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Toda ajuda é bem-vinda

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O peso da vida

O peso da vida

O trabalho social aumentou em meio a pandemia, e a dedicação de quem oferece seu tempo ao próximo é fundamental

Isadora Vargas, Raissa Micheluzzi, Rebeca Trevizani, William Zaramella

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Todo dia é segunda-feira.” É assim que se iniciam os dias dos funcionários da Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS). Para Admaro Pinto, diretor de relações com o terceiro setor da FAS, mesmo com as limitações da pandemia, o serviço que a fundação tem recebido é prioridade e, todos os dias devem ser aproveitados e cheios de trabalho para atender a demanda. Admaro não parou um dia sequer desde o início da pandemia do coronavírus.“Não tive um dia de home office.” Para ele, enquanto houver pessoas que precisam ser atendidas, ele estará trabalhando. A fundação auxiliou famílias com mais de 70 mil cestas básicas e estão previstas mais 35 mil cestas para serem entregues nas próximas semanas. O diretor afirma que a motivação de todos na FAS tem sido “A assistência social é para quem dela precisar.” Enquanto houver aqueles que precisam, eles estarão lá.

O isolamento social e a dificuldade ao acesso à informação têm trazido dificuldades para pessoas que são, ou se tornaram mais necessitadas com a pandemia. Mesmo a prefeitura e os governos estadual e federal oferecendo serviços de apoio social, eles nem sempre são suficientes. O aumento no número de demandas por doações, das pessoas mais necessitadas, surpreendeu as ONGs, trazendo o medo da escassez. São pessoas que dedicam seu tempo para a ajuda ao próximo. Por este motivo, Fátima Ribeiro Dumas, integrante do instituto Sol Cidadão e vice-coordenadora da Pastoral da Criança, na Arquidiocese de Curitiba, diz que nunca foi tão necessário recorrer às redes sociais. “Estamos fazendo as arrecadações entrando em contato com todos os meus amigos das redes e vizinhos que possam doar, pelo menos, 1kg de alimento, depois juntamos tudo e fazemos cestas básicas. Conseguimos distribuir 50 cestas, em uma semana, e mais verduras, legumes e ovos que

chegam e a gente distribui também, tudo para que se possa suprir a fome dos nossos irmãos mais necessitados.”

“Com a pandemia, está sendo um grande desafio sair de casa. O que me motiva a continuar fazendo esse trabalho social é o amor ao próximo. Quando você vê uma criança falar: ‘Dona Fá-

‘Dona Fátima, tem um pacote de leite?’. Dói o coração, se eu não der, não consigo tomar um leite tranquila.

- Fátima Ribeiro Dumas

tima, tem um pacote de leite?’. Dói o coração, se eu não der, não consigo tomar um leite tranquila. Eles estão com fome Pedi doações para várias pessoas e fui fazer uma visita para entregar cestas de alimentos. Cheguei lá e encontrei as crianças dormindo. A mãe disse que está colocando os filhos para dormir, pois assim eles não pedem comida, que não tem”, disse Fátima.

Algumas pessoas iniciam seus trabalhos em ONGs com o objetivo de se organizar para uma possível transformação social, como é o caso do diretor de interação com a comunidade da ONG LGBTQ Grupo Dignidade, Lucas Siqueira. “Por ser gay, por ter sofrido homofobia e sofrer homofobia até hoje, e entender que a gente só vai conseguir um status igual na sociedade, se a gente se organizar, nenhum direito é nos dado, todos são conquistados, são conquistados através de organização”. A maior parte do trabalho de Lucas costumava ser presencial, pois ele atende e encaminha as demandas da comunidade, seja buscando políticas públicas junto às esferas governamentais ou até mesmo encaminhando alguma pessoa ao atendimento jurídico ou psicológico, quando necessário.

“Com a pandemia nós tivemos que parar com todas as atividades que envolvem a comunidade LGBTQ diretamente, como a marcha pela diversidade, atendimentos presenciais, rodas de conversa, eventos, reuniões com governadores, e procuramos fazer tudo de forma virtual. Apesar de nossa comunidade sentir muita falta disso, porque é um lugar de acolhimento”, diz Lucas.

Durante a pandemia o diretor, junto à ONG da qual participa, realizou uma ação que arrecadou 20 toneladas de alimentos, que foram distribuídos para a comunidade LGBTQ em situação de vulnerabilidade social agravada pela pandemia. Ele relata que foi muito gratificante participar disso e ver sua comunidade unida “Foi muito legal, muito bacana, tanto a quantidade de cestas que conseguimos distribuir, como também a união da comunidade que nos ajudou a arrecadar”.

A pandemia da covid 19 tem deixado a pobreza ainda mais alarmante. O desemprego e a insuficiente ajuda governamental fizeram com que o número de pessoas pobres no país aumentasse e ficassem mais vulneráveis. Segundo levantamento feito pela Central Única de Favelas (CUFA), em conjunto com o Instituto Data Favela e Locomotiva, 82% da população nas favelas estão dependendo de doações para se alimentar. Para conter esse aumento, o papel das instituições de caridade e de ONGS são ainda mais fundamentais.

William Zaramella Atenção a saúde mental! Rebeca Trevizani

Em 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou que 23,9% dos brasileiros apresentavam algum transtorno de ansiedade. Entre os assistentes sociais não é diferente. A psicóloga Anna Carolina Henneberg trabalha no Centro de Atenção Psicossocial de Ponta Grossa, juntamente com uma equipe de assistentes sociais, educadores físicos e terapeutas, afirma que grande parte dos assistentes sociais atuantes com pessoas em situações vulneráveis nesse período tem desenvolvido maiores frustrações e preocupações. “Eu vejo eles muito frustrados, sabe, por não conseguirem lutar contra a maré, contra tudo que está acontecendo agora.” Enquanto o cenário permanece sem grandes mudanças, cuidar da saúde mental é essencial.

Familia sendo atendida pela Pastoral da Criança na Arquidiocese de Curitiba.

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