O alienista em quadrinhos MDP

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MACHADO DE ASSIS

O ALIENISTA Adaptação Adaptação ee Ilustrações Ilustrações de de Francisco Francisco Vilachã Vilachã

E nsino M édio

MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR autoria de Gustavo Assano CC BY NC 4.0 International


O alienista

São Paulo, 2021 – 1a- edição Material Digital do Professor Ensino Médio

Responsabilidade editorial: Ana Mortara Coordenação editorial: Estúdio Caraminhoca Autoria: Gustavo Assano Revisão: Equipe Casa de Letras

Casa de Letras Rua Fradique Coutinho, 1139 Vila Madalena - São Paulo - SP Tel. 011 2157-3687

Produzido sob licença CC BY 4.0 International


Sumário

Carta aos professores .............................................. 5 Propostas de atividades 1 ........................................ 6 Propostas de atividades 2 ...................................... 18 Para aprofundar ..................................................... 32 Sugestões de referências complementares ....... 37 Bibliografia Comentada ....................................... 38



Carta aos professores Caro educador/educadora, Este manual busca estabelecer pontos de contato entre a matéria literária apresentada neste livro e você, que é quem de fato coloca em prática o processo educativo. O presente volume consiste numa adaptação para a forma de história em quadrinhos daquele que é considerado um dos mais densos e mais bem-acabados contos da fase madura da escrita de Machado de Assis. O fato de ser uma adaptação em HQ não pode ser tratado como mero detalhe. Aqui serão fornecidas uma série de questões, propostas de atividades e materiais suplementares que permitirão elaborar o quão proveitoso o uso dessa forma pode ser. Esperamos que ache útil e divertido! O conto adaptado é O Alienista, que integra o livro Papeis avulsos, de 1882, publicação esta que reúne o que para muitos são alguns dos mais geniais experimentos narrativos desta fase da trajetória artística do autor. Na narrativa que aqui apresentamos, são expostas algumas das características mais marcantes que tornaram a escrita do Bruxo do Comes Velho tão celebrada: a paródia filosófica rebuscada, o ceticismo sobre o progresso como mero arremedo de doutrinas modernas, a ironia sofisticada e ferina contra convenções que escancaram hipocrisias sociais, o olhar arguto e sensibilidade de difícil comparação para compor comédias de costumes. Nesta adaptação de O Alienista, o leitor encontrará algumas das mais ambiciosas tematizações literárias de Machado de Assis em termos de desdobramentos filosóficos e de satirização sobre implementação de ideias da moda. A lâmina retórica do autor será apontada para as ambiguidades inesperadas sobre a ciência como disputa por poder e preservação de status social. A linguagem em quadrinhos permitirá que estes temas e questões sejam apresentados com objetividade e com diferentes consequências expressivas para serem discutidas. Esperamos achem útil para um bom trabalho em sala de aula! O alienista

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Propostas de atividades 1 1) Tema: O universo das HQs relacionado com prosa romanesca e cinema. (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um acervo pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio cultural. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

Conteúdo: Apresentação das histórias em quadrinhos enquanto forma específica de expressão artística compreendida e comparada com formas literárias em prosa e formas cinematográficas. Objetivos: Capacitar alunos para a compreensão das histórias em quadrinhos como forma e gênero artístico que possui uma especificidade expressiva, e para a distinção entre esta forma e a especificidade das formas narrativas em prosa, bem como das formas cinematográficas. Justificativa: A forma de composição de obras ficcionais a partir de história em quadrinhos representa uma forma de comunicação de massa amplamente difundida e profundamente consolidada em termos de penetração popular. Neste sentido, sob um primeiro olhar, não há grandes desafios em propor que se leia uma obra escrita no formato de história em quadrinhos para educandos. Em boa medida, a maior parte destes jovens já se familiarizaram com sua estrutura de composição, suas convenções básicas de apresentar personagens, espaços, temporalidades e dinâmicas de enredo.

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No entanto, tal como acontece com a maior parte dos temas relacionados à conversas e discussões sobre obras de arte e apreciação de escrita literária, dificilmente alguém gastou alguns minutos refletindo sobre como estes elementos estão dispostos em termos de consolidação da forma específica em que este material é consumido. Não é muito diferente do que se passa quando se tenta discutir um romance ou um poema narrativo. Ao perguntar sobre as impressões sobre um livro como, digamos, Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, alguns dirão que acharam o personagem Leonardo Pataca engraçado e divertido, enquanto outros poderão acha-lo cruel e irresponsável; alguns poderão achar o enredo dinâmico ao ponto de não poder largar o livro, e outros acharão uma chatice sem fim. Independente destas posições, é muito fácil esta conversa ser desfiada esquecendo-se que a forma lidada é a de um romance, assim como é deixado de lado a consciência sobre quais elementos da leitura são específicos dessa forma artística. Pois bem, a mesma preocupação pode estar presente quando se discute uma história em quadrinhos com estudantes em sala de aula. Tanto uma revista em quadrinhos quanto um romance dispõem narrativas que se constroem a partir de enredo, foco narrativo, personagens, linguagem contextual e variedade de recursos de narração. E por terem estes elementos em comum, ambos também podem trazer grandes questões a partir de problemas da natureza do material fictício, do papel do leitor e da importância e maneira de emitir juízos de valor. Cabe ao professor atentar e enfatizar o fato de que ao se discutir estes elementos, se está assimilando construções formais comuns à prosa literária, assim como ao cinema de ficção.

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Metodologia: Numa primeira rodada de conversa, é possível que muitas de algumas das mais célebres HQs de super-heróis sejam mencionadas, como Homem-Aranha, Batman, e X-Men. Talvez seja da predileção de alguns as revistas derivadas de tirinhas humorísticas e espirituosas como Calvin, Asterix, Turma da Mônica ou até mesmo a obra da Laerte ou a Mafalda de Quino. Pode ser que na sala de aula já se possa encontrar aficionados do gênero, havendo citações de obras consideradas de grande maturidade da forma, como as de Alan Moore ou Neil Gaiman (nunca se deve subestimar as possibilidades de contato dos estudantes com uma forma artística tão diversa e tão massificada!). Ao propor esta atividade, que pode ser das mais descontraídas, é importante que se incentive nos alunos: - A compreensão e consciência sobre o amplo leque de possibilidades sobre a variação de formas de contar histórias e de apresentar gêneros narrativos. Por mais que alguém goste de tirinhas concebidas por Maurício de Souza e não aprecie tiragens limitadas da Marvel, é importante que se articule e enuncie esta diferenciação a partir de elementos das obras levadas em conta pelos alunos. - A reflexão sobre os conteúdos das obras citadas na atividade. São muito bem-vindas perguntas simples como “por que você gosta dessa HQ?”, ou “por que você não gosta desse personagem?”. Aqui o educador também é um facilitador no convite para que os alunos elaborem sobre o próprio gosto, ainda que seja uma fase inicial da conversa sobre forma proposta em sala de aula. Desta forma os alunos se sentirão incentivados a lidar com a obra a ser lida em sala de aula como uma continuidade da fruição estética que já trazem tida como hábito extra-escolar. No entanto, não se deve deixar de levar em conta que se trata agora de uma discussão compromissada e não um mero momento de lazer. - A compreensão da existência de um alto nível de informação em diferentes gêneros de histórias em quadrinhos, com elemen-

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tos passíveis de serem absorvidos e discutidos em sala de aula. O próprio conhecimento do educador sobre a forma será de grande proveito nessa questão, pois é deste material que informações são constantemente absorvidas e assimiladas à própria linguagem dos educandos. Ao longo desta atividade, uma clássica comparação que poderá ser feita é sobre a relação entre histórias em quadrinhos e a forma do cinema. É muito possível que alguns alunos terão chegado ao universo das HQs tendo como primeiro contato com personagens célebres através de obras cinematográficas. Será de grande proveito enfatizar as proximidades entre estas formas, ambas de natureza primordialmente visual, dependendo de imagens para fazer narrativas progredirem, mas também concebendo o cinema como dependente de elementos de natureza diversa, como o som para o cinema e o texto escrito para os quadrinhos. Ao estabelecer esta relação, porém, é de grande importância enfatizar que estes meios não são idênticos. Ao assistir um filme, o espectador toma uma atitude muito mais passiva do que quando alguém lê uma revista em quadrinhos. Quando uma cena de filme se encerra, obrigatoriamente se assistirá a sequência seguinte, não sendo mais possível revisitar o trecho passado quando assistido no cinema. É desta forma que o diretor organiza o ritmo da recepção de seu público, fruindo da obra em plena passividade. Histórias em quadrinhos, por outro lado, cobram do leitor uma atitude ativa, não muito distante da leitura de um romance em prosa. Pode-se ler uma página em alguns segundos, ou pode-se contemplá-la por muitos minutos a fio, sendo da escolha do leitor o ritmo da experiência de apreciação. Um grau maior de interatividade e compromisso é cobrado dos leitores de HQ e estas diferenças não podem ser perdidas de vista nesta conversa introdutória. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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2) Tema: As especificidades da forma HQ. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

Conteúdo: Apresentação de elementos estruturais e estilísticos específicos da forma artística história em quadrinhos a partir do desenvolvimento de conhecimentos prévios do contato com esta forma. Objetivos: Capacitar os alunos para a identificação e articulação de elementos estruturais e estilísticos específicos da forma história em quadrinhos, bem como romper com prévias ideações sobre a oposição entre arte elevada e arte de menor valor em relação a outras formas artísticas, como o romance moderno. Espera-se que com esta aula os alunos tenham os instrumentais necessários para ler uma história em quadrinhos conscientes da linguagem específica desta forma Justificativa: Num momento prévio à leitura da obra em questão, se tem uma boa oportunidade de quebrar preconceitos antigos sobre os quadrinhos como uma cultura menor e as obras romanescas em prosa como necessariamente fonte de elevação por mera convenção do gênero literário. Romper este preconceito é uma forma de furar o bloqueio da intimidação que os grandes nomes da literatura podem fazer recair sobre jovens leitores.

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Metodologia: Propor, seja em duplas ou individualmente, em discussão ou por escrito, que os próprios alunos façam uso de seu conhecimento prévio sobre a forma em quadrinhos e elenquem quais elementos desta forma se diferem de um romance em prosa. Conforme diferentes recursos técnicos são elencados, poderão ser reunidos na lousa, como balões de diálogo, caixas de narração, quadros sequenciados, balões de pensamento, onomatopeias ou imagens. - A partir dessa decomposição, que pode ter maior ou menor amplitude dependendo do que é reunido pelos estudantes, usar um exemplo que concentre uma sequência de três quadrinhos. Pode ser tirado do próprio livro que este manual introduz! - Proponha que, em duplas ou individualmente, se discuta e se coloque por escrito o que acham que está acontecendo na sequência de três imagens, independente dos balões de diálogo. É a oportunidade de encorajar que refinem e reflitam sobre o plano icônico e imagético dos quadrinhos independente do plano textual. Peça que cada dupla ou aluno individual leia o que redigiram. Nas orientações desta atividade, as seguintes ênfases podem ser dadas: Peça que relatem o que está acontecendo; que articulem como eles sabem disso; que digam como a sequência de imagens faz com que se sintam em relação aos personagens ou situação apresentada, e por quê sentem-se assim; que descrevam como os personagens se sentem, e que justifiquem a elaboração da resposta com elementos presentes nos quadrinhos.

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A partir do material fornecido pela discussão, uma série de elementos serão levantados para se esmiuçar a especificidade da forma de histórias em quadrinhos. Poderá ser sublinhada a importância da linguagem corporal e expressões faciais de personagens desenhados. Poderá ser discutido como imagens estáticas por si só podem contar histórias e, ao dispô-las em sequência, como uma progressão de conteúdos narrativos acontece. Será também uma oportunidade de discutir o papel das cores, quando são vivas, quando são neutras, ou até mesmo ausentes, trazendo ênfase para a consciência das escolhas artísticas das composições cromáticas dos quadros. Se poderá discutir a função da combinação entre linguagem verbal e imagética, entendendo-as como inter-relacionadas seja por complementariedade, seja por contradição (o que o personagem diz pode não ser condizente com o que é mostrado pelo quadro). Assim, se poderá apresentar os elementos básicos da construção narrativa em quadrinhos não a partir de exposições teóricas, mas da articulação da prática interpretativa sobre o material em questão. Esta consciência da forma artística poderá ser trabalhada a partir de conhecimentos que os alunos já possuem! Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.

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3) Tema: A relação da forma literária em prosa com a linguagem dos HQs. (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um acervo pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio cultural.

Conteúdo: A especificidade da atividade de leitura e a necessidade do uso da imaginação do leitor para o bom aproveitamento do material fruído esteticamente na forma histórias em quadrinho e a diferenciação dos mesmos elementos para relacionar-se com a escrita em prosa. Objetivo: Capacitar os alunos para o exercício ativo e progressivo do exercício da imaginação para ir além dos elementos dispostos nos quadrinhos, bem como saber diferenciar ativamente a forma do exercício imaginativo para a fruição de textos em prosa. Justificativa: Um dos elementos básicos a se levar em conta ao tratar da forma história em quadrinhos é a fixidez da narrativa, em que momentos-chave da história são revelados pela expressão visual e outros são deixados a cargo da imaginação do leitor. Neste sentido, os estudantes são constantemente convidados a pensar quando leem histórias em quadrinhos, complementando na imaginação o que não está expresso em composição gráfica. Uma forma clássica do uso de histórias em quadrinhos em sala de aula em que estas facetas são exercitadas é quando o professor fornece uma tirinha qualquer e pede que os alunos completem os balões de diálogo em branco de forma que o conteúdo do texto verbal se harmonize com o que foi apresentado visualmente como ação narrada.

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Este precedente tão comum sobre o uso desta forma em sala de aula pode ser aproveitado para refletir sobre o sentido da adaptação de um meio artístico para outro. Dentro das possibilidades expressivas que se compõem num livro de histórias em quadrinhos, se pretende refletir sobre a compreensão da relação de adaptações como tradução de uma determinada forma de construir códigos simbólicos narrativos para outro, sem que a passagem da linguagem verbal para a icônico-textual seja vista como redução, limitação ou perda de complexidade. Metodologia: A partir de uma página ou coluna de histórias em quadrinhos, propor que se escreva em sala de aula um parágrafo que narre em prosa o material visual e textual em forma de HQ. O professor poderá justamente incentivar que o estudante complete com o uso da imaginação e organizando em forma de texto em prosa o que é apenas sugerido e não explicitado pelo material gráfico. Com o resultado do exercício feito pelos alunos, se terá a oportunidade de apontar como muitas linhas podem ser resumidas numa única unidade visual, um único quadro da HQ, ou como o contrário também vale, ou seja, como uma frase curta, ou um parágrafo de poucas linhas, ao omitir detalhes, pode resumir o conteúdo de uma página com 12 ou mais quadros. Desta feita, se terá claro e em termos práticos o que se deve ter em mente ao se levar em conta a leitura de uma adaptação de um meio para outro, que no fundo não é nada mais e nada menos que a tradução de um código expressivo (texto em prosa) para outro (HQ). Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.

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4) Tema: A identificação do estatuto de narrador não-confiável machadiano na adaptação em quadrinhos de O Alienista. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP49) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

Conteúdo: As escolhas estilísticas e artísticas que compõem o narrador não-confiável na adaptação em quadrinhos de O Alienista. Objetivos: Incentivar nos alunos e capacitá-los para a identificação dos diversos recursos estilísticos, retóricos e pictóricos da construção narrativa machadiana na adaptação em quadrinhos de O Alienista. Justificativa: Tendo familiarizado os educandos com as questões sobre as especificidades da forma história em quadrinhos e suas diversas dimensões e possibilidades de composição em termos de construção narrativa, se tornará proveitoso enfatizar quanto destes recursos foram aproveitados para a adaptação de O Alienista. Após a leitura do livro em HQ, certas escolhas artísticas e soluções de representação podem chamar atenção. Não são abundantes o uso de diálogos em balões, pois são as caixas de narrador onisciente que estão sempre conduzindo a progressão do enredo. Por vezes, os quadrinhos parecem muito mais compor uma ilustração do que a narração diz do que pautar uma progressão dinâmica de ações dramáticas de personagens em colisão “empurrando a trama”. Esta

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relação é uma marca da prosa machadiana, aqui colocada nas caixas de narração, que não se refere diretamente aos acontecimentos, mas pela referência a terceiros. A prosa de O Alienista é organizada a partir de um narrador onisciente, estabelecido em terceira pessoa, mas que coloca como mediador de suas colocações uma série de fontes que trazem ao relato elementos de parcialidade. Em diversos momentos se faz referência aos “cronistas itaguaienses” do período joanino, que sempre estão ou em consenso ou em divergência sobre as versões dos fatos narrados. Também não se apresenta com precisão os anos em que a trama se passa. Por vezes o narrador se baseia em sínteses de opiniões divergentes, o que torna os eventos narrados versões do que pode ou não ter ocorrido, por vezes toma como ponto de passagem da trama elementos de disse-me-disse entre os congêneres opinando sobre as diversas mudanças na ordem e desordem municipal de Itaguaí. Ora, com estes diversos elementos de mediação se torna difusa a verdade sobre o que é narrado em pontos específicos sobre o que firma relações de fidelidade e compromisso entre os personagens, o que é elogio oportunista ou o que é juízo formulado pelo medo da autoridade científica do alienista Bacamarte e o que é convicção política real. Estes elementos que espalham pequenos buracos e manchas na integridade dos diversos personagens e eventos milimetricamente colocados com destreza artística na evolução da narrativa são os traços estilísticos da narrativa machadiana que permitem atestar a não-confiabilidade do narrador. É preciso, portanto, enfatizar aos leitores os recursos estilísticos que pautam um distanciamento reflexivo por trás das escolhas artísticas na narrativa e seus efeitos sobre o leitor. Metodologia: Com os alunos divididos em pares ou em trios, apresente os dois quadrinhos dispostos na página 25. Proponha que debatam e reflitam o sentido dos dois momentos da narrativa

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colocados em cada quadro. Enfatize como elementos a serem levados em conta: O contraste das opiniões entre a “opinião que pegou” sobre a internação dos “desequilibrados” na Casa Verde como um “cárcere privado” e a opinião dos “cronistas do tempo”; o contraste entre as formas de desenhar e apresentar a fisionomia dos personagens retratados, a diferença de ângulo de exposição, de uso de cores e a relação da imagem com o texto, o que as imagens complementam e que não está apresentado textualmente e o que elas reiteram. Motive os alunos a pensarem o que estas informações em contraste e os pontos de vista apresentados pelo narrador revelam sobre a situação da cidade e sobre os personagens D. Evarista e Simão Bacamarte. Proponha que escrevam ou coloquem para toda a sala as conclusões a que chegaram As diversas opiniões sobre estes dois personagens apresentados ao longo de toda a narrativa podem ser discutidas a partir desta página. A questão a ser enfatizada é a narrativa estruturada em “disse-me-disse”. A realidade não é absorvível de maneira objetiva, pois Machado se distancia dessa dimensão. A figura do narrador não confiável é um recurso que cria diferentes perspectivas para trazer a dúvida na composição formal da narrativa. Assim, se enfatiza o convite à reflexão por trás do questionamento, que permite ver e perceber coisas novas naquilo que está sendo dito ou desdito.

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Propostas de atividades 2 1) Tema: A oposição entre loucura e sanidade apresenta-

da em O Alienista.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

Conteúdo: A oposição entre equilíbrio e desequilíbrio mental e o sentido desta oposição na teoria científica de Simão Bacamarte sobre as patologias humanas e na composição da narrativa em O Alienista. Objetivos: Capacitar e incentivar nos alunos a reflexão sobre os sentidos que os elementos que opõem insanidade e equilíbrio das faculdades mentais imprimem sobre a compreensão do enredo de O Alienista.

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Justificativa: O enredo de O Alienista é dividido em diferentes planos narrativos e em subcapítulos que organizam as diversas reviravoltas inesperadas e jocosas na consolidação do projeto de Simão Bacamarte e a construção da casa de orates (hospício) para Itaguaí. As etapas destas reviravoltas são três, cada uma revelando revisões e desdobramentos da grandiosa teoria: Na primeira, Bacamarte afirma que a saúde mental está no equilíbrio perfeito das faculdades e que tudo que escape disso é insanidade e desvio do bom funcionamento psíquico. Sendo coerente com o que identifica nesta visão de mundo, quase toda a cidade é presa e se instala o terror na cidade, termo que dá nome ao mais longo dos capítulos da narrativa. Na segunda etapa, Simão inverte o sentido da primeira e conclui que é o desequilíbrio das faculdades mentais que indicam normalidade, sendo agora o perfeito equilíbrio indicador de anormalidade psicológica. Agora, como dita a lógica, manda soltar os desequilibrados e prende os equilibrados. A cidade responde com alívio, pois agora é apenas uma minoria que está presa. Como processo de cura, o tratamento clínico consiste em infundir defeitos e desvios disponíveis no meio social na mente equilibrada dos novos doentes. Na terceira etapa, o alienista, bajulado pelo cordão de aduladores de autoridade, passa a acreditar que é um homem sem nenhum defeito, e então, empurrado pela própria lógica, tranca a si mesmo no asilo, onde morre sozinho depois de um tempo. Como se vê, a oposição e reversibilidade entre insanidade e equilíbrio mental são os elementos que ditam os momentos decisivos da progressão da narrativa, transformando a teoria de Simão Bacamarte em momentos que revelam o sentido das guinadas da fábula central. Ao exercitar a capacidade de distinguir estes momentos e o que eles revelam sobre o que está sendo narrado em cada momento, se esclarece melhor para um público não iniciado o que está sendo mobilizado pela narrativa.

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Metodologia: Formar entre os alunos duplas ou trios. Propor aos estudantes a leitura das páginas 49 e 50, que compõem o capítulo XI, “O assombro de Itaguaí”, quando são lidas as alterações firmadas pelo alienista sobre o funcionamento da Casa Verde e o critério das internações. Proponha que escrevam ou formulem para ser relatado depois para a sala o que de decisivo está se desdobrando neste capítulo. Na orientação para a atividade, enfatize e incentive a atenção sobre os aspectos narrativos e gráficos na forma de exposição deste momento de guinada da narrativa. São úteis as questões: Como a narrativa escolhe expor o conhecimento da população sobre a nova situação? Como é apresentado nos quadrinhos essa nova situação? O que a mudança apresentada revela sobre a teoria de Simão Bacamarte sobre a insanidade e normalidade das pessoas? O que uma mudança tão brusca revela sobre a seriedade dos pressupostos científicos nos critérios das internações na Casa Verde? Por que um coletivo de pessoas é apresentado na página 49 como forma de expor a nova situação? Qual a importância da exposição da câmara municipal neste momento da narrativa? Por que o narrador aponta que com as novas medidas a população sente assombro e alegria? Esta será uma oportunidade para recapitular os acontecimentos da narrativa usando um momento decisivo de guinada como pretexto para organizar acontecimentos passados e refletir sobre o que se desdobrará depois. Assim, a loucura e a sanidade tal como concebidas nas teorias de Simão Bacamarte não serão pensadas apenas como conceitos abstratos ou dimensões antitéticas de uma teoria, mas também elementos que ditam o andamento da narrativa e os momentos de guinada da fábula. Desta forma, as diversas questões políticas, científicas, socais e culturais que os temas da narrativa despertam não estarão separados do movimento interno da narrativa.

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A loucura não é apenas uma teoria sobre uma patologia atribuída cientificamente, mas também um impasse coletivo, e o reconhecimento da loucura, um dilema ético e político. Discutindo como se organiza a teoria enquanto momentos de reviravolta de enredo, também se discute as posturas e reações de alívio e apreensão de toda uma cidade que se indigna de maneira oportunista sobre quem pode e não pode ser colocado em isolamento por não questionar a autoridade do discurso científico. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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2) Tema: A oposição entre província e metrópole retrata-

da em O Alienista.

(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos. (EM13CHS206) Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de localização, distribuição, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem para o raciocínio geográfico.

Conteúdo: A oposição entre elementos de cultura universal europeia, índices de modernidade e progresso, e elementos de cultura local de país periférico de fortes tinturas coloniais ainda distante dos critérios de progresso nacional tal como percebidos na narrativa de O Alienista. Objetivo: Capacitar e incentivar alunos a exercitarem a leitura de elementos centrais sobre os dilemas políticos e culturais que Machado busca satirizar em sua narrativa a partir da oposição entre cultura e ciência universal e cultura local de país ex-colônia tornado recém-independente. 22

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Justificativa: É marcante na apresentação do personagem Simão Bacamarte a oposição entre cultura local e cultura europeia. Afinal, Bacamarte é apresentado como “filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas”, tendo estudado em Coimbra e Pádua e tendo recusado o cargo de regente da Universidade de Coimbra ou administrador dos negócios da Coroa. O que motiva essa recusa? Esclarece o respeitado cientista de sangue nobre: “A ciência é meu emprego único: Itaguaí é meu universo”. Há implícita, portanto, uma identidade entre Itaguaí e o universo, que para o personagem são o mesmo. Nesta postura há algo de paródico, mas não é tão evidente do que se dá risada ao se perceber a ironia. Há algo de sincero e algo de absurdo na posição expressa, pois soa como indício da mais pura ingenuidade provinciana e ao mesmo tempo parece exprimir a sensata compreensão de que o universal está em todo lugar e que não se pode acessar o universal senão pelo local. Com esta breve fala de Simão Bacamarte o leitor é confrontado com uma linha mestra de toda a prosa madura de Machado de Assis, que são as continuidades e descontinuidades entre cultura local de ex-colônia e aspirações universais do liberalismo europeu que serve de modelo a jovens nações. Itaguaí é descrita como cidade pertencente a um país de hábitos ainda de ares coloniais, mas que é confrontada com a última moda do mundo moderno da ciência, que é relacionada à missão de modernização e civilização de hábitos sociais. Não é apenas no personagem de Simão Bacamarte que se expressa essa questão, mas em diversos pontos da narrativa, como, por exemplo, a comparação entre o processo de aplicação dos procedimentos de internação da população na Casa Verde e diferentes momentos da história da Revolução Francesa, como o Terror e a Queda da Bastilha. Será de grande proveito para a compreensão da narrativa explorar o sentido destas comparações.

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Metodologia: Com alunos em pares ou individualmente, propor a leitura detida da página 32 da adaptação em quadrinhos, em que são apresentadas a palavra de ordem “Bastilha da razão humana” e que a revolta dos Canjicas leva o narrador a comparar Itaguaí com os acontecimentos revolucionários de Paris. Após a leitura da página, pedir por impressões dos estudantes em relação ao que se desdobra ao longo deste momento da narrativa. Diversas questões podem servirem de facilitadoras para a reflexão: O que a comparação com a Bastilha faz o leitor entender sobre a situação apresentada? Qual a diferença entre a reação do vereador Sebastião Freitas com a comparação e o momento em que o barbeiro a concebe? O que há de coerente e o que há de absurdo na comparação? Num primeiro momento pode parecer que a paródia da Revolução Francesa com o protótipo de sanatório de Itaguaí seria uma maneira de caçoar do provincianismo brasileiro com aspirações impróprias dos acontecimentos heroicos franceses. Mas a questão é mais complexa que isso, pois o contrário também pode ser lido na forma de conceber a comparação. O ceticismo machadiano mostra que a grandiloquência romântica das glórias do centro do mundo de então, ou seja, a Europa, na verdade guardava similitude com o caráter provinciano de Itaguaí. Tanto um quanto outro dependem de interesses políticos, jogos de aparências e pretensões não expressas, bem como formas de insurreição cuja dignidade depende de compreensão de situações políticas concretas a despeito das consequências últimas. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos.

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3) Tema: A ambiguidade entre ciência e ideologia em O Alienista como paródia de costumes. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

Conteúdo: O estatuto ambíguo entre ciência, que se quer objetiva e imparcial, e ideologia, ou seja, o que é parcial e subjetivamente determinado por interesses socialmente motivados, e a maneira como esta ambiguidade serve de mecanismo satírico sobre convenções sociais da cultura brasileira recém-urbanizada. Objetivo: Capacitar e incentivar nos alunos a identificação e reflexão sobre o uso do estatuto ambíguo da relação entre ciência e ideologia como elemento mobilizador da fina ironia machadiana para retratar hipocrisias sociais e convenções hipócritas sobre a relação entre vida pública e arbítrio cego do poder.

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Justificativa: As guinadas na teoria de Simão Bacamarte sobre as patologias humanas dão ao conto uma organização clara. No entanto, no interior da primeira guinada, quando quase toda a cidade vai presa, surge uma força de reação coletiva na cidade de Itaguaí que resulta numa revolta popular comparada vagamente com a Revolução Francesa. Aqui é apresentado o segundo princípio de organização do conto. O primeiro é a teoria psicológica, o segundo é o levante popular. Este se volta contra o arbítrio que dá a Bacamarte ares de déspota. Com a vitória do alienista sobre os revoltosos, seus desmandos prevalecem e sua teoria da loucura evolui ao ponto de pautarem a liberação dos internos da Casa Verde por conta das mudanças nas prescrições de sua lógica. Neste sentido, como diferentes críticos já notaram, a revolta popular não se faz força principal ou dominante na organização do conto, mas imprime às teorias da insanidade um papel balizador de conflito social, sendo que este as enriquece em termos de faceta literária, redimensionando as teorias científicas do alienista como ideologias. Neste sentido, a adesão ou não adesão aos princípios teóricos do experimento científico, que se traduzem como desmandos de um soberano informal, revelam lastros de submissão ou não adesão a uma estrutura de poder e uma hierarquia social entre os que exercem o puxa-saquismo sobre o alienista. Levando-se em conta a relação entre estas camadas de composição do conflito central do enredo, o jogo de salão recheado de comentários elogiosos e aduladores para o médico e sua esposa não são gratuitos. As atribuições de caráter e de juízo moral sobre ações humanas sendo lidados como patologias a serem tratadas como doença mental digna de internação ganham sentido de comentário social. A reação titubeante de certos personagens com os momentos de radicalização da internação e liberação de pacientes revelam um teor paródico sobre a submissão acrítica ao poder de Bacamarte apenas pelo prestígio e pela vantagem por relacionar-se com o lado mais forte do confli-

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to social. Ao explorar em sala de aula estas relações complexas, se tornará mais claro os desdobramentos da narrativa adaptada nos quadrinhos e o alcance da lâmina da ironia machadiana. Metodologia: Forme pares ou trios entre os alunos e proponha a leitura das páginas 41 e 42, em que é apresentado por completo o capítulo VIII, “As Angústias de Crispim”. Leia com os alunos as duas páginas aproveitando para tirar dúvidas de vocabulário e questões que talvez não tenham ficado claras sobre as diferentes guinadas do enredo. Ao fim da leitura, proponha aos pares ou trios que formulem suas interpretações sobre o que consistiria a angústia do personagem, os motivos que o levam a uma tortura moral e como interpretam a adesão de Crispim à revolta dos Canjicas. Podem acompanhar as orientações sobre esta atividade perguntas como: O que a dúvida de Crispim revela sobre a natureza da amizade com Simão Bacamarte? Por que, ao aceitar tomar o partido dos Canjicas, diz que nunca havia pensado em outra coisa? Que tipo de cálculo de vantagens é feito pelos altos funcionários do novo poder municipal ao receberem Crispim como adepto? O que esta relação entre Crispim e o novo poder estabelecido revelam sobre os pactos políticos dentro do enredo de O Alienista? A mesma atividade poderia ser feita a partir das páginas 61 e 62, mas desta vez dando a ênfase sobre os posicionamentos do Padre Lopes em relação ao que pensa sobre Simão Bacamarte, primeiro descrevendo-o como pessoa admirável, depois como único verdadeiro louco de Itaguaí. Com esta volubilidade de opiniões que se alteram conforme a balança de poder se altera e o cálculo de vantagens muda de direção, é possível indicar a ambiguidade política da teoria da loucura como um poderoso artifício literário para compor uma paródia de costumes. Tempo estimado: Uma aula de 50 minutos.

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4) Tema: Os elementos da filosofia positivista parodiados em O Alienista. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP48) Analisar assimilações e rupturas no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos. (EM13LP52) Analisar obras significativas da literatura brasileira e da literatura de outros países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais da emergência de matrizes conceituais hegemônicas (etnocentrismo, evolução, modernidade etc.), comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos. (EM13CHS104) Analisar objetos da cultura material e imaterial como suporte de conhecimentos, valores, crenças e práticas que singularizam diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço. (EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar as tipologias evolutivas (como populações nômades e sedentárias, entre outras) e as oposições dicotômicas (cidade/ campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/sensibilidade, material/virtual etc.), explicitando as ambiguidades e a complexidade dos conceitos e dos sujeitos envolvidos em diferentes circunstâncias e processos. (EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identi cando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.

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Conteúdo: Os temas, jargões e argumentos expostos em chave de paródia pertencentes à doutrina filosófica do Positivismo no enredo de O Alienista. Objetivo: Exercitar e capacitar alunos para a compreensão e identificação dos elementos do enredo de O Alienista que permitem entender posicionamentos expressos e implícitos no conto sobre a doutrina filosófica do Positivismo. Justificativa: Quando Machado de Assis compôs o conto O Alienista, o positivismo e o evolucionismo como doutrinas científicas gerais da sociedade tornavam-se moda e aos poucos passavam a circular ao ponto de quase tornarem-se consenso na classe letrada, sendo pautados acompanhados de aspirações de poder. Os elementos da doutrina positivista no enredo de O Alienista são traços da recepção crítica desta doutrina. Concebido por Auguste Comte, o método positivista apresenta uma fundamentação sobre a desigualdade natural entre os homens, uma “física social” elaborada com base em preceitos biológicos da época. É este o preceito básico que condiciona a submissão ao poder médico e científico no enredo do conto de Machado de Assis, compondo-se o médico e cientista como portador de ocupação do homem superior que presta um serviço à humanidade. Simão Bacamarte é apresentado como individuo excepcional, apto, portanto, para prescrever os critérios de aceitação ao progresso social como um fim realizável. Há no conto um tratamento irônico com pressupostos positivistas da medicina higienista brasileira e sua forma de conceber uma desigualdade natural entre os homens e os sexos. Atribuições morais ganham peso de objetividade patológica, juízos sobre caráter tornam-se indícios de insânia, e a autoridade científica é incontornável não apenas pelo peso de verificação da verdade, mas pelo status de pessoa seleta portadora de saberes científicos que apenas alguns poucos possuem. O alienista

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A abnegação de Simão Bacamarte, sua resiliência e implacabilidade na condução de experimentos científicos são formas de lidar com a objetividade ingênua implícita na condução de procedimentos científicos sob ideais positivistas. A determinação biológica na argumentação sobre condutas morais, a prévia imposição de hipóteses científicas que pautam o critério sobre a vida prática, e não o contrário, revelam aspectos claros do positivismo. Ao enfatizar estes temas e estes elementos de composição no enredo de O Alienista, se tornará possível lidar com aspectos decisivos sobre o comentário social organizado no conto, bem como sobre debates ideológicos fundamentais sobre época retratada na narrativa. Metodologia: Propor em sala a leitura detida da página 43 da adaptação em quadrinhos. Nela é retratada a abertura do capítulo IX, “Dois lindos casos”, quando o barbeiro e líder revolucionário Canjica, diante da rendição de Simão Bacamarte, ao invés de arrematar a demolição da Casa Verde, propõe um pacto de conciliação entre o novo governo e a funcionalidade do hospício. Nesta conversa, é preciso que esteja claro o fato de que mesmo quando acontece o auge da revolta dos Canjicas, quando a câmara dos vereadores é dissolvida e a autoridade é tomada, a autoridade científica prevalece, pois não se reconhece como procedente algo como a “abolição da loucura” e não se veem aptos para avaliar quem é louco e quem não é, pois isto só é possível pelo juízo de especialistas da ciência. Feita a leitura, proponha a divisão entre pares e trios uma reflexão sobre a seguinte questão: Por que a Casa Verde não foi dissolvida? Reserve um período para que elaborem suas respostas. Após o tempo de elaboração, proponha que cada dupla ou trio coloque para a sala seus argumentos e que se debata as possíveis divergências entre as diferentes respostas, ou que se integre e se complementem as respostas que caminhem na mesma direção.

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Ao longo da discussão, será proveitoso apontar a relação entre o alienista e o barbeiro tornado líder de insurreição como não apenas uma relação entre indivíduos, mas também como um acordo entre forças sociais, possibilitando entender os personagens como alegorias que representam autoridade e poderes sociais. Bacamarte representa a Ciência e Canjica representa o Estado. Quando um pacto é proposto entre os dois, a Ciência explicita-se como portadora de força equânime ao poder do Estado, fundamentando-se, portanto, as condições de sua soberania. Percebe-se a primazia da ideologia positivista quando se percebe que de alguma forma o poder do estado deve se curvar à vontade da ciência, que se confunde com a vontade comezinha de um indivíduo particular, tido como excepcional. Tempo estimado: Duas aulas de 50 minutos

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Para aprofundar O conto O Alienista foi publicado entre outubro de 1881 e março de 1882 na revista carioca A Estação, e depois integrado no livro Papeis avulsos, publicação esta que reúne o que para muitos são alguns dos mais geniais experimentos narrativos desta fase da trajetória artística do autor. Ao colocar-se como separadas duas fases da concepção da obra de Machado de Assis, está-se levando em conta a fundamental divisória representada pela publicação do romance pioneiro que representou Memórias póstumas de Brás Cubas, de 1880, redigido, portanto, apenas um ano antes do início do processo de escrita de O Alienista. É de fundamental importância a compreensão do que representou esta ruptura que dividiu as duas fases da escrita machadiana, pois a narrativa sobre Simão Bacamarte e sua teoria da loucura é uma das mais bem-acabadas obras deste projeto artístico em processo de consolidação. Tida como de difícil qualificação, quase impossível restringir a uma única convenção ou escola literária para descrever ou enquadrar, a guinada de 1880 não seria possível sem as obras que antecederam as deste período aludido. Foi no período de fastio e desgaste da fase tardia do romantismo brasileiro que Machado realizou seus primeiros projetos e experimentos narrativos, tendo também se iniciado com a escrita dramatúrgica e a poesia. Será nos debates sobre realismo literário, no entanto, que a crítica encontra os melhores instrumentos para refletir e traçar apontamentos proveitosos sobre o alcance vertiginoso da prosa machadiana. Se tornará célebre nos meios letrados cariocas do século XIX, no entanto, através de um gênero literário europeu recente, incubado pela consolidação da ampla circulação da imprensa moderna: A crônica. Do sucesso formado pela produtiva carreira na escrita em

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notas em pé de páginas de jornais, encontra espaço para iniciar-se em outro gênero também filho da imprensa moderna europeia: o folhetim. Tornou-se célebre ao ponto de desbancar José de Alencar – o primeiro folhetinista brasileiro – em termos de circulação e procura. A escrita de alguns de seus principais romances será concebida nesta forma, assim como alguns de seus principais contos – O Alienista incluso. Na primeira fase da prosa machadiana integram-se os romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), e as reuniões de contos nas publicações Contos fluminenses (1870) e Histórias da meia-noite (1873). É de grande valia para a compreensão devida dos sentidos do projeto literário deste período a leitura de seu primeiro folhetim, de 10 de outubro de 1859, em que versa sobre os sentidos da forma folhetim como gênero literário, e surpreende o grau de consciência que o autor, nos seus 20 anos de idade, já demonstrava ter sobre os sentidos do uso do gênero de origem parisiense no Brasil. Já neste primeiro escrito folhetinesco se faz notar um tema que também se faz presente na composição de O Alienista: a facilidade do timbre paródico das formas culturais brasileiras ao primarem-se pelo esforço do mero arremedo sem mediações das formas europeias. Propõe em sua descrição sobre o papel do escritor folhetinista a comparação com o beija-flor, que circula por toda a floresta, observando a natureza por todos os ângulos, percorrendo a sociedade em todas suas paragens de diversos pontos de observação. Uma forma europeia, portanto, só ganharia sentido com a rigorosa, porém não especializada apuração do olhar sobre a vida local, sobre a sociedade brasileira tal como ela se manifesta diante dos olhos do folhetinista.

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É às convenções do romantismo literário brasileiro, no entanto, que Machado colherá a inspiração para compor seus primeiros procedimentos literárias em sua obra de ficção deste primeiro período. O faz, no entanto, com clara ambição de romper com convencionalismos e formas dogmáticas de arremedos filosóficos e literários europeus. É desta fase o ensaio mais famoso de seus textos críticos, “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade”, de 1873, em que propõe, neste ardil retórico que opõe instinto de nacionalidade a sentimento íntimo, um modo de recolher as imagens do mundo de tal maneira que não reproduza apenas uma imagem superficial da coloração local nos conteúdos literários, pois se deve encontrar o brilho de um sentimento íntimo da forma de pertencer a seu tempo e país. Uma imagem de universalidade ao lidar com questões amplamente humanas, mas sem abandonar a cor local da concretude do plano de representação do meio social brasileiro. Seus livros da dita “fase romântica”, portanto, afastam-se da coloração pitoresca de tom romanesco e patriótico que se transformou em fórmula de sucesso entre o público jovem de seu tempo. É neste sentido que se deve refletir sobre a influência de obras locais de períodos anteriores. Não há dúvidas de que soube ler todas as formas literárias de seu tempo, cumpriu com a faceta de grande erudito, são fundamentais as influências cosmopolitas da literatura europeia na prosa de Machado de Assis, sendo possível notar em sua prosa técnicas reproduzidas de Stendhal, Flaubert, Balzac, Maupassant, Jonathan Swift, Henry Fielding, Laurence Sterne, entre outros gigantes lidos em seu tempo. Mas não serão poucas as situações, reviravoltas e arroubos parodiados dos grandes autores nacionais que o precederam, tais como Manuel Antônio de Almeida, Joaquim Manuel de Macedo e o já mencionado José de Alencar. Os acertos em matéria de descrição de costumes e de fôlego analíti-

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co eram reaproveitados pelo grande autor em sua oficina de trabalho, e este não é um dado menor, pois não é do nada que surge um grande autor e uma grande obra, assim como soube aproveitar os limites e as inconsistências de convenções literárias locais de então para pensar sua escrita. Em termos de reprodução do gênero romanesco, nesta primeira fase Machado concebia uma prosa realista de olhar arguto e de aspiração ilustrada, escrita destinada a um público “de boas famílias”. No plano do conteúdo, destrinchava relações sociais ao mesmo tempo complexas e características, sem abrir mão do esforço de lidar com relações herdadas da ordem colonial de tal forma que apontem para as aspirações de ordem e progresso de nações liberais. A partir de 1880, o alcance artístico e de análise sobre a realidade social agiganta-se, passando até mesmo a desconsiderar convenções do realismo para exprimir-se, como a crítica qualificada aponta com tanta frequência. Em Brás Cubas, descobre um novo tipo de narrador, tanto arbitrário como despeitado, que transforma a insolência e impertinência em princípio formal e processo de configuração expressiva. O desrespeito às normas, no entanto, não as desqualifica, apenas as aponta como inoperantes, redundando numa impotência cínica que ri da própria superioridade retórica improcedente desta voz culta em província de ex-colônia. Machado abandona as aspirações românticas que buscavam um sentido original para a cor local e encontra uma voz que atinge as questões mais amplas e universais da vida letrada, mas atingindo-as pelo sentido negativo destas aspirações. Não há força social ou convenção que escape da lâmina retórica da ironia machadiana. Integram esta fase os romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), bem como cinco livros de contos que reúnem mais de uma centena de narrativas breves.

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Na narrativa de O Alienista, que até hoje se disputa se é conto ou novela, dada sua extensão, organização interna e unidade compositiva, é uma das realizações mais bem-acabadas no que diz respeito a esta guinada machadiana. Foi concebido no momento considerado como de maior controle e autoconsciência sobre seus processos narrativos. Nele se expõe a teoria da loucura de Simão Bacamarte, que também deve ser pensado como uma teoria da identificação do normal. Ambos impossíveis de serem atingidos, seja a loucura ou a normalidade, pois são de impossível definição sob o crivo científico apresentado. O golpe final dado pela ironia machadiana, quando o alienista se tranca por ser o único verdadeiro alienado, expõe o gesto de autodestruição como único gesto de coerência do positivista excepcional. É exposto o destino da coerção cruel da objetividade ingênua dita imparcial.

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Sugestões de referências complementares Caso Especial – O Alienista. Direção: Guel Arraes. Rede Globo; 1993. Episódio de série televisiva. Azyllo muito louco. Direção: Nelson Pereira dos Santos. 1970. – Filme (Adaptação da narrativa de Machado de Assis) A lata de lixo da história – Chanchada política. Roberto Schwarz. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. – Dramaturgia O Alienista. Machado de Assis. – Conto A última religião – Direção: Hugo Pinto. 2015. – Documentário sobre positivismo no Brasil. Holocausto brasileiro. Daniela Arbex – Livro Reportagem (sobre a tradição manicomial brasileira focando especificamente na história do Sanatório de Barbacena). Saúde mental e dignidade humana. Direção: Francisca Miguel e Cristina Britto. Centro de Memória da OAB. 2014. Documentário curta-metragem. (Aborda a história do imaginário social da loucura e apresenta a história de manicômios e o tratamento dispensado pelo judiciário brasileiro a doentes mentais)

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Bibliografia Comentada BARBOSA, Alexandre; RAMOS, Paulo; RAMA, Angela; VILELA, Túlio; VERGUEIRO, Waldomiro (orgs.). Como usar a história em quadrinhos na sala de aula. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2005. – A publicação consiste numa coletânea de textos em que são apresentadas didaticamente as diferentes facetas e possibilidades do uso da forma história em quadrinhos em sala de aula. Há artigos que versam sobre a história da forma, as possibilidades de variação estilística e as precedências proveitosas do uso deste tipo de material por educadores. BOSI, Alfredo. “A máscara e a fenda”. In: O enigma do olhar. 1ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. – Ensaio em que o crítico literário apresenta sua interpretação sobre os contos machadianos, formula sua compreensão de contos-teoria como gênero específico na obra machadiana e apresenta sua interpretação sobre O Alienista, obra que defende ser do gênero novela. CANDIDO, Antonio. “Esquema de Machado de Assis”. in: Vários Escritos. 3ª ed. rev. e ampl. - São Paulo: Duas Cidades, 1995. – Texto introdutório em que o crítico compendia a história da recepção da obra literária de Machado de Assis ao longo do tempo. Referência fundamental para se refletir sobre os diferentes estágios da compreensão da prosa machadiana nos últimos 120 anos.

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CARVALHO, Sérgio de; SCHWARZ, Roberto. “A lata de lixo da história: Chanchada política – Conversa com Roberto Schwarz”. In: Revista Terceira Margem. v. 18, n. 30. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2014. Endereço eletrônico: https://revistas.ufrj.br/index.php/ tm/article/view/9757/7574. Última vez acessado em 16/12/2020. – O texto consiste numa transcrição de entrevista pública realizada pelo diretor teatral Sérgio de Carvalho com o crítico literário Roberto Schwarz em que discorrem amplamente sobre a adaptação do conto O Alienista para texto dramatúrgico. Muitas formulações são apresentadas sobre os sentidos do enredo do conto em questão. CORBANEZI, Elton. “O terror do positivo: O alienista e o positivismo Comteano”. In: Revista Plural. v.22.1. São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP. 2015. pp. 209-32. – Artigo em que se apresentam os princípios básicos da doutrina positivista de Auguste Comte e os relaciona a uma interpretação sobre o enredo e aspectos de composição do conto O Alienista. Leitura proveitosa para aprofundar o debate sobre positivismo no Brasil. SCHWARZ, Roberto. “A viravolta machadiana”. In: Martinha versus Lucrécia – Ensaios e entrevistas. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. pp. 247-79. – Neste breve ensaio, o crítico apresenta suas principais teses e formulações acerca da evolução artística e princípios formais da composição da prosa machadiana. Trata-se da síntese de mais de 40 anos de reflexão sobre a fatura da obra, suas consequências estéticas e as diversas questões sobre sua relação com a forma específica da dinâmica social brasileira e seus desdobramentos históricos. WOOD, Michael. “Entre Paris e Itaguaí”. Trad. Otacílio Nunes Jr. In: Revista Novos Estudos. nº 83. São Paulo; CEBRAP, mar. 2009. – Leitura do crítico americano sobre o conto de Machado de Assis contrapondo-se a Roberto Schwarz. Situa o debate sobre o conto nos termos da oposição entre metrópole e província.

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