Jornaleco 484 dezembro 2016

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ENTREVISTA: BISPO HUMBERTO, DA IEAB

Araranguá: ontem e hoje ○

DE 1974

por Cláudio Gomes RELENDO o livro do cônego Paulo

Hobold A História de Araranguá, que foi atualizada e complementada por Alexandre Rocha em 2005, me chamou a atenção o capítulo que fala sobre os fatores econômicos e a situação políticoadministrativa do nosso município nos idos de 1930. Havia assumido o cargo de prefeito eleito o senhor Francisco Caetano Lummertz. Como todo novo administrador público, depois de uma visita a Florianópolis e ao governador do Estado, prometia algumas soluções para os problemas que entravavam a marcha rumo ao progresso do então grande município de Araranguá. Escreve o autor d’História: “...as pretensões de Lummertz estavam destinadas à infraestrutura, de maneira geral, à educação à saúde, e, inclusive, a postura dos cidadãos. As maiores reclamações dos moradores, por exemplo, eram: o estado das ruas, que ‘em dias de chuva, não sendo calçadas, impendem o trânsito das pessoas, pois faltam escoadouros para a água acumulada’; a falta de sossego, pois ‘os valentões fazem algazarras noturnas, detonando tiros pelas ruas afastadas da praça’; à fiscalização municipal, ‘que não resolve os problemas dos animais soltos, quando, em muitos lugares, os porcos invadem quintais, os bovinos pastam sossegadamente pelo meio da rua, e os cavalos de corrida passam em disparada até a raia.’ Quanto ao trânsito, alguns assuntos também necessitavam de solução urgente; os motoristas, que ‘seguiam muito rápido sem fonfonarem nas esquinas, e os carros de boi, que atrapalham as conversas e o merecido soninho da sesta, com seus cantos altos e demorados’” (p. 242). O que me leva a escrever sobre

o texto são as semelhanças dos problemas de ontem e de hoje. É evidente que se alteraram no porte, nas proporções, nas personagens e posturas que o tempo e o progresso se encarregaram de substituir ou extinguir. Ainda assim, penso que os nossos entraves e as nossas angústias só aumentaram, e de maneira infinitamente desproporcional ao que nosso desenvolvimento alcançou. Mas vejamos as semelhanças: Saúde e educação são discursos atualizadíssimos e recorrentes dos políticos. Postura: ruas alagadas em dia de chuva são um mal até os dias atuais não resolvido; nos é muito familiar e corriqueiro a falta de bueiros ou as suas pequenas dimensões. Segurança: poderia se dizer: saudade dos tempos em que os tiros eram apenas para cima e para fazer festa. Trânsito: são os bichos hoje: carros e motos aos “montes”. Muitos “cavalos de corrida” que não respeitam a sinalização de velocidade máxima e sinais nas esquinas (pisca-pisca) e ainda avançam “quintais”, hoje, os locais para estacionamento a outros destinados por lei. Quanto ao sossego, felizmente já existe a lei do silêncio para os “bichos” (veículos), referentes aos “cantos altos e demorados” (sons) além de absurdos. Se discordar ou julgar ridícula esta análise comparativa e displicente que me ocorreu ao ler esse trecho da nossa história, levarei em conta sem me ofender. Só queria dizer que senti alguma semelhança nas dificuldades da nossa vivência e daquelas que tiveram os nossos antepassados, nesta nossa querida Araranguá de ontem e de hoje. z

A P O I O C U LT U R A L

O arvoredo de Araranguá Ernesto Grechi Filho Falar nas belezas naturais de Araranguá, no seu cognome de “Cidade das Avenidas” (...); falar das suas planícies, do seu rio que muda de coloração conforme as horas do dia; falar do seu crepúsculo, do seu amanhecer; dizer das maravilhas de suas praias, do encantamento das suas intermináveis plantações de arroz (...) Hoje vamos falar do arvoredo de Araranguá. Falar do maravilhoso cenário esverdeado que quase esconde a cidade por baixo das folhagens. São os abacateiros gigantes, as laranjeiras, pinheiros, cinamomos, ameixeiras, bananeiras, ciprestes colossais, amendoeiras, santo Deus! É uma infinidade de espécies e vegetação incrível. Tudo isso, o mais importante, no centro do perímetro urbano. Podemos ser orgulhosamente chamados de cidade do mato. Milagrosamente, moradores num perímetro urbano, que já contam com todas as vantagens que a técnica moderna oferece: água potável superexcelente, comunicação, estradas, educação, energia elétrica e muito mais, vivem no meio da mata! É por isso que, numa manhã dessas ensolaradas, do alto de um dos raros morros que circundam a cidade, os olhos se enchem de alegria, a alma de satisfação e o corpo de oxigênio, ao depararmos logo ali embaixo com a cidade progressista de Araranguá. Coberta de folhagens verdes. Cheia de vida. Precisamos plantar ainda mais árvores. Não deixar mudar a mentalidade do araranguaense de não poder viver sem árvores. Que se construam edifícios modernos, muitas casas residenciais, mas para cada obra erguida, que se ergam dez, vinte, trinta abacateiros. NJ: Dos fundos da residência de Ernesto e família, no andar superior do prédio nº 170, na av. Getúlio Vargas, podia se avistar parte desse arvoredo citado no texto. Estavam em seu quintal e em quintais vizinhos: dos Arcari, dos Kindermann, dos Bacha, entre estes, e até da Igreja Matriz. Mas devido a expansão das construções, a partir do centro, e a apatia geral na cidade, em que não se planta mais árvores frondosas, a recomendação do cronista parece ignorada e esquecida. Impostos pela ditadura da jardinagem de butique, comportados gramadinhos e tímidos arbustos tomaram o lugar da antiga exuberância natural. (RG)

JORNALECO

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PANFLETO CULTURAL

H FUNDADO EM 18 DE MAIO DE 1994 H

ANO 23 • Nº 484 • DEZEMBRO DE 2016 Periodicidade mensal - Tiragem: 1.000 exemplares Fechamento desta edição: 14/12/2016 10h30 E-MAIL:

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EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO E REVISÃO Ricardo Grechi CONTATOS Rossana Grechi ASSISTÊNCIA Guaraciara Rezende, Gibran Rezende Grechi, Nilson Nunes Filho IMPRESSO NA GRÁFICA CASA DO CARIMBO DE Rosa e Aristides César Machado PRODUÇÃO Nicolas Nazari Machado PREPARAÇÃO DO FOTOLITO David Machado Fernandes CORTE Toninho Abel IMPRESSÃO Welington Coral Abel, Valdo Martins

© Ricardo Francisco Gomes Grechi (reg. nº 99866, prot.4315/RJ de 17/07/1995)

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CAPÍTULO 4 Desta vez, o escritor César do Canto Machado aborda os gaúchos e as rixas com os catarinas, os primeiros fotógrafos e as histórias do famoso Martinho Manguilizo.

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ORION EDITORA Calçadão Getúlio Vargas, 170 88900.035 Araranguá-SC Brasil

É permitida a reprodução de nossos textos originais desde que citados devidamente o autor e o JORNALECO como fonte da publicação.

P. 6 E 7 RG

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Um retrato falado de Araranguá em 1963 Num tempo em que Tubarão ainda é maior que Criciúma, Araranguá tem na agricultura e na grande diversidade de pequenas indústrias e comércios sua vida econômica. A cidade conta com “três grupos escolares, quatro médicos, cinco dentistas, oito farmácias e uma drogaria”. Essas coisas e muito mais são descritas na crônica do redator do CORREIO DE ARARANGUÁ de 22 de dezembro de 1963. P. 5

ARARANGUÁ, DEZEMBRO DE 2016 • ANO 23 • Nº 484 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – CORTESIA DOS ANUNCIANTES ○

SEMPRE quis ser bailarina. Quando ficou

T EXTO

Lili, a bailarina

DE

R ICARDO G RECHI ,

DEPOIS DE ENTREVISTAR L ILI

Republicação do J.330 de 15-08-2009 (a foto é inédita)

mocinha, percebeu que precisava buscar seu sonho longe de Araranguá. Como já fugira de casa uma vez, o pai trancou todas as roupas de Lili num baú e escondeu a chave. Mas foi que Lili a encontrou. Então cortou o cabelo bem curto, pegou do baú algumas roupas, repôs a chave no lugar e, junto da amiga Iedes Batista, de 18 anos, partiu definitivamente. Lili tinha 16. Pegaram o trem das seis da manhã para Criciúma. Quando o pai, dono de armazém na av. Engenheiro Mesquita, percebeu a fuga da garota, chamou a polícia. Mas ninguém sabia do paradeiro de Lili. Em Criciúma, trabalharam num restaurante. Juntando dinheiro, as amigas tomaram um ônibus para Porto Alegre. O ônibus viria por Araranguá, rumaria ao Arroio do Silva e, pela beira-mar, seguiria viagem ao sul. Quando a lotação cruzava a av. Getúlio Vargas, Lili avistou o pai correndo para a rodoviária. Ele tinha sido avisado de Lili no ônibus, mas a perdeu. E Lili ganhava a liberdade para realizar-se como dançarina nos grandes centros do país. Aos 15 anos, Lili tinha um namorado. Sua mãe inventou que o rapaz “fizera mal” à filha, e arrumou o casamento. Um mês depois, foi buscar Lili de volta. “Ela precisava de mim para trabalhar para ela”. Foi uma grande desilusão na vida de Lili. Em casa, era triste como a Cinderela borralheira. “Lili, tem um rapaz aí...”, anunciaram. Era o antigo namorado, que ela reencontrava numa boate em Copacabana. Mas o passado, àquela altura da vida da jovem dançarina, já havia ficado para trás. APOIO CULTURAL

ARROIO DO SILVA - UMA HISTÓRIA PRA CONTAR

ANO XIV - NO 272 6 DE FEVEREIRO

Derli Orige de Sá nasceu a 7 de novembro de 1934, em Araranguá, filha de Hermógenes e Paulina. Em seguida aos 16 anos, começou a carreira de dançarina, coisa que seus pais nunca iriam apoiar. Dalva de Oliveira viu-a numa boate, mas não pôde contratá-la, pois a garota ainda era menor de idade. Boates, naquele tempo, eram casas respeitáveis de dança e shows, também frequentadas por famílias. Haviam até “olheiros” da censura para a manutenção da moral. Depois, novas oportunidades surgiram. Lili foi trabalhar no show “Dedé Santana e Suas Garotas”. Assim, pôde se apresentar na televisão, como no programa do Chacrinha, pela extinta TV Excelsior. Em Curitiba, ela dançou balé clássico. Seguiram-se apresentações em Araçatuba e Campinas (SP), Recife, Rio de Janeiro, entre outras grandes cidades, incluindo uma estada de um ano em Salvador, na Bahia. Nesse tempo, Lili conheceu diversos astros famosos, como Glória Menezes e Tarcísio Meira, e chegou a aparecer numa cena, como bailarina, num filme estrelado por Anselmo Duarte e Eliana. O cantor Reginaldo Rossi, brincava, algumas vezes, dizendo aos outros que Lili era sua esposa. Lili abandonou os palcos aos 26 anos, quando conheceu o manicure português Jerônimo Augusto de Jesus Alves, com quem casou, em Santos. Tiveram a filha Rosimeri, que lhes daria os netos Pamela e Rafael. No auge da carreira, Lili tomava o avião da Varig em São Paulo e vinha visitar a família. A Rádio Araranguá anunciava sua chegada. Pessoas acorriam para ver a dançarina, que impressionava pelo charme e elegância em se vestir. No final dos anos 90, falecido o marido, Lili retornou à Araranguá. Desta vez, para ficar. z

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