Jornaleco 373 01 jun 2011

Page 1

Léia Batista Aqui e agora

Abordei numa das minhas crônicas a necessidade do retorno da música nas escolas. A ditadura militar nos seus tempos de guerra foi massacrando toda e qualquer forma de manifestação cultural que contestasse seus desmandos e arbitrariedades. A música que os ditadores executavam, a toque de caixa, era um bizarro amor à pátria, de sua lavra, regida pelas baionetas caladas que tentavam emudecer os menestréis da liberdade. Havia um dupla de compositores e cantores, Dom e Ravel, duas marionetes, dois clowns mandados, que cantavam uma dessas barbaridades, harmonizando os crimes e criminosos. Infelizmente o mal estava disseminado, e, a longo prazo. Desde então estamos a várias décadas ouvindo esterco nacional e importado, alienador e oportunista. O bate estaca da tecno music; as letras miseráveis, vazias; os cantores e cantoras medíocres, mas de boa plástica; bundas e tetas rebolando na telinha, mostrando a sua “arte”, enfim, toda essa maravilha da redução de inteligência, da brasileirice estagnada musicalmente é produzida por cabeças de bagre que conseguiram, não se sabe como, ocupar postos chaves nas vertentes culturais brasileiras e, através de vantagens, ganância e desprovidos de ética, criaram a subcultura artística. Os apelos para que a música retorne às grades escolares são muitos. Nossos jovens já ouviram falar do Hino Nacional em algum lugar e só sabem cantarolar alguns versos. Estão desmatando o nosso Hino. Como perpetuar seu conteúdo, conviver e proteger a nação senão soubermos sua letra, seu ritmo, seu biorritmo? Nossas crianças, coitadinhas, estão comprando literatura musical empacotada do centro do país, propagadas pela TV e suas intrépidas apresentadoras loiras e decadentes. Está na hora de começar a dar uma virada nesse jogo. Nós que educamos, estamos cansados de perder sem mesmo sair do partidor. Existe muita música boa, honesta e oportuna, não oportunista. Muitos compositores independentes, que não podem competir com a pirataria oficial – gravadoras e produtoras –, estão fazendo trabalhos calcados na realidade ecológica, no amor, nos deveres e responsabilidade de cada um, e no respeito. Estão vendendo suas obras em praça pública ou em qualquer vitrine que surja. É na arte, principalmente na música, que vamos plantar uma sementinha de sabedoria para que os que estão chegando ao mundo encontrem vicejando por todos os cantos desse país árvores que lhes dêem frutos, flores e sombra. A carência de educação e respeito é desesperadora. Por que não oportunizar aos pequenos o conhecimento da nossa pátria, da sua gente, através da música, da boa música? Num país que registra através de suas lentes o assassino banal chamado Lindeberg, como se fosse uma película concorrendo a um Oscar, só faltando colocar o elenco da tragédia na telinha, está mostrando desesperadamente que estamos precisando de paz, de compreensão e de entendimento. Temos que começar por algum lugar. A música tem esse poder. Usemo-la!

Quem mora no litoral, ou melhor, quem curtiu a infância e a adolescência na beira da praia, certamente possui momentos inesquecíveis na lembrança. Lembro-me da sensação de afundar nas ondas do mar por horas a fio. Dos dedos murchos por conta do banho exageradamente demorado e do cheiro de sal grudado na pele seca no sol, feito charque. Sinto, como se fosse hoje, a dor da areia fina açoitando minhas pernas magrelas em dias de vento sul. Às vezes o vento virava e trazia com ele – do norte ou nordeste – a chuva. Aprendera isto com meu pai, tão bom pescador quanto contador de histórias. Por ele conheci espécies do mar que hoje só se vê em livros, pois não nadam mais por estas praias. De todos, ficou registrada em minha mente infantil a imagem bizarra de um peixe com a cabeça estendida para os lados em forma de martelo.

Fone/Fax: 3524-5916

A BOA IMPRESSÃO É A QUE FICA

Av. XV de Novembro, 1807 - Centro

APOIO CULTURAL

Obrigatoriedade da música nas escolas

Estive na beira da praia há poucos dias. Um grupo de pescadores puxava uma rede mirrada, de uma época que mal se vê tainha e papa-terra em abundância. O vento cortava frio como na minha infância e me dei conta de que raramente me permito estas sensações. O absurdo se dá no fato de continuar vivendo próximo ao mar e que, apesar da natureza ter surrupiado alguns dos meus direitos – como o de ver o peixe martelo ao vivo –, muitas coisas ainda estão tais e quais eu deixei no passado. A única diferença é que me esqueci de experimentá-las. Amadureci. A constatação gelou minha mente muito mais do que o vento nordeste naquela tarde. Expulsei completamente da minha alma o dispositivo que potencializa as emoções, como todo adulto que abdica do direito de viver intensamente e assume o dever de subsistir meramente. Que grande cilada, minha cara! Falei para mim mesma enquanto caminhava contra o vento e de encontro a minha identidade fragmentada. Você perdeu a sensibilidade com tanta na-

turalidade que sequer percebe a realidade robótica em que vive. O vento bate em suas pernas e você foge para se abrigar em um lugar seguro, menos arriscado. A água chama para que venha se banhar com ela, mas você nega veementemente a possibilidade de arruinar seus cabelos e sua pele com o sal. Os peixes sorriem por entre as tramas de nylon da rede, e você nem viu. Está ocupada, preocupada, organizando mentalmente os próximos minutos e horas que esperam por você depois que deixar a beira da praia, depois que voltar ao seu habitat natural mecanicista. Você cresceu minha querida, e desaprendeu a viver no presente. Gente grande não vive agora, vive daqui a pouco, amanhã, daqui a um, dois, dez anos. Adultos projetam o amanhã para sentirem-se normais, espertos e importantes. Preocupamse com a aposentadoria, com a velhice segura, em deixar heranças polpudas, terras, bens, e não podem perder tempo com a besteira de sentirem-se plenos no presente, como se viver fosse um verbo a ser conjugado apenas no futuro.

Solicite-nos através de jornalecocultural@yahoo.com.br o recebimento das edições do Jornaleco (igual no papel + as fotos coloridas) via e-mail

JORNALECO jPANFLETO CULTURAL

ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS

Distribuição gratuita Periodicidade quinzenal Tiragem: 1.000 exemplares

H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H

UMA PUBLICAÇÃO

EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi DISTRIBUIÇÃO Gibran Grechi , Nilsinho Nunes ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende IMPRESSÃO GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Antonio César Machado OFICINA José Nei da Rosa, Valdo, Welington, David, Toninho Abel

ORION EDITORA

© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866 - prot. 4315/RJ, de 17/07/1995)

Calçadão Getúlio Vargas, 170

88900.000 Araranguá - SC - Brasil jornalecocultural@yahoo.com.br

ARARANGUÁ v i s i t e : w w w. a r a r a n g u a . n e t

Av. Getúlio Vargas em 1942

FOTO: Soldados e povo desfilam em 16 de dezembro de 1942, em Araranguá, cruzando a esquina da av. Getúlio Vargas com

a av. Sete de Setembro. À direita, o recentemente extinto prédio do “Café Brasil”. Foto: Salvador; arquivo: Carlos Becker. NA HISTÓRIA: Em 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha Nazi e à Itália. Em 26 de agosto, um avião da

Força Aérea Brasileira atacou e danificou um U-Boot próximo da cidade de Araranguá, no estado de Santa Catarina. (Wikipedia)

A marca do seu parceiro de estrada

DISK FONE (0**48) 3524-0071

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE

Galeria Galeria

Não voltei a ser criança naquela tarde na praia, tampouco exterminei o equívoco que se criou em mim ao tornar-me adulta (quem dera fosse simples assim), apenas me permiti ali, naquele momento, no único tempo que realmente me pertence, ser plenamente feliz.

POSTOS IRMÃO DA ESTRADA

“Antes de tratar do topônimo ARARANGUÁ, vale propor uma reflexão quanto às denominações de Capão da Espera e Campinas, citadas como primeiros nomes da cidade.” (siga em A História de Araranguá, nova edição, 2005, nota à pág. 21)

ARARANGUÁ, 10 DE JUNHO DE 2011 • ANO 18 • Nº 373

Paro um pouco, alongo, respiro. O mar à minha frente revolve em minha memória e traz lembranças repletas de cheiros, de sons, de sabores, de emoções ainda vivas. Então, percebo que mal lembro o que comi ontem, ou que roupa eu usei. Onde passei o natal passado? O que fiz naquele feriadão? Como é mesmo o nome daquela pessoa? Quem foi que me contou tal coisa? Preciso fazer muito esforço para recordar-me de coisas que vivi recentemente, enquanto lembro com precisão de detalhes dos momentos na praia, vividos há mais de vinte anos. Não é o tempo que nos rouba a memória, é a pressa de viver. Não é envelhecer que enrijece as emoções, é essa urgência absurda de chegar ao futuro antes que ele aconteça. Preocupados com um tempo que ainda nem existe, paramos de sentir, de experimentar e de viver com alma, assim, perdemos as lembranças ainda jovens e morremos antes da morte.

casadocarimbo@brturbo.com.br

10/06/2011 • ANO 18 • Nº 373

JORNALECO

Edição nº 1, de 18/05/1994 (primeiro formato, de duas dobras) APOIO CULTURAL

Lony Rosa

leia@contato.net

APOIO CULTURAL

lonyrosa@hotmail.com

Dedico este texto a todos que amam o JORNALECO Eu aprendi a amá-lo desde sua fundação. Graças a ele fui melhor alfabetizado. No entanto, isso me fez aprender muito mais para reconhecer em cada novo número o quanto ainda não sei. Foram eles, os ricos exemplares, que dimensionaram a minha ignorância. Hoje tenho centenas deles espalhados por todos os lugares de meu esconderijo, para sempre recorrer a seus ensinamentos quando preciso. Muitas vezes, simplesmente para me deleitar com a sabedoria e com as palavras ordenadas de modo preciso, o que me causa sempre uma baita inveja. Como é difícil escrever! Tenho a sorte e o prazer de participar, vez ou outra, com algumas matérias. Nenhum leitor jamais reclamou do que leu. Alguns, claro, não poderiam reclamar, por já estarem mortos. Mas eu os tratei com a reverência que mereciam. Cada exemplar do JORNALECO, levo-o com o cuidado de quem leva cristais, pois sei que, quando precisar reencontrá-lo, estará lá, à minha espera, como um velho amigo que nunca se despede. Para o JORNALECO, nunca se deve dar adeus. Clóvis A. Fantin

Edição nº 136, de 16/07/2001 (a volta do antigo formato)

MUSCULAÇÃO z PILATES STUDIO z PILATES EM GRUPO z X BIKE z X JUMP z POWER SET z ABS z ALONGAMENTO z STEP z NUTRICIONISTA z FISIOTERAPEUTA z PERSONAL TRAINER Aqui tem tudo, inclusive academia

Praça Hercílio Luz, 444 | Tels. 3522-1120

9624-8947


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.