CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA Na história de Araranguá, o capítulo da comunicação talvez seja o mais esclarecido. Graças aos registros e depoimentos de João Campos Sobrinho e aos minuciosos e históricos diários de Bernardino de Senna Campos, as comunicações de Araranguá com o resto do mundo mereceram várias páginas, com destaque àquelas realizadas através do telégrafo, nos livros A História de Araranguá, de Paulo Hobold, complementada e atualizada por Alexandre Rocha, e Memórias do Araranguá, do padre João Lenoir Dall’Alba, que reproduz os textos de Bernardino. Através destas obras, tomase conhecimento de que os primeiros aparelhos de comunicação telegráfica foram instalados em uma linha tronco já existente entre o Rio de Janeiro e Porto Alegre. Foi o telegrafista Ataliba Rodrigues quem fez a instalação, à margem esquerda da barra do rio Araranguá, em abril de 1893. Com as escaramuças provocadas, em nossa região, pela Revolução Federalista (1893/1895), os aparelhos do telégrafo viraram nômades. Ora viajando na linha de frente dos combatentes, ora para Laguna; até que foram parar em Torres, onde se encontrava Senna Campos. O telegrafista se ofereceu para reinstalá-lo na então Vila de Araranguá. Em suas anotações, Bernardino nos dá ciência, com minúcias, dos acontecimentos vividos e registrados por ele. “No dia seguinte, 3 de junho, às onze horas do dia, chegou a carretinha que trazia o aparelho e mais material para a estação. Tratei logo de montar as comunicações. Ficou montada a bateria elétrica, com 25 ou 30 elementos, às onze horas da manhã do dia 3 de julho de 1894 e logo em seguida o aparelho, as comunicações com o pararaio e comutador. Enquanto isso a bateria acumulava energia. Às duas horas da tarde, mais ou menos, começando a bateria a emitir corrente, chamei e falei com Torres e em seguida com Tubarão e logo após com Desterro!!! Inauguramos pela 2ª vez as comunicações entre este futuroso município com o resto do mundo civilizado!” (pág. 45). Bernardino nos dá conta ainda que os aparelhos do telégrafo, por ele instalados, estavam guardados na estação de Torres. Essa aparelhagem foi retirada de Araranguá e levada para Torres graças as escaramuças
por aqui acontecidas durante a revolução federalista (l893/1895). Por 35 anos, entre idas e vindas de Florianópolis, o primeiro telegrafista conhecido da cidade das avenidas administrou os aparelhos do telégrafo. Durante todo este tempo, a estação do telégrafo de Araranguá estava instalada na própria residência do telegrafista Bernardino. Valdemar Pacheco nos informou que a agência de telégrafo acabou sendo incorporada à Empresa de Correios, e esteve instalada em outros endereços, como: na av. Getúlio Vargas, próximo ao atual Colégio Estadual; na av. Pe. Antonio Luiz Dias, no local que também foi a residência do alfaiate José Teixeira da Rosa, e, definitivamente, na atual sede dos Correios, no calçadão da av. Getúlio Vargas. Depois de Bernardino, muitos profissionais se sucederam na missão de operar, através do código Morse, os aparelhos do telégrafo, até a chegada da era eletrônica. Tive a honra de conhecer um deles. O seu nome era Camilo Navajos Lins, a quem chamávamos de Camilão, por ser alto e esguio. Seu porte parecia denunciar ter sido um atleta na juventude. Camilo residia na rua Coronel Apolinário (beira-rio), a mesma onde nasci e vivi boa parte da minha vida. 1894. Chegada de Bernardino Campos, desembarcando na margem direita do rio Araranguá
Recordo dos dias em que “seu” Camilo, já com a idade avançada, fazia sua caminhada diária. Vinha desde sua residência, onde está hoje sediada a Empresa União de Transportes. Trazia sempre pendurado no braço direito um guarda-chuva, daqueles grandes, que também serviria para cobrir-se do sol, conforme a necessidade. No seu braço esquerdo, o do coração, vinha aconchegada sua esposa, dona Ignes Hübbe, de tradicional família ararangua-
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JORNALECO ARARANGUÁ, 10 DE JANEIRO DE 2014 • ANO 20 • Nº 435
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Na era do telégrafo: da seriedade do Bernardino à irreverência do Camilão
Araranguá localiza-se à latitude 28º56’05" Sul e à longitude 49º29’09" Oeste. O município fica a 13 metros acima do nível do mar. Segundo o IBGE, sua área é de 303,303 km²; em 2013, sua população foi estimada em 64.405 habitantes. Seu atual prefeito é Sandro Maciel, e o vice-prefeito é Rodrigo Turatti. VISITE: WWW.ARARANGUA.NET
ARARANGUÁ GOVERNO DO MUNICÍPIO
DANIEL PAZ
Querino Mazzuco, fotógrafo Em 1988, Querino Mazzuco, com sua veia de empreendedor, sempre em busca de novos artigos e serviços para incrementar os negócios, associou-se ao médico otorrinolaringologista Teodoro Gonçalves para montar junto à sua loja, na av. Getúlio Vargas, n0 232, a MT Vídeos, locadora e produtora. Depois de cinco anos e alguns percalços, Querino desistiu — as fitas originais eram muito caras e a pirataria já grassava o mercado. A locadora não lhe dera lucros, mas sua loja de fotografia e venda de discos e fitas já era a maior da região. — Até os anos 2000, nove a cada dez casamentos na região eram fotografados por nós — contabiliza Querino. Querino Mazzuco nasceu em 30 de março de 1942, em Pedras Grandes
(atualmente um município emancipado de Tubarão), como o terceiro dos cinco filhos de Eugênio e Narcisa Zappelini Mazzuco. O irmão da mãe, Faustino Zappelini, foi o primeiro fotógrafo a trabalhar em Criciúma, nos anos 1930, fazendo fotos três por quatro daqueles que chegavam para trabalhar nas minas de carvão, e deu início à leva de fotógrafos na família: os filhos Osmar e Atair, e o Jorge, filho do Osmar, mais o próprio Querino, que iniciou trabalhando com o Osmar, até vir para Araranguá abrir seu próprio estúdio em 24 de março de 1965. No início, ele mesmo batia, revelava e entregava as fotos. Depois começou a contratar funcionários. A primeira foi a Graça Bertoncini. Nesse tempo, José Genaro Salvador, o primeiro fotógrafo profissional em Araranguá, estava parando, e o Neco Pereira tinha sua loja na Getúlio Vargas. Enquanto os negócios prosperavam, Querino casou com Delfina Dal’Bó, de Criciúma, com quem tem os filhos Eduardo e Cristine, que hoje tocam a loja com ele, e Renata, que cursa medicina em Joinville. Em 1971, um incêndio causou grande destruição na loja. Querino reergueu-se e, em 1975, inaugurou a loja que conhecemos hoje (em frente à antiga), iniciando a venda de discos de vinil, que trazia da loja de um amigo de Criciúma, a extinta Musidisc. — Depois eu comecei a comprar das gravadoras. Mas tinha um problema: para cada lançamento, tínhamos que comprar 25 APOIO CULTURAL
Araranguá incomunicável
ense. Invariavelmente parava para conversar conosco e sempre tinha, para nós garotos, uma palavra de estímulo. O Valdemar nos confirma que Camilão, na juventude, era mesmo possuidor de um espírito irreverente e irrequieto. Camilão sabia juntar os seus conhecimentos de telegrafia com as suas habilidades temperamentais, fazendo proezas que são até hoje lembradas. O povo conta que, quando estudante, ele preparou uma boa armadilha para a família. Durante sua estada no Rio de Janeiro, o jovem Camilo, como acontece com a maioria dos estudantes, estava quase sempre em dificuldades financeiras, “duro”, conforme a gíria estudantil. Já na condição de aprendiz de telegrafista, vendo-se premido pela situação, resolveu agir. Remeteu o seguinte telegrama para sua família: CAMILO MORREU MANDEM DINHEIRO FUNERAL PARA CORREIOS RIO PT A família, consternada, mas nada podendo fazer, afinal o Rio de Janeiro estava a muitos quilômetros de distância, e para se deslocar até lá seriam necessários muitos dias, resolveu remeter o dinheiro. Camilo, tão logo recebeu o numerário, redigiu outro telegrama para os familiares: CAMILO RESSUSCITOU ALLELUIA SAUDAÇÕES PT Tendo assumido o posto de telegrafista na nossa Araranguá, demonstrou a sua disposição e capacidade de lutar em busca de melhores condições das instalações do telégrafo, além de auxiliar seus colegas de profissão. Já quase no final de suas atividades, cansado de tanta luta manuseando uma aparelhagem obsoleta, e depois de umas boas brigas com a direção por melhores salários, Camilo resolveu aprontar das suas, e a oportunidade logo surgiu. Achando-se só na estação do telégrafo, precisou satisfazer suas necessidades fisiológicas, e não perdeu tempo: baixou as calças e se aliviou, ali mesmo, em cima da aparelhagem telegráfica. A seguir, aproveitou a oportunidade para tirar umas prolongadas férias. Sem telegrafista, e com o telégrafo sem condições de ser utilizado, a sala foi fechada. Araranguá ficou incomunicável por vários dias até que os aparelhos fossem restaurados e a sala desinfetada.
bolachões, no mínimo! Não podia comprar menos. Daí, se entupia, entupia com tudo. Do que não saía, tinha que fazer liquidação. Então eu comecei a trabalhar com distribuidora. Eles deixavam os discos aqui e o que sobrava o vendedor recolhia por um preço menor pra cobrir a taxa de retorno — conta Querino. — Depois surgiram as fitas-cassete, que duraram até os anos 90, com os LPs, e aí os CDs e os DVDs tomaram conta. Com o tempo, o Mazzuco também se especializou em venda de aparelhagem de som e sonorização de ambiente, além de fotocópia. No ramo da fotografia, a excelência está sempre em primeiro plano, com laboratório próprio desde 1986, e impressão de pôsteres gigantes de alta qualidade. — Hoje não sou mais eu, são meus funcionários que mantêm o padrão de qualidade de nossos trabalhos fotográficos — revela Querino. César Grechi, que montaria o Foto Akiko, iniciou trabalhando no Mazzuco. E ali Enio Frassetto reproduz sua valiosa obra. Até para casas noturnas, Querino teve fundamental participação, ajudando a lançar Everaldo João no ramo das boates. Os dois montaram uma discoteca no salão do Grêmio Fronteira, com o acervo do Mazzuco, quando a boate Quitandinha saía de cena. Contando hoje na administração da loja com Eduardo e Cristine, que trabalham com o pai há 21 e 20 anos, respectivamente, Querino mantém uma longeva equipe de 15 funcionários, destacando-se o Vanderlei, com 38 anos de casa; Volnei, 34; Genivaldo, 30; Rosa, 22; Éverson, 19; e Cristiano e Ramon já pelos 10 anos. Também passaram pelo Mazzuco o Richard e o Belada, que depois montariam sua própria loja de artigos musicais, a Katuta. E o Mazzuco ainda colabora com as produções do Sarará “fazendo o melhor comercial”. Querino não fotografa mais a trabalho. Agora, só faz fotos para si, principalmente das viagens com a Delfina. Em 1994 eles estiveram pela primeira vez na Itália. Desde então, já visitaram várias cidades brasileiras e países como Argentina, Uruguai, Chile, Peru, França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Alemanha, Marrocos, Turquia, Rússia.
Na galeria dos grandes fotógrafos de Araranguá, Querino Mazzuco ficará na história por ter fotografado todos os bailes de debutantes do UCCA, do Tênis Clube e do Fronteira (neste, com apenas três ausências)
Nosso fotógrafo lembra algumas histórias curiosas que presenciou. Num casamento, nos anos 70, ele viu o noivo desmaiar e ser aparado pelo padre para não cair no chão. Naquela época, ele não cobrava nada adiantado. Ia lá, fotografava e só quando o cliente viesse buscar as fotos é que recebia pelo serviço. Foi assim que, após fotografar um casamento em Maracajá, viu o cliente chegar em sua loja na segunda-feira. — Eu não quero mais as fotografias... — disse o cliente, para espanto do Querino. — Mas como? E a despesa, como fica? — Eu posso pagar pelos negativos... Depois de alguma conversa, Querino acabou cobrando uma quantia irrisória pelo trabalho, entregou os negativos e o noivo foi embora, sem dar mais explicações. Mais tarde, o Querino soube o porquê da atitude do rapaz: ele havia “devolvido” a noiva porque ela não estava nos “conformes”. Querino também conta que, antigamente, fotógrafo em festa de casamento era tratado como celebridade e sempre era servido à mesa junto aos convidados. Mas numa ocasião, quando foram na loja buscar as fotos, o cliente exigiu que a comida que o Querino e seu ajudante haviam consumido na festa fosse descontada do valor das fotos. Querino Mazzuco construiu sua vida entre nós com talento e dedicação, servindo também em clubes sociais e como presidente do Lions por três vezes, a primeira em 1972. ENTREVISTA E TEXTO:
Ricardo Grechi
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