Jornaleco 474 fevereiro 2016

APOIO CULTURAL

CULTURA, INFORMAÇÃO E DIVERSÃO + SAÚDE

HOMENAGEM

TAGS z FLYERS z FOLDERS z CONVITES z PANFLETOS z EMBALAGEM z NOTAS FISCAIS z CARTAZES z CARTÕES DE VISITA z IMPRESSÃO DE LIVROS

Av. XV de Novembro, 1807 - Centro - Araranguá Tel. (48) 3524-5916 graficacasadocarimbo@gmail.com

Seu Mineiro, o amigo do Arroio

hometech@hometech.inf.br Tels. 3524-2525 / 9995-3737 Av. Getúlio Vargas, 930 - Centro VENDAS E ASSISTÊNCIA TÉCNICA

JORNALECO

©

NAS RUAS A PARTIR DE 18/02/2016

ANO 22 • Nº 474 Distribuição gratuita Periodicidade mensal Tiragem: 1.000 exemplares

Seu Mineiro

A BANDA P. 11

CONTRACAPA

SEU MINEIRO ENTREGA TROFEU NO ARROIO / JB ESPORTES

ETCETERA P. 9

PÁGINA DA SAÚDE P. 10

IMAGENS INTERNET: MOACYR SCLIAR, FERNANDO SABINO, RICHARD WAGNER / CRÉDITOS NAS MATÉRIAS

JORNALECO ARARANGUÁ, FEVEREIRO DE 2016 • ANO 22 • Nº 474

Conhecendo Araranguá e sendo conhecido, o telégrafo sonha com o amor de uma nativa.

‘ENQUANTO FLERTA COM A VILA, BERNARDINO QUER NAMORAR’ por Alexandre Rocha / O DIÁRIO DE BERNARDINO P. 2

O delegado Antonico Sardinha e Norberto Gomes foram internar um doente mental em Porto Alegre. Mas quem era o louco, afinal?

‘QUEM É O LOUCO?’ por Cláudio Gomes / CASOS E CAUSOS P. 4

“Coitado nenhum passava fome. Pescavam bagre e miraguaia de espinhel. Todo mundo pescava. Eu mesmo pesquei tainha, savelha e bagre. Tainha era de caniço. Era um farturão. Depois veio a água de mina. Acabou com tudo”. ENTREVISTA (p. 6 e 7)

Problemas com o alcoolismo? Nós podemos ajudar

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS REUNIÕES: 2as e 5as feiras, às 20h; dom., às 17h

Próx. à igreja católica, Cidade Alta, Araranguá REUNIÕES: 4as e 6as feiras, às 19h30 Próx. à Câmara de Vereadores, Bal. Arroio do Silva

H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende, Gibran Grechi, Nilsinho Nunes IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas FOTOLITO David PAPEL Toninho IMPRESSÃO Valdo, Welington

UMA PUBLICAÇÃO

ORION EDITORA Calçadão Getúlio Vargas, 170 88900.035 Araranguá - SC - Brasil

CADERNO CULTURAL © Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866 - prot. 4315/RJ, de 17/07/1995) FECHAMENTO DESTA EDIÇÃO: 15/02/2016 11h40 Solicite-nos através de jornaleco.ara@gmail.com o recebimento do JORNALECO via e-mail (contendo variações nas amostras, a versão válida será a impressa)

PESCA DE CANIÇO NO RIO ARARANGUÁ PELOS ANOS 1940-50 / ACERVO AHA APOIO CULTURAL

JUSCELINO DA SILVA GUIMARÃES, carinhosamente conhecido como Seu Mineiro, nasceu em 18 de junho de 1956, na localidade de Porto Firme, interior de Minas Gerais. De origem humilde, em uma família com 16 irmãos, ajudava os pais na roça até os oito anos de idade.

Depois mudou-se para um seminário, na cidade de Mariana, onde permaneceu até os 15 anos de idade. Aos 18 anos, na expectativa de melhores oportunidades, mudou-se para São Bernardo do Campo-SP. Em solo paulista, conseguiu emprego na Drogan, uma das principais drogarias na época. Atuava na limpeza. A dedicação e o esforço acabaram o credenciando à promoção de repositor e em seguida à vaga de balconista.

APOIO CULTURAL

O município de Balneário Arroio do Silva completou, em 29 de dezembro, 20 anos de emancipação política. Como parte das comemorações, realizou-se a homenagem ao “Cidadão Amigo do Arroio”.

Neste ano o homenageado foi Juscelino da Silva Guimarães, o “Seu Mineiro”. Natural de Porto Firme-MG, seu Mineiro mora no Balneário Arroio do Silva há 25 anos. Proprietário da Drogaria Marista, com duas lojas na cidade, e da Marista Laboratório de Análises Clínicas, seu Mineiro se tornou uma das pessoas mais famosas e importantes do município. “É uma emoção muito grande receber este título. Aliás, não é só eu que recebo esta homenagem, é toda a comunidade, porque eles são o motivo deste reconhecimento”, declarou emocionado. “É gratificante ter a oportunidade de homenagear as pessoas que contribuem para o desenvolvimento do município. Neste ano, Mineiro leva essa homenagem merecidamente”, disse o prefeito Scaini, na ocasião.

Segue abaixo uma biografia do homenageado escrita por Saulo Pithan, editor-chefe da revista W3, a qual acrescentamos novos dados colhidos depois com o seu Mineiro.

sua identificação era mesmo com os medicamentos. Fechou as portas e veio para o Arroio do Silva em 1990, quando a localiO talento e a facilidade de comunicação dade ainda pertencia à Araranguá. Na chamou a atenção de uma indústria far- época, a população fixa do balneário conmacêutica. Ele deixou a farmácia e foi tava cerca de 2.000 pessoas*.

Em novembro de 1990, seu Mineiro abriu trabalhar na linha de montagem da empresa. Novamente se destacou e foi promo- as portas da Farmácia Marista na localivido à função de representante comercial dade litorânea para atendimento durante na região de Juiz de Fora-MG. Foram dez o ano inteiro, quando a maior parte do comércio só funcionava nas temporadas anos de dedicação total à marca. de verão. Assim, a Marista se solidificou como um dos principais empreendimentos comerciais da cidade.

Com seu bom humor e seriedade para tratar de negócios, Mineiro conquistou o público. E em setembro de 2014 ele ousou mais uma vez, inaugurando o primeiro laboratório de análises clínicas no município.

A rede Marista emprega cerca de 15 profissionais.

Renata Carradore é farmacêutica formada e trabalha há sete anos com o Mineiro na matriz da drogaria, situada no edifício Sobre as Ondas, Seu Mineiro com a esposa Claudete, ladeados pelo prefeito Evandro Scaini e o Amarildo e o Carlos já e a esposa Diane, e o vice-prefeito Fernando Borges, recebe a homenagem estão há dez anos na casa.

Aos 59 anos de idade, seu Mineiro diz Conheceu a esposa, Claudete Silveira Guimarães, em Canoas, no Rio Grande do com orgulho que o português é curto para Sul. De lá até aqui, já são 35 anos de compa- agradecer o carinho com que foi acolhido nheirismo. Desta união nasceram dois fi- pelos moradores do Arroio. “Eu como lhos. Juliano, hoje com 28 anos, personal queijo, mas sou apaixonado por maçamespecializado em fisiologia e neurociência beque”, graceja o Juscelino, aludindo à do exercício, e Vinicius, com 26, farma- sua origem mineira.

Ele, que já é um dos maiores patrocinacêutico responsável pela filial da Marista, casado com Caroline, a responsável pelo dores de eventos esportivos realizados no laboratório, com quem tem o filho Caio, Arroio e que também apoia o jornalismo de sete anos, até agora o único neto do local, diz estar sempre pronto para auxiliar no que for preciso para o cresciMineiro e da Claudete.

Foi no município de Apucarana, no mento do município. E uma coisa é certa: Paraná, que seu Mineiro entrou definiti- um remédio que não se encontra nas vamente para o mundo dos negócios, ao prateleiras da farmácia, mas ele faz quesadquirir sua primeira farmácia. Foram tão de compartilhar, é o amor que nutre quatro anos de sucesso. Mas o desejo de pelo município e seus munícipes. Um morar mais perto da família fez Mineiro medicamento que faz bem para a alma, sai de graça e Mineiro sente prazer em mudar os rumos.

De volta a Porto Alegre, comprou um distribuir. (Com foto de Bianca Goulart) bar. Tentou novo ramo, mas percebeu que (*) Em 1996, Arroio do Silva tinha 4.781 habitantes (IBGE)

A marca do seu parceiro de estrada

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1926 (EUA)

ALEXANDRE ROCHA reconstrói a saga do telégrafo Bernardino de Senna Campos na pequena vila de Araranguá no final do século XIX e início do século XX CAPÍTULO 6

LEON TOLSTOI (1828-1910) Escritor russo

Enquanto flerta com a vila, Bernardino quer namorar

Mereço um aumento – Desculpe-me, chefe, posso falar com o senhor?

– Claro. O que posso fazer por você?

– Bem, chefe, como o senhor sabe, eu tenho sido empregado desta prestigiada empresa há mais de dez anos.

– Sim. – Eu não vou ficar enrolando. Chefe, eu gostaria de um aumento. Eu tenho atualmente duas companhias atrás de mim e então, por respeito, decidi falar com o senhor primeiro.

– Um aumento? Gostaria muito de lhe dar um aumento, mas esse não é um bom momento.

– Eu entendo a sua posição, e sei que a recessão econômica tem gerado um impacto negativo sobre as vendas, mas você também deve levar em consideração o meu trabalho duro, pro atividade e lealdade com esta empresa por mais de uma década.

– Levando em conta esses fatores, e considerando que não quero perder

BERNARDINO DE SENNA CAMPOS

Futura avenida Getúlio Vargas (segundo o livro Memórias do Araranguá, 1987), c. 1910

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO

É mais fácil vencer um mau hábito hoje do que amanhã.

CONFÚCIO (551 a.C.-479 a.C.) Pensador e filósofo chinês

uplemento

funcionários, eu estou disposto a te oferecer um aumento de dez por cento. O que acha disso?

- Eu aceito, chefe! Obrigado!

- Antes de ir, só por curiosidade, quais companhias estavam atrás de você?

- Ah, a companhia de luz e a companhia de água...

Marcador de texto Do livro De Aragon a Montherlant, de ANDRÉ MAUROIS (1967) traduzido por Paulo Hecker Filho (Nova Fronteira, RJ) O pior mal da velhice é perder os que podiam compreendê-lo, já que conheceram os mesmos seres, atravessaram as mesmas provas, amaram as mesmas coisas (p. 43).

Namoro de rico e namoro de pobre

Pois São João da Cruz condenava tudo o que Robert amava, recusava-se a encarar o que não interessava ao serviço de Deus. “Mas o que, na categoria da audição e da visão, não interessa ao serviço de Deus?... Flores, mulheres, crianças, tudo o que faz a poesia da Bíblia; as anêmonas da Palestina, as criancinhas em volta de Jesus, Madalena perdoada” (aludindo e citando a Robert Kemp, p. 45).

RICO NAMORANDO:

- Oi, amor!

- Oi, vida!

- Vamos sair pra jantar?

- Claro amor. Vem me buscar de quê?

- De Land Rover.

- É claro, amor.

“Em justo há a ideia do direito; em equitativo há a ideia de igualdade (do latim aequus). Daí a diferença fundamental entre essas duas palavras. O que é justo é obrigatório; o que é equitativo é questão de consciência. A distinção vai mais longe: o que é justo é conforme a lei; o que é equitativo é conforme a ideia que nós fazemos de uma justiça mais alta” (citando Charles du Bos, p. 62).

POBRE NAMORANDO:

- E aí, safada!

- Fala, miséria.

- Onde você tá, cabrita?

- Tô tomando sol na laje.

- Bora dá uns rolé nas quebrada hoje?

- Depende. Vem me buscar de quê?

- A pé, né, ainda não aprendi a voar.

Espírito natalino

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MOACYR SCLIAR ○

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“Homem disfarçado de Papai Noel tenta matar publicitária em SP” (CADERNO COTIDIANO / FOLHA DE S. PAULO, 18/12/01) Primeira coisa que ele fez, ao chegar em casa, foi tirar a roupa de Papai Noel: estava muito quente, suava em bicas. Também se queixou de dor na coluna. “Isso é por causa do saco que você carrega”, observou a mulher. De fato pesava bastante, o tal saco. A razão ficou óbvia quando ele esvaziou o conteúdo sobre a mesa: revólveres, granadas, submetralhadoras, vários pentes de munição. “Já não dá para sair de casa sem um arsenal”, resmungou. O seu mau humor era tão óbvio que ela tentou amenizá-lo, puxando conversa.

— Como foi o seu dia? — perguntou.

— Um desastre! — foi a azeda resposta. — Mais uma vez errei a pontaria. Já é a segunda vez nesta semana.

— Isto é o cansaço — disse ela. — Você precisa de um repouso.

Amanhã você vai ficar em casa, não vai?

— De que jeito? Tenho trabalho.

— Amanhã? No dia de Natal?

— O que é que você quer? É a minha última chance de usar a fantasia de Papai Noel. Tenho de aproveitar.

Suspirou: — Vida de pistoleiro de aluguel é assim mesmo, mulher. Natal, Ano Novo, essas coisas para nós não existem. Primeiro a obrigação.

Depois a celebração.

Ela ficou pensando um instante.

— Neste caso — disse —, vamos antecipar a nossa festinha de Natal. Vou lhe dar o seu presente.

Abriu um armário e de lá tirou um caprichado embrulho.

Surpreso, o homem o abriu com mãos trêmulas. E aí o seu rosto se iluminou:

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— Um colete à prova de balas! Exatamente o que eu queria!

Como é que você adivinhou?

— Ora — disse ela, modesta — afinal de contas eu conheço você há um bocado de tempo.

Ele examinava o colete, maravilhado. E aí notou que ele era todo enfeitado com minúsculos desenhos.

— O que é isto? — perguntou intrigado.

Ela explicou: eram pequenas árvores de Natal e desenhos do Papai Noel, trabalho de uma habilidosa bordadeira nordestina.

— Para você se lembrar de mim quando estiver trabalhando.

Ele começou a chorar baixinho. Em silêncio, ela o abraçou.

Compreendia perfeitamente o que se passava com ele. Ninguém é imune ao espírito natalino.

(Folha de S.Paulo, de 24/12/2001) Moacyr Jaime Scliar (Porto AlegreRS 1937 – idem 2011) publicou seu primeiro livro, Histórias de um Médico em Formação, em 1962. A partir daí, não parou mais. São mais de 67 livros abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil, o ensaio, pelos quais recebeu numerosos prêmios literários. Algumas de suas obras já foram publicadas na Inglaterra, Rússia, República Tcheca, Eslováquia, Suécia, Noruega, França, Alemanha, Israel, Estados Unidos, Holanda, Espanha e em Portugal, entre outros países.

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Pedrinho não tinha pressa e seguiu pelas narrativas de histórias que Bernardino contava sobre suas experiências nas cidades por onde passou até chegar a Araranguá. Falou de todas as suas aventuras e o quanto era grande o Brasil, coisa que nem poderia explicar ao garoto que pouco ouvira falar de outros lugares. Falou também das namoradas que teve e aproveitou para perguntar se na vila aconteciam bailes, se havia muitas moças solteiras – que ele quase não via, e se ele conhecia a moça do engenho.

O menino, sempre com respostas prontas já foi dizendo que possuía tias e primas e após as missas, observava que as moças caminhavam geralmente em grupo e sem namorados, que elas passavam seu tempo próximo ao jardim antes de irem para casa. Quanto à moça do engenho, disse que era pouco vista, e com poucas pessoas conversava.

Alimentando sua curiosidade, o menino deu uma guinada na conversa e

ideia que tinha de que a vila estava em meio a uma grande clareira.

A pequena morada era uma casinha muito simples, que bem revelava a humildade da família de Pedrinho. Na porta estavam o pai e a mãe do menino, que o convidaram para entrar. Bernardino pediu licença, pendurou o chapéu numa cadeira e apertou a mão dos pais do garoto. O rapazote não escondia a euforia e mostrava-se todo orgulhoso pela visita importante. Após uma boa prosa, Bernardino elogiou e agradeceu o café, e despediu-se.

No outro dia um cavaleiro chega apressado à vila, abanando seu chapéu e fazendo movimentos bruscos com seu cavalo. Aos gritos, numa passada ligeira pelos quatro cantos da praça, alerta a todos para que fiquem atentos, pois a vila seria atacada por aqueles dias.

Em meio à arruaça formada, que espalhou logo grande alvoroço, o sujeito apeia e faz continência ao oficial Apolinário. Ele diz tratar-se dos mesmos que já haviam atacado Passo do Sertão e que não sabia se eram tropas inimigas retomando posições ou um bando de saqueadores que já havia abandonado a guerra, mas alertou do perigoso, pois que levavam tudo o que podiam, principalmente coisas de valor, armas e animais.

Os movimentos da Revolução Federalista incluíam inevitavelmente Araranguá no palco dos acontecimentos.

Atento, Bernardino puxou do paletó um caderno de anotações, onde registrou tudo o que via e ouvia, sem esquecer de escrever local e data... “Villa do Araranguá, ... julho do ano de 1894”.

FEVEREIRO 2016

A conversa à beira-rio com

perguntou sobre o telégrafo. Disse que achava o equipamento curioso, que não entendia como aquilo poderia funcionar e mandar recados para tão longe. Queria saber por onde vinham os tais sinais e como eram transformados em letras. Perguntou quanto tempo demorava até os códigos percorrerem os fios... Bernardino virou-se para Pedrinho e pediu calma, que iria responder uma pergunta de cada vez.

Calmamente explicou que aquele era um equipamento muito sofisticado, uma maravilha da tecnologia moderna, resultado de um processo que evoluiu muito e que ele acabaria por entender tudinho em pouco tempo.

Gesticulando bastante e fazendo sinais com os dedos, o telegrafista exemplificou toda a técnica e falou da engenharia e da função de cada peça e de cada fio. Com amplo conhecimento, explicou como a comunicação havia iniciado e como ela funcionava naqueles dias.

Já anoitecia e Bernardino foi acompanhar o garoto até sua casa para conhecer seus pais. Pelo caminho sombrio um areal seco por onde seguia uma picada contornada por abundante vegetação baixa, espinhos, rosetas, muitos butiazeiros e fileiras de caramonas exalando um inconfundível cheiro silvestre.

A pouco mais de um quilômetro, já em frente a casa, Bernardino fez uma parada, correu os olhos pelo cenário ao redor, observou o isolamento daquele setor da vila e sentiu compaixão da pobre gente que vivia em tão precária condição. Dali, a próxima casinha era um tanto distante e entre elas só havia árvores, muitas árvores nativas, algumas de grande estatura, reforçando a

JORNALECO 474

z NO CAPÍTULO ANTERIOR...

No início da tarde, Bernardino sentira vontade de ver a moça, cuja lembrança não lhe sai da cabeça. Não encontrando coragem de atender ao convite para jantar na casa dos velhinhos, resolve adiar seu plano. Nisto convida Pedrinho para lhe acompanhar num passeio pela vila... Bernardino monta no seu cavalo branco, o mesmo que lhe trouxe à vila e resolvera depois comprar, e Pedrinho na mulinha parda que pertence ao seu pai... Seguem adiante pelos gramadões da rua ampla... Passam em frente à capelinha, atravessam o quarteirão e chegam à beira-rio, onde avistam um razoável número de pescadores munidos com caniços... Bernardino encantou-se com o rio e disse que um dia iria adquirir um barco e adaptar um motor para passearem até a foz em Ilhas.

S

A BANDA

O mal não pode vencer o mal.

Só o bem pode fazê-lo.

APOIO CULTURAL

O DIÁRIO DE BERNARDINO

Grupo de Amor Exigente Reuniões 6as feiras, às 20h Sala da Igreja Episcopal, próx. EB Castro Alves

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POLÍCIA MILITAR: 190 POL. RODOV. FED.: 191 SAMU: 192 BOMBEIROS: 193

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N.A. Narcóticos Anônimos

DIRETOR: Osmar Nunes RESPONSÁVEL JURÍDICO: Dr. José Borges Dias OFICINA E REDAÇÃO: Av. Sete de Setembro, 2.090 t

Grupo de Adoção Filhos do Coração Informações: Juizado da Infância e da Juventude -Tel. 3522-0204 - Ramal 45 ○

Jornal de Ontem OOO Nº 6

JORNAIS ARARANGUAENSES DO PASSADO — NOTÍCIAS QUE FAZEM HISTÓRIA

FAZENDA SÃO JORGE

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EDIÇÃO: ROSSANA GRECHI

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Fevereiro/1964 - ano I - nº 2

8 MITOS populares sobre a saúde humana (1)

Perigo: quadrilha assalta Vale do Araranguá

Quando se confia em uma fonte, muito provavelmente vai confiar na informação. Isso que faz os mitos médicos a seguir se tornarem tão disseminados e serem tão difíceis de desacreditar. Primeiro você escuta da sua mãe, do pai e também alguém de sua confiança. Por isso, viemos desvendar mais alguns desses mistérios populares.

O Vale do Araranguá foi invadido neste fim de semana por gatunos que se supõe formarem quadrilha perigosa de assaltantes. Simultaneamente foram assaltadas a Relojoaria Glória, em Sombrio, em três milhões de cruzeiros e a casa comercial de Antonio Maragno, em Turvo, em quase meio milhão.

PISTA – Acredita-se que continua agindo a quadrilha, pois no Hotel labes, em Araranguá, foram encontradas num quarto (onde se hospedou um desconhecido) várias caixas contendo balas de fuzis, moedas de níquel e outros objetos estranhos. A polícia de Turvo está agindo preca-riamente, enquanto a nossa de nada sabe. É bom que o secretário de Segurança acabe de uma vez por todas com esta falta de policiamento, mormente em Araranguá, zona perigosa, fronteira, e que abriga milhares de forasteiros de todos os lados.

MITO 6: Muito açúcar deixa as crianças hiperativas Muitos pais limitam alimentos açucarados, pensando que causam hiperatividade. É correto restringir o abuso dessas guloseimas, mas o raciocínio está errado.

Estes alimentos de alto teor calórico oferecem pouca nutrição e podem levar à obesidade e outros problemas, mas não há evidência científica diz que o açúcar causa hiperatividade. O açúcar pode dar um impulso de energia de curto prazo, mas isso não é o mesmo que a hiperatividade.

O fato de que crianças em uma festa de aniversário estarem correndo feito doidas e agindo como pequenos furacões provavelmente tem mais a ver com a emoção de estar perto de outras crianças do que necessariamente com o bolo e os doces.

MITO 5: Estalar os dedos causa artrite

MITO 7: Engolir chiclete gruda no estômago e demora sete anos para digerir

APOIO CULTURAL

Alguns mitos são difíceis de engolir, mas este as pessoas estão de fato mastigando por anos.

Este mito provavelmente surgiu quando a goma de mascar tornou-se popular no final do século XIX e, possivelmente, se originou graças a uma única palavra: indigesto.

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As juntas dos dedos das mãos, tal como qualquer junta do corpo, possuem um líquido lubrificante chamado líquido sinovial. Quando você estala os dedos, você está separando dois ossos na articulação, o que significa que o líquido sinovial tem que preencher mais espaço.

Isto diminui a pressão do fluido, e gases dissolvidos que estão presentes, tais como azoto, flutuam para fora da área em minúsculas “bolhas”. O estouro dessas bolhas

é o som familiar que ouvimos quando alguém estala seus dedos, o que também pode significar que as juntas não estão bem lubrificadas.

Esta bolha de ruptura não é a mesma que a artrite, que é quando o sistema imunitário ataca as articulações do corpo. No entanto, estalar as juntas dos os dedos constantemente pode prejudicar as articulações e enfraquecer os dedos.

E estalar os dedos engrossa as juntas?

Isso sim não é mito, é verdade. Movimentos repetitivos nas articulações podem deixálas mais rígidas e consequentemente mais grossas. Porém, apesar da possibilidade do engrossamento, estalar os dedos não deve causar problemas de saúde ou dores, que se acontecer, deve-se procurar o médico.

Se você já bebeu demais, nenhuma quantidade de café, refrigerante, água ou qualquer outra coisa vai deixar você sóbrio novamente. A única coisa que irá fazer o truque é o tempo.

O fígado pode metabolizar apenas um padrão de bebida por hora, exemplo: 12 latas de cerveja, 6 taças de vinho, ou 1,5g de bebidas destiladas, logo, se está bebendo mais do que isso a cada 60 minutos, você terá uma boa quantidade de álcool circulando pelo seu corpo durante certo tempo.

A idéia de que o café ter um “efeito moderador” pode ter começado porque a cafeína age como um estimulante, contrariando o efeito sedativo do álcool, em pequeno grau. No entanto, ele não tem qualquer efeito sobre a quantidade de álcool no sangue.

Então, se você for exagerar na bebida, melhor usar o seu dinheiro chamando um táxi em vez de comprar um cappuccino. (http://www.digitalmed.com.br/noticia/8mitos-populares-sobre-saude-humana/)

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E O

RUIM

Saiba que: O rio Araranguá está fornecendo duas mil tainhas por dia pescadas no anzol. O motivo é porque não há carvão fazendo com que o vertebrado venha para o centro da cidade via fluvial. Saiba que: Se não houvesse carvão em nosso rio, milhares de pessoas seriam sustentadas na base do peixe (tainha de três quilos). NJ: A foto da pesca de caniço na capa é anterior ao jornal, mas ilustra bem o fato. Como estão de pé dentro d’água, devia ser rio acima, mas também se pescava na cidade.

MITO 4: Café, refrigerante ou água tira a embriaguez

TOURNIER Graduado e especializado na Universidade Federal de Santa Catarina • Pós-graduado no Instituto Adolfo Lutz de São Paulo • Pós-graduado na Universidade do Sul Catarinense

O BOM

GENTE

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QUE NÃO É CARTAZ

Em dias do ano passado, trazido pelo vento Norte, aqui aportou um grupo de jovens. Uns, de aspeto duvidoso: de bastas cabeleiras, de olhos langorosos, falar ciciante, de voz aflautada. Outros, com pose de doutores da Sorbone, a deitar falação em arroubos de retórica capenga e hermenêutica de botequim, fiando assombrar o interiorano.

Os meninos, alguns impúberes, aqui chegaram e foram recebidos com a proverbial hospitalidade dos araranguaenses. Diziam-se estudantes, os estudantes locais os acolheram.

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APOIO CULTURAL

Para uma criança, nada estraga mais sua diversão de um tranquilo dia de verão do que um pai preocupado que o proíba de nadar logo após aquele grande churrasco, com medo de que a criança tenha cólicas e possa se afogar na piscina.

Há uma chance muito pequena de haver cólicas abdominais, mas para a grande maioria das pessoas, isso não é perigoso. O que o corpo faz é desviar o fluxo de sangue dos músculos para o sistema gastrointestinal, de modo que estimule a digestão, mas não em quantidades que diminuam a função muscular.

O recomendado é ouvir o seu próprio corpo e nadar somente quando você estiver confortável, já que muito provavelmente você não vai correr uma maratona logo após o jantar, ou começar uma disputa de natação logo após “encher a barriga”.

O segredo é relaxar e procurar não se esforçar demais.

Mas atenção: O único cuidado em situações como éssa é a água gelada. Com o frio, o corpo é obrigado a produzir calor, o que faz com que o corpo contraia os músculos, o que causa um aumento da demanda de sangue para os músculos, o que por sua vez não ajudará no processo digestivo.

A goma é composta de aromatizantes, adoçantes, emolientes e base de goma. O organismo é capaz de queimar os três primeiros ingredientes, mas a base de goma é indigesta. Isso significa apenas que seu corpo não pode dissolvê-lo e extrair nutrientes. Por fim, a base de goma faz seu caminho através de seu sistema digestivo de uma forma muito parecida com a fibra: Em dois ou três dias ele sai da mesma forma que entrou.

FEVEREIRO 2016

MITO 8: Tomar banho ou entrar na piscina logo após comer causa má-digestão

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FONTE: www.digitalmed

Nº

6

Pretendiam fazer um congresso da classe e determinar as suas reivindicações através de consultas recíprocas. Para isso foi-lhes cedido o salão do Fronteira, onde começaram a reunir-se.

Logo de início ficou patente que os meninos tinham estudado nos seus educandários outras muito diversas daquelas do programa de ensino, e que as pseudas reivindicações da classe nada tinham de estudantis.

Traziam os rapazelhos e desfiavam ultrapassadas doutrinas de importação, davam vazão ao sarampo ideológico de que estavam infetados.

Era, então, de ver-se jorrar em catedupas aquele jargão muito conhecido e usado pelos vermelhinhos da terra: a gíria rubro substituía o vocabulário normal, enfeitando, grotescamente, as mais absurdas teses, escoradas em cavilosa e unilateral argumentação.

O velho Fronteira transformou-se num Kremlinzinho onde, na falta de vodka, jorrava Coca-Cola.

Os meninos se afogueavam: em rasgos de audácia e coragem, proclamaram a deflagração da luta de classes: foram além, desencadearam a revolução: as classes proletárias substituíram as burguesas, e vice-versa. Corriam rios de sangue na imaginação dos inspirados piás.

Coroando o êxito, exibiram os garotos, à guisa de números de arte, como exposição de cultura, umas paródias vazias de senso e cheias de humor barato e doentio, num lingujar de analfabeto. Foi o máximo, disseram os vermelhinhos cá da terra.

Isso durou uns três dias e três noites.

Ninguém deu bola aos meninos e, parece, eles ficaram bons do acesso de “escarlatina”.

Mais alguns dias gozaram as delícias da hospitalidade araranguaense e se foram lépidos e fagueiros, mas de que aqui eles se constituíram em Gente que não é cartaz. (JOB) NJ: Sensacional! Que três dias especiais Araranguá deve ter tido! Que jovens especiais seriam aqueles, tais quais Jesus e seus apóstolos visitando cidades onde a maioria das pessoas não poderia compreendê-los. Agradecemos ao afetado cronista JOB (oculto atrás de três letrinhas – iniciais do nome ou pseudônimo?), que deixou o fato registrado, fato este que poderia estar esquecido. Gostaríamos de saber mais dos “rapazelhos”, mas o colunista mais se deteve em atacar do que expor as ideias dos estudantes visitantes do Norte. É bom lembrar que se aproximava o Golpe Militar e que a propaganda dos golpistas arrebanhara muita gente pelo país afora, principalmente de cidadezinhas como a Araranguá de então.

Dra. Liana Grechi de Oliveira

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MICROCONTO ○

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O Caracol de Platão por VICTOR O. DE FARIA

O MAR DE ANO NOVO, agitado e impaciente, estendia convites naturais pela orla marítima. Depositada sobre a areia, uma concha rajada e colorida, lar de um molusco rosado, permanecia imóvel. O que haveria lá fora?

Faltava-lhe coragem. Lendas sobre Gigantes que habitavam a encosta e esferas plásticas repletas de gomos eram histórias comuns em sua comunidade (não havia acreditado, pois pareciam fantasiosas demais).

Agora, sozinho e longe de sua família, sentindo o calor abrasador, seus instintos mais primitivos afloravam...

O chão vibrou. Entrou em pânico.

Mas, tudo bem, poderia ficar ali para sempre. No entanto, lembrou-se das turbulentas águas passadas, cardumes famintos e aves mergulhadoras à espreita. Já havia enfrentado coisas piores. Reuniu forças e espiou.

Um Gigante, de pele rosada igual à sua (eram reais!), agarrou o conjunto e o observou. Ouviu um ruído estridente, sem compreender de onde viera.

— Não coloca isso na boca, menino! Ora, vejam só... Podemos colocar em seu açude. Você quer?

Em meio a tantos outros semelhantes, o caracol furta-cor havia sido escolhido. Se não tivesse saído de sua caverna naquele momento, teria virado um prato típico de culinária francesa – outra lenda inventada por seus parentes, fantasiosa demais para ser verdade... Um mito.

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Dr. Elton Grechi de Oliveira

CRO/SC 11.148

CRO/SC 11.149

Especialista em Odontologia Ocupacional Pós-Graduada em Dentística Pós-Graduada em Endodontia Mecanizada

Especialista em Implantodontia Especializando em Ortodontia

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o é t i c a

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r a r a n g u a e n s e

ESGUALEPADO ARLETE ZANERIPPE Vai sem rumo o vivente Alma vazia desgarrada Sem futuro no presente Montado segue jornada Enganou ou enganado Da vida não cobra nada Não julga não é julgado Na guaiaca alma calada Segura firme seu olhar Cai o sol a noite branda Imagem não quer levar Da prenda lá na varanda

APOIO CULTURAL

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CASOS E CAUSOS QUE O POVO CONTA ÀS VEZES o trabalho voluntário pode nos colocar frente a situações engraçadas quando não embaraçosas.

Sabemos que, desde os primeiros tempos do cristianismo, o conceito de uma pessoa com distúrbios mentais era de um ente pecaminoso, e a demência fruto do pecado.

Provavelmente, com resquícios deste preconceito, até bem pouco tempo, pessoas com problemas mentais ainda eram vistas pela sociedade com desprezo, e por familiares como algo vergonhoso que deveria ser escondido, internando-se o doente em uma colônia, a que chamavam de manicômio. A demência, portanto, nem sempre foi compreendida como doença.

Ainda sob a influência destes resquíO delegado cios, um conhecido senhor araranguaense, sem o amparo da família, foi Antonico encaminhado ao delegado de polícia.

Sardinha e Depois de algumas tratativas, o deleNorberto Gomes gado chegou à conclusão de que deveforam internar ria internar o cidadão em um hospital um doente mental especializado. em Porto Alegre.

Antonico Sardinha era o delegado, homem ativo e que gostava de falar Mas quem era o muito e em voz alta. Quando tinha algulouco, afinal? ma plateia por perto se empolgava e começava a fazer gestos e mímicas exageradas.

Antonico precisava levar o doente para a Colônia São Pedro, em Porto Alegre, pois era de mais fácil acesso. Necessitava de alguém que o acompanhasse, já que não sentia coragem de ir só com o doente.

Como era muito amigo de Norberto Gomes, convidou-o para acompanhá-lo. Prestimoso, o seu Norberto foi acompanhar o delegado, não sem alertá-lo: “Não conversa muito”.

A viagem foi tranquila na viatura do delegado, que dirigia acompanhado do doente sentado entre ele e o Norberto. Detalhe: o delegado conversando e gesticulando o tempo todo, e o doente permanecendo calado.

Chegando ao hospital psiquiátrico São Pedro, os três foram colocados na sala de espera, na mesma formação da viagem, ou seja, o doente no meio dos outros dois.

Como sempre acontece em sala de espera de hospital, o tempo vai passando e as pessoas começam a conversar.

Nem seria preciso dizer que o delegado roubou a cena. Não só tomou conta de todas as conversas, como fazia mímicas e gesticulava como gostava de fazer na frente de uma boa plateia; e o doente mental calado.

Passadas algumas horas, abriu-se a porta da sala de espera, aparecendo um médico e uma enfermeira trazendo uma maca.

O doutor logo perguntou: — Qual é o louco que veio de Santa Catarina?

Antes que alguém se desse conta, o louco levantou o braço por traz de sua própria cabeça e apontou para o delegado que ainda falava alto e gesticulava, e disse, com voz firme: — É ele! z

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FERNANDO SABINO morreu em 11 de outubro de 2004, no Rio, vítima de um câncer de fígado. Ele lutou contra a doença por dois anos. O escritor criou o seu próprio epitáfio: “Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem, morreu menino”. Nascido em Belo Horizonte-MG em 1923, Sabino foi alfabetizado pela mãe aos sete anos e aos 12 era locutor de um programa infantil de rádio.

Com 17, decidiu que seria gramático e escreveu uma crítica sobre o dicionário de Laudelino Freire, que foi publicada no jornal Mensagem. Ao lado de Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, Sabino integrava o quarteto de escritores mineiros que publicava artigos literários em O Diário. Em julho de 1999, Sabino ganhou da Academia Brasileira de Letras o prêmio "Machado de Assis" pelo conjunto de sua obra. Em 80 anos de vida, escreveu contos e crônicas para diversos jornais e revistas brasileiras, além de ter publicado mais de 40 livros, editados em diversos países. http://www1.folha.uol.com.br

por Cláudio Gomes

10 gênios da música clássica. VIII CEM ERROS DE PORTUGUÊS - 10 E H S W ( : ) DITORES DO

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Richard Wagner

FONTE SITE COMO TUDO FUNCIONA

(1813-1883)

© ISTOCKPHOTO.COM

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AESTRO e compositor, o alemão Wilhelm Richard Wagner foi um gênio na mistura de música e drama e tornou-se responsável por mudar o conceito de ópera ao vê-la como uma “arte total”.

Mas é também uma das figuras mais polêmicas da música devido a suas posições políticas anti-semitas, que levam pesquisadores a debater o quanto isso interfere em sua obra artística. No campo puramente musical, Wagner descobriu e desenvolveu elementos melódicos e harmônicos que levaram a música instrumental a um dos mais altos pontos de intensidade emocional e sensorial.

Ele compôs 13 óperas, entre elas “Tristão e Isolda”, “Parsifal”, “O Anel do Nibelungo” e “A Valquíria”, além de sinfonias e aberturas para orquestras, canções, música para coral e sonatas. Wagner é um dos artistas mais influentes na música de concerto e na ópera, embora foram poucos os compositores aptos a seguir suas propostas e inovações, especialmente na mistura de drama e música. z

O mais importante é o indivíduo ou a sociedade?

Uma das questões mais instigantes da filosofia refere-se ao conflito indivíduo x sociedade – o homem é o meio ou o fim da sociedade. Duas posições se destacam.

Para Friedrich Hegel (1770-1831), a sociedade é o todo, e o homem está subordinado a ela. “O verdadeiro é o todo” e o homem é apenas uma parte, um momento na sociedade. Vive na sociedade, pela sociedade e para a sociedade. As consequências dessa visão apontam para o totalitarismo: o indivíduo não tem direito algum, é apenas um meio para o bem do todo; o fim é a sociedade e tudo é sacrificado em seu nome.

Para Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) e outros filósofos posteriores, o homem, ao contrário, é o fim de qualquer atividade social. A sociedade compreende a soma de vários indivíduos e também as relações existentes entre eles. Ela é um meio para se atingir o bem comum, que é fundamentado no bem particular de cada indivíduo.

J. M. Bochenski em Diretrizes do pensamento filosófico, adaptado em Para filosofar, Cordi e outros, Scipione, 1997

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APOIO CULTURAL

Nas páginas 6 e 7 deste JORNALECO reproduzimos um dos depoimentos gravados e textualizados pelo padre João Leonir Dall’Alba para o seu livro Histórias do Grande Araranguá. Manuel Antonio Soares, que chegou a Araranguá em 1906 e foi um dos primeiros barbeiros da cidade e vereador nos anos 20, está nas páginas 47 a 50 do livro. Em 1985, quando foi abordado, ele tinha 95 anos e morava na Coloninha. O texto do livro parece seguir uma narração espontânea e aleatória: Manequinha fala de várias coisas e depois vai retomando os assuntos, como cartas embaralhadas. Aqui, mantendo a redação original na íntegra, enfeixamos cada assunto e sinalizamos os temas inserindo perguntas “a posteriori”.

Mas não projetamos uma reedição do livro necessariamente assim, embora os sub-títulos e a reconstrução dos textos sejam arranjos interessantes. A segunda edição deverá contar com atualizações, notas de rodapé e um índice minucioso relacionando as citações de nomes e fatos. E se as gravações ainda existem, deveríamos ouvi-las para cotejar com as opções textuais de Dall’Alba – será que Manuel diria mesmo “fogos de artifício” em vez de “foguetes”? – e tornar o texto ainda mais fiel às falas, embora nas mãos do padre João seja notável a valorização deste aspecto. Mas qualquer esforço que se faça para complementar a obra, honrará o trabalho do autor.

Depois de finalizada esta edição da “entrevista” do Manuel, procuramos saber se ele tinha sobrevivido aos 100 anos. Ligamos para o Nilsinho Nunes, nosso consultor nesta área. Ele falou com seu pai, Nilson Nunes, que a princípio não soube dizer quem era aquele “menino”. Mas depois lembrou que esse Manuel era o conhecido Manequinha Barbeiro. Daí o Nilsinho chegou ao Ronaldo Raupp, filho do recém-falecido Joãozinho Barbeiro, que era irmão da Antonina Raupp Soares, também falecida, que fora casada com um filho do Manequinha, o Deodemar, também barbeiro, com quem Joãozinho aprendeu a profissão no início dos anos 1970. Ronaldo, atento a detalhes históricos, informou que Manuel Antonio Soares morreu z três meses depois de completar os 100 anos.

“O otimista erra tanto quanto o pessimista, mas não sofre por antecipação”

FEVEREIRO 2016

‘Entrevista’ com o barbeiro

Quem é o louco?

JORNALECO 474

SOLO DO EDITOR RICARDO GRECHI

FUNERÁRIA E ASSISTÊNCIA FAMILIAR

STA. TEREZINHA www.funerariasantaterezinha.com

http://www.culturatura.com.br/gramatica/ortografia/erros.htm 85 - A modelo "pousou" o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre).

Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito).

86 - Espero que "viagem" hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também "comprimentar" alguém: de cumprimento (saudação) só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão.

Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado).

87 - O pai "sequer" foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar.

88 - Comprou uma TV "a cores". Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV "a" preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores.

89 - "Causou-me" estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras.

Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não "foi iniciado" esta noite as obras).

90 - A realidade das pessoas "podem" mudar.

Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso : A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e não "foram punidas").

91 - O fato passou "desapercebido". Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. Desapercebido significa desprevenido.

O respeito humano que sua família merece!

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A EDIÇÃO ANTERIOR

Afastei o teclado para adiante na mesa e coloquei meu copo de “café expresso caseiro” em frente. Foi na noite de domingo, 10/12. Eu faria a última conferência geral no J.473, antes de enviar para a gráfica. Num movimento desastroso, bati no copo e o café quente se projetou sobre o teclado. Bá! Deveria vir aí uma avalanche de palavrões, mas não. O fato é que fiquei perplexo, em estado de choque. Levantei o copo, que ficara atirado sobre o teclado. Emborquei o restinho de café que ficara no fundo. Diabos! Era um bom café. Como não adiantava chorar sobre o café derramado, pus-me a limpar a cagada.

Imaginei que o teclado não tivesse muita chance de sobrevivência, então limpei o tampo da escrivaninha primeiro. Depois levei o teclado para baixo da torneira da pia do banheiro e deixei a água escorrer sobre as teclas, e coloquei-o em frente ao ventilador para secar. Voltando ao JORNALECO, corrigi um dado (o Arroio do Silva se emancipou em 1995 e não 1997) e fiz algumas modificações contando somente com o mouse – copiava e colava letras e até o vazio dos espaços para formar palavras e frases novas. Mais tarde testei o teclado outra vez. Estava morto. Na segunda-feira deu sinal de vida, mas muito fora de si. Apertava uma tecla e surgiam letras desordenadas. Achei que era o fim de sua vida útil. Na terça, me dei conta de que podia instalar um teclado virtual e então pude responder e-mails. Chegou a quarta, e ainda não tinha comprado um teclado novo. De manhã testei-o outra vez, mas não deu nenhum sinal.

Finalmente, à tarde, resolvi sair para comprar outro teclado. Antes, arranquei uma tecla do moribundo para basear a compra de um teclado com teclas maiores (se é que existe) para facilitar a digitação. Mas, no último instante, atendendo a uma certa intuição, repus a tecla e reconectei o teclado. Uma luzinha acendeu. Digitei qualquer coisa no Word e... estava funcionando perfeitamente. z RICARDO GRECHI, da redação

Revisão na tela do monitor O que nos impede de fazer uma revisão melhor é que a revisão é feita diretamente no monitor do computador. Não temos impressora, nem o JORNALECO tem fundos para investir em uma. E é comprovado cientificamente que a possibilidade de se deixar passar erros revisando na tela do monitor é maior, embora estejamos bem treinados. z RG

Impressora Fátima é que imprimia O Sul Impressora Fátima, para “Impressos em geral”, com “Rapidez e perfeição”, conforme anúncio no jornal, ficava na av. Sete de Setembro e era a gráfica que imprimia O Sul em 1964. Quando O Sul retornou, dez anos depois, passou a ser impresso na Tipo Arte, em Criciúma. z RG

3PALOTINA, e não Polatina, é

SOCIEDADE. Verão de 63 sem carnaval

o nome da cidade em que o Dr. Wladinir trabalhou no Paraná.

(J.473, Solo do Editor, capa). E ele não estava em Palotina em 1962, como escrevemos. Uma nota do Correio de Araranguá nº 47, de 10 de dezembro de 1961, elucidou-nos o fato: “RETORNA NOSSO DIRETOR / Após longa temporada de ausência, deverá retornar a nossa cidade, dentro em breve, o nosso diretor, Dr. Wladinir Luz. O Dr. Wladinir Luz exerceu por algum tempo o cargo de diretor do Hospital de São Francisco Palotina, no norte paranaense”. Na mesma edição do CA já consta anúncio do médico: “Dr. Wladinir Luz — Clínica geral de crianças e adultos - Operações / Rua Cel. Apolinário nº 36 - Fone 39 - Araranguá”. Este anúncio perdurará até o CA nº 77, de 3 de fevereiro de 1963. Na edição nº 78, do dia 17, já veicula novo anúncio: “Dr. Wladinir Luz — Consultório Hopital São Marcos / Nova Veneza”.

Em uma entrevista para o JORNALECO nº 220, de 15 de janeiro de 2005, Wladinir conta que fora trabalhar em Palotina para substituir um colega seu que havia ido aos Estados Unidos. “Trabalhei dois anos, paguei dívidas, comprei uma fazenda, carro novo (...) Retornei e, por sugestão do meu sogro Elias Bacha, fui para Nova Veneza trabalhar no hospital de lá (...) ...voltei [para Araranguá] em 1970, após sete anos.” z RG

Aviso aos sacerdotes veranistas No intuito de evitar que o Clero, tanto de nossa Diocese como de outras circunscrições eclesiásticas, se exponha a justas críticas do povo, quando em gozo de férias se dirige às praias situadas dentro dos limites de nossa Diocese, havemos por bem determinar o seguinte: 1º A nenhum sacerdote é permitido frequentar as praias públicas ou estacionar na área de maior aglomeração de veranistas, na época que medeia 1º de janeiro e 1º de março; nada obsta, no entanto, a que procurem praias isoladas, isentas de movimento popular.

2º Quanto à celebração da S. Missa, os sacerdotes veranistas se atenham rigorosamente ao que reza o Aviso Curial datado de 22 de janeiro próximo passado.

3º Aos párocos e seus auxiliares designados ad hoc a visita à área das praias públicas é permitida tão somente para o desempenho de seu múnus pastoral.

4º Ficam revogadas todas as concessões anteriormente feitas.

5º Esperando a fiel observância do que acima estatuímos em bem do acordo sacerdotal, lembramos que qualquer infração nos colocará na desagradável contingência de reprimir exemplarmente todo abuso ocorrido.

Tubarão, 4 de fevereiro de 1963 Dom Anselmo Pietrulla/Bispo Diocesano CA nº 78, 17/02/1963

3Passaram alguns HIFENS indevidos separando palavras na última coluna do texto da entrevista do Dr. Martinho Ghizzo (J.473, p. 7). Mas por que as palavras ficaram “cortadas” daquele jeito?

Explica-se. Na versão anterior do Page Maker (editor de texto do J ORNALECO ) havia um corretor em português que separava as sílabas automaticamente. A versão seguinte não veio mais com o corretor, então as sílabas precisam ser separadas manualmente. Isso pode criar um problema: se separamos algumas palavras nos finais das frases e depois alteramos o texto, as frases “correrão” e as palavras separadas vão parar no meio das frases, o que depois deve ser corrigido. z RG

Dna. Tereza de Queiroz Duarte Transferiu sua residência para Curitiba. Duas grandes perdas para a sociedade araranguaense: Dr. Arno e Dona Tereza. Sempre à testa das boas iniciativas, o simpático casal deixará uma lacuna difícil de preencher... idem NJ: Arno Duarte era advogado em Araranguá e publicou o jornal Folha Sulina em 1954, que durou pouco tempo.

3O MDB já tinha sido fundado em 1969, mas não

concorreu na eleição disputada entre MARTINHO e Gercino (sublegenda da ARENA). O texto poderia dizer: “No âmbito local, Martinho Ghizzo conciliava a vida política com a medicina. Em 1969 foi candidato a prefeito pela ARENA, partido que dava sustentação ao Regime Civil-Militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. A disputa se deu, em sublegenda, contra o correligionário Gercino Pasquali, que venceu a eleição. Na época, embora já tivesse sido fundado na cidade, o MDB não lançou candidato a prefeito, ficando por conta e apenas dos próprios arenistas o embate majoritário local”.

Segundo João da Silva, em seu livro A Saga de João dos Pintos (Orion, 2006, p. 63 a 65), o MDB foi fundado em 1972. z Alexandre Rocha

Fevereiro.1963

L.V. E COMENTA (Dr. Lourival Vaz) — O Carnaval está às portas. Araranguá continua frio e indiferente como sorvete na boca da gente. O nosso amigo Alírio [Monteiro, ou Quitandinha], presidente do Fronteira, sempre disposto a colaborar com a sociedade, não tem o menor apoio. A mocidade, essa então, parece que passou da infância para a maturidade. São calmos, tranquilos e nada querem com aborrecimentos.

Fui convidado pelo diretor-presidente a organizar uma festa carnavalesca. Senti arrepios de frio, relembrando o passado, do tão comentado e falado Bal Masqué. Não, caro Alírio, chega, e chega. Por isso não teremos carnaval. Quem quiser extravasar suas tristezas, melhorando seu espírito, que arrume suas malinhas e procure outras plagas. Aqui só dá praia e praia. Arroio e Morro, Morro e Arroio. O mar também diverte a gente: tarrafas, passeio na barra, ver o farol à noite, ouvir o rugido do mar, quebrando suas ondas fabulosas, formando corcovas como dromedários.

Footing na areia, vendo as belezas da terra.

Falou-se em um concurso para miss, não sei se miss Atlântico, miss Arroio, ou miss Morro, ou somente miss Oceano. Tênis Clube lá está como as ruínas de Santo Ângelo, paradinho como água de piscina. O nosso Fronteira, com as espinhas à mostra, sofre tão moço do mal da velhice.

Comenta-se que vai haver sarau carnavalesco no Arroio, se não me engano, na Boate do Scaini, ou do sr. Crovê. Mas a gente mudar de cara, de roupa, esconder o temperamento, rir à vontade, beber em excesso o John Raig (hoje 12.000 o litro), e cair na corda bamba, na batucada bonita de um samba, aqui não é possível. (...) CA nº 77, 03/02/1963 NJ: Esta é a última vez que Lourival Vaz escreve no Correio de Araranguá. Sua coluna ficou marcada pela elegância da escrita ao retratar com minúcias muitos eventos sociais da cidade entre outros temas pertinentes desde sua estreia na edição nº 14, de 25/09/1960. Diferentemente dos nossos colunistas sociais posteriores, o Dr. Lourival era um cronista inspirado que abria sua coluna com um longo texto para depois passar às pequenas notas sociais. O CA nº 82, de 21/04/1963, traz a seguinte nota: “DR. LOURIVAL VAZ - Por ato do Governo do Estado, foi transferido para a Câmara de Mafra, e consequentemente promovido, o Dr. Lourival Vaz, que há muitos anos exerceu o cargo de Promotor Público desta Comarca. Privando-nos de sua amizade por longo lapso de tempo, o Dr. Lourival deixa uma grande lacuna, pois sempre colaborou com interesse e carinho para com o nosso jornal. Dotado de grande coração, Dr. Lourival deixa em Araranguá um vasto círculo de amizade. Grande amigo da cidade, entusiasta pelas suas belezas naturais, temos certeza que servimos de portavoz de todo araranguaense, desejando-lhe muitas felicidades na sua nova vida.” Em sua última coluna ele fala do problema da falta de dinheiro e de incentivo para o Correio de Araranguá, e conclama a colaboração do leitor para que o jornal continue vivo. Lourival Vaz, que chegara a Araranguá em 17 de agosto de 1953, tinha raízes em Florianópolis (+J.450 e 469).

Indústrias Granfino, da Guanabara, abre escritório em Araranguá SALVADOR

Café com teclado

F A CRÔNICA DOS ANOS 60 F

SALVADOR

FEVEREIRO 2016

Que chique! Lendo “meu” JORNALECO em Porto Velho-Rondônia (casa de meu filho). Dessa leitura “tirei” algumas lembranças.

O “velho” Affonso eu conheci na década de 1960, quando foi visitar minha minúscula comunidade, Rio do Boi, nas encostas do Itaimbezinho, com nada mais que uns trinta moradores espalhados pelo vale do mesmo nome. Ele fora nos fazer uma visita “pastoral” – quando me foi apresentado e pediu meu voto – e eu fiquei admirado por ele ter se dignado visitar tão insignificante comunidade cabocla. O homem era muito famoso. Diz-se que adorava cavalos de carreira e lendas locais falavam de um animal especial, dele, muito nervoso, que não respeitava cercas de arame farpado quando avistava uma “donzela potranca” apreciável. Que o “velho” fez? Simplesmente mandou fixar um par de óculos de aumento na cara do bicho e este nunca mais conseguiu dar seus “pulinhos”, pois o garanhão formava a carreira, saltava a cerca e caía no mesmo potreiro tendo em vista a ilusão ótica causada pelos seus óculos. z JOÃO BATISTA DE SOUZA

ERRATA

JORNALECO 474

Os óculos telescópicos do cavalo do Affonso

© HARVEY COMICS

Comentando

Diretor WLADINIR LUZ Redator ERNESTO GRECHI FILHO Gerente HERVALINO CAMPOS Chapista/impressor WALDEMIRO, FERRINHO, NEI Publicado na GRÁFICA LÍDER (ORION) ABRIL-1960 a MAIO-1975 Redação e administração: Av. Getúlio Vargas, 158-170

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As Indústrias Granfino ... estão instalando em Araranguá um escritório de compra e venda de farinha de mandioca, uma das matérias primas usadas em seus produtos. Da mesma forma, as Indústrias Granfino manterão um depósito para distribuição e recebimento de mercadoria, em cuja direção se encontra o sr.

Victório Berti. Os escritórios ... encontram-se na av. Getúlio Vargas, no prédio do antigo Cine Roxy. CA nº 78, 17/02/1963 NJ/FOTO: Os janelões do velho Fronteira Clube aparecem à direita do prédio do antigo Cine Roxy, então depósito de farinha (em 1959 o Roxy mudara para uma nova sala, a oeste, depois do edifício Ghizzo; em 1972, o Giassi instalaria o primeiro supermercado de Araranguá onde fora o depósito). À frente aparecem Victório e o filho Dadinho, e entre os dois, o sócio deles, José Santa Rosa; à porta do caminhão está o motorista Chico De Bem, que também contratava o pessoal, geralmente proveniente da comunidade de Buraco Quente, para fazer o carregamento do caminhão de farinha.

ENTREVISTA

Manuel Antonio Soares, o barbeiro,

“Depois da missa da festa do Espírito Santo em 1909*”, povo em frente à antiga igreja (1902-57), lugar da atual

veio de Laguna para cá em 1906. Um dos primeiros barbeiros da cidade, foi vereador e delegado, entre outros ofícios. Em 1985, aos 95 anos, ele recebeu o padre João Dall’Alba em sua casa, na Coloninha, para gravar um depoimento. Textualizado pelo padre, o material faz parte do livro Histórias do Grande Araranguá (Orion, 1997). O texto original (p. 47-50) foi mantido e segue abaixo, porém o editamos para dar uma ordem temática. Os subtítulos marcam os assuntos e dão o clima de entrevista.

APOIO CULTURAL

Onde e quando você nasceu?

Nasci na rua Direita, em Laguna, e tenho 95 anos, quase 96. Sou do ano de 1889.

Meu pai era enfermeiro do hospital e minha mãe imigrante italiana, de Veneza.

Quando e como chegou a Araranguá?

Cheguei aqui com 17 ou 18 anos, em agosto de 1906. Fui de trem até Lauro Müller e depois a cavalo até aqui, em dois dias de viagem.

Por que veio para Araranguá?

Vim com um engenheiro, Frederico Dainer, para explorar minas de carvão.

E acharam carvão?

Não, nem na beira do rio, nem no Mato Alto encontramos nada. Encontramos lá uma areia com uma pequena quantidade de ouro, segundo falava o engenheiro.

Não sei dos resultados gerais porque eles abandonaram as pesquisas.

Como era Araranguá naqueles tempos?

O povo era todo de origem brasileira.

Estrangeiros nenhum não havia. Pretos

BALNEÁRIO ARROIO DO SILVA DISK ENTREGA

Matriz: 3526-1339 Filial: 3526-1112

(*) MEMÓRIAS DO ARARANGUÁ, BERNARDINO DE SENNA CAMPOS, ORG. JOÃO LEONIR DALL’ALBA. LUNARDELLI, 1987, P. 69 E 111 / FOTO: B.S. CAMPOS

O que se produzia, que comércio havia?

Na colônia, na região da agricultura, todo mundo tinha engenho de farinha, engenho de cana. Muitos tinham alambique.

A maioria do nosso comércio era com a serra. Vinham tropas e tropas. Transporte era feito de tropa de carga e de carreta de boi. Uma vez fomos levar farinha para Torres. Mas a estrada era tão ruim, cheia de atoledos, que foi preciso carregar a farinha nas costas até atravessar aquele pantano todo. Levava-se até Passo do Sertão. Daí seguia em canoa. Quem exportava mais farinha eram os Maciel.

Compravam e despachavam de barco. Aí pela Volta Curta havia uma olaria que fazia potes, alguidares, bilhas. Alguidar é uma bacia grande, de barro. Comerciantes mais antigos foram os Maciel, o Brígido Joaquim de Almeida, que era das Cangicas. Esse era só de molhados. A família do Brígido era preta. Preto, preto não era, era moreno, um mulataço. Ele e os Maciel eram a gente mais rica daqui.

E na cidade?

Açougue estabelecido não havia na cidade.

Carneavam um aqui, outro lá. Iam avisando.

Fotógrafos houve. O primeiro foi o Bernardino Campos, que não era profissional. Depois apareceu aqui um italiano de Criciúma, um tal de Sbruzzi, e o filho Aquiles Sbruzzi.

Farmácia foi um tal de Manuel Bento quem começou. Era lá na esquina da praça, na beira do rio, numa casinha de tijolos, sem reboco.

Aí esse foi embora e veio o Altícimo Tournier.

Homeopatia era o que mais se usava.

E os pescadores?

Pescador rico não conheci nenhum. Vinham de canoa vender peixe aqui na praça. Vendiam tainha a tostão. Ainda a gente achava caro. Antes que chegasse essa água de mina aqui, era uma fartura. Coitado nenhum passava fome. Pescavam bagre e miraguaia de espinhel. Todo mundo pescava. Eu mesmo pesquei tainha, savelha e bagre. Tainha era de caniço. Era um farturão. Depois veio a água de mina. Acabou com tudo.

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APOIO CULTURAL

PADRE JOÃO DALL’ALBA nos deixou um legado comparável aos “Diários” de Bernardino Campos (que ele mesmo organizou em livro: Memórias do Araranguá), à obra fotográfica de Salvador, ao livro A História de Araranguá de Paulo Hobold, ao acervo do jornal Correio de Araranguá.

Entre 1985 e 1986, munido de um gravador, Dall’Alba saiu colhendo depoimentos de cerca de 150 pessoas entre as mais antigas do município e região. A seguir ele textualizou esses depoimentos, que só foram a público dez anos depois, como o Histórias do Grande Araranguá.

Em 1997, o livro foi publicado pela Fundação Cultural de Araranguá em parceria com a Orion Editora, apoiados pelo Colégio Murialdo e Lions Clube Araranguá-Centro e financiados pela Prefeitura Municipal e Postos Irmão da Estrada, principalmente.

Contando 520 páginas, a tiragem foi de 1.000 exemplares e o livro é sempre muito procurado, já carecendo uma reedição.

Por ora, segue uma das entrevistas de Dall’Alba com um dos primeiros barbeiros da cidade. Manuel Antonio Soares chegou a Araranguá em 1906! Tomando emprestado o texto do padre João, vamos saber do Manequinha Barbeiro coisas que viu e viveu em oitenta anos de Araranguá.

Dava muita briga, muita nojeira. O que era adversário não tinha valor. Votavase na lista de todos. Quem era republicano ia assinar a dos republicanos, quem era federalista assinava o livro dos federalistas. No dia das eleições cada partido fazia uma churrascada grande para os eleitores. Nesse dia a cachaça era proibida. Eu sempre lutei ao lado do Coronel João Fernandes. Fui tesoureiro da prefeitura. Dinheiro era pouco, bagatela. Em proporção de hoje, era uma ninharia. Não se desviava dinheiro nenhum, então. Havia um cuidado muito grande. Recolhia e quase não dava para as despesas. Vereador não ganhava nada. O prefeito ganhava pouco também.

O senhor foi vereador...

Fui vereador [membro do Conselho Municipal na legislatura 1923-1926 1], fui juiz de Paz. Fui delegado também, e só havia dois policiais, e a cadeia na avenida XV de Novembro. No meu tempo havia sete vereadores [ou doze e um suplente 2]. Não guardo documento nenhum desses cargos. Havia quem discursasse na câmara, mas eu não tinha essa capacidade.

Como era o coronel João Fernandes?

João Fernandes não era comerciante nem fazendeiro. Era um pequeno lavrador.

Tinha terreno na região da prefeitura até o rio, mas o maior terreno dele era da banda de lá do rio. Ele não trabalhava, mas tinha peões para trabalhar na roça.

Plantava milho, feijão, mandioca.

Que meios de comunicação havia?

Naquele tempo aproveitava-se muito o rio para navegar. Havia diversas balsas: nas Cangicas, no Rio dos Porcos, na Volta Curta, aqui na frente e lá no Jundiá. E no rio entravam navios. Até vapores entraram aí. O último que vi foi a chata “Ana”, do Hoepcke. Chegaram aí também o “Meta” e o “Max”. Carregavam na maior parte farinha, mas também feijão e arroz.

Tinha vez que ficavam presos aí por quinze ou vinte dias, porque não dava passo [saída para o mar pela barra]. Para o Rio Grande era preciso ir pela praia, ou então a pé ou a cavalo pela serra.

Havia telégrafo com dois funcionários: o telegrafista Bernardino de Senna Campos e um carteiro. Para o Passo do Sertão havia um estafeta que levava a correspondência a cavalo. Quando chegou o trem esperava-se que desse um progresso muito grande, como de fato foi. Foi o trem que levantou Araranguá, que deu vida.

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FEVEREIRO 2016

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havia. Esse interior todo era mata virgem.

As casas eram quase todas de pau a pique.

Muitas eram cobertas de palha. A minha era uma delas. Depois é que cobri de telhas. Aquela palha durava muitíssimos anos. Não estragava. Havia muita palha no mato. Havia muita ripeira também, para fazer as ripas. Ao redor da vila tudo era mato e a povoação era pequena ao redor da praça. Esta estrada que vai para a praia pegava mata virgem logo na saída da vila. Já não havia mais sinal do cemitério na praça, que era um pasto arborizado fechado de um lado e do outro. A prefeitura era na beira do rio. Havia a casa do Mané Machado, advogado, do Serafim Silva, maestro de música. Tinha Maciel de um lado e outro Maciel do outro lado.

Na frente tinha a velha Carolina Raupp.

Estavam habitadas a rua Getúlio Vargas e a rua de lá da igreja e a rua que vinha para o Magalhães (Sete de Setembro). A Coloninha não tinha nome. Era tudo mato, mata virgem. Padre Antonio Luiz Dias é que trouxe a primeira luz elétrica.

Começou com um motor e depois colocaram turbina hidráulica em Meleiro. Nosso município abrangia todo o sul do estado: Passo do Sertão, Praia Grande, Sombrio, Cangicas, Criciúma.

Quando você resolveu ficar por aqui?

Eu trabalhei com aquele engenheiro também no Rio Grande, até Venâncio Aires, mas logo voltei para Araranguá e trabalhei como barbeiro. Eu já tinha aprendido a profissão em Laguna, mas lá só trabalhava para meu instrutor.

E havia outros barbeiros na cidade?

Havia outro barbeiro aí, meu compadre Jerônimo.

Onde ficava a sua barbearia?

Minha barbearia era pertinho da igreja, numa casa que era da igreja mesmo. Aluguei uma parte. Quem construiu a igreja foi Germano Becker, um alemão que morava no Jundiá. Em 1906 já estava construída.

Como era a política, que chefes políticos você conheceu?

Chefe político era o João Fernandes, que era chefe político depois do Coronel Apolinário, que era de Laguna, meu conterrâneo. Aqui conheci dois partidos: os Maciel eram federalistas e o velho João Fernandes era chefe republicano. Dos federalistas, chefe era o Antonio Maciel, homem bom, homem sério. Sempre tinha rivalidade política, mas eu me dava bem com todos.

JORNALECO 474

EDIÇÃO: RICARDO GRECHI

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E a praia?

No verão fazia-se um rancho, tecia-se esteiras para cobrir e parava-se uns tempos na praia, uma semana, duas. Depois cedia o rancho para outros amigos. Não havia casa nenhuma lá, só ranchos. O primeiro morador do Arroio do Silva foi um baiano que andava sempre com um balaio cheio de cobras. Vinha até aqui na cidade. Botava no pescoço, na boca, aí o pessoal corria.

Soltava as cobras, depois assoviava e elas vinham. Vivia sozinho na praia. Acho até que encontraram ele morto lá e enterraram na praia.

E como eram as festas?

A festa do Divino Espírito Santo começava passando a bandeira de casa em casa.

Antes era sorteado o festeiro. Ele que se encarregava de organizar a bandeira.

Partia uns três ou quatro meses antes da festa, pois devia percorrer esse interior todo até Torres, até o costão da serra.

Durante o dia iam passando de casa em casa. Onde anoitecia, pousavam. Havia um mastro com o Divino, uma pombinha, fitas, bandeira vermelha grande com a figura da pombinha no meio. Havia o porta-bandeira, que era cantor, mais os tocadores de gaita, de pandeiro, mais algum cantor. Não tinha despesa. Andavam a pé, comiam e dormiam nas famílias que os acolhiam muito bem. Nas noites de sábado e domingo aproveitavam a presença dos músicos para um baile familiar. A praia era percorrida nos últimos dias antes da festa. A bandeira chegava, a gente dava dinheiro ou prenda e prosseguia.

Aqui a bandeira parava na igreja, não nas casas. Havia novenas, transladação, fogos de artifício, bazar. Fazia-se muito leilão.

“Quem dá mais? Oitocentos reis, quem dá mais? Dou-lhe uma... dou-lhe duas... e dou-lhe três”. Era animal, porco ou galinha, pão-de-ló, objetos de uso. Vinha gente de fora. Muita gente. De Cangicas, de Passo do Sertão, da serra. Trazia ainda mais gente que a Nossa Senhora Mãe dos Homens.

Na Semana Santa, na hora da aleluia, acabava-se com o judas, rasgava-se, queimava-se. Fazia-se fogueira de São João, com lenha de dois ou três metros de altura.

Quando estava no ponto de pular, pulavam. Aí pelo interior costumavam a brincadeira de boi na vara. Nas corridas de cavalo o que mais corria era dinheiro.

Vinha gente de Jaguaruna e da serra, e desse interior todo. De quando em quando havia boi de mamão. Carnaval, no começo era simples. Depois tinha ido melhorando, até haver desfile na rua, faziam já um carnaval bom. Até carro desfilava. Tinha o falecido Doca Cordeiro, que era de Laguna e gostava muito de organizar os blocos.

Que clubes havia na cidade?

Havia o Sete de Setembro, o Quinze de Novembro e o União Operária. Não se fazia distinção de partido político. No União podia entrar gente de cor também. Dançava-se xotes, polkas, mazurcas, vaneiras e quadrilhas.

Pau-de-fita, tinha. Música era a gaita. E havia a banda de música do Serafim Silva.

Você foi ator amador, não foi?

O falecido Doca Cordeiro inventou de fazer teatro e apresentamos umas peças. Um dos dramas era “Tristeza à beira mar”. Outra: “Os salteadores”. Galã, padre, doutor...

Das peças que representavam, tudo era eu. A maior parte da peça era comigo. Não tinha outra pessoa. Largavam em cima de mim. O barbeiro era o grande ator!

Você já está perto de fazer cem anos...

Vivi todos esses anos em Araranguá.

Espero viver até alcançar cem anos. Não sinto nada. Tenho memória até que boa.

Enxergo bem. Não corto mais cabelo porque não quero. Vou vivendo, e com mais cinco anos vou chegar aos cem.

MANEQUINHA BARBEIRO, como era conhecido, completou 100 anos em 1989.

Morreu três meses depois.

(1) (2) Memória do Poder Legislativo de Araranguá, de Micheline Vargas de Matos Rocha, edição da autora, 2012, p. 35.

CASA NENA CANOAS / RS

ARARANGUÁ / SC