Jornaleco 387 01 jan 2012

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GRÊMIO ARARANGUAENSE (da capa)

AIMBERÊ ARAKEN MACHADO

contra o árbitro. Em agosto, no confronto contra o São Paulo, alguns atletas do GEA “procuraram desautorar” o juiz, tendo um deles, Alírio Monteiro, inclusive rasgado a súmula do jogo. Em setembro foi a vez do Próspera ir até Araranguá e encontrar confusão. A Junta Disciplinar Desportiva puniu dois atletas do Araranguaense. No entanto, as multas de 900 e 150 cruzeiros foram pagas e os condenados Alírio Monteiro e Antonio Bento de Souza continuaram compondo o plantel. Em 28 de setembro a LARM baixou uma portaria advertindo aos clubes filiados que “as praças de esporte onde ocorressem os incidentes, já tão alarmantes, seriam interditadas”. Uma última tentativa de acabar com as confusões que haviam se tornado comuns naquele ano. Parece que esta atitude surtiu efeito passageiro. Depois de um “maravilhoso” outubro sem brigas, no dia 18 de novembro, no jogo entre Araranguaense e Metropol, novamente o jogador Alírio Monteiro começou uma grande confusão que fez com que os atletas do GEA abandonassem o estádio. Esta foi a gota d’água que, dois dias depois, intimou o Grêmio Esportivo Araranguaense a comparecer no “tribunal” da LARM, onde seria decidido o seu futuro. NO MOMENTO, O QUE “SE COMENTA nas rodinhas de rua e nas mesas de bares” de Araranguá é que o GEA encontra-se “praticamente derrubado”. Sem medir esforços para revitalizar o clube, o novo presidente, Afonso Ghizzo, assume o papel de advogado de defesa e alega que “doravante quer envidar todos os seus esforços no sentido de dar as necessárias garantias aos jogadores, árbitros, dirigentes de clubes e representantes da Liga quando os jogos forem realizados em Araranguá”. Comprometendo-se com o futuro, diz ainda que “nada quer discutir ou pleitear sobre o passado”. O presidente da LARM, juiz da sessão, declara estar decidido a aplicar pena máxima ao GEA e ao atleta Alírio Monteiro, excluindo-os da Liga. Entretanto, com a posse de Afonso Ghizzo, pessoa que se conhece por “honesta, séria e honrada”,

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A família Gomes só teve mulheres bonitas. Conheci, de perto, quatro delas: Darcy, Neda, Maria e Nilcéia. O seu Pedro e a dona Creme moravam na Cidade Alta, numa linda casa que eles mesmos mandaram construir, e que foi considerada, então, uma das mais belas residências de Araranguá. Essa vivenda ficava num amplo terreno, em posição proeminente, com belo gramado em volta. Ao lado direito da casa, existia uma grande edificação de madeira que servia para armazenar pilhas imensas de sacos de farinha de mandioca: a exportação desse produto era a principal atividade do seu Pedro. Em 1950, eu tinha onze anos de idade. Minha mãe sempre me escolhia para comprar café na torrefação de Arthur Bertoncini, que ficava quase ao lado da residência da família Gomes. Assim, lá ia eu, contrariado, cheio de preguiça, cumprir a espinhosa missão, que exigia uma boa caminhada: desde o canto sudoeste da Praça Hercílio Luz até o “Café Bertoncini”, bem na curva que dá acesso à Cidade Alta (esta casa, e a de Pedro Gomes, existem até hoje, porém bastante modificadas). Para fazer o percurso, eu passava, necessariamente, pela residência da família Gomes. Numa dessas ocasiões, avistei, no alpendre da casa, uma mocinha lindíssima, rosto redondo, de altura mediana, que me chamou a atenção por um motivo peculiar: tinha os olhos meio rasgados, à chinesa. Sempre tive uma fértil imaginação, e logo pensei que os Gomes estavam hospedando uma linda jovem originária da China. A fascinante hipótese dominou-me a mente, e passei a considerá-la, quase instantaneamente, como realidade. Por isso, quando voltei para casa, senti o impulso de contar, para um dos meus irmãos, a visão maravilhosa que tivera, lá no alpendre da residência do seu Pedro Gomes. Todo orgulhoso, disse para o Agilmar (que tinha, então, quinze anos): “Nem sabes o que vi na casa do seu Pedro: uma moça CHINESA!” Ora, o Agilmar era, justamente, o mais bemhumorado dos meus irmãos, sempre disposto a fazer gozações e a inventar estórias. Ele me olhou espantado – já com um brilho maroto nos olhos – e inquiriu-me, incisivo: “Ah, é? Então me conta, direitinho, como era essa chinesa...” Todo entusiasmado, eu a descrevi ao Agilmar, da melhor maneira que pude. De repente, a face dele teve uma alteração que me encheu de raiva: começou a rir descontroladamente, e ficou assim por quase um minuto. Ria, ria, e apontava para mim, como se eu fosse o pior dos palhaços... O restante desta estória, vocês já podem imaginar. O Agilmar saiu contando, para todos, em nossa casa – à minha mãe, à Icléa, ao papai, ao César, ao Aryovaldo –, meu terrível equívoco: eu confundira a NEDA, uma das filhas do seu Pedro, com uma chinesa... Hoje, digo, com suave melancolia – mas completamente fiel àquela visão que tive em época tão remota: ADEUS, CHINESINHA! Descansa em paz. z

relevará a pena caso haja acordo com os demais clubes filiados. Ressaltando que o esporte “foi feito para unir e não para separar as pessoas”, o juiz encaminha a decisão ao júri popular, cuja sentença dos representantes de clubes decide pela absolvição do GEA e sua manutenção na Liga. A condição para isto é a de que “sejam cumpridas as promessas de Ghizzo e, uma vez que haja qualquer distúrbio no campo do Araranguaense, se este culpado for, será punido com o desligamento imediato”. Adotando um perfil mais profissional e com calendário assegurado para o próximo ano, o Araranguaense contrataria novos atletas e o time reformulado surpreenderia os adversários conquistando o Campeonato da LARM de 1952. A “liga dos casos raros” estaria “boazinha como nunca” e o GEA seria campeão invicto, sem desferir um tapa sequer. O TÍTULO DA LARM DAVA AO CAMPEÃO a oportunidade de disputar o Campeonato Catarinense, no entanto, para isso, era preciso realizar um feito inédito: passar pelo representante da Liga Tubaronense de Futebol, e ser o representante do sul naquela competição regionalizada. Empatando o primeiro jogo, o GEA venceria o Hercílio Luz em Tubarão e carimbaria seu passaporte definitivo para o Campeonato Estadual. O próximo adversário, o todo poderoso Avaí, 9 vezes campeão estadual, seria eliminado da competição com duas vitórias. Com vaga assegurada na semifinal, o título estadual, que há pouco nem passava pela cabeça dos araranguaenses, parecia cada vez mais real. Nem a derrota para o América de Joinville, e a consequente eliminação, manchou a incrível trajetória do Grêmio Esportivo Araranguaense na temporada de 1952. Saiu do banco dos réus da LARM, onde tinha a fama de encrenqueiro, para se tornar o primeiro time “forasteiro” a ser campeão daquela competição. Adquiriu o pseudônimo de “invicto do Fronteira” e, com um heróico 3º lugar no Campeonato Catarinense, foi o primeiro time a colocar o futebol da “região mineira” no cenário estadual. z

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JORNALECO ARARANGUÁ, 10 DE JANEIRO DE 2012 • ANO 18 • Nº 387

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Neda, a chinesinha

Em 1848, a Câmara Municipal da Cidade de Laguna nomeou cinco moradores daqui para escolher o local a se fixar a sede da então criada Freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Escolheram, entre as localidades, Campinas, lugar onde se desenvolveria o centro do futuro município de Araranguá. (siga em ‘A História de Araranguá/nova edição’, pág. 100)

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE

ARARANGUÁ v i s i t e : w w w. a r a r a n g u a . n e t

Do banco dos réus à redenção: o caso do Grêmio Esportivo Araranguaense RENATO DE ARAÚJO MONTEIRO Museu do Futebol UNESC/Criciúma E.C. renatodearaujomonteiro@hotmail.com

ESTE FOI APENAS UM DOS MUITOS episódios que marcaram a história do Grêmio Araranguaense. A rivalidade com os clubes de Criciúma, invariavelmente transpunha as linhas do gramado e os limites da lealdade, fazendo com que a “liga dos casos raros”,

perdia em casa para o predecessor do Criciúma Esporte Clube, que então se chamava Comerciário, pelo placar de 4 a 1, quando o jogo teve que ser interrompido por “desacato ao juiz” e “invasão do gramado pela assistência”. No dia seguinte a imprensa de Criciúma anunciou que

É O DIA 20 DE NOVEMBRO DE 1951 e um verdadeiro tribunal está montado na sede da LARM, em Criciúma. O réu é o GEA – Grêmio Esportivo Araranguaense – único representante da cidade de Araranguá na entidade. A acusação, uma das mais graves frente à justiça desportiva: indisciplina. Em caso de punição, a pena mais severa: exclusão. Fundado em 21 de junho de 1948, já no ano seguinte o clube estreou em uma competição oficial. Devidamente filiado à LARM – Liga Atlética da Região Mineira – o GEA pode tomar parte no principal campeonato por ela organizado. Detentor de uma campanha discreta, o destaque do time na competição foi o Grêmio Esportivo Araranguaense, campeão da LARM de 1952: (e/d) Julião, Bubi, Oscar, Pachá, protesto do seu presiZé Gaúcho, Aldo e Ciro Bacha; agach.: Quitandinha, Luiz, Jóia, Vanderlei, Agachado e Quirininho. dente, Avelino Pedro Raphael, que se sentindo desfavorecido pela sempre que tivesse que intervir nas dispu- “MAIS UMA VEZ, ocorrera o deploráLARM perante os times criciumenses, ale- tas, fosse acusada de arbitrariedade pelos vel espetáculo de anarquia e desrespeito.” gou que “o GEA sempre pagou os seus dé- araranguaenses, que assim a apelidaram. Parece que o estatuto do Grêmio Arabitos e por isso deveria ser tratado como os ranguaense previa uma confusão para cada demais clubes”. Em resposta, o secretário AUSENTE DO CAMPEONATO DE 1950, mês. Em julho o Atlético Operário tamda Liga explicou que “dentro da LARM o Araranguaense retornou em 1951 para bém abandonou o gramado do Estádio não havia particularismos e que todos tra- realizar a trajetória mais conturbada da his- Regimento Barriga Verde em protesto balhavam com honestidade e sem malícia”. tória das competições. Em 10 de junho, siga na pág. 4

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10/01/2012 • ANO 18 • Nº 387 ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS

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