO REVIVIVO Quinhentos e vinte e cinco anos depois da instalação da Inquisição e consequente expulsão dos judeus, a Real Academia da Espanha decidiu criar um departamento, em Israel, de modo a preservar o ladino como uma das línguas espanholas. O diretor da Academia Darío Villanueva explica que o “ladino é um importante fenômeno cultural e histórico que merece um departamento à parte no quadro da instituição para a qual foram contratados nove especialistas”. A iniciativa faz parte dos esforços da Espanha no sentido de reparar as injustiças contra os judeus, a partir de 1492. Há dois anos, por exemplo, o governo decidiu que descendentes de judeus supostamente expulsos do país podem provar sua ancestralidade e requerer a cidadania espanhola.
JU UDEUS S NA CHINA
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ocumentos descobertos em arquivos chineses revelam que, em 1939, o governo chinês preparara um plano para receber milhares de judeus da Europa e alocá-los na cidade de Heshun, província de Yunan, sudoeste do país, acreditando “esta era a coisa certa a fazer”, apesar de a China ter sido humilhada na guerra sino-japonesa, ensaio da participação do Japão na Segunda Guerra. Por razões até agora desconhecidas, o plano não funcionou. Há uma vasta documentação a respeito dos judeus na China, como a antiga comunidade de Kaifeng, na província de Henan; judeus de Bagdá que se fixaram em Xangai no século 19, no período da expansão do Império Britânico; as levas de judeus que fugiram aos pogroms da Rússia czarista e se estabeleceram em Xangai e Tianjin além das centenas deles que conseguiram fugir da Europa depois de 1939 e foram viver numa espécie de gueto, mas sem esse nome, no distrito de Hongkou, também em Xangai. Claro que os chineses não agiam assim somente pelos belos olhos dos refugiados. Eles queriam formar uma base de conhecimento cultural a partir daqueles judeus expulsos principalmente da Alemanha e do Leste Europeu. Além disso, sabiam que os judeus eram influentes nos Estados Unidos, a maioria dos financistas e banqueiros britânicos com interesses na Ásia eram judeus cuja simpatia queriam atrair. O candidato ao visto chinês não podia realizar qualquer atividade política e devia obedecer aos “Três Princípios do Povo”: nacionalismo, democracia e o próprio sustento.
Embora mencione uma empresa brasileira, a Rio Tinto, pouco se fala aqui de uma espécie de “Lava Jato” que se desenrola em Israel desde dezembro quando o bilionário Beny Steinmetz foi preso suspeito de suborno, fraude, quebra de confiança e lavagem de dinheiro num caso de exploração de minérios na África, onde a Rio Tinto tem interesses. Os braços da investigação são suficientemente longos para alcançar, por exemplo, Tal Silberstein, que acabou sendo demitido da função de assessor do Partido Social Democrático da Áustria junto ao gabinete do chanceler. Assim como no Brasil, Beny afirma que colabora com os investigadores, se considera vítima de uma conspiração liderada pelo bilionário George Soros, seu velho adversário e pede para responder em liberdade. Mas o juiz Menachem Mizrahi, da corte de Rishon Letzion, prefere-o preso, porque pode atrapalhar as investigações.
Estranho no ninho
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m meados de janeiro de 1960, os jornais israelenses noticiavam candidamente que um pediatra alemão, professor Hellmut Haubold, acabara de chegar ao país para examinar cinquenta crianças suspeitas de serem vítimas da síndrome de Down, a convite dos pais ansiosos para que ele pudesse aplicar a experiência que tinha no tratamento da síndrome. A técnica dele consista em injetar células desidratadas do órgão sadio de animal no cérebro da criança. Haubold era um profissional conhecido em Munique, mas, na ocasião, ninguém se preocupou em verificar o passado e antecedentes deste médico embora a Segunda Guerra tivesse terminado há quinze anos. Pois o doutor ocupara um cargo superior na estrutura da SS no campo de concentração de Buchenwald, realizou experimentos com prisioneiros com problemas mentais e era amigo próximo de criminosos nazistas que se suicidaram depois da guerra, como Eugen Gildemeister, diretor do Instituto Robert Koch, que também realizou experimentos com prisioneiros. 91
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O termo “ativista” parece ter sido cunhado para ele. Desde 1968, José Moisés Schnaider (na foto, à direita, com Jack Terpins) ligou sua rotina à da Hebraica e à do Movimento Macabeu
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a Hebraica, Schnaider exerceu vários cargos na diretoria executiva incluindo uma vice-presidência. O envolvimento diário com o clube como secretário, tesoureiro e outras tarefas lhe granjearam o respeito e o carinho de todos na Hebraica, o mesmo acontecendo com a Confederação Macabi, onde também foi membro da diretoria. Por mais de cinquenta anos, Moisés dedicou-se às duas entidades, acompanhando sua evolução e ajudando a formar novos ativistas, transmitindo seu entusiasmo e retidão, características que tornaram símbolos do modus operandi do “Seu Moisés”. Para ele, a palavra Macabi significava coragem, empenho e a missão de enviar o maior número possível de atletas aos eventos macabeus. Seu esporte favorito era participar das reuniões onde se decidiam os rumos da Hebraica e do Macabi. Acompanhou inúmeras macabíadas e na 18a, em 2009, foi homenageado na cerimônia de abertura, quando viveu momentos de intensa alegria no desfile da delegação brasileira na cerimônia de abertura no Teddy Stadium, em Jerusalém. É certo afirmar que A Hebraica era sua casa e o Movimento Macabi o seu mundo. 92
Por Magali Boguchwal
A PALAVRA
Por Philologos
o hebraico moderno criou sua gíria A palavra tachles é corrente entre os que ainda falam ídiche e se grafa טאכלעס. Tachles é a expressão em ídiche usada para tratar de assuntos práticos ou para o lado prático de algo, como na frase lomir redn tachlis, “Vamos conversar tachles”, isto é, “mãos à obra”, “vamos encarar os fatos” ou “vamos falar concretamente”
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mbora com o acento tônico na primeira sílaba a palavra seja pronunciada como escrito acima, seguindo as regras da ortografia ídiche, não consta de um dicionário ídiche. Isso porque vem da palavra hebraica tachlit, que se escreve תכלית, com acento tônico na última sílaba. A regra no ídiche é que todas as palavras derivadas do hebraico mantenham a soletração em hebraico, ainda que seus sons normalmente não sejam assim representados em ídiche. Mesmo assim, ao escrever tachles em hebraico, hoje, o termo é muitas vezes convertido para o ídiche como תכלעס. Em resumo, o ídiche usa a ortografia hebraica e o hebraico usa uma ortografia parcialmente ídiche. Parece paradoxal, mas não é. Com sua pronúncia ídiche, tachles em hebraico israelense é gíria e também significa “mãos à obra”, bó n’daber tachles, em hebraico. Pronunciada como tachlit, no entanto, a palavra é hebraico padrão e significa “propósito”, “meta” ou “fim”. Eyn la-zé tachlit: “Não tem propósito”; hu adam tachliti: “Ele é uma pessoa com objetivos (isto é, com mentalidade prática)”, etc. Tachlit vem da raiz verbal c-l-h, “chegar a um fim”, e é familiar a muitos que não falam hebraico, a partir do hino Adon Olam, recitado no início do serviço diário da manhã e cantado na sinagoga na conclusão daquele da manhã do Shabat. O hino afirma que Deus é b’li reshit, b’li tachlit, sem começo, sem fim. Para distinguir as tachlis de tachlit quando aparecem por escrito, o hebraico israelense, portanto, usa duas grafias diferentes – uma forma idichizada para a primeira, uma hebraica para a última. Mas tachlit também ocupa lugar de honra na gíria israelense. Se você quer dizer “besteira” em hebraico, você pode dizer shtuyot, “absurdo”; ou pode dizer bablat – sendo bablat um acrônimo, nascido no exército israelense, de bilbul beytsim l’lo tachlit, que pode ser traduzido como “pé no saco sem sentido [ou sem propósito]”. É uma boa expressão recomendada a todos os estudantes de hebraico desejosos de mostrar competência na língua. Às vezes, pergunta-se como o hebraico, uma língua puramente literária
que não se falava no cotidiano da Antiguidade até o início do século passado, pudesse, em cem anos, desenvolver uma gíria completa. A resposta: isso só ocorreu parcialmente com seus próprios recursos nativos. Também tomou emprestado extensiva e indiscriminadamente – de gírias e vernáculos de outras línguas. Bablat é exemplo disso e atrevido neologismo formado por métodos hebraicos consagrados como uma forma de cunhar palavras hebraicas. Eis outro exemplo, tirado do jornal israelense Haaretz. Em recente artigo criticando a atuação inepta do governo israelense na questão do Muro das Lamentações, o correspondente do jornal nos Estados Unidos, Chemi Shalev, escreveu: “Mantive as palavras em itálico no hebraico original – que se os judeus reformistas e conservadores norte-americanos realmente acreditavam em todos os slogans de la shmatte a respeito da unidade judaica e responsabilidade mútua e kol ha-jaz ha-zé”, eles agora tiveram uma surpresa desagradável. Kol ha-jaz ha-zé é, claro, a expressão inglesa “all that jazz (e coisas assim)” – e se as línguas pudessem ser indiciadas por furto, o hebraico seria julgado por isso. “Slogans como de la shmatte”, por outro lado – ah, aqui se vê o verdadeiro gênio de uma gíria nativa em ação. Na primeira consideração, isso pode parecer coisa estranha de se dizer, pois a expressão de la shmatte não tem uma palavra hebraica nativa: de la é francês para “de” ou “da” e ocorre em nomes de família franceses de origem aristocrática, como de la Fontaine, de la Montagne e de la Rochefoucauld, enquanto shmatte (do polonês szmata) é ídiche para trapo ou item de roupa barata ou antiga. O termo shmatte é encontrado, é claro, em inglês-americano-judeu também. Junte-se com de la, e se obtém algo distintamente israelense. Outras gírias com a mesma expressão: orech-din de la shmatte, advogado incompetente; krem de la shmatte, creme facial embalado com esmero, mas sem valor; chayal de la shmatte, um soldado indigno desse nome; sarvan matspun de la shmatte, alguém que faz oposição de consciência
Tachlit vem da raiz verbal c-l-h, “chegar a um fim”, e é familiar a muitos que não falam hebraico, a partir do hino Adon Olam, recitado no início do serviço diário da manhã e cantado na sinagoga na conclusão daquele da manhã do Shabat. O hino afirma que Deus é b’li reshit, b’li tachlit, sem começo, sem fim
de forma hipócrita; e don juan de la shmatte, sedutor vazio ou de araque. Este último exemplo é mais apreciado quando capitalizado mesmo como Don Juan de la Schmatte, e parece prevalecer em Israel. Na literatura europeia, na ópera e na lenda, Don Juan é um nobre sedutor sem princípios, mas encantador e corajoso, o nome dado em algumas versões da história como Don Juan de Marana ou de Manara – e um Don Juan de la Schmatte é um aspirante a sedutor de afirmações falsas, sem méritos e desajeitado que não vale a atenção de nenhuma mulher. Todos os advogados e cremes faciais e slogans de la shmatte em hebraico israelense provavelmente derivam de um original Don Juan do Molambo/de Araque. É possível que de la shmatte seja ainda mais antigo do que isso. A sabedoria e o humor judaicos estão repletos de histórias a respeito de judeus que ascenderam socialmente e se passaram por aristocratas europeus. E qual nome melhor do que de la Schmatte poderia ser dado a eles? Um conto, por exemplo, trata da baronesa von Hohenheim, née de la Chaumette, para quem chegara a hora de dar à luz ao primogênito. O médico local, judeu, a examina em seu quarto no andar de cima, diz ao marido, o barão, que a esposa está em um estágio inicial de trabalho de parto, e senta para jogar um jogo de xadrez com ele. Depois de um tempo, a baronesa solta um gemido. “É a sua jogada”, diz o médico ao barão. “Mas doutor, você não vai ajudar no parto da minha esposa?”, perguntou o barão surpreendido. “Ah, ainda é cedo demais para isso”, responde o médico. O tempo passa e a mulher geme em francês: “Mon dieu, mon dieu!” O barão se põe de pé. O médico continua sentado. “É a sua jogada”, diz o doutor. Mais minutos passam e vem um grito em alemão, “Gott im Himmel!” O médico fica sentado. “Doutor!”, protesta o barão. “Ainda não é tempo”, diz o médico. De repente, um grito arrebatador em ídiche: “Gotenyu!” O médico afasta o tabuleiro de xadrez, pega a sua valise e levanta-se. “Enfim”, ele diz ao barão. Essa era uma Baronesa de la Schmatte! 95
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1. “O MUNDO DE SHOLEM ALECHEM” REUNIU SAMUEL BELK, REGIS KARLIK, ANETE CENCIPER E CLÁUDIO GOLDMAN NO SHOW DO MEIO-DIA; 2. MAIS UM “DILEMAS ÉTICOS” REUNIU LUIZ COPPIETERS, MIRIAM CHNAIDERMAN, RABINO MICHEL SCHLESINGER E LEOPOLDO ROSA, DA CBN, PARA FALAR DE “SEXUALIDADE CONTEMPORÂNEA”, NO TEATRO EVA HERZ; 3 E 4. FEDERAÇÃO ISRAELITA E NA’AMAT PIONEIRAS SE DESPEDEM DE DRORIT E ALBERTO MILKEWITZ ANTES DA ALIÁ
Fotos: Flávio Mello
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5, 6, 7, 8, 9 E 10. NA GALERIA DE ARTE, AMAIA ARAMBURU E GLÓRIA CARRASCO; CÔNSULES KLAUS HOFSTADLER, DA ÁUSTRIA, E AXEL ZEIDLER, DA ALEMANHA, MAIS OLÍVIO GUEDES E A ARTISTA TATIANE SILVA HOFSTADLER; OLHAR DETALHADO ANALISA A OBRA; MÃE EXPLICA O ABSTRATO NA PRIMEIRA MOSTRA PARA O FILHO; A ARTISTA RECEBE MARIA TEREZA E OTTO ROHR; O PÚBLICO APRECIOU AS TELAS EM MEIO AO COQUETEL
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1, 2 E 3. MOSTRA DE JOSÉ RICARDO BASICHES NO MUSEU DE BELAS ARTES REPERCUTE NA MÍDIA; ARQUITETO RECEBE RONALDO SHINOHARA, MÁRIO BISELLI E LUÍS CARLOS MINGRONE; TRABALHOS EXPOSTOS AGRADAM AOS VISITANTES; 4, 5, 6 E 7. NO TEATRO SANTANDER, CANTANDO NA CHUVA LEVOU O PÚBLICO A PRESTIGIAR AS OBRAS DO CIAM; DENISE E JACK TERPINS, OVADIA SAADIA E EVELYN ELMAN; ANA SCHWARTZMAN; MIRIAM MAMBER E GABRIEL HARARI; 8. SHILA HARA RECEBEU O GRUPO SÍLVIA HODARA PARA ATUALIZAÇÃO PÓS SEMINÁRIO DA WIZO; 9. SUCESSO DA PARCERIA ACESC/HEBRAICA NA CAMPANHA DO AGASALHO
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Fotos: Flávio Mello / Gustavo Gerchman / Lilian Knobel
1. JOVENS DO CORAL DA HEBRAICA SE APRESENTARAM NA ABERTURA PARA O PÚBLICO DO FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO E DIAS DEPOIS GRAVARAM O PRIMEIRO VÍDEO MUSICAL JUNTOS; 2. TAL BRODY (CENTRO) FOI HOMENAGEADO PELO KEREN KAYEMET LE ISRAEL (KKL). ELE VEIO A SÃO PAULO PARA ACOMPANHAR A EXIBIÇÃO DO FILME ON THE MAP, PROTAGONIZADO POR ELE; 3. AOS 90 ANOS, ISAAC BOROJOVICH VEIO A SÃO PAULO PARA DEBATER O FILME MENAZKA COM O PÚBLICO DO FESTIVAL DE CINEMA; 4. GABY MILEVSKY ACOMPANHOU A EXIBIÇÃO DE HOTEL EVEREST E CONVERSOU COM A DIRETORA CLAUDIA SOBRAL E O ATOR EDEN FUCHS; 5. A MÚSICA CIGANA DO GRUPO POINS CHAMOU A ATENÇÃO DOS SÓCIOS PARA O FILME O MARAVILHOSO MUNDO DE PAPA ALAEV, APRESENTADO NO SHOW DO MEIO-DIA
ABERTURA DO FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO. 1 E 2. GRANDES MOMENTOS DO CINEMA: “VIOLINISTA NO TELHADO” E JERRY LEWIS EM PERFORMANCES; 3. ESCOLHENDO A GRADE DA SEMANA CINÉFILA
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4. SIMA WOILER; 5. MÔNICA HUTZLER, NAUM ROTENBERG, LUÍS GERARDO HERNANDEZ MADRIGAL E SANSÃO WOILER; 6. BETTY SZAFIR MARCOU PRESENÇA NO FESTIVAL 7. MARIZA DE AIZENSTEIN, RENATO MUSZKAT E IARA DE AIZENSTEIN; 8. CORO JOVEM DA HEBRAICA; 9. A PRESENÇA DO CRÍTICO RUBENS EWALD FILHO DESTACA A IMPORTÂNCIA DO FESTIVAL PARA A CIDADE; 10. DANIELA WASSERMAN E GABY MILEVSKY
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GALERIA Fotos: Flávio Mello
Fotos: alunos do Meidá – Curso de lideres
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SP INNOVATION SUMMIT 2017 NA HEBRAICA. 1. JAYME BLAY, RICK SCHEINKMAN E BENJAMIN QUADROS; 2. “MOTIVAÇÃO”, TEMA DE GILBERTO GODOY, GIBA DO VÔLEI; 3. ITCHE VASSERMAN, BRUNO LASKOWSKI E RICARDO BERKIENSZTAT; 4. AS BOAS-VINDAS DO ANFITRIÃO
EM SUA VIAGEM A ISRAEL, OS JOVENS DO CURSO DE LÍDERES MEIDÁ, ESTREITARAM LAÇOS DE AMIZADE E TAMBÉM SE DIVERTIRAM ENSAIANDO UMA COREOGRAFIA EM FRENTE AO TEDDY STADIUM (1), EM UMA VISITA À REGIÃO DE ROSH HANIKRÁ (2), NO NORTE DO PAÍS, E NA DESPEDIDA, NO AEROPORTO BEN-GURION (3)
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5 E 6. JUAN QUIRÓS, RICK SCHEINKMAN, CÔNSUL DORI GOREN E SECRETÁRIO MUNICIPAL DANIEL ANNENBERG; 7. SÉRGIO BONFIM E O EMPRESÁRIO ISRAELENSE SHIMON KURKANSKI; 8. LEONARDO NUNES, AVI MEIZLER E RICARDO VEIRANO
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5 4. PATRICK HOLLENDER, BRUNO ELIAS E NINA KIRCHENCHTEJN EM UM PASSEIO PELA RUA BEN-YEHUDA; 5. CAROLINA ZWEIG EM MOMENTO DE ORAÇÃO DIANTE DO MURO DAS LAMENTAÇÕES, EM JERUSALÉM; 6. ANDRÉ FELLER APROVEITOU CADA MINUTO DA VIAGEM A ISRAEL COM OS ALUNOS DO MEIDÁ
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GALERIA Fotos: Flávio Mello / Gustavo Gerchman
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1. NOS FINAIS DE SEMANA, AS AULAS DE HIDROGINÁSTICA ATRAEM GRANDE NÚMERO DE SÓCIOS 2 E 4. EM SUA VISITA A SÃO PAULO PARA PARTICIPAR DO 200 FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO, O EX-JOGADOR ISRAELENSE DE BASQUETE TAL BRODY CONVERSOU COM ATLETAS DA EQUIPES SUB-18 E MASTER DO CLUBE
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3. USUÁRIOS DO FIT CENTER PARTICIPARAM DAS TRÊS ETAPAS DO TOUR DE FRANCE, DESAFIO PROPOSTO PELA EQUIPE DE PROFESSORES DE BIKE 5. O MESATENISTA ISRAEL STROH PRESTIGIOU A AULA ABERTA DE TÊNIS DE MESA
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OPINIÃO
Amir Oren*
Generais dos Estados Unidos
CONTRA TRUMP
Os oficiais do Exército sabem que, se todo soldado negro protestar contra os comentários de Donald Trump, a força militar do país entraria em colapso. E os judeus, então?
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ombinando o homem do século 19 e os poderes do século 21, tem-se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E quando se recusa a aceitar Trump, obtém-se um fenômeno incrível: a posição pública dos chefes do Estado-Maior Conjunto contra seu comandante em chefe. É um evento sem precedentes na história dos Estados Unidos. Nunca antes os generais e os almirantes estiveram tão unidos. Houve uma “revolta dos almirantes” protestando pela redução das forças navais em relação aos bombardeiros da força aérea; e os chefes do Estado-Maior Conjunto trabalharam contra o então secretário de Defesa Colin Powell e o presidente da República, George H. W. Bush, na questão das armas nucleares táticas nas forças terrestres. Mas não se conhece, seja o que for, uma frente unida ou uma afronta ao presidente que, tanto do ponto de vista legal quanto de temperamento pessoal, pode despedi-los a todos, mesmo que isso também signifique a renúncia do atual secretário de Defesa James Mattis. Tuítes pelo celular em vez de obediência. Foi isso que Trump recebeu dos chefes do Estado-Maior das Operações Navais dos Estados Unidos, do Corpo de Fuzileiros Navais, do Exército e da Força Aérea e mais o chefe da Guarda Nacional dias depois dos acontecimentos em Charlottesville. Claro, é tudo culpa dos bávaros que deportaram o avô de Trump, Friedrich, de volta ao país para o qual imigrou, quando descobriram que não havia prestado o serviço militar. Se o avô não tivesse voltado à América, mesmo que à força, os Trumps teriam permanecido na Alemanha. Neste caso, é fascinante se perguntar com quem eles teriam se identificado durante o reinado de Hitler.
As escolhas de Trump Donald Trump nasceu um ano após o final da Segunda Guerra e cresceu no lar de um magnata imobiliário conhecido por discriminar os inquilinos negros. Quando Trump declara “Make America Great Again” (“Faça a América Grande de Novo”), ou usa seu chapéu vermelho com o slogan em letras brancas, tem a clara intenção de tornar a Amé104
rica branca novamente. Se ele tivesse viajado em uma máquina do tempo de volta à Guerra Civil Americana, certamente preferiria ser Jefferson Davis – presidente dos Estados Confederados de 1861 a 1865 – em vez de Abraham Lincoln, que libertou os escravos. Há uma grande ironia nessa trombada de Trump com os altos oficiais do Exército a respeito de seus comentários quanto aos eventos em Charlottesville. Trump, que com seus pés doloridos escapou da convocação durante a Guerra do Vietnã, diverte-se na atmosfera militar. Ele é um estrategista de poltrona que é parte da mobília do escritório mais importante do mundo. É lá que ele pode brincar de general e usar frases de efeito, como “fogo e fúria” e “travado e carregado”. No entanto, agora ele é alvo do fogo e da fúria dos próprios oficiais que ele admira – e enquanto ainda se diverte com aqueles supremacistas brancos que abraçam o legado da rebelião do Sul há 150 anos, ele próprio é o sujeito de uma rebelião, ainda que seja apenas uma rebelião verbal. Isso não é tão óbvio assim, pois os militares dos Estados Unidos são, por natureza, conservadores, sombrios e santificam a tradição. Todas as mudanças sociais às quais se acostumaram foram forçadas de fora para dentro, por presidentes ou pela legislação do Congresso. Mesmo ao liderar mudanças, não foi voluntária, mas obrigada por ordens. É difícil romper as divisões entre os ramos das Forças Armadas, entre oficiais e soldados, entre homens e mulheres. E os militares ainda são basicamente uma organização do sul. Os estados do sul, por exemplo, são desproporcionalmente representados pela localização de bases, campos de treinamento e quartéis-generais. O Pentágono, as residências de oficiais graduados, a Base Conjunta Langley
Eustis, a Frota do Atlântico, em Norfolk, e mais, muito mais, tudo no Estado da Virgínia. O mesmo vale para Carolina do Norte e do Sul, Geórgia, Alabama, Mississípi, Louisiana, Flórida. Além disso, a maioria das bases recebeu o nome de generais confederados, isto é, comandantes inimigos na Guerra Civil. Há duas grandes razões para isso: das dinastias familiares dos generais de George Washington, originário da Virgínia, até a quarta e quinta geração e do poder do Congresso para nomear, incluir no orçamento federal e manter bases, de modo a dar emprego aos eleitores locais, mesmo quando são desnecessários. Mantê-los, aos empregos e às bases, significa menos recursos para atividades de segurança mais importantes. O sul raramente derrotou legisladores veteranos, velhos e até muito idosos, cuja condição ajudou seus eleitores. Os ramos separados dos militares eram orgulhosos dos seus patronos – congressistas da Virgínia e da Geórgia. E eles, por causa da Guerra Civil e de Lincoln, o republicano, pertenciam ao Partido Democrata, que abrigava as tendências contraditórias da abertura liberal do norte e do oeste e o racismo do sul. Foi essa situação que os presidentes democratas enfrentaram. Quando Lyndon B.
Johnson queria suavizar a forte oposição dos senadores democratas às leis a respeito dos direitos civis, ele teve de considerar que estes congressistas eram os mais fortes apoiadores da Guerra do Vietnã. Ele teve de escolher prioridades: se o progresso social ganhou ele perdeu a reeleição à presidência.
Trump fechou os olhos para a imagem dessa bandeira e culpou os dois lados, “ambos violentos”, segundo ele
Negros nas Forças Armadas No início dos anos 1930 como os democratas do Sul eram identificados com o pior tipo de racismo, Franklin D. Roosevelt teve a brilhante ideia de criar uma aliança política entre todos os que sofriam com isso – negros, sindicalistas, católicos (irlandeses e italianos) e judeus. Venceu e pôs fim a doze anos de governo republicano. Durante a Segunda Guerra ele forçou o Exército a recrutar soldados negros e a incluí-los em tropas de combate, e não apenas nos escritórios e forças auxiliares quase sempre em unidades separadas comandadas por brancos. A participação dos negros norte-americanos na guerra ajudou a justificar a luta deles por liberdade em um país que presumia lutar pela liberdade em todo o mundo. Em 1948 (e somente após o beisebol ter dissolvido suas “linhas de cor”), o presidente Harry S. Truman obrigou o Exército a acabar 105
OPINIÃO com a segregação racial em suas fileiras. O Exército obedeceu. Isso não ajudou soldados negros fora de suas bases no sul, onde a discriminação permaneceu e não só no sul profundo, mas também em estados na divisa norte-sul, como Maryland. Quando o comandante da Academia Naval dos Estados Unidos descobriu que cadetes negros estavam sendo proibidos de entrar em bares em Anápolis, ele sussurrou uma ameaça: proibir os colegas brancos de frequentar esses estabelecimentos. Os proprietários cederam. Oficiais negros comandaram com sucesso batalhões mistos no Vietnã, mas, novamente, foi um presidente democrata, Jimmy Carter, que teve de promover muitos oficiais negros para o posto de general. Carter designou Clifford Alexander como primeiro secretário do Exército dos Estados Unidos, em 1977. Alexander ordenou ações afirmativas em relação a promoções dos coronéis a generais de brigada, caminho normal para se tornarem majores-generais. Desta forma, oficiais experientes e sofisticados, como Colin Powell, que estavam prestes e decididos a se aposentar como coronéis, foram promovidos para postos mais altos – generais de quatro estrelas. Conselheiro de segurança nacional no final da administração do presidente Ronald Reagan, Powell permaneceu no Exército mesmo quando George H. W. Bush convidou-o para chefiar a CIA ou ser nomeado vice-secretário de Estado e acabou chefe do Estado-Maior Conjunto. Sua personalidade de vencedor e o êxito alcançado na Guerra do Golfo de 1991 atraíram a próxima geração de negros que pensavam na possibilidade de estudar quatro anos em uma academia militar e servir as Forças Armadas por um período de vinte a quarenta anos. Isso, no entanto, não alterou a natureza conservadora dos militares, apenas atualizou a política em relação a gays e mulheres em unidades de combate. A velha discriminação contra os judeus já havia desaparecido, quando David L. Goldfein, atual chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, e outros foram promovidos. Quando Bill Clinton foi eleito presidente democrata (um sulista, como todo presidente após John F. Kennedy – até Barack Obama interromper a sequência), ele encontrou oposição forte e uniforme dos oficiais superiores para a política de “Don’t ask, don’t tell – DADT, “Não pergunte, não se manifeste”) a respeito do serviço militar de gays, bissexuais e lésbicas, o que era facultativo no seu tempo (1994). Os jovens sargentos ficaram impressionados com o presidente, os generais e coronéis, nem tanto, e continuaram rebeldes. Eles também estavam bravos com Clinton – e Dick Cheney e Newt Gingrich – todos confortavelmente ocupados estudando em universidades, enquanto outros da mesma idade estavam atolados entre Saigon e Da Nang durante a Guerra do Vietnã. As forças militares dos Estados Unidos entrariam em colapso se os soldados negros se afastassem amanhã para protestar contra o apoio tácito dado aos racistas pelo comandante em chefe: afinal, eles representam um em cada cinco soldados nas forças terrestres; um em cada seis na Força Aérea e na Marinha dos Estados Unidos e 106
David Leo Goldfein, judeu, comandante do Estado-Maior da Força Aérea dos Estados Unidos
um em cada dez dos fuzileiros navais. O comando militar não pode permitir uma quebra dessa envergadura. John Kelly é o primeiro general a servir como chefe de gabinete da Casa Branca desde que Alexander Haig trabalhou para Richard Nixon. Haig desempenhou um papel importante na transição do governo Nixon, que renunciou em 1974, para o vice-presidente, Gerald Ford. Kelly pode ficar na mesma situação entre Trump e vice-presidente Mike Pence. Quem vive pelo Twitter cai pelo Twitter. Durante os dias que se seguiram aos fatos de Charlottesville, Trump esteve cada vez mais sob fogo do Twitter de seus generais. O major-general Malcolm Frost, até recentemente o porta-voz do Exército, escreveu: “Poucos sabem melhor do que os militares que nossos inimigos e adversários residem fora de nossas fronteiras, não dentro. Os norte-americanos devem se unir como um só. Orgulhosos da liderança de nossos Chefes Conjuntos, dos militares que lideram, da Constituição a que servimos e dos valores e ideais que são nossa base”. Notem que a posição mais alta e fonte de todas as ordens não foi mencionada. Trata-se, portanto, de uma crise de valores que a América nunca conheceu antes, porque antes nunca conheceu um personagem como Trump. * Articulista do Haaretz
ENSAIO
Por Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder
Eram umas 25 pessoas na sala da casa de Salomão, uma quintafeira, há dez anos. Pode se perguntar por que falar deste evento, quase uma década depois. É para não deixá-lo cair no esquecimento, como se fosse uma síntese de tudo o se refere ao ídiche: lembrar sempre, falar a cada oportunidade, ouvir os sons que povoaram a infância de uma geração que está desaparecendo e lutar para que não tentem matar este idioma, outra vez
Sholem Aleichem é cultuado pela criação de personagens inesquecíveis, como Tevye, o leiteiro
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a língua que resiste
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assado o breve período de ambientação em casa, o ídiche predominava e nos unia. Estávamos reunidos também para ouvir Moisés Galperin, um comerciante culto com um jeito especial de articular a poderosa língua que nos encantava naquela noite. Sim, o ídiche é mágico. Somente este idioma tem sentidos, entonações e nuances. Somente em ídiche é possível dar à palavra a conotação de carinho linguístico que nenhuma outra língua ousou. Por isso, Deus é goteniu, “Deusinho” A atração que eu sentia pelo ídiche nasceu por influência e contato com minha mãe. Garoto, conversava com ela e aprendi a articular as primeiras frases nesse dialeto de união de um povo. Para eu saber mais e melhor, matriculou-me na escola judaica da qual herdei um patrimônio que vai morrer comigo e, enquanto eu viver, retoma o brilho em momentos especiais. Como naquela reunião, citada no primeiro parágrafo. Quando Moisés falava parecia o escritor Sholem Aleichem (1859-1917), nascido em Peryaslav, antigo Império Russo, hoje Ucrânia. Moisés dominava as expressões, os neologismos da língua e os trocadilhos irresistíveis quase sempre intraduzíveis. Quem teve uma mãe que falasse ídiche logo entenderia aquele mar de palavras que se abria sob as ordens deste Moisés. Mas se minha mãe cometeu o grande pecado de nos deixar, eu e o ídiche continuamos juntos. O ídiche é falado há cerca de mil anos pelos judeus ashkenazim, aqueles oriundos da Europa Central e Oriental, e o disseminaram por todos os continentes. A partir da segunda metade do século passado, e em consequência do Holocausto que silenciou seis milhões de seus falantes, leigos e acadêmicos profetizaram a extinção dele. Isso nunca aconteceu. Recentemente o The
Economist escreveu: “Se pegar o metrô em Nova York, às vezes ouvirá grupos de mulheres judias conversando baixinho. De longe, parecem estar falando alemão, talvez hebraico. Na verdade, elas conversam em ídiche, língua que já foi falada por mais de dez milhões de pessoas. As guerras do século 20 mudaram isso e resta apenas um milhão de falantes. No entanto, apesar de todas as catástrofes perpetradas contra eles, o ídiche tem resistido e, de fato, passa por um renascimento.” O que é visível e já dura algum tempo. Em agosto de 1976, um membro do Knesset (o Parlamento israelense) realizou uma conferência com delegados de quatorze países da qual resultou a fundação do Conselho para o Ídiche e a Cultura Judaica que ainda funciona em Tel Aviv. Quarenta anos depois, em setembro de 2016, a Universidade de Wisconsin, celebrou o centenário de seu curso de ídiche. Foi a primeira entre as universidades americanas a tomar tal iniciativa e a fundar, em 1994, o Instituto Mayrent para a Cultura Judaica. Além de cultivar o idioma, logo recebeu em doação nove mil discos em 78 rotações de músicas cantadas em ídiche. Em 1952, a Universidade de Columbia, em Nova York, incluiu o ídiche em seus currículos. Desde então, e pela multiplicação de cursos semelhantes, o ídiche passou a frequentar o cotidiano de Nova York e a se incrustar no idioma inglês com palavras como shmock (idiota) ou to schlep (arrastar). É sabido que, nas décadas de 1930 e 1940 delinquentes judeus que agiam em Nova York e Chicago falavam ídiche entre si ou quando não queriam ser compreendidos pelos mafiosos italianos. Em 1988, a atriz judia Golde Tencer criou a Fundação Shalom, no âmbito do Centro de Cultura Judaica, em Varsóvia. Isso ganha significado especial porque até a eclosão da Segunda Guerra lá viviam cerca de trezentos mil judeus, um terço da população. O ídiche era o primeiro idioma. Polonês, o segundo. A Fundação Shalom continua bem ativa e, no verão, realiza seminários aos quais comparecem judeus e não judeus de todas idades, artistas, intelectuais e – surpresa – a maioria universitários. Em março último a Universidade Livre de Bruxelas publicou anúncio na internet: pre-
cisa-se professor de ídiche. Por conta disso, abriu inscrições para o curso de verão, em julho, com aulas de ídiche em diferentes níveis, encenações teatrais e musicais, exibições de filmes judaicos e sessões de leitura por professores belgas, franceses e britânicos. Mas também houve retrocessos. Em março de 2015, a prefeitura de Tel Aviv decidiu se desfazer de cinco mil livros em ídiche porque eram pouco consultados e a manutenção, cara. Os livros ficaram dois dias expostos em Beit Ariela, nome da Biblioteca Central de Tel Aviv, no Boulevard Shaul Hamelech, e centenas de pessoas levaram quantos livros queriam. O que sobrou dos cinco mil foram doados a outras instituições que cultivam o idioma em Israel. A rigor, o ídiche passou por toda sorte de adversidades, além da pior, o assassinato de seus falantes. Nos últimos anos do século 19 e até os anos 1920, idichistas e hebraístas entraram em choque também por razões políticas. Os idichistas eram adeptos do comunismo antissionista; os hebraístas, devotos do sionismo. Na esquerda judaica predominava o Bund, um movimento político para quem o ídiche era a língua insubstituível do povo judeu e o sionismo, uma utopia. Os bundistas se insurgiam contra o conceito sionista segundo o qual se o povo judeu pretendia fazer renascer seu território ancestral, também deveria se empenhar em reavivar o hebraico o idioma igualmente ancestral. O Estado de Israel foi fundado em 1948, o hebraico tornou-se idioma oficial e o auge do seu ressurgimento foi o Prêmio Nobel de Literatura 1966, concedido ao romancista e contista Shmuel Yossef Agnon, que nasceu em 1888 na Galícia, então império austro-húngaro e depois cidadão israelense. A obra dele é toda em hebraico. O ídiche não desapareceu e prosseguiu em sua jornada pelo mundo levando a preciosa bagagem artística e literária de escritores como I. L. Peretz, Mendele Mocher Sforim, Sholem Aleichem, H. Leivick. (pseudônimo de Leivick Halperin), Chaim Nachman Bialik (que também escreveu em hebraico), Itzik Feffer e autores teatrais. Atualmente falam o ídiche cerca de um milhão e meio de pessoas, descendentes da ter-
Em agosto de 1976, um membro do Knesset (o Parlamento israelense) realizou uma conferência com delegados de quatorze países da qual resultou a fundação do Conselho para o Ídiche e a Cultura Judaica que ainda funciona em Tel Aviv. Quarenta anos depois, em setembro de 2016, a Universidade de Wisconsin, celebrou o centenário de seu curso de ídiche
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ENSAIO ceira geração daqueles ashkenazim nascidos nas duas últimas décadas do século 19. Estes judeus, hoje entre 70 e 90 anos, têm a ajuda da internet em sites, como o Mendele, que em vez dos caracteres hebraicos originais transliteram os textos para o alfabeto latino. De acordo com um ensaio de autoria da escritora americana Cynthia Ozick, (o ídiche) “é o único idioma que não tem a grandeza de uma catedral, mas a única língua que chama Deus no diminutivo (goteniu)”. Esta e outras particularidades criaram o mito segundo o qual o ídiche é intraduzível. Mas, se assim fosse, Isaac Bashevis Singer não teria ganhado o Prêmio Nobel de Literatura, em 1978. Ele só escrevia em ídiche e era traduzido para o inglês. Intraduzível no ídiche é o seu espírito, sua atmosfera, sua ironia, e quem ganhou com isso foi o humor. Para saber se há algo de novo, um judeu pronuncia apenas uma sílaba: “Nu?” Se o outro quiser responder algo como “vai se levando”, usa duas: “Nu, nu”. Uma anedota conta que um judeu sai do shtetl (aldeia) onde vivia e viaja pela primeira vez a Varsóvia. Na volta, conta aos amigos o deslumbramento com o progresso que viu: “Mas, o que me impressionou mesmo, foi ver o operador do telégrafo sem fio. Eu ficava horas vendo ele bater naquele botão e não conseguia entender como era possível sem fio – sem fio! – ele se comunicar com o mundo inteiro”. Um dos judeus pergunta: “E se tivesse fio, você entenderia?”. Como você leu, a anedota talvez provoque um sorriso. Em ídiche, uma gargalhada. Os linguistas dividem a evolução do ídiche em períodos distintos. No início do século 10, judeus da França e do norte da Itália começaram a se fixar em comunidades no sul da Alemanha. Eles falavam o idioma alemão que, misturado ao francês, resultou num dialeto conhecido como Laaz. Aos poucos, este dialeto juntou-se a elementos do hebraico, aramaico e expressões eslavas e latinas. Acredita-se que, em sua forma primitiva, o ídiche contenha essa mixagem e ganhou fluência após a época das Cruzadas. Perseguidos, no século 13 os judeus le110
O florescimento mais intenso do ídiche ocorreu na imprensa. Na Polônia circulavam dezenas de jornais diários em ídiche e foi na corrente dessa tradição que se multiplicaram as publicações em ídiche nos Estados Unidos com destaque absoluto para o Forverts, engolido pelo tempo e hoje pode ser lido na internet, parte em ídiche, parte em inglês com o nome Forward
varam este idioma mais ao leste da Alemanha, em direção à Polônia e vastos territórios da Europa Oriental. No século 17, a Polônia tornou-se centro do mundo judaico, o ídiche começou a ser grafado com caracteres hebraicos e disseminou-se rapidamente. No início do século 19, deixou de ser apenas mais um idioma para se tornar em uma energia criativa que se estendeu à literatura, lendas, folclore, à música, ao teatro e às artes. O hebraico se manteve circunscrito à liturgia religiosa e considerado um idioma sagrado. O florescimento mais intenso do ídiche ocorreu na imprensa. Na Polônia circulavam dezenas de jornais diários em ídiche e foi na corrente dessa tradição que se multiplicaram as publicações em ídiche nos Estados Unidos com destaque absoluto para o Forverts, engolido pelo tempo e hoje pode ser lido na internet, parte em ídiche, parte em inglês com o nome Forward. Grande parte da história da imigração judaica para os Estados Unidos, a partir do século 20, pode ser levantada por meio das cartas que os imigrantes mandavam para a coluna A Bintel Brief (Um Pacote de Cartas) do jornal Forverts. Sem qualquer pretensão histórica essas cartas se tornaram um marco na pesquisa da trajetória, sonhos e comportamento dos judeus que passaram pelo filtro imigratório de Ellis Island, a ilhota na entrada de Nova York. Hoje, apesar do comprovado estágio de ressurgimento, o ídiche enfrenta uma pergunta que não quer calar: por quanto tempo este idioma resistirá? O estudioso do Centro Cultural Judaico de Londres, Barry Davis, teme pelo seu futuro porque não tem um território de referência. A professora do Centro de Estudos Judaicos de Varsóvia, Karolina Szymaniak, diz que deve se preservar o ídiche porque é uma herança rica que não pode ser perdida. Os judeus ortodoxos, que hoje falam o ídiche, constituem uma esperança no sentido de que o idioma vai perdurar. Ora, se durante quase dois mil anos os judeus mantiveram sua unidade nacional e religiosa sem terem um território é bem provável que o ídiche seja igualmente valente.
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Com uma delegação de sete representantes, o Colégio Renascença foi a única escola Judaica do país a participar do Harvard Model Congress Latin America, que reuniu estudantes do ensino médio da América Latina e teve alunos de Harvard como mediadores. O evento, que aconteceu em inglês, propõe a maior simulação de conferência governamental do mundo, com o objetivo de inspirar e formar os futuros jovens líderes mundiais.
Há anos o San Raphael Country Hotel, localizado em Itu a apenas noventa quilômetros de São Paulo, mantém um cordial relacionamento com a comunidade judaica. As 84 acomodações são confortáveis e o lazer é completo. Todos os finais de semana, oferece recreação monitorada e seis inigualáveis refeições diárias. O hotel também dispõe de um espaço amplo e elegante para festas, casamentos e cerimônias de bar-mitzvá. O San Raphael deseja a toda a comunidade judaica um Feliz Rosh Hashaná 5778.
SAN RAPHAEL COUNTRY HOTEL INFORMAÇÕES, (11) 4813-8877 E-MAIL RESERVAS@SANRAPHAELCOUNTRY.COM.BR
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CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
CIRURGIA PLÁSTICA
CIRURGIA PLÁSTICA
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Dra. Dayane Messias Lopes Dr. Eduardo Durante Rua
Tels: (11) 99944-7331 98018-0377 98507-6427 email: dayanelopes.adv@gmail.com | edurua@uol.com.br
CLÍNICA
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RESIDENCIAL
RESIDENCIAL
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GASTRONÔMICO
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GASTRONÔMICO
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CONSELHO DELIBERATIVO CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL 2017
Resoluções para o novo ano
Setembro
Este mês, os Iamim Noraim (Dias Temíveis) se destacam no calendário judaico e na rotina de instituições judaicas como A Hebraica. Engana-se quem considera Rosh Hashaná como um Réveillon especial. De fato, é uma data com profundo significado religioso, mencionado, inclusive na Torá. Uma curiosidade: Rosh Hashaná é comemorado em 10 de Tishrei que é sétimo mês no ano. Nissan é o primeiro mês no calendário judaico e marca a saída dos judeus do Egito, narrada em Êxodo, um dos cinco livros da Torá. Para a chegada dos Iamim Noraim (período de dez dias entre Rosh Hashaná e Iom Kipur) é recomendado fazer uma retrospectiva das ações no ano que passou e projetar para o próximo melhores ações e intenções. Essa autocrítica implica um ou mais pedidos de perdão e uma dose de arrependimento diante de D’us. Enfim, precisamos evoluir sempre em relação à família, à comunidade e ao país. Em Iom Kipur, D’us confirma as decisões relativas à humanidade e para fazê-lo, toma em conta o conjunto de ações e pretensões dos homens , mulheres e crianças. É com este conceito de renovação e evolução dentro do código de ética judaico que a Mesa do Conselho espera que o ano de 5778 seja melhor, mais produtivo, eficiente, com a certeza que a diretoria e todos que trabalham na Hebraica não pouparão esforços para melhor atender aos anseios dos associados e da comunidade judaica. Enfim, somos dez diretores no Executivo, vários responsáveis pelas áreas, duzentos conselheiros eleitos e centenas de funcionários reunidos em torno de um único objetivo, o de trabalhar em favor do sócio e do aperfeiçoamento constante da nossa Hebraica. Shaná Tová Umetuká Mauro Zaitz Presidente do Conselho Deliberativo
Outubro
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20 21 22 29 30
4 *5 *6 11
4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA
* 12 * 13
5ª FEIRA 6ª FEIRA
12 de novembro – ELEIÇÕES 27 de novembro 11 de dezembro
5
PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE 1O SECRETÁRIO 20 SECRETÁRIO
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MAURO ZAITZ FÁBIO AJBESZYC SÍLVIA L. S. TABACOW HIDAL AIRTON SISTER VANESSA KOGAN ROSENBAUM
ASSESSORES
ABRAMINO A. SCHINAZI CÉLIA BURD EUGEN ATIAS JAIRO HABER JAVIER SMEJOFF SAPIRO JEFFREY A. VINEYARD
VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET- IZKOR SIMCHAT TORÁ
DOMINGO DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN
Dezembro 12 19
3ª FEIRA 3ª FEIRA
AO ANOITECER, 1ª VELA DE CHANUKÁ AO ANOITECER, 8ª VELA DE CHANUKÁ
2018 Janeiro 27
SÁBADO
31
4ª FEIRA
Fevereiro 28
DIA INTERNACIONAL EM MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO (ONU) TU B’SHVAT
4ª FEIRA
JEJUM DE ESTER
5ª FEIRA 6ª FEIRA 6ª FEIRA SÁBADO
PURIM SHUSHAN PURIM EREV PESSACH - 1º SEDER PESSACH - 2º SEDER
1 *6 7 12 18
DOMINGO 6ª FEIRA SÁBADO 5ª FEIRA 4ª FEIRA
19
5ª FEIRA
PESSACH- 2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IZKOR IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO IOM HAZIKARON - DIA DE LEMBRANÇA DOS CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT - DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 70 ANOS
Março 1 2 30 31
Abril
3 13 19 20 *21
Julho
MES SA DO CO CONSELHO
VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR
Novembro
Maio
Reuniões Ordinárias do Conselho em 2017
4ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 6ª FEIRA SÁBADO
1 21
22 27
5ª FEIRA LAG BAÔMER DOMINGO IOM IERUSHALAIM SÁBADO VÉSPERA DE SHAVUOT DOMINGO 1º DIA DE SHAVUOT 2ª FEIRA 2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR DOMINGO JEJUM DE 17 DE TAMUZ SÁBADO INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER DOMINGO FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER 6ª FEIRA TU BE AV
* não há aula nas escolas judaicas ** o clube interrompe suas atividades, funcionam apenas os serviços religiosos