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Esportes como fuga do urbano

Atividades com contato com a natureza proporcionam alívio psicológico

André Festa, Laura Luzzi, Rafael Coelho e Romano Zanlorenzi

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Apandemia impôs o isolamento, a restrição da maioria das atividades e até o distanciamento de familiares, sem contar o desespero diante de um cenário de milhares de mortos diariamente. Todos estes fatores foram os responsáveis pelo aumento no número de casos de doenças psicológicas durante 2020.

De acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), houve um aumento de 82% de novos casos de transtornos mentais durante a pandemia, dentre eles transtorno de ansiedade, pânico, alterações significativas de sono e depressão. Houve, também, um aumento de 16% no consumo de antidepressivos, indutores do sono e estabilizadores de humor no último ano. Outro dado alarmante refere-se aos pacientes que já haviam recebido alta nos seus tratamentos psicológicos: 70% tiveram recaída no mesmo período.

A fim de evitar o desenvolvimento de doenças psicológicas, diversas pessoas recorrem às atividades físicas. Para a psicóloga Rebecca Milazzo, a prática de esportes e exercícios que movimentam o corpo favorece muito a di-

minuição da ansiedade, alivia sintomas de depressão e contribui para o sono. Ela explica que, ao se fazer exercícios, há a liberação de endorfinas no cérebro, que são substâncias que geram sensação de bem-estar emocional. “A prática de atividades físicas faz com que a atenção do indivíduo se volte para o corpo, ou seja, prestamos atenção em nosso corpo e tiramos o foco de nossos pensamentos. Sempre recomendo a prática de exercícios para as pessoas que eu atendo”, comenta a psicoterapeuta. Além disso, ela ressalta que o ser humano é essencialmente social. Por isso, em tempos de isolamento, estar com outras pessoas faz muito bem para o bem-estar psicológico, e praticar exercícios em grupo pode contribuir muito ao favorecer esse contato com o outro, mas sempre prezando pela segurança dos envolvidos.

A administradora Roberta Vidal, de 36 anos, é um exemplo claro desta situação. Ela começou a praticar futevôlei no início de 2021, quando percebeu que a vida não voltaria ao normal tão cedo. Para ela, os esportes ajudaram a aliviar o estresse do dia a dia e, por ser uma amante de praia, optou por um esporte que a aproximasse desse cenário. “A atividade física em si já diminui a ansiedade, proporciona bem-estar, o aumento da autoestima, entre outros benefícios. Aliado ao contato com a natureza, o ganho é maximizado”, completa Roberta. Além disso, ela comenta sobre a importância da sociabilização proporcionada pela atividade física coletiva neste tempo em que passa a maior parte do tempo em isolamento social.

O ex-jogador, empresário e sócio do Centro de Treinamento Pé na Areia, Dinelson Lima, relata um aumento significativo na busca por aulas de futevôlei durante a pandemia. Esse novo público é majoritariamente de pessoas que buscam o esporte visando o lazer e a oportunidade de praticar uma atividade física em um ambiente amplo, fugindo do ambiente das academias e das exaustivas repetições dos exercícios mais comuns. O contato com a

“A atividade física em si já diminui a ansiedade, proporciona bem-estar, o aumento da autoestima, entre outros benefícios. Aliado ao contato com a natureza, o ganho é maximizado.”

Roberta Vidal, administradora e praticante de futevôlei

Deco Pestana / Divulgação instagram Pé na Areia

Centro Esportivo Pé na Areia

areia, que remete à praia, é mais um fator importante para os praticantes. Aliado a isso, Dinelson conta que outro motivo para esse aumento é a sociabilização mais segura que nos esportes de contato como futebol, por exemplo.

Pelas restrições sanitárias impostas para diminuição do contágio pela covid-19, quadras poliesportivas foram proibidas de funcionar por serem ambientes fechados e com maior aglomeração, enquanto as quadras de areia, muitas vezes, são abertas, com número de praticantes bastante reduzido e com menor contato. Por isso, puderam voltar a funcionar antes. Segundo o personal trainer, Emanuel Andrade, muitas pessoas buscam em esportes alternativos uma maneira de fugir do cotidiano urbano, o que fica evidente ao relatar que a maior procura dos alunos da academia foi pela natação. O contato com a natureza, ainda que de maneira reproduzida como piscinas e quadras de areia, faz com que os sentidos naturais das pessoas sejam aguçados, fazendo com que as poluições sonoras e visuais, que são abundantes no ciclo urbano diminuam e aumente o rendimento nas atividades praticadas. Por isso, segundo Andrade, é importante que se pratique esporte ao ar livre, melhorando o bem-estar e ajudando a

“Devemos pensar primeiro no bem coletivo e depois no individual. Por isso, é importante respeitar todos os decretos e orientações durante a prática, não só das atividades de aventura, mas de qualquer atividade física.”

Rosane Pikussa, professora de educação física

desempenhar melhor nas atividades esportivas e cotidianas.

Da mesma forma, a professora de educação física Rosane Pikussa ressalta que os esportes que proporcionam algum contato com a natureza despertam o sentimento de conexão e de pertencimento ao mundo. Essas atividades fazem com que se preste mais atenção nos cheiros, sons e texturas, o que dificilmente acontece nas grandes cidades, uma vez que o indivíduo está sempre preocupado e realizando alguma tarefa, sem momentos de descanso efetivos. Além disso, ela comenta como essas práticas são importantes para o autoconhecimento, fazendo com que o praticante preste mais atenção nele, no seu corpo, nos seus sentimentos e, após a atividade, sinta uma sensação gratificante. Pikussa salienta que o esporte é uma prática bastante coletiva, portanto deve seguir as medidas de segurança, decretos e orientações de profissionais da saúde.

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