Nestes dias do ano da graça de 2012, em que os cidadãos araranguaenses estão recebendo a instalação de um sistema público e moderno de tratamento sanitário, falar sobre o uso do penico deve ser considerado “assunto de antanho”. Imagine o caso de um penico de uso comunitário servindo toda a população do bairro? Sob todos os aspectos, principalmente o da saúde pública, poderia se afirmar que é um fato jurássico. Segundo o amigo Abi Souza, esta história realmente aconteceu, e foi no bairro Barranca. Considero uma história das mais incríveis e difíceis de serem imaginadas, seja pelo inusitado do objeto emprestado, seja, principalmente, pelo aspecto anti-higiênico, já que tal procedimento poderia provocar sérios danos à saúde pública. Os fatos aconteceram no tempo em que os sanitários eram as latrinas de fundos de quintal. Fazia-se um buraco e sobre ele instalava-se uma casinha de madeira, e ali eram feitas as necessidades fisiológicas. Entretanto, havia ocasiões, ou por condições climáticas ou até mesmo por doenças, em que o “paciente” não conseguia se locomover até as latrinas. Era a oportunidade de entrar em cena o pedido de empréstimo do tal e único “penico comunitário” do bairro. O empréstimo deveria ser respeitado à risca pelo tomador, pois, tendo em vista ser o único penico da Barranca, tinha-se a obrigação de ir e vir com o utensílio, logo que fosse desocupado, para estar disponível a servir novos e necessitados usuários. Uma senhora de nome Geralda, mas que todos conheciam por “Gerarda”, era a proprietária generosa do equipamento. Não negava empréstimo a qualquer morador que dele precisasse, tantas vezes quantas fossem necessárias. De modo que o penico estava permanentemente emprestado, e viajando pelas redondezas, servindo a todos os moradores necessitados.
Sentindo a necessidade de se argumentar desculpas, o araranguaense aproveitou a história do penico da Gerarda, que já era folclórico na cidade, e criou uma expressão exclusiva que se tornou muito conhecida e sempre repetida. Do inusitado do empréstimo (um penico) – objeto de uso pessoal –, somado ao fácil acesso para o uso de todos, aproveitou-se a criatividade das pessoas avessas a empréstimos, para criar uma frase com características e sotaque do açoriano araranguaense. Se, por qualquer motivo, não desejasse conceder o empréstimo solicitado, ou também demonstrasse preocupação pela devolução do objeto emprestado, e também nos casos em que o tal objeto pedido já tivesse sido cedido por mais de uma vez, lá vinha a frase famosa para se fazer uma categórica negação: “Pensa que isso aqui é o penico da Gerarda, é?!”. (Agradeço ao Amigo Abi Souza)
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A BOA IMPRESSÃO É A QUE FICA
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AIMBERÊ ARAKEN MACHADO O mano Aderbal, almoçando comigo e com meu filho Marcus em Balneário Camboriú, há poucos dias, presenteou-me com algo inusitado e certamente ORIGINAL: são duas cartas escritas por mim, há mais de CINQUENTA ANOS, dirigidas a ele (que tinha QUINZE anos) e à mana Icléa, quando ambos ainda moravam em nossa terra natal, Araranguá. O Aderbal mandou colocá-las numa moldura, sendo protegidas, de ambos os lados do papel, por material transparente hermeticamente fechado. Os papéis escritos trazem, no canto superior esquerdo, o timbre da Escola Naval (localizada na histórica Ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro, onde servi, como marinheiro, de abril de 1958 a maio de 1961). Nem mesmo o Aderbal pode calcular a doce alegria e a bela surpresa que me invadiram o espírito, ao relembrar essas antigas e quase esquecidas palavras. Numa dessas missivas, datada de 27 de outubro de 1959, escrevi o seguinte: “Recebi com consternação a notícia do falecimento do papai*. Afinal de contas, depois de termos passado longos anos da nossa vida sob sua guarda e proteção, não podemos deixar de lamentar profundamente a idéia de não mais vê-lo. No entanto, considerando os fatos que citei na carta que enviei à mamãe – da qual você deve ter tomado conhecimento –, devemos considerar aquele desfecho como uma consequência lógica da natureza: nascer, viver, amar e morrer...”. Em outra carta, datada de 01 de fevereiro de 1960, escrevi: “(...) Após um longo e inexplicável lapso de tempo, recebi uma carta sua, datada de 23 de janeiro. Você está um grande BOA-VIDA, heim?! Eu já estava até com vontade de engajar-me na LEGIÃO ESTRANGEIRA, pensando ter sido esquecido por vocês... (...) Estudo em pleno centro da cidade, no Instituto Santa Rosa, junto ao largo de São Francisco. Espero eliminar algumas matérias em maio e as restantes em setembro. São nove disciplinas, ao todo. Os exames do artigo 91 são feitos no Colégio Pedro II, um dos mais rigorosos do Rio de Janeiro** (...)”. (*) Nosso pai, o advogado provisionado Telésforo, havia falecido a 24 de outubro de 1959. (**) Infelizmente, não consegui realizar meu sonho dos tempos de juventude, que era ingressar no Colégio Naval, em Angra dos Reis: fui reprovado em Latim e na minha “eterna inimiga”, a Matemática... * * *
Passado risonho, presente sombrio. Nos dias de hoje, novamente o espectro da morte ronda nossa família: o mano mais velho, César, foi-se a 15 de janeiro de 2009; agora, o Aryovaldo está em coma, num triste ambiente hospitalar. O caso é gravíssimo, mas ainda não perdemos a esperança. Enfim, enquanto houver vida...
A marca do seu parceiro de estrada POSTOS IRMÃO DA ESTRADA DISK FONE (0**48) 3524-0071
JORNALECO ARARANGUÁ, 10 DE DEZEMBRO DE 2012 • ANO 19 • Nº 409
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CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA
É sabido que só quem gosta de fazer empréstimo é banco, e de preferência com boa garantia para a sua liquidação. Para as demais pessoas, a questão do empréstimo, normalmente, não agrada a quem empresta, pelo que se empresta e principalmente para quem se empresta. Quando não desejamos concedêlo, criamos desculpas às vezes estapafúrdias, quer agindo, quer comunicando. Isso me faz lembrar os tempos escolares, quando conhecemos a estória de um mestre carpinteiro que, não querendo emprestar uma ferramenta, usava de um jogo de palavras semelhantes mas de duplo sentido para negar o empréstimo. A lição também nos ensinava sobre a responsabilidade da devolução das coisas emprestadas. Dizia a lição do mestre: “Diz a teu pai que se o Vai-e-Vem fosse e viesse, o Vai-e-Vem ia, mas como o Vai-e-Vem vai e não vem, o Vai-e-Vem não vai.” (Vai-e-Vem era como o mestre denominava o serrote pedido emprestado).
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por Cláudio Gomes
Cartas antigas
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Quem foram os três reis magos?
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O penico da Gerarda
OS MAGOS são mencionados em apenas um dos quatro evangelhos, o de Mateus. Nos 12 versículos em que trata do assunto, Mateus não especifica o número deles. Sabe-se apenas que eram mais de um, porque a citação está no plural – e não há nenhuma menção de que eram reis. “Não há evidência histórica da existência dessas pessoas”, diz André Chevitaresse, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “São personagens criados pelo evangelista Mateus para simbolizar o reconhecimento de Jesus por todos os povos.” De qualquer forma, a tradição permaneceu viva e foi apenas no século III que eles receberam o título de reis – provavelmente como uma maneira de confirmar a profecia contida no Salmo 72: “Todos os reis cairão diante dele”. Cerca de 800 anos depois do nascimento de Jesus, eles ganha-
ram nomes e locais de origem: Melchior, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; e Baltazar, rei da Arábia. Em hebreu, esses nomes significavam “rei da luz” (melichior), “o branco” (gathaspa), e “senhor dos tesouros” (bithisarea). Quem hoje for visitar a catedral de Colônia, na Alemanha, será informado de que ali repousam os restos dos reis magos. De acordo com uma tradição medieval, os magos teriam se reencontrado quase 50 anos depois do primeiro Natal, em Sewa, uma cidade da Turquia, onde viriam a falecer. Mais tarde, seus corpos teriam sido levados para Milão, na Itália, onde permaneceram até o século 12, quando o imperador germânico Frederico dominou a cidade e trasladou as urnas mortuárias para Colônia. “Não sei quem está enterrado lá, mas com certeza não são eles”, diz o teólogo Jaldemir Vitório, do Centro de Estudo Superiores da Companhia de Jesus, em Belo Horizonte. “Mas isso não diminui a beleza da simbologia do Evangelho de Mateus ao narrar o nascimento de Cristo.” Afinal, devemos aos magos até a tradição de dar presentes no Natal. No ritual da antiguidade, ouro era o presente para um rei; incenso, para um religioso; e mirra, para um profeta (a mirra era usada para embalsamar corpos e, simbolicamente, representava a mortalidade). (Superinteressante, janeiro/2002)
Padre Paulo enfrenta a turma da Praça O Neno Naspolini era da Cidade Alta, mas frequentava muito a roda da turma da Praça, que tinha seu reduto na av. Getúlio Vargas, onde hoje é o calçadão. Alguns anos atrás, em conversa com o Gordo Grechi, o Neno ouvia uma história. Contava-lhe o amigo da Praça: — Um dia, eu, o Marquinho Rocha, o Murcilhão [Venilton] e o Jorge Afonso subimos na torre da igreja. A gente fazia muito isso. Mas naquele dia estava acontecendo a festa de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Lá em cima, dentro da torre, encontramos uma porção de ovos de coruja espalhados no piso, alguns já gorados. Então começamos a jogar nas pessoas lá embaixo, na festa... Aí o Neno cortou a história, meio brabo: — Ah, então foram vocês que me acertaram um ovo na cabeça! Eu era coroinha naquela festa... Os garotos daqueles tempos adoravam cometer essas “provas”... Mas o problema para eles veio no outro dia. Foi quando o Padre Paulo, já há muito incomodado pelos moleques, avistou-os com as cabeças pra fora do gradeado do andar onde ficam os sinos. Começou assim uma corrida. Os garotos perceberam que o padre vinha-lhes à caça e começaram a descer rapidamente as escadas. O padre foi esperá-los numa das duas portas de saída para dentro da igreja, a mais comumente usada. Mas os malandros evadiram-se por uma porta lateral que dá no lado da igreja, numa sacada. Dali desceram à rua, para deixar o cônego Paulo Hobold esperando em vão na porta em que montara guarda, porque, ainda, pela outra, fugia o Pedro Grechi. Lá pelo início dos anos 1990, o nosso famoso padre estava sentado num banco do Jardim, em frente à igreja, fumando seu charuto de boa marca. Num certo momento, ele avistou o Gordo Grechi, que se aproximava tateando a bengala. O veterano da turma da Praça, para surpresa do padre, saudou-o: — Boa noite, Padre Paulo! O senhor me dá licença pra me sentar ao seu lado? — Pois, ora! Como é que tu sabes que sou eu que estou aqui, se eu nem mesmo falei alguma coisa?! — Foi pelo cheiro do seu charuto... Na época, Padre Paulo riu muito, para continuar o gracejo também quando ele mesmo nos narrou este fato, numa visita que o Enio Frassetto e eu lhe fizemos em 1995, relembrado depois pelo Gordo. Ricardo Grechi
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