Jornal Dia de Campo - edição 9

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Ano I - Edição 9 | Julho, 2010 | Distribuição gratuita

jornal

Dia de Campo

®

O meio rural com informações produtivas

28 de julho: Dia do Agricultor O momento é de parabenizar a todos os produtores rurais, pelo suor, dedicação e carinho, que geram alimento e riquezas para o país, fazendo do Brasil o grande celeiro do mundo

Foto de Capa: Pedro Crusiol

Pág. 6e7

FAEP aguarda decisão judicial para o preço mínimo do trigo

Pág. 3

Inverno requer atenção redobrada nas granjas para evitar perdas

Pág. 9

A arte de fotografar animais: atividade requer muito talento e dedicação

Pág. 11


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| Ano I - Edição 9 | Julho, 2010 | Dia de Campo

Editorial

Dia do Agricultor e da Agricultora Quem é quem na agricultura, se homem ou mulher, o importante é que todos estão sendo lembrados Plantar e colher. Essa rotina existe desde que o homem descobriu a necessidade de produzir seu próprio alimento, além da caça e da pesca. Com isso, na história do mundo, a terra, aos poucos, foi sendo preparada para melhor distribuir sua produção e racionalizar a ordem dos alimentos, de acordo com as diversidades climáticas e de solo. Este processo foi permitindo, ao longo dos tempos, a descoberta de novas culturas, alterando significativamente a qualidade de vida das pessoas que vivem sobre a crosta terrestre. E a cada dia, sabemos, a humanidade exige alimentos de qualidade e a custos compatíveis com suas condições. Sobre essa situação é que imaginamos o grau de responsabilidade do agricultor/ agricultora, plantando, colhendo, comer-

cializando, negociando, enfim, dando tudo de si, do seu suor, do seu sangue, das suas energias físicas e mentais, para atender a esse apelo mundial de cada dia, que se chama fome. Afinal, todos precisam se alimen-

E a cada dia, a humanidade exige alimentos de qualidade e a custos compatíveis com suas condições tar decentemente, ainda que em condições mínimas, com nutrientes necessários para que a vida humana se mantenha sempre próspera. Esta edição do Dia de Campo é inteira-

mente dedicada ao agricultor e à agricultora (28 de julho: Dia do Agricultor), pessoas abnegadas que, de sol a sol, dedicam toda sua vida nessa lida produtiva, muitas vezes desconhecida por grande parte dos cidadãos urbanos. Sustentar a humanidade, de fato, não é uma tarefa fácil, mesmo porque implica, em muitos casos, numa série de investimentos humanos e materiais, geralmente com retornos pouco compensadores. É sempre bom lembrar, que o agricultor e a agricultora rurais também são seres humanos, iguaizinhos aos demais habitantes do planeta, com suas necessidades básicas vitais de comer, vestir e morar. E tem mais, são pessoas que também amam o que fazem. Geralmente, seus sofrimentos são

esquecidos em meio à brutalidade da lida diária, tal a responsabilidade que devotam para dar de comer a todos nós, dependentes do fruto de vosso incansável trabalho. É com esse mesmo amor que agradecemos, diariamente, a esses seres humanos, homens e mulheres do campo, agricultores e agricultoras, que com suas calejadas mãos, nunca deixarão de medir esforços para continuar plantando sementes sagradas, sobre um solo fértil, garantindo assim a reprodução de mais e mais vidas saudáveis em nosso planeta. Parabéns agricultores dos quatro cantos do Brasil. Temos certeza de que a humanidade agradece também, a todo instante, o mais rico alimento produzido por vocês: o amor e dedicação de vosso nobre e invejável trabalho...

Foto do Campo

Carta do Leitor

Esse Homem, um Agricultor Ei, você aí: você apenas olha Não fala. Você está passando e nem liga Olhe para esse homem. Um agricultor. Deve ter uma boa idade. Olhe esse colono grosso Que não teve oportunidade Para cursar a faculdade. Agradeça a esse homem, Pois é ele que mais sofre. Poucas pessoas dão valor a ele.

Foto enviada por Eduardo Cavalari (Maringá-PR)

Esse colono trabalha na lavoura.

Num dia de sol forte e céu azul, o fotógrafo Eduardo Cavalari foi literalmente a campo, acompanhar a colheita de perto

Planta, semeia e colhe O futuro de uma nação.

Envie sua foto e faça parte, também, do Dia de Campo: contato@diadecampoonline.com.br

Você já pensou como será Seu dia-dia sem ele? Ernani Antônio Tews (Blumenau-SC)

Meio de Informação Parabéns pelo conteúdo do jornal: o produtor precisa estar informado e publicações como a de vocês, específicas para classe, contribuem muito para isso. Fabiano Rodrigues Ferreira, produtor rural (Cambará-PR)

Grata Surpresa Recebi o Jornal Dia de Campo em meu estabelecimento e tive uma grata surpresa: além de bonito, o jornal é muito informativo também. Continuem nesse caminho, é muito bom contar com publicações como essa em nosso meio. Walter Ribeiro, comerciante (Londrina-PR)

Envie suas dúvidas, opiniões e sugestões para o Dia de Campo. E importante: mande também o seu nome completo, profissão e cidade onde vive. O Dia de Campo agradece a atenção e garante que fará o máximo para atender o maior número possível de leitores. O Dia de Campo poderá editar ou publicar, apenas, trechos das mensagens. contato@diadecampoonline.com.br

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Frase

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“Para ser produtor rural tem que ter muita raça e persistência, pois as adversidades são constantes” Antonio Perrucci, produtor rural, sobre o desafio encarado todos os dias por agricultores e agricultoras em todo o Brasil

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Av. São João, 1095, sala 4, Londrina-PR (43) 3337-0873 www.diadecampoonline.com.br contato@diadecampoonline.com.br Jornalista responsável: Lino Tucunduva Neto (MTb: 1307-SP) Reportagem e edição: Dulce Mazer, Felipe Teixeira, Flávio Augusto, Mariana Fabre e Pedro Crusiol Projeto gráfico e diagramação: Flávio Augusto O Jornal Dia de Campo é uma publicação mensal da DC Comunicação e Editora Jornalística Ltda. CNPJ: 10.937.352/0001-21


Dia de Campo | Julho, 2010 | Ano I - Edição 9 |

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Segundo estimativa da Conab, a safra de grãos 2009/10 será de 146,75 milhões de toneladas, resultado 8,6% maior do que na última safra. (DC)

Agronegócio PBR / Divulgação

Mercado

FAEP aguarda decisão judicial para o preço mínimo do trigo Dulce Mazer

Mandado de segurança pede a anulação da portaria 478, que estabelece o preço mínimo do trigo para a safra 2010/11 Dulce Mazer dulce@diadecampoonline.com.br

No início do mês de julho, a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) entrou com mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a portaria 478, de 30/6/2010, assinada pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi. O documen-

A safra foi planejada considerando os preços antes da redução, que teria de ser anunciada pelo MAPA 60 dias antes do plantio to, que estabelece os preços mínimos básicos para as culturas de inverno da safra de 2010, com seus respectivos valores e áreas de abrangência, reduziu em 10% o preço mínimo do trigo. Uma das justificativas da FAEP é de que os produtores planejaram a safra considerando os preços mínimos vigentes antes da redu-

ção, o que, para estar em conformidade com a lei, deveria ter sido anunciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) com 60 dias de antecedência ao plantio, ou seja, em dezembro do ano passado. A fixação antecipada do preço mínimo serve como parâmetro de orientação aos agricultores para a alocação de recursos e para a tomada de decisão sobre a escolha das culturas a serem implantadas, para a ampliação ou redução de área, compra de insumos e a contratação do crédito e do seguro. O ministro Hamilton Carvalhido, no exercício da Presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), encaminhou no dia 15 de julho uma solicitação, com prazo de dez dias, para que o MAPA apresente algumas informações necessárias na avaliação do mandado de segurança. O escopo central da FAEP é a anulação da portaria de 2010. Além disso, o assessor jurídico da FAEP, Klauss Kuhnen, espera que os efeitos da Portaria de 2009 sejam estendidos até o final da safra. “A legislação determina que, em situações excepcionais, a Portaria seja estendida por mais um anosafra. O produtor opta pelo tipo de cultura baseado em vários aspectos. Nesta safra, o triticultor partiu dos valores de 2009 e esperava um preço no mínimo maior. A Portaria

O preço mínimo do trigo estipulado no Plano Safra 2008/09 pode representar lucro na safra atual posterior é absurda”, afirmou Kuhnen, que é autor do mandado. Dias antes do pedido da FAEP, o Sindicato Rural Patronal de Londrina (SRPL) havia realizado uma reunião para discutir a classificação do trigo para a safra 2011/12 e discutir o preço mínimo estabelecido pelo MAPA para a safra atual. O encontro reuniu membros do Sindicato, FAEP, Ocepar, Embrapa, técnicos, pesquisadores, produtores de sementes, cooperativas e empresas de insumo em geral,

que demonstraram descontentamento com o valor e apoiaram a FAEP no pedido de revisão e mandado de segurança. O presidente do SRPL, Narciso Pissinati, manifestou a decepção dos produtores da região. “Nós pedimos apoio à FAEP e estamos aguardando. Acreditamos que o preço de 2009 satisfaz o produtor, pensando que o custo esse ano está sendo menor. É possível que o preço da safra anterior represente lucro para o produtor”, declarou Pissinati.


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Agroindústria

Avestruz é fonte de renda para produtores paranaenses Milton Brigolini Neme / Divulgação

Empresários da Zona Rural de ApucaranaPR descobriram no beneficiamento da ave o caminho para o agronegócio familiar Felipe Teixeira felipe@diadecampoonline.com.br

A estrutiocultura, ou a criação comercial de avestruz, é recente no Brasil. Por volta de 1995, as primeiras matrizes foram trazidas da Itália por agricultores paulistas, porém, somente no ano seguinte, com a importação de animais oriundos do continente africano, é que a atividade ganhou importância econômica em outras regiões do país. Atentos à novidade na época, a produtora Olinda Crocetta de Mello e o marido José Nilseu se dedicaram à criação na Estância Savana Zulu, localizada em Apucarana, no norte do Paraná. “Nós fomos os primeiros criadores do estado. Começamos há 14 anos quando importamos alguns animais da Áfri-

A estrutiocultura está em franca expansão no país devido à baixa concorrência no mercado interno ca e, a partir daí, sempre extraímos tudo aquilo que produzimos da nossa própria criação”, recorda Olinda. Com a proximidade do inverno, a procura por artigos confeccionados em couro movimenta o mercado do vestuário e o couro de avestruz tem chamado a atenção dos consumidores. A durabilidade, exclusividade de modelos e o fino acabamento são alguns dos atrativos aos clientes. Baseado no modelo de agroindústria familiar, o casal e dois

funcionários trabalham na comercialização de bolsas, botas, carteiras, cintos e jaquetas. Segundo Olinda, o valor do produto final é alto porque o processo de beneficiamento do couro de avestruz é lento e terceirizado. “Os valores podem ir de uma carteira de R$70 até uma jaqueta ou bolsa de R$2.000. O couro dele é um dos mais resistentes que existe, há pouca mão-de-obra especializada no processamento deste material e as etapas de produção não podem ser aceleradas. Tudo isso explica porque os produtos têm valores elevados”. Diversificação - Além dos acessórios vendidos em feiras agropecuárias por todo o estado, a família também aproveita a carne, os ovos e as plumas do avestruz na fabricação de outros produtos. “Nós mandamos abater as aves em um frigorífico autorizado em Rolândia-PR. Com a carne, o meu marido produz o filé, o salame e o tender, que são muito apreciados por restaurantes especializados em carnes nobres. Com o restante, também são feitos espanadores das plumas e os ovos são pintados para incrementar a decoração de interiores”, detalha a produtora. De acordo com uma estimativa realizada pela Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil (ACAB), o consumo de carne de avestruz no país não atingiu 1% do consumo de carne bovina na relação tonelada por ano. Cerca de 65% da lucratividade com o animal ainda se baseia na comercialização do couro e das plumas. A estrutiocultura é um mercado em franca expansão no meio rural e deve atrair mais produtores nos próximos anos pela fácil adaptação do avestruz aos diferentes climas e solos.

Mural Agrícola Bolsa de Cereais e Mercadorias de Londrina - Cotações do dia 27/07/2010 Preços Tipo/Praça Produto Mercado Máximo Mínimo Londrina Café - PR. Benefic. 60 Kg Safra 09/10 Feijão Carioca - T.1 60 Kg. Milho - 60 Kg

Soja - 60 Kg

Trigo - 60 Kg PH - 80

Tipo 6 Duro - B/C. Tipo 7 Riado - B/C. Tipo 7 S/D - B/C. Apucarana Ivaiporã Londrina Cascavel Maringá Ponta Grossa Cascavel Maringá Ponta Grossa Cascavel Maringá

282,00 247,00 222,00 100,00 100,00 80,00 14,00 14,00 14,50 38,00 38,00 38,50 24,00 24,00

287,00 252,00 227,00 110,00 110,00 90,00 14,50 14,50 15,00 39,00 39,00 39,50 24,60 24,60

Cotação - Café - NY - em centaos de US$/libra - peso Fechamento Anterior Diferencial Fechamento Abertura Mês/Ano julho - 10 setembro - 10 dezembro - 10

- 1,85 - 1,80 - 1,70

163,75 164,75 164,70

164,60 166,40 166,30

165,60 166,55 166,40

Firme Firme Firme Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Calmo Variação %

- 1,12 - 1,08 - 1,02

Fonte - CMA

OBS: Cafés que apresetarem gosto de terra, secador e aparência chuvada e barrenta, terão deságil compatível à incidência dos mesmos

Além do couro extremamente valorizado, o avestruz ainda oferece outras opções à agroindústria como a carne, os ovos e as plumas

Mais sobre a estrutiocultura - Custos iniciais de produção: compra de pelo menos três casais adultos (R$15 mil cada casal), uma incubadora (R$ 10 mil) e custos básicos com infraestrutura (R$ 3 mil). Total de R$60 mil, sem contabilizar o terreno de pelo menos 500m. - Produtividade: tempo de vida de 70 anos em média com geração de 15 a 25 filhotes em 40 anos de produção ininterrupta. - Distribuição do lucro por animal: 65% - couro, ovos e plumas / 35% - carne - Aproveitamento: couro – vestuário / ovos – filhotes para criação / plumas – automobilística e eletrônica / carne - alimentícia - Retorno: um ovo é vendido a R$500. Um filhote com um dia de idade custa R$1 mil. O valor médio do quilo da carne gira em torno de R$60. O metro quadrado do couro está avaliado em R$600. -Relação de consumo tonelada por ano: a carne de avestruz ainda não atingiu 1% do consumo de carne bovina no país, mas cresce desde a introdução no mercado nacional. - Hoje o maior consumidor mundial da carne de avestruz é a União Européia, que exige o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) ainda não concluído pelas autoridades brasileiras. Fonte: Anuário da Estrutiocultura Brasileira – ACAB; África Safari Avestruz; Zulu Avestruzes


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Divulgação

Agricultura

O Siagro, sistema que vai monitorar eletronicamente o comércio e venda de agrotóxicos no Paraná, entrou em vigor no dia 19 de julho. (DC)

Gente da Terra

“A rica vida do solo é o segredo para a sustentabilidade” O agricultor Herbert Bartz conta como se tornou pioneiro da implantação do sistema de plantio direto Pedro Crusiol

Mariana Fabre mariana@diadecampoonline.com.br

Conhecido como o “pai do plantio direto”, Herbert Bartz é atualmente presidente da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha. Bartz nasceu em Santa Catarina, mas mudou-se para a Alemanha ainda criança. Em 1958, voltou ao Brasil para se dedicar à agricultura. “Em 1971 uma chuva torrencial acabou com minha plantação de soja e deu a impressão de que levava todo o solo junto. Nesse momento eu fui em busca de um sistema que garantisse que, ao produzir, não se destruiria a base de onde se tira”, relembra. Bartz visitou, então, uma fazenda no estado americano do Kentucky, na qual já se fazia plantio direto, porém, de forma rudimentar. “Esse momento foi como uma revelação. Eu encomendei uma máquina ainda sem saber como pagá-la”, conta Bartz. No dia 15 de julho de 1972, uma geada fez com que ele perdesse todo o trigo que havia plantado. O produtor teve que vender trator, arado e grade niveladora para conseguir pagar a importação da máquina de plantio direto e o financiamento com o banco. “Isso foi um impulso, porque eu pretendia fazer apenas 10% de plantio di-

“Tive que empregá-lo [plantio direto] em toda a propriedade. Olhando para trás foi praticamente uma benção do destino” reto, mas tive que empregá-lo em toda a propriedade. Olhando para trás foi praticamente uma benção do destino”, recorda. O trabalho com o novo sistema começou a chamar a atenção do setor agrícola e em 1975 o pesquisador americano Norman Borlaug, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1970, veio conhecer a propriedade de Bartz. Segundo ele, o próprio Borlaug acreditava que o plantio direto seria a grande revolução do milênio. Desafios e Sustentabilidade – Herbet Bartz comenta que, no início, o plantio direto sofreu uma certa obstrução de cunho ideológico, sob o argumento de que a técnica favorecia apenas os grandes produtores. “Mas o plantio direto tem trazido em sua bagagem o fato de ser socialmente justo, pois se adapta à agricultura de sub-

“A grande coisa que o plantio direto me trouxe foi o privilégio de fazer a amizade com os melhores agricultores do mundo”

sistência familiar”, explica. A agricultura brasileira produz aproximadamente três vezes mais do que há 25 anos, sendo que o aumento de área plantada não chega a 20%. Para Bartz, isso demonstra que o sistema brasileiro é sustentável e competitivo internacionalmente. Conforme o produtor, em 2001 a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Banco Mundial (BIRD) recomendaram a agricultores de todo o mundo que seguissem o exemplo brasileiro de agricultura conservacionista e usassem o plantio direto com rotação de culturas. “O meu objetivo é mostrar que o produtor que faz o plantio direto e preserva o solo, deixa a água mais limpa, gasta 65% menos combustível e ainda retira CO2 do ar e coloca em forma de matéria orgânica no solo, mereceria mais atenção por parte do governo”, opina. Resultados – De acordo com Bartz, atualmente 90% dos produtores paranaenses utilizam plantio direto. Segundo ele, um aspecto essencial da filosofia brasileira é que o plantio direto é adotado para que nunca mais se mexa na terra. “A rica vida do solo é o segredo para a sustentabilidade. O plantio direto na palha é uma tentativa de se reproduzir o que a natureza faz com a mata: manter o solo preservado”, afirma Bartz.


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Reportagem de Capa: Especial Dia do Agricultor

Família unida e agricultores eficientes

Um dia para celebrar o trabalho de uma vida inteira

Antonio Perrucci é produtor rural em Cambé-PR. Ao lado do irmão e de mais sete primos, todos agricultores, ele conduz as lavouras com o máximo de eficiência e dedicação. E os filhos e sobrinhos já mostram que querem seguir o caminho dos pais. Sempre preocupado com a eficiência na produção, Perrucci é referência quando o assunto é o uso de tecnologia na agricultura. Há dez anos, uma empresa de sementes realiza dias de campo na propriedade da família para mostrar aos agricultores da região novas variedades e técnicas mais eficazes de manejo. “Estamos sempre atentos às novida-

dulce@diadecampoonline.com.br

Há cerca de doze mil anos o homem deixava de ser nômade e passava a se fixar à margem de rios, mudando sua condição extrativista para o cultivo de cereais. Nascia uma das atividades produtivas mais importantes à sobrevivência humana. Pé vermelho terra, mãos calejadas do cabo da enxada e sol forte na cabeça são os traços históricos desse ofício. No dia 28 de julho, comemora-se o dia do agricultor, responsável pelo cultivo dos alimentos, pelo tratamento da terra, por amanhar o solo e preparar a lavoura.

Hoje, em muitas regiões brasileiras, especialmente no norte do Paraná, o lavrador tem o benefício da máquina e o proprietário conta com o trabalhador assalariado para o manejo do cultivo e melhor aproveitamento de produtos, ainda que a realidade seja cruel em outras regiões. Uma lenta evolução acompanha a história da agricultura, que ainda necessita de outros desdobramentos para o aumento na qualidade de vida de trabalhadores, lucratividade na produção e sustento responsável da população. Neste mês do agricultor, o Jornal Dia de Campo presta uma homenagem àqueles que fazem do Brasil um dos grandes celeiros do mundo. Conheça algumas dessas histórias:

“A vida da gente é um eterno desafio” Mais de 30 anos de dedicação à agricultura. Praticamente uma vida. E que não poderia ter sido diferente. “É o que a gente aprendeu a fazer com os pais, desde pequeno”, conta Eloy Müller, que ao lado da esposa, Cleide, administra o sítio da família, no distrito rural da Warta, em Londrina-PR. Hoje, os Müller cultivam morango, uva e outras frutas, vendidas in natura ou em forma de geléias, licores e vinhos. Todo o processamento ocorre ali mesmo na propriedade, sob a atenta supervisão do casal e com o apoio dos filhos. Mas para chegar à condição de agroindústria familiar foi “uma longa caminhada”, como gosta de dizer Eloy, sempre com a voz mansa, amigável. Ele lembra que das uvas que sobravam nos parreirais, que já não estavam mais tão vistosas para a comercialização, nasceu a ideia que viria a se tornar o forte da propriedade, com nome de respeito, inclusive: Vinícola Casa Müller. “A gente fazia alguns vinhos e foi agregando valor, devagarinho foi indo”. No entanto, mesmo com uma trajetória de conquistas, Eloy ressalta que o trabalho no campo não é nada fácil. Em 2009, por exemplo, o excesso de chuvas atrapalhou o desenvolvimento das uvas e dos morangos (as perdas chegaram a 70%); já em 2008, um verdadeiro vendaval passou pela região, despedaçando tudo o que havia pela frente. “No momento a gente até pensa: ‘Poxa! Acho que vou vender isso. Vou embora pra cidade’”, admite o agricultor. “Mas não faz bem pro ego da gente isso aí, a gente não vai se sentir bem, né?”, completa. Para Eloy, por mais difícil que seja a situação, o segredo é não desanimar: “o importante é ter amor à terra e dedicação, não se abater com os insucessos e dar a volta por cima. A vida da gente é um eterno desafio”. (Flávio Augusto)

Felipe Teixeira

Dulce Mazer

Pedro Crusiol

28 de julho é o dia do agricultor: parabéns a todos os produtores rurais, pela determinação em fazer do mundo um lugar melhor para esta e às futuras gerações

des que podem melhorar nossa produção. Com mais tecnologia temos mais perspectivas de bons resultados”, revela Perrucci. Mas, apesar do trabalho constante, os problemas enfrentados são muitos. Isso porque, segundo ele, quando o produtor não tem perdas pelo clima desfavorável, acaba prejudicado pelo preço baixo na comercialização. “Este dia é um momento para parabenizar os agricultores, mas também para refletir. A agricultura é uma atividade de risco e nós precisamos de mais apoio. Para ser produtor rural tem que ter muita raça e persistência, pois as adversidades são constantes”, ressalta. (Pedro Crusiol)


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Antonio Perrucci: “Para ser produtor rural tem que ter muita raça e persistência, pois as adversidades são constantes”

Dulce Mazer

Dulce Mazer

Hoje, Ildefonso trabalha a terra novamente, mas com um novo enfoque: como operário rural

Da lavoura à pesquisa no campo

Eloy Müller, ao lado da esposa Cleide, na feira do produtor, em Londrina

Aos 15 anos, Ildefonso Acosta Carvalho deixou o sítio onde a família cultivava café para morar na cidade. A partir daí, desenvolveu atividades como vendedor autônomo, teve pequenos negócios e foi policial militar. Trajetória surpresa teve nosso companheiro em sua luta de trabalho. Em 2001, passou no concurso público da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) e somente em 2005 foi chamado para trabalhar nos campos de pesquisa de soja, em Londrina-PR. Hoje, Ildefonso trabalha a terra novamente, mas

com um novo enfoque. Como operário rural, conseguiu atar duas pontas de um sistema que busca a melhoria constante da produção de alimentos, energia e matériasprimas agroindustriais no Brasil. É responsável pelo plantio, colheita, coleta de amostras de solos, de plantas, além de outros cuidados com os experimentos, contribuindo diretamente à pesquisa. “A gente vê o quão essencial é desenvolver pesquisas, tudo isso é passado depois para os agricultores nos dias de campo, nas palestras”, conta Ildefonso. (Dulce Mazer)

Empreendedoras representam a mulher do campo

Mercedes Numata: “Aprendemos a vencer desafios juntas”

As trabalhadoras rurais têm mais um motivo para comemorar o dia 28 de julho. Há menos de um mês, a Associação das Empreendedoras Rurais (AER) foi oficializada em Londrina-PR. O equilíbrio entre a delicadeza feminina e a firmeza exigida na labuta diária define o perfil de Mercedes Numata, eleita primeira representante da AER. Numata lembrou o início do grupo. “Nos conhecemos por meio do Programa Mulher Atual, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP). Nele, aprendemos a vencer desafios juntas. A partir disto, vimos que poderíamos fazer ainda mais pelas agricultoras”. A entidade é composta por uma diretoria, um conselho fiscal e pelas respectivas suplentes. “Neste primeiro mandato de dois anos, nós vamos divulgar os projetos do Sindicato Rural e do SENAR. Também pretendemos, ainda em 2010, realizar um workshop com cursos e palestras”, revelou entusiasmada. Em breve, teremos um dia só para homenagear o esforço das bravas mulheres das lavouras. Por que não chamá-lo de Dia da Agricultora? (Felipe Teixeira)

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Opinião

Biorreguladores Uma nova tecnologia para o aumento de produtividade Por Dr. Marcelo Cruz Mendes* michele@newslink.com.br No atual quadro da agricultura mundial, a palavra chave é eficiência. Com os elevados preços dos principais insumos agrícolas, o agricultor tem de tirar o máximo proveito de todos os produtos que são utilizados nas culturas, visando obter aumentos de produtividade e, ao mesmo tempo, redução de custos para que a atividade tenha rentabilidade. Tendo em vista que o potencial produtivo das principais cultivares de trigo em ambiente controlado é de cerca de 15.000 kg ha-1 e que a média nacional é de 2.070 kg ha-1, torna-se estratégico o emprego de novas tecnologias, que proporcionem aumentos em produtividade, que melhorem o aproveitamento dos recursos disponíveis, visando sustentabilidade dos sistemas agrícolas e evitem prejuízos ao ambiente.

Testemunha

Stimulate (TS*)

Biorreguladores, cujos efeitos são similares aos hormônios vegetais conhecidos (auxinas, citocininas, giberelinas), desempenham um papel importante podendo uniformizar a germinação, estimular o desenvolvimento radicular e o perfilhamento, melhorar o enchimento de grãos e antecipar ou atrasar a maturação. Essas substâncias são eficientes quando aplicadas em pequenas doses, favorecendo o bom desempenho dos processos vitais da planta, permitindo obter maiores e melhores colheitas, mesmo sob condições ambientais adversas (Martins & Castro, 1999). A pesquisa avaliou os efeitos do bioregulador líquido Stimulate®, da Stoller do Brasil, composto de citocinina (90 mg L-1), auxina (50 mg L-1) e giberelina (50 mg L-1), aplicado em tratamento de sementes, pulverização foliar no perfilhamento e no florescimento, sobre a massa de mil grãos e produtividade

Stimulate (TS + Florescimento)

*TS: Tratamento de sementes

Figura 1: Produtividade de plantas de trigo da cultivar Quartzo, em função das aplicações do bioregulador Stimulate® em diferentes estádios fenológicos Massa de mil grãos (g) Testemunha Stimulate (TS)

É importante que o produtor utilize apenas os biorreguladores que estejam registrados no MAPA

Stimulate (Perfilhamento)

33,97 b

Stimulate Stimulate (Perfilhamento) (TS + Florescimento)

35,64 ab

36,03 ab

37,22 a

Tabela 1: Massa de mil grãos de trigo da cultivar Quartzo, em função das aplicações do bioregulador Stimulate® em diferentes estádios fenológicos da cultura Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade de acordo com o teste de Tukey. *Stimulate: Biorregulador líquido, composto de citocinina (90 mg L-1), auxina (50 mg L-1) e giberelina (50 mg L-1), aplicado na dose de 4ml/kg de sementes ou 0,25L/ha em pulverização foliar no trigo do trigo. Os tratamentos consistiram de aplicações isoladas do biorregulador nas sementes (4ml/kg) e no perfilhamento (0,25L/ha), e da combinação da aplicação nas sementes e no florescimento (0,25L/ ha), além da testemunha que não recebeu o produto, na cultivar Quartzo. O ensaio foi conduzido em condições de campo no município de GuarapuavaPR. Para as aplicações isoladas de Stimulate nas sementes e na fase vegetativa, verificou-se um aumento de 10 sc/ha na produtividade do trigo e incrementos de

4,9 e 6,1% respectivamente na massa de mil grãos. Já para o tratamento com 2 aplicações (sementes + florescimento) observou-se um incremento significativo de 15 sc/ha na produtividade (Figura 1), além de aumentar também significativamente em 10% a massa de mil grãos (Tabela 1). Conhecendo os efeitos das citocininas, auxinas e giberelinas, estes aumentos na massa de mil grãos e em produtividade podem ser reflexo dos benefícios do bioregulador na germinação de sementes e desenvolvimento inicial de plantas, per-

mitindo uma antecipação na formação do sistema radicular e, conseqüentemente, uma melhor exploração dos recursos disponíveis no solo, tornando as plantas mais eficientes. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) classifica os biorreguladores como Reguladores de Crescimento. É importante que o produtor utilize apenas os biorreguladores que estejam registrados no MAPA, pois para eles foram realizados estudos de impacto ambiental, toxicológicos e de eficácia agronômica, informações fundamentais para o correto uso do produto, sem prejuízos ao produtor e ao ambiente. Alguns produtos chamados de bioestimulantes ou estimulantes vegetais, que podem conter reguladores vegetais com outras substâncias (aminoácidos, nutrientes, vitaminas, ácidos húmicos e extratos de algas), não são reconhecidos pelo MAPA como Reguladores de Crescimento e são diferentes de biorreguladores. Não tendo registro como tal, carecem de informações seguras sobre seu impacto no ambiente e sobre seus efeitos agronômicos. Há trabalhos que mostram que os bioestimulantes ou estimulantes vegetais podem não favorecer, ou até mesmo diminuir a absorção de nutrientes pelas plantas, indicando que as respostas às suas aplicações podem depender de outros fatores, tais como da espécie da planta e da composição das substâncias húmicas e dos extratos de algas presentes nos produtos (Csinzinszky, 1990; Cooper et al., 1998; Delfine et al., 2005). Alta produtividade é o resultado final de uma equação complexa que se inicia com o potencial genético das sementes, inclui o ambiente favorável para as plantas produzirem e termina na capacidade destas em explorar este ambiente. O equilíbrio hormonal adequado define a eficiência das plantas em aproveitar os recursos disponíveis, o que pode ser obtido com o uso de biorreguladores. *Engenheiro agrônomo da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná O conteúdo dos artigos de opinião é de inteira responsabilidade de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Dia de Campo.


Pecuária Inverno requer atenção redobrada nas granjas Nesta época do ano, com dias de frio intenso, o controle adequado da temperatura nos aviários é fundamental para evitar perdas

pedro@diadecampoonline.com.br

O mês de julho foi de muito frio em praticamente todas as regiões do Brasil. No Paraná, a temperatura despencou e atingiu valores abaixo de zero grau. Para os produtores rurais, o momento é de atenção, principalmente nas atividades que podem sofrer prejuízos com as baixas temperaturas. Na produção de frangos de corte, o cuidado nesta época de inverno deve ser redobrado. De acordo com o supervisor técnico do setor de pré-alojamento da Big Frango, empresa do setor avícola sediada em Rolândia-PR, Elder Alves Monteiro, para evitar prejuízos, os cuidados devem ser intensificados princi-

Se o produtor garantir as condições para a formação adequada do pintainho, o resultado será positivo palmente na fase inicial das aves. “Se nas primeiras semanas de vida do frango o manejo não for correto, no final do processo o lote pode perder a uniformidade, as aves estarão mais suscetíveis a doenças e a mortalidade será mais alta. Mas se o produtor garantir as condições para a formação adequada do pintainho, o resultado será positivo”, diz ele. Monteiro explica que os pintainhos são muito sensíveis e o controle de temperatura na granja é fundamental para o sucesso da produção, principalmente durante o inverno. Por isso, o avicultor deve estar atento a alguns fatores que podem interferir diretamente na qualidade do aquecimento. Vedação e ventilação mínima do

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A campanha de vacinação contra a febre aftosa, realizada durante o mês de maio, atingiu 96% do rebanho de bovinos e bubalinos do Paraná. (DC) Mariana Fabre

Avicultura

Pedro Crusiol

Jorge Woll / Divulgação

Dia de Campo | Julho, 2010 | Ano I - Edição 9 |

aviário - Com uma granja mal vedada, fica mais difícil para o produtor atingir a temperatura ideal. “Se não existe uma boa vedação, entram correntes de ar frio dentro da granja e o aquecimento é prejudicado”, afirma. Porém, a partir do momento em que é feita a vedação, é preciso garantir a ventilação mínima dentro da granja. Segundo o especialista, a ventilação deve ser feita de acordo com a situação de cada granja. “Se o aviário tem uma cama com maior tempo de uso, ele estará mais suscetível a gases como a amônia, por exemplo. Sem uma ventilação correta, o ar fica carregado dentro da granja e isso pode abafar o ambiente, aumentar a umidade e comprometer o aquecimento”, explica. Distribuição dos fornos - Muitas granjas apresentam um aquecedor principal, situado no meio do galpão. Com os dias frios, as pontas do aviário podem ter prejuízos no aquecimento. Por isso, o especialista indica a instalação de fornos auxiliares nestes locais. “Recomendamos isso para quem não tem um sistema de aquecimento eficaz. Com os fornos auxiliares é mais fácil chegar a uma temperatura constante em toda a granja e evitar problemas decorrentes da falta de uniformidade do lote”, garante. Cuidados com a lenha - Para garantir um aquecimento eficiente, Monteiro recomenda o uso de lenha de boa qualidade. Atualmente, segundo ele, o mais utilizado é o eucalipto. No entanto, a lenha não pode estar úmida e precisa ser armazenada em local seco e coberto. “Nós recomendamos para nossos produtores buscarem as lenhas, que serão usadas para o aquecimento, com bastante antecedência. Assim, quando eles retirarem um lote de frangos da granja, a lenha já estará armazenada e pronta para ser utilizada no novo lote.”

Para evitar prejuízos, os cuidados devem ser intensificados principalmente na fase inicial das aves; os pintainhos são muito sensíveis e o controle de temperatura na granja é fundamental para o sucesso da produção, sobretudo no inverno


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Manejo

Pasto bom o ano inteiro Pesquisa, planejamento e manejo adequado podem reduzir o impacto do inverno nas pastagens e garantir o bom desempenho do rebanho durante a estação Flávio Augusto flavio@diadecampoonline.com.br

Dias mais curtos, baixas temperaturas e períodos de estiagem: essas são as características preponderantes do inverno e que, se o criador não estiver preparado para elas com antecedência, podem acarretar em redução no desempenho do rebanho, seja na produção de leite ou na criação de bovinos de corte. Isto porque, nestas condições climáticas, as pastagens tendem a crescer menos do que em outras estações do ano, reduzindo, assim, a quantidade de alimento disponível aos animais. Além disso, há espécies de forrageiras – o popular “capim” – que são sensíveis a dias curtos e que, nesta época do ano, entram em florescimento. As plantas param de crescer em número de folhas e destinam mais energia à produção de sementes e ao alongamento do caule, no processo de perfilhamento. O florescimento torna a comida mais escassa, ainda que o perfilhamento implique, também, no brotamento de novas estruturas da forrageira, a partir de uma mesma base.

“Quando eu tenho forragem de alta qualidade no verão e no inverno, os animais têm um desempenho alto o ano inteiro” “Muitas vezes, se o produtor não estiver preparado para este período de inverno, ele mantém a mesma lotação [relação entre unidade animal (UA) - medida que corresponde a um animal de 450 kg - por hectare de pastagem]. Isso acaba baixando muito as pastagens”, aponta o pesquisador do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) na área de melhoramento genético, Sérgio Alves. Conhecido por “rapar a pastagem”, este processo impede uma boa alimentação, já que, devido à baixa quantidade de capim para uma mesma lotação animal, o bicho não é capaz de consumir bastante forragem numa “bocada” só. Alves acrescenta que, além de atrapalhar o rebanho quanto ao ganho de peso e à produção de leite, a “rapagem” acaba prejudicando o próprio pasto. “O sistema radicular é afetado, a planta rebrota pouco [crescem menos folhas], surgem oportunidades de sair outras plantas daninhas, de plantas invasoras crescerem e se desenvolverem”, salienta. “Os animais comem numa área grande e defecam e urinam numa área bastante pequena. Os sistemas acabam per-

Divulgação

dendo nitrogênio, seja por utilização ou por lixiviação, e as pastagens começam um processo de degradação”, complementa o pesquisador, em alusão à baixa absorção do nutriente por conta do número reduzido de folhas e de chuvas. Com isso, a matéria orgânica em forma de esterco ou urina, que já se concentra em um espaço menor, também encontra dificuldades para ser reaproveitada pelo sistema. Alternativas – Sérgio Alves recomenda que o gado sempre tenha à disposição algum alimento suplementar para o inverno. “Há diferentes formas de se fazer isso. Uma delas é subutilizar a pastagem no verão, para sobrar forragem nesse período”, diz. Nesta estratégia, por volta do mês de fevereiro, o produtor isola uma área do pasto, deixando acumular capim para as épocas mais frias. “A gente chama isso de pastagem diferida. Mas como ela tem baixa qualidade, normalmente o criador tem que usar, também, um sal proteinado no cocho”, esclarece Alves. “Mas se ele pegar essa pastagem diferida e puser um pouco mais de nutrientes no cocho, ele pode até fazer um semi-confinamento, que aí os animais vão ganhar mais peso, ao invés de só manter”, completa. O pesquisador conta que outra solução seria complementar a alimentação dos bovinos com cana-de-açúcar enriquecida com uréia (fonte de nitrogênio, nutriente vital ao bom rendimento animal), ou utilizar silagem de cana, sorgo ou milho. No entanto, um dos métodos que está em crescimento, atualmente, é o sistema de integração lavoura-pecuária, com o emprego de forrageiras típicas de inverno. “No Paraná, quando o produtor também é agricultor, para as partes mais quentes do estado, nós temos utilizado a brachiaria nas áreas de soja, logo após a colheita. E na região mais fria, aveia com azevém. Às vezes, fazemos, ainda, uma adubação com nitrogênio nessa pastagem de inverno”, esclarece Alves. “E quando eu tenho forragem de alta qualidade no verão e no inverno, os animais têm um desempenho alto o ano inteiro. Nós temos conseguido abatêlos com menos de dois anos de idade a pasto no Paraná”, destaca o pesquisador - normalmente, a idade de abate fica entre 2,5 e 3,5 anos. Alves ressalta, ainda, que a integração tem permitido até aumentar a lotação animal, passando de 1 a 1,2 UA/ha para 5 a 6 UA/ha. Mas, independente da estratégia adotada, o pesquisador lembra que é fundamental fazer um bom planejamento para o inverno. Assim, o criador garante o alto desempenho dos animais o ano todo, espantando de vez as “vacas magras” do rebanho. Seja a época que for.

Em crescimento, o sistema de integração lavoura-pecuária, que fornece alimento de qualidade também no inverno, pode reduzir a idade de abate e até aumentar a lotação animal


Vida Rural

Divulgação

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A 11ª Feira Sabores do Paraná, realizada de 14 a 18 de julho em Curitiba-PR, movimentou R$ 1 milhão em vendas e reuniu cerca de 32 mil visitantes. (DC)

Fotografia

A arte de fotografar animais Apesar das novas tecnologias, fotografar animais exige muito talento, sensibilidade e dedicação Sebastião Pereira “Tiãozinho”

Lino Tucunduva lino@diadecampoonline.com.br

Mesmo contando com todo avanço tecnológico na área fotográfica, nem tudo é possível com um simples olhar e um simples clique, como afirmam por aí. Tem certos trabalhos que necessitam de experiência, técnica, muita sensibilidade e emoção, senão tudo vira lugar comum. Estamos falando de um trabalho profissional especializado e de alta qualidade, ou da fotografia de pecuária, também conhecida por fotografia técnica de animais. Esta especialidade pode ser percebida em muitos setores: nas feiras e exposições agropecuárias, salões de arte, quadros, livros de animais de exposição, revistas de agricultura e pecuária, anúncios publicitários, embalagens de produtos, cartazes, outdoors, enfim, em vários locais, onde animais de pequeno, médio e grande porte são os principais atores. E muitas vezes, mal damos conta de que por detrás disso existe a mão e a versatilidade criativa de um verdadeiro artista, um fotógrafo profissional tecnicamente habilitado para esse delicado trabalho. Diante de muitos e bons fotógrafos profissionais no Paraná, são poucos os que se destacam na especialidade pecuária. O Dia de Campo conversou com Sebastião Pereira, mais conhecido por Tião-

É importante escolher um local onde o animal fique com a frente mais levantada do que o posterior, para corrigir a linha de dorso

Mercado fotográfico

zinho, fotógrafo profissional há 42 anos, dentre os quais, 29 dedicados exclusivamente nesta área. “Trabalhar com animais, além da técnica, tem de ter paciência, sensibilidade e aguardar o momento certo para fazer a melhor foto. Sem contar que antes de fotografar é feita a toalete no animal, ou seja, dar banho, cortar pelos das orelhas e dos pés, limpar os chifres, vassoura do rabo e cascos”, revela Tiãozinho, adiantando que depois é passado um óleo por dentro das orelhas e nos chifres para dar brilho. “Aí sim, o animal está pronto para a foto”, garante. Algumas técnicas - É importante escolher um local onde o animal fique com a frente mais levantada do que o posterior, para corrigir a linha de dorso. A maioria dos animais tem a frente mais baixa do que o posterior. Para isso, sob a orientação do fotógrafo, o “puxador” arruma o

Mario Mori

“Trabalhar com animais, além da técnica, tem de ter paciência, sensibilidade e aguardar o momento certo para a fazer a melhor foto”

animal, colocando as patas na posição correta, ou seja, uma do lado da outra, tanto a anterior como a posterior. “O animal não pode ficar esticado, nem curto. Para o zebu, a base seria: anterior no meio do cupim e posterior no rabo, que funciona como um pêndulo até o jarrete”, explica Tiãozinho. Câmera, ação! - Alguns segredos da profissão. Com uma teleobjetiva, no mínimo 200 mm, uma pessoa deve ficar atrás do fotógrafo, fazendo barulho ou passando com alguns animais, para chamar a atenção, pois o animal tem que ficar expressivo, cabeça bem erguida, olhos atentos, orelha bem levantada na altura dos olhos. Aí é só clicar, conclui Tiãozinho.

Com o mercado em franca expansão, Tiãozinho atende diversas agências de publicidade rurais, empresas de inseminação artificial de pecuária e criadores, além de fotos de animais para catálogos, banco de imagens, sites com animais soltos, paisagens rurais, rebanhos, bovinos, equinos e ovinos. Há 36 anos Tiãozinho faz cobertura fotográfica na Exposi-

ção Agropecuária de Londrina e muitos de seus trabalhos já foram premiados e expostos no shopping Catuaí, Casa do Criador e Museu Rural, entre outros espaços de arte do Paraná. Serviço - Sebastião Pereira. Contato: (41) 9988-1020 e (43) 9903-3550. Email: tiaopereira@ gmail.com. (LT)


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Evento técnico

Mariana Fabre

Agenda

Confira os principais eventos agropecuários programados para os meses de julho e agosto 37º CONBRAVET - Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária 26 a 30 de julho Rio de Janeiro-RJ (21) 2539-1214 www.conbravet2010.com.br conbravet2010@cmeventos.com.br

Dia de Campo apresenta tecnologias de milho safrinha Mariana Fabre mariana@diadecampoonline.com.br

Nos dias 20 e 21 de julho os produtores da região norte do Paraná entraram em contato com as mais novas tecnologias da cultura de milho safrinha, como defensivos para controle de doenças e pragas, além de técnicas e produtos para adubação foliar e mineral.

Os agricultores estiveram reunidos no 3° Encontro Técnico promovido pela Agro 100, empresa que atua na revenda de defensivos agrícolas com matriz em Londrina-PR . De acordo com Carlos Garcia, um dos sócios da Agro 100, o número de participantes neste Dia de Campo superou as expectativas. “380 produtores da região de Sertanópolis e 1° de Maio participaram do primeiro dia e no segundo estiveram presentes 150 agricultores de Bela Vista do Paraíso, Londrina, Cambé e Alvorada do Sul”, relata.

Curso Trabalhador no Cultivo de Eucalipto (Sindicato Rural Patronal de Londrina) 27 e 28 de julho Londrina-PR (43) 3374-0300 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia 27 a 30 de julho Salvador-BA (71) 2102-6600 www.reuniaosbz.com.br sbz2010@sbz.org.br EXPOGOIO – Exposição Agropecuária e Comercial de Goioerê 6 a 10 de agosto Goioerê-PR (44) 3522-1596

EXPOGUA – Exposição Agropecuária e Comercial de Guarapuava 6 a 15 de agosto Guarapuava-PR (42) 3622-6322 9º CBA - Congresso Brasileiro de Agribusiness - ABAG 9 de agosto São Paulo-SP (11) 3285-3100 www.abagbrasil.com.br abag@abag.com.br III Simpósio Brasil Sul de Suinocultura e I Brasil Sul Pig Fair 10 a 12 de agosto Chapecó-SC (49) 3329-1640 www.nucleovet.com.br nucleovet@nucleovet.com.br 43º Congresso Brasileiro de Fitopatologia 15 a 19 de agosto Cuiabá-MT (65) 3621.1314 http://www.cpao.embrapa.br/eventos/ congresso_fitopatologia2010.jpg


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