CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA
No final da década de 1960, com prosseguimento nos anos 1970, Sombrio testemunhou a implantação, ou instalação, de vários estabelecimentos governamentais e privados, dando início a uma nova realidade econômica e social para o município. São desta época a Instalação da Comarca, do Banco do Brasil, indústrias de calçados, clubes de serviços e sociais. A Vanguarda de Integração Comunitária foi uma destas entidades e foi criada para auxiliar as autoridades na identificação e busca de soluções para alguns dos problemas do município. Podiam participar desta organização não governamental cidadãos interessados Como uma das primeiras atividades, foi deflagrada uma campanha contra o analfabetismo. Ficou deliberado que nenhuma criança ficaria fora dos bancos escolares no município. Fez-se um levantamento em todas as localidades e identificadas as crianças que não frequentavam as salas de aula. Coube ao juiz de direito da Comarca,
instalada há apenas alguns anos, entrar em contato com os pais ou responsáveis, podendo inclusive intimá-los a comparecer em juízo em caso do não cumprimento à lei. Entre dezenas de crianças devidamente registradas como de idade escolar e que não frequentavam as salas de aula, apareceram, na localidade de Retiro da União, os três filhos do Sr. Amado de tal. Amado era um pequeno agricultor honesto que mantinha o sustento da sua família com muita dificuldade. Era pessoa muito conhecida na cidade, aonde vinha, com sua carrocinha, todas as semanas, vender frutas, principalmente bananas. Chamado à presença do juiz para uma audiência, Amado compareceu no dia e hora marcados. Na audiência, depois das perguntas de praxe, o juiz abordou o motivo da intimação. Juiz: O senhor é pai de três crianças? Amado: Sim, doutori. Juiz: Nenhum deles vai à escola, não é? Amado: Isso mesmo, doutori. Juiz: Podes me dizer por quê? Amado: Sabe o que é, doutori? É que eu sô pobre e não tenho dinheiro nem pra comprar caderno, nem lápis, nem borracha, caneta, uniforme, nada.
1958, centro de Araranguá. Coexistem as duas igrejas matriz por breve período: SALVADOR
a de 1902 na frente da atual, que estava sendo construída. Com o passar dos anos, a limitada visão cultural e o desinteresse do araranguaense por seu patrimônio histórico, aliados à condição econômica precária que o país e nossa região vivenciaram na maior parte do século 20, deixaram que quase toda arquitetura antiga se perdesse. O palacete do Galeria coronel João Fernandes (abaixo e ao lado, no final da avenida) foi destruído em fins dos anos 60 para que se prolongasse a Sete de Setembro. Se a avenida tivesse envolvido a casa, contornando-a com as vias, hoje poderia abrigar um requintado espaço cultural, culminando em uma rótula monumental, que lembraria a disposição do Arco do Triunfo, em Paris, para onde convergem doze avenidas. (RG)
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10/06/2013 • ANO 20 • Nº 421 ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS
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JORNALECO ARARANGUÁ, 10 DE JUNHO DE 2013 • ANO 20 • Nº 421
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(...) A casa do telegrafista Campos, que ele conta a sua construção tijolo a tijolo em suas memórias, constitui-se num monumento de dupla simbologia: de beleza arquitetônica e de agressão à memória – por conta de sua demolição [nos anos 1960/70]. (...) Siga em A História de Araranguá - nova edição, na seção ‘Patrimônio Histórico’, pág. 298
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE
ARARANGUÁ v i s i t e : w w w. a r a r a n g u a . n e t
Vida e morte de Saul Fidelis
JOSÉ MARIO DE BONI / REPRODUÇÃO
Nosso famoso violinista, integrante do Conjunto Serenata, faleceu em maio, dois meses antes de completar 94 anos. A matéria a seguir foi publicada no JORNALECO n0 197, de 10/02/2004, com texto de Ricardo Grechi sobre depoimento gravado por Getúlio Peplau
SAUL FIDELIS TOCA DE OUVIDO. Ele é músico famoso em Araranguá. O Conjunto Serenata, do qual foi um dos fundadores, é o mais comemorado da nossa história. Surgido em 1944, sua formação original contava com Saul, Nico Pinheiro, Alcides Paulino, Luiz Fernandes, Narinho, Nascimento Pinheiro, Alírio e Miguel. Novos músicos chegariam com o tempo, alguns participando apenas em certas ocasião, outros, para fazer parte da história do Serenata, como o Mememo, o Bileco e o Jovino Bateria. O conjunto ensaiava duas vezes por semana na casa do Nico Pinheiro. Tocava em toda a cidade, interior e região: Praia Grande, Timbé do Sul, Maracajá, em diversos vilarejos, no Fronteira, no UCCA, nos bairros; e fora do estado: Osório, Cambará. Todo final de semana tinha um baile para animar e o Serenata estava sempre lá, para casas cheias, até amanhecer. Mas o que ganhavam para tocar não gerava subsistência aos músicos. A renda era usada para aquisição e manutenção dos instrumentos. Posteriormente, a bateria, a gaita, o violão, o violino, o contra-baixo, ganhariam um novo e exótico acompanhamento: o serrote. Foi o Dico que trouxe a novidade de Capão da Canoa e apresentou-a ao seu irmão Saul, que conseguiu “tocar” aquela ferramenta da carpintaria. “O serrote, a primeira coisa, tem que ter bom aço”, ensina o serrotista Saul. Para tocar o serrote, usa-se um arco de violino, aí vai se entortando, torcendo o instrumento. As apresentações de Saul com o serrote marcaram um novo evento do Serenata, e o conjunto conquistou ainda mais admiração do público. APOIO CULTURAL
A cabecinha do Amado
Juiz: Tens trinta dias para colocar teus filhos na escola. Volta aqui dentro deste prazo. Findo o prazo, lá estava Amado outra vez frente ao juiz, para nova audiência. Os questionamentos se repetiram como da primeira vez. Amado, além de repetir que não tinha dinheiro para comprar os materiais escolares explicou ao juiz o que todo sombriense já sabia, que para sobreviver com sua família vendia bananas de porta em porta e que seria impossível colocar seus filhos para estudar, porquanto não tinha dinheiro nem para comprar o necessário. O juiz então deu a sentença: “Seu Amado, já que o senhor não vai colocar seus filhos na escola, vou ter que multálo, conforme a lei, a pagar um salário mínimo pra cada filho”. Amado, com ares de indignação, virando-se para o escrivão que a tudo assistia e registrava em uma máquina de escrever, sentenciou também: “Ó, ó! A cabecinha dele! Se eu não tenho dinheiro pra botar meus filhos na escola, como vou ter pra pagar estas multas?”. Até os dias atuais, quando alguém manifesta alguma proposta absurda ou que fere a lei do bom senso, é muito comum ouvirse do sombriense, com ares de deboche, desconsideração ou mesmo de indignação: “Ó, ó! A cabecinha do Amado!”.
O Serenata durou cerca de 40 anos. Mas, eventualmente, continuou a se apresentar em ocasiões especiais, como na inauguração do calçadão da Getúlio Vargas, em 1990, e da vez em que a RBS TV transmitiu o Jornal do Almoço direto do jardim municipal de Araranguá para todo o estado. SAUL ARÃO FIDELIS NASCEU NA Urussanguinha, em Araranguá, a 9 de julho de 1919, filho de Arão Fidelis e Eulina Maria Luchina. Aos 24 anos, Saul casou com Davina Souza Fidelis e mudou-se de bairro, indo para a Cidade Alta. Um ano depois, participou da formação do Conjunto Serenata. Vera Lúcia, Mário, Leda Maris, Lúcia Helena e Sérgio são os filhos do casal Saul e Davina. Saul foi pedreiro e comerciante. Não vivia da música. “A música é doar com sentimento”, filosofa. Ele não tem um instrumento favorito. Acha que os mais belos sons saem de um violino; e o violão é o instrumento que ele menos sabe tocar. Em suas lembranças ele cita algumas peças que mais gostava: Vitrine de cristal, Último beijo, Sibonei, Concerto para verão. Aos 14 anos, Saul tocava tambor com a bandeira do Divino Espírito Santo, das festas da Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens. Seu pai, Arão, fez parte da histórica Banda Maestro Serafim Silva, a primeira de Araranguá. Arão tocava prato, e o maestro de então era Nico Freitas. Depois de um contato com a orquestra dos Brodebeck, alemães com fábrica de calçados em Araranguá, Arão criou “Os Canários”, sua orquestra familiar, com os filhos Saul, Dico, Euclides e Sálvio. Os Canários seriam transformados em uma banda
de jazz, a “Sul América Jazz”. Seus componentes: Guaracy Silva (sax), Verino (gaita), Rural (pandeiro), Saul (bateria), Bebê Fogueteiro (banjo), Nico Pinheiro (violão) e Dico (violino). No repertório havia menos jazz do que outros gêneros: tango, bolero, valsa, chote. O SERENATA NÃO SE APRESENTA mais. Alguns componentes já faleceram. Mas a lembrança permanece. Existe alguns vídeos de apresentações do conjunto. Saul ainda guarda com ele o violino que lhe acompanhou em muitas performances. O instrumento tem gravado em si a data de fabricação: 8 de janeiro de 1928. Pertencia a Orlando Valter, o Bagre. Depois, o Mememo adquiriu o instrumento. Hoje, o violino repousa nas mãos do velho Saul. Ou seriam as mãos de Saul que repousam sobre o velho violino? O fato é que um e outro, Saul e o violino, simbioticamente, ainda se tocam, se acompanham, e a música surge, etérea, eterna, e encanta a quem possa ouvi-los. Getúlio Peplau viveu essa fortuna. Na ocasião de entrevistá-lo, ganhou uma exibição exclusiva. É dele estas linhas finais: “Embora não saiba ler uma pauta musical, Saul, com seus ouvidos maravilhosos, consegue tirar dos instrumentos os melhores sons, numa harmonia ímpar de arranjos só seus”.
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