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Escrevivendo arte
Clara Fiedler
Escrevivendo Projeto arte
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Coordenador: Valesca Rodrigues de Souza Bolsistas: Ana Karoline Antunes Dias e Sandro Lima Soares Filho Voluntária: Júlia Alves Sant’Ana Lima Barreto Colaboradores: Maria Flávia Pereira Barbosa, Lidiane da Silva Santos e Bárbara Caroline de Oliveira Texto: Valesca Rodrigues de Souza Campus: Montes Claros
O projeto ‘Escrevivendo’ arte foi pensado enquanto espaço de interação social, no qual os envolvidos pudessem, no período de isolamento social devido à pandemia e à crise de saúde pública, expressar seus sentimentos e emoções de maneira compartilhada, por meio da arte, oportunizando, tanto o desenvolvimento de habilidades sociais como de habilidades cognitivas, entre alunos dos primeiros anos dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) – Campus Montes Claros e os alunos dos primeiros anos do Ensino Médio da Escola Estadual Levi Durães Peres, por meio da rede social “Instagram”, com o perfil @escrevivendoarte. Ainda tivemos nosso projeto engrandecido com a parceria do Campus Arinos e, posteriormente, alunos de outros campi do IFNMG e de outras instituições solicitaram interação, expandindo, consideravelmente, nossos beneficiários. Ao final, o projeto alcançou 393 seguidores com 164 publicações, sendo um total de 8374 interações, 1388 visitas ao perfil, alçando um total de 10.384 pessoas em todo o projeto.
Em 2020, devido à crise sanitária de saúde pública causada pelo novo coronavírus (COVID-19), as instituições de ensino passaram por um processo de transformação, que mudou, pelo menos, em se tratando de instrumentalização das ações por meio das tecnologias digitais, o processo ensino-aprendizagem. O ensino remoto emergencial (ERE) estabelecido nacionalmente fez com que todos os atores diretamente envolvidos com a educação ressignificassem suas ações, aqui abrangendo gestão de ensino, docentes, estudantes e famílias. Deste contexto, emergiram questões positivas e negativas, sendo a saúde mental dos discentes uma pauta posta como essencial para acompanhamento e discussão.
Mesmo antes da pandemia, a saúde mental dos adolescentes era motivo de preocupação das instituições de ensino, uma vez que situações diversas, envolvendo distúrbios emocionais, tornaramse frequentes, prejudicando o desempenho escolar de muitos alunos. Em artigo sobre a pandemia, a Revista Exame aponta: “antes da pandemia, dados da Organização Mundial da Saúde já apontavam o Brasil como o que tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno” (SENA, 2020).
No caso da saúde mental, os possíveis impactos das restrições sociais estão previstos em estudos de organismos nacionais e internacionais publicados durante a pandemia. Eles apresentam recomendações e orientações para práticas de autocuidado e prevenção contra o sofrimento psíquico, com possíveis agravamentos para doenças ou transtornos mentais comuns (GARRIDO; RODRIGUES, 2020, p. 1-2).
Sobre o atual momento de isolamento social, a Unicef (2020) assevera que o isolamento social, prática importante para controlar o surto de coronavírus, está exigindo mais atenção com questões relacionadas à saúde mental de adolescentes. Com o fechamento das escolas e eventos cancelados, adolescentes perdem a oportunidade de participar de encontros presenciais, conversar com amigos, praticar esportes coletivos, assistir às aulas, entre outras atividades fundamentais para o seu desenvolvimento e bem-estar. O isolamento social pode não somente agravar quadros já existentes de ansiedade e depressão, como também levar ao desenvolvimento de novos quadros. Em texto direcionado aos adolescentes, a Unicef apresenta as seguintes sugestões sobre como atravessar este momento: “1. Reconheça que
ter ansiedade é normal; 2. Tenha uma rotina; 3. Crie distrações, seja criativo; 4. Encontre novas maneiras de se conectar com seus amigos; 5. Use a tecnologia a seu favor; 6. Concentre-se em você; 7. Vivencie seus sentimentos; 8. Seja gentil consigo mesmo e com os outros”.
Após o primeiro mês de paralisação das atividades escolares presenciais, alguns alunos começaram a relatar sintomas de ansiedade, bem como a necessidade de participarem de momentos em que pudessem se expressar e partilhar momentos com os colegas. Foi como ferramenta de apoio e auxílio emocional para adolescentes, por meio do compartilhamento das emoções e sentimentos, tendo como meio a arte, que o ‘Escrevivendo’ arte surgiu.
Assim, o perfil @escrevivendoarte no Instagram foi criado para ser o espaço de desenvolvimento do projeto ‘Escrevivendo’ arte, cujo título homenageia Conceição Evaristo, uma escritora versátil, que perpassa a poesia, a ficção e o ensaio, brindando-nos com seu olhar de mulher negra na sociedade brasileira. O título ‘Escrevivendo’ arte foi inspirado no termo “escrevivência”, criado por Conceição Evaristo para expressar suas vivências cotidianas, uma escrita que nasce da memória da própria autora e do seu povo.
Neste sentido, o projeto de extensão ‘Escrevivendo’ arte criou um espaço de interação social virtual, no qual os envolvidos puderam se expressar, oportunizando tanto o desenvolvimento de habilidades sociais como de habilidades cognitivas entre os participantes. Inicialmente, o projeto tinha como público-alvo os alunos dos primeiros anos dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) – Campus Montes Claros e os alunos dos primeiros anos do Ensino Médio da Escola Estadual Levi Durães Peres. No entanto, o projeto fora engrandecido com a
parceria do Campus Arinos e, posteriormente, com a participação de alunos oriundos de outros campus do IFNMG e de outras instituições, que solicitaram interação, expandindo, consideravelmente, os beneficiários do projeto. Ao final, o projeto alcançou 393 seguidores com 164 publicações, sendo um total de 8.374 interações, 1.388 visitas ao perfil, alçando um total de 10.384 pessoas. Utilizando a tecnologia da rede social, o ‘Escrevivendo’ arte oportunizou, especialmente, o desenvolvimento de competências socioemocionais, abordando habilidades focadas na educação das emoções, visando promover o pensamento autônomo dos alunos e suas potencialidades. Para tanto, foram selecionados os seguintes temas, que serviram de base para diversas atividades realizadas no perfil: Escritoras e escritores (metalinguística); Isolamento social; Cordel; Festas de Agosto; Setembro musical; Consciência negra; Povos originários.
Seguindo os temas propostos, os bolsistas desenvolveram diversas atividades no perfil, inclusive chamadas semanais aos alunos das instituições participantes, convidando-os a participar. Entre as atividades realizadas pelos bolsistas, destacam-se: tutoriais; declamação de poesia; templates; duelo de livros preferidos; wallpapers; música; desafio do livro; indicações de livros, filmes e séries; petição para defender o livro; enquetes; lives; playlist construída junto com os seguidores; pesquisas e publicações sobre personalidades negras; chamadas; avisos e organização de sarau virtual, que contou com a participação de 60 participantes e durou 4 horas, gerando certificação. Convém destacar a parceria entre as disciplinas Literatura e Artes, que trouxe ao projeto muitas contribuições; ademais, o projeto recebeu inúmeras apresentações que engrandeceram a dinâmica do perfil como: challenge de maquiagem,
vídeos declamando poemas e interpretando canções; poemas diversos e fotografias.
Por fim, tivemos a participação de excelentes profissionais nas seguintes lives do perfil: “Literatura de todos os tempos: do pergaminho à era digital”, “A escrita como oportunidade de sobrevivência”, “Dançar a poesia: o poder do corpo em movimento”, “Jukita e as festas de agosto”, “Live surpresa sobre o ‘Escrevivendo’ arte”, “Live musical”, “A ansiedade não está no controle”, “Potencial criativo do ser”, “Arte indígena, natureza e Lei 11.645/08”. Destacamos aqui relatos dos bolsistas sobre a participação no projeto: “O projeto ‘Escrevivendo’ Arte proporcionou a ampliação dos meus horizontes. Pude conhecer os cantores, poetas e artistas que convivem comigo todos os dias no IF e isso foi muito significante” (Ane Karoline); “Apesar de ter ficado pouco tempo no projeto, esses dois meses foram incríveis pra mim, pois aprendi bastante sobre a cultura negra e a indígena, além de ter um maior contato com a comunidade estudantil. Sinto que cresci mentalmente, e sou grata ao projeto por isso” (Maria Eduarda); “Queria agradecer a todas, ‘todes’ e todas que fizeram parte desse projeto que significou tanto para mim! Queria agradecer, especialmente, à professora Valesca, professora Maria Flávia, professora Bárbara, professora Lidiane e aos bolsistas Karol, Maria e Sandro. Foram meses de muito aprendizado e experiências incríveis. Pude conhecer diversos livros, artistas regionais, culturas diferentes e mulheres incríveis do mundo da literatura. Espero em 2021 continuar a compartilhar minhas leituras e declamações no @ escrevivendoarte” (Júlia).
Ante o exposto neste relato, cabe frisar que, para além das metas estabelecidas, construímos laços de conhecimento que, compreendendo a complexidade que constitui o ser humano, promovem o bem-estar de todos os envolvidos.