Aimberê Araken Machado
Sobre escola, amor e livros Antes de completar seis anos de idade, eu disse para minha mãe que queria ir à escola. Dona Neda me alertou que eu era muito novo. Eu insisti. Então ela me levou ao Castro Alves e falamos com a diretora, que também considerou minha pouca idade. Eu faria seis anos em fevereiro e as aulas começariam em março. O normal, naquela época, era inscrever crianças a partir dos sete anos, mas minha mãe, que se rendera ao meu desejo, convenceu a diretora a me matricular. Minha primeira professora foi dona Olguinha Bacha, que me ensinou a ler e escrever. Depois disso, com o passar dos anos, meu interesse pelos estudos foi aflorando cada vez mais para fora dos bancos escolares, devido, em parte, à minha timidez, mas, principalmente, porque eu mesmo tinha necessidade de pesquisar e aprender aquilo por que mais me interessava em cada momento da vida, e não pela imposição natural dos currículos escolares. Mas guardo com carinho muitos acontecimentos especiais que vivenciei na escola. Ainda lá nos primeiros anos, cantávamos com a professora uma cançãozinha assim: Alecrim, alecrim dourado, que nasceu no campo e não foi semeado. Foi o amor que me disse assim, que a flor do campo se chamava alecrim. Na parte do “foi o amor que me disse assim” eu ficava completamente enternecido, revelando-se ali que eu seria um romântico incurável. O amor personificava-se a mim como uma musa, uma entidade feminina que eu não podia visualisar naqueles dias, pois ainda não havia uma garota pela qual estivesse apaixonado. Uma tarde, na terceira série, houve um fato que me animou imensamente. A professora levou os alunos para fora da sala, durante a aula, e distribuiu livros de histórias infantis com belas e coloridas ilustrações. Acomodamo-nos à sombra do grande cinamomo, cada qual com um livro. Ficou acertado que isso se daria regularmente, alternando as classes. “Mas para meu desencanto”, como na música do Chico Buarque, “o que era doce acabou”. Eu, que havia sido despertado para o prazer dos livros, esperava com ansiedade e fascinação por novas tardes de leitura no pátio da escola, o que nunca mais aconteceria, pois as professoras não mantiveram o combinado. z
A BOA IMPRESSÃO É A QUE FICA
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JOSÉ FRANCISCO GRECHI, o “Juja”, faleceu no dia 8 de setembro de 2011, após uma longa luta contra a doença maldita. Eu e o Ronaldo – irmão do Juja – tínhamos, ambos, dez anos de idade quando nos conhecemos. Brincávamos muito ali na esquina da Sete de Setembro com a Engenheiro Mesquita, onde existia, então, um pequeno bosque cheio de bergamoteiras. O “seu” Urivalde e D. Eufêmia – respectivamente pai e mãe do Juja e do Ronaldo – moravam ali ao lado, na casa que, mais tarde, a professora Zuê Rabello comprou deles. O Juja e o Aderbal (meu irmão caçula) tinham, nessa época, apenas uns cinco anos. E, como eram considerados por mim e pelo Ronaldo apenas “crianças” importunas, nós os excluíamos das brincadeiras. Assim numa boa, sem a mínima justificativa, já que, naqueles tempos, nem existia a expressão “politicamente correto”... Muitas vezes nos escondíamos, e deixávamos os dois pobres guris apavorados de medo no meio do mato... Malvadezas de crianças! O tempo passou. Alistei-me na Marinha com 17 anos, e fui para o Rio de Janeiro; o Aderbal e o Juja continuaram em Araranguá, sempre amigos (e, agora, já mais crescidinhos, com cerca de doze/treze anos). Num determinado momento de suas vidas, o Juja e o Aderbal seguiram trajetórias diversas: enquanto o meu irmão foi convocado para o serviço militar (no Exército Nacional), o Juja fez concurso para o Banco do Brasil em 1962 (com menos de dezoito anos!). Teve aprovação das mais honrosas, saindo-se brilhantemente na resolução das questões (mormente em Contabilidade e Matemática). Porém teve que cumprir estágio na agência de Vacaria (RS) antes de poder tomar posse na agência do BB em Araranguá (que só foi instalada em 11 de novembro de 1963). Em outubro de 1964 nos tornamos colegas de trabalho, pois nesse mês tomei posse na agência de Araranguá. Quanto a mim, confesso, humildemente, que, embora aprovado com certa
EM BRASÍLIA
Em dezembro de 1977 o Juja já estava em Brasília, enquanto eu me encontrava em Florianópolis. Eu estava numa fase modorrenta de minha vida, e, principalmente, sem maiores perspectivas na carreira do Banco do Brasil: uma “sinuca de bico”, sem saber como sair daquele impasse. Certo dia, o Juja – que estava em férias na Ilha – visitou-me. Almoçamos, em minha casa, em meio a grande alegria, pois fazia bastante tempo que não nos avistávamos. Ao final da refeição, sentamo-nos à sombra de uma árvore no quintal, e ele disse repentinamente (dando-me um enorme susto): “Queres ir para Brasília?”. Embora relutantemente, aceitei – mas ainda um pouco incrédulo. A incredulidade, no entanto, cedeu lugar à euforia, pois, dentro de uns quarenta dias após o inesperado convite, fui nomeado para ocupar um cargo na Direção Geral, e, ainda por cima, para trabalhar em algo muito prazeroso: a “Revista DESED” (o “house-organ” do Banco do Brasil; depois no Boletim de Informação ao Pessoal - BIP). Foi assim que o Juja deu o maior impulso que tive em minha carreira no BB, e que, futuramente, facilitaria – inclusive financeiramente – a aposentadoria mais confortável, em 1989. Hoje, rendo este tributo ao meu querido amigo (após haver chorado seu passamento junto à Nilcéa e sua filha Giuliana). Neste momento, uma imensa tristeza me invade a alma, apesar de lembrar, com saudades, os bons momentos que vivemos juntos. Mas nos reencontraremos, por certo, na eternidade.
A marca do seu parceiro de estrada
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Tributo ao Juja
distinção no concurso público a que me submeti para ingressar no Banco do Brasil, nunca tive grande vocação para ser bancário. Sempre gostei de escrever, e não de contar juros e atender clientes eventualmente chatos. Já o Juja era, seguramente, o mais jovem e mais competente funcionário da agência de Araranguá. Tanto que ele elaborava, sozinho, o balancete, sob os olhos admirados do sub-gerente Nicolau Pedro Phillippi (que nutria, por ele, grande admiração, confiando inteiramente em seus conhecimentos de contabilidade). Desse modo, logo se tornou um funcionário-chave na agência de Araranguá.
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10/10/2011 • ANO 18 • Nº 381 ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS
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H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi Nilsinho Nunes ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado IMPRESSÃO Welington, Nei da Rosa, Valdo
EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO DISTRIBUIÇÃO Gibran Grechi, IMPRESSO NA GRÁFICA CASA FOTOLITO DIGITAL David
© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866 - prot. 4315/RJ, de 17/07/1995)
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JORNALECO ARARANGUÁ, 10 DE OUTUBRO DE 2011 • ANO 18 • Nº 381
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“Nos dias 23, 24 e 25 de setembro de 1897, caiu sobre esta vila e todo município... ventania forte e chuva, causando uma enchente... Como dizem os antigos moradores, nunca houve igual... arrombando a barra junto ao Morro dos Conventos.” Siga em Memórias do Araranguá (dos diários de Bernardino de Senna Campos, compilado pelo padre João Leonir Dall’Alba)
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE
ARARANGUÁ v i s i t e : w w w. a r a r a n g u a . n e t
1905/ Recepção ao primeiro navio em Araranguá POR CÉSAR DO CANTO MACHADO
Velho conhecido
das lides comerciais em Santa Catarina, notadamente em Florianópolis, o capitalista alemão Carl Hoepcke teve, também, grande importância para o desenvolvimento do Vale do Araranguá. E este progresso e mérito lhe são merecidamente creditados por conta de ter sido ele o pioneiro na navegação regular entre a nossa Cidade das Avenidas à capital dos catarinenses e outras capitais do Brasil. (Tempos em que só pelo mar se conseguia encurtar distâncias, já que praticamente inexistiam as estradas e a chegada do avião era só um sonho para a região). E, do melhor momento dessa conquista – a chegada, pela primeira vez de um navio de grande porte à Barra do Araranguá – há um interessante relato de 10 de dezembro de 1905 publicado no jornal Correio do Povo (de Florianópolis e não de Porto Alegre) em 20 de janeiro de 1906, de onde extraímos a parte mais curiosa e informativa:
“
...é que pela vez primeira devia-se experimentar o contato vivo do progresso, consubstanciado em um barco a vapor que iniciava suas regulares viagens para aqui. Efetivamente, pelas dez e meia da manhã, um estridente apito ecoou à certa distância na direção de Canjicas. Indescritível foi o movimento então. Homens, senhoras e crianças, numa bela promiscuidade de classes sociais de trajes e de cores afluíram às margens esquerda e direita do “majestoso” Araranguá. Habitantes das circunvizinhanças, alguns, supondo-se, retardatários para a festa, cavalgavam à galope de todos os pontos, convergindo para as margens do rio. E risos, falas expansivas, felicitações comuns, eis o que se notava em toda massa de povo. Novo apito, este, porém, bem perto, fez-se ouvir e na curva de entrada, para descortínio da Vila, viu-se surgir, embanAPOIO CULTURAL
SOLO DO EDITOR RICARDO GRECHI
“A primeira embarcação que vi” (nota de Bernardino Campos em sua foto, à chegada do Meta em Araranguá)
deirado em arco, o garboso “Meta”, de cujo bordo se erguiam foguetes e salvas de bombas, confundindo-se com o estrugir de milhares de foguetes e girândolas que se queimavam em toda extensão do rio, num percurso de mais de um quilômetro. Vivas repercutiram, então, ininterruptamente enquanto que o “Meta” se aproximava do fundeadouro, silvando de quando em vez, a saudar o povo araranguaense que lhe manifestava e especialmente à creditada casa à que pertence, o seu intenso júbilo por tão faustoso acontecimento. Postada no trapiche, onde atracou o vapor, desferia sonoras notas em seletas peças a filarmônica desta Vila. E além, na mata próxima, pareciam também compartilhar do prazer humano os maviosos e cantavam canoros povoadores da floresta, que cantavam alegremente nos esbeltos coqueirais, ao passo que rutilava belo o sol no azul do céu. Posto em comunicação com a terra, o navio recém chegado foi, num delírio febril de satisfação, invadido pela compacta multidão que ali em frente estacionava, cada qual apresentando ao Sr. H. Scheele, digno sócio da Casa Hoepcke e que a representava ao perito comandante Moreira e ao respeitável Sr. Porfírio Aguiar, digno agente aqui do “Meta” as cordiais felicitações. Servido na tolda um delicado cálice de vinho, de novo trocaram-se saudações, tocando, então, a banda de música, tam-
bém já a bordo, eletrizante peça. Durante todo o dia foi o vapor visitado por excelentíssimas famílias, havendo à noite uma manifestação aos recém chegados, promovida pelo ilustre Dr. Heráclito Ribeiro, digno juiz de direito. Nessa manifestação e em burilada alocução, saudou este magistrado à distinta Casa Carl Hoepcke & C., proprietária do vapor, respondendo-lhe calorosamente o referido senhor Scheele, saudando o município de Araranguá. Representando o Clube Recreativo Sete de Setembro, em nome deste, falou o respectivo orador oficial, sendo igualmente correspondido pelo mencionado Sr. Scheele, que brindou a sociedade. O Sr. Afonso Derflinger saudou ao ilustre superintendente municipal capitão João Fernandes de Souza e o citado Dr. Heráclito ergueu o brinde de honra ao coronel Governador do Estado, terminando assim a manifestação. No dia 11, o Clube Recreativo Sete de Setembro ofereceu em sua sede um copo de cerveja aos itinerantes vindos no vapor e para o qual também convidou ao mencionado Sr. Aguiar, seu distinto agente. Mais uma vez, saudados pelo orador oficial, em nome da associação, falou em nome da Casa Hoepcke, em nome do Sr. Scheele, que por justo impedimento deixou de comparecer, o Sr. Manoel Branco, empregado da mesma Casa, agradecendo a fineza do oferecimento e fazendo votos pela prosperidade do Clube.
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