Jornaleco 347 01 mai 2010

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Viajar ao passado é uma das fantasias mais excitantes da humanidade. Viver e reviver fatos que presenciamos ou não, rever pessoas e lugares. Mas, por enquanto, só podemos recorrer à memória para recriar o tempo perdido, ver fotografias e filmes, sonhar... Eis uma janela aberta para uma cena na av. Getúlio Vargas, quando acontecia uma corrida rústica, num domingo de manhã de inverno, na metade dos anos 1980. (RG)

ARARANGUÁ, 1o DE MAIO DE 2010 • ANO 16 • Nº 347

Depois de décadas, retornei a Boa Vista, localidade do município de Meleiro, na época de meu nascimento ainda Araranguá, segundo maior município depois de Laguna (década de 1940) no sul do Estado. Ali nasci e me criei até meus cerca de quatro anos, seguindo depois para o Araranguá, onde meu pai advogava e tinha propriedade. Nosso sítio na Boa Vista, chamado Sanga da Perdida, não mais existe. Virou roça de fumo. O terreno onde nasci ainda está lá. Mudou a construção sobre ele. No lugar da casinha de madeira sem pintura está uma pequena construção de alvenaria. Pouco mudou a Boa Vista do Meleiro. Nos lugares das antigas construções estão outras. Algumas sumiram e no lugar delas nada brotou de novo. O cenário bucólico continua o mesmo. A velha atafona está quase igual, intocada pelos residentes. A capelinha é ainda a mesma. O impressionante foi, chegando lá apenas para uma passagem fugaz, ter encontrado pessoas novas e velhas e, conversando com elas, ter sido reconhecido pelos laços históricos e familiares e pela atividade profissional em televisão e rádio – 22 anos na Rádio e TV Eldorado de Criciúma. O impressionante foi, conversando com essas pessoas, ter recebido delas um carinho comovente como jamais senti nos últimos anos andando por aí.

Av. XV de Novembro, 1807 - Centro

Eles demonstraram uma quase honra de ver a gente novamente, vivo e são. Estava com o mano Aimberê que, por mais velho, sabia e lembrava de mais coisas, fatos, lugares e nomes do lugar. Engatou uma conversa longa com os moradores, que nos cercaram na ruazinha em frente à capelinha. Encontramos Dona Benta, esposa de Alcides Machado, um meio parente com quem nos relacionávamos, já falecido. E ela não se fez de rogada – expansiva como poucas pessoas de sua idade e da sua condição humilde, de inteligência e memória agudas, desfilou lembranças e histórias que nos encheram de saudades. Encontramos Moacir e Fátima Búrigo, casal nascido e criado ali e morador de Araranguá. Fátima, mais que o marido Moacir, guardava histórias de nós que nós próprios não tínhamos noção. E massageou o ego do Aimberê, escritor consagrado, que escreve uma coluna no Jornaleco (é este o nome mesmo), quinzenário que circula em Araranguá: disse que sempre lê sua coluna e estava satisfeita de conhecer seu autor. Aimberê quase babou de surpresa. E ela foi sincera, porque demonstrou saber do conteúdo abordado nas suas colunas. Lia mesmo! Passamos no Turvo, onde também residimos no tempo da meninice. Encontramos Ronald Grechi, dono da Rádio Imigrantes e do Mercado Pescador, tradicionalíssimo na cidade e na região. Reencontrei colegas do meu tempo de Rádio Araranguá, como o Edson, há 26 anos (desde a fundação) locutor da Rádio Imigrantes do Turvo. aderbalaquarela@hotmail.com

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ARARANGUÁ v i s i t e : w w w. a r a r a n g u a . n e t

1894

Aderbal Machado

ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE

Araranguá tem 28 casas

VIAGEM NO TEMPO

1º/05/2010 • ANO 16 • Nº 347

Araranguá localiza-se à latitude 28º56’05" Sul e à longitude 49º29’09" Oeste. O município fica a 13 metros acima do nível do mar. Segundo o IBGE, sua área é de 304 km²; em 2009, sua população foi estimada em 59.537 habitantes. Seu atual prefeito é Mariano Mazzuco Neto.

1894

Foto enviada por Nenê Hahn

A BOA IMPRESSÃO É A QUE FICA

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H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi DISTRIBUIÇÃO Gibran Grechi , Nilsinho Nunes ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende OFICINA Nei, Valdo, Welington, David, Toninho GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE A.César Machado EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO

© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866 - prot. 4315/RJ, de 17/07/1995)

UMA PUBLICAÇÃO

ORION EDITORA Calçadão Getúlio Vargas, 170

88900.000 Araranguá - SC - Brasil jornalecocultural@yahoo.com.br

Bernardino de Senna Campos nos deixou, entre outros registros que se seguiriam até os anos 1930, um retrato monumental da Araranguá da virada do século 19. Quando chegou aqui, em lombo de cavalo, para montar a estação telegráfica, anotou em seu diário tudo o que viu e as primeiras pessoas que conheceu. Acompanhe a histórica chegada de Bernardino à nossa vila, contada através da própria pena do famoso telégrafo e nosso grande memorialista.

Chegamos à vila de Araranguá

a 2 de junho de 1894, às 2 horas da tarde. Entrada tristonha, naquela época (não obstante ser um dos locais mais bonitos de todo o Estado e de onde tenho passado), cheia de mato, vassourais, abandonada como estava. Compunha-se toda a vila, que tem sua frente para a serra, de 28 casas, sendo apenas 20 de telhas, o resto de palha e estuque. Na pequena praça, de uns 50 metros em quadro, está edificada a sua igrejinha, uma pequena capela de tábuas, toscas, com a frente para oeste, tendo ao lado direito dois esteios e uma escada de madeira e, em cima, um pequeno sino. Em frente à praça, atravessa o majestoso rio Araranguá, um dos maiores do Estado e mais fundo, mas com uma barra ingrata, numa praia isolada. Existiam uns cinco iates que viajavam para a Capital, uma ou duas viagens por ano, quando a barra dava saída. Em frente à igreja, numa casa de estuque e telha, estava o quartel. Noutra maior, de tijolos, um pouco atrás, era a municipalidade. Numa rua, no extremo sul da vila, existiam cinco casas melhores. Ali esteve, e ia novamente montar, a estação. Logo ao lado residia o Dr. Juiz de Direito, Virgulino Correia de Queiroz, cuja senhora estava de cama, enferma de recaída de parto, na ocasião em que cheguei. Entramos na vila por uma de suas estradas do sul, junto com os companheiros. Passando em frente ao quartel, havia uma praça de sentinela, que nos fez continência, pensando ser eu patente superior, por ver um sargento e dois praças fardados atrás de mim! A nossa companheira apeou-se numa casa, na entrada da vila, de um senhor por nome Manuel Jesuíno. Passando pela porta do Juiz de Direito, que estava na janela, apeei para cumprimentá-lo, dando-lhe notícias do fracasso da Revolução, da derrota da esquadra revolucionária no porto de Rio Grande e da vitória do Governo Legal, sucessos que ele e os demais habitantes de Araranguá ignoravam. Despedindo-nos, fomos abrir a casa da estação, que era contígua à casa do Juiz. Logo à minha chegada, fui acolhido com manifestações de regozijo, pela pequena população, sendo visitado pelo

capitão do “corpo cívico”, Cel. Apolinário, que ali ficou com uns 15 praças. Fui visitado também por Pedro Fernandes de Souza, um seu irmão, João Fernandes de Souza, e por outras pessoas de destaque na vila. Na primeira noite em Araranguá, pernoitei na casa do Capitão Pedro Fernandes, e o sargento e os praças na casa da estação, com o guarda Valadares. Às sete horas da noite, Bernardino e sua câmera: imagens mais ou menos, estávamos únicas da jovem Araranguá todos na casa da estação conversando, quando fomos surpreendidos por toque duma banda de música, na porta da casa. Causou-nos grande surpresa, não obstante já saber que ali tinha uma banda de música, duma distinta família de cor, vinda de Conceição do Arroio, foragidos por causa da Revolução. A família compunha-se do chefe Manoel J. da Silva e cinco filhos, todos músicos. Tinha três filhas. Ficamos surpresos por aquela prova de consideração e regozijo daquele povo. Logo encheu-se a casa de pessoas, às quais fui apresentado. Mandei vir umas garrafas de cerveja, que, felizmente, encontrei numa vendola próxima, com o que pude obsequiar os manifestantes. A convite deles fomos à casa dum senhor, já meu conhecido de Torres, por nome Quintiliano Emerim, que era chefe político. Residia a um quilômetro mais ou menos da estação. Lá estivemos até às onze horas da noite, onde também ofertou-nos bebidas e café, recebendo desde este dia atencioso acolhimento pelo hospitaleiro povo de Araranguá. No dia seguinte, 3 de junho, às onze horas do dia, chegou a carretinha que trazia o aparelho e mais material para a estação. Tratei logo de montar as comunicações.” (das “Memórias” de Bernardino de Senna Campos, compiladas no livro “Memórias do Araranguá” pelo Pe. João Leonir Dall’Alba, editora Lunardelli, Florianópolis, 1987 - págs. 42, 43 e 45)


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