Jornaleco 433 01 dez 2013

Page 1

Fronteira Clube, avenida Getúlio Vargas. Moças jogam pingue-pongue. Num certo lance, a bolinha vai longe e uma delas vai buscar...

ELE está juntando a bolinha! — Sua bolinha, senhorita. Nunca vou esquecer dessa frase — a primeira que ouvi da sua boca — e do seu olhar insinuando outras coisas... — Posso acompanhá-la, senhorita? — Não, não pode! Ele me acompanha até a lomba do Paulo Hahn. — Só até aqui... Queria evitar as perguntas do meu pai, quando me vê acompanhada de um moço. — Posso lhe escrever? É que amanhã eu tomo o avião para o Paraná... Acho que pode, né? Claro que pode! — Pode, se você quiser... Ele é muito mais velho do que eu. Já estamos quase em 1950, eu sei, mas as pessoas ainda reparam muito nessas coisas. E com certeza ele nunca vai me escrever...

Ernesto e Neda

“São 8 horas. Lá fora chove. A noite está escura, tudo é trevas. Só ouço o ruído da água ao cair, o mais é silêncio. Sinto-me inteiramente só. Um quarto, UA primeira carta chega muito tempo quatro paredes, os móveis e eu. Ao vagar os olhos sobre as paredes azuladepois. Achei que ele havia me esquecido. das, procuro a imagem de alguém. As cartas vêm por via aérea, endereçadas Tento ludibriar-me, procurando ver na à “srta. Neda Gomes, caixa postal 12...” ilusão dessa imagem o meu amor.”

S

“Encontrei você, Neda, minha querida. Considerei nosso encontro, a princípio, como coisa fútil, banal. Nunca fui tomado de orgulho, nem tampouco possuía menosprezo pelo amor, apenas era indiferente ao sentimentalismo. Um raio de luz iluminou minh’alma e meu coração começara a se agitar. E, firme na convicção de te amar, amo-te convicto de que serás aquela a quem procurava.”

“A brisa suave passa, encrespando carinhosamente as folhas das palmeiras. A esperança de ser feliz eu alcancei não como mera ilusão, mas como doce realidade. Essa felicidade ditosa, incomparável e infinda encontrei-a no amor.” “Chove a cântaros; e não sei por que o ruído da torrente nos faz pensar com mais intensidade em quem amamos e que distante se encontra...”

“Ainda sinto na boca o gosto bom dos teus beijos, que fizeram vibrar dentro de minha alma a maior sensação jamais sentida. Continuas sendo a mesma criatura com quem sempre sonha“Abrindo o envelope que envolvia tua ra para fazer parte da minha existência carta, senti como que, num passo mági- e a quem pretendo dedicar um proco, estar junto de você.” fundo amor.” Fone/Fax: 3524-5916

A BOA IMPRESSÃO É A QUE FICA

Av. XV de Novembro, 1807 - Centro

casadocarimbo@brturbo.com.br

APOIO CULTURAL

A moça, fascinada com o que lhe escreve o admirador, responde, temerosa de não conseguir agradar. Para Ernesto, a obtenção de uma resposta é o que conta.

SUAS cartas são lindas, sua letra, o amor que promete. Eu tentava responder à altura, usava poesias que encontrava nos livros para completar o que queria dizer. Quase tinha vergonha. E tinha medo de que o que ele me dizia fosse mentira, apenas me alimentando um sonho. Afinal ele era muito romântico, experiente, um homem bem sucedido numa cidade grande. Duvidei. Ele me respondeu em versos: “Você diz que é mentira Não sei por que... Quando enlaçado em seus braços, No auge angustiante e etéreo, Eu balbuciar: Como senti sua falta, amor. Quanto desejei sua presença Amena, querida, junto de mim. Você terá razão de não crer, E eu mesmo não sei por que, Quase duvido de mim. A cidade é imensa. A noite, grande. Luzes, vidas febris, multidão. Vê-se nos olhos das mulheres Convites para o amor. Para o amor? Não. Talvez para a ventura carnal... Mas o carinho quente. O amor ardente, Incomparável, da mulher amada... Verdadeiramente amada? Eis a resposta desejada: O amor requer ternura, brandura, Requer loucuras de amor.” Muitas vezes ela contará essa história aos filhos mostrando as cartas e fotos: do início do romance até casarem em 1953, a vida em Paranaguá e a volta a Araranguá, já com dois filhos, tendo outros cinco quando estabelecidos aqui. Nunca conhecemos casal mais unido. Brigavam muitas vezes por coisinhas domésticas: o caso das goteiras que ele não resolvia, da torneira da pia que custou para arrumar... E depois sentavam-se juntos na sacada de casa e ficavam ali, olhando a lua e conversando por um longo tempo sobre coisas só deles. Num bilhete para o marido, já com 25 anos de parceria, Neda escreveu: “Ficarei rezando por ti junto de nossos filhos. Beijos da tua mulher. Neda.” Tempos depois, recuperado o bilhete, após “...tua mulher”, ela acrescentou: ”que te ama”. Neda e Ernesto foram casados por 44 anos. Ele faleceu em 24 de junho de 1997, ela, em 2 de dezembro de 2011.

Texto de Ricardo Grechi para as lembranças de Neda Gomes Grechi com trechos de cartas de Ernesto Grechi Filho

A marca do seu parceiro de estrada POSTOS IRMÃO DA ESTRADA DISK FONE (0**48) 3524-0071

Solicite-nos através de jornalecocultural@yahoo.com.br o recebimento das edições do Jornaleco (igual no papel + as fotos coloridas) via e-mail

JORNALECO jPANFLETO CULTURAL

10/12/2013 • ANO 20 • Nº 433 ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS

Distribuição gratuita Periodicidade quinzenal Tiragem: 1.000 exemplares

H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H

UMA PUBLICAÇÃO

EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi DISTRIBUIÇÃO Gibran Grechi, Nilsinho Nunes ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas FOTOLITO David PAPEL Toninho IMPRESSÃO Welington, Valdo

ORION EDITORA

© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866 - prot. 4315/RJ, de 17/07/1995)

Calçadão Getúlio Vargas, 170 88900.000 Araranguá - SC - Brasil jornalecocultural@yahoo.com.br

JORNALECO ARARANGUÁ, 10 DE DEZEMBRO DE 2013 • ANO 20 • Nº 433

APOIO CULTURAL

Cartas de amor

tão dono de si. É magro, ficando calvo, 29 anos... Velho para mim. Mas é charmoso e se destaca pelas atitudes e modo elegante ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de se vestir. Soube por uma irmã sua que Eles se correspondem seguidamente, o ele se chama Ernesto e que saiu muito que por meses é a forma do casal de estar jovem de Araranguá e hoje trabalha no próximos e consolidar seu namoro. SALVADOR Paraná. Mas eu não estou interessada.

Até início do séc. 20, os principais logradouros de Araranguá não possuíam seus nomes atuais. Foi em 1904 que se nomeou a beira-rio norte de rua “Coronel Apolinário” e, em 1905, de rua “7 de Setembro” a futura avenida. Nosso principal largo só será chamado “Praça Dr. Hercílio Luz” a partir de 1922. Siga em Memória do Poder Legislativo de Araranguá, de Micheline Vargas de Matos Rocha, edição do autor, 2012, p.127-128 VISITE: WWW.ARARANGUA.NET

ARARANGUÁ GOVERNO DO MUNICÍPIO

“Só podia dar nisso: pegou um vírus!” por Cláudio Gomes

Acreditamos que foi a ciência da comunicação o campo que trouxe a maior e a CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA mais rápida evolução e transformação do MUITOS DE NÓS, já com alguma idade e comportamento do ser humano moderno. experiência de vida, não gostamos de certas Como um singelo exemplo desta evodefinições com as quais nos rotulam, tais lução, podemos citar a escrita. como: “terceira idade”, “melhor idade” etc. Meus pais escreveram em uma pedra Gosto de uma expressão mais leve, ale- portátil denominada de lousa, uma espécie gre e criativa. Nós, por termos tido o pri- de “tablet sem memória” onde nada ficava vilégio de sermos nascidos por primeiro, registrado, a não ser na mente do escreapenas somos “jovens há mais tempo”. vente. IMAGEM TEMA DE TELA DO WINDOWS Noutros tempos e nessas condições, seria mais lógico que tivéssemos mais experiência e conhecimento das coisas. Mas, hoje não parece ser assim. Por isso é comum em nossos diálogos com a família ou com os amigos, sobre determinados temas como, por exemplo, a evolução dos usos e costumes havidos entre as gerações de nossos pais até os dias atuais de nossos filhos e netos, concordarmos em sermos comparados à mortadela Eu já escrevi em papel, com canetas de do sanduíche, pelo que conhecemos do pas- madeira incrustada, na ponta, por uma sado de nossos pais, o passado vivenciado pena de aço, que precisava ser mergulhada por nós próprios, e pelo que vivenciamos em tinta fresca. Meus filhos e netos quase no presente de nossos filhos e netos. não escrevem, apenas digitam em máquiNeste contexto se torna necessário nas eletrônicas com memórias de múltiplas considerar o tempo decorrido entre as capacidades. quatro gerações de aproximadamente um Outro dia flagrei minha neta, Helena, século. Este tempo, para os parâmetros de apenas dois anos de idade, “dedilhando” da evolução moderna, é quase o infinito. o celular do pai. Selecionava desenhos Exemplificando a rapidez com que se animados, com um detalhe muito curioprocessam as conquistas, sabe-se que o so: deletando os comerciais de propaganda. telefone celular, quando foi inventado na É a geração eletrônica. década de 1980, pesava aproximadamente Fico feliz por viver no tempo da inforum quilo e meio e a sua “pilha” durava mática, embora não muito familiarizado apenas duas horas. Não era tão portátil (para não dizer “analfabeto digital”) com assim, nem tão útil. as máquinas e os seus sistemas. Mas me Não poderia ser diferente o nosso sen- sinto em pé de igualdade pelo que tenho timento de perplexidade ao detectar a enor- escutado de muitos da minha geração de me distância percorrida, principalmente no “jovens há mais tempo”. campo comportamental, promovidas pelas novas descobertas e criações dos últi- NESTE PATAMAR estão os meus amigos mos tempos. Henrique e Terezinha. APOIO CULTURAL

LÁ está ele entre os moços, tão falante,

Jovens há mais tempo, eles também não estavam familiarizados com o computador, tampouco com o sistema e sua linguagem. Os termos e as expressões modernas usadas na informática eram novidades, o que não é incomum. Os nossos amigos, premidos por necessidades, ou apenas para acompanhar a evolução, ou ainda para divertimentos, adquiriram um computador. Em busca de um local ideal para a instalação do computador, foi estabelecida uma verdadeira disputa entre os membros da família. Os filhos, alegando facilidades e questões como luminosidade, ventilação e outros benefícios, optaram por instalá-lo próximo de uma janela. A dona da casa, dona Terezinha, contrariava esta opção porque julgava que a máquina estaria muito exposta às condições do clima, sol, vento, chuva etc. Apesar de não entender muito do uso da máquina, ela defendia que o aparelho devesse ficar em um ambiente mais fechado, para que fosse melhor protegido, a fim de evitar maiores problemas, dos quais já tinha ouvido falar. Mas venceram os filhos e a instalação ficou junto à janela. Passou-se o tempo. Quase todos de casa, já familiarizados com o computador, “mexiam” na máquina. Um dia, alguém reclamou que o computador estava com um problema sério: tinha sido detectado um vírus muito grave. O povo conta que a dona Terezinha, que nunca havia aceitado plenamente a instalação do computador no lugar em que se encontrava por, segundo ela, ficar exposto e totalmente desprotegido, estando muito próximo da janela, falou, cheia de razão: — Eu não disse que aí era perto demais desta janela que está quase sempre aberta?! E concluiu: — Este computador, assim exposto e recebendo o calor do sol, pegando vento e água fria da chuva, só podia dar nisso: pegou um vírus!

MUSCULAÇÃO z PILATES STUDIO z X JUMP z POWER SET z ABS z CIA DANCING z PERSONAL TRAINER z NUTRICIONISTA z FISIOTERAPEUTA z PSICÓLOGA

Praça Hercílio Luz, 444 | Tels. 3522-1120 9624-8947


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.