Sempre vale a pena conhecer o país ENTREVISTA
Seth Siegel, mostra por que é o homem da água
MAGAZINE
A esquerda judaica e Donald Trump
Ano LIX No 672
Fevereiro 2018 Shevat / Adar 5778
PALAVRA DA DIRETORIA
Em 21 de janeiro, foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância. Uma semana depois, dia 28, participamos do evento promovido pela comunidade de recordação do genocídio que matou mais de seis milhões de nossos irmãos durante a Segunda Guerra Mundial. Historicamente, nossa comunidade sempre foi, e é, alvo de preconceitos. A Torá descreve esses momentos. E na história moderna, temos muitos outros exemplos. Por quê? As respostas são inúmeras. Mas seria apenas porque professamos a religião judaica? Talvez. De todo modo, independentemente da resposta NADA justifica atitudes de intolerância aracial. Eis o que disse a Diretora Geral da Unesco ao visitar o Museu da Shoá em Paris: “A história do genocídio dos judeus é a história do povo judeu e é também a história da humanidade como um todo… O trabalho da Unesco pela educação sobre o Holocausto e pela memória não é um olhar sobre o passado — ele atua no presente na luta contra o racismo, o antissemitismo e a negação”. Fazendo coro a essas palavras, esta onda negativa deve ser combatida por nós e por todas as pessoas de bem, embora, infelizmente, a intolerância tenha ressurgido em diversas partes do mundo e nos grupos que a promovem, cada vez mais ousados. No Brasil, apesar de eventos esporádicos, as autoridades estão atentas, vigilantes e atuantes quando provocadas pelos nossos representantes e instituições (especialmente Conib e Fisesp), que trabalham com pulso forte e firme. E gente de nossa coletividade trabalha decisivamente para estreitar as relações com o poder público em todos os níveis, de forma rápida e eficaz. Exemplo disso, é a proposta – aceita – de fazer constar do currículo escolar a disciplina do ensino do Holocausto. É para as crianças saberem o que foi e nunca mais se repita. É que a história, com suas tragédias, precisa ser lembrada sempre. É um dever de todos assim como repassar às novas gerações o que aconteceu e a gravidade daqueles eventos. Mas, tanto ou mais importante, devemos nos
manter unidos. Juntos podemos fazer mais. Neste sentido, a Hebraica caminha de mãos dadas com as nossas lideranças comunitárias combatendo a intolerância onde e quando ela se manifestar, de forma proporcional, preventiva, instrutiva, educacional e, se necessário, com a força da lei. Hoje, temos diálogo e ótimas relações com clubes e organismos de outras religiões, credos e raças, e enxergamos que é possível a convivência cordial e pacífica, sempre prevalecendo o respeito. Nós, judeus, somos diferentes em nosso costumes, tradições, crenças e fé, mas ficamos maiores, não ameaçados, por essa diferença. Creio que este é um dos maiores sinais de esperança num mundo coberto pelas nuvens cinzentas da ira, ódio e desespero. Devemos espalhar essa lição. A integração da nova diretoria com o grande número de voluntários ajudando na condução do clube nos emociona. Todos pela Hebraica. Essa chama de esperança e alegria tinha cores vivas todos os dias e finais de semana de janeiro no clube. Muitas crianças, atividades variadas, piscinas cheias e a alegria dos nossos sócios. Hoje, sempre e onde estivermos, é nossa tarefa mostrar que podemos respeitar e ser respeitados. Se isso acontece na vastidão de uma fronteira também é possível em qualquer lugar. Podemos, devemos e vamos, de fato, escrever um novo capítulo na conturbada história entre as fés, cujas linhas finais enalteçam a amizade, a paz e o amor. Por que estes são, reconhecidamente, os melhores e eficazes antídotos contra o medo. Shalom Daniel Leon Bialski Presidente
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SUMÁRIO AGENDA ENTREVISTA CAPA ACONTECE REGISTRO
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ESPORTES COSTUMES E TRADIÇÕES MAGAZINE GALERIA ENSAIO
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HORA DE EMBARCAR PARA O ACAMPAMENTO DE FÉRIAS DE VERÃO
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CARTA DA REDAÇÃO
ANO LVII | NO 672 | FEVEREIRO 2018 | SHEVAT/ADAR 5778
DIRETOR-FUNDADOR SAUL SHNAIDER (Z’L) PUBLISHER FLAVIO MENDES BITELMAN DIRETOR DE REDAÇÃO BERNARDO LERER EDITOR-ASSISTENTE JULIO NOBRE SECRETÁRIA DE REDAÇÃO MAGALI BOGUCHWAL REPORTAGEM TANIA PLAPLER TARANDACH TRADUÇÃO ELLEN CORDEIRO DE REZENDE CORRESPONDENTES ARIEL FINGUERMAN, ISRAEL FOTOGRAFIA FLÁVIO M. SANTOS FOTO CAPA DIVULGAÇÃO DIREÇÃO DE ARTE JOSÉ VALTER LOPES DESIGNER GRÁFICO HÉLEN MESSIAS LOPES
Israel em pauta
ALEX SANDRO M. LOPES EDITORA DUVALE RUA JERICÓ, 255, 9O - CONJ. 95
A partir desta edição, possivelmente todas, ao longo do ano, terão algum texto alusivo a Israel e aos setenta anos de independência. Nesta, a incansável e criativa Magali Roitman fez de uma exposição na Galeria de Arte a respeito do lançamento de um calendário tema da matéria de capa, entrevistando guias de turismo brasileiros que vivem em Israel, entre eles nosso correspondente Ariel Finguerman. É dela também o texto acerca do senhor das águas Seth Siegel que lançou livro a respeito da finitude do líquido e falou na tv, rádio, jornais e revistas. Nosso cronista de “Costumes e Tradições”, o médico Joel Faintuch, escreveu um precioso texto mostrando a importância da família e das tradições para a o judaísmo. Ainda no “Magazine”, Ariel Finguerman trata da incorporação de mágicos nas fileiras do Tzahal, o exército de defesa de Israel, além, é claro, das doze saborosas notícias. O ex-jornalista e agora laureado escritor Bernardo Kucinski fala do seu novo livro Pretérito Imperfeito a que se segue um artigo a respeito de adoção, pois é disso que trata o livro, de autoria do psicanalista Rubens Bergel. E no recente Festival de Cinema de Israel foi lançado um filme acerca de Coco Chanel, seus amantes nazistas e o uso que pretendeu fazer das leis raciais de Nurenberg para expropriar os sócios judeus. E uma nova crítica do livro Por Dois Mil Anos, de Mihail Sebastian, que lançou novas luzes sobre a tragédia do antissemitismo no entre-guerras na Europa. Boa leitura. Shalom Bernardo Lerer – Diretor de Redação
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Por Magali Boguchwal
70 anos
Cuidar da água que é finita Em outubro de 2017, a Editora da Pontifícia Universidade Católica (EDUC) lançou Faça-se a Água, de autoria do advogado, escritor e ativista norteamericano Seth M. Siegel. Ele veio ao Brasil para divulgar a obra e durante uma semana realizou palestras em São Paulo e no Rio de Janeiro e manteve contato com a comunidade judaica das duas cidades em suas instituições e sinagogas a Hebraica, Seth Siegel elogiou a infraestrutura e a recepção dos diretores e sócios. “Estou vivendo dias maravilhosos no Brasil. José Luiz Goldfarb, diretor da Educ, é meu novo melhor amigo. A comunidade judaica não poderia ser mais acolhedora”, afirmou à reportagem da revista Hebraica. Na primeira semana de janeiro, foi ao ar pela TV Cultura de São Paulo sua participação no programa “Roda Viva”, cujo sucesso repercute até hoje. Eis a entrevista concedida à Hebraica Hebraica – O que é tratar da questão da água quando o mundo apresenta tantos problemas ligados ao abastecimento a serem solucionados? Seth M. Siegel – A água é o mais difícil de todos, porque se faltar óleo, você pode usar o carvão ou outro combustível. Água não tem substituto. Sem ela você não produz energia, alimento, vida em geral. A natureza está nos avisando a respeito do agravamento do problema da água. Restam apenas alguns poucos anos para encontrar meios de administrar a água disponível, pois não há como produzi-la industrialmente. Entre as tentativas para evitar a escassez de água, qual ideia o senhor considera a mais criativa até agora? Siegel – Não se trata de eleger o meio mais criativo, mas sim de racionalizar e potencializar o uso dela. A primeira coisa a fazer é consertar o que for mais fácil. A agricultura consome muita água e podemos racionalizar esse uso aplicando técnicas e equipamentos, 10
muitos deles desenvolvidos por Israel. Tecnologias como a irrigação por gotejamento, aproveitamento da água de reuso, dessalinização, outras saídas. Nas cidades, é preciso lidar e reduzir a perda de água com vazamentos. No Brasil, essa perda chega a 37%. Israel criou algumas tecnologias para diminuir a perda de água também. Atualmente é o país com menos desperdício de água por vazamentos no mundo. Existe um forte movimento, o BDS (Boicote, Desenvolvimento e Sanções) que conclama as pessoas e empresas a boicotar produtos e serviços israelenses. Como o senhor vê esse movimento? Siegel – Primeiro, é preciso ser masoquista ou odiar a si mesmo e ao seu país, para rejeitar uma tecnologia desenvolvida em outro país, em razão de um preconceito ou porque alguém lhe disse para fazê-lo. Ainda com relação ao movimento BDS, vou revelar um pequeno segredo que o resto do mundo não revela. Israel aplica várias tecnologias em 140 nações, muitas das quais são as que falam muito mal do país, mas de fato mantêm discretas negociações com Israel para obter equipamentos e sistemas instalados em vários setores sem que ninguém no mundo saiba disso. No meu livro Faça-se a Água, mostro como Israel utiliza brilhantemente água como um aspecto da sua diplomacia, abrindo portas e construindo conexões com as nações do mundo. Países como a China, por exemplo, estabeleceram relações com Israel em função do incremento no uso da água. Irã e Israel mantêm negócios nessa área, assim como, em 2017, países da África se aproximaram pensando em implantar algumas soluções desenvolvidas em Israel. Existe muito antagonismo em relação a Israel, mas muitos países estão mudando sua perspectiva para partilhar essa expertise desenvolvida pelas
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Seth Siegel elogiou a Hebraica e a acolhida que recebeu da comunidade
empresas e cientistas israelenses. Os compositores brasileiros Sá, Guarabira e Zé Rodrix compuseram a canção chamada Sertãozinho que diz “O sertão vai virar mar e dá medo de que, algum dia, o mar também vire sertão”. Quanta verdade acredita existir neste verso? Siegel – Está em nossas mãos evitar que isso aconteça. Realmente poderemos chegar a um período em que faltará água em grandes regiões do planeta. Esta é uma situação que várias nações já enfrentam e que pode se tornar uma realidade para povos e regiões da terra que hoje ainda dispõem deste recurso. Caso um cenário como o da música aconteça, milhões de pessoas serão afetadas em uma gigantesca crise humanitária. Mas, podemos evitar que ela se realize. No meu livro, mostro como Israel pode ser um modelo para outros países, pequenos, grandes, ricos, pobres, quanto às políticas relativas à água. Todas as nações têm algo a aprender com Israel, tenham ou não porções de litoral banhados por oceanos, rios ou nenhum desses recursos.
Nessa jornada colhendo dados, redigindo e agora divulgando o livro, qual é a pergunta mais difícil de responder? Siegel – Tenho lidado com diferentes reações e ainda existem questões para as quais não há resposta, mas o mais difícil é quando alguém questiona porque se deve preocupar com o tema da água. Em palestras ou contatos com o público, ouço muito “O que eu tenho com isso? Quando abro a torneira da cozinha, a água jorra!”. E eu respondo que, sim, é preciso refletir sobre o assunto, porque a água está disponível hoje, mas não sabemos como será no futuro. Sempre digo que a água é um recurso abundante, mas não ilimitado como o sol e o ar. Você tem de entender e se preparar para esses limites. A maior parte da água hoje é suja e inacessível e precisamos descobrir como torná-la limpa e potável ou ter acesso a ela com inteligência e racionalidade. São esses dois elementos que Israel aplica em suas políticas referentes à água e que me trouxeram a este clube e a este país tão lindos.
A maior parte da água hoje é suja e inacessível e precisamos descobrir como tornála limpa e potável ou ter acesso a ela com inteligência e racionalidade. São esses dois elementos que Israel aplica em suas políticas referentes à água e que me trouxeram a este clube e a este país tão lindos.
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ENTREVISTA
(Seth Siegel, escritor)
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CAPA ISRAEL 70 ANOS
Por Magali Boguchwal
PARABÉNS 70 A VOCÊ… anos
A exposição “70 Anos de Israel”, atração da Galeria de Artes até 18 de fevereiro, foi o primeiro evento – a destacar este momento do país e a relevância do tema – comemorativo do aniversário de fundação do Estado de Israel
“A
revista Shalom publica um calendário anual e, para esta edição, escolhemos o tema dos setenta anos de Israel, uma data muito relevante. Por isso, a publicação traz também um pequeno guia com dicas para turistas em potencial. Queremos convidar o público a visitar o país a passeio”,”informou o editor da revista Shalom, Nessim Hamaoui. Ele selecionou as imagens do calendário e da exposição a partir de um acervo oferecido pelo Ministério de Turismo de Israel e distribuiu o calendário durante o vernissage. “Numa das paredes está uma reprodução do Muro das Lamentações que esperamos ver coberto por papeizinhos com recados, como no Kotel Hamaaravi, em Jerusalém”, completou. A cidade de Jerusalém ilustra janeiro, fevereiro e março do calendário. Para Nessim, a cidade faz juz ao primeiro trimestre do ano e com ele concorda a agente de turismo Cleo Ickowicz. Depois de atuar muitos anos junto ao Ministério do Turismo de Israel atendendo grupos formados por cristãos evangélicos, hoje ela elabora roteiros exóticos para clientes de sua empresa, a Mandala Tours. Ela acredita que uma visita à cidade requer vários dias de passeios.
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“Além de ser um lugar inspirador e de uma energia incrível, ela faz parte de um grupo de trinta e poucas cidades especiais no mundo. Não há como viajar a Israel e não visitar Jerusalém”, comenta. Trabalhar com turismo é uma forma que alguns brasileiros, radicados em Israel ou não, encontraram para, de certa forma, servir o Estado de Israel e despertar nos turistas a mesma admiração que sentem pelo país. O correspondente da revista Hebraica em Israel Ariel Finguerman, é paulista e formado em jornalismo e filosofia pela Universidade de São Paulo. Depois de fazer aliá (palavra que significa imigração de judeus para Israel) em 2000, obteve o doutorado em religiões, escreveu livros e agora também é guia de peregrinos cristãos na Terra Santa. “É um trabalho que me dá um duplo prazer: mostrar aos visitantes a bonita Eretz Israel e conectar católicos e cristãos evangélicos às suas raízes na cultura judaica”, descreveu ele. O carioca Jayme Fuchs vive com a família no kibutz Nachshon desde 1982, de onde comanda a empresa Fuchs Bar Turismo Educativo em Israel. “Turismo educativo é a fusão com temáticas específicas ligadas ao interesse do grupo como: identidade judaica, atualidade, profetas, etc. Em alguns casos, fazemos passeios e seminários de um ou dois dias a respeito do assunto que o grupo deseja estudar ou se aprofundar. Em geral, atendemos a brasileiros e portugueses”, explica ele. Segundo ele, aos setenta anos, o Estado de Israel é um dos países mais ricos do mundo em história, cultura e arqueologia. Não importa a qual religião ou cultura você per-
tença, imediatamente você se identifica e se apaixona pelo país. Pessoalmente sou apaixonado por dois lugares repletos de mistérios, nos quais sempre descubro e aprendo algo novo: a cidade de Sfat e a região de Mitzpê Ramon”, detalha. Outro agente de turismo apaixonado é o advogado Pérsio Bider que, em 2008, depois de acompanhar como guia um grupo do Taglit Birthright – modalidade de excursão destinada a facilitar para judeus com poucos recursos a primeira viagem a Israel – enveredou pelo ramo do turismo e hoje é sócio de duas empresas, a Israel Operadora e a Tututrip, ambas em São Paulo. “Roteiros turísticos montados para judeus e cristãos são totalmente diversos. Enquanto os turistas da comunidade priorizam Jerusalém, Tel Aviv, Eilat e Cesaréia, o público cristão quer conhecer, além de Jerusalém, locais como Belém, Jericó a Galiléia e a região de Iafo, que se refere às histórias de Jó e Simão. Existe, inclusive, um roteiro chamado Jesus Trail (‘Trilha de Jesus’) que sai de Nazaré até Cafarnaum, cidade onde morou Pedro e cuja família hospedou Jesus por um tempo. Nesse local existe uma sinagoga onde, diz-se, os dois rezavam juntos”, conta Pérsio. Ativista comunitário e incansável defensor de Israel, Bider considera a comemoração dos setenta anos o ápice da vitória do povo judeu que, “até 1947 temia ser dizimado da terra. País sólido, moderno que respeita as religiões, seus cidadãos e os do mundo inteiro e exemplo de ações solidárias, alto nível técnico e dos benefícios que suas pesquisas trazem à população mundial”. Márcio Kramer emigrou do Brasil há dez anos. Para ser guia de turismo em Israel, ele voltou à universidade, em Haifa. “Durante dois anos do curso, os alunos conhecem Israel de ponta a ponta em todos os aspectos, históricos, religiosos, fauna
Poucas semanas depois da aliá, Guga Gershman cobriu um campeonato de surfe em Natânia
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CAPA ISRAEL 70 ANOS
Ariel Finguerman fala a um grupo de peregrinos em Jerusalém
Grupo de católicos e evangélicos orientados por Jayme Fuchs em passeio pelo Caminho dos Profetas
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e flora, geologia, navegação, islã, cristianismo e vários etceteras”, explica. “Gosto da atividade porque posso rodar por todas as realidades geográficas, políticas e sociais do país e sentir o clima interno e externo”, afirmou em entrevista por e-mail. A descrição que faz de Israel vai um pouco mais longe. “Israel e um grande parque de diversões temático. O maior projeto do povo judeu na modernidade. É o encontro do antigo e do novo; todas as culturas passam por aqui”, completa. Segundo Kramer, os atrativos de lugares como o Vale do Hula vão além da cultura. Os viajantes observam milhões de pássaros no voo de volta da África para a Europa. Há também aqueles que vêm a Israel a negócios e os que buscam confirmar a fé. É esse dinamismo e a soma de emoções que, como guia, vejo diariamente, o que torna minha atividade profissional realmente única”, diz Kramer. Além do trabalho com turismo, alguns brasileiros traduzem a paixão por Israel por meio da fotografia. É o caso de André Nehmad e de Guga Gershman, que até a aliá em novembro último era fotógrafo freelancer da revista Hebraica. “Israel é um país incrível, com muitas paisagens incríveis, locais de interesse histórico, entre outras coisas. Durante esse meu período de estudos no Ulpan em Kiryat Yam, ainda não estou saindo muito para fotografar. Nos últimos dois finais de semana (entre os dias 11 e 20 de janeiro), aconteceu na praia de Kontiki, em Natânia, pela terceira vez, uma etapa do Qualify Series, torneio de qualificação para a WSL (Associação Mundial de Surf), com atletas brasileiros, entre eles Miguel Pupo e Wesley Leite e, por isso, cobri o evento, para uma agência de notícias brasileira para a qual trabalho. Infelizmente, os surfistas brasileiros não chegaram até a final, mas acabaram bem colocado. Da qualificação também participara americanos, israelenses, japoneses. Um evento que atraiu muitos turistas para a cidade de Natânia, que achei muito agradável. Vou enviar uma foto para vocês, no Brasil”, prometeu.
Sheila Fridlin Ainda causa surpresa a notícia de que o editor e fundador da Sêfer, Jairo Fridlin, imigrou para Israel com a família. Como outros profissionais da área, Jairo lida diariamente com imagens e o efeito que têm no público. Aliás, muitos dos clientes da Sêfer são também os turistas cristãos mencionados nos textos das páginas anteriores. A seguir, o depoimento de Jairo e Sheila Fridlin, que moram na cidade de Modiim
Jairo, Sheila e o filho Amir no embarque para Israel
“Nossa aliá não aconteceu de repente. Começamos a planejá-la há alguns anos e ela está relacionada ao tipo de vida que queríamos ter no futuro. Em resumo, nosso dilema era: contentar-nos em ser avós via Skype revendo nossa filha e netos esporadicamente ou mergulhar de cabeça e vivenciar essa experiência de perto, ao vivo e a cores? Decidimos pelo segundo caminho, apesar de algumas dificuldades pontuais e passageiras próprias da mudança para um novo país e às saudades por deixarmos no Brasil parte da nossa família e muitos amigos queridos. “Sentimos falta do que deixamos para trás? Dizer ‘não’ seria mentir... Mas o que estamos vivenciando aqui passou a nos agradar bastante e a preencher a saudade do que tínhamos, e aos poucos isso vai se tornando a nossa realidade – a realidade que escolhemos para nós. “Ambos conhecemos Israel no final dos anos 1970 e guardamos ótimas recordações daquela época. De lá para cá, visitamos Israel muitas vezes e acompanhamos parte das mudanças que o país sofreu nesses últimos 35 anos e já conhecíamos esse lado ultramoderno da Israel ‘setentona’ de hoje. Os avanços são inegáveis em muitas áreas, e o que espanta é a rapidez como o país os atingiu. E pensar no que o nosso povo passou nos tenebrosos anos de 1940... “Isso também nos ajudou a tomar a decisão, porque queríamos para o nosso filho Amir e para nós esse tipo de vida de país de primeiro mundo, com suas facilidades, comodidades e avanços tecnológicos. Surpreendemo-nos e ‘apanhamos’ um pouco da burocracia local, mas num país em que o Estado se vê o responsável pelo bem-estar de seus cidadãos, isso é inevitável. E sobrevive-se a isso também, quando se aprende a palavrinha mágica que todo olê chadash tem de aprender e assimilar assim que chega aqui: savlanut (‘paciência’)! “O Brasil sempre será uma parte querida e inseparável de nossas vidas, e deveremos ir aí de vez em quando, mesmo porque a Editora e Livraria Sêfer – que completa 25 anos de atividade e é dirigida agora pelo competente Victor Lindenbojm – continua na ativa e deverá se beneficiar bastante dessa mudança estratégica e administrativa. “O fato é que o sorriso e o carinho de um neto compensa todo e qualquer sacrifício. E agora que são dois... ‘isso não tem preço’.” 15
ACONTECE
Novidades
Festival da
HOLANDA
na Hebraica
De 1º. a 4 de março, a Hebraica vai respirar os ares da Holanda em diferentes atividades. A palestra a respeito de “O Patrimônio Cultural dos Judeus de Amsterdã”, com o filósofo Emile Schrijver (veja box), será um dos pontos altos da programação
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comunidade judaica está presente na esfera pública de Amsterdã desde o século 17 e tem figuras conhecidas internacionalmente, como Baruch Spinoza e Anne Frank, cuja casa onde viveu é um dos museus mais visitados do mundo. Emile Schrijver destacará, entre outros temas, a arte do livro, a arte cerimonial, pinturas, arte em lápides e outras expressões artísticas judaicas, assim como as edificações que compõem o Bairro Cultural Judaico. Em menos de um quilômetro quadrado, ali estão o Museu Histórico Judaico, instituição cultural holandesa inovadora e que inclui o Museu Infantil, a imponente Sinagoga Portuguesa do século 17, iluminada por velas, o emocionante Memorial Nacional do Holocausto, usado como centro de deportação durante a época nazista. Além desse encontro com a história judaica, haverá atividades, muitas ainda em fase de elaboração, como a exibição de filmes e danças típicas. O Consulado da Holanda, maior incentivador do Festival, promete surpresas durante os dias em que os sócios conhecerão de perto a cultura holandesa. Muito próxima de São Paulo está Holambra, a cidade das flores, cujo nome é a junção de Holanda, América e Brasil, formada pelos colonos neerlandeses que se fixaram na antiga fazenda Ribeirão. A cidade é conhecida pelos índices de qualidade de vida e de melhor segurança do país. Maior centro de produção de flores e plantas ornamentais da América Latina, de Holambra virão especialistas para mostrar o que e como trabalham as flores, além de trazerem sua produção de compotas e doces típicos, como stroopwafels, speculaas, krentebollen e muitos mais.
Um dos maiores conhecedores de manuscritos judeus no mundo Filósofo holandês e erudito literário, Emile Schrijver é o diretor-geral do Museu Histórico Judaico e do Quarteirão Cultural Judaico em Amsterdã. Professor especial de história do livro judaico na Universidade de Amsterdã e curador da coleção particular Braginsky, composta de manuscritos e livros impressos em Zurique. Schrijver é, também, o editor-geral da Enciclopédia das Culturas do Livro Judaico e participa de vários conselhos consultivos holandeses e internacionais. 16
A partir de fevereiro, na tela do Teatro Arthur Rubinstein, mensalmente será exibido um filme israelense. O primeiro será A Missão do Gerente de Recursos Humanos, dia 28, nos dois horários de quarta-feira: 14h30 e 20h30
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programação normal começa com Suburbicon Bem-Vindos ao Paraíso, dirigido por George Clooney, com roteiro dos irmãos Coen, dia 3, sábado, às 20h30 e dia 4, domingo, às 16 e 19 horas. A primeira pré-estreia do mês será A Noiva do Deserto, filme argentino com a premiada atriz Paulina Garcia. Dia 7, quarta-feira, 14h30 e 20h30. Para quem não vai pular na avenida, sábado, 10, às 20h30, e domingo, 11, às 16 e 19 horas, em pleno Carnaval, a pedida é assistir Paulina, também argentino, com Dolores Fonzi e Oscar Martinez. Na Quarta-Feira de Cinzas, 14, às 14h30 e 20h30, é a vez de assistir Lou, uma escritora que conta seus relacionamentos com Nietzsche e Freud e a paixão por Rilke. Outro filme interessante é Todo Dinheiro do Mundo, que conta a história do magnata norte-americano Paul Getty. Estará na tela sábado, 17, às 20h30, e domingo, 18, às 16 e 19 horas. Para fechar o mês, dia 21, 14h30 e 20h30, com reprise sábado, 24, 20h30, um dos filmes mais comentados no circuito, O Extraordinário, de Stephen Chbosky.
Música hindu no Teatro Anne Frank Uma noite de música hindu com três nomes consagrados, na Índia e em plateias internacionais. O concerto reunirá o maestro dr. L. Subramaniam no violino, a cantora Kavita Krishnamurthy e o percussionista DSR Murthy, com seu tambor, o mridangam. Figuras conhecidas na cinematografia indiana, uma das mais destacadas do mundo, seus nomes estão ligados a apresentações e premiações em circuitos musicais europeus.
Feliz Idade está de volta
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Sala Plenária já estava sentindo falta do público das tardes de quinta e sábado às 14h30. Para esquentar a programação, o mês de fevereiro traz novidades. Começa o dia 1 . com a palestra “Tu Bishvat sob a Luz da Kabbalah”, com Marcelo Steinberg. Dia 3, será a vez de assistir ao DVD A Filha do meu Melhor Amigo. Na semana seguinte, dia 8, a palestrante será Hisela Campiglia, com o tema “A Força da Mulher”. Dia 10, uma tarde dedicada a “Arteterapia e Você!”, com a especialista Mara Herbst Kahan. Excepcionalmente, dia 17 o encontro com o novo vicepresidente Social/Cultural Sandro Assayag será no Auditório, às 15h30. Voltando à Plenária, dia 22 Peter Kaufman dará palestra sobre “Maestros e suas Orquestras Atuais”; e o mês termina em um bate-papo com Daniel Bialski, novo presidente do clube.
Super Bowl dirretto de Minnesota Os torcedores do futebol americano têm um programa imperdível: dia 4, às 20 horas, poderão assistir à transmissão direta da 52a. edição do Super Bowl, a grande final do campeonato anual. No Espaço Gourmet, com direito a pizza, cerveja, refrigerante e suco de laranja para acompanhar a disputa. Inscrições, na Central de Atendimento, fone 3818-8888/8889. 17
ACONTECE
ALGO PARA FAZER No ano passado, Thaís Ienaga começou a oferecer a prática da meditação na Hebraica. Após dois meses de aprofundamento em meditação na Índia, Ienaga traz novidades e pretende iniciar o ano com uma palestra aberta para falar de sua proposta e compartilhar a vivência no país de tantos mistérios. Horários da prática: terça, das 8 às 9 horas, e quinta, das 18 às 19 horas, sempre no Auditório. Informações e inscrições, na Central de Atendimento, fones 3818-8888/8889. A atriz e terapeuta explica o seu trabalho na entrevista a seguir.
Revista Hebraica – Como foram os encontros de meditação em 2017? Thaís Ienaga – Foram muito bem, muitos sócios souberam pelo boca-a-boca, foram chegando e permaneceram no grupo. O número de participantes oscilou, porém chegamos ao final com sucesso. Como se desenrolou o processo? Thaís – No início, as alunas tinham dificuldade, porém com a prática elas conseguiram progredir. Recebi retornos positivos das experiências e tive muito prazer na troca e na abertura com as alunas ao longo do processo. Quais são as novidades para este ano? Thaís – Além das alunas que continuarão o curso, à medida que souberem das práticas de meditação semanais no clube, outras se unirão a nós. Principalmente porque teremos meditação no horário já tradicional das terças de manhã e, para facilitar, também às quintas no final da tarde. Os encontros são moldados, de acordo com a experiência de cada participante, assim, cada um poderá escolher o melhor horário.
Um arquiteto na Galeria de Arte
Boteco depois do Carnaval
Arquitetura, arte e design compõem o dia-a-dia de Carlos Zibel, cujos trabalhos estarão expostos na Galeria de Arte a partir do dia 24. Com um vasto currículo, que inclui a autoria de vários livros, o artista foi curador de arte contemporânea da 8a. Bienal Internacional de Arquitetura e premiado em design, artes plásticas e audiovisual.
Ainda no embalo dos ritmos carnavalescos, o Boteco na Piscina, dia 18, terá a Banda Zero 11 para acompanhar a cerveja geladinha no domingo à beira da piscina. Ocasião para rever os amigos e curtir o final das férias.
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Neste início de ano, o Centro de Danças abre o grupo Drachim (“caminhos”, em hebraico) e convida sócios dos 30 a 50 anos para essa atividade que prioriza o convívio com os amigos e a diversão
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Centro de Danças inicia 2018 com novas propostas para faixas etárias que há muito desejam atividades estimulantes na Hebraica. O grupo Drachim, coreografado por Gabriela Chalem, pretende mobilizar ex-dançarinos entre 30 e 50 anos com encontros semanais às terças, das 20 às 22 horas. “É uma das alternativas para esse público praticar dança. Também abrimos turmas para jazz e ballet clássico adulto, nesta faixa a que demos o nome de ‘Meu Momento’, que, com as aulas de zumba e a harkadá para iniciantes, no horário das 8 às 9 horas preenche com variedade a agenda semanal de sócias que gostam de unir exercício físico, convívio entre amigos e diversão”, comenta a coordenadora do Centro de Dança, Nathália Benadiba. Já na faixa infantil, o interesse demonstrado pelos pais em aproximar os filhos pequenos da dança folclórica levou o Centro de Danças a abrir mais um horário para as crianças de 3 a 5 anos: segundas, às 16h30. “É incrível como elas aprendem rápido e em pouco tempo dizem que, um dia, vão integrar o Parparim, que ensaia nas manhãs de domingo”, acrescenta Nathália. Para o público que prefere a dança de roda (harkadá), além das sessões quinzenais às quintas à noite, agora há um horário na manhã de domingo às 10 horas no Centro de Danças e às 15 horas na Praça Carmel, quando a dança une famílias inteiras enchendo de alegria o espaço em frente à Praça Carmel.
AGRADECIMENTO Assim que desembarcaram em Israel, após dez dias no Brasil quando se apresentaram na 37a. edição do Festival Carmel em São Paulo e também em teatros do Rio de Janeiro, os sessenta dançarinos das lehakot que representaram as prefeituras de Holon e Natânia enviaram carta de agradecimento ao diretor superintendente do clube, Gaby Milevsky. A carta menciona a calorosa acolhida da comunidade judaica, especialmente a permanência no clube durante o Carmel Belibi. Elogiaram os pontos turísticos de São Paulo como o Museu do Futebol e se colocaram à disposição para voltar a participar das próximas edições do Festival Carmel.
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REGISTRO
A programação das colônias de férias mesclou momentos dedicados ao exercício físico e ao relaxamento com atividades artísticas
RESUMO DAS FÉRIAS O público infantil dominou a cena em janeiro na Hebraica. Três colônias de férias em um período de três semanas totalizaram 250 crianças divertindo-se nas quadras esportivas, piscina e pela primeira vez, atividades com bicicletas e patinetes
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clima úmido do mês de janeiro causou pouco impacto nas programações das colônias de férias da Escola de Esportes e do Hebraikeinu este ano. As equipes de professores e monitores das duas cuidaram para nada atrapalhar o divertimento de cerca de trezentas crianças de 2 a 12 anos que percorreram e exploraram todos os locais do clube durante três semanas. Sempre que o sol aparecia, e com protetor solar, as crianças brincavam na piscina, mas os dois dias dedicados às bicicletas e patins fizeram os olhinhos brilharem, justamente na semana em que ambas as colônias estavam ativas. A experiência do compartilhamento de espaços e brinquedos entre as crianças inscritas nas colônias foi um sucesso. Na mesma semana, o Ateliê realizou a sua colônia de férias, para a confecção e decoração de objetos, ocupando com arte as tardes dos pequenos de 4 a 8 anos. No restante do tempo, cada faixa etária cumpriu uma agenda de gincanas, atividades artísticas e passeios externos, com exceção dos pequenos do Hebraikeinu Gan, cuja programação foi toda no interior do clube. Alheios aos sócios adultos que aproveitavam as férias, as crianças mergulharam em um mundo de fantasia que incluiu, por exemplo, a visita diária de dona Rachel, personagem encarnado por uma madrichá do Hebraikeinu para animar a hora da contação de histórias. Uma variedade de super-heróis foi vista, ora no papel de vilões ora no de heróis, mas certamente para estimular os pequenos a cumprir desafios e vencer os jogos. Também foram especiais os passeios externos, especialmente quando o roteiro envolvia contato com animais ou muitos pulos, como o passeio feito do Hebraikeinu ao Impulso Park, lugar que oferecia dezenas de camas elásticas, atração muito em moda entre o público infantil.
Além da colônia, a Escola de Esportes promoveu mais uma edição do Soccer Camp, com 31 garotos que passaram quatro dias praticando diferentes modalidades de futebol orientados por professores da escola. Já a Machané Kaitz, realizada no Rancho Ranieri, ofereceu aos 115 chanichim uma programação variada que incluiu sessões de tiroleza, rafting, jogos na lama, peulot (rodas de conversas sobre temas específicos) e muita diversão. Segundo alguns pais que acompanharam a saída do acampamento de verão, em frente ao Bar do Pedrinho, muitas crianças tiveram problemas para dormir na véspera da machané, tal a ansiedade. “É a expectativa em relação às atividades
que acontecerão no sítio. Esse nervosismo não é exclusividade de quem vai a sua primeira machané. Leo, de 8 anos está na sua terceira machané e mesmo assim mal podia esperar para entrar no ônibus hoje. Agora que chegou a hora, ele está tranquilo e feliz”, comentou o diretor de teatro Marcelo Klabin, ele mesmo ex-chanich e madrich do Hebraikeinu. No desembarque, após uma semana intensa, quase sem contato com o mundo exterior, chanichim e madrichim declararam que a Machané Kaitz 2018 “foi a mais louca já vista”. As malas com roupas sujas e enlameadas que acompanharam os abraços nos pais confirmavam.
PRIMEIRO TORNEIO DE XADREZ Em janeiro, o Departamento de Xadrez abriu a programação de torneios no ano promovendo o XIV IRT, com oitenta inscritos, entre eles muitas crianças. O evento ocupou a Sala Plenária e o Auditório durante um final de semana e serviu para muitos participantes aumentarem a pontuação. (M. B.) 21
REGISTRO 1
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1, 2 e 3. Na colônia de férias do Hebraikeinu, dois dias para andar de bicicleta, patins e skate, a visita diária da personagem Rachel, para contar histórias, e saída para parques temáticos 4 e 5. Gincanas com a participação de super-heróis e atividades com artes na Praça Jerusalém agradaram as crianças inscritas na colônia de férias da Escola de Esportes
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COLUNA UM
Tania Plapler Tarandach imprensa@taran.com.br
Israel em Aparecida do Norte
Tecnologia israelense no Brasil OrCam My Eye é um dispositivo vestível, intuitivo, com uma câmera projetada para oferecer mais independência às pessoas com deficiência visual, trazido ao Brasil pela Mais Autonomia Tecnologia Assistida. “As pessoas com deficiência visual conseguem compreender textos de qualquer superfície e identificar objetos previamente gravados. Assim, podem executar com mais liberdade e autonomia tarefas diárias, como leitura de livros, revistas, jornais, placas de rua, nome de lojas, folhetos promocionais, destinos de ônibus, produtos nos supermercados, etc”, afirma o diretor da Mais Autonomia, Doron Sadka. A tecnologia israelense consiste em montar uma câmera inteligente na armação dos óculos conectada a um computador de bolso. O dispositivo reconhece textos e produtos, retransmitindo a informação discretamente para o ouvido do usuário por meio de um fone de ouvido pessoal, com a facilidade de adaptação em apenas duas semanas. “Pela primeira vez, li placas de carro e de rua, cardápio no restaurante, localizei o que queria na geladeira”, conta o jornalista Teco Barbero, um dos primeiros a experimentar o OrCam My Eye no Brasil. Conheça o produto em www.maisautonomia.com.br.
O Ministério do Turismo e o Consulado Geral de Israel levaram a exposição Jerusalém – A Cidade da Fé para o Salão Três Pescadores, na Basílica de Aparecida do Norte. Inédita, a mostra traz fotos da Cidade Santa para as três maiores religiões monoteístas, os locais sagrados e seus devotos. A exposição fica aberta ao público até 28 deste mês.
Do Recife para Nova Amsterdã na passarela do samba “De Repente de Lá prá Cá e Dirrepente de Cá prá Lá” é o título do enredo da atual campeã do Carnaval carioca, a Portela. Baseada no livro Caminhos Cruzados: a Vitoriosa Saga dos Judeus do Recife no século XVII: da Expulsão da Espanha à Fundação de Nova York, de Paulo Carneiro, a Portela leva para a avenida a história dos judeus que deixaram a Europa durante a Inquisição, viveram no Nordeste brasileiro e, após a expulsão dos holandeses em 1654, foram parar em Nova Amsterdã, a atual Nova York.
Encontro inter-religioso cuida da água O II Seminário Internacional Água e Transdisciplinaridade, realizado no Museu Nacional do Distrito Federal, teve como tema “Águas pela Paz”. Entre os vários painéis, o “Água: Saberes e Tradições” teve como moderador Marco André Schwarzstein, da Universidade da Paz dos Meus Sonhos (Unipaz). Com a presença de representantes de diferentes credos, entre eles dos povos indígenas, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, um xeque, um monge budista e um babalaorixá. Ruth Grinberg, da Associação Cultural Israelita de Brasília, representou o judaísmo. No final do encontro firmou-se a “Carta Águas pela Paz”, com as reflexões a respeito da água em seus vários aspectos, encaminhado ao Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA 2018) e 8�. Fórum Mundial da Água, que acontecerá em Brasília, de 18 a 23 de março. 24
#WeRemember nas mídias sociais
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ma pesquisa com mais de 53 mil pessoas, em 101 países, realizada pela Anti-Defamation League (ADL) revelou que 46% dos habitantes da Terra nunca ouviram falar do Holocausto. O Congresso Judaico Mundial e a Conib estão divulgando a campanha #WeRemember (Nós Lembramos), pedindo às pessoas de todas as idades, que tirem uma foto com essa inscrição e postem com a hashtag#WeRemember nas mídias sociais (Facebook, Twitter, Instagram) ou enviem a imagem para weremember@wjc.org. Uma forma de combater o desconhecimento e reafirmar que os seis milhões de mártires do nazismo não serão esquecidos.
TRANSPLANTE: A CHANCE DE UMA NOVA VIDA A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, um dos maiores centros de transplante de órgãos do país, iniciou a campanha #UmaVidaNaFila para conscientizar a população de que um único doador é capaz de ajudar pelo menos dez pessoas que aguardam por um transplante e alertando que os familiares são os responsáveis por autorizar o desejo deixado pelo doador. Para saber mais, acesse www.umavidanafila.com.br ou einstein.br/umavidanafila.
NOVIDADES NA EL AL No ano passado, a El Al recebeu o primeiro dos dezesseis Boeing 787 Dreamliner encomendados, renovando sua frota para os 36 destinos diretos e as centenas de outros voos por meio de parcerias com suas congêneres. David Maimon, CEO da companhia, fechou o ano anunciando voos diretos para São Francisco, Califórnia, a partir de setembro próximo, completando, assim, o quinto destino de Tel Aviv para os EUA. No Brasil, a El Al é representada pela Tal Aviation (vendas@elal.com.br).
Sala São Paulo, quarenta anos da Rádio Cultura: Sérgio Casoy, Sylvia Lohn, Fortuna, Salomão Schvartzmann, maestros Júlio Medaglia e João Carlos Martins, no elenco da noite comemorativa entre aqueles que levaram e continuam a levar o melhor para os ouvintes. Editado pela Contexto, Nazistas entre Nós: A Trajetória dos Oficiais de Hitler depois da Guerra deu ao jornalista Marcos Guterman o segundo lugar no Prêmio Jabuti, categoria “Reportagem e Documentário”. Débora Muszkat mostrou “Através do Vidro”, obras criadas pelos alunos do Instituto com seu nome, idealizado em conjunto com a Prefeitura de São Paulo e o patrocínio da Owens Illinois, líder na fabricação de embalagens de vidro. Na Antiguidade, mulheres e homens viviam para compartilhar, dialogar, somar, criar, fertilizar e amar. “Feminino e Masculino como Fontes de Criação” é o tema que a psicóloga, arteterapeuta e escritora Mônica Guttmann vai oferecer, nos dias 23 e 24, no espaço Palas Athena. Saiba mais em www. palasathena.org.br. Publicitário, José (Zuza) Blanc estende sua atuação no comando da Rádio 50 Mais, reunindo músicas e informações, com temas que interessam à terceira idade. Além de ser ouvida em radio50mais.com.br, logo mais estará disponível também como aplicativo. A 34a. edição do Annual KidFilm Family Festival, maior evento de artes de mídia infantil nos Estados Unidos, teve um cineasta brasileiro concorrendo. Daniel Bydlowski mostrou seu filme Bullies, abordando o bullying e a violência infantil. 25
COLUNA UM Nova série na Netflix O sucesso da primeira série brasileira da Netflix – 3% – animou os produtores da Boutique Filmes a uma nova produção, em parceria com o serviço de streaming. The Chase (“A Perseguição”) vai contar a história de agentes do Mossad que vieram para o Brasil e outros países sul-americanos para caçar ex-dirigentes nazistas, escondidos por estes lados após a Segunda Guerra. Serão três temporadas, cada uma a respeito de um nome do regime nazista: Adolf Eichmann, capturado na Argentina em 1960; Josef Mengele, que viveu e morreu em Bertioga, litoral de São Paulo; e Klaus Barbie, o “Açougueiro de Lyon”, na Colômbia. A produção está a cargo de Rodrigo Castilho. Confira: https:// observatoriodocinema.bol.uol.com.br/ series-e-tv/2017/12/produtores-de-3-farao-serie-sobrecacadores-de-nazistas-brasileiros-na-netflix.
NÚMEROS EM ALTA No final de 2017, a população de Israel atingiu 8.793.000 de habitantes, um aumento de 1.9% no ano. E o número de turistas alcançou alcançou o recorde com 25% mais que em 2016. Segundo o Ministério de Turismo de Israel, foram 3.6 milhões de viajantes. Destes, o Brasil contribuiu com 65% mais do que em 2016, passando de 30 mil para mais de 51 mil turistas.
Ringo Starr em Tel Aviv Dia 23 de junho Ringo Starr & His All-Starr Band se apresentam em Tel Aviv e também na França, Holanda, Alemanha, Finlândia, Dinamarca, República Tcheca, Áustria, Espanha, Luxemburgo, Mônaco e Itália. Vale lembrar que em 1966 o governo israelense se desculpou após afirmar que os Beatles poderiam influenciar negativamente a juventude do país. Paul McCartney se apresentou em 2008. 26
Villa Glam é o nome do novo espaço criado por Carlos Kaufmann. Em Moema, para aniversários, bar e bat-mitzvá (villaglam. com.br). Qualquer comemoração ali vira grande festa, com detalhes diferenciados. Ensaios de Christian Dunker, Cristóvão Tezza, Julián Fuks, Márcia Tiburi e Vladimir Safatle compõem a obra Ética e Pósverdade, com cinco abordagens distintas a respeito do tema, o livro teve lançamento na Livraria Cultura/Conjunto Nacional. Solange Farkas foi a curadora do 20o. Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, que selecionou, com curadores convidados, trabalhos de cinquenta artistas, de 25 países da América Latina, Caribe, África e Oriente Médio, a partir da inscrição de um total de 3.200 produções de dois mil artistas, de 109 países. Sucesso no palco em 2017, Ilana Kaplan está no elenco de Baixa Terapia, que teve mais de setenta mil espectadores em 118 apresentações no Teatro Tuca. Laura fez a primeira visita à Sinagoga Naasse Venishmá, da Hebraica, para receber seu nome em hebraico, Ahuva Ruth. Com seus pais, Danielle (Burd) e Nicolau Piratininga, e toda família, felizes. A Sinagoga Naasse Venishmá reuniu, no clube, convidados de David Woods e Rafael Pereira Aizenberg, em duas cerimônias de bar-mitzvá. Luiza e Bernardo Waitman chegaram aos 60 anos de casados e festejaram em Punta del Este, Uruguai, com a familia. Foi do então deputado Arcelino Freitas, o lutador Popó, a indicação para a lei que tornou 18 de janeiro o Dia do Krav Magá (“combate de contato”, em hebraico), sancionada pelo presidente Michel Temer. A técnica de defesa israelense vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil.
Dines homenageado em Israel Ensaios em Homenagem a Alberto Dines – Jornalismo/História/ Literatura, editado originalmente no Brasil em 2017, foi lançado no Centro Cultural Brasileiro, ligado à Embaixada do Brasil em Tel Aviv. O livro foi organizado pelos historiadores Avraham Milgram, doutor pelo Instituto de Judaísmo Contemporâneo pela Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ) e pesquisador do Yad Vashem, e Fábio Koifman, professor de História das Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante o evento, discursaram Avraham Hatzanri, que conviveu com Dines na Escola Scholem Aleichem, no Rio, que lembrou o interesse do colega por Stefan Zweig quando o escritor visitou a escola. Falaram também os professores Claude Dov Stuczynski, da Universidade Bar Ilan, e Leonardo Senkman, da UHJ, e James Green, da Brown University (EUA), na homenagem aos 85 anos do jornalista brasileiro.
A ARTE DA ESCRITA E DA PINTURA A coleção de artistas plásticos retratados por Jacob Klintowitz ganhou mais um título: Ermelindo Nardin. Sombras, Iluminações e Sentimento. O crítico escreveu, há 34 anos, Retratos Imaginários de E.N., a pedido de Pietro Maria Bradi, do Masp. Lançado no Centro Cultural Fiesp junto com a exposição de E. Nardin e seus alunos das oficinas do Instituto Olga Kos.
AGENDA 29/3 a 8/4 – Pessach com Berô. No Sofitel Jequitimar, Guarujá. Tudo incluído. Reservas: 950-230-544 17/4 a 6/5 – Viagem à Polônia (opcional) e Israel com Na’amat Pioneiras. Conhecendo Varsóvia e Cracóvia judaicas, incluindo os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau. Em Israel, roteiro de norte ao sul. Informações, fones 3667-5247 (Na’amat), 3061-1708 (Betina) ou 996-869-891 (whatsApp de Helena) 16/7 a 1o./8 – Marcha da Vida Jovens (20 a 35 anos). Pensão completa, transportes, passeios e seguro médico inclusos. Realização do Fundo Comunitário
Em meio à natureza, no Espaço Cantareira, Gabriela e Dênis disseram o tão esperado “sim”, com a participação emocionada de amigos e familiares escolhidos pelos noivos. Beatriz e Carlos Alberto Guth, Nicole e Reuven (z’l) Plapler são os pais dos noivos. A obra Estranhos, de Zygmunt Bauman, trata da violação dos direitos humanos e inspirou o espetáculo Nomes para Furacões, que abriu a temporada deste ano da Funarte SP, em cartaz na Sala Carlos Miranda. Marcelo Gutglas, fundador do Grupo Playcenter, traz o conceito de Family Entertainment Center para o Brasil com a abertura do primeiro parque de diversão indoors, o Playcenter Family, no Shopping Center Aricanduva, unindo atrações para pais e filhos. Guilherme Padilha e Roberto Bitelman levaram sua Auroraeco Viagens para um novo endereço, em uma ampla casa no Jardim Paulistano. Dina Zaitz foi a anfitriã, os cariocas Clarita Paskin e Haroldo Goldfarb deram o toque musical na celebração dos 90 anos de Leja. Com Anarosa Rojtenberg à frente de todos os detalhes na festa de sua mãe. É de Evelyn Elman uma das histórias de Momentos Memoráveis à Mesa, ditado pela Oficina do Livro e lançado na Livraria da Vila Shopping JK Iguatemi. “Vamos voltar recarregados de positividade”, diz Shmuel Lemle, que estará à frente de mais uma viagem cabalística a Israel. Onze dias, de 12 a 22 deste mês, hospedados em Jerusalém, com visitas guiadas, meditação, estudo e lazer, num roteiro preparado pela Mandala Tours. Linda cerimônia e comemoração, na Mansão França, uniu Helena e Rafael. Filhos de Ester (z’l) e Marcelo Brick, Heliane e Jacques Kann. 27
ESPORTES
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Passeios na neve fortaleceram a integração entre os atletas do polo aquático
TEMPORADA
INTERNACIONAL
A equipe sub-15 de polo aquático embarcou em janeiro para uma excursão à Espanha, Sérvia e Hungria que inclui treinos, visitas e contatos com ídolos da modalidade, mais diversão e turismo
No treino com o atleta olímpico Daniel Ballart, os garotos receberam dicas valiosas
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inte e dois atletas sub-15 do polo aquático terão muitas histórias para contar na escola a respeito das férias na Europa. Eles participaram de uma viagem organizada pelos técnicos Adriano Silva e Ziggy Bogdan e por um grupo de pais entusiastas da modalidade. Todos os aspectos do projeto foram decididos em conjunto, desde o roteiro, custos do projeto até as camisetas e mochilas utilizadas pelos garotos. No grupo estavam, por exemplo, Ylan Psanquevitch, o terceiro filho de uma família que pratica natação e outros esportes no clube. Com ele também foram garotos de famílias que não tinham nenhum contato com o polo, como Benny Milner. Do embarque, em Cumbica, até Barcelona, primeira parada do roteiro, foi difícil para os adultos conter a ansiedade dos garotos. “A ideia é oferecer desenvolvimento técnico para as equipes sub-13 e sub-15 e prepará-las para a temporada 2018, e mais do que isso integrar os garotos”, comentou Carlos Finkelstein, um dos adultos que acompanhou o roteiro. Nos relatos publicados nas redes sociais ficou evidente que a experiência internacional foi bastante diferente de uma excursão turística clássica. “Hoje em Barcelona, nos encontramos com o campeão olímpico espanhol Dani Ballart, que falou de luta, superação, disciplina, determinação, autoconfiança e outros valores próprios de nossa modalidade. Há alguns anos, Ballart esteve no Brasil e ministrou um treinamento na Hebraica, a partir do que se estabeleceu um vínculo dos garotos com esse jogador. Também recebemos o querido técnico e amigo Daniel Cercols, espanhol que trabalhou quase dois anos na Hebraica. E, para fechar o dia, um treino pesado em uma partida amistosa no Clube Molins do Rei”, contava um dos posts do técnico Adriano Silva. Além dos treinos, os garotos passearam por Barcelona e assistiram, no Camp Nou, à goleada de 5 x 0 do Barcelona sobre o Celta de Vigo e encontraram a equipe do Clube Paineiras do Morumby, chefiada pelo técnico Leo Vergara, que também atuou na Hebraica, o que rendeu mais um amistoso, antes do embarque para Belgrado, na Sérvia, onde os garotos foram ciceroneados pelo técnico Ziggy Bogdan. Além dos centros de treinamento da capital sérvia, onde o polo é um esporte popular, o grupo visitou a sinagoga Sukat Shalom. “Ainda falta visitar Budapeste, na Hungria, mas até agora a viagem está sendo muito proveitosa”, avaliou Finkelstein. (M. B.)
ESPORTES
PARA ADULTOS A equipe master de natação completa este mês 27 anos com uma programação especial, além dos treinos regulares que desenvolvem força, velocidade e perseverança
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urante a semana, faça frio, chuva ou calor, às 7h00 e às 13h30, o movimento de nadadores nas raias da piscina olímpica, assim como as orientações em voz alta da técnica atraem a atenção de quem está próximo ao Parque Aquático. Com pranchas, nadadeiras ou sem nenhum equipamento, os atletas cruzam as piscinas ora forçando as braçadas, ora exercitando as pernas, rotina que se intensifica às vésperas de competições como o Campeonato Paulista Master no qual a equipe master da Hebraica se saiu muito bem em 2017. “A natação é um esporte muito solitário. Quando se está numa equipe como a master a sensação de estar só desaparece, porque você está com amigos, brinca e desenvolve uma atividade social além do esporte”, afirma Sílvia Hidal, uma das integrantes da equipe. Ela e outros dez colegas do master conquistaram 31 medalhas na Macabíada Mundial, em Israel. No Brasil, os resultados dos nadadores da Hebraica no master também foram dignos de nota. “Conquistamos dezenove medalhas, sendo nove ouros, oito pratas e quatro bronzes por apenas nove nadadores que,
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Os integrantes da equipe master de natação treinam e se divertem muito juntos
além de disputar as provas do campeonato Paulista master, incentivavam e torciam pelos colegas”, lembra a técnica Adriana Silva. Adriana atribui as medalhas e a integração do grupo ao trabalho realizado de todo o ano passado, no qual os nadadores cumpriram um programa semanal de treinamentos e desafios específicos para datas com o Halloween, Rosh Hashaná e outros. Tudo em meio a um ambiente descontraído que estimula a amizade dentro e fora da água. “Como profissional, gosto de lidar com muitos nadadores ao mesmo tempo, então convido os associados maiores de 25 anos, inclusive aqueles que nunca treinaram ou competiram, a se juntar aos treinamentos em um dos horários disponíveis, que se destinam a diferentes níveis, aperfeiçoamento, pré-treinamento e treinamento”, comenta ela. Reforçando o convite da técnica, Sílvia Hidal enfatiza a importância que a adesão ao grupo teve em seu desempenho como atleta. “Foi muito útil para a disciplina dos treinos, além do apoio emocional que recebemos durante as competições. Hoje está mais do que provado em estudos clínicos as vantagens da atividade física para todas as faixas etárias, além dos amigos que se adquire nos treinos e eventos do master”, afirma. Os horários disponíveis para essa atividade são às terças e quintas, das 8h00 à 9h00; 9h00 às 10h00 e das 10h00 às 11h00 e quartas e sextas-feiras da 8h00 às 9h00 e das 9h00 às 10h00. As comemorações do aniversário da equipe master de natação acontecerão dentro e fora das piscinas na primeira quinzena deste mês. “Estou ansiosa para ver nossos treinos registrados com drone pelo nosso nadador Rodrigo Rosenthal. Isso é que é comemorar com tecnologia”, anima-se a técnica. (M. B.)
COSTUMES E TRADIÇÕES
Por Joel Faintuch
DESCENDÊNCIA Poucos povos prezam tanto a continuidade das famílias e das gerações quanto os judeus. Uma das piores imprecações do cotidiano israelita é imach shemó vezichró (“que seu nome e sua memória sejam apagados”)
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sso explica o nome Yad Vashem para o Museu do Holocausto, em Jerusalém Os judeus trucidados pelos nazistas não deixaram túmulo, testamento e em muitos casos sequer descendência, e consequentemente seus nomes corriam o risco de desaparecer. Desta forma, invocou-se o versículo de Isaías, capítulo 56, Venatati lahem beveiti ubechomotai yad vashem (“Darei a eles em minha casa e em minhas muralhas um nome e uma memória”). Se no universo físico as tentativas de extinção foi feroz, no coração dos correligionários eles permanecem mais reais que nunca. Os patriarcas Abraão, Isaac e Jacob rogaram por filhos, mais que por fama, poder ou fortuna. A Mishná, capítulo sexto de Pirkei Avot (Ética dos Pais), assinala que rabi Shimon ben Yehuda refere, em nome de rabi Shimon bar Iochai: “Os filhos são uma dádiva para os justos e para o mundo. Ateret zekenim benei banim (‘a coroa dos idosos são os netos’)”. A locução originalmente está no livro de Provérbios do rei Salomão (Mishlei capítulo 17). Ateret Zekenim também é o título de importante obra do sábio judeu espanhol Isaac Abravanel (14371508) que, segundo interpretações, seria tataravô de conhecida figura do nosso país. 32
JUDAICA Seriam os filhos de fato uma bênção irretocável? Para os sociólogos e economistas na sociedade agrícola bíblica, e mesmo no ambiente pré-revolução industrial da Europa, muitas crianças significavam muitos braços para trabalhar ajudando na rotina do campo, no pequeno comércio e nas profissões artesanais, graças à farta e sempre disponível mão-de-obra. No entanto, na era da informática, da robótica, das comunicações instantâneas e da sociedade do conhecimento, para não mencionar do elevadíssimo custo de vida, casa cheia não é mais sinônimo de prosperidade. Estima-se que um casal de classe média no Brasil gaste até cem mil dólares durante as duas ou três décadas necessárias para criar e proporcionar educação completa e de qualidade a um filho, até ele atingir a independência econômica. Isto se eles não decidirem esticar a permanência em casa até os 40 ou 50 anos. No shtetl os números eram menos assustadores e as pretensões, mais modestas. Alfabetização decente alcançada sem exageros de escolaridade, já representava um bom começo de vida. Cedo as unidades de ensino atentaram para o problema social o que explica o fato de, ao longo da história do judaísmo, as escolas sempre aceitarem alunos não pagantes, quando as condições familiares deles exigiam. A pré-escola e primeiro grau típicos das pequenas comunidades era o cheder (literalmente, “quarto” ou “saleta”). O professor ou melamed recolhia a criançada da vizinhança na própria residência, e em troca de modesta retribuição, ensinava o “alef-beit” (alfabetização) e outras matérias. Tipicamente isto se realizava no sidur ou livro de orações, e depois em outros textos sagrados, posto que cartilhas e livros didáticos eram raridade nas aldeias menores. Quando o cheder era mais bem frequentado contratava-se um belfer. Este era o motorista que busca e levava as crianças, principalmente as menores. Só que tudo a pé. No shtetl não havia veículos motorizados. O aprendizado se iniciava entre os 3 e 5 anos e prosseguia até a época do bar-mitzvá, quando o aluno poderia ou não prosseguir com estudos mais elevados. O sidur das primeiras letras, notadamente nas comunidades muito humildes ou isoladas, não raramente era único. Conta-se que algumas crianças só conseguiam ler com o texto de cabeça para baixo. Como lhes cabia ficar em volta da mesa ao redor deste livro, aquelas sentadas do lado errado às vezes não tinham chance de se familiarizar com as letras na sua posição adequada. As aulas principiavam antes do nascer do sol, sobretudo no inver-
no, e se prolongavam por boa parte da manhã, já que incluíam as orações correspondentes. Em decorrência todos compareciam em jejum, e a primeira refeição era um pãozinho ou fatia de chalá após algumas horas, assados pela esposa do melamed. Algumas vezes o lanche atrasava, e as crianças esfomeadas já não escutavam mais os ensinamentos. Impacientes elas respondiam a todas as perguntas “Rebe mein breitel”, quero meu pãozinho. Num determinado cheder, a criançada já havia aprendido todas as proezas e batalhas dos Benei Israel, os Filhos de Israel. Atravessaram o Mar Vermelho, derrotaram vários povos, construíram o primeiro “Beit Hamikdash” (grande templo de Jerusalém), retornaram do exílio da Babilônia, ergueram o segundo “Beit Hamikdash”, revoltaram-se contra a dominação grega e a romana, foram expulsos para a Diáspora, etc. Iankale entretanto andava assaltado de terrível dúvida, e acabou perguntando para o melamed: “Enquanto os filhos de Israel faziam tudo isto, onde estavam os pais?” Em outro cheder, as crianças haviam se familiarizado com a miraculosa derrota da cidade de Irechó (Jericó), por volta do ano 1400 antes da Era Comum. Isto ocorreu no período de Yehoshua (Josué), o sucessor do líder Moisés que finalmente conduziu os judeus para a Terra de Canaã. Jericó era uma cidade importante, defendida por imponentes muralhas. Segundo o livro de Yehoshua capítulo 6, o Eterno ordenou que durante sete dias, sete cohanim (“sacerdotes”) fizeram hakafot (“voltas”) ao redor das muralhas, carregando o Aron (Arca com as Tábuas da Lei) e também shofar (corneta ritual de chifre de carneiro). No último diam todos tocaram simultaneamente o shofar e as muralhas ruíram, possibilitando a conquista da cidade. Recentemente no século 20, laboratórios de acústica executaram testes com modelos de muros de pedras, e sons com a mesma freqüência do shofar. O propósito era averiguar se eles entravam em ressonância e as rochas se fraturavam, tal como sucede com cristais quando certos cantores de ópera emitem notas agudas. Escavações
arqueológicas em Jericó também objetivavam descobrir evidências de muralhas que entraram em colapso. Os achados foram inconclusivos e são debatidos até hoje. Vale lembrar que tais pesquisas foram geralmente financiadas por não judeus. Os judeus observantes nunca tiveram dúvidas de que a fortaleza desmoronou. Retornando ao cheder, no final do ano o melamed resolveu realizar prova oral. O sorteado para este tema foi Itzik, e quando indagado sobre quem derrubou os muros de Jericó, só conseguiu gaguejar: “Não fui eu”. O melamed ficou tão decepcionado, depois de tudo que havia ensinado sobre o episódio, que à tarde procurou o pai de Itzik. Este respondeu: “Meu Itzik é um bom menino. Se ele diz que não foi ele, não foi ele”. O melamed não conseguia acreditar no que escutava. Casualmente encontrou o chefe da Kehilá (associação comunitária da cidade) e acabou narrando o caso. O chefe o tranquilizou: “Não fique amargurado. Temos sobra de caixa na associação. Diga quanto custou o conserto dos muros que eu cobrirei o prejuízo”. Dois vendedores de rua de um shtetl montaram a barraquinha perto do Mark, a praça central, onde todos faziam negócios, e puseram wurst (salame) à venda, ao preço de cinco kopekes (centavos de rublo russo) cada fatia. As horas passavam, o sol já estava a pino, e nada de fregueses. Shloime começou a sentir fome, e também seu sócio Moishe engolia em seco. De repente, um diz para o outro: eu desejo comprar a primeira fatia. Aqui estão meus cinco kopekes. O outro aceita, entrega a mercadoria e se lembra que também está de estômago vazio. Corta uma segunda fatia para si e devolve a moeda em pagamento ao companheiro. Algum tempo depois a fome aperta de novo, e a cena se repete. Até que no final do dia percebem ligeiramente chocados que com este truque dos sócios negociarem entre si o wurst sumiu, e se não há dinheiro para comprar outro no dia seguinte, que dirá algum lucro para levar para casa. Moishe, porém, não reconhece a derrota. “Veja, ainda temos o barbantinho do salame”.
A pré-escola e primeiro grau típicos das pequenas comunidades era o cheder (literalmente, “quarto” ou “saleta”). O professor ou melamed recolhia a criançada da vizinhança na própria residência, e em troca de modesta retribuição, ensinava o “alef-beit” (alfabetização) e outras matérias
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Por Ariel Finguerman, em Tel Aviv
O exército israelense alistou TRÊS MÁGICOS.
PARA FAZER MÁGICAS
Os três novos mágicos-soldados (fonte Tzahal)
Todos os anos milhares de jovens se alistam no Tzahal, mas pela primeira vez na história, o exército israelense recrutou três mágicos. Os jovens artistas assumirão oficialmente a tarefa de fazer sumir moedas de shekalim e tirar uma pomba do quepe, em shows por bases militares em todo o país 34
O
exército israelense abre a possibilidade de bailarinos, músicos e jogadores de futebol continuarem desenvolvendo seus talentos, mesmo com a farda verde. Mas até agora o mágico-soldado era figura rara, ocupando no máximo uma vaga nas Forças Armadas. Por um bom tempo, corria uma piada no Tzahal: “Só há dois postos no exército ocupados por uma só pessoa: o Chefe do Estado-Maior e o mágico”. Isto agora mudou com o recrutamento de Michael e Yuval, ambos com 19 anos, e Yarden, 18. Os três passaram pelo treinamento militar padrão de três meses e, no momento de declarar suas habilidades para se especializarem no exército, foram direto ao assunto: mágica. Em passado recente, o único mágico do Tzahal tinha dificuldade em provar seu talento. Na total falta de estrutura para avaliar este tipo de candidato, o recruta tinha de se apresentar perante uma comissão formada por três atores da companhia teatral do Tzahal, que o avaliavam por intuição. Agora, para verificar se os três candidatos são de verdade ou um truque, e também para treiná-los como profissionais, o Tzahal convocou Hezi Dean, 39 anos, um dos maiores mágicos do país. “Percebi que os três eram talentosos e já se dedicavam há alguns anos à mágica”, dis-
se Dean em entrevista à revista Hebraica. Dean serviu, ele mesmo, como mágico do Tzahal. “Era tudo improvisado, na base da tentativa, mas eu já percebia que os soldados se divertiam.” Hoje ele é reservista do exército, sempre na condição de mágico, e a tarefa de treinar novos talentos. “O mágico não é menos importante que outras funções no Tzahal. Cada um contribui à sua maneira.” Na vida civil, Dean comanda um popular programa na TV israelense, Kesem Ishi (“Magia Pessoal”), visitando residências de celebridades e faz seus truques para políticos e artistas famosos. A especialidade dele é a extreme magic, inspirada no famoso mágico judeu-húngaro Houdini. Numa de suas mais recentes apresentações, Dean se livrou de cabos de ferro e, de ponta-cabeça, dependurado entre as Torres Azrieli, uns dos mais altos espigões de Tel Aviv. Com o alistamento dos três mágicos, o plano é que toda base militar no país receba uma apresentação dos mágicos e, quem sabe, até mais de um show. “Cada um dos três tem um talento: um é de estilo humorista, outro é mentalista e o terceiro, do tipo mágico clássico”, diz Dean. Os novos mágicos do Tzahal passaram por dois meses de aperfeiçoamento profissional com o mágico-reservista Dean. “Eles precisam se adaptar ao público militar, que é bem específico. Os soldados são verdadeiros, ninguém ali pagou ticket para o show. Se a apresentação for boa, ficam e se divertem. Do contrário, haval al-hazman (‘não querem perder tempo’).” Baixar o estresse do combate Haverá shows de mágica em todas as bases militares, mas o público-alvo será o soldado-combatente, que faz o serviço militar sob estresse. “Vivi momentos memoráveis como mágico do Tzahal”, relembra Dean. “Na minha época o exército estava envolvido em combates pesados em Gaza. Os soldados me procuravam depois do show para agradecer por aquela uma hora em que os tirei da rotina da guerra.” Também por sugestão de Dean, o exército agora realiza um grande show de mágica exatamente no dia do alistamento. A ideia é dar uma sensação
70 anos Hezi Dean e os novos mágicos-soldados do Tzahal (fonte Ynet)
de acolhimento e relax, antes da primeira noite em que os recrutas dormem em uma base militar, longe da família e amigos. E em tempos de guerra, o mágico do Tzahal muda a rotina. O número de apresentações sobe e pode chegar a quatrocentos shows. O público também se diversifica, incluindo exibições para crianças que vivem em comunidades de fronteira e sob risco, como na divisa com Gaza. Com toda esta vivência, não surpreende que ex-mágicos do Tzahal fazem carreiras bem-sucedidas, inclusive no exterior. “Mágico em Israel precisa ser o melhor do mundo. O público aqui é cínico, o mais difícil do mundo. Quando me apresento na Alemanha, o público vai ao show para se divertir. Já o israelense quer saber o segredo por trás da mágica, o público não quer deixar que o mágico o engane.” Segundo Dean, isto vale até para o seu companheiro de artes, Uri Geller, que fez sucesso pelo mundo nos anos 1970. “Uri é mágico, tudo aquilo tem truques. Mas foi mais fácil para ele vencer no exterior do que aqui, em Israel. Há uns anos ele resolveu voltar a morar aqui, e não é fácil para ele.” A postura do público israelense não chega a abalar sua concentração. Aliás, ele vê esta atitude como um ponto positivo. “Nós, o povo de Israel, vencemos justamente porque somos assim, desconfiados, e não deixamos que outros se aproveitem de nós.” Agora Dean está concentrado em preparar um novo show, como parte das comemorações dos setenta anos de independência do país. “O Estado de Israel é, em si mesmo, uma grande mágica. Analisando tudo na ponta do lápis, não tínhamos como sobreviver, cercados de inimigos. Mas conseguimos chegar até aqui. Foi uma grande mágica.”
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Mágico em Israel precisa ser o melhor do mundo. O público aqui é cínico, o mais difícil do mundo. Quando me apresento na Alemanha, o público vai ao show para se divertir. Já o israelense quer saber o segredo por trás da mágica, o público não quer deixar que o mágico o engane.
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MAGAZINE
(Hezi Dean, mágico)
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12 NOTÍCIAS
Ariel Finguerman ariel_finguerman@yahoo.com
70 anos
BALANÇO TECNOLÓGICO – O setor hightech de Israel fechou as contas do ano passado marcando a excelente alta de 110% em negócios, em relação a 2016, um total de 7,4 bilhões de dólares. Os pesquisadores que fizeram o levantamento decidiram não incluir neste resultado as duas megavendas de empresas israelenses a investidores estrangeiros: a Mobileye vendida a Intel por 15 bilhões de dólares e NeuroDerm a Mitsubishi por um bilhão de dólares. Se fossem incluídas, deturpariam os dados comparativos anuais, levando o resultado de 2017 a incríveis quase U$ 24 bilhões. A maior parte das empresas atuam em computação (48%), seguida de biotecnologia (23%) e internet (7%).
NEGÓCIO DA CHINA – O site chinês Alibaba, maior vendedor on line do mundo, revelou quantas empresas israelenses participam de seu incrível fluxo de vendas. Duas mil firmas sabras estão no negócio bilionário, que recebe noventa milhões de visitas diárias de internautas. Há três anos, apenas trinta empresas israelenses constavam como fornecedores do Alibaba. Esta explosão de números aconteceu graças à abertura de um escritório do site chinês em Israel, que orienta os empreendedores locais interessados. Somente no último Dia dos Namorados, a Alibaba fechou U$ 25,8 bilhões em pedidos.
DEPRÊ DOSE DUPLA – É sempre ruim quando um artista de projeção mundial resolve cancelar um show em Israel pressionado por grupos antissionistas. A cantora pop neozelandesa Lorde anunciou o cancelamento de apresentação marcada para junho. Agora, mais deprimente ainda é saber que o pivô deste ato foi uma judia conterrânea dela, ativista em grupos pró-palestinos locais. O nome da jovem é Justine Sachs, que se autodefine em sua página do Facebook como estudante de sociologia. Como judia, ao encabeçar o pedido de boicote, Justine deu uma espécie de aval “moral” para o cancelamento. Com gente assim entre nós, quem precisa de inimigos? BEBÊ TOMATE – Três agricultores do deserto do Negev apresentaram no mês passado a mais nova invenção israelense: o menor tomate do mundo. É nas cores vermelha ou amarela e do tamanho de uma moeda de um shekel. “Podemos apresentar em outras tonalidades, se o mercado quiser”, anunciaram. O público alvo são chefes de cozinha, especialmente interessados no quesito finger food. O produto também servirá para quem aprecia salada, mas não gosta de cortar os tomates. A apresentação oficial do produto aconteceu na tradicional exposição anual da agricultura do deserto, com 250 expositores.
SANGUE PURO – Boa notícia para a comunidade gay de Israel: a partir de abril, os homossexuais poderão doar sangue para a Estrela de David Vermelha (o equivalente local à Cruz Vermelha). Até agora os gays estavam proibidos, pela maior possibilidade de transmissão do vírus HIV. A conquista é resultado da atuação de uma deputada do Knesset que representa a comunidade. Mas a coleta será criteriosa. O sangue recolhido do voluntário passará por criteriosa inspeção. Depois de quatro meses, a pessoa será novamente chamada para doar e o sangue outra vez será rigorosamente analisado. E então o material enviado aos hospitais do país. 36
SINAL DOS TEMPOS – O militar Ofer Erez, que fez história como o primeiro transexual declarado do Tzahal, terminou o serviço militar neste começo de ano, com a patente de capitão. Ele foi escolhido para ser o presidente remunerado da ONG Bait Patuach (Casa Aberta), em Jerusalém, que luta pelos direitos dos homossexuais no Estado judeu. Erez cresceu como menina no kibutz Kfar Menachem e hoje mora em Tel Aviv. Participou de diversas viagens oficiais do Tzahal ao redor do mundo, em contatos com militares e também em comunidades judaicas. Poucos países do mundo admitem transexuais assumidos em seus exércitos. UNA-SE AO INIMIGO – Se não é possível vencer a influência do telefone celular no nosso mundo, então use-o melhor. Este foi o argumento do Ministério da Educação numa sessão especial do Knesset que debateu a presença dos smartphones nas escolas do país. Em breve, será revista a proibição total de utilizá-los na educação da meninada, como acontece hoje em Israel. O ministério deverá afrouxar a restrição e permitir o uso deles como parte do ensino – mas só para isso. Como lazer ou ligações nas escolas, continuará proíbido.
IRMÃOS DE SANGUE – Dollar Shave Club, a gigante de venda de cosméticos masculinos, com base na Califórnia e avaliada em um bilhão de dólares, está construindo sua nova sede em... Beit Shean, na periferia israelense. A DSC vende duzentos milhões de dólares por ano, somente por meio da internet, e concorre diretamente com a Gillette. O que tudo isto tem a ver com a pequena cidade, considerada a mais quente no já tórrido verão israelense? Os donos do business, dois jovens judeus americanos, Mark Levine e Michael Dubin, quiseram dar uma “força” por aqui, contratando cem funcionários israelenses, e investindo quase quarenta milhões de dólares.
BÊNÇÃO AO MOSSAD – Mais uma conquista do Mossad: o serviço secreto israelense anunciou que nos últimos dois anos aumentou para cem seus agentes com deficiências físicas, tornando-se o que é considerada a agência com mais indivíduos nestas condições em todo o mundo. Estes agentes “especiais” estão distribuídos pelos departamentos de serviços de informações, tecnologia e até de operação direta. “Eles são uma bênção para o Mossad e ao povo de Israel”, declarou o chefe da organização, Yossi Cohen, ele mesmo pai de um filho com paralisia cerebral, mas que serviu o exército e recentemente casou. 37
12 NOTÍCIAS FAZENDO HISTÓRIA – Foi dada a largada para construir o metrô de superfície na milenar cidade de Jaffa. Este porto bíblico, hoje parte do município de Tel Aviv, é tão antigo, que, segundo a lenda local, teria sido fundado por um dos filhos de Noé, Jafé, daí seu nome. Por Jaffa passaram, segundo a Bíblia, o profeta Jonas e o apóstolo Pedro, além de Theodor Herzl quando veio conhecer a então Palestina. O metrô de Jaffa vai ligar a cidade a todo o centro de Israel, num projeto ousado e que será inaugurado em 2021. Serão seis estações, na principal rua da cidade portuária, a Rehov Yerushalaim.
PARANÓIA OU REALIDADE? – Recebi em casa uma carta misteriosa da Companhia de Águas de Israel. O título é “Preparativos para Situação de Emergência”. Lê-se ali que a empresa estatal fez “grandes investimentos” nos últimos anos, preparando-se para enfrentar uma situação “radical”, incluindo treinamento de funcionários e equipamentos especiais como material eletrônico de última geração. O folheto informa que a população deve ter sempre doze litros de água por pessoa em casa, que serviria para enfrentar três dias desta situação “radical”. As garrafas devem ficar no interior da residência. O cálculo deve incluir água também para animais de estimação. “Estejam sempre preparados”, diz o texto. O folheto informa 24 postos de distribuição de água para esta situação “radical” na pequena cidade onde moro que seriam organizadas em escolas e estacionamentos. Também orienta para manter em casa sempre em prontidão gel para limpar mãos, talheres e pratos descartáveis e sacos para recolhimento de sujeira. Toda esta informação me chegou pelo correio, resumida numa página A4 de papel grosso e durável, com imãs para ser colocado na geladeira. Que situação de emergência é esta? No que as autoridades estão pensando? Frio na barriga.
DANÇA DA CHUVA – Até o fechamento desta edição, Israel enfrentava a pior seca dos últimos dezoito anos. As medidas para enfrentar a falta de chuvas neste inverno são novidade para muita gente por aqui: inverter o fluxo do Canal Nacional de Águas, para o precioso líquido voltar ao Kineret e não provocar uma catástrofe ecológica no lago; derramar água dessalinizada vinda do Mar Mediterrâneo num dos rios que se dirigem ao Kineret como outra maneira de preservá-lo. Mas nada disto pareceu suficiente ao Ministro da Agricultura, Uri Ariel. Normalmente ocupado com estatísticas e novas tecnologias, desta vez resolveu convocar uma prece especial no Muro das Lamentações, para pedir chuvas ao Todo-Poderoso. O ministro foi pessoalmente ao Muro, junto com os rabinoschefes do país, agricultores e centenas de anônimos, orar por chuvas. Alguns apareceram até com guarda-chuva. Sobraram críticas ao ministro, mas ele foi irredutível. “Fico feliz em ver como o público atendeu ao chamado.” Coincidência ou não, choveu uma semana depois das orações. 38
Por Bernardo Lerer
Revista Hebraica – Por que escreveu? Era uma dívida com o filho, ou com a sociedade? Como surgiu a ideia de escrevê-lo? O que sentiu depois de concluí-lo? Bernardo Kucinski – Escrevi porque sou escritor e um escritor não consegue parar de escrever. E um bom escritor, como quero ser, não escreve com objetivos determinados, sejam ideológicos ou de acertos de contas. Escreve porque é preciso escrever. Pretérito Imperfeito é apenas isso e exatamente isso, mais uma obra na carreira de um escritor. Inspira-se de fato, e fortemente, na vida real, mas é uma criação que se dá no modo ficcional, daí a invenção da carta que abre a narrativa e que nunca existiu, daí a criação de certos personagens e a transfiguração de outros.
Kucinski pensa em escrever um livro em que velhos amigos se encontram para contar velhas histórias
O LIVRO DA ADOÇÃO. Acaba de ser lançado, pela Companhia das Letras, o mais novo livro de Bernardo Kucinski. Pretérito Imperfeito trata da dura jornada de um pai para libertar o filho da dependência química
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Um livro de vida
O
jornalista Bernardo Kucinski tinha 74 anos quando lançou seu primeiro livro de ficção K. Relato de uma Busca, no qual conta o drama de um pai para descobrir o paradeiro da filha desaparecida nas mãos da ditadura. O pai era Meir Kucinski, professor de ídiche e literatura judaica de várias gerações de brasileiros, e a filha, Ana Rosa, irmã de Bernardo, professora de física na USP. Seis anos depois, Bernardo lança outro livro Pretérito Imperfeito (Companhia das Letras, 150 pp, R$ 39,90), que de ficção contém apenas poucas liberdades literárias, pois todo o resto é verdade. Conta a história de um menino, seu filho, adotado pelo casal ainda bebê, negro, que passou por diversas cirurgias para corrigir má formação óssea nas pernas e ao chegar à adolescência enveredou por caminhos que levaram o casal a sugerir qual o futuro que o aguardava. O livro se lê de uma sentada só. É primoroso, simples porque não propõe malabarismos psicanalíticos e, de certa forma, didático pois pode ser útil às famílias com problemas idênticos advindos, por exemplo, dos questionamentos a respeito do abandono pela mãe biológica, a falta de dados suficientes para projetar uma história de vida, o fato de ser negro. O filho, que vive em Israel, leu os originais. E aprovou. A seguir entrevista com Bernardo Kucinski.
Você acha que pais na mesma situação têm alguma coisa a aprender com a leitura dele? Você o escreveu também com esse objetivo? Kucinski – Repito: não escrevi com nenhum objetivo em mente. Entretanto, por ter adotado como fio condutor da narrativa uma postura de aprendizagem, resultou uma obra que para muitas pessoas pode ter um valor utilitário além do usufruto como literatura. A propósito, o título de trabalho do manuscrito era O Livro da Aprendizagem. Esse livro segue a mesma linha de K. Relato de uma Busca em que os principais personagens não têm nome e nem qualquer identificação? Por que prefere assim? Kucinski – Não sei se é uma preferência no sentido de uma decisão consciente e motivada. É a forma como eu crio. Em Pretérito Imperfeito, o principal personagem não tem nome porque não foi preciso lhe dar um nome. Mas alguns entre os outros têm, no entanto inventados. Qual a avaliação que faz do serviço israelense aos dependentes químicos? Kucinski – Em Israel a dependência química é tratada como uma doença sem
nenhuma discriminação ou ressalva moralista, embora seja um mal muito peculiar e de tratamento muito difícil. O doente que quer se tratar procura seu médico no serviço de saúde que, por sua vez, o encaminha a um tratamento de desintoxicação de 21 dias, após o qual o doente pode optar por um tratamento de longo prazo como interno numa comunidade especializada. Existem várias clínicas de desintoxicação e comunidades de tratamento de longo prazo dirigidas pelo Ministério da Saúde. Além disso, as prefeituras oferecem serviços de acompanhamento psicológico e de desintoxicação aos que não querem a internação. Logo no início do livro você fala do racismo, de como desde criança o filho adotivo foi sentindo as farpas do preconceito contra os negros e mulatos e até as situações de risco pelas quais passou, por causa da sua cor. E Em Israel, onde ele foi viver, isso não acontece? Kucinski – Não. Lá um brasileiro mulato pode ser tomado por um judeu teimanita, e se for negro retinto, por um judeu etíope. O preconceito lá também existe, como sabemos, até dos ashkenazim contra sefaradim ou dos haredim contra os laicos, e vice-versa. Mas não creio que seja propriamente um preconceito de raça ou cor, nem tem o caráter silenciosamente malévolo, como no Brasil, e muito menos a carga ostensivamente odiosa que tem nos Estados Unidos. Eu diria que quando se manifesta é mais como um estranheza cultural.
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Escrevi em pouco tempo, depois reescrevi muitas vezes. Foi um livro difícil de escrever do ponto de vista emocional, mas fácil de escrever do ponto de vista da realização literária
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MAGAZINE
(Bernardo Kucinski, escritor)
Quanto tempo levou para escrever? Kucinski – Saiu fácil. Escrevi em pouco tempo, depois reescrevi muitas vezes. Foi um livro difícil de escrever do ponto de vista emocional, mas fácil de escrever do ponto de vista da realização literária. Já tem propostas de tradução e edição no exterior? Kucinski – Sim, uma proposta de tradução para o inglês. 41
MAGAZINE
Rubens H. Bergel *
ADOÇÃO E DEPENDÊNCIA Reflexões a partir da leitura do livro Pretérito Imperfeito, de Bernardo Kucinski, em que um pai tem de se confrontar com as vicissitudes de um filho adotivo, dependente químico, em reiterada busca de um lugar no mundo Disclosure. Corajoso. Estilo marcante, lembra Amos Oz, Saul Bellow. Sensível diálogo interno. Não há cura para o problema, por isso verdadeira desgraça, desafio impossível. Não há um sistema que possa assegurar cura. O autor/pai já se havia despedido em carta: atitude incisiva. Mas sempre esteve ao alcance de mais um apelo do garoto. Curou-se antes foi da codependência. Atitude difícil, rara, corajosa. Depende da conjunção de muitas qualidades. Atitude, elemento essencial, pode abrir espaço para se desenvolver uma reversão no próprio dependente. Investir-se de poder tomar a si o desafio e o prazer de viver. Isso que agora se faz presente pode não ser o mesmo elemento determinante na gênese do problema. Provavelmente o adotar, buscar para si, para o próprio casal e isto ser de alguma maneira perceptível para a criança pode perturbar o melhor desenvolvimento dos processos interativos indutores do desenvolvimento psicológico fundamental na criança. Buraco virtual afetivo e de identidade não preenchível apesar de toda a oferta compensatória ao longo da vida. 42
Entrada da instituição para recuperar dependentes químicos e o nome em hebraico com flores
Não tomar o “buscar para si” como juízo de valor: provavelmente em larga medida todo casal “busca para si”. O que é que não estaria “pronto”? Ou se trata de mera loteria, casualidade imprevisível? Pode ser. O problema pode não estar entre os que recebem a criança mas, sim, no que tenha se passado antes, na etapa inicial, na origem biológica. Somos todos adotivos, somos todos pais que adotamos: os pais que seguem criando não são os mesmos que deram início. Somos todos dependentes, em certo grau, em relação a diversos seios nutritivos. Somos irremediavelmente incompletos, a ilusão de poder encontrar algo ou alguém que nos alimente e preencha nos conduz ao amor, ao ódio, a construir, a destruir, a criar deuses inclusive à nossa imagem, etc. Agarrados à certeza de encontrar um seio acolhedor, um braço forte, mas mais e mais enraivecidos, desgarrados, abandonados, apavorados pelo medo terrível de se descobrir objeto de desamor, montados em alguma fé fanática, ideologias enrijecidas, uma dependência qualquer… Ao dobrarmos o cabo da esperança, da confiança tornamo-nos irresgatáveis, inalcançáveis e a oferta de amor já não nos comove. Partindo do drama particular é uma obra que alcança uma universalidade que se revela pelas questões íntimas que suscita em nós, e segue presente em nosso íntimo. Como ocorre com o paladar quando o vinho, o café são de alta qualidade, permanece presente, já nem mais sabemos que surgiu daquela leitura. * Psiquiatra e psicanalista
MAGAZINE
Por Nirit Anderman
O mau cheiro por trás do
I
nventado há quase um século e sempre sucesso de vendas em todo o mundo, sua composição foi considerada revolucionária quando criado, em 1920, e até mesmo o frasco que o continha causou pequena revolução pelas referências que fazia ao cubismo. Mais as cinco palavras ditas por uma estrela de Hollywood deu-lhe um halo sexy e desejável que o acompanha até hoje. Em 1954, perguntaram a Marilyn Monroe o que usava ao se deitar: “Apenas algumas gotas de Chanel No. 5”, respondeu. A mulher que criou este perfume ganhou milhões, tornou-se uma das mais ricas do mundo e controlou um bem-sucedido império de moda. Gabrielle “Coco” Chanel tem sido um ícone, mulher muito estimada e, para muitos, modelo de independência feminina, sucesso e bom gosto. Essa imagem, no entanto, esconde um passado com a cor e o peso de chumbo porque durante a Segunda Guerra, Coco Chanel teve um longo caso com um oficial nazista de alta patente, concordou em espionar para o Terceiro Reich e valeu-se das leis arianas para expropriar os sócios judeus – sem os quais certamente seu perfume não teria tanto sucesso – dos seus direitos e bens. Um documentário exibido no último Festival de Cinema Judaico de Jerusalém apresenta novos detalhes a respeito da mulher que o mundo da moda adora. Para fazer The No. 5 War (“A Guerra do No. 5”), o diretor francês Stephane Benhamou pesquisou acervos franceses, garimpou arquivos antigos e documentos amarelados a partir dos quais conta a história de uma das fragrâncias mais populares do mundo e prova que, de fato, Chanel queria usar as leis raciais nazistas para aumentar sua riqueza e poder. Segundo Benhamou, até agora se sabia que durante a guerra Chanel tinha um amante alemão, da mesma forma que atrizes e gente bem posta da sociedade, na época. As pes44
CHANEL NO 5 Como o ícone da alta costura parisiense tentou explorar as leis raciais nazistas para se livrar dos seus sócios judeus. Este é o tema de um documentário que talvez pudesse ser exibido no próximo Festival do Cinema Judaico, na Hebraica
soas sempre pensaram que não era nada mais que uma história de amor, mas agora está claro graças, em parte, a um dos documentos encontrados no arquivo francês, e revelado pela primeira vez no filme e em Sleeping with the Enemy: Coco Chanel’s Secret War (“Dormindo com o Inimigo: A Guerra Secreta de Coco Chanel”), biografia publicada há anos por Hal Vaughan: o amante alemão a ajudou quando tentou assumir a empresa que criou e comercializou o perfume. Na verdade, ela tentou roubá-lo dos Wertheimers, dois irmãos judeus, seus sócios. Até então, o contrato com eles garantia a ela apenas 10% dos lucros. Ela achava que merecia mais e, portanto, tentou se valer das leis nazistas para assumir a empresa. O canal francês que programou a transmissão do filme este mês enviou seu conteúdo a um escritório de advocacia para garantir que não haverá problemas. Os responsáveis pela emissora presumem que os advogados da Chanel podem fazer de tudo para proibir a exibição.
O nariz de Beaux
Para conseguir a parte dos sócios judeus, Coco Chanel literalmente vendeu a alma ao diabo, mas não levou
Como Coco Chanel ficava indignada com o mau gosto das fragrâncias dos perfumes e com os frascos pouco inspirados que os acondicionavam, o sócio desafiou a sacerdotisa francesa da alta costura: lançar um perfume com a sua assinatura. Chanel ficou entusiasmada e propôs uma fragrância que não tivesse por base concentrado de flores, como era comum então. Juntou-se ao perfumista Ernest Beaux e pediu para criar vários perfumes. Em 1920, o perfumista mostrou uma série de fragrâncias, e Coco Chanel escolheu aquela do pequeno frasco com o número 5. Ela tinha o hábito de apresentar suas coleções sempre dia 5 de maio, o quinto mês do ano. Essa coincidência de datas era sinal de boa sorte, e deu o nome ao perfume e escolheu uma garrafa com um elegante design retangular. No início, ela pensava distribuí-lo gratuitamente, como presente de Natal, para clientes selecionados da sua maison. Só depois de constatar o grande sucesso do perfume ao apresentá-lo pela primeira vez, em 5 de maio de 1921, na
boutique de Paris, percebeu o potencial de negócios. Ela sugeriu aos clientes aspergir nas partes do corpo onde gostariam de ser beijados, segundo o documentário. O novo perfume foi uma sensação. A empresária queria iniciar logo o marketing do Chanel No. 5 em grandes lojas de departamento, mas o proprietário das Galerias Lafayette explicou que a produção não conseguiria atender à demanda e apresentou-a aos irmãos Pierre e Paul Wertheimer, proprietários de uma fábrica de perfumes e cosméticos. Em 1924, os irmãos e ela assinaram um contrato e montaram uma nova empresa à qual Chanel concedeu os direitos sobre o perfume. Os Wertheimers se responsabilizariam pela produção, marketing, publicidade. Ela teria 10% dos lucros, os irmãos 70% e os restantes 20% destinados a um terceiro sócio, o dono das Galerias Lafayette, que prometeu ajudar na distribuição. Benhamou diz que, no início, quando eles prometeram 10% dos lucros, Coco Chanel ficou muito feliz. Mas, em 1927, quando o perfume que leva o seu nome se tornou o mais vendido no mundo, questionou-se por receber “apenas 10%”. Chanel foi aos Wertheimer e ouviu de Pierre que, junto com o irmão Paul, assumiu grande risco no negócio, e além disso pagavam despesas de produção, marketing e publicidade internacional. Chanel não aceitou e durante dez anos, tentou, sem êxito, mudar o acordo. Quando a Segunda Guerra eclodiu e o antissemitismo se expandiu decidiu usar as leis arianas para alcançar seu objetivo.
Coco Chanel queria iniciar logo o marketing do Chanel No. 5 em grandes lojas de departamento, mas o proprietário das Galerias Lafayette explicou que a produção não conseguiria atender à demanda e apresentou-a aos irmãos Pierre e Paul Wertheimer, proprietários de uma fábrica de perfumes e cosméticos
Perfumes ou aviões? Com o início da guerra, os Wertheimers, que eram judeus, dias antes de o exército nazista ocupar Paris fugiram da França para Nova York e transferiram todos seus negócios para um amigo, Felix Amiot, fabricante de aeronaves. Mas Chanel floresceu no regime de Vichy e se apaixonou por um oficial da comunidade de informações alemã, treze anos mais jovem, que conheceu no Ritz. Quando ouviu que os irmãos começaram a produzir seu perfume nos Estados Unidos, onde o em45
MAGAZINE preendimento foi bem-sucedido, ficou novamente furiosa. Ela presumiu que seu perfume estava sendo fabricado sem as flores de jasmim que somente existem na França, e enviou um comunicado à imprensa dizendo que o perfume fabricado pelos irmãos não tinha nada em comum com o dela (o filme, aliás, inclui uma cena ao estilo James Bond mostrando como os irmãos conseguiram colocar as mãos naquelas flores únicas de jasmim). Ela também ficou indignada ao descobrir que os irmãos venderam a companhia francesa para alguém que não ela. Vichy mandou entregar os negócios de judeus para mãos franco-arianas, e Chanel percebeu que poderia assumir a empresa. Em 1941, escreveu uma carta a funcionários importantes do governo informando que a venda da companhia dos Wertheimers a seu amigo Amiot foi fictícia, um contrato de gaveta, e que, de fato, a empresa ainda estava em mãos judias. Portanto, todas as ações da empresa deveriam ser transferidas a ela. Logo o amante alemão a convenceu a explorar suas relações amistosas com Winston Churchill espionando em favor do regime nazista o que aumentaria as chances de controlar a empresa de perfumes. Chanel tentou se encontrar com Churchill para oferecer um acordo de paz que lhe foi ditado pelos serviços de inteligência nazistas, mas Churchill nem respondeu. A história não terminou bem para Chanel porque a pessoa a quem os Wertheimers “venderam” a empresa tinha uma fábrica de aeronaves militares. Os nazistas compravam aviões dele e, finalmente, quando os alemães tiveram de decidir entre ele e Chanel se perguntaram o que ajudaria mais no esforço de guerra: aviões ou perfume? A tentativa de Chanel de assumir a empresa que fabricou seu perfume falhou. Depois da guerra, quando se começou perseguir colaboradores nazistas em Paris, ela foi convocada para interrogatório e só graças a seu amigo do número 10, Downing Street, que interveio em seu nome, foi liberada sem ser punida por seu comportamento. Ela se mu46
Pierre Wertheimer confiou em um amigo que tinha negócios bélicos com os nazistas, mas lhes foi leal
dou para a Suíça, onde permaneceu por oito anos para garantir que não fosse punida por suas atividades de guerra. Ao mesmo tempo, Pierre Wertheimer deu-lhe nove milhões de dólares por sua porcentagem de vendas de perfumes durante a guerra. As dezenas de milhões que ela embolsou mais tarde, graças a esse perfume, a tornaram uma das mulheres mais ricas do mundo. Benhamou diz que Chanel nunca explicou seu comportamento durante a guerra. Os Wertheimers não quiseram processá-la para não prejudicar sua imagem porque lhes faria mais mal do que bem pois muitas empresas francesas acusadas de colaboracionistas perderam muito depois da guerra. Benhamou é judeu, assim como a maior parte da equipe e espera que todos fiquem incomodados ao assistir e ver a verdade a respeito de Chanel, e esconder essa parte da história por razões comerciais é intolerável. Hoje, se fala de Chanel como modelo de excelência francesa, mas não se deve esquecer que ela tentou roubar propriedades de judeus e que negócios não podem se sobrepor à verdade.
Logo o amante alemão a convenceu a explorar suas relações amistosas com Winston Churchill espionando em favor do regime nazista o que aumentaria as chances de controlar a empresa de perfumes. Chanel tentou se encontrar com Churchill para oferecer um acordo de paz que lhe foi ditado pelos serviços de inteligência nazistas, mas Churchill nem responde
MAGAZINE
Por Ruth Wisse *
O judeu romeno e o mundo
DECIDIDO A CONDENÁ-LO S Por sua importância, publicamos mais um texto a respeito do romance Por Dois Mil Anos que, ao traçar os efeitos psicológicos do antissemitismo nos perpetradores e suas vítimas, ultrapassou até mestres como Freud e Proust
Capa do livro onde, como numa espécie de diário com o qual o autor dialoga, se conta o antissemitismo na Romênia
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e os meus pais tivessem lido o romance de Mihail Sebastian For Two-Thousand Years (Por Dois Mil Anos) quando foi publicado, em 1934, na Romênia, eles seriam loucos se, dois anos depois, lá tivessem concebido um filho judeu. Este romance, só recentemente traduzido do romeno para o inglês (e simultaneamente em português pela Amarilys, 352 pp., R$ 41,50), é uma visão detalhada do antissemitismo que consumiu um país não por meio de populismo vulgar, mas pelas ideias dos seus principais intelectuais. Quem poderia escrever tal livro? E por quê? Apenas um intelectual judeu, alguém suficientemente íntimo dos antagonistas a ponto de conhecê-los como realmente eram, e também artisticamente brilhante e corajoso para registrar exatamente como e por que o desprezavam. Eu sou essa criança judia improvável e agradeço aos meus pais não terem conhecido intelectuais romenos quando moraram lá. Mihail Sebastian nasceu Iosif Mendel Hechter, em 1907, de pais judeus tradicionais na cidade romena de Brăila, no Danúbio. Quando menino (e pelo resto da vida) sentiu-se enraizado na paisagem do rio e respeitador da ascendência judaica, mas, com educação limitada em fontes ou línguas judaicas, ele se sentia muito mais em casa na cultura romena em que recebeu escolaridade formal. Na Faculdade de Direito, em Bucareste, e quando começou a escrever, Iosef Mendel adotou um nome romeno e aproximou-se da elite literária e intelectual da cidade. Com o nome fictício Sebastian, seguiu o mesmo caminho de muitos contemporâneos judeus na Europa. Em cada caso, as perspectivas literárias deles estavam condicionadas à comunidade linguística que aspiravam a se juntar. Para Sebastian, uma restrição adicional foi o escancarado antissemitismo, filho predileto do nacionalismo exacerbado da Romênia após a Primeira Guerra e que, em maior ou menor grau, infectou as melhores mentes do país. O gênio de Sebastian impediu-o de ser hostil, mas o fez enxergar o que judeus e outros tentavam ignorar. Como forma de conservar a independência intelectual, escreveu um diário. Mesmo enquanto procurava uma carreira em direito e enquanto produzia livros, peças e ensaios, Sebastian registrava o julgamento privado do mundo que tendia a condená-lo. De fato, seu primeiro trabalho que atraiu a atenção internacional, exatos cinquenta anos depois da sua morte, foi parte do diário que escreveu nos anos anteriores à Segunda Guerra: O Journal 1935-1944: The Fascist Years (Diário 1935-1944: Os Anos do Fascismo), lançado em 2000.
O livro Por Dois Mil Anos publicado na Romênia, em 1934, é uma obra de ficção, mas uma ficção que pretende ter sido composta por excertos de diários que acompanham o narrador ao longo da década anterior, o agitado período de 1923 a 1933. As duas obras recompensam muito a leitura, mas a forma ficcional da última é uma narrativa mais concisa, mais fascinante e conscientemente desenvolvida. No início, Sebastian declara uma fidelidade obsessiva à sua própria mente e imaginação, sinalizada pela citação de Montaigne: “Eu não só me atrevo a falar sobre mim, mas a falar de nada além de mim mesmo”. Embora um foco tão estreito pareça inadequado para capturar a essência de uma era de agitação política, o rigoroso auto-escrutínio do narrador, que se estende ao que ele enfrenta, rende páginas de brilhante reportagem política. Este adepto do solipsismo, a teoria filosófica segundo a qual nada existe fora do pensamento individual, torna-se testemunha magistral do seu tempo. No começo do livro, os estudantes judeus de Bucareste são assediados moral e fisicamente pelos colegas de classe gentios. Alguns resistem o quanto podem, mas o autor do diário sem nome – devemos chamá-lo de Iosif? – não se encanta pela ideia de reagir. Por quê? “Eu não tenho esse tipo de vaidade.” (Ao sentir os motivos suspeitos nos outros, ele também os imputa a si). E quando um único aluno judeu se levanta para protestar contra os maus tratos na classe onde estuda, Iosif não critica a escola, mas o colega: “Que necessidade absurda o inspira a denunciar a injustiça? De que educação ancestral em humilhação o revolta? (...) Estou furioso com você porque não posso odiá-lo o suficiente e porque eu, assim como você, pertenço a uma raça que não pode aceitar coisas e calar a boca”. Quando Sebastian escreveu este livro, no início da década de 1930, os efeitos psicológicos torturantes do antissemitismo sobre os judeus já haviam sido escritos por Sigmund Freud, Max Nordau, Otto Weininger e Marcel Proust – o último dos quais lê com admiração. O próprio exame que faz do fe-
nômeno excede a todos. “Vamos presumir que a hostilidade dos antissemitas é, no final, duradoura”, escreve. “Como procedemos com o nosso próprio conflito interno?” Ainda assim, embora angustiado por estar “a dois passos do jogo ativo da existência, primeiro como intelectual e, depois, como judeu”, Iosif está próximo de modo a estudar todos ao redor, incluindo o próprio tipo, na busca por “superar dois mil anos de talmudismo e melancolia e recuperar – supondo que alguém da minha raça já tenha tido isso – a clara alegria de viver”. Essa pesquisa pessoal o leva a três das principais ideologias judaicas do período, que apresenta por meio dos que as defendem.
Três personagens O primeiro é o distribuidor de livros Abraham Sulitzer que Iosif conhece em um trem e o apresenta tanto à literatura moderna que os judeus estão criando em ídiche quanto à ideia de que a cultura ídiche em si pode inspirar e sustentar uma comunidade judaica da Diáspora. Iosif compra de Sulitzer uma “Bíblia Ilustrada” – certamente a popular Tseena Ureena (Tsenerene – Hebraica, edição 665, julho 2017), em ídiche – e sempre a lê em voz alta para a avó. Mas agora ele se considera muito velho para ser recrutado pela sufocante solidariedade étnica supostamente exigida por esse tipo de judeu. O narrador se vale de dois amigos da Faculdade de Direito, S. T. Haim e Sami Winkler, para Iosif testar a resistência às outras duas ideologias disponíveis: o comunismo e o sionismo, respectivamente. Haim, “um marxista incurável”, zomba da própria noção de solidariedade judaica: “A unidade nacional judaica é um absurdo. Não conheço nenhum judeu: conheço os trabalhadores e a burguesia. Não conheço um problema nacional na Palestina. Conheço um problema econômico prático que envolve a Síria, a Palestina e a Mesopotâmia, o que é menos interessante do que os problemas de Cuba, Indochina e a Rumélia Oriental (nome da região da península balcânica controlada pelo Império Otomano). O resto
No início, Sebastian declara uma fidelidade obsessiva à sua própria mente e imaginação, sinalizada pela citação de Montaigne: “Eu não só me atrevo a falar sobre mim, mas a falar de nada além de mim mesmo”
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MAGAZINE é mito, idílio, quimera.” Ao descartar todas as categorias nacionais, teoricamente Haim oferece uma fuga do antissemitismo e de seu próprio judaísmo. Iosif, no entanto, mesmo pondo de lado a descrença na utopia comunista, também está distante de negar ou renunciar à sua condição judaica. Winkler, por sua vez, leva Iosif para ouvir a pregação sionista de Ze’ev Jabotinsky na esperança de que “ele possa esclarecer as coisas para você”. Embora as coisas continuem turvas, o sionismo está próximo de satisfazer a busca de Iosif pela “clara alegria de viver” em uma forma judaica. Ele gosta de quase tudo o que Winkler lhe diz, um verdadeiro crente para quem a questão “não é se os judeus podem criar um estado palestino, mas se eles podem fazer qualquer outra coisa”. A urgência torna sem sentido os argumentos contrários: Winkler viverá e trabalhará na terra de Israel. “Eu escuto e trabalho” é a sua versão do bíblico “Faremos e ouviremos”. Iosif está convencido de que a eternidade do povo judeu o obriga a ser ultrapassado pela eternidade do antissemitismo. Esse ódio eterno é o significado final dos dois mil anos do título do romance. Pelo restante do livro, o narrador tem outro caso de amor sério, troca o estudo de direito pela arquitetura, realiza uma aprendizagem produtiva que inclui um ano em Paris e se envolve em uma experiência de planejamento urbano. Ele faz tudo isso ao se juntar – como na vida real – à jovem intelectualidade romena emergente, e com problemas que o perseguem e o atormentam. Outros intelectuais judeus europeus que também padeciam da política antijudaica no início do século 20 adoravam muito seus antagonistas demais para expô-los (como Hannah Arendt) ou, como Jean Améry (nascido Hans Meyer), preferiram focar na experiência de perseguição em vez de atacar as ideias e os sentimentos dos perseguidores. Sebastian é diferente. Sem nunca negar a sua condição judaica, ele se tornou e, até o limite do possível, continuou íntimo dos escritores e pensadores que forneceram à Guarda de Ferro fascista da Romênia as justificativas ideológicas para se livrar dos judeus.
Blidaru, aliás Nae Ionescu Alguns desses escritores e pensadores fazem parte, quase sem nenhum disfarce, da história contada pelo memorialista/insider fictício. Na época da publicação do livro, em 1934, Ghita Blidaru, seu personagem mais revelador era facilmente identificável como sendo o filósofo intelectual Nae Ionescu (nada a ver com o dramaturgo Eugene Ionesco), um professor que influenciou muito Sebastian e contemporâneos. Iosif descobre Blidaru e transcreve páginas inteiras das palestras do carismático professor no diário: “Vivemos com abstrações demais, ilusões demais. Perdemos o chão sob nossos pés. Não é só o padrão-ouro que se perdeu, mas qualquer relação fixa entre nossos símbolos e nós mesmos. Há um fosso entre o homem e seu contexto. Essas expressões que se vê se tornaram desumanizadas. Ou, talvez com mais precisão, tornaram-se desumanas”. 50
Passada a Primeira Guerra, Blidaru tinha muita companhia na desilusão com as abstrações. O norte-americano Ernest Hemingway, que esteve na frente de combate, escreveu: “Palavras abstratas, como glória, honra, coragem ou santidade, eram obscenas ao lado dos nomes concretos das aldeias, do número de estradas, dos nomes dos rios, dos números dos regimentos e das datas”. Mas enquanto muitos se sentiram igualmente traídos, Blidaru partiu para encontrar “a verdade que nos remete ao solo, simplificando tudo e instalando uma nova ordem” (expressão que aparece em todo lugar). No contexto romeno, palavras purificadoras como verdade, solo, simplificação, nova ordem, se juntaram a planos de limpeza étnica dos seus judeus, assim como, no contexto alemão, fariam aqueles inspirados pela filosofia de Martin Heidegger. Assim, dependendo de como ele quer usar os judeus, Blidaru explora os talentos manifestos deles ou, uma vez alinhado com a Guarda de Ferro, oferece esses talentos para provar que os judeus pretendem conquistar a Romênia de dentro. Enquanto isso, Iosif revela como o judeu está sendo usado. Um a um, descobre o mesmo veneno político até no mais aparentemente “decente” dos amigos, e responde a cada um segundo seu mérito. Para tentar refutar um ideólogo antijudaico, ele declara que “ficaria tão louco quanto conversando com um bloco de pedra”, mas se envolve com um autoproclamado antissemita que insiste em que o sonho e a agitação emocional dos escritores judeus estragam sua necessidade de clareza. E quando Iosif sugere que a clareza de um poeta pode ser diferente daquela de um notário, o antissemita responde preferir a clareza do notário. Na melhor tradição de sátira, embora não se trate de uma sátira, cada antagonista se condena a si mesmo. Iosif sofre mais quando o mestre-arquiteto que o emprega, o mais liberal e pensativo dos homens, mostra exatamente o mesmo preconceito antijudaico como o “bloco de pedra”.
Lá pelo meio do livro, Iosif pensa: “Talvez tenha chegado o momento de escrever a história do movimento antissemita”. Se não faz isso, contribui com um capítulo incomparável para o relato mais completo, dedicado em grande parte ao personagem daqueles que povoam o movimento; e para compor o cenário, ele também inclui um autorretrato de seu memorialista judeu na luta “para compreender o nó de adversidade e conflito com o qual estou vinculado na vida romena”. Pode parecer estupidamente autodestrutivo o fato de Mihail Sebastian pedir a Nae Ionescu que contribua com uma introdução à novela em que o próprio Ionescu aparece como Blidaru – e, em seguida, incluir a resposta previsivelmente desagradável do professor no livro publicado. Mas é precisamente assim que Sebastian possibilitou ao seu professor se revelar na vida histórica e se incriminar na vida após a morte histórica. Negando-se a se recolher à “mera” condição judaica e insistindo no que considera direito igual e decididamente não-abstrato ao seu país, ele pergunta, no final do livro: “Alguém já teve maior necessidade [do que ele] de uma pátria, um solo, um horizonte com plantas e animais?”. Mas, como se antecipasse a objeção que esta pátria o aguarda no Oriente Médio, ele acrescenta, obstinadamente: “Tudo o que era abstrato em mim foi corrigido e, em sua maior parte, curado por uma visão simples do Danúbio”.
Semelhanças com Ravelstein, de Saul Bellow Sebastian sobreviveu à guerra e morreu em um acidente automobilístico em 1945, com 38 anos. Mas este romance e seu diário publicado postumamente se bastam para ter lugar como um dos maiores escritores da Romênia. Ele também é importante para uma cultura judaica deficiente em retratar esses antissemitas, cuja inteligência brilhante os torna estúpidos, perigosos, evangelistas de teorias totalizadoras e ideias podres do tipo que se deveria desdenhar e repudiar. Este é um aspecto da comédia humana que seria melhor desempenhado por risadas, não fosse a ruína que causa à inteligência e à vida humana.
A leitura desse livro o aproxima de Ravelstein, de Saul Bellow (2002), outro intelectual adepto do romance fictício que tem por base pessoas reais e cujo narrador Chick (claramente o próprio autor) é castigado por seu amigo Ravelstein (isto é, Allan Bloom, amigo e colega de Bellow) por ser muito mole com ex-antissemitas. O objeto de sua disputa é um dublê ficcional do filósofo e historiador de origem romena Mircea Eliade – amigo na vida real de Mihail Sebastian, que na década de 1930 fazia parte do mesmo círculo em torno de Nae Ionescu em Bucareste e, como viria a acontecer, mais tarde se tornaria colega na vida real de Bellow e Bloom na Universidade de Chicago. Aparecendo no romance de Bellow como Radu Grielescu, este sofisticado e inteligente ex-fascista anseia por agradar aos judeus – ou, como entende Ravelstein, para usar sua amizade como proteção. Ravelstein lembra ao educado e amável Chick que a Guarda de Ferro pendurava os judeus em ganchos de açougue e os esfolavam vivos. Chick conhece isso bem e diz ao amigo: “O que fazer em relação às pessoas instruídas dos Bálcãs que têm uma interminável diversidade de interesses e talentos, são cientistas, filósofos, historiadores e poetas, estudaram sânscrito e tâmil e palestraram na Sorbonne acerca de mitologia; quem poderia, se questionado, falar a respeito de pessoas que ‘conheciam ligeiramente’ na paramilitar Guarda de Ferro que odiava os judeus?” Chick gosta de ver Grielescu, assim como Sebastian gostava de assistir aos compatriotas romenos antissemitas e Saul Bellow certamente teria apreciado o impulso de escritor de Sebastian de registrar todos e integralmente esses tipos, toda a realidade moralmente viciosa deles, mentalmente impressionante e humanamente encantadora. Lamento que Bellow não tenha vivido para ler Por Dois Mil Anos, e aliviada que meus pais não puderam ler a obra.
Embora angustiado por estar “a dois passos do jogo ativo da existência, primeiro como intelectual e, depois, como judeu”, Iosif está próximo de modo a estudar todos ao redor, incluindo o próprio tipo, na busca por “superar dois mil anos de talmudismo e melancolia e recuperar – supondo que alguém da minha raça já tenha tido isso – a clara alegria de viver”
* Ruth Wisse é professora pesquisadora de ídiche e literatura comparada em Harvard. Nasceu em Czernowitz, em 1936, então parte da Romênia
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Por Bernardo Lerer
Copacabana: a Trajetória do Samba Canção Zuza Homem de Mello | Edições Sesc e Editora 34 | 512 pp. | R$ 82,00
O Livro de Jô – Uma Autobiografia Desautorizada Jô Soares e Matinas Suzuki | Companhia das Letras |477 pp. | R$ 64,90
Este é o primeiro de dois volumes que contam a trajetória de um dos mais conhecidos nomes da televisão brasileira, cuja trajetória se confunde mesmo com a da tevê, no Brasil. O livro é de um contador de histórias que encarregou um brilhante jornalista de juntá-las numa sequência brilhante em que um assunto puxa outro, um personagem sugere um segundo, e todos têm relação com o mundo do espetáculo, da política e da própria história do Brasil dos anos 1950 e 1960, que correspondem a este volume, até porque quase no centro dos acontecimentos de então: o Copacabana Palace. É um livro bem-humorado e, portanto, divertido de se ler.
Zuza já sabia tudo da história do samba canção e ainda levou mais dez anos pesquisando para escrever esse livro que considerou um “desafio”. Ele conta que este gênero, um dos mais importantes da música brasileira, surgiu em 1929, num espetáculo de teatro de revista, quando Aracy Cortes gravou Linda Flor, e estava nas paradas de sucesso de todas as rádios do país até 1958, quando, surgiu a bossa-nova. Ele colocou Copacabana no título porque em 1946 os cassinos foram fechados e os cantores e frequentadores da noite se espalharam pelos bares e boates da orla e ao som desse ritmo se dançava de rosto colado. O samba canção projetou cantores e compositores como Ângela Maria, Cauby Peixoto, Dolores Duran, Maysa, Dick Farney, Linda Batista, Elizeth Cardoso, Nelson Gonçalves e outros.
Tons de Clô Carlos Minuano | BestSeller | 192 pp. | R$ 34,90
Amado e odiado, temido, admirado, brilhante e algumas vezes até cruel, como se quisesse devolver ao mundo a agressividade com que foi tratado desde que foi rejeitado pela mãe biológica que o considerava feio e doente. Mas subiu na vida, ditou moda, foi um apresentador talentoso, desfilou altivamente sua homossexualidade pelos corredores do Congresso Nacional quando deputado federal. O cronista Guilherme Fiuza descreve Clodovil como “um cara indigesto especialmente para os hipócritas”. Vale a pena ler essa biografia.
Ainda Existem Caubois Fernando & Sorocaba | Editora Paralela | 248 pp. | R$ 34,90
O subtítulo explica muito do livro, mas não tudo: a saga da dupla que transformou o sertanejo no ritmo mais ouvido do país. Saibam que, segundo o Crowley Broadcast Analysis, empresa que pesquisa quais as músicas mais tocadas nas emissoras brasileiras, nove entre dez eram do gênero sertanejo. E, destas, os maiores intérpretes e compositores eram Fernando & Sorocaba. Fernando nasceu em um sítio em Ji Paraná, em Rondônia. Sorocaba nasceu em Sorocaba, de próspera família. Os dois revolucionaram o estilo neste século, assim como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano nos anos anteriores. 52
Um Imenso Portugal – História e Historiografia Evaldo Cabral de Mello | Editora 34 | 362 pp. | R$ 62,00
É a reunião de 36 textos que tratam da formação histórica do Brasil em que o autor trata de questões como, por exemplo, “o Brasil não se tornou independente porque fosse nacionalista, mas fez-se nacionalista por haver se tornado independente”. Então, essa ausência de sentimento nacional que dificultará o desabrochar de um modo de viver adaptado às condições locais, acarretando entre os primeiros colonos os modelos do reino, que se podia ver nas vestimentas apesar de viverem num clima tropical e de insistirem em comer pão de trigo, azeite e vinho, tudo importado. Muito bom.
Caminhos Cruzados Paulo Carneiro | Haikai Editora | 164 pp. | R$ 45,00
O autor, jornalista, um dia se descobriu de descendência judaica pois seus mais remotos antepassados chegaram aqui ainda no início da colonização portuguesa, o que o levou a escrever o que chama de A Vitoriosa Saga dos Judeus do Recife – da Espanha à Fundação de Nova York. Para isso, ele volta no tempo até o último quarto do século 15 quando a Inquisição se institucionalizou primeiro na Espanha e depois em Portugal. Rico em detalhes, ele chega ao Recife na primeira metade do século 17, a tentativa de conquista dos holandeses, como os judeus se fixaram na cidade e, por fim, sua apressada fuga para o norte, passando pelo Caribe, finalmente, Nova York. Lê-se de uma sentada só.
O Homem mais Perigoso do País R. S. Rose | Civilização Brasileira | 408 pp. | R$ 38,90
O autor é um brasilianista nascido na California que passou 22 anos no Brasil e se especializou em contar o que foi a repressão na ditadura Vargas. Seu primeiro livro foi A Vida do Espião que Delatou a Rebelião Comunista de 1935 e este trata do policial que a comandou, o temido coronel Filinto Müller que mandava torturar suspeitos e simples adversários da ditadura, e principalmente tudo o que estivesse relacionado à ameaça comunista. Filinto serviu a Vargas e, com entusiasmos diferentes, ao que veio depois de 1964 com Castello Branco, Costa e Silva e Garrastazu Medici. Mas que serviu, serviu.
Impasses da Democracia no Brasil Leonardo Avritzer | Civilização Brasileira 150 pp. | R$ 19,90
Este é um livro de oposição a um modo de fazer política no Brasil que está além das polêmicas entre esquerda e direita e o autor mostra como o país chegou ao atual momento de crise de desenvolvimento e de retrocesso da cultura democrática. Entre os motivos, a forma de fazer alianças políticas, os limites da participação popular, os paradoxos do combate à corrupção, as consequências de status e de reordenamento social provocadas pela queda da desigualdade e o novo papel do Poder Judiciário na política. Vale a pena ler para saber porque as coisas são do jeito que são.
Em Busca da Verdade em Tempos Sombrios Ilana Waingort Novinsky | ArquShoah Humanitas | 325 pp. R$ 34,90
Este livro faz parte da coleção “Histórias da Intolerância” e a autora, psicanalista, faz um um estudo interdisciplinar a respeito da complexa personalidade de Edith Stein (1891-1942), filósofa alemã que procurou incessantemente a verdade em tempos sombrios. Judia, Edith, converteu-se ao catolicismo, virou monja carmelita na Alemanha de Hitler. Mas foi presa por sua origem judaica e foi uma das primeiras vítimas da máquina de matar de Auschwitz, em 1942. Em 1998, o papa João Paulo II a santificou como santa Teresa Benedita da Cruz e a fez copatrona da Europa.
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Por Bernardo Lerer
Negócios sem diplomacia em Cuba Israel não tem relações formais com Cuba desde 1973 e os contatos entre os dois países se dão por meio da embaixada do Canadá, em Havana. No entanto, em dezembro, uma delegação comercial de quatorze israelenses foi recebida em Cuba, ao mesmo tempo em que o governo cubano atacava Donald Trump por reconhecer Jerusalém como capital de Israel numa “grave e flagrante violação” da decisão das Nações Unidas condenando a decisão americana. Os israelenses visitaram o complexo portuários de Mariel, construído por brasileiros, o Memorial do Holocausto e várias indústrias. Apesar de pouco conclusiva, a visita pode render frutos nos setores farmacêutico, infraestrutura, turismo e agricultura, segundo o diretor da Câmara de Comércio Israel-América Latina, Gabriel Hayon. “O problema não é a inexistên-
cia de relações diplomáticas entre os dois países, mas a falta de recursos de Cuba para adquirir tecnologia e produtos israelenses”, afirmou Gabriel, quando na volta a Israel cercado de curiosidade e interesse. De todo modo, Israel se absteve, em 2016, junto com os Estados Unidos, quando a ONU decidiu condenar o embargo comercial imposto pelos americanos há mais de cinquenta anos. Além disso, em outubro último, a ministra da Cultura Miri Regev foi a Cuba, a primeira vez desde 1973 que um ministro de Estado visitou a ilha. E, em novembro, a Lizt Alfonso Dance Company fez uma auspiciosa turnê de quatro espetáculos por Israel, como todos os ingressos vendidos semanas antes. E, em dezembro, o conhecido Buena Vista Social Club deu vários concertos pelo país. Nenhum destes eventos seria possível sem o apoio do governo cubano e o estímulo de Israel. Aliás, mesmo sem
apoio oficial, o antigo chefe do Mossad Rafi Eitan (foto), que se notabilizou pela captura de Eichmann, mantém relações com Cuba por meio de um empreendimento agrícola que gerou mais de seiscentos milhões de dólares em exportações de cítricos. Israel foi um dos primeiros países a reconhecer o governo revolucionário cubano e a então ministra das Relações Exteriores Golda Meir prontamente ofereceu ajuda técnica e material ao novo regime menos como instrumento diplomático e mais por uma espécie de afinidade ideológica, permeada pelo socialismo.
Gallimard desiste de reeditar obra do antissemita Céline
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A pressão foi tanta, de todos os lados, não apenas de entidades judaicas, que a francesa Éditions Gallimard desistiu de reeditar os ensaios escritos por Louis-Ferdinand Destouches, conhecido mundialmente como Céline (foto), nascido em 1894 e que conquistou renome mundial ao escrever Voyage au Bout de la Nuit, mas nos anos 1930 abraçou o nazismo com toda paixão e, desde então, as consequências dessa escolha mancharam sua obra. E o fez por meio de uma lacônica nota oficial. Depois de recusar todos os pedidos de reedição de seus livros, aos 105 a viúva de Céline, finalmente concordou em ceder os direitos autorais de Bagatelles pour un massacre (Ninharia por um massacre), L’École des Cadavres (“A Escola de Cadáveres”) e Les
Beaux Draps (“As Belas Bagunças”) para serem reimpressos. As entidades judaicas da França e principalmente os restantes caçadores de nazistas diziam que seria uma visão deplorável encontrar estes livros à venda. “O que se lê neles é coisa de virar o estômago. É o discurso do ódio”, diz um líder comunitário. Eis um trecho, por exemplo: “O que acontece com os judeus na Itália e na França é exatamente o mesmo quando se faz uma pseudoesterilização (higienização). Não tem mistério... Quando você quer exterminar os ratos de um navio ou insetos de uma casa, você desratiza pela metade, extermina só no térreo? Você será invadido dez vezes em um mês pelos ratos, e mais de vinte vezes pelos insetos...”
PRÊMIOS LITERÁRIOS DE ISRAEL A biografia de Golda Meir, Lioness: Golda Meir and the Nation of Israel (“A Leoa: Golda Meir e a Nação de Israel”), de Francine Klagsbrun, venceu o prêmio de “Livro do Ano” conferido pela Fundação Família Everett, enquanto o livro de David Grossman, A Horse Walks into a Bar (“editado no Brasil pela Cia. das Letras com o título “O Inferno dos Outros”) ganhou o prêmio de ficção, já traduzido para o inglês, e à espera de uma edição em português. Este livro ganhou também o Man Booker International Prize, um dos mais conceituados do mundo e apresentado por um crítico como “rançoso, esculachado, mas muito engraçado, sem dúvida”. David E. Fishman ganhou o recéminstituído Prêmio do Holocausto em memória de Ernest W. Michel pelo livro que fala de ladrões, poetas, guerrilheiros na corrida para salvar tesouros judaicos das mãos dos nazistas. Estes grupos eram conhecidos como “paper brigades” (“brigadas de papel”). Na categoria literatura infantil venceu o livro The Language of Angels: a Story about the Reinvention of Hebrew (“A Língua dos Anjos: uma História a Respeito da Reinvenção do Hebraico”).
Leo Joshua Skir, judeu, importante ativista gay
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oam Sienna é candidata ao título de doutora em história judaica na Universidade de Minnesota com uma tese a respeito do movimento LGBT na história judaica desde a mais remota antiguidade até 1969 quando eclodiu a revolta de Stonewall, em Nova York, em que alguns dos principais ativistas eram judeus. Na pesquisa para a tese de doutorado se deparou com o texto O Gueto Homossexual (The Homosexual Ghetto) publicado em 1965 na revista The Ladder, mantido pela organização de lésbicas The Daughters of Bilitis. Seu autor, conhecido como “Leo, o judeu”, na verdade, Leo Joshua Skir (foto), nascido em 1932 em Chicago, cujos pais imigraram para os Estados Unidos no começo do século. No texto, Leo que militava no movimento sionista, clamava pela solidariedade entre os homossexuais e pelos seus direitos como parte de uma ampla luta nacional e internacional pelos direitos das minorias. “Esse artigo não é dirigido àqueles que se renderam ao medo, mas para os outros, os combatentes. Eu acho que devemos reafirmar constantemente nossa perspectiva pelos direitos homoafetivos de modo a deixar claro que somos parte de um movimento muito mais amplo em direção a um mundo mais livre, mais feliz e melhor”. Ele vociferava contra seus companheiros homossexuais que se refugiavam em guetos afirmando que “o movimento homoafetivo é tão importante e necessário, assim como Israel é importante e necessário nesse momento da história” e conclama a que os leitores se juntem a ele nessa luta por completa integração e inclusão e igualdade. Noam Sienna conta que a questão religiosa era recorrente nas revistas gays e lésbicas dos anos 1950 e 1960 e para muita gente, mesmo no começo do movimento gay, a religião e judaísmo em especial não eram um obstáculo “mas um elemento constitutivo de sua identidade”. Um dos seus melhores amigos foi o poeta e escritor judeu Allen Ginsberg (1926-1997). Leo Skir publicou no Sh’ma Journal, em 1972, o artigo “Ser Judeu e Homossexual” que consta ter sido o primeiro relato pessoal de um gay judeu assumido publicado em um jornal judaico americano. Leo Skir morreu em 2014. 55
MAGAZINE
Do Brasil, ninguém. Da América Latina, só Chile
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O sobrevivente Aharon Appelfeld morreu Há alguns anos sugerimos ao correspondente da Revista Hebraica em Israel, Ariel Finguerman, entrevistar o escritor Aharon Appelfeld (foto) que, em 1983, venceu o Prêmio Israel de Literatura pelo livro Badenheim 1939 . Ele também escreveu Tsili: The Story of a Life, grande sucesso de público e de crítica. Appelfeld prontamente se dispôs a conversar com o repórter da revista de um clube judaico, no distante Brasil, país do qual ouvira falar por causa do futebol, do Carnaval e de, na época, ter eleito um operário para presidente da República. Foi uma longa e rica conversa, contou Ariel, durante quase uma tarde em um café na cidade de Petah Tikva, onde o escritor sempre viveu – e morreu, no começo de janeiro – desde que chegou a Israel, em 1946. Appelfeld nasceu em 1932, em Czernowitz, na época pertencente à Romênia e depois anexada pela então União Soviética e hoje uma cidade da Ucrânia. Czernowitz, foi ocupada pelos nazistas e a família enviada para um campo de concentração de onde escapou. Escondeu-se na zona rural e, em 1944, com 12 anos, juntou-se às tropas do Exército Vermelho do qual foi ajudante de cozinha a caminho do oeste, em direção a Berlim. Ele conta agora que, na época, apesar das vicissitudes, “saboreava o doce gosto de ser judeu”.
Quando pôde, juntou-se a um pequeno grupo de judeus e conseguiu chegar à Itália e, de lá, para a então Palestina. Embora tenha começado a estudar e a aprender hebraico somente a partir deste ano, foi na língua adotiva que escreveu toda sua obra. Seus contos e romances tinham relação com os efeitos da guerra entre os judeus assimilados de sua infância e o conjunto da obra é classificado como literatura do Holocausto. Como Kafka, a quem é sempre comparado e a quem reconhece uma dívida, Appelfeld conheceu o antissemitismo desde o seu interior, do antijudaísmo em sua própria casa antes de se deparar com a discriminação na sociedade e é essa descoberta inicial a que se tornou a mais decisiva. A atitude hostil dos outros parecia ser uma retribuição bem apropriada à baixeza espiritual de sua família completamente assimilada. Enfim, é uma leitura fundamental para os interessados em mais um aspecto tenebroso do Holocausto.
Modernas catacumbas em Jerusalém
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tualmente, cerca de quatro mil pessoas são enterradas todos os anos no maior cemitério do país, em Har Hamenuchot, em Jerusalém, que já está praticamente lotado. A Chevra Kadisha de lá começou a construir nichos para acomodar pelo menos outros 26.000 corpos, mas ainda será insuficiente. Por isso, ao mesmo tempo, estão sendo escavadas catacumbas em túneis gigantescos sob o atual cemitério com capacidade para mais 22.000 túmulos. A novidade é que os túmulos serão de isopor. A soma destes dois novos “cemitérios” vai solucionar o problema pelos próximos 12 ou 14 anos. A autoridade rabínica local e a prefeitura estão convencidas de que defini-
ara quem não sabe, uma entidade congrega os estudantes judeus de todo o mundo. É a World Union of Jewish Students (WUJS) (foto) e cuja correspondente no Brasil, há muitos anos, era o Grupo Universitário Hebraico do Brasil, com representações em vários estados. Mesmo internacionalmente pouco se falava na WUSJ até que há poucas semanas foi escolhido seu novo presidente ao mesmo tempo em que 165 jovens de 36 países recebiam treinamento durante a realização do 44 Congresso Mundial de Estudantes Judeus (WCJS, na sigla em inglês) que, entre outras coisas, votou uma moção reconhecendo o assassinato de um milhão de armênios pelos turcos otomanos no século passado como um genocídio de modo a assinalar a importância desta organização judaica combater todas as formas de racismo. Isso apesar de o Estado de Israel não reconhecer oficialmente aquele genocídio, certamente para não criar mais problemas diplomáticos com a Turquia, embora a Comissão
de Educação, Cultura e Esportes do Knesset tenha votado favoravelmente ao reconhecimento. A entidade esteve a beira de fechar, há pouco mais de dez anos, mas foi salva com os recursos do Congresso Mundial Judaico, do Fundo Nacional Judaico e da Organização Sionista Mundial. E, como bem diz o título, o Brasil não se fez representar. Segundo o boletim oficial da União Mundial de Estudantes Judeus, da América Latina, só o Chile. Do Grupo Universitário Hebraico do Brasil só lembranças. Boas, aliás. Um de seus antigos presidentes, José Knoplich, chegou a
tivamente não há mais espaço na superfície e que a solução está mesmo andares abaixo do subsolo. Como diz o diretor técnico da Chevra Kadisha de Jerusalém, Yehuda Bashari, “com todo o respeito aos mortos, mas a área na superfície foi feita para os vivos”. Assim é quase certo que até os próximos anos a cidade vai ter um imenso cemitério subterrâneo como este em construção e que este ano vai receber os primeiros enterros. A primeira catacumba tem 1.300 metros de extensão e altura e largura de quinze metros. Um poço vai levar as pessoas do topo da montanha (Har Hamenuchot) até dezesseis andares abaixo da superfície da terra e ao longo de cada uma das paredes deste túmulo serão construídos três mil túmulos e o acesso será feito por elevadores, escadas rolantes e por galerias. Na parte mais baixa da catacumba será montado um museu contando como eram as cerimônias fúnebres deste nos tempos antigos e tal como descritos na Bíblia. Segundo funcionários da Chevra Kadisha,
presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo e foi diretor da Hebraica. A União Mundial de Estudantes Judeus foi criada em 1924 em Antuérpia, na Bélgica, e Albert Einstein foi seu primeiro presidente. A ata da fundação foi assinada pelo já citado Einstein e mais Sigmund Freud e Chaim Weizman. Foi com um discurso diante de uma plateia de estudantes da WUJS, em Binyanei Ha’uma, em Jerusalém, que Nathan Sharanski fez sua primeira aparição pública e um memorável discurso depois de nove anos preso na Sibéria.
enterros em catacumbas não são estranhos aos judeus e são descritos como o método preferido na época do Segundo Templo. Haverá três sistemas de enterros nestas catacumbas: no piso da catacumba mesmo, em nichos nas paredes da rocha cuja estrutura possibilita isso ou em buracos escavados diretamente na rocha. Sempre precavida com as restrições religiosas impostas pelos ultra-ortodoxos, a Chevra Kadisha fez uma pesquisa entre eles e constatou que a eles agrada nichos diretamente na rocha. De todo modo, a proposta de cemitério em catacumba foi premiada em um certame internacional de projetos subterrâneos realizado recentemente em Paris. 57
A PALAVRA
Por Philologos
O REI SALOMÃO
fazia negócios com a Índia?
O Primeiro Livro dos Reis parece guardar um registro da passagem de marinheiros israelitas pelo subcontinente indiano, a respeito da possível localização de Ophir e Tarshish, e como chegar lá de navio desde a Palestina
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mbora geralmente se escreva biografias de pessoas, mas não de línguas, David Shulman, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, nascido em Iowa, escolheu chamar seu livro mais recente acerca da língua tâmil de Tamil: A Biography (“Tâmil: uma Biografia”). Shulman, estudioso de renome mundial da família da língua dravidiana do sul da Índia, a qual pertence o tâmil, fez isso porque “em todos os lugares, olha-se para o idioma e em cada ponto em que o tocamos vemos o movimento, a vivacidade e as formas singulares de autoexpressão”. É o trabalho raro de um linguista profissional que trata da personalidade de um idioma, e não apenas de seus mecanismos formais. Shulman é apaixonado pelo tâmil e imagina que fiquemos tão fascinados por seus aspectos assim como ele. Mas se alguém conseguir percorrer todos os detalhes encontrará coisas fascinantes nos textos de Shulman. Um destes detalhes a respeito da língua tâmil que chama a atenção no livro de Shulman é a afirmação de que ela contribuiu pelo menos com uma palavra para a Bíblia hebraica: tukiyim, “pavões”, que se lê no Primeiro Livro dos Reis. Os capítulos 9 e 10 tratam de um ambicioso empreendimento marítimo realizado pelo rei Salomão em parceria com o rei fenício de Tiro, Hiram. O trecho 9:26 diz: “E o rei Salomão fez uma marinha de navios em Etsyon-Gever, que está ao lado de Eloth, na margem do Mar Vermelho... . E Hiram enviou à marinha seus servos, marinheiros que conheciam o mar, com os servos de Salomão.” 58
O versículo 10:11 então relata: “E a marinha de Hiram, que trouxe ouro de Ophir, trouxe de Ophir uma grande quantidade de árvores de almug e pedras preciosas.” E em 10:22 lemos: ”Porque o rei [Salomão] teve no mar uma marinha de Tharshish com a marinha de Hiram. Uma vez em três anos veio a marinha de Tharshish, trazendo ouro, prata, marfim e macacos e pavões.” Algumas partes disso são claras. Salomão, então, em processo de expansão imperial, precisava da ajuda de Hiram para uma frota do Mar Vermelho porque os fenícios eram exímios marinheiros, enquanto os israelitas da região montanhosa da Palestina eram mais de terra firme; e Eloth, perto de onde Salomão construiu o seu porto de Etsyon-Gever, estava, como a cidade israelense de Eilat, que tem seu nome, à frente do Golfo de Ácaba, na ponta norte do Mar Vermelho. Outras coisas são menos claras. O que são “árvores de almug”? Onde ficava Ophir? Era Tharshish (ou Tarshish, como é mais frequentemente escrito em inglês) também um lugar, ou era um tipo de navio? E o que a Bíblia quer dizer com “a marinha de Tharshish” que vem “uma vez em três anos”? Para onde e de onde ela veio, e por que em tais intervalos? Ophir, e talvez Tharshish, eram portos na Índia? Shulman, seguindo o caminho dos estudiosos do século 19, identifica três palavras de empréstimo indiano no Primeiro Livro dos Reis. Ele traça a origem de duas delas ao sânscrito, a língua indo-europeia do norte da Índia, que historicamente não está relacionada com línguas dravídicas como o tâmil, embora as duas famílias tenham influenciado muito uma a outra. Shulman observa que a palavra bíblica para marfim, shenhav, é, provavelmente, composta pelo termo hebraico shen, dente, e pelo sânscrito ibha, elefante, enquanto o hebraico kofim, “símios” ou “macacos” “certamente derivou do sânscrito kapi”. Quanto a tuki (singular de tukiyim), foi “tirado do tâmil tokai, a cauda do pavão masculino”, de acordo com Shulman. Segundo ele, é possível imaginar facilmente “os antigos marinheiros israelitas apontando para as penas da cauda esplêndida [do pavão] e perguntando aos colegas de língua tâmil qual era o nome delas”. Os que falavam tâmil teriam entendido que a pergunta se referia apenas à
cauda; os que perguntavam em hebraico teriam entendido sua resposta como referente ao pássaro inteiro. Tudo isso depende, é claro, do pressuposto de que Ophir ou Tarshish, ou ambos, fossem locais na Índia ou ao longo da costa sul da Península Arábica, o último dos portos que negociava com a Índia e onde os marinheiros israelitas poderiam ter encontrado marujos que falavam tâmil ou sânscrito. Aliás, o relato genealógico das raças do homem no livro de Gênesis, conecta um Ophir ancestral com o sul da Arábia. E, no entanto, embora a possível localização de Ophir e Tarshish tenha sido muito debatida, nada se concluiu. Para alguns, Ophir e Tarshish seria na costa leste da África, onde ouro, prata, marfim, macacos e pavões também se poderiam adquirir. Nesse caso, seria preciso procurar as origens de shenhav, kofim e tukiyim nas línguas daquela área – e para a base de almug de “árvores de almug”, também um tanto duvidosamente vinculado por estudiosos à palavra sânscrita valduka, à árvore de sândalo. Enfim, parece que estamos de fato presos em uma forma de raciocínio circular. Por um lado, uma série de palavras bíblicas se originou na Índia porque os marinheiros de Salomão chegaram lá ou as obtiveram na rota de lá. Por outro lado, os marinheiros de Salomão teriam chegado à Índia ou na rota de lá porque várias palavras indianas ocorrem na Bíblia. Existe como sair disso? Se sim, está conectada a “uma vez em três anos” (ahat le’shalosh shanim) do Primeiro Livro dos Reis 10:22. Embora nada que eu tenha lido sobre o assunto trate dessa frase (é bem possível que eu ignore a erudição disso), parece razoável supor que se refere a um período em que os navios de Salomão se afastavam regularmente de Etsyon-Gever e voltavam para lá. Onde eles poderiam ter estado nesse período? Sabemos que nos tempos antigos e medievais existia um ciclo de transporte de meio ano entre os portos do sul da Península Arábica e a costa oeste da Índia. Os navios se lançavam ao mar a cerca de 1.200 milhas do Oceano Índico separando as duas massas terrestres na primavera, quando os pri-
meiros e suaves ventos de sudoeste das monções começavam a soprar em direção à costa indiana e retornavam no outono, quando os ventos predominantes começavam a soprar na direção oposta. As estações favoritas para a navegação eram abril-maio e outubro-novembro, antes ou depois dos tormentosos meses das monções do verão e do alto mar no inverno.
Navios fantasma Mas para onde poderiam ter ido os navios de Salomão durante três anos? Se eles simplesmente navegavam pelo Mar Vermelho de Etsyon-Gever para a costa sul da Península Arábica e, de volta, eles poderiam ter feito isso em meio ano: embarcado em abril-maio, antes do verão na metade norte do Mar Vermelho, e antes de os ventos do sul na metade meridional ficarem fortes demais, e voltavam em outubro-novembro quando mais uma vez os ventos se tornavam mais fracos. Uma viagem adicional de ida e volta do sul da Península para a costa da África Oriental poderia ter sido completada em outro meio ano – em direção ao sul, quando os ventos de nordeste favoráveis ao comércio que sopram nessa região, de dezembro a meados de março, e para o norte, com os ventos do sul, que sopram de abril até meados de setembro. Em suma, os navios poderiam estar de volta a Etsyon-Gever em um ano e meio. Suponha, no entanto, que os navios de Salomão continuaram da costa sul da Arábia para a Índia. Nesse caso, seu itinerário poderia ser: Abril-maio do primeiro ano: de Etsyon-Gever para a costa sul da Arábia. Lá, enquanto descarregava e carregava mercadorias, os navios teriam de esperar um ano inteiro até o fim da tempestuosas monções de verão e os ventos de outono e inverno vindos do norte. Abril-maio do segundo ano: da costa sul da Península até a costa oeste da Índia. Nesse ponto, haveria uma espera de meio ano enquanto ouro, prata, marfim, pedras preciosas, macacos, pavões e grande quantidade de árvores de almug eram armazenados a bordo. Outubro-novembro do segundo ano: da costa oeste da Índia de volta à costa do sul da Arábia, em cujos portos se aguardaria o final do inverno. Abril-maio do terceiro ano: da costa sul da Península de volta a Etsyon-Gever. A viagem de ida e a volta teria assim levado dois anos completos. Por que então, segundo a Bíblia, a frota de Salomão voltava “uma vez a cada três anos?” Eu proponho que o motivo seja “a cada terceiro ano”, isto é, a cada primavera do terceiro ano. Se for assim, é provável que um marinheiro israelita apontando para a cauda de um pavão em um porto indiano de língua tâmil, foi informado de que era um tokai e trouxe a palavra mal interpretada com ele como presente para o hebraico. Que a palavra tenha sido mal-interpretada no início do século 19 pelo escritor da Haskalá (“Iluminismo”, em hebraico) Shimshon Bloch, no trabalho geográfico Shviley Olam, (“Caminhos do Mundo”) – em que a palavra foi interpretada como “papagaio”, que é o que significa no hebraico moderno. Mas isso é outra história. 59
GALERIA Fotos: Flávio Mello
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1. Chantal Goldfinger no lançamento de Street Style Book: Moda em Movimento, edição da revista Elle; 2. Decor em detalhe no Villa Glam, de Carlinhos Kaufman, pronto para muitas festas; 3. Família em torno do lechaim para Gabriela Guth e Dênis Plapler; 4. Coreografia de Gingi para o grupo Chaverim
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5. Diretoria do KKL Brasil recebe elogios de Ariel Goldgewicht, diretor do Departamento Latino-Americano do KKL Israel; 6 e 7. Expô em 3D de Hermes Santos prende a atenção de quem chega à Hebraica
1, 2 e 3. Quem não viu, perdeu a magia de Astad Deboo e seus dançarinos no palco do Teatro Anne Frank; 4. Anarosa armou a festa dos 90 anos de Leja, a jovial aniversariante; 5. Foi com o grupo Chai Carmel que Esthel Feldman comemorou idade nova; 6. Boris Ber, Paulo Skaf e Manoel David Korn de Carvalho em evento na Avenida Paulista; 7. Adherere-Poéticas Paralelas na Galeria de Arte reuniu Olívio Guedes e os artistas do ProCoa
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1 e 4. Clima caribenho em torno da piscina para brindar a chegada de 2018; 2. Renata e Eduardo Len levaram os pequenos; 3 e 9. Marieta e Georg Klar, Edis Feiner e Júlio Strosberg estavam lá; 5. Bufê estilo finger food by Casual Mil; 6. À meia-noite, o colorido dos fogos; 7. Banda Feelings e muitas atrações animaram a noite; 8. Famílias inteiras reunidas
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OPINIÃO
Por Eric H. Yoffie
A Trump o crédito pela decisão de Jerusalém Há dois meses, Donald Trump anunciou a transferência da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, tácito reconhecimento da cidade como capital de Israel. Em quase todo país onde há comunidades judaicas estruturadas houve manifestações contra ou a favor
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o Brasil, não. Pouco se leu, ouviu ou escreveu a respeito. Claro, os judeus ortodoxos são manifestamente a favor. Mas qual a opinião dos judeus liberais, ou daqueles que se alinham no campo da esquerda, a favor de dois Estados, de políticas menos restritivas aos palestinos e de mais entendimento com a Autoridade Nacional Palestina? Quem é favorável ao consenso pró-paz e de negociações de dois Estados aceitou a ação de Trump. Por isso, considera que não foi uma traição a favor de Netaniahu e da direita israelense e os palestinos que rejeitam a proposta de mudança da embaixada pretendem que as realidades históricas se mantenham. O centro e a esquerda dominante de Israel entenderam isso, mas os liberais e esquerdistas pró-Israel dos Estados Unidos, não. Inicialmente também não entendi assim, pois como forte defensor de uma solução de dois Estados, ao ler a declaração de Trump a respeito da capital de Israel reagi como sempre a praticamente tudo o que o presidente diz: negativamente e com desdém. Isso porque as declarações do presidente dos Estados Unidos em política externa na melhor das hipóteses têm sido inconsistentes e confusas, e na pior delas isolacionistas e xenófobas. Assim, não surpreende que logo de cara resisto a todas as palavras acerca de assuntos externos que ele profere. E esta posição foi reforçada pelos argumentos de Thomas Friedman (colunista do The New York Times) e de outros jornalistas, comentaristas, acadêmicos e especialistas em Oriente Médio cujas opiniões respeito, e que afirmavam: Trump entregou o ouro. Esses comentaristas perguntavam: por que o presidente dos Estados Unidos deveria dar ao governo de direita de Israel algo que este desesperadamente desejava sem pedir nada em troca? Por que Trump deveria tomar medidas que provavelmente levarão ao desespero e à violência contra os americanos em todo o mundo árabe? Por que ele não conseguiria registrar as preocupações palestinas a respeito de sua capital em potencial? Não apenas isso. Se o primeiro-ministro corrupto e da direita de Israel, Bibi Netanyahu, está feliz com a atitude do presidente norte-americano, não é uma boa razão para se reagir a Trump com o benefício da dúvida? Fiz isso. Afinal, aqueles favoráveis a dois Estados formam um grupo sitiado, e quando muitos nesse campo se opuseram a Trump, juntei-me a eles. Mas isso durou pouco, e por três razões. Primeiro: sou um judeu de Jerusalém. Nas 75 visitas a Israel, cerca de 60% do tempo passei em Jerusalém. Gosto do burburinho de Tel Aviv e adoro a majestade do Negev. Mas, ainda assim, apesar de todos os defeitos, para mim Jerusalém continua a cidade de insuperável beleza e evi-
dente santidade. E o judaísmo e a vida judaica não se mantêm sem Jerusalém no seu âmago. Jerusalém é e continuará sendo a capital de Israel, quer seja o presidente dos Estados Unidos a dizer isso, ou não. No entanto, reconforta e gratifica quando o presidente Trump finalmente afirma o que sei ser eterno e verdadeiro. Mais do que isso. Quando os palestinos ficam indignados e exigem justiça para Jerusalém, pergunto: onde estava a justiça quando Yasser Arafat e Mahmoud Abbas declararam na ONU que os judeus não tinham qualquer conexão histórica com o Muro das Lamentações, o Monte do Templo e, de fato, toda a Jerusalém. Logo depois da declaração de Trump, Abbas repetiu essa declaração absurda em Istambul durante reunião da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) insistindo em que os lugares sagrados de Jerusalém pertencem apenas aos muçulmanos e aos cristãos. O que podem esperar, então? Segundo: não apenas Netaniahu e a direita apoiam a declaração do presidente Trump. As lideranças do centro e centro-esquerda israelense também. O líder da oposição no Knesset, Isaac Herzog; o presidente do partido Yesh Atid, Yair Lapid; o presidente da União Sionista, Avi Gabbay e a ex-ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, aplaudiram as palavras do presidente norte-americano. Quando busco a orientação dos líderes políticos de Israel, procuro estas pessoas todas críticas de Benjamin Netaniahu e do governo de direita no poder. Todas defendem um Israel judaico e democrático e uma solução de dois Estados. Todos pedem negociações imediatas com os palestinos. E a unanimidade de seus sentimentos demonstra que proclamar Jerusalém como capital de Israel não se trata de rendição a Netaniahu nem à direita. Mas o reflexo de um amplo consenso em Israel de que certas realidades históricas precisam ser reconhecidas e os palestinos que as rejeitam não têm o direito de desejar que essas realidades desapareçam. Terceiro: li o discurso de Trump várias vezes e embora seja difícil admitir isso,
preciso dizer: foi um discurso muito bom, não totalmente adequado, mas moderado, razoável, em geral justo, e muito melhor do que temia e esperava. Quem viu isso como sinal verde para colonos e fanáticos da direita devem ler de novo. Netaniahu e a direita israelense exigem uma Jerusalém unida para a cidade ser a capital do Estado judeu e só do Estado judeu e para a soberania da cidade ficar somente em mãos judaicas. No entanto, Trump rejeitou todas essas posições, afirmando que essas questões devem ser determinadas pelas negociações entre palestinos e israelenses. Ele deixou claro que por qualquer acordo de paz Israel manteria sua capital em pelo menos parte de Jerusalém. Mas ele nada disse no sentido de impedir negociações que resultariam em um Estado palestino e cuja capital também seria em alguma parte da cidade. Além disso, o presidente não está mudando a embaixada norte-americana para Jerusalém agora nem em qualquer momento específico no futuro. Isso acontecerá em alguma data futura, ainda não determinada. Se Trump tivesse mudado a embaixada imediatamente, como aliás poderia ter feito, qualquer chance de negociações poderia desaparecer. Mas preferiu não fazê-lo, e deixou a porta aberta para conversas que agora os dois lados não querem usar. Em resumo, isso não significou entregar o ouro para a direita israelense. Israel obteve o reconhecimento de Jerusalém como sua capital pelos Estados Unidos da América. E os palestinos ouviram de Trump que ele rejeita o modelo de soberania única da cidade unida de Jerusalém que Netaniahu defende e propõe que essas questões devem ser determinadas em conjunto, por meio de negociações. Isso faz do presidente americano herói? Dificilmente. Mas ele tem uma estratégia para o que acontece agora? Não. Enquanto sempre fala em “o acordo final”, há poucos indícios da existência de um plano sério. De todo modo, o que justo é justo. O tratamento que deu ao tema Jerusalém foi responsável e, por isso, merece algum crédito.
O presidente não está mudando a embaixada norteamericana para Jerusalém agora nem em qualquer momento específico no futuro. Isso acontecerá em alguma data futura, ainda não determinada
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ENSAIO
Por Berardo Lerer*
Construída por imigrantes, a América
fecha-lhes as portas
Pouco antes de completar um ano à frente da Casa Branca, Donald Trump surpreendeu o mundo sugerindo que os “migrantes voltem aos seus países de merda”. Claro que ele se referia àqueles originários da América Latina, África, certas regiões da Ásia, repetindo o que se fazia no início do século passado em que os judeus estavam incluídos entre os indesejáveis
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ais uma vez, as estridentes declarações do presidente Donald Trump causaram furor, quando ele disser preferir imigrantes escandinavos em vez de “países de merda”. A virulência dos termos levou algumas pessoas que na década de 1920, os EUA adotaram legislação restritiva à entrada de imigrantes judeus, italianos do sul e eslavos. As pessoas se espantam quando Donald Trump sugere que os imigrantes “voltem aos seus países de merda” ou fecha as fronteiras dos Estados Unidos a imigrantes selecionados por origem étnica, geográfica, e quanto de dinheiro podem trazer para a economia norte-americana, etc. Nenhuma novidade. Este folclórico presidente apenas reproduz um padrão, pois nos Estados Unidos foi sempre assim e, durante um bom período, os judeus foram os indesejáveis. Eles eram “de padrões físicos e mentais baixos”, “imundos”, “muitas vezes perigosos em seus hábitos” e, principalmente “não eram americanos”. Eis, por exemplo, um relatório apresentado ao Comitê da Câmara sobre Imigração, em 1924, de autoria do diretor do Serviço Consular dos Estados Unidos e aprovado pelo secretário de Estado. Naquele ano, o Congresso aprovou um projeto de lei reduzindo drasticamente a imigração do leste e do sul da Europa, para atender aos sentimentos xenófobos que vicejavam em todo o país. O projeto de lei não mencionava explicitamente os judeus, mas eles foram afetados. Em 1921, vieram para a América 120.000 judeus. Depois da aprovação da lei, esse número caiu para cerca de dez mil. Na época o título de um artigo publicado na JTA (Jewish Telegraphic Agency) era claro: “A América fecha suas portas à imigração”. A retórica nativista de há um século foi reproduzida pelo presidente Donald Trump em recente reunião de legisladores, cujos participantes contaram que ele se perguntava os Estados Unidos porque deveriam permitir a imigração de pessoas de “países de merda”, incluindo aqueles da África.
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Ele sugeriu que os Estados Unidos deveriam admitir mais pessoas de lugares como a Noruega, isto é, brancos, loiros e de olhos azuis, não necessariamente nessa ordem. Diante da repercussão, Trump se defendeu dizendo que usou de linguagem “dura”, mas não o palavrão relatado, embora sua afirmação tenha sido confirmada por vários senadores. Embora os legisladores da década de 1920 não tenham usado a linguagem desabrida e tragicamente franca de Trump, eles também se opuseram a deixar entrar imigrantes dos chamados países indesejáveis – como italianos, eslavos e judeus da Europa Oriental. Imigrantes chineses, então, foram terminantemente proibidos. O senador David Reed, que deu seu nome à lei de 1924, também queria deixar entrar mais imigrantes de países “nórdicos”. A lei de 1924 foi alterada de modo a restringir ainda mais a imigração desta vez “direcionada, principalmente, aos judeus que, segundo um senador, estão imigrando para a América em quantidade desproporcionalmente grande”. Referindo-se à imigração desproporcional de judeus da Rússia, o senador disse que era “injusto para a população predominante desses países”. O senador, claro, negou ser antissemita. Sua emenda não passou e as reformas nas décadas de 1950 e 1960 acabaram com as cotas.
Um jornal americano publicou esta charge parodiando o poema de Emma Lazarus. “Enviem-me vossos jardineiros, domésticas, porteiros, mensageiros, etc”. E Trump anuncia que vai à caça deles
No entanto, esse preconceito existia décadas antes da lei de 1924. Um relatório de 1891, do senador Henry Cabot Lodge, amontoava judeus, italianos, poloneses e outros em “raças mais estranhas ao corpo do povo norte-americano”. “Aos olhos dos políticos na década de 1920, os imigrantes indesejáveis incluíam judeus, italianos e eslavos”, disse o professor de história judaica na Universidade Brandeis, Jonathan Sarna. “Aos olhos de políticos xenófobos de hoje, imigrantes indesejáveis são haitianos e africanos, latino-americanos. Nós já fizemos parte desse grupo.” Segundo Sarna, os judeus admitiam na época que vinham de condições difíceis e que estavam felizes de escapar delas. Emma Lazarus (1849-1887), aliás descendente em linha direta dos judeus que fugiram do Recife, na primeira metade do século 17 e se fixaram no que viria a ser Nova York, escreveu o soneto “O Novo Colosso”, em alusão ao Colosso de Rhodes, inscrito no pedestal da Estátua da Liberdade: Não como o gigante bronzeado de grega fama, com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra. Aqui nos nossos portões banhados
pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama é o relâmpago aprisionado e seu nome Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão brilha um acolhedor abraço universal. Os seus suaves olhos comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gêmeas. “Mantenham antigas terras sua pompa histórica!”, grita ela com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres, as suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade O miserável refugo das suas costas apinhadas. Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades, Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.” A diferença, disse Sarna, é que o poema e os judeus viram essas condições difíceis como motivo para deixar os imigrantes entrarem no país, não para recusá-los. “Para muitos judeus e muitos norte-americanos, quando pensam a respeito das próprias raízes, lembram que vieram de lugares que as pessoas não descreveriam de modo particularmente generosa”, disse Sar-
O projeto de lei não mencionava explicitamente os judeus, mas eles foram afetados. Em 1921, vieram para a América 120.000 judeus. Depois da aprovação da lei, esse número caiu para cerca de dez mil. Na época o título de um artigo publicado na JTA (Jewish Telegraphic Agency) era claro: “A América fecha suas portas à imigração”
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ENSAIO
Nos anos 1920, crianças de diversas origens aguardam em Ellis Island permissão para entrar nos Estados Unidos
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na. “Eles olhavam para a América como um refúgio, a terra dos homens livres e dos bravos onde eles teriam grandes oportunidades e conseguiriam coisas maravilhosas.” Mas é importante notar que os judeus eram apenas uma pequena parcela dos imigrantes que enfrentaram essa intolerância após a Primeira Guerra, disse a diretora do Centro Goldstein-Goren para a História dos Judeus Norte-Americanos na Universidade de Nova York, Hasia Diner. Para os italianos do sul, considerados toscos e rústicos impossíveis de se educar, a situação era muito pior, observou. “Dizia-se que eles não podiam se encaixar na orientação norte-americana de progresso e sair-se melhor, e seriam para sempre trabalhadores braçais”, disse Diner sobre atitudes em relação aos italianos do sul. Ela afirmou que os judeus, ao contrário, eram vistos como “um tanto bem-sucedidos demais, um tanto insistentes demais, seguindo muito rapidamente essa trilha norte-americana. Eles eram vistos como concorrentes”. Sarna e Diner disseram que temores semelhantes animavam os nativismos da década de 1920, e hoje. Em ambos os casos, esses comentários depreciativos tinham como base o medo do outro e de uma cultura estrangeira, que irá perturbar a sociedade norte-americana branca. “Temia-se que esses imigrantes mudas-
sem o país, o que na verdade fizeram, tornando-o menos protestante, menos centro-europeu e nórdico e assim por diante”, disse Sarna. “Hoje é o mesmo. E eis que o presidente quer mais imigração da Noruega; então, nesse sentido, do ponto de vista histórico, nada mudou”. Deixando a linguagem inconveniente de lado, alguns sugeriram que os comentários do presidente podem ser entendidos como uma maneira contundente de tratar de um debate recorrente na sociedade norte-americana: os Estados Unidos devem aceitar os imigrantes como parte de seu dever de estender a liberdade e a oportunidade aos que estão lutando pelo mundo, ou o sistema deve se concentrar no que um imigrante pode contribuir para a economia ou a sociedade? Trump ainda disse que ele se opunha a qualquer legislação que forçasse os Estados Unidos a “aceitar um grande número de pessoas de alta criminalidade... países que estão em más condições. Eu quero um sistema de imigração com base no mérito e pessoas que ajudarão a levar o nosso país ao próximo nível”. Outros países – incluindo Austrália, Canadá, Grã-Bretanha e Nova Zelândia usam um sistema de pontos de modo a favorecer os imigrantes com mais educação e experiência, por exemplo. Sarna contesta a ideia de que pessoas de países oprimidos são ruins para os Estados Unidos, observando o quanto refugiados judeus e descendentes contribuíram para a sociedade norte-americana. Ele também rejeitou a ideia de que Trump estava simplesmente expressando uma preferência por imigrantes altamente qualificados, dizendo que se quisesse dizer isso, teria dito. “Há pessoas de todos os tipos de países que cometem crimes, mas quando atribuímos esses pecados ao grupo todo, essa é a expressão e a essência do racismo”, disse Sarna. “O problema aqui é que, em vez de usar critérios objetivos, estamos utilizando critérios raciais e geográficos.” *A partir de informações da JTA
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CONSELHO DELIBERATIVO CALENDÁRIO JUDAICO ANUAL
2018 Fevereiro 28
4ª FEIRA
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5ª FEIRA 6ª FEIRA 6ª FEIRA SÁBADO
PURIM SHUSHAN PURIM EREV PESSACH - 1º SEDER PESSACH - 2º SEDER
1 *6 7 12 18
DOMINGO 6ª FEIRA SÁBADO 5ª FEIRA 4ª FEIRA
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5ª FEIRA
PESSACH- 2º DIA PESSACH- 7º DIA PESSACH- 8º DIA IZKOR IOM HASHOÁ- DIA DO HOLOCAUSTO IOM HAZIKARON - DIA DE LEMBRANÇA DOS CAÍDOS NAS GUERRAS DE ISRAEL IOM HAATZMAUT - DIA DA INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL - 70 ANOS
Março
O papel do Conselho nos dias de hoje E aqui estou novamente com vocês, agora na condição de presidente do Conselho da nossa querida Hebraica. O Conselho Deliberativo é o poder legislativo e de orientação do clube e esse será nosso norte na gestão à frente do Conselho. Com a experiência do trabalho executivo no clube é mais fácil entender o papel do Conselho atualmente. Estou plenamente convencido de que precisamos avançar e servir de apoio real para a Diretoria Executiva que, aliás, iniciou a gestão com excelente trabalho, muita dedicação e o espetacular comando de Daniel Bialski. Temos obrigação de modernizar nosso Conselho na forma de um Estatuto mais moderno e adequado aos dias de hoje, estrutura do Conselho, dinâmica das atividades dos conselheiros e das reuniões entre outros desafios que temos nesta nova caminhada. Temos uma equipe bem capacitada para fazer esse trabalho e vamos fazê-lo com muita dedicação e empenho. Nas próximas edições vamos contar a evolução e discutir estratégias e quais as possibilidades adaptar para fazer uma Hebraica cada vez melhor mais forte e democrática. Fico muito feliz em poder continuar contribuindo para nossa instituição e para nossa comunidade, pois a continuidade judaica é fundamental. Shalom Avi Gelberg Presidente da Mesa
Reuniões Ordinárias do Conselho em 2018
19 DE FEVEREIRO 16 DE ABRIL 13 DE AGOSTO 12 DE NOVEMBRO 10 DE DEZEMBRO
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AVRAHAM GELBERG ELISA R. NIGRI GRINER VANESSA KOGAN ROSENBAUM ISABEL R. DE ALMEIDA KOHN MARISA DE AIZENSTEIN
ASSESSORES:
Abril
Maio
3 13 19 20 *21
Julho
1 21
22 27
5ª FEIRA LAG BAÔMER DOMINGO IOM IERUSHALAIM VÉSPERA DE SHAVUOT SÁBADO DOMINGO 1º DIA DE SHAVUOT 2ª FEIRA 2º DIA DE SHAVUOT - IZKOR DOMINGO JEJUM DE 17 DE TAMUZ SÁBADO INÍCIO DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER DOMINGO FIM DO JEJUM DE TISHÁ BE AV AO ANOITECER 6ª FEIRA TU BE AV
Setembro ** ** ** ** **
9 10 11 18 19 23 * 24 * 25 30
DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª FEIRA DOMINGO 2ª FEIRA 3ª FEIRA DOMINGO
Outubro * 1 * 2
2ª FEIRA 3ª FEIRA
Novembro 5
2ª FEIRA
Dezembro
MES SA DO CO CONSELHO PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE 1O SECRETÁRIO 20 SECRETÁRIO
1 2 30 31
JAIRO HABER DANI AJBESZYC ALBERTO SAPOCZNIK JEFFREY A. VINEYARD ROBERTO PIERNIKARZ MANUEL DAVID KORN
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DOMINGO DOMINGO
VÉSPERA DE ROSH HASHANÁ 1º DIA DE ROSH HASHANÁ 2º DIA DE ROSH HASHANÁ VÉSPERA DE IOM KIPUR IOM KIPUR VÉSPERA DE SUCOT 1º DIA DE SUCOT 2º DIA DE SUCOT VÉSPERA DE HOSHANÁ RABÁ 7º DIA DE SUCOT SHMINI ATZERET- IZKOR SIMCHAT TORÁ DIA EM MEMÓRIA DE ITZHAK RABIN AO ANOITECER, 1A. VELA DE CHANUCÁ AO ANOITECER, 8A. VELA DE CHANUCÁ
* não há aula nas escolas judaicas ** o clube interrompe suas atividades, funcionam apenas os serviços religiosos