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Noite em quarentena

Fechamento de bares e casas noturnas gera um efeito dominó em todas as peças envolvidas do setor

Daniela Cintra Sthefanny Gazarra

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Você já se deparou com algum filme ou série nas plataformas de streaming, em que a temática é sobre jovens que são levados para outros mundos para viverem isolados da realidade que conhecem? Ou em que a sociedade vive o drama de precisar viver em um mundo assolado por um vírus letal? As telas do cinema abordam há décadas essa temática de uma forma que nós, espectadores, nunca cogitamos a possibilidade de tal ficção estarrecedora invadir a nossa vida real.

Mais de um ano após a fantasia ter se tornado realidade e a lei de quarentena no Brasil ser aprovada, um dos segmentos mais afetados foi o do entretenimento. O setor não tem perspectiva de retomada das atividades, paralisadas desde março de 2020. Diferentemente dos restaurantes que estão conseguindo se manter em funcionamento devido ao delivery de comidas, os bares e casas noturnas tinham como maior atrativo a aglomeração de pessoas e socialização em antes da pandemia. Os drinks e comidas eram só um pretexto para os frequentadores. Por conta de não ser um serviço essencial, bares e casas noturnas acabam sendo deixados de lado e não tendo o auxílio que merecem, para sobreviverem em meio à crise por conta do Coronavírus.

O sentimento é de desespero para os donos, que tentam fazer com que os negócios resistam em meio à pandemia. Enquanto alguns proprietários de estabelecimentos aproveitam o tempo parado para fazerem reparos nos locais, outros tateiam no escuro à procura de uma saída de emergência, em medidas mais drásticas, muitos acabam se vendo obrigados a demitir colaboradores por falta de recursos para pagamento dos mesmos. De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 60% das empresas do setor no país relataram estar com prejuízos e 25% destas, não conseguiram pagar o 13º salário.

Antônio Rodrigues era garçom de uma casa noturna em Curitiba, que desde março de 2020 mantém as portas fechadas. Em abril do mesmo ano, ele se viu desempregado e a situação de vida tornou-se sombria “Hoje vivo no escuro sem saber o que será do amanhã, se minha família vai ter o que comer ou se serei um peso para eles. Estou fazendo alguns bicos como eletricista, e quando tinha o auxílio emergencial ajudava bastante, mas

quando acabou me vi numa situação de desespero, fui diagnosticado com depressão, mas mesmo assim continuei procurando emprego, porém nenhum lugar está contratando garçons pois o risco do estabelecimento fechar é grande. Sou pai de três meninos e minha esposa é diarista. Houve dias que não tínhamos o que comer.”

Em Curitiba, a situação é alarmante, segundo Gustavo Grassi, vice-presidente da Abrapar (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas), cerca de 40% dos bares da capital fecharam as portas sem chances de retomarem o funcionamento e 75% das casas noturnas, também. O proprietário da festa “Toca Aquela CWB” e produtor de eventos, Bruno Celini, relata um pouco dos bastidores dessa crise no entretenimento. “De cara tivemos o problema de estoque de comida sendo vencido, depois a situação se agravou com os pais de família perdendo os empregos. Nossos funcionários são freelancer, não possuem uma renda fixa, o que gerou um prejuízo maior para eles”, diz.

O produtor de eventos ainda chama atenção para um dos maiores problemas no combate à pandemia: as festas clandestinas. Bruno relata que muitos dos frequentadores do evento recorreram a esse tipo de festa, pois se viam com abstinência de socializar. Apesar de estarem cientes dos riscos e das consequências desse tipo de evento, existem algumas explicações para tal comportamento. A psicóloga Paula Machado, especialista em psicanálise, explica que os jovens estão acostumados a estar incluídos em grupos, nos quais se sentem mais confortáveis para agir da maneira que desejarem sem riscos de julgamentos. Muitos deles não se veem sozinhos e possuem a necessidade física de estar no meio de outras pessoas para serem notados. Ainda há a questão dos jovens não serem considerados grupos de risco, isso encoraja muitos a saírem de casa e encarar os perigos de contaminação nas festas clandestinas.

Ilustração do banco de imagens Canva

NOVA FORMA DE LAZER E CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL

Os bares e casas noturnas são usados pelos jovens no intuito de distração e uma busca por diversão. Juliana Ribeiro, de 19 anos, conta que costumava sair com os amigos durante o fim de semana, não apenas por diversão, mas como uma forma de criar um livro de histórias e recordações. Com a chegada da quarentena Juliana sente-se mentalmente cansada, pois a sua rotina se estruturou atrás das paredes de sua casa. O que um dia era um passarinho livre, hoje se vê aprisionada em “uma gaiola, no qual o coronavírus é o caçador de vidas livres”.

Para a estudante, uma das alternativas para manter-se entretida em casa foi o uso de aplicativos de vídeos caseiros. O tik tok tornou-se seu maior aliado durante a quarentena. Somente em abril de 2020, o aplicativo atingiu a marca de 1 bilhão de instalações. A constante adesão, por parte dos jovens, a esse tipo de aplicativos deve-se ao fato de poder monetizar os conteúdos criados e por estar gerando sempre novidades na plataforma, o que mantém a nova geração conectada por longo período à ferramenta.

Outra alternativa de lazer resgatada durante a quarentena foi o hábito da leitura. Para o estudante de ensino médio André Asher, a leitura contribuiu para lidar melhor com a ansiedade durante o tempo em casa. “Curtia muito encontrar meus amigos em baladas, com o início da quarentena tive muitas crises de ansiedade por estar isolado, por meio da leitura consigo me manter focado e viajar para outros lugares e realidade”, conta. Música A importância do Spotify na pandemia

Certamente o Spotify não seja o mais barato serviço de streaming musical e nem mesmo o com a melhor qualidade de áudio, mas é o mais popular entre as pessoas, além de ser uma forma honesta de ouvir música. Recentemente a empresa ofereceu apoio a instituições de caridade que ajudavam músicos durante a pandemia, além de dar aos consumidores do Spotify a chance de ‘dar gorjeta’ aos artistas enquanto ouviam suas músicas. Esta ação é muito importante, pois além dos bares e casas noturnas, os músicos e sua equipe, são um dos públicos que mais sentem os impactos da pandemia. Eles foram os primeiros a parar e serão os últimos a voltar ao trabalho.

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