Jornaleco 447 01 jul 2014

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JACINTO MACHADO é um dos belos municípios do Vale em virtude de abrigar parte do território dos Aparados da Serra Geral. Devido a volta que o rio Serra da Pedra faz entre a cidade e o bairro Gávea, o atual município — desmembrado de Araranguá em 1958 — chamava-se Volta Grande. A partir de 1943, Volta Grande passou a ser “Jacinto Machado”, em homenagem ao general Jacinto Machado Bitencourt, da Guerra do Paraguai, Por vota de 1913, junto aos imigrantes italianos que chegaram a Jacinto Machado, estava a família Bordignon. ANTONIO BORDIGNON, descendente da família, nos contou o porquê de seu trauma a cada oportunidade em que é obrigado a passar na frente do portão de algum cemitério. Os psicólogos nos dizem que o sentimento do medo, ou fobia, pode advir de um trauma qualquer. As pessoas sentem fobia em diferentes graus, de acordo com a sensibilidade de cada um. Assim, é normal que haja indivíduos que sentem medo dos grandes perigos. Mas há os mais suscetíveis deste sentimento, motivado por pequenas causas, tais como: recintos fechados, altura, viajar de avião, ficar só, baratas, e até inofensivas borboletas. Não é de estranhar, portanto, que alguém nutra verdadeiro pavor em passar na frente de um portão de cemitério. AINDA JOVEM E MORADOR de Jacinto Machado, Antonio Bordignon era conhecido por “Milico”, em virtude de seu corte de cabelo preparado para o serviço militar. Milico, todos os domingos, frequentava as domingueiras (danças de salão nos domingos à tarde). Como todo bom moço da época, trazia, nos pés, a chuteira para o futebol, e, na cintura,

EM DETERMINADO SÁBADO, faleceu uma senhora idosa, vizinha da família Bordignon. Muito a contragosto, mas por obrigação, naquela tarde Milico foi ao velório e também acompanhou parte do enterro. Já que o cemitério era próximo da casa de sua amada, o nosso galã desistiu de entrar no campo santo e foi em frente fazer uma visitinha surpresa para a namorada. A visita foi tão agradável que Milico só percebeu o horário adiantado quando já era quase meia-noite. Um arrepio percorreu-lhe a espinha ao se lembrar do cemitério e da defunta que havia sido enterrada naquela tarde. Embora o pavor lhe dominasse o espírito, não tinha escolha, deveria regressar para casa e tinha de passar em frente ao portão do cemitério.

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NESSES TEMPOS, era impensável se dormir na casa da namorada. Milico só sentiu coragem de partir ao colocar a mão na cintura e acariciar o revólver que sempre trazia. Saiu caminhando muito devagar em direção do cemitério, que deveria ser ultrapassado. Seu coração batia forte, parecendo querer sair do peito. Aproximando-se do portão do campo santo, viu uma vela acesa. Conjecturou: “Isso só pode ser coisa da velha que morreu hoje”. Mas continuou firme, com a mão no coldre do revólver, até chegar na frente do portão, onde estacionou, paralisado pelo medo. Foi quando avistou, no interior do cemitério, próximo ao portão, um vulto preto que pulava, ora mais alto, ora mais baixo. Com o coração sufocando-lhe a garganta e com o revólver já em uma das mãos, aterrorizado, e ainda com o pensamento fixo na defunta enterrada naquela tarde, não esperou pelo pior. Deu um forte grito, e, como que desejando descarregar todo terror que sentia, conseguiu perguntar: — Quem está aí?! Como não obteve resposta, puxou o gatilho e descarregou a arma em direção ao interior do cemitério. Um cachorro preto, que pulava sobre os túmulos, ganiu saindo em disparada portão afora. Milico, de cabelo em pé e boca seca, acompanhou o cachorro assustado pelos tiros, e ambos correram em direção da cidade, numa desabalada carreira. Já a namorada, vizinha do cemitério, nunca mais viu o seu galã. O amor foi vencido pelo medo. MUITOS ANOS DEPOIS, o meu amigo Antonio Bordignon, carinhosamente chamado de Milico pela família e amigos, nos contou esse caso acontecido com ele em Jacinto Machado. O certo é que até hoje o seu Antonio z evita portões de cemitérios.

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10/07/2014 • ANO 21 • Nº 447 ESTA EDIÇÃO: 4 PÁGINAS

Distribuição gratuita Periodicidade quinzenal Tiragem: 1.000 exemplares

H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H

UMA PUBLICAÇÃO

EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Ricardo Grechi CONTATO Rossana Grechi DISTRIBUIÇÃO Gibran Grechi, Nilsinho Nunes ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas FOTOLITO David PAPEL Toninho IMPRESSÃO Welington, Valdo

ORION EDITORA

© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866 - prot. 4315/RJ, de 17/07/1995)

Calçadão Getúlio Vargas, 170 88900.000 Araranguá - SC - Brasil jornalecocultural@yahoo.com.br

JORNALECO ARARANGUÁ, 10 DE JULHO DE 2014 • ANO 21 • Nº 447

APOIO CULTURAL

CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA

o revólver, que estava sempre pronto para qualquer eventualidade. Naquele domingo ele namorou uma bonita e graciosa moça, com quem passou uma bela tarde. No final da domingueira, cavalheirescamente, Milico pediu permissão para ir com a moça até sua residência, como era o costume. A permissão foi concedida e os dois saíram conversando estrada afora. Andavam já próximos da residência de sua escolhida, quando Milico descobriu que, para chegar até a casa da namorada, deveria passar na frente do portão do cemitério, que ficava distante da cidade. Com os nervos à flor da pele, mas como o sol ainda brilhava numa tarde clara e bonita, e não pretendendo deixar transparecer sua fobia, Milico fez um esforço e passou com bastante rapidez pela frente do portão. Acompanhou a namorada até a sua residência, mas sem demora, e na mesma balada retornou para o baile. O namoro continuou por algum tempo mais. Para suplício do Milico, cada vez que ia à casa da amada, tinha de enfrentar o portão do cemitério.

APOIO CULTURAL

por Cláudio Gomes

“Os terrenos da praia também trazem algum problema. Tem que saber que a Marinha é proprietária da orla marítima, 33 metros a contar da maré mais alta. O caminho para a praia passava por dentro da Lagoa da Serra. O Tenente Rui [prefeito Rui Stockler, 1941-45] é que fez esta estrada.” SIGA EM HISTÓRIAS DO GRANDE ARARANGUÁ, JOÃO LEONIR DALL’ALBA, ORION, 1997 (DEPOIMENTO DE ARTUR BERTONCINI, PÁG. 111)

Os “boinas azuis” da ONU AIMBERÊ ARAKEN MACHADO (Texto publicado no JORNALECO n0 307, de 10 de setembro de 2008)

Hoje de manhã, estive em uma praça recentemente inaugurada, aqui em Florianópolis. Trata-se de um logradouro situado no coração da Ilha, na Baía Sul. Aproveitando uma deliciosa preguiça matinal, sentei-me em um dos bancos e olhei em torno: a) à frente, a Praça XV de Novembro, com seu vigoroso conjunto de árvores seculares, encimado, simbolicamente, pela cruz da torre da Catedral Metropolitana; b) à direita (ao longe e no alto), o Hospital de Caridade, com sua torre principal de estilo inglês; c) atrás, o pano de fundo majestoso da Serra do Tabuleiro, antecedido, no entanto, pelo feioso Centro de Convenções (sem dúvida, um monstrengo arquitetônico!); d) à esquerda, apenas uma fileira de ônibus estacionados (ali perto estão os terminais urbanos da Capital). Nessa praça há um monumento muito significativo, do qual retirei algumas informações (é uma homenagem à Força de Emergência das Nações Unidas – UNEF –, conhecida, popularmente, pela denominação de “Batalhão Suez”). Desejo repassá-las a vocês, meus queridos leitores do JORNALECO. A UNEF foi criada em 2 de novembro de 1956, concretizando, assim, uma proposição feita pelo Canadá (país pelo qual tenho profunda admiração). Ela surgiu para supervisionar e controlar conflitos na Faixa de Gaza, que estava sendo disputada, de um lado, pelo Egito (governado, àquela época, pelo Presidente Gamal Abdel Nasser), e de outro por uma coalizão imperialista formada pela Grã-Bretanha, França e Israel. O primeiro contingente militar da UNEF era formado por soldados de dez países: Brasil, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Finlândia, Índia, Indonésia, Iugoslávia, Noruega e Suécia. Os soldados brasileiros do primeiro Batalhão Suez foram recrutados no Segundo Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro, e permaneceram na Faixa de Gaza até 1967. Com sua participação nessa tropa da ONU, o Brasil ganhou prestígio internacional. A princípio, os soldados que compunham o Batalhão Suez ficaram acampados em pleno deserto, perto da Faixa de Gaza! Posteriormente, tropas brasileiras da ONU estiveram presentes nos seguintes países: Angola, Bósnia, Timor Leste, Paquistão, Nicarágua, Moçambique, República Dominicana, Honduras, El Salvador, Libéria, Guatemala, Uganda, Ruanda, Macedônia, Croácia, Equador, Peru e, ultimamente, no Haiti. Em 1988, a UNEF ganhou o Prêmio Nobel da Paz, obviamente por haver prestado relevantes serviços à Humanidade. Dois soldados araranguaenses, conhecidos meus, foram membros da UNEF: o Boni e o Dadinho. Quando me lembrei disso, quase chorei de emoção, ali mesmo, naquela manhã tão alegre. Aproximei-me do monumento (que é construído em concreto, com uma placa metálica, tendo, no alto, uma pomba representando a PAZ), anotei os dados e saí quase correndo, a fim de escrever esta crônica. Glória aos nossos dois cidadãos e a todos os demais!

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Araranguaenses receberam menção honrosa pela outorga de Prêmio Nobel da Paz de 1988 às Forças de Paz da ONU CLÓVIS, ANTONIO, BONI E DADINHO integraram o Batalhão Suez, os “boinas azuis”, em fins dos anos 50 e começo dos anos 60. No contingente brasileiro, eles estiveram com às tropas da ONU em prol da paz no Oriente Médio, protegendo a linha de armistício que dividia árabes e judeus. Saiba mais: Clóvis Antonio Fantin, 5º Contingente (1957/59). Atuou como correspondente da rádio Farroupilha e do extinto Diário de Notícias, do RS. Jornalista, natural de Erechim, há 26 anos reside no Morro dos Conventos. Antonio da Silva, 5º Contingente (1957/59). Residia no Morro dos Conventos, até falecer em 2013. Bonifácio de Souza Silveira, 7º Contingente (1960/ 61). Foi agente da Polícia Rodoviária Federal. Morava no Balneário Arroio do Silva, era escritor e colaborava no JORNALECO, até falecer em 2002. Everaldo Apolônio Remor Berti, 9º Contingente (out. 1961/fev. 1963). Residia em Araranguá, até falecer em 2001. MATÉRIA DE CAPA DO JORNALECO 153, DE 1º/04/2002

N.J.: Outros homenageados entre nós foram Antonio da Silva, falecido recentemente, e Clóvis Fantin, radicado em Araranguá desde 1988, o único vivo dos nossos quatro boinas azuis. APOIO CULTURAL

Descarregou a arma na defunta

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Praça Hercílio Luz, 444 | Tels. 3522-1120 9624-8947


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