Jornaleco 427 01 set 2013

Page 1

Falar de Gilberto Martinho (1927-2001), o grande astro brasileiro, catarinense e, para nosso orgulho, araranguaense, sempre é muito interessante. Não fosse pela grande importância que ele teve para a arte do Brasil, notadamente para o cinema, teatro e televisão, seria, certamente, pela pessoa diferenciada – em bondade, simpatia e gentileza – que sempre foi. E digo isso “de cadeira” por conta de tê-lo conhecido com mais detalhes, isto numa belíssima carta que me escreveu – de próprio punho, com sete páginas em boa caligrafia e letras grandes – no auge de sua bem sucedida carreira. Em 1973, eu mandara um longo questionário, entrevistando-o como repórter do jornal O Estado de Florianópolis, sucursal de Tubarão, acusando ser um conterrâneo desejoso em ter mais detalhes de sua vida em Araranguá e no mundo artístico. Logo, de pronto, fui muito bem atendido pelo

Fone/Fax: 3524-5916

A BOA IMPRESSÃO É A QUE FICA

Av. XV de Novembro, 1807 - Centro

casadocarimbo@brturbo.com.br

ARARANGUÁ, 10 DE SETEMBRO DE 2013 • ANO 20 • Nº 427

JORNALECO jPANFLETO CULTURAL

ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS

Distribuição gratuita Periodicidade quinzenal Tiragem: 1.000 exemplares

Siga em Memória do Poder Legislativo de Araranguá, de Micheline Vargas de Matos Rocha, 2012, p. 127-128

ARARANGUÁ

VISITE: WWW.ARARANGUA.NET

GOVERNO DO MUNICÍPIO

‘Camones aí, seu engenheiro!’ por Cláudio Gomes CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA

infância e aos hábitos de uma gente acostumada a cultivar o seu solo. Ainda na mesma matéria, falando de seus grandes momentos na televisão brasileira, Gilberto Martinho destacou o personagem da série “Falcão Negro”, superherói brasileiro que ficou no ar e na liderança de audiência por seis anos consecutivos na TV Globo. Lembrou, ainda, do não menos conhecido Pedro Barros, de “Irmãos Coragem”, da famosa emissora carioca, onde atuou em 26 novelas. FOTOS NET

NO SENT. DO RELÓGIO: como Falcão Negro (1957); ao lado de Tarcísio Meira e Glória Meneses, em Irmãos Coragem (1970); como Melk Tavares, em Gabriela (1975); entre Dina Sfat e Sonia Braga, em Fogo Sobre Terra (1974). – MAIS NA PÁG. 3

A marca do seu parceiro de estrada POSTOS IRMÃO DA ESTRADA DISK FONE (0**48) 3524-0071

Solicite-nos através de jornalecocultural@yahoo.com.br o recebimento das edições do Jornaleco (igual no papel + as fotos coloridas) via e-mail

10/09/2013 • ANO 20 • Nº 427

JORNALECO

H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H

UMA PUBLICAÇÃO

EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi DISTRIBUIÇÃO Gibran Grechi, Nilsinho Nunes ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas FOTOLITO David PAPEL Toninho IMPRESSÃO Welington, Valdo

ORION EDITORA

© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866 - prot. 4315/RJ, de 17/07/1995)

Calçadão Getúlio Vargas, 170 88900.000 Araranguá - SC - Brasil jornalecocultural@yahoo.com.br

Foi no tempo do Cine Roxy. Sem a concorrência da televisão, o cinema se constituía no melhor programa de divertimento para todas as idades. Para a garotada, assistir aos chamados seriados (filmes em episódios, normalmente semanais) ou aos Far West americanos do tipo No Tempo das Diligências, era o deleite. O livro Araranguário, do meu amigo Ézio Camilo Rocha, registra com propriedade a expressão “camoni” como uma maneira carinhosa, usada por “seu Branca”, para saudar os amigos. Realmente a expressão camoni somente é conhecida e usada na nossa cidade. Porém acredito que a origem desta expressão, com as variantes “camones” ou ainda “camones aí”, seja do tempo do Cine Roxy e dos Far West, e explico por quê. Nos filmes de Far West, ou faroestes americanos, uma expressão em inglês era bastante usada a cada vez que o “mocinho” enfrentava o bandido, dando-lhe voz de prisão. “Come on” era a expressão, e a sua tradução em português é “vamos”, no sentido de impor. A tradução feita nos filmes era “esteja preso”. Pelo menos era o que se trazia escrito nas legendas, e assim o povo entendia. Com muita criatividade, e em tom de brincadeira, o povo da Urussanguinha logo transformou o come on em camoni, camones, ou ainda em camones aí. Esta última variante, camones aí, foi criada em tom jocoso, procurando apanhar as pessoas de surpresa. Apenas para reforçar, lembro-me de uma brincadeira de esconde-esconde criada pela garotada da época. A brincadeira foi nomeada como “camones aí” e dela também participei quando criança. A brincadeira consistia em dividir os participantes em dois grupos que deveriam se esconder nos terrenos baldios da cidade, (comuns naqueles tempos). Qualquer participante que encontrasse outro do grupo contrário gritaria: “Camones aí”, acompanhado do nome do adversário encontrado. Quem APOIO CULTURAL

cesardocanto@linhalivre.net

APOIO CULTURAL

César do Canto Machado

nosso araranguaense mais famoso, rendendo-me, assim, uma página inteira no conhecido periódico catarinense, o mais lido da época. Era assim mesmo o Gilberto Martinho: um sujeito muito simples, daqueles que nunca esquecia suas raízes, ainda que sua estrela estivesse a brilhar com toda intensidade. Onde estivesse e no que fosse indagado sobre seu passado, o ator fazia questão de dizer que era natural de Araranguá, Santa Catarina, e que ali vivera toda sua infância. Morava em Cangicas, hoje Hercílio Luz. Por muitas vezes o astro barriga-verde vendeu amendoim e engraxou sapato de muita gente na porta do Cine Roxy, no centro de Araranguá. E, dessa condição, há uma prova muito notada no jornal carioca O Globo, edição de 25 de julho de 1975, página 38, quando Gilberto vivia sua boa participação na novela “Gabriela” – a primeira versão para a televisão – e estava prestes a completar seus trinta anos de representação profissional (em julho de 1976) e começava a pensar em se aposentar das telas e dos palcos teatrais: – O que “Gabriela” está representando para Gilberto Martinho? – Mais um trabalho consciente que, no início, trouxe preocupações a todos nós do elenco. – O que é o Melk Tavares [seu personagem na novela] para você? – É aquela oportunidade que sempre destaco de interpretar personagens ligados à terra, às suas determinações, às suas raízes. Eu, catarinense de Araranguá, tenho especial predileção por esse tipo de trabalho, que me relembre à

Até início do séc. 20, os principais logradouros de Araranguá não possuíam seus nomes atuais. Foi em 1904 que se nomeou a beira-rio norte de rua “Coronel Apolinário” e, em 1905, de rua “7 de Setembro” a futura avenida. Nosso principal largo só será chamado “Praça Dr. Hercílio Luz” a partir de 1922.

gritasse por primeiro prendia o oponente. O grupo que prendesse o maior número de oponentes seria o ganhador. Porém, foi o causo do seu Branca e o engenheiro do DNER que tornou famosa a expressão camoni ou camones aí. “Branca”, cujo verdadeiro nome era Alcides do Nascimento, foi funcionário do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, o DNER, hoje DNIT. Este órgão federal estava instalado com uma residência no bairro Urussanguinha desde a década de 1950, onde hoje está um centro comunitário. A tarefa dos funcionários desta residência foi de acompanhar a implantação e a conservação da estrada federal BR-59, hoje BR-101. O Branca, além de ser um bom atleta do Grêmio Araranguaense e do Rodoviário (time de futebol dos funcionários do DNER), exercia a sua profissão de motorista, com especialidade em motoniveladora, popularmente conhecida por “patrola”. A estrada foi implantada em terra batida, mais tarde coberta por seixo rolado – a popular pedra de cachoeira. Assim permaneceu por mais de duas décadas, até a pavimentação com asfalto. Durante todo este período, a sua manutenção demandou um árduo trabalho de conservação. Foi nesta tarefa de preservação da nossa BR-101, que os funcionários do antigo DNER trabalharam galhardamente cumprindo a sua missão. A residência, evidentemente, era comandada por engenheiros que se revezavam de tempos em tempos. Em determinada ocasião, assumiu o comando um engenheiro experiente que, procurando mostrar serviço, passou a acompanhar mais de perto os trabalhos de seus comandados. O encontro do engenheirochefe com o Branca se deu quando o “patroleiro” cumpria seu ritual diário no serviço de nivelamento na estrada.

Como era seu costume, fez uma paradinha num armazém à beira do caminho. Aproveitava o rápido descanso para tirar a poeira da garganta com aquela branquinha da boa que o bodegueiro já havia colocado em cima do balcão assim que a patrola estacionou. Na sua viagem de fiscalização, o engenheiro viu a máquina parada à beira da BR e diminuiu a velocidade com a intenção de parar. O Branca, que viu ao longe a camionete do engenheiro, pulou para trás do balcão do armazém para que o seu chefe não o encontrasse ali. O engenheiro desceu do carro, entrou no armazém, e perguntou ao proprietário se não havia visto o Branca, pois necessitava falar-lhe com urgência. O dono do estabelecimento ficou meio sem jeito, mas nada falou. – Pois eu tenho urgência, como lhe disse. É que estou aqui com os papéis do salário do Branca e ele precisa assinar. Se eu não o encontrar sou obrigado a devolver o dinheiro para Florianópolis, hoje ainda, mesmo sem a assinatura dele. O Branca, que ouvira tudo por detrás do balcão, deu um salto para fora, colocou as duas mãos meio fechadas na altura do peito, com os dedos polegares levantados para cima e os indicadores apontandos para frente. E, posicionadas as mãos como se fossem dois revólveres, imitando os mocinhos dos faroestes americanos, tascou: – CAMONES AÍ, SEU ENGENHEIRO! Eli Wallach aplicando um “camones aí” em Clint Eastwood (Três Homens em Conflito, Sergio Leone, 1967)

MUSCULAÇÃO z PILATES STUDIO z X JUMP z POWER SET z ABS z BOXE FEMININO E MASCULINO z MUAY THAI MISTO z PERSONAL TRAINER z NUTRICIONISTA z FISIOTERAPEUTA z PSICÓLOGA

Praça Hercílio Luz, 444 | Tels. 3522-1120 9624-8947

MGM

Entre os mais atuantes atores de novelas da TV

APOIO CULTURAL

Gilberto Martinho — o grande astro araranguaense


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.